Está en la página 1de 22

DELEGADO FEDERAL

Disciplina: Direito Administrativo


Prof.: Fernanda Marinela
Aula nº. 02

MATERIAL DE APOIO – MONITORIA

Índice

1. Artigo Correlato
1.1 Eficiência na gestão dos contratos administrativos
1.2 Desconstruindo o princípio de supremacia do interesse público. Incompatibilidades com o sistema
jurídico brasileiro
2. Assista!!!
2.1 O que se entende pelos princípios da supremacia do interesse público, indisponibilidade do interesse
público e autotutela??
3. Leia!!!
3.1. Há diferença entre o princípio da impessoalidade e o princípio da finalidade?
3.2 Repatriamento de dinheiro ilegal no exterior: uma imoralidade
3.3 Moralidade ou improbidade administrativa?
4. Simulados

1. ARTIGO CORRELATO

1.1 EFICIÊNCIA NA GESTÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Autor: Fernanda Alves Andrade. Advogada, escritora e pesquisadora. Especialista em licitações e


contratos administrativos. Capacita servidores públicos em todas as esferas de governo.

Publicado em: Julho de 2010.

Sumário: 1 – Princípio da eficiência. 2 – Distinção entre eficiência e eficácia. 3 - Práticas eficientes na


gestão de contratos. 4 - Efetividade e gestão contratual. 5 Conclusão.

1 – PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA

O princípio da eficiência é condicionante da atividade legislativa infra-constitucional, da atuação


administrativa do Estado e do controle cabível. Antes de sua inserção no caput do art. 37 da Constituição
da República, ele já existia nos artigos 37, §3º, 70 e 175 da mesma Carta Política.

Sempre que houver menção à economicidade e a meios que assegurem o controle, a aferição ou a
reclamação quanto aos serviços públicos prestados, estar-se-á diante da consagração do princípio da
eficiência. Mas não é só isto. O foco no resultado final da atividade desempenhada pela Administração
Pública igualmente levará à identificação deste princípio. Quer dizer, na escolha dos meios de atuação, o
Estado deve considerar a eficiência no atingimento dos objetivos públicos.

Numa visão mais abrangente dos meios de concreção do princípio da eficiência, podemos relacionar: a
realização de políticas democráticas, a eliminação de formalidades excessivas, desnecessárias e
infundadas (desburocratização), a eliminação de desperdícios (seja de material, seja de recursos
humanos), a implantação de processos de planejamento, a adequada execução e efetivo controle das
atividades realizadas pela Administração.

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


O princípio da eficiência vincula a atividade administrativa sob dois aspectos: primeiro, o comportamento
da Administração em favor dos cidadãos; segundo, a atividade interna instrumental, que deve focar na
realização dos objetivos e finalidades do Estado. O segundo aspecto possui maior intimidade com o tema
gestão de contratos administrativos. Mas este aspecto abrange o objetivo imediato da boa gestão, já que,
em resumo, esta haverá de irradiar seus efeitos também naquele primeiro aspecto abordado.

A eficiência deve sempre ser medida em estreita relação com aquilo que a Administração pretende
realizar ou adquirir. É que uma ação pode se revelar extremamente eficiente, mas não estar em
consonância com os valores e princípios regentes da atividade administrativa. Por isso, é preciso cuidado
e atenção na estipulação de meios de aplicação de técnicas eficientes.

Por exemplo, aplicar penalidade a contratado que descumpre com seus deveres durante a gestão
contratual sem a instauração de regular processo administrativo, ofende à legislação constitucional e
infra-constitucional (contraditório, ampla defesa e a lei geral de licitações e contratos). Não se pode,
portanto, ofender ao procedimento regularmente posto (legalidade), para se atingir a eficiência
pretendida. Por outro lado, priorizar a forma, em franco abandono à finalidade é conduta incompatível
com a melhor orientação administrativa.

Neste sentido leciona Jair Santana:

[...] Não se está advogando em absoluto o desapego às formas ou formalidades, importantíssimas para
guiar as condutas administrativas. Mas se quer pontuar, desde logo, que casos há em que a forma não
poderá sobrepor-se ao fim. Essa, aliás, a tendência interpretativa propagada e adotada modernamente no
cenário pátrio. [01] [...]
Nem se diga que esta eficiência deve-se ater tão somente à redução de gastos, direcionando-a para a
economicidade. A redução de custos é um dos objetivos da eficiência, mas não o único. O foco no
resultado, o ganho de tempo nos processos de produção, a satisfação do usuário, o melhor exercício das
missões de interesse coletivo que incumbe ao Estado, são também objetivos aos quais a eficiência deve
se reverenciar.

Até mesmo a discricionariedade administrativa tem seus parâmetros definidos pela eficiência. É que na
atuação discricionária deve o agente público pautar-se pela escolha da forma que melhor se apresenta
para o atendimento das necessidades sociais presentes ao caso.

Também a segurança jurídica deve ser respeitada no emprego de meios eficientes de gestão. A atuação
dos gestores deve se pautar pelo seguimento à lei, aos princípios regentes da Administração Pública e aos
métodos de trabalho e de atuação previamente definidos.

O conhecimento da legislação pertinente aos contratos administrativos, das regras postas no edital para
reger a contratação e das próprias cláusulas do contrato administrativo, como também o respeito a estas
regras são, portanto, imperativos.

2 – DISTINÇÃO ENTRE EFICIÊNCIA E EFICÁCIA


É comum no meio jurídico e no âmbito da atuação administrativa a utilização da expressão eficiência
como sinônimo de eficácia.

No âmbito da ciência da Administração não é bem assim.

Eficiência simboliza o meio utilizado para a obtenção de determinado produto. É, portanto, a razão entre o
esforço e o resultado; entre o custo e o benefício. Traduz a melhor maneira pela qual realizar alguma
atividade, aplicando os recursos de que se dispõe do modo mais racional possível.

Eficácia possui estreita relação com o resultado pretendido. Analisa o alcance dos objetivos com os
recursos disponíveis. Com sabedoria registrou a doutrinadora:

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


Não se pode correr o risco de transitar, atualmente, da máxima ‘os fins justificam os meios’ para a ordem
absoluta ‘use os meios de que precisar ou até mesmo os ignore, mas atinja o fim a qualquer custo’. Isto
significa proibição de abrir mão da eficácia, sem exceções. Os riscos de tal comportamento elevam-se na
medida em que eventualmente se estabeleça como objetivos da atuação administrativa aspectos
estritamente econômicos, como a maximização de lucros e a redução de custos. Não se pode mensurar o
sucesso do exercício da competência pública pelos mesmos critérios que orientam a atuação privada. [02]
O princípio da eficiência impõe atuação voltada ao atendimento dos objetivos da administração (relação
entre meios e fins). A eficácia impõe a escolha do método mais adequado à busca desses fins (alcance
dos objetivos por meio dos recursos disponíveis).

3 - PRÁTICAS EFICIENTES NA GESTÃO DE CONTRATOS


A condução das atividades internas deve se pautar por critérios que primem pela maximização de
resultados. Assim, o planejamento estratégico, o desenvolvimento de metas e a parametrização dos
meios de atingi-las são passos inafastáveis na atuação dos gestores públicos.

A realização das atividades cotidianas há de se orientar por condutas objetivas, focadas nos resultados a
que se destinam, tais como as seguintes:

a)Otimização de resultados;

b)Ampliação, ao máximo, das vantagens aos administrados;

c)Enxugamento de gastos;

d)Enxugamento dos processos de produção;

e)Ampliação da qualidade nas atividades

f)Ampliação da produtividade

g)Satisfação das necessidades administrativas e sociais

O rol anteriormente descrito é meramente exemplificativo. Assim, um sem-número de orientações e


atividades podem conduzir à boa gestão dos contratos administrativos.

O setor encarregado dos contratos na Administração deve estar munido do instrumental necessário ao
adequado acompanhamento do processo de fornecimento. Referimo-nos a meios eletrônicos (internet,
softwares, etc.), à capacitação do pessoal envolvido nas atividades respectivas, e a todo o operacional útil
à concreção da autêntica gestão contratual. O rigoroso controle das demandas, o acionamento de alerta
diante da redução de estoques, o adequado armazenamento de produtos e a sua dispensabilidade quando
cabível, o conhecimento do tempo demandado para o abastecimento, são exemplos de informações que
devem ser conhecidas dos gestores, uma vez que são fundamentais na deflagração do processo de
aquisição.

Mas não é só isto. O próprio exercício da função fiscalizatória e sancionadora constitui excelente
ferramenta de que pode dispor a Administração na busca da excelência. A instauração de regular processo
administrativo e o apenamento de contratados faltosos, uma vez caracterizada a sua responsabilidade
constitui fator não só corretivo, mas também preventivo, na medida em que impõe uma atitude de
respeito dos fornecedores para com a Unidade Administrativa que faz uso desta prerrogativa legal.

Aliás, a desconsideração da pessoa jurídica é outro instrumento de reconhecido potencial no afastamento


de pessoas mal intencionadas, cujas práticas comerciais lesam seus fornecedores. E a modificação da
legislação de licitações, tal como proposto no projeto de lei nº 7.709/07, não é necessária para a
aplicação desta ferramenta. É que por força da aplicação supletiva da teoria geral dos contratos
e das disposições do Direito Privado aos contratos administrativos, nos termos do artigo 54 da

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


Lei nº 8.666/93, mesmo hoje se pode afastar dos processos licitatórios e da própria contratação
fornecedores cuja atuação pretérita lesou os interesses e os cofres públicos.

