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Saneamento básico: competências

constitucionais da União, Estados e


Municípios

Luís Roberto Barroso

Sumário
1. Nota prévia: saneamento básico e Fede-
ração. 2. O sistema das águas na Constituição.
2.1. Propriedade das águas na Constituição Fe-
deral de 1988. 2.2. Utilização múltipla da água:
tratamento constitucional das competências. a)
Administração dos recursos hídricos; b) Outor-
ga do uso das águas; c) Proteção ambiental e
controle da poluição; d) Saneamento básico. 3.
Saneamento básico na Constituição de 1988. 3.1.
Competência para a prestação do serviço de
saneamento básico. a) Competência comum:
cooperação entre os entes (art. 23, IX); b) Muni-
cípios: interesse local (art. 30, V); c) Estados: in-
teresse comum; região metropolitana (art. 25, §
3º); d) União: planejamento e participação na
execução (art. 200, IV). 3.2. Conflito de compe-
tências potencial entre Estado e Municípios: in-
teresse local versus interesse comum. Definição
dos limites de cada competência. 4. Conclusão.

1. Nota prévia: saneamento


básico e Federação
O saneamento básico é um dos mais im-
portantes aspectos da saúde pública mun-
dial. Estima-se que 80% das doenças e mais
de 1/3 da taxa de mortalidade em todo o
mundo decorram da má qualidade da água
utilizada pela população ou da falta de es-
gotamento sanitário adequado (ALLAIS
Luís Roberto Barroso é Professor Titular de
apud ANTUNES, 1996, p. 259). São pato-
Direito Constitucional da Universidade do Es- logias como hepatite A, dengue, cólera, diar-
tado do Rio de Janeiro, Procurador do Estado e réia, leptospirose, febre tifóide e paratifóide,
Advogado no Rio de Janeiro. Master of Laws, esquistossomose, infecções intestinais, en-
Yale Law School. tre outras, que afetam particularmente cri-
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anças de até 5 (cinco) anos (FRANCEYS, 2. O sistema das águas
1994, p. 9-10). São conhecidas no meio mé- na Constituição
dico, cruelmente, como “doenças de pobre”
Antes de examinar o tratamento consti-
ou “doenças do subdesenvolvimento” (SÁ,
tucional da matéria, convém fazer uma bre-
1996, p. 123).
ve nota sobre os critérios de distribuição de
No Brasil, embora as informações esta-
competência adotados pelo constituinte de
tísticas sejam precárias, estima-se que, em
1988. Como se sabe, o Estado Federal funda-
média, apenas 52,8% da população sejam
se na descentralização política, com a exis-
atendidos por rede coletora de esgoto e que
tência, no caso brasileiro, de três níveis de
76,1% dos domicílios sejam abastecidos
poder: o da União, o dos Estados-membros e
pela rede geral de distribuição de água. Ou
o dos Municípios. Elementos básicos da idéia
seja: quase 24% da população não têm aces-
de Federação – que é um princípio fundamen-
so à água tratada. E isso tudo sem conside-
tal do Estado brasileiro – são a autonomia dos
rar as áreas rurais da região norte (IBGE,
2000, on-line). entes federados e a repartição constitucional de
Desde meados da década de 80 que a competências. O primeiro se traduz na capaci-
Organização Mundial de Saúde – OMS con- dade de auto-organização, autogoverno e
sidera o saneamento como a medida priori- auto-administração e o segundo consiste na
tária em termos de saúde pública (FRAN- divisão vertical e espacial de poderes.
CEYS, 1994, p. 4), até porque, de acordo com Tradicionalmente no direito constitucio-
essa instituição, US$ 1 investido em sanea- nal brasileiro, as competências eram distri-
mento representará uma economia de US$ buídas com certa rigidez, mediante critérios
5 em gastos com prestações de saúde curati- que definiam o âmbito de atuação exclusiva
va. Nessa mesma linha, no Brasil, as infor- de cada entidade estatal. Assim, a União ti-
mações do SUS dão conta de que, no ano de nha suas competências enumeradas, os
1997, 60% das internações de crianças me- Municípios detinham as competências afe-
nores de 5 anos, ao custo de R$ 400 milhões, tas ao interesse local e os Estados titulariza-
foram causadas por problemas decorrentes vam os poderes remanescentes.
de doenças respiratórias, infecciosas e pa- A Constituição de 1988 manteve, subs-
rasitárias, que poderiam ter sido substanci- tancialmente, os critérios acima na atribui-
almente reduzidas por meio de medidas de ção de competências exclusivas à União, Es-
saneamento básico (Água on-line, 2000). tados e Municípios, mas, inspirada na expe-
Por saneamento entende-se um conjun- riência alemã, instituiu, igualmente, um con-
to de ações integradas que envolvem as di- junto de competências comuns ou concorren-
ferentes fases do ciclo da água e compreen- tes, compartilhadas pelas entidades estatais.
de: a captação ou derivação da água, seu Do ponto de vista material, as competências
tratamento, adução e distribuição, conclu- públicas, de acordo com critério doutrinário
indo com o esgotamento sanitário e a efu- tradicional, dividem-se em político-adminis-
são industrial. O atraso no desenvolvimen- trativas, legislativas e tributárias.
to de políticas públicas de saneamento tem Em síntese dos aspectos do federalismo
como um de seus principais fatores o longo brasileiro relevantes para a hipótese, é pos-
adiamento da discussão aqui empreendida. sível assentar: União, Estados e Municípios
O estudo ora desenvolvido procura delimi- titularizam competências político-adminis-
tar a competência da União, dos Estados e trativas, legislativas e tributárias, que po-
dos Municípios na matéria, sobretudo vi- dem ser exercidas em comum ou com exclu-
sando-se à definição da entidade federativa sividade. As competências tributárias – que
competente para a prestação dessa espécie não são relevantes para a questão a seguir
de serviço, conforme o caso. discutida – são, de regra, exclusivas. Já as

