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Universidade Federal de Goiás


Faculdade de Letras
Departamento de Estudos Lingüísticos e Literários

Prof. Dr. Sebastião Elias Milani


Projeto de pesquisa: Historiografia Lingüística dos objetos de estudo e das
metodologias na ciência da linguagem
Linha de pesquisa: Historiografia Lingüística e Historiografia da Lingüística.

Introdução
A Historiografia é uma teoria nascida na História, sob a esteira da chamada Nova
História francesa (Nouvelle histoire). Esse período de nascimento é datado de forma
imprecisa na literatura especializada, mas, em geral, coincide com o final do século XIX e
início do século XX, dentro do movimento científico que engloba toda a sociedade
moderna: o estruturalismo.
A Historiografia ou a nova história, adotando-se definitivamente aqui o nome
Historiografia, foi composta pelo movimento do Cientificismo que asseverou em definitivo
a primazia da sociedade como um corpo de indivíduos produtora de si mesma. Fala-se
nesse texto da Historiografia, do mesmo modo isso ocorrera em outras ciências humanas,
cita-se nesse artigo propositadamente a Lingüística, e cita-se muito mais explicitamente que
o signo se tornou social. São exemplos o conceito de Saussure, o de Bakhtin, o de Pierce,
etc. Nesse ponto da evolução científica da sociedade, tudo confluía para a mesma idéia da
sociedade como estrutura e sistema estruturado. Esse é um dado complexo de ser analisado,
na medida em que se tem o incômodo de visualizar, ao mesmo tempo, a percepção de que
tudo é ontologicamente estruturado e a realidade de que a estrutura não existe sem o
homem, logo foi o homem quem estruturou epistemologicamente toda a sociedade. Pode-se
citar Umberto Eco neste ponto da discussão, mas ele fez também a questão e não a resposta.
Importante não fugir à tese de que toda a sociedade está associada, nada no mundo
funciona aleatoriamente. Tudo mesmo foi formado por um conjunto de elementos
anteriores a si, e toda a produção sincrônica é fruto da ação diacrônica do conjunto anterior
da sociedade humana, ou seja, nada e ninguém estão alheios ao que acontece no mundo, os
efeitos de uma ação, em qualquer lugar, serão sentidos por todos de um modo ou de outro.
Muitas são as teorias que falam dos efeitos do passado sobre o presente, cada uma
com uma especificidade, mais a frente nesta discussão escreve-se sobre a teoria das
gerações de Wilhelm von Humboldt (1830), da teoria do signo ideológico e da refração do
signo de Mikhail Bakhtin (1929), paradigmas científicos de Tomas Kuhn e da teoria da
enunciação de Émile Benveniste (1952). Esses teóricos são os apresentados nesse texto em
função da intenção de atingir estudiosos da Historiografia Lingüística, porque muitos outros
poderiam ser elencados e, em outras áreas, outros especificamente. Esse movimento surgiu
no século XIX, e o exemplo mais citado em preleções dessa área é a discussão sobre a
evolução dos seres vivos, as teorias evolucionistas que dominaram o século XIX.
Para ilustrar a descoberta do modelo estrutural de pensar a humanidade, em que
tudo está implicado com tudo, pode-se citar Peter Burke, no livro A escrita da história: “a
nova história começou a se interessar por virtualmente toda atividade humana. Tudo tem
uma história; ou seja, tudo tem um passado que pode em princípio ser reconstruído e
relacionado ao restante do passado” (p. 11). A Historiografia escava na estrutura de um fato
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documentado a contribuição desse documento e fato. Todo documento está composto de