Neste sentido citamos:

[...] É instituto que se afeiçoa a qualquer ramo do Direito, pois o abuso pode ser praticado pela pessoa
jurídica com vista a lesar credores, a prejudicar o Fisco, a ludibriar direitos dos familiares dos sócios, a
escapar de sanções administrativas, a fazer tabula rasa do interesse público, a ignorar os direitos do
consumidor, a vilipendiar os direitos dos trabalhadores e a burlar a lei, por exemplo, tendo como objetivo
favorecer seus sócios. É instituto, pode-se afirmar, da Teoria Geral do Direito. Aliás, Toshio Mukai (Direito
Administrativo e Empresas do Estado, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, Forense, 1984, p.221) assevera que o
problema da desconsideração da pessoa jurídica é do âmbito da Teoria Geral do Direito. Esse
reconhecimento não impede que o Direito Positivo institua e estabeleça critérios objetivos para a
desconsideração da pessoa jurídica [03].
O TCU e o STJ, além de outros tribunais pátrios, entendem lícita a aplicação da desconsideração da
pessoa jurídica no âmbito administrativo. Este não é o foco do presente estudo. Apenas para exemplificar,
citamos os acórdãos do TCU, a saber: 2077/04 – Plenário, 2.437/04 – 2ª Câmara, 2.943/2004, 1ª
Câmara e 39/05 – Plenário. E ainda o acórdão proferido pelo STJ no Recurso Especial n.º n. 151.567.

Como se vê, o foco da gestão de contratos é amplíssimo, pois remete a questões legais, instrumentais,
operacionais e econômicas mas, sobretudo ao resultado do processo de compra. É preciso, portanto,
estabelecer canais de diálogo entre os "clientes" internos (servidores, que obtém os produtos e serviços
necessários à execução de suas funções) e externos (os cidadãos, para os quais converge todo o interesse
público, fim maior da atividade estatal) da Administração com o setor encarregado dos contratos. Este
diálogo é o responsável pelo aperfeiçoamento das aquisições que se processam e, por conseqüência, das
atividades que presta a Unidade Administrativa. É impossível mencionar tais questões sem que se pense,
portanto, em efetividade.

4 - EFETIVIDADE E GESTÃO CONTRATUAL


Efetividade possui íntima ligação entre a norma jurídica e a realidade vivenciada. Designa, assim, a
atuação prática da norma. Quer dizer, diante da realidade, os valores e interesses protegidos pela norma
devem prevalecer.

Na efetividade administrativa resultados lucrativos não são os únicos objetivos a serem buscados. À
Administração cumpre: dar aplicação prática à lei naquilo que lhe compete; ao executar políticas públicas,
realizar despesas de maneira responsável, mas também, e sobretudo, satisfazer o interesse público.

Por isso, a gestão de contratos deve pautar sua atuação através de critérios, dentre outros, que primem
pelos princípios da eficiência e da eficácia, garantindo efetividade nas aquisições e contratações
pretendidas. Para tanto, deve-se lembrar que o objetivo maior da Administração é o atendimento das
necessidades coletivas e que todas as funções estatais, ao final, se voltam a este mister.

5 – CONCLUSÃO
Ao longo dos anos diversos mecanismos foram introduzidos na Administração Pública, focando a agilidade
dos meios de sua produção, a eliminação das formalidades excessivas e inúteis, priorizando a "gestão
ótima" [04]. Foi assim com o pregão, cujo sucesso irradia efeitos até mesmo na intenção de permitir a
alteração dos procedimentos para se realizar as demais modalidades de licitação (concorrência, tomada
de preços e convite). Referimo-nos, por exemplo, sobre a possibilidade de inversão de fases nestas
modalidades licitatórias, prática já adotada por alguns estados da federação em suas legislações e
recepcionada pelo projeto de lei nº 7.709/07, que visa a alteração da Lei Nacional de Licitações e
Contratos.

Outro exemplo do afirmado é o Sistema de Registro de Preços – instrumental útil ao abastecimento das
necessidades materiais administrativas (produtos e serviços), em alinhamento com as práticas
formais legalmente impostas aos que lidam com dinheiro público [05].

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


A prática de atos focados na redução de tempo, de custos, na ampliação e melhoria de resultados no
âmbito da gestão de contratos é também conduta necessária ao aperfeiçoamento do processo de
aquisição. Atitudes ágeis e a busca pela qualidade são também imperativas. A verdadeira satisfação das
necessidades coletivas é outra meta que não pode se distanciar, em hipótese alguma, dos objetivos a
serem buscados pelo setor. Lembramos que o processo de "gestão ótima" é contínuo, deve aprimorar-se
sempre.

E mais: por ser praticado no interior da Administração Pública, deve pautar-se, sempre, pela orientação
de que, mais importante do que vantagem econômica é a satisfação do interesse público (primário).

Atitudes assim permitem afirmar a concreção do princípio da eficiência no exercício das atividades
administrativas de gestão de contratos, princípio este de observância obrigatória, uma vez ser essencial
na efetividade das autênticas finalidades públicas, como também na realização e vivência do nosso Estado
Democrático de Direito.

BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988. 21
ed. São Paulo: NDJ, 2004.

BRASIL. Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. Legislação: licitações, pregão presencial e eletrônico, leis
complementares.Curitiba: Negócios Públicos, 2009.

BORGES, Alice Gonzalez. Reflexos do Código Civil nos Contratos Administrativos. Revista Eletrônica de
Direito Administrativo Econômico. Salvador, Nº 9, p. 1/15, fev/abr 2007. Disponível em:
<www.direitodoestado.com.br> Acesso em 16 nov. 2008.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 15 ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris,
2006.

CARVALHO, Raquel Melo Urbano de. Curso de Direito Administrativo. Jus Podivm: Salvador, 2009, 2 ed.

GASPARINI, Diógenes. Desconsideração Administrativa da Pessoa Jurídica. Revista JML de Licitações e


Contratos. Curitiba, n. 2, p. 3-17, mar 2007.

MEIRELLES. Hely Lopes. Licitação e Contrato Administrativo. 10 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1991.

MONTEBELLO, Marianna. Os Tribunais de Contas e a Disregard Doctrine. Revista Fórum Administrativo.


Belo Horizonte, nº. 49, p. 5238/5255, março 2005.

MUKAI, Toshio. Pena de Suspensão do Direito de Participar de Licitação pelo Estado. Boletim de Licitações
e Contratos. São Paulo, n. 12, p. 569/572, dezembro 1994.

SANTANA, Jair Eduardo. "Art. 26 da Lei nº 8.666/93. Não-observância dos Prazos Respectivos. Reflexos
nos Ajustes Decorrentes da Contratação Direta Emergencial. Distinção entre Eficácia, Vigência e
Validade." NDJ, BLC. Setembro de 2007, p. 883-885.

Notas
(SANTANA, 2007: 883-8855)
(CARVALHO, 2009:201)
(GASPARINI, 2007, p. 6).
Expressão nossa.
Não convém, neste instante, a discussão acerca de certos aspectos do Decreto Federal nº 3.931/01. O
fato é que o SRP constitui ferramenta que, bem utilizada, em muito contribui ao regular desempenho das
atividades administrativas. Neste sentido recomendamos leitura do acórdão TCU n.º 991/09 – Plenário.

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


Fonte: http://jus.uol.com.br/revista/texto/17001/eficiencia-na-gestao-dos-contratos-administrativos

1.2 DESCONSTRUINDO O PRINCÍPIO DE SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO.


INCOMPATIBILIDADE COM O SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO

Autor: Wayne Vinicius Di Francisco Rodrigues - Pós-graduando em Direito Contemporâneo do Curso do


Prof. Luiz Carlos.

Publicado em: Agosto de 2009.

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo a análise do Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o
Particular, situando-o e observando-o nos sistemas de normas e regras brasileiras, em especial, avaliando
sua congruência e adequação com os mesmos. Discorre sobre a relação Constituição e Supremacia do
Interesse Público e tece considerações sobre sua possibilidade e viabilidade. Faz considerações sobre o
Princípio em comento e sua adequação com outros postulados, axiomas e princípios diversos. Agride-o
por sua origem, em verdade, autoritária e vinculada ao ‘Antigo Regime’. Elenca casos concretos
relevantes e singulares, que tratam dos assuntos propostos. O artigo tem como principais referencias
teóricos: Alexandre Santos de Aragão, Daniel Sarmento, Gustavo Binenbojm, Humberto Ávila, Paulo
Ricardo Schier.

PALAVRAS-CHAVE: Princípio da Supremacia do Interesse Público; Postulado da Ponderação;


Proporcionalidade; Inconstitucionalidade; Filtragem Constitucional.

INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como objetivo questionar um dos "princípios" base do Direito Administrativo, o da
Supremacia do Interesse Público sobre o Particular. Para tanto, questiona-se: De fato, trata-se de um
princípio no seu sentido técnico? A Supremacia do Interesse Público é compatível como o sistema de
normas e regras? Há constitucionalidade, quando da sua aplicação clássica?

Essas perguntas são de vital importância para se bem compreender o objeto desse trabalho.

Com o objetivo de respondê-las satisfatoriamente, consultaram-se decisões de nossos tribunais e, até


mesmo, fatos históricos relevantes, bem como os mais balizados autores que, corajosamente, enfrentam
o assunto com muita propriedade e dedicação.

O estudo proposto foca, em especial, as lições de Alexandre Santos de Aragão, Daniel Sarmento, Gustavo
Binenbojm, Humberto Ávila, Paulo Ricardo Schier, sem, no entanto, deixar de citar outros autores, cuja
posição é oposta ao que se quer defender nesse artigo.

Antes de adentrar nas especificidades do tema, parece necessário descrever de forma sucinta os conceitos
básicos envolvidos: Direitos Fundamentais, Interesse Público e o entendimento clássico do princípio
questionado.

