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A MUSICA NO CINEMA MUDO
Por outro lado, Kurt London, em seu estudo "Film Music", desenvolveu a
idéia de que a música foi simplesmente introduzida para neutralizar o barulho dos
primitivos projetores da época. De acordo com London, foi mais uma acústica
inadequada do que qualquer necessidade artística a responsável pela música de
acompanhamento. "Instintivamente os proprietários das salas de exibição
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recorreram à música, e foi o meio mais correto de se neutralizar um som
desagradável, utilizindose um mais agradável."
Talvez mais interessante do que tudo, em termos da estética do cinema, é a
observação de London: "A razão que é estèticamente e psicològicamente mais essencial
para explicar a necessidade da música como acompanhamento do cinema mudo é, sem
sombra de dúvida, o ritmo do filme como uma arte de movimento. Nós não estamos
acostumados a apreender o movimento como forma artística sem o acompanhamento de
sons, ou pelo menos, de ritmos audíveis. Todo o filme que merece o nome tem que ter
seu ritmo individual que determina a sua forma (forma aqui é tomada no seu sentido mais
amplo como conceito predominante). Foi uma tarefa do acompanhamento musical dar a
este ritmo acentuação e profundidade.
De todas as teorias apresentadas, esta última, proposta por Kurt London
parece ser a que mais se presta à compreensão da exclusiva relação entre a música e o
cinema mudo.
Enquanto que a resposta provàvelmente está um pouco em cada uma das
observações acima, a afirmação de London de que a música para cinema não foi o
resultado de nenhuma urgência artística poderia ser reescrita de outro modo: nenhuma
urgência artística consciente. A implicação que se obtém dos comentários acima é de que
a música para o cinema teve um comêço mais utilitário do que pròpriamente
artístico. Este comêço utilitário pode explicar porquê vários compositores sérios tiveram
que brigar durante um bom período de tempo até que lhes fosse permitido compor trilhas
"artísticas" para os filmes no cinema sonoro. Para a maioria dos produtores e diretores, a
música para o cinema era um mal necessário e por isto houve tão poucos "scores"
importantes para o cinema mudo.
MUSIC SUE SHEET
for
THE MAGIC VALLEY
Selected and compiled by M. Winkler
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CUE:
1. Abertura toque o Minueto No. 2 em G de Beethoven durante noventa segundos até o
título na tela "Sigame querido."
2. Toque "Andante Dramático", de Vely durante dois minutos e dez segundos até a cena
"herói deixa a sala".
3. Toque "Tema de Amor" de Lorenze durante um minuto e vinte segundos. Nota: toque
suavemente e devagar durante os diálogos até o título na tela "e assim êles se vão".
4. Toque "Stampede" de Simon por cinquenta e cinco segundos. Nota: toque rápido e
aumente ou diminua o andamento do galope de acordo com a ação na tela.
The Magic Valley era um filme imaginário, mas através desta exposição do que poderia
ser uma sequência de entradas musicais para um filme, Max Winkler tornouse o
primeiro compilador de músicas a ser contratado (pela Universal em l912). Ele relembra
o seu sucesso inesperado: "em crise, tornamonos criminosos. Começamos a assassinar as
obras de Beethoven, Grieg, Mozart, Bach, Verdi e Wagner tudo o que não estivesse
protegido por copyright do nosso furto". "Os imortais corais de Bach viraram "Adagio
Lamentoso" para cenas tristes, extratos de grandes sinfonias e corais foram retalhados
para de novo vir à tona como "Sinistro Misterioso", de Beethoven ou "Fantástico
Moderato" de Tchaikowsky. As marchas nupciais de Wagner e Mendelssohn foram
utilizadas para casamentos, brigas de marido e mulher, cenas de divórcio..."nós tínhamos
apenas que tocálas desafinadamente, nos casos de brigas e separações...". Finais
famosos das aberturas "Guilherme Tell" e "Orpheus" viraram galopes, enquanto que
"Danúbio Azul" foi afundada tornandose um minueto por uma cruel mudança de
andamento".
Ainda que houvessem "compiladores", restava o problema de saber como
todo este material era usado pelos diretores musicais dos cinemas. Um pianista, por
exemplo, poderia acompanhar um filme observando a ação na tela, mas uma orquestra....
Havia uma rotina para o diretor musical. Ele via o filme cuidadosamente para obter a sua
impressão de forma e conteúdo. Numa segunda passagem, já ia calculando com o
cronômetro as cenas escolhidas para serem musicadas. Após tudo isso, eram selecionadas
as músicas. Colocadas lado a lado, sòmente às vêzes era possível compor uma "ponte"
entre elas. Essas transições, a princípio consideradas a parte mais insignificante dos
scores de filmes mudos, na verdade, foram as únicas composições musicais originais
neste período.
Kurt London observa que a escolha de diferentes peças de música também
criava um problema estético: "O filme mudo não requer uma interpretação isolada de
todas as suas cenas separadas; pelo contrário, o que se impõe é a simplificação do
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mosaico de imagens em uma só grande linha. Portanto, apesar de algumas exceções, a
música não deveria sofrer interrupções. "Variedade nas imagens e uniformidade na
música".
Obviamente, a solução deste problema seria compor uma trilha original.
Mas, além dos problemas de produção, seria muito difícil escrever a mesma música para
orquestras tão variadas como eram as dos cinemas da época. Quando havia a decisão de
escolher um compositor, este tinha que trabalhar ràpidamente, ver o filme, escolher os
clímaxes, cronometrar e então compor. Mesmo assim, havia o problema da
sincronizacão. Várias e infrutíferas tentativas foram feitas em vários países, e, como diz
London, falharam porque a exata sincronização entre música e cinema mudo era
estèticamente erronea pela contradição entre "a dimensão plana das magens, de um lado,
e de outro, o caráter plástico e circular da música".
Apesar de criativos, esses scores eram a exceção. Para os teatros que não
tinham nem dinheiro, nem espaço para uma orquestra, haviam máquinas que possuiam
todos os tipos de sons, inclusive efeitos sonoros como estampidos, tiros de canhão, fogo
ardendo, cascos de cavalo, gado, barulho de carros, buzinas, etc., além de recriar os sons
de uma orquestra de 20 músicos. É possível imaginarse a genialidade de quem as
operava durante as sessões de cinema.
A música também teve um outro importante papel na época do cinema
mudo. O de inspirar, no próprio set de filmagem, os atores, através de músicos
contratados pelos grandes estúdios e que estavam sempre à mão para ajudar numa cena
difícil. Como não havia som gravado, isso era sempre possível e auxiliava bastante. Com
o advento do cinema sonoro, tudo isto acabou e novos desafios e problemas surgiram
para o compositor, entre os quais o de fornecer alguma música, qualquer música para os
primeiros filmes falados.
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FIM