um conjunto de fatores sócio-individuais, ele conta muitas histórias: a que está dentro dele,
a de si mesmo, a história de sua história e a história de seu criador.
A Historiografia Lingüística tem muitos parceiros, como a História, a Literatura, as
artes, a Sociologia, a Filologia, a Psicologia, a Filosofia, toma emprestado de todas essas
áreas algo técnico, porque promove uma revisão do documento. Da História o
conhecimento e reconhecimento dos grandes eventos, o ponto de vista do dominante. Da
Literatura a estruturação da narrativa e os jogos de verossimilhança. Da Sociologia o
conhecimento sócio-antropológico e os limites dos fatos e da realidade social. Da Filologia
o reconhecimento da estrutura do documento e de sua relação física com o tempo. Da
Psicologia os conceitos e compreensões do comportamento e do pensamento dos homens
em sociedade e em isolamento. A Filosofia empresta toda sua história e sua compreensão
da arte de pensar e de transformar pensamento em conceitos e em linguagens.
Como tudo tem uma história, o livro em si também tem. Mas sua história não se
afasta da história de seu criador. O texto discurso, ou o livro, é uma máscara, ou um
simulacro de seu criador. Então, no mesmo tempo que a Historiografia se interessa pelas
mínimas e ínfimas historinhas, ela se interessa em juntar a ação dos grandes pensamentos
com esses substratos sociológicos e intelectuais. Assim, seja qual for a obra, ela se compõe
da interdisciplinaridade coletiva que, em ulterior análise, são os espaços sociais em que se
juntam milhões de pensamentos. Assim, documento e linguagem tornam-se documentados
e analisáveis, mas também se tornam uma única e singular obra completa em si mesma.
O ser humano não compreende a realidade, mas a parte que lhe é permitido observar
e conhecer de uma realidade. O ponto de vista oficial geralmente expressa o foco de
interesse de quem está no poder, ou seja, a classe que for a dominante. Quando se considera
que a mente humana só compreende uma parcela da realidade, que está estruturada e
enxugada pelas convenções significadas totalmente na língua, o texto, em si mesmo, é tão
somente uma parcela esquemática, realizada pelo viés de uma cultura; nesse caso, cultura
de uma sociedade, de uma ordem de pensamento, de uma história individual e de uma
estória (narratividade semiótica), que precisa ser filtrada e sempre é sintetizada no nome do
autor.
Quando o historiógrafo-lingüista se coloca diante do fato texto de ciência da
linguagem, e faz uso de todos os recursos que o conhecimento humano pode lhe aprouver,
o evento-texto deve ser reconstituído em todas as direções principiadas por uma hipótese ou
questionamento. O relato dessa síntese é sempre uma estória plena de narratividade,
permeada por inúmeras narrativas, que explicam o conjunto inteiro da obra. Nesse ponto da
síntese não há muita diferenciação entre fato narrativizado e ficção, a verdade é um
conjunto de pontos de vista que sempre pode ficar muito mais complexo e que permite
preencher com novos fatos e ficção.
Na Historiografia Lingüística contar uma história apoiando-se em fatos e mostrando
a parcela da realidade que o texto ou a obra apresenta, significa empregar quase os mesmos
recursos que a ficção empregaria para relatar uma estória que fosse puramente invenção. O
que se depreende nesse ponto da discussão é que não existe ficção despregada de uma
realidade e que não construa uma relação com a realidade e não existe texto historiográfico
que possa se dizer relator da realidade. Por onde se comece a contar uma estória ou história,
sempre se estará a meio caminho da realidade, mais veridictória ou menos, há sempre um
fundo de verdade. Assim, a distinção entre uma síntese historiográfica lingüística de uma
ficção está bem marcada na intenção filosófica e científica, grandemente no tema de que
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tratam os textos de Historiografia Lingüística, e evidentemente na preocupação racional de