Feito isso, e definidos os elementos com que se iria laborar, passa-se a agredir a ideia de supremacia do
interesse público por vários ângulos distintos.

Questiona-se sobre a constitucionalidade das decisões, cuja escolha, no caso concreto, se dá de antemão
em prol do - por muitas vezes - suposto interesse público. Sugere-se que a questão da
constitucionalidade seja tratada por um prisma que coloca o cidadão e suas garantias básicas em primeiro
plano, tal como faz nossa Carta Magna.

Em outro ponto do trabalho, o foco é determinar se há adequação do princípio ora estudado


com o sistema normativo brasileiro, em especial, com a Constituição e a lógica dela

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


decorrente. A harmonia do sistema também é verificada por comparação com outros princípios do Direito.
Na linguagem da Teoria Geral do Direito, adequação com axiomas, postulados (ponderação,
proporcionalidade, razoabilidade) e normas-princípios. Tal ponto é tratado fundamentalmente com lições
de Humberto Bergmann Ávila.

No mesmo sentido, vários outros autores – agora com outros argumentos – também tratam da relação do
princípio em comento com os princípios (postulados para Bergmann) da proporcionalidade e ponderação.

Ademais, diferentemente de outros trabalhos sobre o assunto, também se questiona a origem e


consequente vício do princípio ora atacado. Observadas, portanto, questões pertinentes à origem e a fatos
históricos ligados ao nascimento do Direito Administrativo, e a consequente legitimação e fundamentação
do princípio da supremacia do interesse público sobre o privado. Assim, o assunto é abordado por vários
enfoques.

1 CONCEITOS BÁSICOS

O presente tópico tem por função explicar de forma concisa os conceitos que irão ser trabalhados neste
ensaio: Direitos Fundamentais, Interesse Público (Primário e Secundário) e Princípio da Supremacia do
Interesse Público sobre o Privado.

1.1.DIREITOS FUNDAMENTAIS

Em pesquisa sobre o assunto, propõe Alexandre de MORAIS, como "adequado conceito de direitos
humanos fundamentais, o conjunto de direitos e garantias do ser humano, com o objetivo de respeito a
sua dignidade e o estabelecimento das condições mínimas de vida, através da proteção contra o abuso do
poder estatal" [01].

O ilustre autor utilizou-se do termo "direitos humanos fundamentais", mas, para esclarecer, em que pese
sejam ambos os termos – direitos fundamentais e direitos humanos – comumente utilizados como
sinônimos, há distinção entre ambos. O primeiro termo, "direito fundamental", é aplicado para aqueles
direitos do ser humano descritos em uma constituição, o segundo, "direito humano", guarda relação com
o direito internacional, é reconhecido de forma universal, por todos os povos, não guardando relação
alguma com um caráter nacional (constitucional interno), ou seja, independe de uma vinculação com
determinada ordem constitucional [02].

1.2 DO INTERESSE PÚBLICO PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO

O interesse público não se configura como conveniência egoística da Administração Pública. O interesse
secundário (Alessi) ou interesse da Administração Pública não é público. O Estado, segundo Marçal
JUSTEN FILHO, não possui interesses qualitativamente similares aos interesses dos particulares, pois não
foi instituído para buscar satisfações similares às que norteiam a vida dos particulares [03].

Nesse contexto, o professor Celso Antonio Bandeira de MELLO ensina: o interesse público deve ser
conceituado como o interesse resultante do conjunto dos interesses que os indivíduos pessoalmente têm
quando considerados em sua qualidade de membros da Sociedade e pelo simples fato de o serem [04].

Com tal acepção, o professor Bandeira de MELLO pretende demonstrar a linha tênue existente entre o
interesse público e o particular e, ao mesmo tempo, corrigir dois conceitos. São eles: o conceito de que o
interesse público está desvinculado do interesse particular e que, em decorrência disto, não poderia o
particular, individualmente considerado, defender aquele primeiro interesse; e o segundo, o que afirma a
necessária coincidência entre o interesse público (primário) e o interesse imediato do Estado (secundário).

Assim como os particulares, o Estado apresenta interesses que são tão somente seus (interesse público

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


secundário) e que em nada coadunam com o interesse público propriamente dito (primário). O mestre
Celso Antônio Bandeira de MELLO ainda afirma;

[...] independentemente do fato de ser, por definição, encarregado dos interesses públicos, o Estado pode
ter, tanto quanto as demais pessoas, interesses que lhe são particulares, individuais, e que, tal como os
interesses delas, concebidas em suas meras individualidades, se encarnam no Estado enquanto pessoa.
Estes últimos não são interesses públicos, mas interesses individuais do Estado, similares, pois (sob o
prisma extrajurídico), aos interesses de qualquer outro sujeito. Similares, mas não iguais [05] [...].

Não iguais, segundo o ilustre doutrinador, porque os particulares podem defender tais interesses
intrínsecos à sua personalidade, quando bem entenderem, enquanto que o Estado somente os poderá
tutelar quando não forem contrários ao dito interesse público primário e quando com este possuírem
coesão. Renato ALESSI possui o mesmo entendimento quando elucida "(...) os interesses secundários do
Estado só podem ser por ele buscados quando coincidentes com os interesses primários, isto é, com os
interesses públicos propriamente ditos [06]".

É o que o mesmo ALESSI, de outra forma explica: " La peculiaridad de la posición jurídica de la
Administración pública radica precisamente en esto, en que su función consiste en la realización del
interés colectivo, público, primario [07]".

Com tal noção de interesse público primário e secundário, estaria, por exemplo, o Estado agindo segundo
um interesse secundário, quando fechasse uma creche ou um posto de saúde com o simples intuito de
diminuir despesas. De outra forma, estaria agindo na defesa de um interesse primário, quando abrisse
creches e postos de saúde, pois aí estaria garantindo direitos fundamentais como educação e saúde. Ou
ainda, noutro exemplo estampado por ALESSI, caso a Administração reduzisse ao mínimo possível o
salário do funcionalismo e aumentasse ao máximo possível os impostos, com finalidade de maior
arrecadação (interesse secundário ou do aparato); do contrário, o interesse público (primário) exige,
respectivamente, que os funcionários sejam pagos suficientemente, a fim de que seus serviços sejam
eficazes, e que aos cidadãos não sejam impostas altas cargas tributárias, mas sim, que sejam limitadas
de forma proporcional às contraposições ofertadas pelo Estado [08].

Sendo assim, o Estado, quando da prática de atos fundados tão somente em um interesse secundário,
deixando de lado aquele outro interesse, verdadeiramente coletivo (primário), além de agir como se
particular fosse, portar-se contra o regime jurídico administrativo e a ordem constitucional.

O que se quer com o presente tópico é afirmar que o "princípio" da supremacia do interesse público – se é
que existe – apenas tutelaria o dito interesse público primário. Quanto a isso não há discussão doutrinária
pátria.

1.3.PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO

Hely Lopes MEIRELLES conceitua o princípio em questão na sua forma clássica:

Interesse público ou supremacia do interesse público – Também chamado de princípio da supremacia do


interesse público ou da finalidade pública, com o nome de interesse público a Lei 9.784/99 coloca-o como
um dos princípios de observância obrigatória pela Administração Pública, correspondendo ao "atendimento
a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de poderes ou competência, salvo autorização
em lei" (art. 2°, parágrafo único, II).

O princípio do interesse público está intimamente ligado ao da finalidade. A primazia do interesse público
sobre o privado é inerente à atuação estatal e domina-a, na medida em que a existência do Estado
justifica-se pela busca do interesse geral. Em razão dessa inerência, deve ser observado mesmo quando
as atividades ou serviços públicos forem delegados aos particulares [09].

2 DA INCONSTITUCIONALIDADE DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


Critica-se, aqui, o princípio em tela – em seu clássico entendimento – sob o fundamento de ofensa ao
sistema jurídico brasileiro. A referida ofensa se dá por meio de inconstitucionalidade por desrespeito aos
Direitos Fundamentais, que são desconsiderados "a priori", quando confrontados com um dito interesse
público supremo e inquestionável.

Quando o juiz depara-se com qualquer caso concreto, busca no sistema jurídico vigente um supedâneo de
regras e princípios harmônicos entre si, para auxiliá-lo na busca pela solução mais adequada do conflito
que lhe é apresentado.

Mas, nesse caso, para que se alce a medida mais adequada àquele fato específico, o juiz deve contar com
um repertório amplo e confiável de princípios que o orientem. Tal repertório deve ser condizente com a
lógica do sistema adotado, não fazendo sentido qualquer contradição entre o sistema e os postulados de
orientação. Nesse sentido, para Celso Antonio Bandeira de MELLO, princípio é:

... mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia
sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e
inteligência por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere tônica e lhe dá
sentido harmônico [10].

E é justamente nesse ponto – relação de harmonia entre o sistema e os princípios - que o Direito
Administrativo tem faltado. Pecando sistematicamente quando há necessidade de uma hermenêutica mais
adequada ao conflito público e privado. Sofre de uma verdadeira carência no tocante a técnicas
hermenêuticas. E opta, infelizmente, por uma solução simplista: tomando partido sempre do interesse
público.

Nesse sentido, CANOTILHO, citado por Daniel SARMENTO ensina:

Na verdade, parece-nos que a questão das restrições aos direitos fundamentais justificadas com base no
interesse público não pode ser enfrentada com soluções simplistas, como a baseada na suposta
supremacia do interesse público sobre o particular. Elas demandam um exame mais complexo, que leve
em consideração toda a constelação de limites às restrições de direitos fundamentais, que vem sendo
desenvolvida pela doutrina. Assim, é preciso primeiramente recordar que os limites aos direitos
fundamentais podem apresentar-se, basicamente, sob três formas diferentes: a) podem estar
estabelecidos diretamente na própria Constituição; b) podem estar autorizados pela Constituição, quando
esta prevê a edição de lei restritiva; e c) podem, finalmente, decorrer de restrições não expressamente
referidas no texto constitucional [11].