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competências político-administrativas po- de energia hidráulica, sendo esta última sem-
dem ser comuns (cf, art. 23) e as legislativas pre atribuída à União, nos termos do art. 176
podem ser concorrentes (cf, art. 24). da Carta 2. Garante-se, nada obstante, aos Es-
Feita a digressão e retornando ao tema, tados e Municípios, em cujo território estive-
do ponto de vista operacional, o saneamen- rem tais potenciais, participação no resulta-
to está inserido logicamente na disciplina do (royalties) ou compensação financeira por
mais geral do sistema das águas, competin- sua exploração (art. 20, § 1 º)3.
do à União, na dicção do art. 22, IV, da Cons- A determinação do titular do domínio
tituição Federal, legislar sobre o que o dis- da água é fundamental para o estudo do
positivo define singelamente como águas1. É saneamento básico, pois quem quer que seja
natural que o saneamento sofra repercus- o ente competente para prestar o serviço, em
são direta do tratamento jurídico da água, cada caso, deverá obter uma outorga do pro-
na medida em que esta é seu elemento mate- prietário da água, a não ser, por evidente,
rial primário. Desse modo, ainda que breve- que já seja o proprietário. A esse ponto se
mente, é importante fazer um registro acer- voltará adiante.
ca do sistema constitucional das águas na
Constituição de 1988. 2.2. Utilização múltipla da água: tratamento
constitucional das competências
2.1. Propriedade das águas na A distribuição constitucional de compe-
Constituição Federal de 1988 tências para as diversas formas de utiliza-
A Constituição de 1988 distribuiu o do- ção da água é relativamente complexa e se
mínio das águas entre a União e os Estados- serve, cumulativamente, dos critérios referi-
membros, deixando de fora da partilha ori- dos no capítulo inicial: há, na matéria, com-
ginal os Municípios (SILVA, 1995, p. 85-86 petências exclusivas e não-exclusivas, bem
e MOREIRA NETO, 1992, p. 259-260). Isso como competências político-administrativas
é o que dispõem os artigos 20, III e VI, e e legislativas. Confira-se a análise sistemá-
26, I, in verbis: tica que se segue.
“Art. 20. São bens da União: A água, tendo em vista suas múltiplas
(...) utilizações no mundo moderno, mereceu nu-
III – os lagos, rios e quaisquer cor- merosas referências constitucionais, diretas
rentes de água em terrenos de seu do- ou indiretas. Basta lembrar que, além de fun-
mínio, ou que banhem mais de um cionar como o elemento primário do sanea-
Estado, sirvam de limites com outros mento, ela é indispensável para o consumo
países, ou se estendam a território es- por homens e animais e elemento vital como
trangeiro ou dele provenham, bem insumo industrial ou agrícola (e.g.: resfria-
como os terrenos marginais e as prai- mento de caldeiras e irrigação) ou ainda
as fluviais; como matéria prima de outros bens (e.g.: pro-
(...) dução de metano). Constitui meio de trans-
VI – o mar territorial;” porte limpo, barato e eficiente4 e pode apre-
“Art. 26. Incluem-se entre os bens sentar-se como importante fonte de energia,
dos Estados: como já assinalado. Ademais, sua preser-
I – as águas superficiais ou subter- vação e conservação são hoje, compreensi-
râneas, fluentes, emergentes e em de- velmente, alguns dos temas mais debatidos
pósito, ressalvadas, neste caso, na for- no mundo5.
ma da lei, as decorrentes de obras da A Constituição, como já antecipado, dis-
União”. tribuiu entre os entes federativos competên-
A Constituição, entretanto, distinguiu a pro- cias legislativas e político-administrativas
priedade da água em si da dos potenciais relativamente às várias atividades nas

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quais a água está envolvida. Entre elas, des- Em primeiro lugar, a Lei nº 9.433, de
tacadamente, o saneamento. Deve-se assi- 8.1.97, definiu a água como um bem de do-
nalar nesse passo, porque muito relevante, mínio público (arts. 1º, I), cuja utilização pri-
que as diferentes utilizações da água não oritária, em situações de escassez, há de ser
podem nem devem ser tratadas isoladamen- o consumo humano e a dessedentação de
te. Elas formam, como visto, umsistema, o que animais (arts. 1º, III, e 13). Além disso, seu
pressupõe harmonia e articulação entre as uso depende de outorga do poder público
partes. federal ou estadual (art. 14) – conforme se
Nessa linha de idéias, para chegar-se, tratem, naturalmente, de águas federais ou
de forma ordenada e coerente, à questão es- estaduais –, incluindo-se na expressão
pecífica da competência para a prestação “uso” a captação ou derivação para abaste-
do serviço de saneamento – espécie de com- cimento público e o lançamento em corpo de
petência político-administrativa –, impõe- água de esgotos, tratados ou não (art. 12, I e
se, previamente, o exame do tratamento III). Assim, a prestação do serviço de sanea-
constitucional de três atividades diretamen- mento, além de atingir seus próprios objeti-
te relacionadas com o saneamento: (i) a ad- vos típicos, haverá de submeter-se também
ministração dos recursos hídricos; (ii) a ou- à política nacional de recursos hídricos e às
torga do uso da água; e (iii) a proteção ambi- suas metas, na gestão global das águas na-
ental e controle da poluição. cionais.
a) Administração dos recursos hídricos b) Outorga do uso das águas
A Constituição confere à União a com- Conforme referido acima, nos termos da
petência político- administrativa para “ins- Lei nº 9.433, de 8.1.97, a utilização da água,
tituir sistema nacional de gerenciamento de inclusive para fins de saneamento, depende
recursos hídricos (...)”, na dicção do art. 21, de outorga por parte da União ou do Estado
XIX. Cabe-lhe, também, como já se fez refe- sob cuja titularidade se encontre. Com efei-
rência, legislar genericamente sobre águas to, compete à União, como registrado acima,
(art. 22, IV). Desse modo, o constituinte con- e nos termos do art. 21, XIX, “definir critéri-
centrou na União as decisões fundamentais os de outorga de direitos de seu uso [da
a respeito da utilização da água no país, água]”.
sob suas variadas formas, bem como os cri- Esses critérios vieram estabelecidos na
térios para acesso aos recursos hídricos e as Lei nº 9.433, de 8.1.97, que, em linhas gerais,
prioridades no seu uso. Cabe aos Estados e cuidou de afirmar que o regime de outorga
Municípios apenas, na forma do art. 23, XI, de uso dos recursos hídricos (i) “tem como
da Constituição Federal, “registrar, acom- objetivos assegurar o controle quantitativo e
panhar e fiscalizar as concessões de direi- qualitativo dos usos da água e o efetivo exer-
tos de pesquisa e exploração de recursos cício dos direitos de acesso à água” (art. 11),
hídricos e minerais em seus territórios”. (ii) deverá priorizar o consumo humano e a
Para o fim de regulamentar o art. 21, XIX, dessedentação de animais (arts. 1º, III, e 13)
da Constituição, foi editada a Lei nº 9.433, e (iii) deverá proporcionar o uso múltiplo da
de 8.1.97, que criou o Sistema Nacional de água (arts. 1º, IV, e 13, parágrafo único).
Gerenciamento de Recursos Hídricos 6. Além Nada obstante isso, a União e os Estados
de organizar uma complexa estrutura ad- não podem dispor arbitrariamente da auto-
ministrativa para implementar e fiscalizar ridade de conceder ou negar outorgas. So-
o cumprimento da política nacional de re- mente será legítima a recusa quando houver
cursos hídricos, a nova lei consolidou al- um fundamento relevante e de interesse pú-
guns entendimentos e inovou em relação a blico, como, por exemplo, a ameaça de dano
outros 7. para o sistema hídrico em geral. Veja-se que

