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O Estranho e o Estrangeiro
Juiz de Fora
Faculdade de Letras
Universidade Federal de Juiz de Fora
Abril 2007
AGRADECIMENTOS
A Maria Clara:
Faculdade de Letras
Juiz de Fora
Abril de 2007
2
SUMÁRIO
Introdução..............................................................................................4
Capítulo 1
Leituras em torno de Venuti..................................................................13
Capítulo 2
Testando Hipóteses……………………………………………………..23
Conclusão.................................................................................................34
Referências Bibliográficas........................................................................37
3
Introdução
4
Friedrich Schleiermacher, no ensaio "Sobre diferentes métodos de tradução"
(1813), detectou a existência de dois métodos básicos de tradução que, mais tarde,
tradução domesticante seria aquela livre para transformar a estrutura do texto original,
a forma.
da tradução: uma nova proposta (1997, p 46-55) e a seus dois eixos - tradução direta
uma tradução apenas literal – que nem sempre teria como resultado a forma mais
5
natural" (BARBOSA, 1997, p. 48), ou seja, a forma como um falante da língua de
Universidade Federal de Juiz de Fora, porém, me deparei com traduções em que não
houve por parte dos tradutores a escolha pela adoção de um dos dois métodos com
exclusividade. Essa inconstância no uso dos dois métodos de tradução fora tema de
Milene Borges para a monografia de conclusão do mesmo curso (2002). Nela, Borges
impressão era a de que o tradutor não tomara o cuidado necessário para homogeneizar
seu texto, deixando-o anacrônico e não obtendo qualquer um dos efeitos propostos
pelos dois métodos. Assim, consideramos que nem a leitura se dava de maneira
fluente - como se fosse um texto escrito na própria língua de tradução -, nem ficava
determinado texto traduzido. Percebi, porém, que deveria levar em consideração que a
maneira crítica como conduzi a leitura dos textos em que considerei haver essa
instabilidade não era a maneira como um leitor não-profissional a faria e sim como
meu caso.
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Assim, a avaliação do impacto da instabilidade passou a ser apenas uma das
desenvolvimento de uma tradução, quais dessas bagagens o tradutor optaria por usar e
quais deixaria de lado, visando determinado efeito na recepção. Ele aborda o tradutor
enquanto leitor da obra original e a influência de sua bagagem sobre suas impressões
uma relação distinta com a língua de chegada. Segundo Venuti, "uma tradução
base conceitos pós-estruturalistas, em que uma palavra pode dizer coisas diferentes
deve-se questionar a possibilidade de definir o que é inteligível ou não, uma vez que
específica e pessoal.
7
absoluto controle e escolherá as formas de fazê-lo. Acredito, porém, que a visão geral
estrangeira pode diferir por completo da visão dos envolvidos no processo de leitura.
Assim, para dizer que o tradutor leva o autor até o leitor, o que representaria uma
estrangeirizante por parte do leitor de uma tradução, em especial quando uma das
línguas envolvidas nesse processo é a língua inglesa. Essa diluição pode ser atribuída
à aquisição do status de língua franca pelo inglês, uma vez que é ela que vem
optar por um dos dois métodos, pensada no início do século XIX, não poderia ser
sustentada nos dias de hoje, pois pressupõe que o tradutor seja capaz de definir qual a
permitem uma fluidez da informação que Schleiermacher não poderia conceber. Com
8
essas transformações, o perfil do tradutor em muito se transformou, não havendo, nos
conhecimento não são mais ditadas ou limitadas pelo país de origem ou pela língua
divulgando-as significativamente.
que "assim como um país, a pessoa tem de se decidir a pertencer a uma ou outra
9
outra, existindo assim dois pólos opostos - a língua materna e a língua estrangeira -,
sendo possível optar por um deles exclusivamente. Essa concepção se encaixa no que
de outros termos - da mesma língua ou não. Para Derrida, em Torres de Babel (2002,
impossível [...] esta marca só pode ser o que ela é numa relação de diferenciação e,
esses métodos melhor definida pela lógica do suplemento: "o suplemento é uma
adição, um significante disponível que se acrescenta para substituir e suprir uma falta
88).