Observa-se que o citado autor critica a posição atual – simplista - e tenta delimitar o assunto elaborando
diretrizes para que se possa tratar dos direitos fundamentais, não aceitando decisões prévias em prol de
um ou de outro interesse.

Com igual pensamento, Daniel SARMENTO fala sobre a singeleza do tratamento tradicional sobre o
conflito público versus privado:

Portanto, a clivagem público/privado torna-se por demais singela para explicar o cenário atual, em que há
múltiplos espaços da vida humana, pautados por lógicas diversas. Tais espaços, na verdade, não são
separados de modo tão rígido e esquemático, penetrando-se e entrecruzando-se freqüentemente. E,
muito embora eles possuam características e peculiaridades próprias, devem ser cortados
transversalmente pelos princípios emancipatórios atrelados aos direitos humanos e à democracia, que não
podem mais permanecer cingidos com exclusividade à esfera das relações em que o Estado se faça
presente [12].

E SARMENTO continua - em outro ponto de seu texto - não mais falando da simplicidade com que o
assunto é tratado, mas de outras falhas da interpretação majoritária ora questionada, quais sejam, a
inadequação da supremacia do interesse público com a ordem jurídica e o perigo aos direitos
fundamentais, o que, por via reflexa, acaba por abalar a própria democracia:

E, como já afirmamos antes, nosso propósito no presente ensaio é o de juntarmo-nos ao coro destes
autores, não só porque divisamos uma absoluta inadequação entre o princípio da supremacia
do interesse público e a ordem jurídica brasileira, como também pelos riscos que sua assunção

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


representa para a tutela dos direitos fundamentais. Parece-nos que o princípio em discussão baseia-se
numa compreensão equivocada da relação entre pessoa humana e Estado, francamente incompatível com
o leitmotiv Democrático de Direito, de que as pessoas não existem para servir aos poderes públicos ou à
sociedade política, mas, ao contrário, estes é que se justificam como meios para a proteção e promoção
dos direitos humanos. Tentaremos, enfim, demonstrar que a cosmovisão subjacente ao princípio em
debate apresenta indisfarçáveis traços autoritários, que não encontram respaldo numa ordem
constitucional como a brasileira, em cujo epicentro axiológico figura o princípio da dignidade da pessoa
humana [13].

Detectado o problema, a prática administrativa manteve-se inerte, ao arrepio de outros ramos do Direito
– que consoante suas realidades e especificidades - implementaram necessárias e modernas práticas
hermenêuticas que vislumbraram as mudanças sociais e inovaram, acertadamente, na interpretação dos
casos concretos que lhe são apresentados hodiernamente. Como exemplo mais recente, temos o processo
de ‘repersonalisação’ do Direito Civil – que foca o entendimento dos fatos propostos aos operadores do
direito, no individuo como sujeito de direitos constitucionais e, não mais, na propriedade como valor
absoluto. Outro exemplo de ramo do direito cuja adequação a realidade se deu de forma satisfatória,
ocorre nas interpretações do Direito de Consumo: em que há inversão do ônus da prova decorrente da
hiposuficiência do consumidor. Nesse, há critérios para se inverter o ônus probatório, que não é aplicado
de forma automática ou singela.

Já no Direito Administrativo, infelizmente, não se têm tais mecanismos de modulação, se aplica à


supremacia indiscriminadamente, sem questionamentos ou qualquer forma de ponderação. Ou seja, o
Direito Administrativo parou no tempo e não se ateve, como ocorreu com o Direito Civil, às mudanças da
sociedade contemporânea e a suas novas necessidades.

Ademais, como dito acima, as decisões "a priori" padecem por falta de harmonia com o sistema jurídico
por, também, infringirem as liberdades mais fundamentais do cidadão.

A Constituição Federal tem como principal característica à insistência na proteção dos direitos que são
mais caros aos sujeitos, demonstrando que é "a partir dos direitos fundamentais (pois são os direitos
vinculados à proteção do homem) que se deve compreender uma Constituição" [14].

Preocupado com a questão, Paulo Ricardo SCHIER afirma que a questão da Supremacia Estatal vem
servindo como cláusula geral de restrição de direitos fundamentais. Vejamos nas palavras do autor:

A conclusão (...) dá-se no sentido de que a assunção prática da supremacia do interesse público sobre o
privado como cláusula geral de restrição de direitos fundamentais tem possibilitado a emergência de uma
política autoritária de realização constitucional, onde os direitos, liberdades e garantias fundamentais
devem, sempre e sempre, ceder aos reclames do Estado que, qual Midas, transforma em interesse público
tudo aquilo que toca.

(...) O que se questiona, logo, não é o conteúdo, mas sim, a forma: a entronização do interesse público
num pretenso patamar hierárquico superior àquele ocupado pelos direitos e liberdades individuais [15].

A comprovação dos abusos que decorrem da limitação sistemática dos direitos fundamentais é descrita
por Alexandre Santos ARAGÃO, em um caso ocorrido durante a 2°guerra mundial nos EUA. Então
vejamos:

A sobrepujança na ponderação de interesses de argumentos retóricos em prol do "interesse público" ou


de seus subvalores já possibilitou nos EUA fortes restrições à liberdade de manifestação de idéias que
fossem consideradas esquerdistas ( Dennis v. United States), ou que cidadãos norte-americanos de
origem japonesa ficassem confinados em campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial
(Korematsu v. United Estates).

O fundamento dessas decisões foi que, na ponderação entre os valores da segurança nacional (interesse
público) e os da liberdade, deveriam prevalecer aqueles em detrimento desse [16].

Comentando o caso Korematsu v. United States, Daniel SARMENTO afirma:

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


Discutia-se naquele processo, a constitucionalidade da lei federal que estabelecera severas limitações à
liberdade de locomoção de cidadãos norte-americanos de ascendência japonesa, permitindo o seu
confinamento em ‘centros de relocação de guerra’. Embora a jurisprudência em vigor inclinasse-se no
sentido da inconstitucionalidade das discriminações fundadas em critério racial, a Suprema Corte manteve
a validade da lei impugnada, após ponderar a magnitude da restrição à liberdade gerada pela norma, com
a proteção à segurança nacional que ela ensejava, já que à época era grande o receio de que os sino-
americanos pudessem conspirar contra os Estados Unidos, na guerra então travada com o Japão. Nesta
lamentável decisão, o uso do método da ponderação prestou-se à finalidade de coonestar juridicamente o
confinamento de cidadãos americanos em campos de concentração, emprestando legitimidade
constitucional a um verdadeiro crime de guerra [17].

Ressalta-se, neste ponto, que apesar de o exemplo ser de décadas atrás, continua atual. Afinal, a atual
guerra contra o terrorismo - implantada por todo o mundo - tem justificado alguns atos que violam os
Direitos Humanos. Cita-se, aqui, o caso de supostas torturas implementadas contra "terroristas" na prisão
americana de Guantánamo, cuja defesa da segurança nacional – interesse público – também suplantou os
Direitos mais básicos daqueles prisioneiros.

Para demonstrar a importância e gravidade de se suplantar os Direitos Fundamentais, seja qual for o
motivo, o Ministro do STF Gilmar Ferreira MENDES ensina que "em sua concepção clássica, os direitos
fundamentais são direitos de defesa, protegendo posições subjetivas contra a intervenção do Poder
Público, seja pelo não impedimento à prática de determinado ato, seja pela não-intervenção em situações
subjetivas ou pela não-eliminação de posições jurídicas [18]".

Ou seja, os direitos básicos servem de escudo ao cidadão contra abusos estatais, e retirá-los, ou mesmo,
flexibiliza-los seria uma temeridade, especialmente em se tratando de um ataque provindo de uma
construção conceitual absurda de supremacia do interesse público engendrada pelo próprio ente estatal.

Ademais, além de tudo que foi exposto até aqui, devemos observar e aprender com outros países que
adotaram teorias semelhantes ao do Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado, e que,
por óbvio, também falharam na adequação de conflitos de interesses distintos (público vs. privado). Esse
é o caso da Alemanha da década de 50, cujo Tribunal Federal Administrativo elaborou doutrina conhecida
como "cláusula de comunidade", segundo o qual a proteção dos Direitos Fundamentais cede quando
oposta ao que se chamou de bens jurídicos da comunidade.

Sobre a referida teoria, ensina SARMENTO, dizia-se:

...que ela (a teoria da cláusula de comunidade) abria amplas possibilidades para abusos e arbitrariedades,
em razão do seu caráter vago e indeterminado, pondo os direitos fundamentais à disposição dos Poderes
Públicos. Ademais, argumentava-se, com razão, que ela degradava os direitos fundamentais, na medida
em que permitia o seu sacrifício em nome de interesses da coletividade que muitas vezes sequer
possuíam estatura constitucional. Tamanha fragilização da força normativa dos direitos fundamentais não
seria compatível com regime constitucional que lhes atribui eficácia reforçada, e coloca num primeiro
plano o princípio da dignidade da pessoa humana [19].

A citada teoria foi à época amplamente criticada pela doutrina e acabou sendo revista [20]. Devemos
repetir o erro?

