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RODOLFO RODRIGUES SALES

A DOUTRINA DA INFALIBILIDADE DAS


ESCRITURAS – Uma resposta reformada ao
conceito de verdade relativa pós-moderna

Monografia apresentada ao Seminário


Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel
da Conceição, atendendo às exigências
avaliativas da disciplina de Monografia II,
elaborada sob orientação do Professor Rev.
Donizeti Rodrigues Ladeia.

SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO


REV. JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO
SÃO PAULO – AGOSTO/2016
1

Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas


as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!
Rm 11.36
2

Senhor, por acaso não será verdadeira a tua


Escritura, ditada que foi por ti, que és verdadeiro,
ou melhor, que és a própria Verdade?
Agostinho de Hipona
3

Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus pela salvação eternar em Cristo Jesus, pelo chamado
ao sagrado ministério e por suas ricas e preciosas bênçãos derramadas sobre minha
vida ao longo desses 4 anos de formação no seminário José Manoel da Conceição.

À Simei, minha amada e preciosa esposa, que em todo tempo esteve ao meu lado, que
foi compreensiva nos momentos em que não pude lhe dar maior atenção em razão do
acúmulo de atividades acadêmicas e que sempre tinha uma palavra de ânimo, consolo
e de admoestação em meus momentos de desânimo.

Aos meus pais que sempre estiveram ao meu lado incentivando-me a continuar firme,
aconselhando-me diante das dúvidas e apoiando-me em todas as minhas necessidades.

Aos amigos de sala que durante esses quatro anos de formação ao sagrado ministério
alegraram-se com os que se alegram e choraram com os que choram.

Ao Rev. Donizeti Rodrigues Ladeia por sua colaboração, orientação, compreensão e


paciência ao longo da confecção desse trabalho monográfico.

À Igreja Presbiteriana da Mooca e Primeira Igreja Presbiteriana de Barra do Garças,


as quais me abençoaram sobremaneira por meio de suas orações, apoio financeiro,
aconselhamentos e confirmação do chamado ao sagrado ministério

Ao Presbitério Oeste de Goiás – PROG e Presbitério Central Paulistano – PCPL pelo


reconhecimento e confirmação do chamado ao sagrado ministério, pelo apoio
financeiro, espiritual e emocional e por suas orações.

Ao Rev. Johnny Clayton Cardoso Teles, Rev. Luiz Antônio Ferraz e Rev. Agnaldo
Duarte de Faria por me acompanhar ao longo da minha caminhada cristã, colaborar
para minha formação e crescimento espiritual, reconhecer meu chamado ao sagrado
ministério e por seus conselhos em meus momentos de dúvidas e incertezas.
4

Resumo

Esta monografia discorre sobre a doutrina da Infalibilidade das Escrituras


e a sua influência no combate ao relativismo pós-moderno. O objetivo foi demonstrar
os fundamentos da Inspiração e Inerrância das Escrituras e os efeitos colaterais que a
pós-modernidade, através da relativização da verdade, imprimiu na leitura e
interpretação das Escrituras e, após isso, demonstrar como a doutrina da Infalibilidade
das Escrituras responde ao relativismo pós-moderno, resgatando novamente a
realidade da verdade absoluta das Sagradas Escrituras. Os métodos empregados foram,
um estudo bíblico-teológico da Inspiração e Inerrância das Escrituras; um panorama
histórico da pós-modernidade e suas principais características, bem como uma análise
do método histórico-crítico e das hermenêuticas pós-modernas; uma análise dos
principais argumentos probatórios da autenticidade, suficiência e veracidade das
Escrituras. Ao findar do trabalho, concluiu-se que, há de fato uma influência da
doutrina da Infalibilidade das Escrituras no conceito de verdade absoluta que as
Escrituras têm em si mesma.

Palavras chave: Infalibilidade, Escrituras, pós-modernismo, relativismo.


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INDICE
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 6
1. A DOUTRINA REFORMADA DA INSPIRAÇÃO E INERRÂNCIA DAS
ESCRITURAS ............................................................................................................... 10
1.1. A INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS .............................................................. 10
1.1.1. CONCEITO..................................................................................................... 13
1.1.2. TEORIAS QUANTO À INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS .................... 15
1.1.2.1. TEORIA DA INSPIRAÇÃO MECÂNICA OU DITADA ........... 15
1.1.2.2. TEORIA DA INSPIRAÇÃO DINÂMICA ................................... 16
1.1.2.3. TEORIA DA INSPIRAÇÃO PARCIAL....................................... 18
1.1.2.4. TEORIA DA INSPIRAÇÃO MENTAL ....................................... 18
1.1.3. EVIDÊNCIAS INTERNAS DA INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS ....... 19
1.2. A INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS .............................................................. 24
1.2.1. CONCEITO..................................................................................................... 26
1.2.2. EVIDÊNCIAS INTERNAS DA INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS ...... 28
2. A PÓS-MODERNIDADE E A DESCONSTRUÇÃO DA VERDADE ........... 29
2.1. O QUE É PÓS-MODERNIDADE? .................................................................... 30
2.1.1. SEU NASCEDOURO ..................................................................................... 30
2.1.2. DEFININDO A PÓS-MODERNIDADE ...................................................... 33
2.1.3. CARACTERÍSTICAS DA PÓS-MODERNIDADE .................................... 35
2.2. O MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO .............................................................. 39
2.2.1. CRÍTICA DAS FONTES ............................................................................... 40
2.2.2. CRÍTICA DA FORMA .................................................................................. 42
2.2.3. CRÍTICA DA REDAÇÃO ............................................................................. 43
2.3. HERMENÊUTICAS PÓS-MODERNAS .......................................................... 44
2.3.1. DESMITOLOGIZAÇÃO............................................................................... 45
2.3.2. ESTRUTURALISMO .................................................................................... 46
2.3.3. CRÍTICA DA RESPOSTA DO LEITOR..................................................... 47
2.3.4. DESCONSTRUCIONISMO .......................................................................... 48
3. A RESPOSTA REFORMADA À RELATIVIZAÇÃO PÓS-MODERNA ..... 51
3.1. A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS ............................................................ 54
3.2. A INDESTRUTIBILIDADE DAS ESCRITURAS ........................................... 58
3.3. O CUMPRIMENTO DAS PROFECIAS PRESENTES NAS ESCRITURAS60
3.4. A HARMONIA E A UNIDADE DAS ESCRITURAS ..................................... 62
3.5. O TESTEMUNHO DO ESPÍRITO SANTO ..................................................... 66
3.6. A INFLUÊNCIA TRANSFORMADORA DAS ESCRITURAS NA VIDA
DAS PESSOAS ............................................................................................................ 69
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 71
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 73
6