essa escolha valorizaria, sob quais interesses, etc - é preciso considerar como uma
caminho a ser aqui percorrido tem o leitor como foco. O que determina a naturalidade
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reconhece neste termo ou conceito. O leitor atual lerá um texto traduzido de forma
influências.
considerarmos fazer juz à língua de tradução incluir elementos estrangeiros que a ela
tradicionalmente procuram dar conta das tradições estrangeiras que atuam sobre seu
Assim sendo, essa monografia passa a se construir como uma crítica à tipologia
tradutória sugerida por Schleiermacher e utilizada por Venuti, pois ao se definir o que
sem considerar o sujeito leitor. Tais conceitos deveriam deixar de ser socialmente
suas leituras e críticas sobre os principais pontos das teorias de Venuti que serviram
que desejo demonstrar, sem, no entanto, incluir o leitor final da tradução em suas
11
análises. Procurarei demonstrar a importância da inclusão desses leitores nessas
12
1. Leituras em Torno de Venuti
13
No primeiro momento deste capítulo, procurarei mostrar em que aspectos as
leituras de Lawrence Venuti feitas por Maria Paula Frota e Edwin Gentzler se
contexto, em contraste com os papéis do leitor e tradutor tal como elaborados por
focaliza não só as críticas que Venuti tece às posturas teóricas tradicionais (como o
linguagem.
Segundo Frota, Venuti chama a atenção para a forma como as traduções são
escritas e lidas (p. 74). Porém, percebo que essa leitura se refere muito mais à leitura
do original por tradutores, críticos e estudiosos da tradução do que à leitura do texto
traduzido por leitores “comuns”. Assim, quando a autora analisa a relação sujeito-
linguagem, ela toma a noção de “sujeito” como sendo algo limitado e específico. Essa
noção fica clara quando a autora descreve o objetivo de sua análise: “mostrar como
uma abordagem da linguagem que prioriza sua dimensão histórico-ideológica acaba
por restringir o alcance da intervenção do tradutor e até mesmo concebê-la como uma
manifestação consciente que separa sujeito e linguagem” (p. 71).
14
A autora trabalha sobre tudo aquilo que lhe "parece ser dito explicitamente ou
entre os dois” (p. 72). Como base de sua análise crítica, Frota propõe que se leve em
"sujeito-leitor" que possui uma relação tão complexa e singular com o tradutor e com
o texto traduzido quanto este possui com o autor e o texto original. Noções de
domesticação e estrangeirização, da forma como são definidas por Venuti, não levam
Cada pessoa é dominada pela língua que fala, ela e seu pensamento são um produto dela. Uma pessoa não poderia pensar
com total certeza fora dos limites dessa língua; a configuração de seus conceitos, a forma e os limites de sua
combinabilidade lhe são apresentados através da língua na qual nasceu e foi educada, inteligência e fantasia são delimitadas
através dela. Mas, por outro lado, toda pessoa que pensa de uma maneira livre e intelectualmente independente também
forma a língua a sua maneira (SCHLEIERMACHER, 2001, p.37).
fosse algo isolado, fechado, ou como o próprio autor escreve, limitado. Isso vai
contra a última frase do trecho, que atribui a cada pessoa a liberdade de formar a
língua à sua maneira. Ao fazê-lo num mundo em que hoje vivemos, informado pela
Internet, por mensagens em tempo real, entre outras tecnologias, um indivíduo não
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seria o produto de sua língua materna, e sim de tudo a que fora exposto. É preciso
pessoas que possuem a mesma língua materna, não sendo possível definir como
língua".
à nossa maneira, de nossa língua. Essa "mistura" faz com que, hoje em dia, não se
possa falar em delimitação de conceitos por uma única língua. Quanto mais exposto a
encarará com naturalidade sua possível influência na língua materna. Assim aponta a
citação abaixo, de Edwin Gentzler, retirada do livro Translation and Power (2002):
minha tradução ).