2 DA ORIGEM AUTORITÁRIA DO PRINCÍPIO DA SUPREMACIA EM UM DIREITO ADMINISTRATIVO A


SERVIÇO DOS DETENTORES DO PODER

Ademais, tal uso do princípio em tela falha também por basear-se numa visão que guarda resíduos de
Estado Absoluto, ao classificar a relação entre cidadão e Estado como de subordinação tão somente. Não
bastasse, ele abstrai da tendência contemporânea a consensualidade nas relações travadas entre a
Administração Pública e os administrados [21].

A dogmática administrativista estruturou-se em função de um princípio de preservação da autoridade e


não, como se tem difundido, como garantia do cidadão.

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


Nas palavras de Gustavo BINENBOJM:

O direito administrativo, nascido da superação histórica do Antigo Regime, serviu como instrumento
retórico para a preservação daquela mesma lógica de poder.

Uma das categorias forjadas desde essa origem autoritária foi o chamado princípio da supremacia do
interesse público sobre o interesse particular [22].

Em regra, se afirma, erroneamente, que o Direito Administrativo surgiu a partir do momento em que o
poder se submeteu a lei. Tal pensamento é claramente percebido nas palavras de Caio TÁCITO:

O episódio central da história administrativa do século XIX é a subordinação do Estado ao regime de


legalidade. A lei, como expressão da vontade coletiva, incide tanto sobre os indivíduos como sobre as
autoridades públicas. A liberdade administrativa cessa onde principia a vedação legal. O Executivo opera
dentro dos limites traçados pelo Legislativo, sob a vigilância do Judiciário [23].

Entretanto, Gustavo BINENBOJM, acompanhado de outros autores, discorda frontalmente de tal posição.
Então vejamos em suas palavras:

Tal história (origem do Direito Administrativo) seria esclarecedora, e até mesmo louvável, não fosse falsa.
Descendo-se da superfície dos exemplos genéricos às profundeza dos detalhes, verifica-se que a história
da origem e do desenvolvimento do direito administrativo é bem outra. E o diabo, como se sabe, está nos
detalhes. A associação da gênese do direito administrativo ao advento do Estado de direito e do princípio
da separação de poderes na França pós-revolucionária caracteriza erro histórico e reprodução acrítica de
um discurso de embotamento da realidade repetido por sucessivas gerações, constituindo aquilo que
Paulo Otero denominou ilusão garantística da gênese. O surgimento do direito administrativo, e de suas
categorias jurídicas peculiares (supremacia do interesse público, prerrogativas da Administração,
discricionariedade, insindicabilidade do mérito administrativo, dentre outras), representou antes uma
forma de reprodução e sobrevivência das práticas administrativas do Antigo Regime que a sua superação.
A juridicização embrionária da Administração Pública não logrou subordiná-la ao direito; ao revés, serviu-
lhe apenas de revestimento e aparato retórico para sua perpetuação fora da esfera de controle dos
cidadãos [24].

E o mesmo autor, continua no mesmo sentido:

O direito administrativo não surgiu da submissão do Estado à vontade heterônoma do legislador. Antes,
pelo contrário, a formulação de novos princípios gerais e novas regras jurídicas pelo Conseil d’État em
França, que tornaram viáveis soluções diversas das que resultariam da aplicação mecanicista do direito
civil aos casos envolvendo a Administração Pública, só foi possível em virtude da postura ativista e
insubmissa daquele órgão administrativo à vontade do Parlamento. A conhecida origem pretoriana do
direito administrativo, como construção jurisprudencial do Conselho de Estado derrogatória do direito
comum, traz em si esta contradição: a criação de um direito especial da Administração Pública resultou
não da vontade geral, expressa pelo Legislativo, mas de decisão autovinculativa do próprio Executivo
[25].

Se algum objetivo de garantia embasou o surgimento e desenvolvimento da teoria administrativista, este


foi em favor da Administração, e não de direitos intrínsecos e minimamente necessários ao cidadão.

Paulo OTERO afirma "que só por manifesta ilusão de ótica ou equívoco se poderá vislumbrar uma gênese
garantística no direito administrativo – o direito administrativo nasce como direito da Administração
Pública e não como direito dos administrados [26]".

Observe-se que a interpretação clássica, ora criticada, nasceu em um Estado com realidade distinta da
atual. Hoje, depois de transições entre ideologias de esquerda (comunismo), de direita (fascismo) e
liberais, o Estado é inquestionável e encontra-se consolidado em todo o mundo, não carecendo de
quaisquer mecanismos absolutórios para resguardar sua existência e estabilidade. Consequentemente o
argumento de que a supremacia é obrigatória para o alcance de segurança jurídica está mais do que
superado.

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


Alçá-lo a uma hierarquia tal que inquestionáveis suas decisões é ser radical na interpretação. Lembrando-
se sempre que o atual modelo de Estado veio, justamente, para combater qualquer forma de radicalismo,
comum em um passado recente, naqueles Estados em que nasceu a interpretação que se quer superar.

Ressalta-se que em países adotantes do contencioso administrativo, justificado pelo "princípio supremo",
o dano à legalidade é ainda maior do que no Brasil. Ao mesmo tempo em que justifica a existência do
contencioso extrajudiciário, o pseudoprincípio impede o controle eficiente do Judiciário sobre o Executivo.

Com o mesmo entendimento BINENBOJM:

É curioso anotar como a separação de poderes serviu, contraditoriamente, a esse processo de imunização
decisória dos órgãos do Poder Executivo. O mesmo princípio que justificara a criação do contencioso
administrativo, intestino ao Executivo, será invocado para impedir que os órgãos de controle exerçam
sobre os outros órgãos da Administração poderes de injunção e substituição, em princípio da mesma
estrutura de Poder. Em outras palavras, criou-se no interior da Administração um contencioso que não
oferecia ao administrado as mesmas garantias processuais dos tribunais judiciários, mas, estranhamente,
estava sujeito aos mesmos limites externos de atuação, como se se tratasse do próprio Poder Judiciário
[27].

Denota-se que em função de prejuízos causados aos administrados, por um pretenso princípio de
supremacia, os países vinculados ao commow law relutam em reconhecer a autonomia científica ao direito
administrativo e afastam a jurisdição administrativa (aquela em que há decisão final irrecorrível). Tal fato
se deve à tradição daquelas nações de submissão das relações entre Administração e cidadão aos
mesmos tribunais e normas que aquelas estabelecidas entre particulares. Não houve formação de uma
estrutura dogmática munida de categorias a serviço do poder [28].

Com o presente tópico – Da origem autoritária do Princípio da Supremacia em um Direito Administrativo a


serviço dos detentores do poder – pretendeu-se atacar o referido principio por um enfoque diferente do
que vem sendo realizado usualmente em outros artigos sobre o tema, ou seja, agride-se o mesmo já em
sua origem, demonstrando os traços de absolutismo vinculados ao ‘Antigo Regime’ e sua sustentação
como técnica mantenedora de prerrogativas desnecessárias e conflitantes com o sistema vigente e sua
filosofia de fundo, que vai na defesa do cidadão.

3 DESCARACTERIZAÇÃO COMO PRINCÍPIO – POSIÇÃO DE HUMBERTO BERGMANN ÁVILA

Ademais, não bastasse o vício de inconstitucionalidade, há incompatibilidade da Supremacia do Interesse


Público com o Postulado da Ponderação, que critica qualquer decisão jurisdicional cuja escolha em favor
de um, ou de outro interesse, seja particular ou coletivo, realize-se de antemão.

O referido princípio supremo não pode ser considerado como tal, pois não se adéqua a nenhum dos vários
significados atribuídos ao termo "princípio", quais sejam, princípio como axioma, princípio como postulado
e princípio como norma.

Segundo Humberto Bergmann ÁVILA, o axioma é tido como uma afirmativa aceita por todos, que
decorreria do simples raciocínio lógico, portanto, autoexplicativa e não sujeita ao debate. O postulado -
em suma - seria uma condição de possibilidade do conhecimento de determinado objeto, sendo que tal
objeto não poderia ser compreendido senão através do próprio postulado. [29]

Quanto ao princípio como norma, ÁVILA afirma "que este encontra seu fundamento de validade tão
somente no direito positivo, de modo expresso ou implícito [30]", não obtendo, portanto, fundamento de
validade autoevidente como o axioma. "Daí dizer-se que os princípios, à diferença das metanormas de
validade, instituem razões prima facie de decidir. Os princípios servem de fundamento para a
interpretação e aplicação do Direito. Deles decorrem, direita ou indiretamente, normas de conduta ou
instituição de valores e fins para a interpretação e aplicação do Direito [31]". A norma princípio depende
de possibilidades normativas advindas de outros princípios, que podem derrogá-la em determinado caso
concreto. A resolução da colisão de normas princípios depende da instituição de regras de prevalência

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


entre os princípios envolvidos, não se admitindo, uma pré-concepção de supremacia de um para com
outro princípio.

Definidos os conceitos com que se vai trabalhar, passa-se a desconstrução conceitual do "princípio" em
estudo.

Quanto ao princípio como norma, a crítica se faz porque o princípio da supremacia do interesse público
sobre o privado não está em consonância com o que se define como princípio-norma jurídica, cujo
significado resulta de uma adequação e harmonia entre princípios, e que avalia seu fundamento de
validade com a ponderação do caso concreto, ao contrário do princípio aqui criticado, em que a
prevalência do interesse público é a única possibilidade de aplicação, e todas as outras possibilidades de
concretização somente consistem em exceções, não dependendo de averiguação fática.

Sobre o tema, ALEXY registra: "Essa relação de tensão não poderia ser resolvida no sentido de uma
absoluta prevalência de uma dessas obrigações do Estado, nenhuma dessas obrigações ganha
diretamente a prevalência. O conflito deve ser resolvido, muito mais, por meio de uma ponderação entre
os interesses conflitantes" [32].