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o acesso à água não depende de qualquer inserir o saneamento na política nacional
tipo de licitação para sua outorga. Pois bem: de gerenciamento dos recursos hídricos.
à vista de tais premissas, é certo que a União Não custa lembrar que “instituir diretrizes”
e os Estados deverão conceder as outorgas não autoriza a União a exaurir o tema, de
solicitadas, salvo situações excepcionais, modo a esvaziar a autonomia dos entes fede-
quando se tratar de um serviço público atri- rativos competentes para prestar o serviço.
buído pela Carta a outro ente federativo,para Em síntese: é possível assentar que a
cuja prestação a utilização da água seja in- Constituição de 1988 concentrou na União
dispensável, como é o caso do saneamento8. a maioria absoluta das competências legislati-
vas em matéria de águas: desde a referência
c) Proteção ambiental e controle da poluição genérica a águas que consta do art. 22, IV,
A falta de esgotamento sanitário adequa- passando pela criação do sistema de gerenci-
do, etapa final do saneamento, é uma das amento de recursos hídricos (art. 21, XIX), a
principais causas de contaminação do solo definição de critérios para a outorga de uso
e das fontes de água, de modo que a prote- da água (art. 21, XIX), a proteção ambiental e
ção ambiental e o controle da poluição são o controle de poluição (art. 24, I) e as diretri-
temas intimamente relacionados ao sanea- zes para o saneamento básico (art. 21, XX).
mento (FRANCEYS, 1994, p. 4). Aos Estados compete tratar concorren-
A Constituição, entretanto, distribuiu di- temente da proteção ambiental e controle de
ferentemente a competência legislativa e a poluição, na forma como dispõem os pará-
competência político-administrativa na ma- grafos do art. 2410. Os Municípios não mere-
téria. Com efeito, de acordo com o art. 24, VI, ceram qualquer menção específica nessa
da Carta, compete à União e aos Estados, con- distribuição, salvo que remanesce, em todo
correntemente, legislar sobre proteção do meio tempo, sua competência geral para suple-
ambiente e controle da poluição, ao passo que mentar a legislação federal e a estadual no
é competência comum dos três níveis federa- que couber, como lhe autoriza o art. 30, II,
tivos “proteger o meio ambiente e combater a da Carta de 1988.
poluição em qualquer de suas formas”, como Quanto à atuação político-administrativa,
dispõe o art. 23, VI (FREITAS, 1998, p. 361-). continua sendo competência da União exer-
cer a administração global dos recursos hí-
d) Saneamento básico dricos nacionais. À União e aos Estados
Por fim, é preciso registrar, antes de in- compete a concessão da outorga para o uso
gressar no debate sobre a competência polí- da água, e todos os entes – União, Estados e
tico-administrativa para a prestação do ser- Municípios – têm o poder-dever de proteger
viço de saneamento, que do ponto de vista o meio ambiente e controlar a poluição. Res-
legislativo compete à União, por meio de lei ta tratar da competência para a prestação
ordinária 9, dispor a respeito das diretrizes do serviço de saneamento.
na matéria. Essa é a dicção do art. 21, XX: Antes de passar adiante, é interessante
“Art. 21. Compete à União: observar que, caso a Constituição Federal
(...) não fizesse referência expressa ao sanea-
XX – instituir diretrizes para o de- mento no momento da repartição de compe-
senvolvimento urbano, inclusive ha- tências entre os entes, tal serviço seria certa-
bitação, saneamento básico e trans- mente incluído sob duas epígrafes, ou sob
portes urbanos”. uma das duas: saúde pública – especial-
A União, portanto, poderá fixar parâme- mente por força da fase de captação, trata-
tros nacionais no que diz respeito à presta- mento e distribuição de água para consumo
ção do serviço de saneamento, como, e.g., de – e controle da poluição e preservação do
qualidade ou técnicos, de modo inclusive a meio ambiente – focando-se a etapa final do

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esgotamento sanitário, embora essa ativida- “Art. 23. É competência comum da
de também esteja diretamente relacionada União, dos Estados, do Distrito Fede-
com a saúde básica. ral e dos Municípios:
Interessantemente, de acordo com a Car- (...)
ta de 1988, os três níveis federativos têm IX – promover programas de cons-
competência político-administrativa nos trução de moradias e a melhoria das
dois temas – saúde pública e controle da condições habitacionais e de sanea-
poluição e preservação do meio ambiente mento básico”.
(art. 23) –, estando igualmente comprometi- A norma não se refere à titularidade do
dos, por imposição constitucional, com o ofe- serviço, mas à possibilidade de uma ação
recimento desses bens à população. A ver- de quaisquer dos entes estatais visando ao
dade, entretanto, é que a Constituição pinça melhor resultado na matéria. A finalidade
o saneamento básico do conjunto maior em constitucional é a cooperação produtiva
que estaria inserido para dar-lhe tratamen- entre eles, e não, evidentemente, uma super-
to particular, de modo que o recurso ao gê- posição inútil e dispendiosa13. Com efeito, o
nero é desnecessário, mas o registro é útil e parágrafo único do mesmo art. 23 prevê que
será retomado adiante. A discussão específi- “Lei complementar fixará normas para a
ca envolvendo a competência político-admi- cooperação entre a União e os Estados, o
nistrativa para a prestação do serviço de sa- Distrito Federal e os Municípios, tendo em
neamento será o tema do tópico que se segue. vista o equilíbrio do desenvolvimento e do
bem-estar em âmbito nacional”. A lei com-
3. Saneamento básico na plementar geral em questão não foi editada
Constituição de 1988 até o momento14.
Em suma: a exemplo do que estabelecera
3.1. Competência para a prestação do em relação à saúde (art. 23, II) e à proteção
serviço de saneamento básico do meio ambiente e combate à poluição (art.
23, VI), o constituinte previu a possibilida-
A titularidade para a prestação do servi-
de de ação conjunta em tema de saneamen-
ço de saneamento no Brasil é produto de
to básico. Ao lado dessa atuação comum,
uma sofisticada conjugação de técnicas de
repartição de competências no Estado fede- cuidou de instituir regras de atribuição ex-
ral. Afora as menções já feitas à competência clusiva de competência a cada ente, à vista
para cuidar da saúde pública e para o con- de sua titularidade do serviço.
trole da poluição e preservação do meio am- b) Municípios: interesse local (art. 30, V)
biente, uma pesquisa no texto constitucional
de 1988 indica quatro dispositivos que se re- O segundo comando constitucional re-
lacionam com o tema da competência políti- lacionado com a prestação do serviço de sa-
co-administrativa em matéria de saneamen- neamento, ainda que indiretamente, é o art.
to. São eles os artigos 23, IX, 30, V, 25, § 3º, e 200, 30, V, que prevê a cláusula genérica pela
IV11. Examine-se o sentido de cada um deles. qual compete ao Município prestar quais-
quer serviços de interesse local. Esta a dic-
a) Competência comum: cooperação ção do artigo:
entre os entes (art. 23, IX) “Art. 30. Compete aos Municípios:
(...)
O art. 23 da Carta em vigor enuncia as
V – organizar e prestar, diretamen-
competências comuns da União, Estados e
te ou sob regime de concessão ou per-
Municípios, entre as quais se encontra a pro-
missão, os serviços públicos de inte-
moção da melhoria das condições de sane-
resse local, incluído o de transporte
amento básico12. Confira-se a literalidade do
coletivo, que tem caráter essencial”.
dispositivo:
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A norma procura realizar o denomina- sobre serviços públicos locais há de
do princípio da subsidiariedade, pelo qual to- ser feita em cada caso concreto, to-
dos os serviços de interesse tipicamente lo- mando-se como elemento aferidor o
cal, isto é, que possam ser prestados ade- critério da predominância do interes-
quadamente pelo Município e se relacionem se, e não o da exclusividade, em face
com a sua realidade de forma específica, das circunstâncias de lugar, natu-
estejam no âmbito de competência desse ní- reza e finalidades do serviço” (gri-
vel federativo. Resta, todavia, definir o que é fos no original) 15.
interesse local. Diogo de Figueiredo Moreira Neto cui-
A rigor, praticamente todo e qualquer ser- dou de dar um conteúdo mais preciso à idéia
viço apresentará, em última instância, umas de predominância, catalogando também os
dose de interesse local, ao passo que dificil- diversos elementos apontados pelos auto-
mente algum serviço local será indiferente res como próprios para a identificação do
aos interesses regionais e mesmo nacionais. interesse local dos municípios. Estas as suas
Basta imaginar, e.g., o serviço de telefonia, conclusões:
de produção de energia elétrica e de distri- “Com essas achegas doutrinárias
buição de gás canalizado, os dois primeiros já se pode tabular alguns elementos
conferidos à União (art. 21, XI e XII, b) e o que podem identificar o interesse lo-
último, aos Estados (art. 25, § 2º). Todos es- cal dos municípios:
ses serviços repercutem sobre os Municípi- 1. predominância do local (Sam-
os e seus habitantes que, por óbvio, desen- paio Dória)
volvem os mais diversos interesses (utilizan- 2. interno às cidades e vilas (Black)
do-se a expressão aqui em sentido não-téc- 3. que se pode isolar (Bonnard)
nico) acerca deles. Nada obstante isso, a 4. territorialmente limitado ao mu-
própria Carta expressamente declinou que nicípio (Borsi)
tais serviços nunca poderão ser prestados 5. sem repercussão externa ao mu-
pelos Municípios, já que atribuídos a ou- nicípio (Mouskheli)
tros entes federativos de forma expressa. 6. próprio das relações de vizi-
Não há como negar que uma certa su- nhança (Jellinek)
perposição de interesses é natural no Esta- 7. simultaneamente oposto a regi-
do federal, não fosse pelo fato de os vários onal e nacional (legal)
níveis de poder ocuparem o mesmo territó- 8. dinâmico (Dallari)”(1999, p. 66-67).
rio, pela circunstância de a população de A noção de predominância de um interes-
cada Município ser também de um Estado e se sobre os demais implica a idéia de um
estar igualmente ligada ao ente central. A conceito dinâmico16. Isto é: determinada ati-
proposta da doutrina para superar essa di- vidade considerada hoje de interesse pre-
ficuldade é o critério da predominância do dominantemente local, com a passagem do
interesse. Essa a lição clássica de Hely Lo- tempo e a evolução dos fenômenos sociais,
pes Meirelles, seguida por praticamente to- poderá perder tal natureza, passando para
dos os autores, in verbis: a esfera de predominância regional e até
“O critério do interesse local é sem- mesmo federal. Uma série de fatores pode
pre relativo ao das demais entidades causar essa alteração: desde a formação de
estatais. Se sobre determinada maté- novos conglomerados urbanos, que acabam
ria predomina o interesse do Municí- fundindo municípios limítrofes, até a neces-
pio em relação ao do Estado-membro sidade técnica de uma ação integrada de
e ao da União, tal matéria é da compe- vários municípios, para a realização do
tência do Município. (....) A aferição, melhor interesse público. Também não é
portanto, da competência municipal impossível imaginar o processo inverso, di-