Schleiermacher (1972, p.41), de que uma tradução domesticante proveria uma leitura
fluente, trazendo para o leitor a impressão de que a tradução não seria de fato uma
tradução, mas sim o original; e de que uma tradução estrangeirizante causaria uma
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exclusiva (sem concorrer com a língua materna). Um exemplo disso seriam os termos
em inglês usados no contexto da informática. Eles não causam estranhamento porque
nos foram apresentados em uma língua estrangeira, de forma que se tornaram
naturais. Uma tradução desses termos é que causaria estranhamento, quando não uma
falta de compreensão. Nomes estrangeiros, por exemplo, não causariam
estranhamento a um adolescente que quando criança leu diversas histórias ou assistiu
a desenhos em que tais nomes eram comuns, ou a alguém que está acostumado a
encontrar tais nomes em filmes hollywoodianos. Ao tentar tirar de uma pessoa o que
ela cresceu ouvindo ou simplesmente se acostumou a encontrar - consciente de seu
contato e interação com uma cultura estrangeira - substituindo-o por um equivalente
na língua materna, um tradutor poderia parecer "forçado", causando, nesse caso,
estranhamento.
Muito foi dito a respeito da necessidade de se considerar as peculiaridades e
singularidades dos tradutores enquanto leitores, sua relação com a linguagem e com
conseqüente produção. Acredito, porém, que o mesmo crédito deveria ser dado aos
"singulares", não se poderia definir durante a realização de uma tradução o que seria
natural ou estranho para um determinado público leitor tomando como base somente
sua língua materna. Busco demonstrar, assim, que o mesmo pode ser dito com relação
tradução.
17
1.2. As Propostas de Venuti diante do contexto latino-americano
levar em conta que os leitores latino-americanos, por exemplo, não foram "criados"
sob essa tendência à qual Venuti tanto resiste. Ivone Benedetti questiona, no posfácio
do livro Conversas com Tradutores (2003), organizado por ela e Adail Sobral, um dos
um contexto cultural específico, contexto esse que não poderia ser tomado como regra
geral:
18
de ciências humanas; numa sociedade em que é preciso
promulgar leis para impedir que seus próprios órgãos oficiais
usem termos estrangeiros absolutamente dispensáveis
(BENEDETTI, 2003, p. 29).
que, para nós, não quer necessariamente dizer estranho. Uma tradução domesticante,
dessa cultura. Afinal, podemos perceber, na maior parte das vezes, pelo próprio nome
poderia chamar a atenção do leitor para o tradutor, uma vez que esse leitor
esses valores não foram renegados e tampouco adotados com exclusividade pelos
tradição.
19
A América Latina instituiu seu lugar no mapa da civilização
ocidental graças ao movimento de desvio da norma, ativo e
destruidor, que transfigura os elementos feitos e imutáveis que
os europeus exportavam para o Novo Mundo [...] A maior
contribuição da América Latina para a cultura ocidental vem da
destruição sistemática dos conceitos de unidade e pureza: estes
dois conceitos perdem o contorno exato de seu significado,
perdem seu peso esmagador, seu sinal de superioridade
cultural, à medida que o trabalho de contaminação dos latino-
americanos se afirma, se mostra mais e mais eficaz
(SANTIAGO, 1978, p. 18).
origem de cada parte desse “bolo alimentar” não é relevante, e não cabe a um
indivíduo ou sociedade reconhecer uma ou outra parte desse todo como sendo “sua”,
contexto doméstico" (1995, p. 20, minha tradução), não pode ser aplicada ao nosso
contexto. Um tradutor brasileiro, por exemplo, não precisa lutar pela heterogeneidade,
não precisa afirmar que a literatura, por exemplo, vai muito além de nossa língua, de
literários marginais ao nosso contexto não seria, portanto, uma prática dissidente.
20
Paulo Aldo Rebelo, que, ao contrário de Venuti, considerava esses valores lingüísticos
Se uma tradução fosse realizada sob os preceitos dessa lei, o resultado seria uma
tradução estrangeirizante para que uma pessoa seja induzida a erro ou ilusão de
qualquer espécie. O grande problema de se levantar uma questão desse tipo em torno
haverá sempre um lado que discordará ou que tentará se beneficiar daquilo. No caso
do projeto do deputado Aldo Rebelo, temos uma questão lingüística versus uma
entanto, o posicionamento é óbvio: uma língua jamais se congela no tempo, pois está
sempre em perpétua mudança, assim como o próprio ser humano. Dessa forma, não
haveria propósito em tentar manter uma "pureza" que na verdade nossa língua nunca
21
(Projeto de Lei n° 1676-D, 1999 ). Porém, não creio que as obras de Camões,
língua estrangeira, aos quais ele se acostumou durante sua formação, muito mais
Obviamente que todos esses problemas tem reflexo sobre a maneira como o
brasileiro encara sua língua: para este, habituado de tal forma a ser dependente de
outras nações (muitas vezes sem se dar conta dessa dependência), o empréstimo de
é algo que se torna não só comum como até necessário em alguns contextos.