marcar o método de síntese.
A grande preocupação da Historiografia Lingüística é com as fontes construtoras da
obra em questão. Pode-se verificar a incidência da formação do autor, enquanto nascido e
formado em uma determinada região, pode-se verificar suas ideologias e traços
psicológicos e sociológicos, mas o mais importante para qualquer obra científica,
ressaltando-se que a Historiografia Lingüística estuda monumentos da ciência da língua e
da linguagem, são as fontes diretas e indiretas da obra em questão. Verificar quais seriam
então as gerações anteriores ou a geração científica anterior àquela em estudo que teria
gerado dentro daquele contexto os conceitos e o estilo daquela obra.
Os conceitos são marcados por traços de formação diretamente assimilados de obras
anteriores, pensamentos pró e contra os conceitos são extremamente marcantes para o
pensamento que realiza uma obra de caráter conceitual. Diretamente ou indiretamente,
pode-se verificar a existência de gerações preceptoras que informariam conceitos afirmados
e negados no seio da obra. Diferentemente de estudar uma obra de ficção, a obra científica
deixa clara suas origem e filiação científica. Nenhum cientista nasce sem ter sido orientado
por outro cientista, ou instituição científica. Tais instituições se fundem numa rede de
pensadores que organizam uma corrente lógica e estruturada da qual nenhum pensamento
científico escapa.
No interior do texto, nas entrelinhas, estará sua marca de interesses, ao mesmo
tempo o universo das crenças, afirmadas ou negadas, e mais importante a concreta relação
que a enunciação tem com certos conceitos. Em muitos casos o regate de uma fonte de uma
geração antiga resulta na oposição de uma fonte mais recente, que se origina na mesma
fonte mais antiga, mas nesse caso será quase sempre por uma visão oposta ou
revisacionista. De todo modo, não há fonte velha ou nova para a obra científica, em
específico para os estudos da linguagem, que são muito antigos, o aprendizado é sempre
novo, porque toda vez que se recupera uma obra antiga é pelo prisma de uma revisão
datada de outras revisões anteriores, então sempre nova e sempre renovadora.
Se não há uma realidade no texto, e é assim que a Historiografia Lingüística percebe
a obra científica, mas uma mera e factual representação de uma realidade, a síntese deve ser
sempre profundamente estruturada. O texto de caráter historiográfico deve fazer uso de
muitas explicações estruturais. É desse campo de pensamento, do processo de organização
da língua e do pensamento, que são fórmulas inteiramente adaptadas entre si, que a
estrutura se organiza e é desse ponto que o historiógrafo deve partir: todo texto científico
ou de natureza semiótica apresenta uma estrutura, porque nasceu de uma mente estruturada.
A manipulação de informações feita por quem produz um discurso, só pode ser pelo
prisma de suas intenções e paixões, daí ser todo texto uma fração do real, ou estar ligado
aos fatos do mundo real, registrando seus efeitos na vida cotidiana de um tempo; entretanto,
como o discurso registra a versão compreendida por um único indivíduo, neutraliza a
possibilidade de verdade absoluta. Assim sendo, ou o texto é ficção ou é teoria. O
tratamento/nomeação de ficção recebido pelos textos produzidos como arte literária,
geralmente lhes confere certo grau de inverdade. A teoria não é também uma versão
definitiva para aquele assunto, e, apesar de o revestimento de verdade geralmente
subvencionado por uma pesquisa, ela não pode ser garantida como mimese do real.
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1. Justificativa
O problema de instituir uma ciência é que tudo se interpõe no caminho. O que
significa estudar historiografia lingüística ou historiografia da lingüística ou historiografia
aplicada à Lingüística ou aos estudos da linguagem? Por onde se começa há sempre um
obstáculo a ser ultrapassado e, definitivamente, é preciso superar e nomear de uma forma
autorizada o que aqui se defende. O que se quer evidenciar é a ciência que estuda sob o
prisma da historiografia objetos teóricos advindos da teorização a partir do texto. De todo
modo que se observa, sendo esse objeto teórico da ordem gramatical ou da ordem geral,
sempre resulta em texto ou resulta de um texto, portanto, é sempre comunicação instituída
como texto.
Como querem alguns, Historiografia lingüística, sendo o estudo da língua como
objeto historiográfico, parece inadequado porque qualquer estudo dessa natureza partiria de
um texto, não há lógica que permita o estudo diacrônico da língua que não fosse
estabilizado em texto, porque não existe outro modo da língua existir. A língua como objeto
historiográfico somente existiria pela ótica de sua gramática, não há como estudar a língua
desvinculada de uma teoria que a estabilize, portanto, desse ponto de vista estudar a língua
é estudar uma teoria que metaformalizou essa língua.
Como querem outros, Historiografia da lingüística, esse composto provoca uma
situação insustentável. Nesse caso, pela lógica que da análise sintática estrutural tem-se um
substantivo, núcleo significativo, modificado por um adjunto adnominal, informação
secundária. Logo, se a historiografia é um modelo teórico tem-se que a partir da preposição
da pode-se colocar qualquer complemento que venha a ser estudado pela metodologia da
historiografia: Historiografia da Gramática Comparada, Historiografia dos estudos da
linguagem, historiografia da história, etc., enfim, passa-se a fazer historiografia aplicada a
um objeto escolhido.
Quando se pensa numa ciência que englobasse todo pensamento teórico sobre
língua ou linguagem, tendo como objeto de estudo tanto seres humanos individuais
enunciados, como teorias ou conceitos enunciados por um indivíduo ou por vários, tem-se
que é preciso definir um método que englobe e inclua todas as correntes de pensamento
lingüisticamente estruturado. Por essa ordem metodológica seria possível penetrar na
estrutura de uma obra, verificando seus conceitos e as fontes refratadas, essa obra
sincronicamente como refração de uma diacronia legível em suas linhas, e seria possível
perceber a estrutura de um conceito, ao longo de uma diacronia, as contribuições
individuais nas diversas vezes que fora enunciado.
Logo, a proposta que parece mais homogênea é a que se vem praticando por vezes
Historiografia Lingüística, com os dois termos em maiúsculas. O primeiro fazendo
referência à ciência que estuda a estrutura individual do discurso. O segundo fazendo
referência aos modelos teóricos que têm como objeto de estudo a língua e a linguagem. O
termo composto derivado propõe que essa ciência estude sob o prisma da individualidade
estruturada em discurso a conceituação geral da Lingüística, fazendo uso de sua
terminologia e de seus conceitos. Logo, o que se pratica como ciência, nesse caso, é a
Lingüística, e o aparato teórico é o da Historiografia.
Qualquer percurso histórico de uma ciência pode demonstrar esse fato: as muitas
sobreposições de teorias, desenvolvidas em muitos lugares, sempre são frações da verdade
total de um objeto de estudo. Não é diferente com a ciência da linguagem, exemplificando,
a grosso modo, quando se coloca em perspectiva o século XX, pode-se ver uma seqüência
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de teorias e discursos sobre os mesmos ou diferentes objetos, continuando e/ou rompendo o