INTRODUÇÃO1

As Escrituras Sagradas sempre estiveram em alta conta entre o povo de


Deus2. Os judeus com o Antigo Testamento e a igreja do primeiro século, com o Antigo
e Novo Testamento. Essa alta conta da igreja para com as Escrituras se deu porque ela
desde o início sempre reconheceu a Bíblia como a palavra de Deus. A igreja desde
seus primórdios via o Antigo e o Novo Testamento como inspirados por Deus, ou seja,
que as Escrituras Sagradas foram sopradas por Deus3 àqueles que por ele foram
incumbidos de redigir aquilo que o próprio Senhor resolveu revelar a respeito de si
mesmo e a respeito de Cristo Jesus.

Mas essa visão a respeito das Escrituras não vigorou somente entre o povo
de Deus do período veterotestamentário e os do primeiro século depois de Cristo. Entre
os pais da igreja é possível também observar que, por reconhecerem a Bíblia, como a
palavra inspirada pelo próprio Deus, esta era digna de crédito, confiança e aceitação
como a única regra de fé e de prática.

Esse entendimento, conhecido como a doutrina "verbal" ou


"plenária" (completa) da inspiração, foi exposto por Irineu (século
II), bispo de Lion, na Gália (moderna França), em sua obra Contra
Todas as Heresias. Agostinho (do século IV), bispo de Hipona,
África do Norte, manifestou a mesma crença — a saber, que
inspiração significava ditado pelo Espirito Santo. Para Irineu e
Agostinho, inspiração não era uma posse do Espirito Santo feita em
transe irresistível da consciência humana do escritor, mas antes um
alto grau de iluminação e uma tranquila percepção da revelação de
Deus. Clemente de Alexandria, Orígenes, seu discípulo, e Jerônimo,
tradutor da Bíblia para o latim, falaram sobre a inspiração como
sendo extensiva a cada palavra das Escrituras. Os primeiros eruditos
cristãos, confiando em Deus como o Deus da verdade e
considerando-o como incapaz de engano ou confusão, reputavam
sua Escritura verbalmente inspirada como sendo igualmente digna
de confiança4.

Deste modo, em razão da igreja, desde seu nascedouro, até por volta do
século IV reconhecer as Escrituras como inspiradas por Deus, essa por consequência,

1
Todas as referências bíblicas apresentadas nesta monografia foram retiradas da BÍBLIA SAGRADA.
Trad. João Ferreira de Almeida. Ed. Revista e Atualizada no Brasil. 2 ed. Barueri: Sociedade Bíblica do
Brasil, 1999
2
BESSA, Josemar. A Inerrância e a Infalibilidade da Bíblia. Disponível em: <
http://www.josemarbessa.com/2006/08/inerrncia-e-infalibilidade-da-bblia.html>. Acesso em: 05 Ago
2016
3
HANKO, Ronald. A Inspiração da Escritura. Disponível em: <
http://www.monergismo.com/textos/bibliologia/inspiracao-escritura_hanko.pdf>. Acesso em: 05 Ago
2016
4
COMFORT, Philip Wesley (ED.). A Origem da Bíblia. Trad. Luís Aron de Macedo. Rio de Janeiro:
CPAD, 1998, p. 62
7

também a reconheceu como infalível, ou seja, para o povo de Deus, as Escrituras estão
livre de erros, falhas, inveracidades e contradições, logo, uma fonte confiável e
fidedigna da revelação de Deus e de sua vontade ao homem.

Entretanto, com o passar dos tempos, especificamente na idade média, essa


confiança quanto a inspiração e infalibilidade das Escrituras acabou sendo minada,
principalmente por heresias católico romanas – tradição, magistério, infalibilidade
papal, etc., que tinham como propósito principal minar a autoridade e a veracidade que
as Escrituras carregam em si, sendo assim necessária a Reforma Protestante do século
XVI para resgatar novamente a autoridade e a infalibilidade das Escrituras5.

Todavia, os ataques as Escrituras Sagradas não são eventos exclusivos da


idade média. As décadas finais do século XX, bem como todo o século XXI são
marcados por um novo período denominado pós-moderno ou pós-modernista. Essa
nova fase da história da humanidade é marcada pela desconstrução. Desconstrução dos
valores, princípios, conceitos, ideias e principalmente das verdades que foram
edificadas ao longo do período moderno ou até mesmo em momentos anteriores a esse.
Com isto, tudo o que se tinha até então como verdade absoluta, ruiu ou está por ruir
diante dessas mudanças de entendimento a respeito de todas as áreas do viver humano.
E a igreja mais uma vez não passa incólume a tais mudanças, pois, o pós-modernismo,
com sua relativização da verdade, tem adentrado aos seus arraiais, provocando
mudanças que tem levado alguns dentre o povo de Deus a questionar, ou até mesmo a
se afastar das verdades presentes na Escritura, cedendo a essas investidas.