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ante de uma substancial alteração da forma 1960, apenas 44,7% da população vivia em
de ocupação populacional no território17. cidades, ao passo que, em 1996, a taxa de
Assim, todo o serviço público que não urbanização do país atingiu 78,4%19.
esteja expressamente afetado a outro ente A repercussão dessa realidade social so-
federativo e que possa ser caracterizado bre a organização dos serviços públicos a
como de predominante interesse local, rela- serem prestados pelo Estado teve significati-
tivamente ao interesse dos Estados e da vas conseqüências. O fenômeno é descri-
União, será da competência dos Municípi- to com precisão por Eros Roberto Grau, in
os. A regra vale, naturalmente, para os ser- verbis:
viços afetos ao saneamento básico. “O intenso crescimento urbano de-
termina como fato característico do
c) Estados: interesse comum; região século XX o aparecimento dos centros
metropolitana (art. 25, § 3º) metropolitanos.
O terceiro dispositivo constitucional per- Tal processo de crescimento se ma-
tinente para o debate que ora se trava é o art. nifesta de tal modo que em torno de
25, § 3 º, da Carta de 1988, transcrito a seguir: determinados núcleos urbanos outros
“Art. 25. Os Estados organizam-se e re- se vão agregando, integrando-se a
gem-se pelas Constituições e leis que adota- ponto de comporem nova realidade
rem, observados os princípios desta Consti- urbana. Assim, as várias unidades in-
tuição. tegradas formam um aglomerado úni-
(...) co, tecido de relações e interações mú-
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei tuas que transformam todo o conjun-
complementar, instituir regiões metropoli- to em um sistema sócio-econômico re-
tanas, aglomerações urbanas e microrregi- lativamente autônomo, abrangente de
ões, constituídas por agrupamentos de Mu- todas elas.
nicípios limítrofes, para integrar a organi- (...)
zação, o planejamento e a execução de fun- Ao mesmo tempo, começa a surgir uma
ções públicas de interesse comum”. grande expansão da demanda de serviços
A norma estabelece um contraponto ló- públicos, de sorte que as autoridades ad-
gico bastante claro em relação à idéia ex- ministrativas na área já não podem mais,
posta no item anterior. Se há serviços que, isoladamente, dar solução satisfatória às
em determinadas circunstâncias, configu- necessidades coletivas sem o concurso da
ram predominante interesse local, devendo ação unificada e coordenada de todos os
ser prestados pelos Municípios, existem escalões governamentais implicados”20
também outros, ou outras circunstâncias, (grifo acrescentado).
que se relacionam com o interesse comum Percebeu-se, com relativa facilidade, que
de um conjunto de Municípios, de uma re- os Municípios isoladamente não eram ca-
gião mais ampla do que um Município iso- pazes de prestar os serviços demandados
lado, os quais estão afetados aos Estados. por essa enorme quantidade de pessoas que
Mais que isso, os conceitos jurídicos de passou a viver nos grandes centros ou ao
região metropolitana, aglomerações urbanas, seu redor, sem qualquer preocupação espe-
microrregiões, de um lado, e serviços de inte- cífica com os limites municipais. O fato é
resse comum de competência dos Estados, de que atender às necessidades desse contin-
outro, são um reflexo no mundo do direito gente populacional tornou-se caro, comple-
de um fenômeno amplamente conhecido: a xo e muitas vezes tecnicamente inviável para
formação dos grandes conglomerados ur- cada Município sozinho. A solução foi ado-
banos, especialmente a partir da década de tar a prestação integrada pela autoridade
3018. É suficiente lembrar que, no Brasil, em regional, no caso os Estados, de modo que o