processo estabelecido. Mas, de um modo geral, pode-se decompor esse século num período
inicial estruturalista, tendo como objeto a descrição do plano de expressão das línguas
naturais; um segundo período em que o estruturalismo requeria maior conhecimento da
formação do conteúdo e da atuação do falante na composição da significação; e, nas
décadas finais, um terceiro, a discussão da atuação do indivíduo na produção dos sentidos.
Os discursos são dependentes de seus predecessores e não há possibilidade de
interpretar um discurso isolado/afastado da história. A compreensão de uma inteligência
lingüística depende de conhecer o jogo de memórias e de formações ativadas naquele
contexto, ou seja, nenhum discurso é independente. Do ponto de vista de sua enunciação,
nenhum discurso é uma ruptura completa, a fórmula da competência lingüística humana
prevê o aprendizado formativo, sempre transmitido de uma geração a outra. Em síntese,
para produzir discurso é preciso passar por uma estruturação lingüística antes: é preciso
dominar a fórmula já existente, para tentar melhorá-la, então.

2. Metodologia
O estilo, evidentemente, é reflexo da personalidade do indivíduo. Dessa forma, o
componente mais importante do estilo é o próprio indivíduo. Acima de tudo, para conhecer
o estilo de alguém é importante saber sua origem. Todos os seres humanos sempre são
partes integrantes de uma época e de um lugar. Esses fatores são inalienáveis a qualquer ser
pensante.
Quando é estudada uma obra: um romance, um poema, ou um texto sincrético, é
perfeitamente clara a relação da forma e dos elementos que compõem a obra com o fator
época da produção. A partir da época podem-se prever características básicas de sua
composição. Deve-se pensar que na formação do estilo individual, artístico ou não, muitos
fatores atuam; entre eles, o fator tempo de composição da obra se apresenta como um dos
mais importantes.
Os fatores que são pertinentes à formação do estilo de um indivíduo estão
basicamente em duas categorias: fatores que só tiveram pertinência para aquele indivíduo e
outros que podem ser generalizados para um grupo. Algumas influências ocorrem
distintamente e outras ocorrem em conjunto entre si. Assim, as personalidades estão
expostas a essas implicações externas; a elas devem ser aplicadas as implicações internas
aos indivíduos, ou seja, cada um dos seres humanos sente o mundo a sua volta de modo
particular e único.
Tomado o estilo como marca de regularidade num estudo lingüístico, seja esse
estudo focalizando um indivíduo, uma obra, uma época, um movimento, uma língua, ou um
país, ele é a estruturação de todos os elementos sociais envolvidos, inclusive os sentimentos
predominantes. É certo que é muito mais simples conhecer o estilo de um ser humano ou de
uma obra, que o estilo de uma língua ou de um país. De qualquer forma, qualquer ser
humano é capaz, empiricamente, de estabelecer diferenças entre dois indivíduos, duas
obras, duas épocas, dois movimentos, duas línguas, ou dois países.
O contexto social em que a obra foi produzida determina a direção em que os
conceitos foram concebidos. No entanto, as obras apresentam outras características
estilísticas, além daquelas determinadas pelo tempo e o espaço social. A historiografia de
uma sociedade é feita, acima de tudo, pelo conjunto das historiografias dos indivíduos que a
compõem. O indivíduo, na perspectiva contínua da História, tem uma independência
sociomoral e psicológica. Dessa forma, a mesma carga semântica tem efeitos e resultados,
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sincrônicos e diacrônicos, diferentes em cada membro de uma sociedade. Isso por força de
fatores tipicamente individuais: sensibilidade a certo tipo de situação, inteligência,
fragilidade, agressividade, afetividade, sinceridade, coragem, auto-estima e, principalmente,
talento na manipulação do discurso a ser produzido; em se tratando do discurso poético,
talento na manipulação dos recursos lingüísticos disponíveis na língua; em se tratando do
discurso científico, conhecimento do objeto a ser estudado; e, em se tratando de
Historiografia lingüística, conhecimento lingüístico e do objeto estudado.
O estilo individual se compõe de elementos socioculturais que se interseccionam.
Historiograficamente se compreende que a realidade é social e culturalmente manifestada.
Assim, elementos da história e da arte misturam-se com elementos filosóficos e científicos.
Na mente do indivíduo esses elementos passam por um tratamento único, ligado a cada
idiossincrasia. O discurso de um indivíduo é semelhante aos discursos de seus
contemporâneos, compatriotas, etc., mas é único e específico. É um retrato do interior
psíquico-moral de um ser inteligente. Artístico, científico ou casual, o discurso produzido
revela na exata medida o modelo social em que o indivíduo esteja locado, bem como suas
particularidades de personalidade e valores.
“A sociedade se comporta como se fosse um organismo vivo, em que todas as partes estão
interligadas. Assim, todos os setores da vida humana participam dessa organização e, acima
de tudo, são influenciados por todos os outros setores coexistentes. Desse modo, acontece
uma sobreposição na mente dos indivíduos de todos os elementos culturais envolvidos na
organização da sociedade, que incidem em todas as novas manifestações culturais
científicas ou artísticas, de modo que qualquer manifestação que surja numa determinada
época é sempre a materialização de algum conceito sob a perspectiva dos outros fatores que
integram a mesma época” (MILANI, 2008, p. 08).