Ademais, a hipótese para tal realidade quanto ao fato das Escrituras


Sagradas não serem mais reconhecidas como a verdade absoluta em nossos dias, está
na mudança do eixo de importância que os indivíduos têm dado a mesma. Pois estas
não são mais o norte que dirige e governa a realidade dos indivíduos em suas mais
diversas dimensões. Ao invés de uma única e absoluta verdade, o que há agora é, não
só uma verdade para cada área do viver humano - religião, política, finanças,
relacionamentos, etc. – mas cada indivíduo também constrói um edifício de verdades
diferente dos demais, onde não há mais qualquer tipo de comprometimento – teórico

5
DIAS LOPES, Hernandes. A Suficiência das Escrituras. Disponível em: <
http://hernandesdiaslopes.com.br/2011/10/a-suficiencia-das-escrituras/#.V6TdjfkrLIU>. Acesso em:
05 Ago 2016
8

ou prático - com as Escrituras.

Não obstante, a igreja, como aquela que possui a tarefa de transformar o


mundo a partir da renovação de sua mente (Rm 12.2) não pode de forma alguma se
manter inerte frente a esse desafio, muito menos se associar ao espírito da época, que
tem questionado o absolutismo da verdade existente nas Escrituras. Neste sentido, a
igreja necessita demonstrar aos indivíduos que há sim uma verdade e, que essa verdade
é absoluta e encontra-se nas Sagradas Escrituras.

Diante dessa realidade, essa monografia visa oferecer uma resposta ao


espírito de nossa época, ou seja, ao relativismo pós-moderno, demonstrando que esse
conceito que permeia os dias atuais é errôneo, pois, há sim uma única e exclusiva
verdade, que é aquela que emana das Escrituras Sagradas, onde todo conceito, ideia e
valor que não seja pautado por ela deve ser considerado como uma falsa verdade. Isso
deve ser feito através do resgate, estudo e aplicação prática da doutrina da
Infalibilidade das Escrituras, ou seja, através do reconhecimento de que a origem das
Escrituras é divina, pois, embora em sua escrita tenha sido utilizado diversos
indivíduos em diversas épocas, o Espírito Santo é o seu autor primário, tornando-se
assim fonte de verdade absoluta, bem como através do reconhecimento de que não há
qualquer sombra de erro nos Escritos Sagrados, que tudo o que ela diz sobre Deus,
sobre a origem de todas as coisas, sobre o homem e o destino final de todas as coisas
não só corresponde aos fatos, mas também revestidos de verdade.

Assim, a fim de alcançar seu objetivo central, dividiu-se a monografia em


três capítulos. O primeiro capítulo visa inteirar o leitor acerca do que são as doutrinas
da Inspiração e Inerrância das Escrituras através dos conceitos e formulações que
alguns teólogos contemporâneos desenvolveram a respeito ao tema. Também, inteirar
o leitor quanto algumas teorias falaciosas a respeito da doutrina da Inspiração das
Escrituras, bem como demonstrar as evidências inerentes à própria Escritura que
comprovam a veracidade da sua Inspiração e Inerrância.

O Segundo capítulo, por sua vez, procura identificar o ventre que gerou o
relativismo, bem como a forma que este se desenvolveu ao longo da história. Ele é
dividido em três seções, cuja primeira parte tem como finalidade definir o que é pós-
modernidade através da identificação do seu nascedouro, das definições dos
pensadores ao longo da história, bem como através de suas principais características e
9

influências. A segunda seção busca demonstrar como o método histórico-crítico


influenciou a relativização da verdade no período pós-moderno. A terceira seção visa
identificar as hermenêuticas, ou seja, os métodos de interpretação pós-modernos que
muito tem contribuído para minar o conceito de veracidade absoluta das Escrituras.

O terceiro e último capítulo é composto por seis seções, cujo objetivo é


trazer ao leitor a resposta que a reforma protestante do século XVI formulou contra os
ataques à doutrina da Infalibilidade das Escrituras durante a idade média, mas que
também são úteis em tempos pós-modernos a fim de que a ideia de relativização da
verdade, no que tange às Escrituras Sagradas, seja refutada.
10

1. A DOUTRINA REFORMADA DA INSPIRAÇÃO E INERRÂNCIA DAS


ESCRITURAS

1.1. A INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS

A autoria das Escrituras, bem como a sua autoridade são temas que sempre
geraram discussões, embates e questionamentos no meio da igreja. Entre os papistas é
onde podemos ver os primeiros movimentos em direção ao enfraquecimento da
autoridade das Escrituras6. Embora os papistas não negassem a autoria propriamente
dita das Escrituras, eles buscaram enfraquecer a sua autoridade, transferindo à igreja a
fonte de inspiração que chancela credibilidade tanto à escritura, quanto à tradição7, a
fim de que pudessem livremente estabelecer suas tradições não inspiradas. Em outras
palavras, a Escritura é útil para a igreja não porque Deus é o seu autor, mas sim porque
a igreja romana confere utilidade e credibilidade a ela.

Posteriormente é a vez do Iluminismo atacar as Escrituras Sagradas, agora


não no que tange à sua autoridade, mas diretamente quanto à sua autoria. Por volta de
meados do século XVIII, indivíduos como J. A. Ernesti e J. J. Semler desenvolveram
a ideia de que as Escrituras são obra meramente de mãos humanas8 e repleta de
contradições como qualquer outra obra literária ao longo dos tempos. Além de Ernesti
e Semler, outro nome que se desponta na defesa de que as Escrituras são um produto
meramente humano e não de divino9 é o de Friedrich Schleiermacher. Para
Schleiermacher as Escrituras não contêm absolutamente nada de revelação divina,
logo, não pode ser assumida como regra normativa de fé e de prática. Em sua visão, as
Escrituras contêm “apenas os pensamentos de homens santos; as formas nas quais suas
percepções, sem auxílio supernatural, revestem as ‘intuições’ devido a seus
sentimentos religiosos”10.