262 Revista de Informação Legislativa


interesse público – aí entendido o interesse Tanto é assim que o entendimento da
primário, isto é, da população, e não o inte- doutrina é o de que a associação à região
resse fazendário de cada ente estatal21 – fos- metropolitana é compulsória para os Muni-
se mais bem atendido. Em suma: esses ser- cípios. Ou seja: editada a lei instituidora da
viços deixaram de ser de interesse predomi- região metropolitana – atualmente, nos ter-
nantemente local para transformarem-se em mos do art. 25, § 3 º, da Constituição, uma lei
serviços de interesse regional ou estadual. complementar estadual –, não podem os
Esta a conclusão, que vale transcrever, de Municípios se insurgir contra ela. E isso
Hely Lopes Meirelles: porque o elemento local, particular, não pode
“ARegião Metropolitana, como prejudicar o interesse comum, geral; se a
área de serviços unificados, é conhe- associação não fosse compulsória, faleceria
cida e adotada em vários países para a utilidade da instituição da região metro-
solução de problemas urbanos e inte- politana para o atendimento do interesse
rurbanos das grandes cidades, como público regional de forma mais eficiente.
Paris, Los Angeles, São Francisco, To- Toda a população da região seria prejudi-
ronto, Londres e Nova Delhi. Resume- cada pela ação ilegítima da autoridade lo-
se na delimitação da zona de influên- cal, mesmo porque, a essa altura, os servi-
cia da metrópole e na atribuição de ser- ços em questão não podem mais ser consi-
viços de âmbito metropolitano a uma derados como de predominante interesse
Administração única, que planeje in- local. Essa é a opinião, entre muitos outros 23,
tegralmente a área, coordene e promo- de Alaôr Caffé Alves24, Diogo de Figueiredo
va as obras e atividades de interes- Moreira Neto (1999, p. 70) e Sérgio Ferraz
se comum da região, estabelecendo (1972, p. 22).
as convenientes prioridades e nor- Vale ainda fazer uma observação final
mas para o pleno atendimento das neste tópico. É que a instituição de regiões
necessidades das populações inte- metropolitanas, aglomerações urbanas e
ressadas. microrregiões por uma lei complementar
É notório que a complexidade e o estadual, com a conseqüente assunção, pelo
alto custo das obras e serviços de ca- Estado, das competências para os serviços
ráter intermunicipal ou metropolita- comuns, não representa restrição indevida
no já não permitem que as Prefeituras da autonomia municipal. Como se sabe, a
os realizem isoladamente, mesmo por- autonomia dos entes em um Estado federal
que o seu interesse não é apenas lo- não pré-existe, mas é exatamente definida
cal, mas regional, afetando a vida e a pelo texto constitucional. Ora, o mesmo tex-
administração de todo o Estado e, não to que confere aos Municípios competência
raro, da própria União. Daí por que a para os serviços de interesse local é o que
Constituição condicionou o estabele- dispõe acerca das regiões metropolitanas,
cimento destas Regiões a lei comple- do interesse comum e do papel dos Estados
mentar estadual (...)”(1998, p. 78-79). nesse particular. O ponto é observado, com
Pode-se concluir, assim, que a competên- precisão, por Caio Tácito, in verbis:
cia estadual para os serviços de interesse “A lei complementar estadual, ins-
comum, particularmente no âmbito das re- tituidora da região metropolitana, afir-
giões metropolitanas, aglomerações urba- ma a íntima correlação de interesses
nas e microrregiões, decorre de uma impo- que, em benefício do princípio da con-
sição do interesse público, no que diz res- tinuidade, da produtividade e da efi-
peito à eficiência e qualidade do serviço pres- ciência, torna unitária e coordenada,
tado e, muitas vezes, até mesmo à sua pró- em entidade própria, segundo a lei
pria possibilidade22. complementar, a gestão de serviços e

Brasília a. 38 n. 153 jan./mar. 2002 263


atividades originariamente adstritos las genéricas – interesse local, comum, re-
à administração local. gional – na repartição de competências em
A avocação estadual de matéria determinadas áreas de atuação dos entes
ordinariamente municipal não viola a estatais. Tal circunstância, como intuiti-
autonomia do Município na medida vo, dá margem a conflitos potenciais en-
em que se fundamenta em norma cons- tre Estados e Municípios e transfere para
titucional, ou seja, em norma de igual o intérprete a responsabilidade de defi-
hierarquia. É a própria Constituição nir, em relação a determinado serviço –
que, ao mesmo tempo, afirma e limita a no caso o saneamento básico – e em deter-
autonomia municipal”(1998, p. 324). minada região, qual o ente estatal compe-
Desse modo, e para os fins que aqui im- tente. É possível considerar, aqui, três fór-
portam, a conclusão é que se, em determina- mulas diversas.
da circunstância, o saneamento básico for A primeira possibilidade é o exame ca-
considerado um serviço de interesse comum suístico25 das circunstâncias de cada servi-
ou regional, e não local, ele deverá ser pres- ço, em cada lugar, tendo em vista os critéri-
tado pelos Estados, e não pelos Municípios. os doutrinários que dão conteúdo às cláu-
sulas do interesse local e do interesse comum.
d) União: planejamento e participação na Diogo de Figueiredo Moreira Neto apresen-
execução (art. 200, IV) ta de forma resumida e ordenada esses pa-
Não há norma específica que atribua à râmetros, que se reproduzem ainda uma
União competência para a prestação do ser- vez, nos seguintes termos:
viço de saneamento básico, afora a compe- “Com essas achegas doutrinárias
tência concorrente para promover a melho- já se pode tabular alguns elementos
ria de suas condições, prevista no art. 23, que podem identificar o interesse lo-
IX. A única menção especial que pode ser cal dos municípios:
aplicada à União é o disposto no art. 200, 1. predominância do local (Sam-
IV, in verbis: paio Dória)
“Art. 200. Ao sistema único de saú- 2. interno às cidades e vilas (Black)
de compete, além de outras atribui- 3. que se pode isolar (Bonnard)
ções, nos termos da lei: 4. territorialmente limitado ao mu-
(...) nicípio (Borsi)
IV – participar da formulação da 5. sem repercussão externa ao mu-
política e da execução das ações de nicípio (Mouskheli)
saneamento básico”. 6. próprio das relações de vizi-
Assim, além de deter uma competência nhança (Jellinek)
comum para as ações nessa área, a União deve 7. simultaneamente oposto a regi-
participar, em conjunto com os demais entes, onal e nacional (legal)
do planejamento das ações de saneamento e 8. dinâmico (Dallari)
de sua execução, o que se poderá dar direta (...)
ou indiretamente, sob a forma de custeio e Com efeito, se se aplicar a tabula-
investimentos financeiros, auxílio técnico etc. ção acima organizada, encontrare-
mos como elementos característicos
3.2. Conflito de competências potencial do interesse comum estadual:
entre Estado e Municípios: interesse local 1. que apresenta predominância
versus interesse comum. Definição dos do regional
limites de cada competência 2. que se externaliza às cidades e
Como desenvolvido acima, o constituin- às vilas
te brasileiro optou pelo emprego de cláusu- 3. que não está isolado