XX não pode ser tomado como a função de um tradutor brasileiro do século XXI,
pois não há por que combater aqui um etnocentrismo cuja presença é criticamente
com o texto original quanto as relações dos leitores de uma maneira geral com o
22
2. Testando Hipóteses
23
A fim de verificar o vínculo que Lawrence Venuti acredita existir entre os conceitos
leitura fluente da tradução, realizei um levantamento com alunos de uma escola de Juiz de
Fora em torno da tradução do livro Harry Potter e a Pedra Filosofal (2000), de J.K
turma de 6ª série considerada pela professora, de uma maneira geral, interessada nas aulas
de língua inglesa.
Antes de tudo, solicitei à turma que preenchesse o seguinte formulário com algumas
informações pessoais:
Nome: _______________________________________________
Idade: _____ Série: ______
Sexo: feminino masculino
Escola: _______________________________________________
Profissão do pai:_________________________
Profissão da mãe:_________________________
Quantos livros você lê por ano? ______
Qual o livro você mais gostou de ler? ____________________
Qual seu autor preferido? _____________________________
Qual personagem de que você mais gosta? _______________
Através dele, constatei que dos 35 alunos presentes, a maioria tinha idade de 12 e 13
anos (idade padrão para a série), e alguns (9 alunos) 14, 15 e 16 anos; e que 24 eram do
do pai. Através das respostas, foi possível constatar um baixo nível sócio-econômico, uma
vez que a maioria das atividades exercidas pelos pais não exige formação superior e muitas
delas são informais. Entre as mães, 9 são 'do lar' e 17 trabalham fora, em atividades como
24
empregada, faxineira, vendedora, acompanhante, telefonista, manicure, cozinheira,
livros em média liam por ano, 10 não responderam, 2 alegaram não gostar de ler e 23
responderam às três questões e outros apenas responderam a uma ou duas delas. Quanto ao
nome, e. entre esses, 15 foram nomes de autores nacionais (Monteiro Lobato, Carlos
internacionais.
Dessa primeira fase do levantamento, constatei que, embora pertençam a uma classe
autores estrangeiros não seja relevante, uma vez que somente os autores nacionais são
estudados na escola e por isso seus nomes têm mais destaque, independentemente de seus
livros.
entregues aos alunos duas folhas, sendo que em uma delas havia três trechos da tradução do
livro Harry Potter and the Sorcere's Stone, e, na outra, questões relativas a cada um dos
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trechos. Foi explicado que eles deveriam responder a cada questão da maneira que fosse
imediatamente interpretada, o mais objetivamente possível, e que não havia resposta "certa"
26
1. Em que parte do mundo você acha que se passa a história?
Após lerem esse trecho do livro - que vem a ser o primeiro parágrafo deste - em que
aparecem vários nomes em inglês, os alunos deveriam responder onde se passa a história.
Dezessete alunos identificaram o contexto como sendo de um país de língua inglesa (12 nos
países de língua inglesa). As outras respostas foram abstratas, como "algum lugar muito
longe", ou "em um lugar misterioso", ou muito específicas, como "na rua dos Alfeneiros,
O único aspecto desse trecho que aponta claramente para o fato de se tratar de um
texto estrangeiro é o dos nomes dos personagens, que foram reconhecidos como nomes de
pessoas falantes de língua inglesa por uma quantidade significativa de alunos. Acredito
que, a partir daí, mesmo que inconscientemente, boa parte desses alunos já esperaria
traduzido, como o apelido de um dos Dursley, "Duda", se destaca como diferente dos
português envolvido no processo de escrita daquele texto. Isso sim pode causar
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_ Trinta e seis _ disse, esguendo os olhos para o pai e a mãe.
_ Dois a menos do que no ano passado.
_ Querido, você não contou o presente de tia Guida, está aqui
debaixo desse grandão do papai e da mamãe, está vendo?