Movimentos pós-Iluminismo como agnosticismo, racionalismo, idealismo


e existencialismo, cujas ideias negam o conceito de que Deus seja cognoscível,
afirmando na verdade que Deus é incompreensível, bem como que Ele não é

6
TURRETINI, François. Compêndio de Teologia Apologética. Trad. Valter Graciano Martins. São
Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 105
7
HODGE, A. A. Confissão de Fé Westminster Comentada por A. A. Hodge. 4. Ed. Trad. Valter
Graciano Martins. São Paulo: Os Puritanos, 2013, p. 62
8
MCGRATH, Alister. Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma introdução a teologia cristã.
Trad. Marisa K. A. de Siqueira Lopes. São Paulo: Shedd Publicações, 2005, p. 131
9
HODGE, Charles. Teologia Sistemática. Trad. Valter Martins. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 133
10
Ibidem, HODGE, Teologia Sistemática, p. 133
11

transcendente e não se relaciona conosco11 acabaram por, ao infiltrarem-se na teologia,


minar a ideia de autoria divina das Escrituras, bem como contribuindo para uma infiel
interpretação da mesma.

Em razão desses movimentos, que vieram à baila, a fim de minar, macular


e ou colocar em xeque a autoridade das Escrituras enquanto Palavra de Deus, é que
surgiu e perdurou ao longo dos tempos a Doutrina da Inspiração das Escritas. Doutrina
essa, cujo propósito é demonstrar a seus oponentes aquilo que as Escrituras mesmas
reivindicam, ou seja, que Deus é o seu autor, logo, revestidas de autoridade e verdade12.
Como exemplo disso, temos os pais da igreja, como Justino de Roma, Agostinho de
Hipona e Irineu13 que sempre defenderam a igreja dos ataques gnósticos e de outras
seitas, a partir das Escrituras, por crerem que elas – Antigo e Novo Testamento – foram
inspiradas por Deus, por isso veraz e infalível. Agostinho de Hipona quanto a isso
afirma:

Senhor, por acaso não será verdadeira a tua Escritura, ditada que foi
por ti, que és verdadeiro, ou melhor, que és a própria Verdade?14

Mais tarde, temos as palavras do reformador João Calvino, que no século


XVI também saiu em defesa da autoria divina das Escrituras, dizendo:

Se, pois, quisermos firmar a nossa consciência de modo que não


permaneça agitada e em perpétua dúvida, é preciso que coloquemos
a autoridade da Escritura muito acima das razões ou das
circunstâncias ou das conjecturas humanas; quer dizer, é preciso que
a estabeleçamos como base no testemunho do Espírito Santo.
Porque, ainda que, por sua própria majestade, a Escritura nos leve a
respeitá-la, não obstante só começa a tocar-nos quando é selada em
nosso coração pelo Espírito Santo. [...] É graças à certeza dada por
uma autoridade superior que concluímos, que, sem dúvida
nenhuma, a Escritura nos foi outorgada diretamente por Deus15.

Mais tarde, em 29 de abril de 164716, a Assembleia de Westminster


aprovou a Confissão de Fé de Westminster onde, dentre os vários assuntos ali tratados,

11
BOICE, James Montgomery. O Alicerce da Autoridade Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1982, p. 189
12
SPROUL, R. C. Posso Crer na Bíblia? Trad. Francisco Wellington Ferreira. São José dos Campos/SP:
Fiel, 2014, p. 13
13
FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia Sistemática: Uma análise histórica, bíblica e
apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 90-92
14
Ibidem, FERREIRA, Teologia Sistemática: Uma análise histórica, bíblica e apologética para o
contexto atual, p. 91
15
CALVINO, João. As Institutas: Edição clássica. Trad. Waldir Carvalho Luz. São Paulo: Cultura
Cristã, 2002, v. 1, p. 71-72
16
Ibidem, HODGE, Confissão de Fé Westminster Comentada por A. A. Hodge, p. 43
12

também defende a autoria divina ou inspiração das Escrituras Sagradas, afirmando


categoricamente que a sua origem não é humana. Em seu Capítulo I, seção IV diz:

A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e


obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou
igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o
seu Autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a Palavra de
Deus17.

Este ponto da Confissão ressalta que os fatores determinantes de


autoridade das Escrituras que nos movem a crer e obedecê-la não são determinados
pela Igreja, por indivíduos ou concílios, mas provém daquele que é o seu autor ou seu
inspirador, Deus.

Ainda no Capítulo I, agora na seção VIII, lemos:

O Antigo Testamento em hebraico (língua original do antigo povo


de Deus) e o Novo Testamento em grego (a língua mais geralmente
conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo
inspirados imediatamente por Deus, e pelo seu singular cuidado e
providência conservados puros em todos os séculos, são, por isso,
autênticos, e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve
apelar para eles como para um supremo tribunal; mas, não sendo
essas línguas conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito
e interesse nas Escrituras, e que deve, no temor de Deus, lê-las e
estudá-las, esses livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares
de todas as nações aonde chegarem, a fim de que a Palavra de Deus,
permanecendo nelas abundantemente, adorem a Deus de modo
aceitável e possuam a esperança pela paciência e conforto das
Escrituras18.

Na seção IV vemos que Deus não é somente o autor das Escrituras, mas
que também lhe aprouve conservar a Bíblia através dos tempos, a fim de que seu povo,
em todas as eras, pudesse ter acesso à Sua verdade e vontade, para que vivam de forma
que a glória do Senhor seja resplandecida através de suas vidas.

Ao longo desses e, de outros testemunhos que serão apresentados


posteriormente, pode-se ver o início daquilo que ficou conhecido como Doutrina da
Inspiração das Escrituras. Através dos tempos, essa doutrina sofreu novos ataques e
distorções, mas também foi enriquecida mediante o estudo da própria Escritura, onde
indivíduos puderam contribuir para um melhor entendimento e compreensão dessa

17
WESTMINSTER, Assembléia. Confissão de Fé de Westminster. 17. ed. São Paulo: Cultura Cristã,
2005, p. 19
18
Ibidem, WESTMINSTER, Confissão de Fé de Westminster, p. 23
13

importante doutrina cristã.