A nação é um espaço territorial povoado com eventos sociais, históricos e culturais


que atingem a todos os indivíduos, que vêem e tendem a observar a realidade de uma
maneira semelhante. Desse modo, os indivíduos sempre se apresentam com dois
comportamentos: o indivíduo precisa do coletivo para se encontrar e se estabelecer no
mundo e, ao mesmo tempo, está sempre buscando se diferenciar dos outros e do coletivo.
O indivíduo age assemelhando-se ao coletivo: em primeiro lugar, porque foi
treinado neste coletivo e se baseia nele para se identificar; em segundo, porque esse
coletivo constantemente se reafirma dentro dele. Por outro lado, individualmente, age
contradizendo o coletivo, determinado pela própria natureza que o faz querer ser um
indivíduo.
O indivíduo sempre é refração e reflexo daquilo que foram as gerações anteriores,
pois uma geração se opõe a outra, sempre na tentativa do avanço espiritual. Essa
contradição é gerada pelo comportamento individualista dos seres humanos, que, na
tentativa de se oporem ao que lhes é anterior, geram um novo individual que, somando-se a
outros indivíduos, cria um movimento coletivo. A coincidência dos valores individuais, que
gera a totalidade, está no fato de que, de uma forma geral, todos os indivíduos de uma
mesma geração foram submetidos às mesmas condições sócio-culturais impostas pelas
gerações anteriores. Assim, no interior dos indivíduos agem cruzadamente a força imposta
pelas gerações anteriores e o desejo de mudar, gerando o novo no espírito e fazendo o
conjunto progredir.
Na arte literária, de tempos em tempos, alguns indivíduos vêem os mesmos assuntos
por novas perspectivas, gerando um novo pensamento. O que garante que tais movimentos
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não se revertam em perdas para a humanidade está nas características básicas do ser
humano, que julga os outros como iguais a si: independentes e livres, e nos laços/amores
que, ligando um indivíduo a outros, fazem os indivíduos retornarem ao coletivo do qual
eles tentam se diferenciar.
Essa continuidade e descontinuidade das gerações são sumamente necessárias:
somente através do valor que uma geração anterior tem para as posteriores é que se pode
medir sua importância no curso da humanidade. É essa realidade que coloca a humanidade
em suas gerações sucessivas em períodos mais fáceis ou mais difíceis de atravessar, o que
contribui para avanços culturais/sociais. Essa inquietude, que joga parte desses conceitos no
desconhecido e no inexplicável, é importante para a formação da individualidade, porque
gera um fascínio pelo passado e pelo futuro. A Historiografia lingüística se preocupa com a
participação das individualidades não centrais na construção do pensamento coletivo, em
específico a Lingüística não pode abrir mão do empírico testado no falante, e esses
conceitos são profundamente produtivos metodologicamente.
Somente por aquilo que uma geração impõe e faz nascer na outra é que se pode
medir aquilo que dela foi feito pelas gerações anteriores e só se consegue explicar uma
geração quando ela está no passado, e sempre por aquilo que as gerações posteriores
fizeram. A arte literária é o exemplo: só é possível ter uma idéia do conjunto de um
movimento literário quando esse já foi substituído.
O indivíduo está sempre vinculado a uma totalidade, o indivíduo compõe com
outros indivíduos um todo: uma nação, o grupo a que esta nação se assemelha, a espécie
humana. De qualquer ponto que se o estude, sempre estará associado a uma sociedade,
tanto do ponto de vista externo quanto do interno. Durante sua existência, o homem sempre
se unirá a outros e, para que haja o entendimento, ele utiliza a língua, por meio da qual,
exclusivamente, é possível qualquer desenvolvimento social, em qualquer lugar. Por esse
contato, o homem sabe da existência de aspirações e sensações iguais às suas em outro ser
humano e se anima a procurar suas satisfações.
Ao colocar o texto como uma realidade de comunicação, cria-se o caráter de
sincronia com seu momento de criação. Essa compreensão vem das teorias sobre o discurso
e, mesmo não sendo uma verdade incontestável, essas teorias demarcam o social e o
histórico como parte do discurso, independentemente de seu caráter de ficção ou de teoria.
Na lógica da estruturação do pensamento, incluem-se elementos de todo tipo
caráter: estilístico, sintático, morfológico, histórico, sociológico, pragmático, etc. O
discurso é organizado por uma perspectiva de sentimento, elaborado por uma intenção
voluntariada que escolhe os recursos lingüísticos presentes no ambiente. Não há como fugir
ao limite da organização da língua a que se está preso. Logo, o discurso busca a liberdade
da reinvenção do limite da junção das palavras já produzidas, mas se prende às palavras já
produzidas e as retoma forçosamente. Assim, nesse vai e vêm de formas, juntando