Sobre o mesmo assunto, Humberto ÁVILA ensina:

A solução de uma colisão de normas princípios depende da instituição de regras de prevalência entre os
princípios envolvidos, a ser estabelecida de acordo com as circunstancias do fato concreto e em função
das quais será determinado o peso relativo de cada norma princípio. A solução de uma colisão de
princípios não é estável nem absoluta, mas móvel e contextual [33].

A segunda crítica acerca do princípio como norma, prossegue no sentido de que o princípio em estudo
carece de suporte/fundamento jurídico-positivo de validade, que é característica marcante do princípio-
norma, esta situação se expressa bem nos excelentes comentários do professor ÁVILA que merecem
transcrição literal.

Ele [princípio] não pode ser descrito como um princípio jurídico –constitucional imanente, mesmo no caso
de ser explicado como um princípio abstrato e relativo, pois ele não resulta, ex constitutione, da análise
sistemática do Direito.

Primeiro, porque a Constituição brasileira, por meio de normas-princípios fundamentais (arts. 1º a 4º),
dos direitos e garantias fundamentais (arts. 5º a 17º) e das normas-princípios gerais (por exemplo, arts.
145º, 150º e 170°), protege de tal forma a liberdade (incluindo a esfera intima e a vida privada), a
igualdade, a cidadania, a segurança e a propriedade privada, que se se tratasse de uma regra abstrata e
relativa de prevalência seria (não o é , como se verá) em favor dos interesses privados em vez dos
públicos. A Constituição brasileira institui normas-princípios fundamentais, também partindo da dignidade
da pessoa humana, direitos subjetivos são protegidos, procedimentos administrativos garantidos, o
asseguramento da posição dos indivíduos e de seus interesses privados é estabelecido frente ao
concorrente interesse público, etc. A Constituição brasileira, muito mais do que qualquer outra, é uma
Constituição cidadã, justamente pela particular insistência com que protege a esfera individual e pela
minúscula com que define as regras de competência da atividade estatal [34].

Aclarada a situação, o princípio em comento deve ser repensado, uma vez que esse apresenta contradição
absoluta com outras normas-princípios ou mesmo normas materiais de categoria constitucional, o que
sem sombra de dúvida não lhe dá fidedignidade como princípio. Como se não bastasse, há também
incompatibilidade com postulados normativos, como o da proporcionalidade e o da concordância prática.
Estes dois pregam o sopesamento de direitos, princípios e garantias, como forma de realização do Direito
[35], no entanto a única possibilidade prevista pelo principio basilar do Direito Administrativo é a
supremacia do interesse público.

Tais postulados são aceitos de forma inconteste na prática jurídica brasileira. E, mais uma vez, afirmar-
se, absolutamente incompatíveis com decisões a priori.

A proporcionalidade – na lição de ALEXY – "não consiste em uma norma-princípio, mas consubstancia


uma condição mesma da realização do Direito, já que não entra em conflito com outras
normas-princípios, não é concretizado em vários graus ou aplicado mediante criação de regras

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


de prevalência diante do caso concreto, e em virtude das quais ganharia, em alguns casos, a prevalência
[36]".

Em suma, o que existe – quando se fala em interesse público – é uma "regra condicional concreta de
prevalência" não uma norma-princípio, que depende de possibilidades normativas concretas, e nem um
postulado, cuja definição independe de casos concretos e se harmoniza como o sistema.

Exatamente nesse ponto – em que se requer uma nova formulação para a dita supremacia do interesse
público – é necessário citar um outro ponto de vista defendido pela autora Odete MEDAUAR, que
reconhece a existência do "princípio" supracitado, já com outro nome, princípio da preponderância do
interesse público sobre o particular, mas que afirma: "... vem (o princípio de supremacia) sendo matizado
pela idéia de que à Administração cabe realizar a ponderação de interesses presentes numa determinada
circunstância, para que não ocorra o sacrifício ‘a priori’ de nenhum interesse [37]".

Segundo a posição de MEDAUAR, o interesse público em regra prevalece sobre o privado, mas em
algumas situações o oposto ocorre. Para tal entendimento, de forma simplificada, o ônus probatório é
maior para aquele que defende o particular e somente ocorreria à vitória do interesse privado por um
motivo muito ‘forte’.

Entretanto, cita-se, aqui, a posição de MEDAUAR, apenas para fins de conhecimento, uma vez que os
autores defensores da inexistência do princípio da supremacia [38], também não concordam com tal
posição.

Vejamos a posição de um deles, Daniel SARMENTO, sobre o ponto de vista de MEDAUAR:

Todavia, esta visão também é francamente incompatível com o nosso sistema constitucional, por fragilizar
em demasia os direitos fundamentais. Com efeito, se é verdade, como afirmamos acima, que o
entrincheiramento dos direitos fundamentais não significa a sua imunização absoluta diante da
possibilidade de ponderações com interesses coletivos, também parece certo, por outro lado, que, no
mínimo, há de se exigir no processo ponderativo uma fortíssima carga argumentativa para superação do
direito fundamental em proveito do interesse público em confronto.

Mas, para a teoria "fraca" da supremacia do interesse público sobre o particular - como aqui a batizamos -
, dá-se o contrário, pois os direitos fundamentais, já na largada do processo ponderativo, partem em
franca desvantagem em relação aos interesses públicos. Ela desconsidera que os direitos fundamentais,
pela sua própria natureza, visam resguardar para os particulares certos bens jurídicos considerados
essenciais para a promoção da sua dignidade, e que devem por isso beneficiar-se de vigorosa proteção
diante dos poderes públicos, inclusive quando estes afirmem estar perseguindo interesses da coletividade.
Enfim, a teoria "fraca" – e muito mais ainda a "forte", por óbvias razões – debilita a proteção dos direitos
fundamentais, subtraindo a exigência de que qualquer restrição a eles seja submetida a um rigoroso
escrutínio, em que caiba à medida restritiva, ainda que inspirada no interesse público, e não ao direito
contraposto, a maior carga argumentativa [39].

4 DA RELAÇÃO COM OS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E PONDERAÇÃO

O Postulado da Proporcionalidade é indispensável para adequar princípios e interesses conflitantes. Da sua


aplicação busca-se o alcance da decisão mais acertada no caso concreto ou em um eventual choque
abstrato de normas – princípios.

Daniel SARMENTO conceitua:

O emprego do princípio da proporcionalidade busca otimizar a proteção aos bens jurídicos em confronto,
evitando o sacrifício desnecessário ou exagerado de um deles em proveito da tutela do outro. Neste
sentido, ele é de especial importância no campo dos direitos fundamentais, como fórmula de limitação de
medidas que restrinjam estes direitos. Um dos seus objetivos, como o nome já revela, é a busca de uma
justa e adequada "proporção" entre os interesses em pugna. Por isso, a aplicação do princípio da
proporcionalidade exige a realização de ponderações minuciosas e devidamente motivadas, nas quais se
torna fundamental a atenção sobre as particularidades da situação concreta sob análise [40].

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


Percebe-se do conceito acima que a flexibilidade de análise nos conflitos da sociedade é indispensável ao
bom andamento e ‘justiça’ das decisões judiciais. Por certo, não há compatibilidade entre um pensamento
de proporcionalidade e uma decisão antecipada em prol do interesse público. Com o mesmo fundamento,
SARMENTO:

Talvez a mais séria objeção dogmática ao princípio da supremacia do interesse público sobre o particular
seja a de que ele não é compatível com o princípio da proporcionalidade, que constitui importantíssimo
parâmetro para aferição da constitucionalidade das restrições aos direitos fundamentais. Com efeito, o
princípio da proporcionalidade, cuja vigência no ordenamento brasileiro é hoje reconhecida, em uníssono
pela doutrina e jurisprudência, estabelece critérios intersubjetivamente controláveis para resolução de
colisões envolvendo interesses constitucionais [41].

Ademais, além de impedir qualquer possibilidade de sopesamento de interesses, o ‘princípio’ base do


Direito Administrativo também é incompatível com a hermenêutica constitucional da concordância prática
[42], como visto no tópico 2 deste trabalho.

CONCLUSÃO

O artigo tem inicio com as seguintes problemáticas sobre o "princípio" supremo do interesse público: "De
fato, trata-se de um princípio no seu sentido técnico? A Supremacia do Interesse Público é compatível
como o sistema de normas e regras? Há constitucionalidade, quando da sua aplicação clássica?".

Após os argumentos apresentados, se chega a uma resposta negativa para todas essas questões, ou seja,
não há que se falar em princípio da supremacia – mas, sim, em regra de prevalência -, não há harmonia
do citado princípio administrativo com o sistema e muito menos adequação com a Constituição de 88,
especialmente por abalar os Direito Fundamentais.

Por certo, possuir uma visão prévia, cuja preponderância do interesse público é soberana e inconteste,
atrapalha sobremaneira o alcance da decisão ideal no caso concreto. Não se questionou que o Estado, em
determinadas situações, possuísse vantagens – prerrogativas, na linguagem administrativa –, mas que
tais vantagens sejam determinadas quando apresentadas a um fato (mundo real), não de antemão e de
forma abstrata (até porque não se fala em princípio, mas em regra de prevalência). Se o ato
administrativo necessita de imperatividade, autoexecutoriedade e presunção de legitimidade para
possibilitar uma boa administração, que tenha tais características, mas não definidas sem análise das
necessidades reais de um fato apresentado.