1.1.1. CONCEITO

Embora pareça fácil, definir um conceito correto e que expresse a verdade


quanto a doutrina da inspiração não é tão simples quanto pareça, isso porque o tema
tem “sido alvo de muita confusão em recentes discussões”19. Em razão das inúmeras
teorias – que inclusive já mencionamos algumas delas anteriormente – que se
levantaram ao longo dos anos, estas acabaram por dificultar um correto entendimento
da doutrina, tanto, que os que buscam se enveredar pelo assunto, podem ser levados
em qualquer direção, diante dos inúmeros ventos que tentam soprá-los para longe da
real verdade da inspiração das Escrituras. Contudo, nosso Deus gracioso, assim como
não só inspirou homens a escrever a Bíblia, mas também a preservou ao longo da
história, tem também alistado indivíduos em todos os tempos, a fim de que a verdadeira
doutrina da inspiração seja defendida dos ataques dos inimigos. Isso é tão verdade, que
no meio de grande parte da igreja ainda prevalece a ideia de que “é [...] constante e
permanente a convicção da Igreja sobre a divindade das Escrituras e confiadas a sua
guarda”20.

Antes de apresentarmos nosso conceito sobre o tema, vejamos algumas


definições e conceitos da doutrina da Inspiração das Escrituras. Hermisten Maia,
trabalhando a respeito do assunto elucida o seguinte:

Podemos definir a inspiração como sendo a influência sobrenatural


do Espírito de Deus sobre os homens separados por ele mesmo, a
fim de registrarem de forma inerrante e suficiente toda a vontade de
Deus, constituindo esse registro na única fonte e norma de todo
conhecimento do cristão21

Paulo Anglada, ao se esmerar no estudo da doutrina chegou ao seguinte


entendimento e definição:

O que queremos dizer quando nos referimos à inspiração das


Escrituras? Que as Escrituras são de origem divina. Que, embora a
Bíblia tenha sido escrita por cerca de quarenta pessoas, essas

19
WARFIELD, Benjamin. A inspiração e autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 84.
20
Ibidem, WARFIELD, p. 85
21
COSTA, Hermisten Maia Pereira da. A Inspiração e Inerrância das Escrituras. São Paulo: Cultura
Cristã, 1998, p. 98
14

pessoas a escreveram movidas pelo Espírito Santo, e de tal modo


dirigidas, por ele, que tudo o que foi registrado por elas nas
Escrituras constitui-se em revelação autoritativa de Deus.22

Merril C. Tenney, também define a doutrina da inspiração nos seguintes


termos:

Inspiração é a obra sobrenatural do Espírito Santo. Ele se move


sobre indivíduos especialmente escolhidos que receberam a verdade
divina dele e comunicam essa verdade por Escrito, a Bíblia. O termo
inspiração estende-se sobre toda e qualquer parte da Escritura, até
mesmo as próprias palavras.23

Nos três autores, pelos menos três pontos são comuns. O primeiro, é que
todos eles defendem a autoria divina das Escrituras, ou seja, que os Escritos presentes
na Bíblia, embora tenham sido redigidos por homens, são de origem divina, dado a
cada um deles através da obra sobrenatural do Espírito Santo e não por meio de
experiências de intimidade e ou comunhão. Outro ponto comum é a finalidade da
inspiração. Os três autores concordam que a inspiração operada por Deus nos autores
secundários teve como finalidade preservar as Escrituras de qualquer forma de erro ou
que algo fosse deixado de lado em relação à vontade de Deus ao seu povo. Por fim, a
inspiração na visão dos autores tem por finalidade conceder autoridade as Escrituras,
a fim de que o homem viva segundo a vontade e para a glória de Deus. Inclusive, a
Confissão de Fé de Westminster no seu Capítulo I, seção II diz que “sob o nome de
Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do
Antigo e do Novo Testamentos, todos dados por inspiração de Deus para serem regra
de fé e prática”24.

Diante desses e de outros testemunhos, definimos a doutrina da inspiração


das Escrituras como o agir sobrenatural do Espírito Santo na vida de homens ao longo
da história sem, contudo, anular suas faculdades, culturas e particularidades, a fim de
produzir documentos sem qualquer possibilidade de falhas, erros e ou omissões, que
transmitam os atributos, bem como a vontade de Deus a estes, a fim de que seja uma
fonte autoritativa de salvação e conduta cristã em meio à sociedade.

22
ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras. São Paulo: Os Puritanos,
1998, p. 50
23
TENNEY, Merril C.; BARABAS, Steven, et al. Enciclopédia da Bíblia. Trad. Equipe de
colaboradores da Cultura Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, v. 2, p. 241-242
24
Ibidem, WESTMINSTER, Confissão de Fé de Westminster, p. 17
15

1.1.2. TEORIAS QUANTO À INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS

Na visão de Bavink, “a interpretação correta da inspiração, aparentemente,


depende, portanto, de se colocar o autor primário e o secundário em correta relação
um com o outro”25. Pois, somente a partir de um correto entendimento a respeito de
como eles se relacionam é que poderemos elucidar a ação do Espírito Santo ao inspirá-
los. Contudo, assim como a autoria – inspiração – das Escrituras foi questionada ao
longo dos tempos, inúmeras teorias equivocadas26, tentaram explicar o que seria a
Doutrina da Inspiração das Escrituras, mas acabaram por não expressar em seu bojo,
a realidade ou o conceito correto a seu respeito. Isso porque, partiram de “diferentes
concepções, tendo vários graus de legitimidade, dependentemente do ângulo de
observação da pessoa que as formula”27, bem como por seguirem os três grandes
movimentos teológicos que marcaram a história da igreja, ou seja, a ortodoxia cuja
crença é a de que a Bíblia é a Palavra de Deus, o modernismo que defende a ideia de
que a Bíblia contém a Palavra de Deus e da neo-ortodoxia onde a Bíblia torna-se a
Palavra de Deus28, teorias essas que veremos a seguir.