elementos nunca ditos a elementos recriados, pela versão contrária ou pela versão afirmada,
o discurso se constrói refratando o contexto em que se insere, sendo, ele próprio, exemplo
da materialização dos sentimentos de uma época.
Bakhtin, na obra Marxismo e filosofia da linguagem, escreveu sobre a natureza
social do signo e sobre o modo como os seres humanos se relacionam com a realidade
circundante. Essa realidade sempre é uma refração ideológica de algo que exterior a si
mesma. “Um produto ideológico faz parte de uma realidade (natural ou social) como todo
corpo físico, instrumento de produção ou produto de consumo; mas, ao contrário destes, ele
também reflete e refrata outra realidade, que lhe é exterior. Tudo que é ideológico possui
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um significado e remete a algo situado fora de si mesmo. Em outros termos, tudo que é
ideológico é um signo. Sem signos não existe ideologia” (p. 31).
Por considerar a perspectiva de que o cientista é o resultado da manifestação dos
objetos e ações culturais e físicas do mundo, tal qual o artista e o homem comum, seu
discurso sempre está alavancado pelas questões essenciais da sociedade. Portanto, seus
objetos de estudo vão permear os anseios da humanidade e sempre serão respostas para um
questionamento comum a todos, orientadas pelo conhecimento já disponibilizado. O fato de
em certas obras a resposta a tais anseios parecer mais clara, Bakhtin responderia dizendo
que a estrutura social se alimenta da superestrutura, que os conceitos não são realizados
instantaneamente, mas perduram no interior da superestrutura até que se condensam, então,
concebidos e tornados estrutura por um pensamento.
O fato historiográfico a ser considerado é a necessária existência de uma fonte para
o pensamento chegar à realização do conceito. Não há modo de uma mente chegar à
estrutura sem ter uma concreta e eficiente relação de treinamento. Nesse ponto, no interior
da discussão historiográfica, pouco importa o nome que se dê para essa estrutura social que
se repete e se transmite entre os seres humanos: formação discursiva, sucessão de gerações,
manifestação da máscara enunciativa. Essas teorias revelam por pontos de vista diferentes o
mesmo fato historiográfico lingüístico: nas fontes científicas de uma obra está sua mais
clara explicação.
A individualidade está construída naquilo que é historiograficamente individual:
separa-se historiograficamente aquilo que é social e aquilo que é refração individual
recortado pelas experiências individuais. Tal afirmação deve ser verificada nos estudos
sobre a linguagem e a língua ao longo da historiografia deles. Desde os gregos clássicos
que se tem como afirmação incontestável que as línguas mudam. Na modernidade tal
conceito pode ser provado por uma observação simples de qualquer comunidade
lingüística. As línguas mudam, esse é então um conceito definitivamente aceito como
verdadeiro. Mas a língua representa a sociedade e a sociedade não é um ser pensante, logo a
língua não muda porque é social, ela muda por causa de outra característica, por essa lógica
o ser pensante na sociedade é o indivíduo, então é no indivíduo que está o fato da mudança.
Por essa mesma lógica, verificando os compêndios dos estudos da linguagem desde
sempre, o indivíduo é sempre parte integrante da sociedade, é a parte menor dela, logo
subjulgado a ela, submisso a ela. Nos estudos lingüísticos, a língua é o sistema que
representa a sociedade, nos dizeres de Ferdinand de Saussure (CLG), o indivíduo é
responsável apenas por sua fala. Nos dizeres de Mikhail Bakhtin, o indivíduo refrata os
elementos da sociedade, não havendo individualidade, portanto. Mas resta a pergunta,
como as línguas mudam? É claro que existe uma resposta, as línguas mudam quando algo
na sociedade muda, ela representa a sociedade, logo sofre adaptação, esse jogo de causa e
conseqüência deve ser amenizado, há uma provável concomitância entre língua e sociedade
(termos que ajudariam a entender sociedade nesse contexto: cultura, espírito nacional,
superestrutura, etc.)
Em Wilhelm von Humboldt (Sobre a diversidade da estrutura da linguagem
humana), o indivíduo é que muda a língua por ser ele o ser pensante e o agente de
libertação das idéias. A língua é o conjunto dos elementos que compõe o espírito nacional e
que se compõe dele. Ela funciona como princípio de regulação de tudo o que ocorre na
nação (sociedade), agindo como agente repressor de transformações. Isso acontece, porque
é pelo princípio já conhecido que os indivíduos se compreendem, porém nenhum ato de
fala ou exercício de linguagem é repetição de outro já produzido, voluntariamente os
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indivíduos particularizam o que falam e sempre estão se afastando do já instituído. Nesse