264 Revista de Informação Legislativa


4. que não está territorialmente li- bal. Tamanha é a sua magnitude, co-
mitado ao município nexão e interdependência (...) Assim,
5. que tem repercussão externa ao para que se possa proporcionar à co-
município munidade metropolitana, como um
6. que transcende as relações de vi- todo, qualidade de vida urbana com-
zinhança patível com as suas expectativas (...)
7. que é simultaneamente oposto a impõe-se conexão intensa e orgânica
local e nacional entre os vários níveis de poder políti-
8. que está estabilizado por uma co-administrativo (...) Nestes núcleos
definição legal específica”(1999, p. urbanos de grande concentração de-
66-67). mográfica, a demanda de serviços pú-
É preciso fazer menção, por muito im- blicos e as necessidades de infra-es-
portante, que boa parte da doutrina, com ra- trutura são de tal grandiosidade que
zão, aplicando os critérios referidos acima caracterizam atitudes governamen-
à realidade das regiões metropolitanas, mi- tais tipicamente metropolitanas: os
crorregiões ou aglomerações urbanas brasi- problemas de saneamento (...)”
leiras, entende que o saneamento básico é (GRAU, 1974, p. 16-17).
um serviço comum, de titularidade do Esta- “Não há, pois, atividades, serviços
do. Com efeito, em grandes conglomerados ou obras que, por natureza intrínse-
urbanos, como a chamada Grande São Paulo, ca, sejam considerados de exclusivo
ou o Grande Rio, parece difícil que se possa interesse local. Assim, por exemplo,
isolar a prestação do serviço de saneamen- os serviços de captação e tratamento
to em relação a cada Município ou, ainda de água para consumo público, tradi-
que isso fosse possível, que os Municípios, cionalmente, são de interesse local,
isoladamente, tivessem condições de pres- inscritos na competência do Municí-
tá-lo em todas as suas fases, de forma efici- pio. Entretanto, esses mesmos servi-
ente, e com a melhor relação qualidade e ços são inequivocamente de interesse
custo para o consumidor. Essa é a opinião, comum numa região metropolitana
respectivamente, de Manoel Gonçalves Fer- como a de São Paulo, por exemplo,
reira Filho, Eros Roberto Grau e Alaôr Caffé, devendo ser de competência regional
entre outros 26. e não do Município isolado. O mesmo
“A experiência revela a impossibi- serviço, conforme o enfoque, o lugar,
lidade da solução de certos problemas o modo e as circunstâncias de sua
no âmbito restrito e exclusivo do mu- prestação, será objeto de interesse lo-
nicípio. Na verdade, alguns proble- cal ou regional, dependendo do caso”
mas, dos mais graves que afligem a (ALVES, 1999, p. 194).
população, não podem ser resolvidos A segunda possibilidade para definir se
por um município isolado, já que ex- o saneamento apresenta-se, em cada caso,
travasam os seus limites. É o que ocor- como serviço de interesse local ou comum é
re, por exemplo com relação ao abas- a via legislativa. A lei complementar esta-
tecimento de água, ao tratamento de dual que cria a região metropolitana, as aglo-
esgotos, e mesmo ao combate à polui- merações urbanas ou as microrregiões po-
ção, nas cidades”(FERREIRA FILHO, derá (e, a rigor, deverá) especificar que ser-
1986, p. 671-672). viços são considerados de interesse comum
“As necessidades metropolitanas e, portanto, de titularidade do Estado, sen-
decorrem do fenômeno da concentra- do-lhe legítimo fazê-lo nos termos do art. 25,
ção urbana e exigem soluções que só § 3º, da Constituição27. Lembre-se que a in-
podem ser equacionadas a nível glo- tegração dos Municípios, nesse caso, é com-

Brasília a. 38 n. 153 jan./mar. 2002 265


pulsória, de modo que, em termos de rigi- Paulo30; (iv) Lei complementar do Estado de
dez e certeza, a alternativa legislativa figu- São Paulo nº 760, de 1.8.94, que trata da cri-
ra no extremo oposto relativamente à pri- ação de regiões metropolitanas, aglomera-
meira opção, que repousa sobre critérios de ções urbanas e microrregiões no âmbito do
relativa fluidez e de elaboração meramente Estado31; (v) Lei complementar do Estado de
doutrinária. O ponto é salientado por Caio São Paulo nº 815, de 30.7.96, que cria a Re-
Tácito, in verbis: gião Metropolitana da Baixada Santista
“As atividades do poder público como unidade regional do Estado de São
em matéria de saneamento básico com- Paulo32; e (vi) Lei complementar do Estado
portam uma variedade de entendi- do Rio de Janeiro nº 87, de 16.12.97, que ins-
mento que, segundo o grau de abran- titui a Região Metropolitana do Rio de Ja-
gência e de interdependência, podem neiro33.
limitar-se ao plano municipal ou exi- Há, ainda, uma terceira possibilidade de
gir a integração em entidade de nível distinguir o interesse local do comum, en-
estadual, segundo a mencionada com- volvendo a competência da União para ins-
petência prevista no art. 25, § 3º da tituir diretrizes sobre saneamento básico
Constituição. (art. 21, XX), para legislar sobre águas (art.
(...) 22, IV) e para dispor sobre a cooperação en-
De duas formas poderá se deslo- tre os entes federados em matéria de sanea-
car do Município para o Estado (re- mento (art. 23, parágrafo único, e art. 241).
presentado por órgãos ou entidades Com efeito, a União poderá, no exercício de
de sua administração) a efetividade suas competências, fixar um critério técnico
da prestação de serviços de saneamen- que concretize as noções de interesse local
to básico: ou pela forma coercitiva de ou comum em matéria de saneamento, apli-
integração, a que se refere a previsão cável de forma geral.
do art. 25, § 3º da Constituição, pela A utilização de um critério técnico apre-
via da lei complementar, ou, em me- senta algumas vantagens que merecem re-
nor grau de integração, mediante acor- gistro. A primeira delas é dar um grau de
do, consubstanciado em convênio certeza jurídica à questão, retirando-a das
administrativo quando não venha a flutuações doutrinárias. Ao eleger elemen-
ser criada Região Metropolitana” tos técnicos, objetivos na definição do que
(1998, p. 326). seja interesse local ou comum, reduz-se a
Sintomaticamente, boa parte das leis discricionariedade do intérprete e eventu-
complementares que criaram regiões metro- ais disputas daí resultantes. Além disso, o
politanas no país – federais, na vigência da parâmetro técnico poderá balizar a ação dos
Carta anterior, e estaduais após 5.10.88 – Estados na definição dos serviços de inte-
incluíram o saneamento básico como servi- resse comum das regiões metropolitanas,
ço comum. Assim foi feito, e.g., pelas seguin- aglomerações urbanas e microrregiões, de
tes normas: (i) Lei complementar federal nº modo a evitar situações teratológicas, como,
14, de 8.6.73, que cria as Regiões Metropoli- e.g., a criação de uma região metropolitana
tanas de São Paulo, Belo Horizonte, Porto sem a correspondência de qualquer situa-
Alegre, Recife, Salvador, Curitiba, Belém e ção real de conurbação urbana, com a con-
Fortaleza28; (ii) Lei complementar federal nº seqüente transferência ilegítima de serviços
20, de 1.7.94, que cria a Região Metropolita- de interesse tipicamente local para a esfera
na do Rio de Janeiro, entre outras providên- de competência estadual.
cias29; (iii) Lei complementar do Estado de Por fim, o critério técnico também pro-
São Paulo nº 94, de 29.5.74, que dispõe so- porciona certa uniformidade, em âmbito na-
bre a Região Metropolitana da Grande São cional, nos parâmetros de distribuição de