1.1.2.1. TEORIA DA INSPIRAÇÃO MECÂNICA OU DITADA

Essa teoria afirma que Deus ditou aos autores secundários tudo aquilo que
deveria ser escrito, registrado29, cabendo a estes simplesmente registrar, sem qualquer
tipo de interferência ou mudança, aquilo que Deus lhes transmitiu. Muitas vezes,
quando fala-se em Inspiração Mecânica ou Ditada das Escrituras, o primeiro conceito
que vem às mentes é o da psicografia, ou seja, muitos afirmam que o processo de
inspiração das Escrituras é semelhante àquilo que acontece no espiritismo, onde
pseudo-indivíduos “desencarnados” utilizam-se dos que encontram-se vivos para
transmitir uma mensagem, sendo estes apenas um meio a fim de que a mensagem

25
BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada: Prolegômena. Trad. Vagner Barbosa. São Paulo:
Cultura Cristã, 2012, v. 1, p. 428
26
GEISLER, Norman; WILLIAM, Nix. Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós. São Paulo:
Vida, 2006, p. 15.
27
Ibidem, GEISLER, Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós, p 19.
28
MILHORANZA, Alexandre. As Teorias da Inspiração da Bíblia. Disponível em: <
http://www.milhoranza.com/2009/09/08/teorias-da-inspiracao-da-biblia/#axzz4AWuxnL3Y>. Acesso
em: 03 Jun 2016
29
ERICSON, Millard J. Teologia Sistemática. Trad. Robinson Malkomes, Valdemar Kroker e Tiago
Abdalla Teixeira Neto. São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 195
16

chegue aos destinatários. Se assim o fosse, Deus para atingir seu propósito, teria que
anular a personalidade, a cultura e a mente de cada indivíduo que ele utilizou para a
escrita da Bíblia. Paulo Anglada, discorrendo a respeito do tema diz:

Ao se afirmar que toda Escritura é inspirada por Deus, não se quer


dizer com isso que cada palavra foi ditada pelo Espírito Santo, de
modo a anular a mente e a personalidade daqueles que a escreveram.
Os autores bíblicos não escreveram mecanicamente. Não, as
Escrituras não foram psicografadas, ou melhor,
“pneumagrafadas”30.

Ao contrário disto, os autores secundários das Escrituras não foram


simplesmente um objeto nas mãos de Deus a fim de que seus propósitos fossem
alcançados, mas o Senhor preservou suas personalidades, culturas e mentes, tanto que
podemos ver claramente, por exemplo, nos Evangelhos, as características peculiares
de cada autor ou como em 2Pe 3.15-16 onde o Pedro destaca o modo peculiar próprio
de Paulo31 ao escrever aquilo que lhe foi inspirado pelo Espírito Santo. A esse respeito,
lemos nas palavras de Champlin o que segue:

A inspiração divina não suprimiu ou abafou a individualidade de


qualquer escritor sagrado; pelo contrário, utilizou-se dela. A Palavra
de Deus veio à existência através de muitos e diferentes canais
humanos e a evidência das variações de estilo dá testemunho da
realidade desse fator humano.32

Por fim, é importante ressaltar e destacar que não estamos afirmando que
Deus não tinha o pleno controle sobre o que estava sendo escrito, pois Deus é soberano
sobre tudo e sobre todos, mas que simplesmente não anulou as caraterísticas peculiares
de cada indivíduo no processo.

1.1.2.2. TEORIA DA INSPIRAÇÃO DINÂMICA

De acordo com essa teoria, houve no processo de inspiração e concepção


dos escritos sagrados, uma combinação tanto de elementos de origem divina, como
também elementos de origem humana33. Embora em um primeiro momento sejamos
levados a concluir que essa teoria transforma as Escrituras em um livro divino-

30
Ibidem, ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras, p. 54
31
Ibidem, COSTA, A Inspiração e Inerrância das Escrituras, p. 93
32
CHAMPLIN, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos, v. 2,
p. 475
33
Ibidem, ERICSON, Teologia Sistemática, p. 195
17

humano, pode-se afirmar, no entanto, que trata-se de um livro cuja origem é


plenamente divina, mas que não descarta os elementos, as peculiaridades e as
particularidades de cada um de seus escritores. Quanto ao assunto, Berkhof afirma o
seguinte:

Serve para acentuar o fato de que Deus não empregou os escritores


mecanicamente, mas atuou neles de maneira orgânica, em harmonia
com as leis de seu próprio íntimo. Usou-os precisamente como eram
[...], iluminando-lhes a mente, incitou-os a escrever; reprimiu a
influência do pecado sobre sua atividade literária, e os guiou na
escolha de suas palavras e nas expressões de seus pensamentos34.

Contudo, embora Berkhof teça inúmeros elogios à teoria da inspiração


dinâmica, essa sofreu duras críticas. Isso porque, entende-se na teoria da inspiração
dinâmica que a excelência dos Escritos Sagrados por parte dos autores secundários não
se dá em razão da ação sobrenatural do Espírito Santo em suas vidas, pelo contrário,
tudo aquilo que eles adquiriram e que influenciaram seus escritos advêm de uma
intimidade mais profunda com Deus, no caso dos escritos veterotestamentários, ou de
um caminhar junto a Jesus no período neotestamentário, ou seja, suas “experiências
religiosas” é que determinam a forma como eles registram os escritos da Bíblia. Paulo
Anglada nos demonstra os perigos desta teoria:

Conceito racionalista que influenciou o método histórico-crítico de


interpretação, e que reduz a inspiração a mera iluminação [...], os
autores bíblicos foram apenas homens iluminados. A excelência dos
seus escritos deve ser atribuída à influência santificadora no caráter,
mente e palavras deles, devido à comunhão profunda com Deus ou
pela convivência com Jesus, e não a uma ação ímpar do Espírito
Santo35.