conjunto, a língua é o agente da resistência e o indivíduo é o agente das mudanças, sua
força individual é que caracteriza quanto de sua individualidade será assimilado pela língua
e a sociedade.
Mas seguindo a lógica dos pensamentos na Lingüística, tanto em Whitney e
Saussure como em Bakhtin, o indivíduo recebe pronto tudo que está na sociedade e
reproduz aquilo que recebeu da sociedade. Tal afirmação encontra respaldo em uma
simples análise social, empiricamente pode ser verificado que os falantes de uma língua
reproduzem os mesmos comportamentos. Mas esses comportamentos não permanecem
sempre os mesmos, eles mudam e, como afirmara Humboldt, o único armazém de cultura
que a humanidade tem é a língua de cada nação, logo os indivíduos aprendem o
comportamento geral da cultura da qual faz parte, refrata a sociedade, nos dizeres de
Bakhtin, ao aprender a língua de sua sociedade. Responder à questão de como se chega a
produzir uma individualidade que permite a mudança da língua e da sociedade, requer
examinar o que no indivíduo é particular seu entre seus conviventes, ou seja, o que é nele
individual.
Em todas essas teorias citadas, algo de comum em relação à individualidade pode
ser destacado. Em Humboldt, o indivíduo alcança a individualidade no ato de uso da língua,
por meio desse uso ele faz arranjos nunca antes produzidos. Em Bakhtin, a refração se dá
pela ação das ideologias presentes, mas as ideologias estão para o indivíduo como qualquer
outra coisa no espaço físico, mais perto ou mais próximas, e quanto mais próximas, mais
atuantes nele elas vão estar. Em Saussure, o indivíduo é responsável apenas por sua fala, ou
seja, pelos seus atos individuais. Mesmo que emprestados da língua, aprendido com a
língua na execução deles o ato é individual.
Para Noam Chomsky (Pensamento e Linguagem), o indivíduo realiza a atuação
social através de uma competência que ele adquiriu da sociedade, em se tratando de língua,
a atuação do indivíduo não se separa dos outros elementos da sociedade, a competência de
um indivíduo é seu pensamento e sua língua, logo, o conhecimento individual é a existência
de língua e conteúdo. A atuação é individual, porque nela ocorre o jogo de por o exercício
individual de aprendizado em ação. Em Emile Benveniste (Problemas de lingüística geral
II), a enunciação é um ato individual e particular, porque produz o discurso a partir das
refrações da língua. O discurso é individual porque representa a forma atualizada da língua
refratada, pelo enunciador.
A final de contas, o que há de comum nesses pensamentos? O indivíduo é
responsável por seus atos individuais, algo que no conjunto dos elementos apreendidos da
sociedade e da língua, foi refratado, ou atualizado, ou enunciado, numa arrumação
particular e única, nunca vista antes. No dia-a-dia, as atitudes gerais dos indivíduos pouca
ou nenhuma atenção atraem, elas pouco de incomum apresentam, mas indubitavelmente as
atitudes sempre são incomuns. Elas não são novas, mas são renovadas, ou seja, elas já
existiam de outra maneira, mas algo é diferente em cada um dos seres vivos pensantes
desse planeta, e o arranjo das experiências de cada um torna cada atitude uma atuação
única.
O que é novo ou diferente em cada um dos falantes de uma língua é aquilo que é
historiograficamente individual. Cada um deles tem uma história de vida que não se iguala
a ninguém mais. Os elementos sociais, assumidos via língua, sofrem a ação da recepção
desses elementos, o filtro está em vários pontos, mas todos são da natureza da historiografia
individual. Logo o que é refratado por um indivíduo é o conjunto dos valores socioculturais
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que existem na língua/sociedade, mas elas correspondem em cada um dos