Ademais, a crítica se acirra quando se verifica que a postura atacada ofende sobremaneira garantias
adquiridas com muito empenho histórico. Até mesmo porque nasce contaminada pelo absolutismo e
autoritarismo de regimes anteriores que tratavam os cidadãos, ou melhor, os sujeitos apenas como
subordinados.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ALESSI, Renato. Institucines de Derecho Administrativo. Tomo I. Traducción dela 3ª edición italiana por
Buenaventura Pellisé Prats. Barcelona: Bosch, Casa Editorial, 1970.

ARAGÃO, Alexandre Santos. A "Supremacia do Interesse Público" no Advento do Estado de Direito e na


Hermenêutica do Direito Contemporâneo.In: SARMENTO, Daniel (organizador). Interesses Públicos versus
Interesses Privados: Descontruindo o Princípio de Supremacia do Interesse Público. Rio de Janeiro: Lúmen
Júris, 2007.

ÁVILA, Humberto Bergmann. Repensando o "Princípio da supremacia do interesse público sobre o


particular". In: SARLET, Ingo Wolfgang (org.). O Direito Público em Tempos de Crise. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 1999.

BINENBOJM, Gustavo. Da Supremacia do Interesse Público ao Dever de Proporcionalidade: Um novo


Paradigma para o Direito Administrativo. In: SARMENTO, Daniel (organizador). Interesse Público versus

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


Interesse Privado: Desconstruindo o Princípio de Supremacia do Interesse Público. Rio de Janeiro: Lúmen
Júris, 2007.

JUSTEN FILHO, Marçal. Conceito de Interesse Público e a "Personificação" Direito Administrativo. Revista
Trimestral de Direito Público. São Paulo: Malheiros. n° 26.

MEDAUAR, Odete. O Direito Administrativo Moderno. 5. ed. São Paulo: RT, 2001.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 33. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2007.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2002.

MORAIS, Alexandre. Direitos Fundamentais: teoria geral, comentários aos art. 1° a 5° da Constituição
Federal da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. São Paulo: Atlas,2000.

OTERO, Paulo. Direito Administrativo – Relatório. Coimbra: Coimbra Editora, 2001.

SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001.

SARMENTO, Daniel. A Ponderação de Interesses na Constituição Federal. Rio de Janeiro: Lúmen Júris,
2000.

SARMENTO, Daniel. Interesses Públicos vs. Interesses Privados na Perspectiva da Teoria e da Filosofia
Constitucional. In: SARMENTO, Daniel (organizador). Interesses Públicos versus Interesses Privados:
Descontruindo o Princípio de Supremacia do Interesse Público. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2007.

SCHIER, Paulo Ricardo. Artigo: Ensaios sobre a Supremacia do Interesse Público sobre o Privado e o
Regime Jurídico dos Direitos Fundamentais. Disponível em: www.mundojuridico.com.br Acesso em
18.06.2008.

SCHIER, Paulo Ricardo. Filtragem Constitucional: Construindo uma nova dogmática jurídica. Porto Alegre:
Sergio Antonio Fabris, 1999.

Notas

1.MORAIS, Alexandre. Direitos Fundamentais: teoria geral, comentários aos art. 1° a 5° da Constituição
Federal da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. São Paulo: Atlas, 2000, p. 39.

1.SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2001. p. 33.

1.JUSTEN FILHO, Marçal. Conceito de Interesse Público e a "Personificação" Direito Administrativo. Revista
Trimestral de Direito Público. São Paulo: Malheiros. n° 26, p. 118.

1.MELLO, Celso Antonio Bandeira. Curso de Direito Administrativo. 15ª ed. São Paulo: Malheiros Editores,
2002, p. 53.

1.Ibidem, p. 57.

1.ALESSI, Renato. Sistema Istituzionale Del Diritto Amministrativo Italiano. 2ª ed. Milão: Giuffrè, 1960, p.
197 e notas de rodapé 3 e 4. apud MELLO, Celso Antonio Bandeira. Curso de Direito Administrativo. 15ª
ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2002, p. 57.

1.ALESSI, Renato. Institucines de Derecho Administrativo. Tomo I. Traducción dela 3ª edición italiana por
Buenaventura Pellisé Prats. Barcelona: Bosch, Casa Editorial, 1970, p. 183.

1.Ibidem, p. 185.

1.MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 33. ed. São Paulo: Malheiros Editoras, 2007.
p. 103.

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


1.MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2002,
p.572.

1.CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição dirigente e vinculação do legislador, Coimbra: Coimbra,
1994, p. 1142-1143 apud SARMENTO, Daniel. Interesses Públicos vs. Interesses Privados na Perspectiva
da Teoria e da Filosofia Constitucional. In: SARMENTO, Daniel (organizador). Interesses Públicos versus
Interesses Privados: Descontruindo o Princípio de Supremacia do Interesse Público. Rio de Janeiro: Lúmen
Júris, 2007. p. 91.

1.SARMENTO, Daniel. Interesses Públicos vs. Interesses Privados na Perspectiva da Teoria e da Filosofia
Constitucional. In: SARMENTO, Daniel (organizador). Interesses Públicos versus Interesses Privados:
Descontruindo o Princípio de Supremacia do Interesse Público. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2007. p. 48.

1.Ibidem, p. 27.

1.HESSE, Konrad. Elementos de direito constitucional da República Federal da Alemanha. pg.38 apud
SCHIER, Paulo Ricardo.Ensaios sobre a Supremacia do Interesse Público sobre o Privado e o Regime
Jurídico dos Direitos Fundamentais. Disponível em: www.mundojuridico.com.br Acesso em 18.06.2008.

1.SCHIER, Paulo Ricardo. Artigo: Ensaios sobre a Supremacia do Interesse Público sobre o Privado e o
Regime Jurídico dos Direitos Fundamentais. Disponível em: www.mundojuridico.com.br Acesso em
18.jun.2008. p.1 e 2.

1.ARAGÃO, Alexandre Santos. A "Supremacia do Interesse Público" no Advento do Estado de Direito e na


Hermenêutica do Direito Contemporâneo.In: SARMENTO, Daniel (organizador). Interesses Públicos versus
Interesses Privados: Descontruindo o Princípio de Supremacia do Interesse Público. Rio de Janeiro: Lúmen
Júris, 2007. p. 7.

1.SARMENTO, Daniel. A Ponderação de Interesses na Constituição Federal. Rio de Janeiro: Lúmen Júris,
2000, p. 161.

1.MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos Fundamentais e Controle de Constitucionalidade. Brasília: Celso


Bastos Editor, 1998, p. 32 – 33.

1.SARMENTO, Daniel. Interesse..., p. 88.

1.Ibidem, p. 87.

1.Sobre a consensualidade na Administração Pública, veja-se MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo.


Administração Pública Consensual. Mutações do Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p.
37.

1.BINENBOJM, Gustavo. Da Supremacia do Interesse Público ao Dever de Proporcionalidade: Um novo


Paradigma para o Direito Administrativo. In: SARMENTO, Daniel (organizador). Interesse Público versus
Interesse Privado: Desconstruindo o Princípio de Supremacia do Interesse Público. Rio de Janeiro: Lúmen
Júris, 2007. p. 165-166.

1.TÁCITO, Caio. Evolução Histórica do Direito Administrativo. Disponível em :


<htttp://www.mundojuridico.com.br/artigo/adm/03/F.PDF> Acesso em: 25 mar. 2009.

1.BINENBOJM, op. cit., p. 119.

1.Ibidem, p.120.

1.OTERO, Paulo. Direito Administrativo – Relatório. Coimbra: Coimbra Editora. 2001. p. 227.

1.BINENBOJM, op. cit., p. 123.

1.Ibidem, p. 125.

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


1.ÁVILA, Humberto Bergmann. Repensando o "Princípio da supremacia do interesse público sobre o
particular". In: SARLET, Ingo Wolfgang (org.). O Direito Público em Tempos de Crise. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 1999. p. 102 – 103.

1.Ibidem, p. 104.

1.Ibidem, p. 105.

1.ALEXY, Robert. Theorie der Grundrechte. 2 ed. Frankfurt am Main, 1994, p.80. apud ÁVILA, Humberto
Bergmann. Repensando o "Princípio da supremacia do interesse público sobre o particular". In: SARLET,
Ingo Wolfgang (org.). O Direito Público em Tempos de Crise. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999.
p.108.

1.ÁVILA, Humberto Bergmann. Op. Cit., p. 105.

1.ÁVILA, Humberto Bergmann. Op. Cit., p.108.

1.HESSE, Konrad. Grundzüge des Verfassungsrechts der Bundesrepublik Deutschaland. 20 ed. Heidelber:
Müller, 1995, p.28. apud ÁVILA, Humberto Bergmann. Repensando o "Princípio da ... p.112-113.

1.ALEXY, Robert. Theorie der Grundrechte. 2. es. Frankfurt am Main, 1994, p. 100. apud. ÁVILA,
Humberto Bergmann. Op. Cit,. p. 112.

1.MEDAUAR, Odete. O Direito Administrativo Moderno. 5. ed. São Paulo: RT, 2001. p. 153.

1.Alexandre Santos de Aragão, Daniel Sarmento, Gustavo Binenbojm, Humberto Ávila, Paulo Ricardo
Schier, dentre outros.

1.SARMENTO, Daniel. Interesse..., p. 102.

1.SARMENTO, Daniel. Interesse..., p. 100.

1.Ibidem, p. 99.
1.SCHIER, Paulo Ricardo. Filtragem Constitucional: Construindo uma nova dogmática jurídica. Porto
Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1999.

Fonte: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13992&p=1

2. ASSISTA!!!

2.1 O que se entende pelos princípios da supremacia do interesse público, indisponibilidade do


interesse público e autotutela??

http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20100413165453354

3. LEIA!!!

3.1. HÁ DIFERENÇA ENTRE O PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE E O PRINCÍPIO DA


FINALIDADE?

