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Introdução
1. POSTULANDO O PROBLEMA
Poupando-nos de detalhes, consideremos dois pontos fixos F1 e F2 e um ponto
genérico P do plano cartesiano. Representemos, por P F1 e por P F2 as respectivas
distâncias do ponto P ao ponto F1 e do ponto P ao ponto F2 . Define-se a elipse
como o conjunto dos pontos P tais que P F1 + P F2 é constante. Semelhantemente,
define-se a hipérbole como o conjunto dos pontos P tais que |P F1 −P F2 | é constante.
Ora, na definição destas curvas consideramos a soma e o módulo da diferença destas
distâncias como sendo constantes. Seria natural perguntar-se: que curvas (se é que
alguma) surgiriam se considerássemos o produto e o quociente dessas distâncias
constantes? Nosso trabalho a seguir será responder essa pergunta, o que trará
agradáveis surpresas e uma oportunidade de se trabalhar mais com a Geometria
Analı́tica em problemas interessantes ligados à Matemática.
Para simplificar, consideremos no plano cartesiano, que P = (x, y), F1 = (a, o),
F2 = (−a, o) e que P F1 .P F2 = b2 , onde a e b são números reais positivos. Usado a
fórmula da distância entre dois pontos, a equação anterior fica na forma
p p
(x − a)2 + y 2 (x + a)2 + y 2 = b2 .
Desenvolvendo essa equação e fazendo as devidas simplificações encontramos
Temos agora uma equação que é uma quártica, ou seja, um polinômio de quarto
grau em duas variáveis. É natural as perguntas: que formato tem essa curva?
Como ela é?
Com o advento dos computadores e a facilidade do uso de programas computa-
cionais, atribuindo certos valores às constantes a e b, pode-se rapidamente ver a
“cara”dessa curva. Mas essa é uma solução simplista demais para tomarmos agora.
A equação acima merece ser melhor estudada, ela tem muito o que dizer sobre o
formato da curva:
• Percebe-se da equação, que a curva tem o mesmo valor nos pontos
(x, y), (−x, y), (−x, −y) e (x, −y). Logo, concluı́mos que ela é bastante
simétrica, por ter simetria em relação ao eixo dos x e dos y.
• Analisemos os pontos onde a curva corta os eixos cartesianos: √
– Se b > a, a curva corta o eixo das ordenadas nos pontos y = ± b2 − a2
– O único caso em que a curva passa pela origem é quando b = a.
– Se b < a, a curva não corta o eixo das ordenadas. √
– A curva corta o eixo das abscissas nos pontos x = ± a2 ± b2 , no caso
em que o radicando é positivo
Com um pouco mais de trabalho e de boa vontade poderı́amos fazer um esboço da
curva, mas uma ajuda computacional neste momento é bem vinda, como também
um confrontamento do desenho obtido com as observações anteriores.
p
(1.3) (R − x2 + y 2 )2 + z 2 = r2 .
Que ligação têm toros com as ovais de Cassini e, em particular, com lemnin-
scatas?
As ovais de Cassini são secções de planos paralelos ao eixo z com toros da forma
descrita na Figura 2, tais como as cônicas são secções de planos com cones. Da
mesma maneira que Menaecmus e Apolônio fizeram com o cone, foi o grego Perseu
(c.150 A.C) que descreveu as curvas geradas pelas interseções de planos com toros.
Estas seções são chamadas de secções espı́ricas, visto que os gregos chamam
o toro de spira. Essas curvas, que naquela época não tiveram a sorte de serem
estudadas em detalhes como as cônicas, reapareceriam com a ajuda da recém criada
Geometria Analı́tica, no século XVII, como descrevemos anteriormente.
Vamos verificar que as ovais de Cassini são casos especiais de seçcões espı́ricas.
Desenvolvendo a equação (1.3) que descreve o toro, obtemos
Usando esta última equação, vamos agora escolher três toros especiais para faz-
ermos as secções:
R
Caso 1: Se considerarmos o toro com r > , a seção deste toro com o plano
2
y =√ r será uma oval de Cassini formada por duas partes, onde a = R e
4
b = 4R2 r2 > a;
Figura 2. (Caso 1)
R
Caso 2: Se considerarmos o toro com r = , a seção deste toro com o plano
2
y = r será uma lemniscata, onde a = R = b = R;
Figura 3. (Caso 2)
R
Caso 3: Se considerarmos o toro com r < , a seção deste toro com o plano
2
y =√r será uma oval de Cassini formada por um único pedaço, onde a = R e
4
b = 4R2 r2 < a.
Figura 4. (Caso 3)
Neste ponto propomos uma tarefa cuja resposta é uma curva bem especial: de-
screver a curva da interseção do toro onde R = r, com o plano y = 0.
As ovais de Cassini possuem várias outras propriedades interessantes. Embora
essa primeira parte do nosso trabalho encerre-se aqui, esperemos que os leitores
possam ter gostado dessas curvas e continuem o estudo delas.
SOBRE A BELA LEMNISCATA E OUTRAS CURVAS MAIS 5
P F1
(1.5) = b2
P F2
para algum b > 0,√onde consideraremos que P F2 6= 0. Para efeito de simplificação,
escrevamos b2 = c, onde c é um número real positivo.
As curvas neste caso trarão surpresas, pois elas são curvas conhecidas, apesar de
não ser tão evidente que elas satisfaçam a propriedade anterior.
Em coordenadas cartesianas, essa propriedade é descrita como
p √ p
(1.6) (x − a)2 + y 2 = c (x + a)2 + y 2 .
Para prosseguirmos nossa análise, consideremos dois caso:
Caso 1: c = 1
Neste caso, desenvolvendo a equação (1.6) encontramos que x = 0 e o y pode ser
qualquer. Ou seja, a curva em questão nada mais é do que o eixo das ordenadas.
Uma análise mais geométrica já poderia nos ter levado a essa mesma conclusão, pois
nesse caso, P F1 = P F2 e o conjunto dos pontos P que satisfazem essa propriedade
é a mediatriz do segmento que liga os pontos F1 a F2 .
Caso 2: c 6= 1
Como feito no caso anterior, o desenvolvimento da equação (1.6) nos leva a
seguinte equação
1+c 2 2ca2
(1.7) (x − a( )) + y 2 = a2 ( )
1−c 1−c
que só faz sentido para 0 < c < 1. Note que, surpreendentemente, r essa é uma
1+c 2c
equação de uma circunferência de centro (a( ), 0) e raio a !!
1−c 1−c
Finalizamos essa parte, ressaltando que, dada qualquer reta ou qualquer circun-
ferência é sempre possı́vel se determinar pontos F1 , F2 e uma contante c de modo
que, mesmo não sendo natural, essas curvas possam ser definidas pela propriedade
(1.5). Quem desejar, entenda essa observação como um exercı́cio. Mas não o deixe
guardado!
BIBLIOGRAFIA
Agradeço aos Professores Paulo Pinto e Luiz Mendes pelas conversas sobre o
tema e ao Prof. Alciônio Saldanha pela figuras feitas no Maple
Departamento de Matemática e Estatı́stica, Universidade Federal de Campina Grande-
UFCG, Cx. Postal 10044, CEP 58109-970, Campina Grande-PB
E-mail address: daniel@dme.ufcg.edu.br