_ Este bem, então são trinta e sete _ respondeu Duda ficando
vermelho. Harry, percebendo que Duda estava preparando um
enorme acesso de raiva, começou a engolir seu bacon o mais
depressa possível, caso o primo virasse a mesa.
Tia Petúnia obviamente também sentiu o perigo, porque na
mesma hora disse:
_ E vamos comprar mais dois presentes pra você quando
sairmos hoje. Que tal, fofinho? Mais dois presentes. Está bem
assim?
Duda pensou um instante. Pareceu um esforço enorme.
Finalmente respondeu hesitante:
_ Então vou ficar com trinta...trinta... (p.23).
desenrolava a ação fora deixada de lado (ela fazia parte do trecho anterior ao trecho em
questão). Tudo o que se sabia da ambientação dessa passagem era que ela acontecia durante
uma refeição em que um dos personagens fritava ovos e depois os servia juntamente com
bacon.
Quando questionados sobre em que parte do dia acreditavam ter acontecido essa
apontaram a parte da tarde e 2 disseram se tratar da "hora do almoço". Acredito que isso
seja devido ao fato de que, embora no contexto brasileiro esse tipo de alimentação não seja
comum nessa parte do dia, é usual ver personagens de histórias ou desenhos se alimentarem
dessa forma pela manhã (se a intenção fosse ser fiel ao contexto doméstico, os ovos com
28
bacon poderiam ter sido substituídos por algo como 'pão com manteiga'). Assim, para estes
alunos, os ovos com bacon não chamariam a atenção como algo incomum ao longo da
fluente, de forma que eles não dariam atenção especial a esse dado.
Harry veio se postar na frente do tanque e estudou a cobra com atenção. Não se
admiraria se a própria cobra morresse de tédio _ não tinha companhia a não ser
aquela gente idiota que batucava no vidro, tentando incomodá-la o dia inteiro. Era
pior do que ter um armário por quarto, onde a única visita era a da tia Petúnia
esmurrando a porta para acordá-lo, mas ao menos ele podia visitar o resto da casa.
Nesse caso, a "estrangeirização" da sintaxe (ou seja, uma tradução mais literal, sem
incompleto por parte dos alunos. Somente 3 alunos foram capazes de responder com
29
precisão onde o personagem dormia: no armário. A tradução de "having a cupboard as a
bedroom" como "ter um armário por quarto" parece não ter deixado claro o fato de o
personagem não ter um quarto de verdade, e sim dormir no armário (um lugar
resposta mais provável, a maioria dos alunos respondeu "no quarto", o que não indica a
compreensão do fato de que o personagem estava mal instalado na casa daquela família.
Houve também duas questões à parte dos trechos entregues aos alunos. Na primeira
delas, o nome de vários personagens foi apresentado aos alunos de maneira aleatória. Entre
eles, nomes que foram traduzidos (Peter por Pedro, Edward por Eduardo, Alvus por Alvo,
George por Jorge, Vernon por Válter, e o apelido criado para Duddley, 'Duda') e outros que
foram mantidos em sua grafia original (Minerva, Hagrid, McGonagall, Petunia). Os alunos
nomes:
1. Alvo 7. Hagrid
2. Dursley 8. Jorge
3. Pedro 9. McGonagall
4. Hagrid 10. Petúnia
5. Eduardo 11. Duda
6. Minerva 12. Válter
História 1 História 2
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Entre os alunos que responderam à questão (28 alunos), 9 alunos separaram os
personagens de acordo com essa característica (ser um nome traduzido - comum no Brasil -
ou nome estrangeiro) e 19 usaram algum outro tipo de critério. Percebe-se que muitos deles
foram influenciados pelos trechos que haviam lido para responder as questões anteriores,
colocando em uma das histórias os personagens que haviam encontrado nesses trechos e
em outra os personagens "novos". De certa forma, esse alunos reproduziram algo com o
qual tiveram contato (um texto com nomes "comuns" e "incomuns" misturados como algo
possível de se encontrar em uma outra história qualquer). Dessa maneira, essa mistura não
Na última questão, apresentei aos alunos duas versões por mim trabalhadas de um
mesmo trecho do livro em que misturei os dois métodos: uma que, a priori, seria
Era por isso que Harry passava tanto tempo quanto possível fora da casa,
perambulando e pensando no fim das férias, no qual podia ver um minúsculo raio
de esperança. Quando setembro chegasse, ele estaria partindo para a escola
secundária e, pela primeira vez na vida dele, não estaria com Dudley. Dudley
tinha sido aceito na antiga escola particular do tio Vernon, Smeltings. Piers
Polkiss estava indo pra lá também. Harry, por outro lado, estava indo para
Stonewall High, a escola pública local. Dudley achou que isso era muito
engraçado.