Autor: Ariane Fucci Wady.


Publicado em: Julho de 2009.

O princípio da impessoalidade referido no art. 37, "caput", CF nada mais é que o clássico princípio da
finalidade, que impõe ao administrador público o dever de praticar o ato atendendo o seu fim legal.

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


Por fim legal entende-se aquele que a norma de Direito indica expressa ou virtualmente como objetivo do
ato, de forma impessoal e deve ser seguido para que se evite a promoção pessoal de autoridades ou
servidores públicos sobre suas realizações administrativas.

Mais ainda, a finalidade terá sempre um objetivo certo e inafastável de qualquer ato administrativo, qual
seja, o interesse público. Todo ato que se apartar desse objetivo sujeitar-se-á a invalidação por desvio de
finalidade, que a lei da ação popular conceituou como "o fim diverso daquele previsto, explícita ou
implicitamente, na regra de competência do agente, conforme disposto no art. 2°, parágrafo único, "e",
da lei 4717/65.

Desta forma, como o princípio da finalidade determina que o ato seja praticado sempre com finalidade
pública, o administrador fica impedido de buscar outro objetivo ou de praticá-lo no interesse próprio ou de
terceiros. Pode, entretanto, o interesse público coincidir com o de particulares, como ocorre normalmente
nos atos administrativos negociais e os contratos públicos, casos em que é lícito conjugar a pretensão do
particular com o interesse coletivo.

O importante, portanto, é saber que o princípio da finalidade veda a prática de ato administrativo sem
interesse público ou conveniência para a Administração, visando unicamente satisfazer interesses
privados, por favoritismo ou perseguição dos agentes governamentais, sob a forma de desvio de
finalidade. Esse desvio de conduta dos agentes públicos constitui uma das modalidades de abuso de
poder, que deve ser veemente afastada pelos agentes públicos e todos os que de alguma forma
trabalham sob o princípio da supremacia do interesse público sobre o privado.

Fonte: http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20080722085717868

3.2 REPATRIAMENTO DE DINHEIRO ILEGAL NO EXTERIOR: UMA IMORALIDADE

Autor: Luiz Flávio Gomes. Doutor em Direito penal pela Universidade Complutense de Madri e Mestre em
Direito Penal pela USP. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado
(1999 a 2001). Twitter: www.twitter.com/ProfessorLFG. Blog: www.blogdolfg.com.br. Encontre-me no
Facebook.

Publicado em: Dezembro de 2010.

De US$ 50 a 200 bilhões de dólares poderiam ser “repatriados” (regressados à “Pátria Amada, salve,
salve”), caso fosse aprovado o projeto Cidadania Fiscal (354/2009) [veja o estimado leitor como os
privilégios de classe sempre contam com nomes respeitosos: “cidadania”], de autoria do senador Delcídio
Amaral (PT-MS), que está tramitando no Senado, com boa perspectiva de aprovação (talvez em breve).

O dinheiro trazido de volta (“repatriado”), diz o senador, “poderá ser investido em infraestrutura,
habitação, agronegócio, ciência e tecnologia”. O senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) recomendou a sua
aprovação.

Do que se trata?

Do seguinte: quem mandou dinheiro para o estrangeiro (para bancos europeus, especialmente os suiços,
americanos etc.), ou manteve esse dinheiro lá, de forma ilegal [pelas leis vigentes no Brasil, de maneira
criminosa], ganharia (de sobra) uma anistia criminal, em relação a todos os crimes fiscais e financeiros,
incluindo os crimes contra a administração pública: falsidades, fraudes.

Basta que a pessoa física faça a retificação da declaração do IR e, em lugar de pagar a alíquota de 27,5%,
pagaria apenas 5% sobre o valor dos bens. A alíquota cai pela metade se os bens forem aplicados em
algumas áreas (definidas no projeto) ou em fundos de investimentos. As pessoas jurídicas pagariam
alíquotas entre 8% e 10%. Não é preciso “repatriar todo o dinheiro”. A anistia vale mesmo que só parte
do dinheiro venha para o Brasil.

Alguns juízes não concordam

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


Para Sérgio Moro (juiz federal) “O projeto é uma vergonha”. De acordo com Gabriel Wedy (presidente da
Associação dos Juízes Federais), “O Brasil não pode aceitar esse tratamento benéfico ao capital que vai
para o exterior de forma criminosa, na maioria das vezes fruto da corrupção ou do tráfico internacional de
drogas” (O Estado de S. Paulo de 24.12.10, p. A4). A anistia, na prática, diz o primeiro juiz citado, não vai
beneficar “apenas” os crimes fiscais, de descaminho e financeiros, evasão de divisas, vai favorecer todo
tipo de criminoso”; “vai ser difícil descobrir a origem do dinheiro” (que pode ser de corrupção).
Tratamento privilegiado para corruptos. Isso viola a moralidade. “Por mais que a intenção seja a de atrair
recursos para investimentos, creio que os prejuízos à moralidade e o incentivo à sonegação não
compensam” (diz o juiz Ivo Höhn Junior).

Senador Delcídio e alguns advogados defendem o projeto

Para o senador “O Projeto não é uma aventura. Tenta regularizar o câmbio negro. Tem inspiração em
outros projetos da Alemanha, Itália etc. Muito dinheiro “bom” foi para fora do país [era uma questão de
proteção contra os planos econômicos] (O Estado de S. Paulo de 24.12.10, p. A4). Alguns advogados
(Sérgio Rosenthal, Toron, G. Batochio) concordam com as justificativas do senador. Pitombo acha que o
crime de evasão de divisas não deveria existir.

Nossa opinião

Do ponto de vista dos beneficiados (político-governamental, das pessoas implicadas, dos administradores
de fortunas no Brasil etc.) o projeto certamente deveria se transformar em lei (o mais pronto possível).
Mas por detrás desse projeto há questões morais, políticas e filosóficas extremamente graves (que
precisam ser colocadas em pauta).

As classes dominantes continuam zombando da igualdade. Sempre querem ser “mais iguais” que os
outros. Adoram e não abrem mão dos privilégios. O Iluminismo, que retrata o tempo da modernidade,
ainda não chegou ao Brasil. Crimes das classes dominadas, ao contrário, são resolvidos
(inescapavelmente) com a prisão. E não precisa o marginalizado (o “apartheidizado”) fazer muita coisa
não. Sua vulnerabilidade é extrema. Não é dessa maneira que vamos construir uma nação.

http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=2010122918002412

3.3 MORALIDADE OU IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA?

Autor: Luiz Flávio Gomes. Doutor em Direito penal pela Universidade Complutense de Madri e Mestre em
Direito Penal pela USP. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado
(1999 a 2001). Twitter: www.twitter.com/ProfessorLFG. Blog: www.blogdolfg.com.br. Encontre-me no
Facebook.

Publicado em: Fevereiro de 2011.

Não há como afirmar de maneira inequívoca que há diferença entre os termos em comento.

O que se pode concluir, no entanto, através de uma leitura do artigo 37, da CF/88 é que o constituinte
quando quis expor um princípio norteador mencionou no caput do referido dispositivo o termo:
moralidade. Por outro lado, dispôs no §4º, do mencionado artigo 37, a lesão à moralidade administrativa,
a que se denominou: improbidade.

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

(…)

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02


§ 4º – Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da
função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas
em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. (Grifamos).

Fonte: http://www.blogdolfg.com.br/descomplicando-o-direito/moralidade-ou-improbidade-
administrativa/

4. SIMULADOS

4.1. A respeito dos princípios básicos da Administração, é correto afirmar:

a) Em razão do princípio da moralidade o administrador público deve exercer as suas atividades


administrativas com presteza, perfeição e rendimento funcional.
b) Os princípios da segurança jurídica e da supremacia do interesse público não estão expressamente
previstos na Constituição Federal.
c) A publicidade é elemento formativo do ato e serve para convalidar ato praticado com irregularidade
quanto à origem.
d) Por força do princípio da publicidade todo e qualquer ato administrativo, sem exceção, deve ser
publicado em jornal oficial.
e) O princípio da segurança jurídica permite a aplicação retroativa de nova interpretação de norma
administrativa.

4.2. Destinatária de minucioso artigo na Constituição Federal, a administração pública brasileira é regida
por princípios que fundamentam a atuação dos agentes do Estado. Nesse sentido, com base nos princípios

a) da moralidade e da eficiência, é vedada a acumulação de cargos em qualquer hipótese.


b) da impessoalidade e da nacionalidade, é vedada a investidura, em cargo público, de estrangeiros, salvo
os naturalizados.
c) da impessoalidade e da nacionalidade, é vedada, em qualquer hipótese, a investidura, em cargo
público, de estrangeiros.
d) da discricionariedade e da soberania, apenas brasileiros natos ou naturalizados podem ser admitidos na
carreira diplomática, mediante concurso público de provas ou de provas e títulos.
e) da isonomia e das liberdades fundamentais, é facultada a sindicalização e o exercício de greve, nos
termos da lei.

4.3. A exigência de que o serviço público seja eficaz e que atenda plenamente a necessidade para a qual
foi criado e a exigência de que os atos administrativos, para que tenham eficácia, devam ter divulgação
oficial, referem-se, respectivamente, aos princípios da

a) eficiência e impessoalidade.
b) publicidade e eficiência.
c) moralidade e publicidade.
d) eficiência e publicidade.
e) impessoalidade e publicidade.

Gabarito: 4.1) B; 4.2) E; 4.3) D.

DELEGADO FEDERAL – Direito Administrativo – Fernanda Marinela – Aula n. 02

También podría gustarte