falantes/indivíduo à medida da distância que estiveram sempre da ideologia representada,
por razões de natureza social, espacial, temporal e psíquica. Assim, a resposta que um
indivíduo dá para a sociedade depende do arranjo historiográfico de sua existência.
Nos dizeres de Emile Benveniste, é a relação com o mundo exterior ao lingüístico
que gera a atualização da língua. O indivíduo conta com suas experiências diárias para
incorporar substâncias à língua, o armazém cultural. O indivíduo refrata o armazém, mas se
encontra individualizado no mundo das coisas pela matéria de seu corpo físico. É da
relação de seu físico com tudo que é físico ou sensível e quantificável, que ele, indivíduo,
estrutura sua experiência individual, com a qual contribui para o armazém cultural, a
língua.
O armazém cultural é o conjunto de todas as experiências individuais, refratadas,
num primeiro momento, sensibilizadas, num segundo, e refletida, num terceiro. Nada do
que se toma da língua é devolvido igual para ela via fala/discurso. O discurso de cada um, é
acima de tudo de sua inteira responsabilidade, sua atuação é de sua inteira responsabilidade,
suas ações são de sua inteira responsabilidade, não no sentido de ser proposital, mas no
sentido de ser a única vez que tal ato foi dessa maneira. A individualidade, portanto, está na
relação historiográfica do “eu” com o tempo e o espaço. Em última instância, como as
atitudes são sempre construídas por signos e recuperável nos signos lingüísticos, a
contribuição do indivíduo para o conjunto, aquilo que faz o conjunto crescer e mudar, é a
ressemantização do dado morfológico e sintático refratado da língua. Ou seja, os arranjos
do novo e do dado se misturam na estrutura significante da língua, onde se podem ver mais
facilmente as mudanças ocorridas nela.

3. Objetivo
- Demonstrar historiograficamente os objetos de estudo e as metodologias
na pesquisa sobre linguagem no século XX.

4. Cronograma
O projeto se estenderá por quatro anos.
Segundo semestre de 2006 e Primeiro semestre de 2007
Leitura das obras do corpus da pesquisa e seleção do material para aprofundamento
metodológico. Leituras complementares preliminares.
Segundo semestre de 2007 e Primeiro semestre de 2008
Leituras complementares gerais.
Publicação de um artigo ou dois em revistas especializadas, já sobre os resultados.
Segundo semestre de 2008
Curso sobre o tema;
Terminar o trabalho de análise.
Primeiro e segundo semestres de 2009
Redação de um livro e artigos.

7. Referências bibliográficas
BAKHTIM, Mikail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo, Hucitec, 1986, 3ª ed.
BENVENISTE, E. Problemas de lingüística geral I e II. São Paulo, Pontes, 1974. Trad. de
11

BRIGGS, Asa (Org.). Historia de las civilizaciones - El siglo XIX. Madrid, Labor, 1989. Trad.
de José Mª. Balil Giró.
BURKE, Peter. A escola dos Annales 1929-1989. A revolução francesa da historiografia. São
Paulo, EDUNESP, 1991. Trad. de Nilo Odália.
------- (org.) A escrita da História.
COSERIU, Eugenio. Sincronia, Diacronia e História. Rio de Janeiro/São Paulo,
Presença/EDUSP, 1979. Trad. de Carlos Alberto da Fonseca e Mário Ferreira.
DARNTON, Robert. Boemia literária e Revolução. São Paulo, Companhia das Letras, 1989.
Trad. de Luís Carlos Borges.
----- O lado oculto da Revolução. São Paulo, Companhia das Letras, 1988. Trad. de Denise
Bottmann.
----- “História, eventos e narrativa”. Em: Varia Historia. Belo Horizonte, v. 21, n. 34, 2005,
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FIORIN, José Luiz. As astúcias da enunciação. São Paulo, Ática, 2000.
HUMBOLDT; Wilhelm Karl von. Sobre la diversidad de la estrutura del lenguaje humano y su
influencia sobre el desarrollo espiritual de la humanidad. Barcelona, Anthropos, 1990, 1ª.
ed. Traducción y prólogo de Ana Agud.
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. São Paulo, Civitá, 1983. Trad. de Valeiro Rohden
e Udo Baldur Moosburger.
KOERNER, Konrad. Toward a Historiography of linguistics.
MILANI, Sebastião Elias. As idéias lingüísticas de Wilhelm von Humboldt. FFLCH/ USP,
São Paulo, 1994. Dissertação de Mestrado, inédita, mimeo.
--------- Humboldt, Whitney e Saussure: Romantismo e Cientificismo-Simbolismo na
história da lingüística. São Paulo/USP, Tese de Doutoramento, 2000. Inédita.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. São Paulo, Cultrix, 1995 [1971], 18ª ed.
Trad. de Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein.

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