266 Revista de Informação Legislativa


competência para o serviço, lembrando-se 2
“Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e de-
que a União dispõe do poder constitucional mais recursos minerais e os potenciais de energia
hidráulica constituem propriedade distinta da do
de fazê-lo, tanto com fundamento em sua solo, para efeito de exploração ou aproveitamento,
competência para fixar diretrizes para o e pertencem à União, garantida ao concessionário a
serviço de saneamento (art. 21, XX), como tam- propriedade do produto da lavra”.
bém para instituir sistema nacional de geren- 3
“Art. 20. (...)
ciamento de recursos hídricos (art. 21, XIX)34. § 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Esta-
dos, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como
a órgãos da administração direta da União, parti-
4. Conclusão cipação no resultado da exploração de petróleo ou
gás natural, de recursos hídricos para fins de gera-
Como é fácil perceber, a lógica constitu- ção de energia elétrica e de outros recursos minerais
cional para a distribuição de competência no respectivo território, plataforma continental, mar
na matéria funda-se no princípio da efici- territorial ou zona econômica exclusiva, ou com-
ência. Se o interesse for comum, a gestão pelo pensação financeira por essa exploração”.
Estado é mais apta a obter a universaliza-
4
Compete à União legislar sobre regime dos
portos, navegação lacustre, fluvial e marítima (art.
ção do serviço, a qualidade e a modicidade 22, X).
das tarifas. No caso de tratar-se de um ser- 5
Sobre a Agenda 21, produto dos trabalhos da
viço eminentemente local, o Município terá Conferência Rio 92, veja-se: Paulo de Bessa Antunes
melhores condições de realizar esses objeti- (1996, p. 260-261), Vladimir Passos de Freitas (1998)
vos. Nada impede, ademais, que em lugar e a Revista do Centro de Estudos Judiciários do Con-
selho da Justiça Federal 12, Dezembro 2000, da qual
do conflito político se faça a opção madura constam as transcrições de palestras proferidas no
pela celebração de convênio, com a defini- simpósio “Água, bem mais precioso do milênio”,
ção consensual dos papéis de cada um. organizado pelo Centro de Estudos Judiciários do
No Brasil, por força de uma herança pa- Conselho da Justiça Federal, em maio de 2000.
6
Observe-se que o antigo Código de Águas
trimonialista renitente, o serviço público ain-
(Decreto nº 24.643, de 10.7.34) continua em vigor
da não é visto como uma função, um com- naquilo que não tenha sido revogado pela legisla-
promisso com a cidadania, com a realiza- ção posterior ou no que não contrarie a Constitui-
ção de objetivos sociais mais amplos. Ao ção de 1988, especialmente no que diz respeito à
contrário, é freqüentemente tratado como definição de conceitos técnicos sobre os corpos de
águas.
mero instrumento de poder político – poder 7
Veja-se sobre o tema: Paulo Affonso Leme
de ocupar o espaço público, de nomear alia- Machado (1998, p. 351–) e Fernando Quadros da
dos, de creditarem-se favores – ou fonte de Silva (1998).
arrecadação de recursos. A indefinição pro- 8
Veja-se sobre o tema: Paulo Affonso Leme
longada na matéria tem adiado investimen- Machado (1998, p. 351–). O autor entende mesmo
que União e Estados não são proprietários, mas
tos e ações concretas, com conseqüências gestores do bem no interesse de todos, in verbis: “A
dramáticas à qualidade de vida da popula- dominialidade pública da água, afirmada na Lei
ção, sendo causa direta de mortes, doenças 9.433/97, não transforma o Poder Público federal e
evitáveis e degradação ambiental. Agora estadual em proprietário da água, mas torna-o ges-
que há oferta abundante de telefones celu- tor desse bem, no interesse de todos. Como acentua
o administrativista italiano Massimo Severo Gian-
lares, talvez haja oportunidade para cuidar nini, o ‘ente público não é proprietário, senão no
dessas miudezas. sentido puramente formal (tem o poder de autotu-
tela do bem), na substância é um simples gestor do
bem de uso coletivo’”.
9
As diretrizes da área de saneamento podem
Notas ser fixadas por lei ordinária, na medida em que a
Constituição Federal não exige lei complementar
1
“Art. 22. Compete privativamente à União le- para o tratamento da matéria.
gislar sobre: 10
O parágrafo único do art. 22 admite que lei
(...) complementar venha a autorizar os Estados a le-
IV – águas (...)”. gislarem sobre questões específicas concorrentemen-

Brasília a. 38 n. 153 jan./mar. 2002 267


te com a União. A lei complementar referida, entre- 20
Eros Roberto Grau (1974, p. 5 e 10). No mes-
tanto, inexiste até o momento. mo sentido, entre outros, Ives Gandra Martins (1992,
11
O art. 25 foi indicado depois do 30 proposi- p. 413): “Após a Segunda Grande Guerra, em qua-
talmente, já que o primeiro trata da competência se todos os países latino-americanos, com a indus-
dos Municípios e o segundo da dos Estados, de- trialização, intensificou-se o processo de urbaniza-
vendo a análise iniciar do ente menor para o maior. ção via dinamização do movimento migratório
12
Hely Lopes Meirelles (1998, p. 124): “A Cons- campo-cidade. Assim, as grandes cidades passam
tituição da República instituiu a competência co- a ser o locus privilegiado do processo de desenvolvi-
mum da União, dos Estados, do Distrito Federal e mento econômico-social.
dos Municípios para as matérias enumeradas em O poder público, e neste particular o local, pas-
seu art. 23. Por competência comum deve-se enten- sa a articular a lógica de uma atuação no sentido
der a que cabe, indiferentemente, às quatro entida- de dar condições de infra-estrutura à expansão eco-
des estatais para solucionar matérias que estejam nômica bem como de melhorar a vida da popula-
nas suas atribuições institucionais”. ção. A crescente ampliação da escala de operação
13
Augusto Zimmermann (1999, p. 57): “Domi- do capital e a concomitante divisão social do traba-
nante no cenário político, o federalismo cooperati- lho em nível nacional passam a exigir que as condi-
vo não dispõe de fronteiras claramente definidas ções de serviços públicos e infra-estrutura não se
na questão da distribuição de competências dentre reduzam mais ao nível da municipalidade, mas se
os níveis autônomos de poder. O objetivo explícito ampliem ao nível metropolitano, que cada vez mais
é, em síntese, a promoção de uma livre cooperação se torna o epicentro de todo o processo de desenvol-
da União com as unidades federadas”. vimento econômico”.
14
Segundo Lucia Valle Figueiredo (1997, p. 5) a 21
Não se confundem interesse público e interesse
falta de lei complementar não impede que os entes do erário. A distinção é corrente na doutrina e muito
exercitem plenamente suas competências na maté- relevante na hipótese. Interesse público – também
ria: “Quid juris, inexistente a lei complementar? Fi- denominado interesse público primário – é o inte-
cariam inibidas as competências? Não se nos afi- resse da coletividade, do povo, expressado na Cons-
gura, pois que são as competências deveres. Nun- tituição e nas leis. O interesse do Estado enquanto
ca será demais repetir que exercem os entes políti- sujeito de direitos – chamado interesse público se-
cos, enumerados nos artigos premencionados, fun- cundário ou do erário – orienta-se pelo propósito
ção. E função é ‘atividade de quem não é dono’ de despender o mínimo de recursos e obter o máxi-
(Cirne Lima), e seu desempenho é obrigatório. (...) mo deles. Veja-se, por todos, Celso Antônio Ban-
as pessoas elencadas no art. 23 devem exercitar deira de Mello (1992, p. 31-32 e 57).
plenamente a competência constitucional, mesmo 22
Veja-se, sobre o ponto, Orlando Soares (1998,
sem se denotar a cooperação, que se deverá dar, se p. 286): “(...) as Regiões Metropolitanas são forma-
editada fosse a lei complementar”. Não há como das pelo conjunto de Municípios que gravitam em
ignorar, entretanto, que, em uma área como o torno de uma grande cidade e têm interesses e pro-
saneamento, a prestação concomitante do ser- blemas em comum, ensejando a unificação dos ser-
viço, por todos os entes, seria medida extrema- viços públicos para melhor atendimento da região
mente ineficiente. (...)”; e Joaquim Castro Aguiar (1986, p. 224): “(...)
15
Hely Lopes Meirelles (1998, p. 262). Nesse somente existe interesse comum metropolitano se a
mesmo sentido: José Nilo de Castro (1998, p. 3), função tiver de ser necessariamente organizada,
Antônio Ceso Di Munno Corrêa (1989, p. 47) e Jo- planejada e executada de forma integrada entre os
aquim Castro Aguiar (1986, p. 29), entre outros. Municípios envolvidos, não podendo ser desenvol-
16
Adilson de Abreu Dallari (1970, p. 289): “o vida isoladamente, sob pena de não ser satisfatori-
conceito de peculiar interesse é essencialmente di- amente realizada”.
nâmico, de vez que a predominância de interesse, 23
Nivaldo Brunoni (2000, p. 84): “Frise-se, en-
como se observa na prática, varia e efetivamente tretanto, que a adesão dos municípios não é volun-
tem variado no tempo e no espaço”. tária, mas compulsória”.
17
Um forte êxodo das metrópoles para o interi- 24
Alaôr Caffé Alves: “Quer dizer também que,
or, e.g., poderia produzir esse resultado em relação uma vez constituída por lei complementar, a inte-
a serviços que possam ser prestados localmente. gração dos Municípios será compulsória para o
18
No Brasil, a disposição acerca das regiões efeito da realização das funções públicas de in-
metropolitanas foi inserida pela primeira vez na teresse comum, não podendo o ente local subs-
Constituição de 1937, art. 29. trair-se à figura regional, ficando sujeito às con-
19
Os dados são do IBGE, 1997, Pesquisa naci- dições estabelecidas em nível regional para rea-
onal por amostra de domicílios 1960 e 1996 lizar aquelas funções públicas de interesse co-
(www.ibge.gov.br). Os dados do censo 2000 ainda mum” (1999, p. 186).
não se encontravam disponíveis.