Por esta razão Harry passava a maior parte do tempo possível fora de casa,
perambulando e pensando no fim das férias, no qual conseguia vislumbrar um
raiozinho de esperança. Quando fevereiro chegasse, ele iria para a escola
secundária e, pela primeira vez na vida, não estaria em companhia de Duda. Duda
tinha uma vaga na antiga escola de tio Válter, Aliança. Pedro ia para lá também.
Harry, por outro lado, ia para a escola secundária local. Duda achava muita graça
nisso.
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Solicitei aos alunos que escolhessem qual deles lhes parecia mais natural, mais
Com esse levantamento, minha proposta era partir do ponto de vista dos leitores,
Se não foi possível definir o que seria mais “fluente” ou mais “natural” a um grupo
tão homogêneo como o que participou do levantamento – crianças de mesma faixa etária e
grupo social -, imagino que seria mais difícil ainda tentar definir algum padrão entre os
mais variados grupos que têm uma mesma língua como língua materna. Se 12 entre 32
como a mais fluente, a mais agradável de se ler, não haveria como definir “fluência” entre
um grupo ainda maior de leitores, um grupo tão heterogêneo que forma uma mesma língua,
natural ser maior do que o número de alunos que apontou a tradução estrangeirizante como
tal já era esperado, porém não deveria ser definido previamente à leitura. Um tradutor, que
tem intimidade tanto com a língua de partida quanto com a língua de chegada, não pode
pequeno às tecnologias atuais e aos meios de comunicação cada vez mais globalizados. Se
32
o mesmo levantamento tivesse sido realizado em uma escola particular, por exemplo, o
estrangeirzação. Infelizmente, por questões de tempo, esse levantamento não pôde ser feito
fazê-lo posteriormente.
33
Conclusão
34
Conclusão
Com esse trabalho, meu objetivo foi o de acrescentar às críticas feitas às teorias de
ponto de vista do leitor. Os autores abordados, Maria Paula Frota, Edwin Gentzler e Ivone
necessidade de uma adaptação das teorias de Venuti a nosso contexto histórico e social,
porém, de uma maneira geral, o fizeram utilizando o ponto de vista do tradutor enquanto
crítica em geral - a um texto que ainda não chegou às mãos de seus leitores. As noções de
Venuti define esses dois conceitos, dependem da leitura de "alguém", e esse alguém deveria
ser cada leitor em particular, com seus conhecimentos específicos. Dessa forma, um texto
não deveria ser considerado "domesticante" ou "estrangeirizante" sem considerar esse leitor
final, pois, ninguém, além dele mesmo, poderia definir com certeza suas impressões de um
esse mesmo texto, simplesmente pelo fato de ambos possuírem a mesma língua materna.
para interpretar o texto original e produzir o texto traduzido. Creio que a mesma
singularidade deve ser atribuída ao leitor do texto pronto, para só então se definir o que o
35
Isso implica na impossibilidade de se definir aprioristicamente as traduções como
sendo estrangeirizantes ou domesticantes. Dessa forma, um texto traduzido que pode ser
considerado “estrangeirizante” por um tradutor, que optou por priorizar a forma ou alguma
peculiaridade cultural do texto original, poderia ser encarado como “domesticante” por um
leitor que, inserido na rede de comunicações mundial cada vez mais interligada, tem acesso
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Referências Bibliográficas
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BARBOSA, Heloísa Gonçalves. Procedimentos técnicos da tradução: uma nova
proposta. Campinas, SP: Pontes, 1990.
ROWLING, J.K. Harry Potter and the sorcere’s stone. New York: Scholastic Press,
1998.
ROWLING, J.K. Harry Potter e a pedra filosofal. Trad. Lia Wyler. Rio de Janeiro.
Rocco, 2000.
38