E Anglada ainda afirma mais:


Mas tal concepção reduz as Escrituras à mesma categoria dos livros
judaico-cristãos, distinguindo-se destes meramente quanto ao grau
de iluminação. Tal doutrina despoja a Bíblia do seu caráter
sobrenatural e autoritativo. Torna-a falível e admite a possibilidade
de erros no seu conteúdo36.

34
BERKHOF, Louis. Manual de Doutrina Cristã. 1992 apud SANTOS, João Alves dos. Bibliologia:
Revelação, Inspiração e Cânon: A Natureza da Inspiração, parte II. Centro Presbiteriano de Pós-
Graduação, Universidade Mackenzie, São Paulo, 2009
35
Ibidem, ANGLADA, Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras, p. 55
36
Ibidem, ANGLADA
18

1.1.2.3. TEORIA DA INSPIRAÇÃO PARCIAL

Os defensores desta corrente creem que a Bíblia não é em seu todo


inspirada por Deus37, mas que apenas partes dela possui tal caráter, sendo que as
demais são discursos puramente humanos, sem qualquer tipo de intervenção divina ou
ação sobrenatural do Espírito Santo em sua redação, ou seja, em outras palavras, as
Escrituras apenas contém a Palavra de Deus38. Entretanto, quanto olhamos para as
Escrituras, especificamente o texto aureo de 2Tm 3.16 vemos que essa teoria não se
sustenta, pois ali é afirmado que as Escrituras, de Gênesis a Apocalipse são inspirados
por Deus. Hermisten Maia também nos faz um profundo alerta aos perigos que correm
àqueles que se enveredam pelos caminhos desta teoria:

O labor humano em tentar separar – como se existisse o que separar


– o que é “inspirado” do que não é “inspirado” constitui-se em algo
nocivo e temerário, visto que o homem arroga a si a condição de
superiror à Palavra, colocando-se sobre a Bíblia para julgá-la, com
critérios subjetivos, estabelecendo um “Cânon dentro do Cânon”,
rejeitando o próprio testemunho das Escrituras39.

1.1.2.4. TEORIA DA INSPIRAÇÃO MENTAL

Esta teoria consegue ser mais discrepante do que a teoria da inspiração


parcial, pois faz uma dicotomização entre pensamentos e palavras. Seus defensores
afirmam que apenas o pensamento dos autores secundários foram objetos da inspiração
sobrenatural do Espírito Santo, sendo que suas palavras não foram objetos de tal ação,
por isso a presença de erros e inconsistencias nos Escritos Sagrados. João Alves dos
Santos diz que “Não é possível expressar ideias sem palavras. Não é possível nem
mesmo pensar sem palavras”40, ou seja, é impossível desassociar pensamentos de
palavras. Deste modo, a teoria da inspiração mental não passa de uma falácia que, por
si mesma se contradiz.

37
Ibidem, HODGE, Teologia Sistemática, p. 135
38
GILBERTO, Antônio. A Bíblia é a Palavra de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. Disponível em <
http://www.cpadnews.com.br/blog/antoniogilberto/fe-e-razao/30/a-biblia-e-a-palavra-de-deus-(parte-
i).html>. Acesso em: 03 Jun 2016
39
Ibidem, COSTA, A Inspiração e Inerrância das Escrituras, p. 95
40
SANTOS, João Alves dos. Bibliologia: Revelação, Inspiração e Cânon: A Natureza da Inspiração,
parte II. Centro Presbiteriano de Pós-Graduação, Universidade Mackenzie, São Paulo, 2009, p. 1.
19

1.1.3. EVIDÊNCIAS INTERNAS DA INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS

Quando nos propomos a discutir e tecer considerações a respeito de algum


assunto, é necessário que sejamos capazes de demonstrar a provas que atestam nossas
teses e ou afirmações. Quanto a doutrina da inspiração das Escrituras não é diferente,
existem tanto evidências internas, externas e indiretas que atestam a sua origem
sobrenatural, bem como divina, ou seja, que as Escrituras advêm diretamente da parte
de Deus. Entretanto, nesse trabalho não nos deteremos em discorrer as evidências
externas e indiretas, mas somente quanto às evidências internas que atestam ser
verdade a doutrina da inspiração. Deste modo, estamos afirmando que as Escrituras
em si mesmas, tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento, atestam e demonstram
ser elas, inspiradas por Deus, deste modo infalíveis e suficientes para a salvação e a
instrução à vida cristã.

Todavia, quando esse tipo de argumento é utilizado, é de imediato


levantada a acusação de que isto nada mais é do que um raciocínio circular, ou seja, o
objeto de estudo é responsável por provar a si mesmo como verídico e responsável por
assegurar sua confiabilidade. Dessa forma, o argumento acaba por perder a sua força
e muitas vezes até caindo em descrédito. É o que na grande maioria das vezes ocorre
com argumentos bíblicos diversos, inclusive quanto à doutrina da inspiração das
Escrituras. Entretanto, se analisarmos mais detidamente os discursos, observaremos
que em algum momento de suas afirmações, esses também cairão no mesmo raciocício
circular. Gary DeMar, primeiramente aponta que, não há como escapar desta verdade:

A Bíblia alega ser a Palavra de Deus. Esse é o nosso ponto de


partida. Com certeza, simplesmente porque um livro diz ser a
Palavra de Deus não o torna tal coisa. Mas se um livro é a Palavra
de Deus, ele certamente alegará ser a Palavra de Deus. Se um livro
é a Palavra de Deus, então o que ele diz será verdade. Pode parecer
estranho que citemos a Bíblia para provar que a Bíblia é a Palavra
de Deus. Isso é o que os filósofos chamam de “argumento circular”.
Quando provamos a autoridade da Bíblia citando a Bíblia,
assumimos desde o princípio que a Bíblia é autoritativa. Isso é
apenas um círculo vicioso de raciocínio, que não nos levará a
nenhum lugar? Pode parecer que precisamos provar a verdade da
Bíblia por algum outro padrão “neutro” externo. Certamente, se
fizermos isso, teríamos que responder o que torna esse padrão
autoritativo. Apenas criaríamos outro círculo que necessitaria ser
20

defendido41.