268 Revista de Informação Legislativa


25
Michel Temer (1990, p. 105): “(...) a compe- II – saneamento básico, incluindo o abasteci-
tência do Município em tema de interesse local será mento e produção de água desde sua captação
desvendada casuisticamente” (grifo no original). bruta dos mananciais existentes no Estado, inclusi-
26
Nivaldo Brunoni (2000, p. 83): “Como assun- ve subsolo, sua adução, tratamento e reservação, a
tos de interesse comum, apresentam-se o serviço distribuição de água de forma adequada ao consu-
de captação e tratamento de água para abasteci- midor final, o esgotamento sanitário e a coleta de
mento público e a proteção dos mananciais, cujos resíduos sólidos e líquidos por meio de canais, tu-
problemas, por não se conterem nos limites de cada bos ou outros tipos de condutos e o transporte das
município de uma região metropolitana, exigem águas servidas e denominadas esgotamento, en-
uma ação conjunta para o atendimento de suas volvendo seu tratamento e decantação em lagoas
necessidades”. para posterior devolução ao meio ambiente em cur-
27
Pode-se cogitar de uma fraude a autonomia sos d’água, lagos, baías e mar, bem como as solu-
municipal em casos teratológicos, quando a lei com- ções alternativas para os sistemas de esgotamento
plementar qualifique como serviço comum ativi- sanitário”.
dade típica e reconhecidamente de interesse apenas 34
Recentemente foi apresentada uma proposta
local. Nesse caso, a constitucionalidade da lei po- de Projeto de Lei Federal no Forum Nacional dos
derá ser discutida, tendo em vista a irrazoabilida- Secretários de Estado ligados ao setor, que repro-
de de seu preceito. Sobre o tema da razoabilidade, duz, basicamente, o esquema constitucional sobre
veja-se Luís Roberto Barroso (1999, p. 209-). a matéria, conferindo ao Município a competência
28
“Art. 5º. Reputam-se de interesse metropoli- para o serviço como regra, salvo se sua prestação
tano os seguintes serviços comuns aos municípios for considerada de interesse comum pela lei com-
que integram a região: plementar estadual que cria a região metropolita-
(...) na, aglomeração urbana ou microrregiões, nos ter-
II – saneamento básico, notadamente abasteci- mos do art. 25, § 3º, da Carta de 1988.
mento de água e rede de esgotos e serviço de limpe-
za pública”.
29
“Art. 20. Aplica-se à Região Metropolitana
do Rio de Janeiro o disposto nos artigos 2, 3, 4, 5 e
6 da Lei Complementar nº 14, de 8 de junho de
1973”. Bibliografia
30
“Art. 2º Reputam-se de interesse metropoli-
tano os seguintes serviços comuns aos municípios AGUIAR, Joaquim Castro. Direito da cidade. Rio de
que integram ou venham a integrar a Região Metro- Janeiro: Renovar, 1986.
politana da Grande São Paulo:
(...) ALLAIS, Catherine. O estado do planeta em al-
II – saneamento básico, notadamente abasteci- guns números. In: MARTINE, Barrire (Org.). Terra:
mento de água e rede de esgotos e serviço de limpe- patrimônio comum. [S.l.]: [s.n.], 1992. p. 250 apud
za pública”. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. Rio
31
“Art. 7º Poderão ser considerados de interes- de Janeiro: Lumen Juris, 1996. p. 259.
se comum das entidades regionais os seguintes cam- ALVES, Alâor Caffé. Regiões metropolitanas, aglo-
pos funcionais; merações urbanas e microrregiões: novas dimen-
(...) sões constitucionais da organização do estado bra-
IV – saneamento básico”. sileiro (parecer). Revista de Direito Ambiental, n. 15,
32
“Art. 5º As funções públicas de interesse co- p. 186, 1989.
mum serão definidas pelo Conselho de Desenvolvi-
mento da Região Metropolitana da Baixada Santis- ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. Rio
ta, entre os seguintes campos funcionais: de Janeiro: Lumen Juris, 1996.
(...)
BARROSO, Luis Roberto. Interpretação e aplicação
IV – Saneamento básico”.
da Constituição. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
33
“Art. 3º Consideram-se de interesse metropo-
litano ou comum as funções públicas e os serviços BRUNONI, Nivaldo, A tutela das águas pelo mu-
que atendam a mais de um município, assim como nicípio. In: FREITAS, Vladimir Passos de (Coord.).
os que, restritos ao território de um deles, sejam de Águas: aspectos jurídicos e ambientais. Curitiba:
algum modo dependentes, concorrentes, confluen- Juruá, 2000.
tes ou integrados de funções públicas, bem como
CASTRO, José Nilo de. Direito municipal positivo.
os serviços supramunicipais, notadamente:
Belo Horizonte: Del Rey, 1998.
(...)

Brasília a. 38 n. 153 jan./mar. 2002 269


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