Logo em seguida, Gary cita John Frame, onde este aponta que este tipo de
acusação não pode ser imputado somente aos cristãos e suas afirmações, pois em
última instância todas as afirmações acabam por incorrer nesta circularidade.

[Um] racionalista [para quem a razão tem autoridade final] pode


provar a primazia da razão somente usando um argumento racional.
Um empirista [para quem a experiência tem autoridade final] pode
provar a primazia da experiência sensorial somente por algum tipo
de apelo à experiência sensorial. Um muçulmano pode provar a
primazia do Alcorão somente apelando ao Alcorão. Mas se todos os
sistemas são circulares dessa forma, então tal circularidade
dificilmente pode ser usada contra o Cristianismo. O crítico será
inevitavelmente tão “culpado” de circularidade quanto o cristão42.

Transposta essa acusação, encontramos no Antigo e Novo Testamento, as


bases probatórias que confirmam a inspiração das Escrituras. A Bíblia Sagrada
assegura em si mesma sua origem divina, que Deus é o seu autor e que ele capacitou
indivíduos a fim de que fosse registrado, de modo infalível e inerrante, suas verdades
e vontades ao seu povo de todos os tempos. François Turretini discorrendo a respeito
do assunto assevera o seguinte:

A própria Bíblia dá provas de que é divina, não só autoritativamente


e na forma de um argumento ou testemunho simples, quando ela se
proclama como inspirada por Deus (theopneuston). [...] A Bíblia
também prova que é divina racionalmente, por meio de um
argumento engenhosamente trabalhado (artificiali) com base nas
marcas que Deus imprimiu nas Escrituras e que fornecem
indubitável prova de seu caráter divino. Pois, como as obras de Deus
exibem visivelmente a nossos olhos, por meio de determinadas
marcas, a incomparável excelência do próprio artífice, e como o sol
se faz conhecido por sua própria luz, ele quis na Bíblia [...] emitir
diferentes raios da divindade por meio dos quais se fizesse
conhecido43.

Turretini além de reafirmar que as Escrituras concedem provas


indubitáveis quanto a divindade de sua autoria, ele também acrescenta mais dois
pontos importantes quanto ao assunto. O primeiro deles é que o argumento apresentado

41
DeMAR, Gary. Raciocínio Circular. Disponível em: <http://www.monergismo.com/textos/apo
logetica/raciocinio-circular_demar.pdf>. Acesso em: 25 Jun 2015
42
FRAME, John M. Doctrine of the Knowledge of God: A Theology of Lordship (Phillipsburg, NJ:
Presbyterian and Reformed, 1987), p. 130 apud DeMAR, Gary. Raciocínio Circular. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/apologetica/raciocinio-circular_demar.pdf>. Acesso em: 25 Jun
2015
43
Ibidem, TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética, v. 1, p. 112
21

pelas Escrituras não provém de um raciocínio ilógico ou irracional, ou seja, Deus na


sua onisciência e soberania, construiu ao longo do cânon argumentos não só quanto a
salvação e conduta cristã em meio à sociedade, mas também quanto ao fato dele ser o
autor das mesmas. Na visão de Turretini, basta uma análise mais detida e
comprometida das Escrituras para chegar-se a conclusão de que as Escrituras fornecem
inúmeros argumentos lógicos e plausíveis quanto a essa verdade. Para reforçar ainda
mais essa verdade, Turretini parafraseia o salmo 19 afirmando que assim como a
criação testifica a respeito do seu criador, e que basta qualquer indivíduo contempla-
la para chegar a essa conclusão, as Escrituras igualmente testificam a respeito do seu
autor44, ou seja, tanto a criação, quanto as Escrituras provêm do próprio Deus.

Assim como dito anteriormente, Deus utiliza-se de todo o cânon para


demonstrar, assegurar e testificar ser ele mesmo o autor das Escrituras. Nesse diapasão,
já no Antigo Testamento temos as primeiras provas e testemunhos internos quanto a
inspiração por Deus da sua palavra. Herman Bavinck afirma que os profetas em seu
tempo tinham a plena convicção e certeza de que aquilo que estavam transmitindo ao
povo não era de sua autoria, mas que provinha de Deus, que eles eram apenas o
instrumento a fim de que essa mensagem chegasse aos ouvidos dos destinatários e que
mais tarde, o próprio Jesus e seus discípulos também testemunhariam a respeito da
inspiração divina do Antigo Testamento.

Evidência para a doutrina de que a Escritura é inspirada por Deus já


é encontrada no Antigo Testamento. Os profetas eram conscientes
de serem chamados por Deus e terem uma mensagem que não era
sua própria, mas de Deus. [...] Para Jesus e os apóstolos, os livros
do cânon do Antigo Testamento têm autoridade divina. Isso é
refletido na forma pela qual eles se referem ao Antigo Testamento
como autoritativo (“está escrito”, “a Escritura diz”)45.

Textos como Dt 4.2, 5; Is 1.10; Jr 1.2, 9; Os 1.1; Am 1.3 entre outros,


embora não mencionem a palavra inspiração – como acontece em textos do Novo
Testamento – demonstram que tudo aquilo que foi transmitido e que deveria a
posteriore ser registrado, advinham da parte de Deus, não se tratava de uma divagação
humana, não se tratava de afirmações humanas, mas era o próprio Senhor instruindo,
orientando e corrigindo o Seu povo através de Suas próprias palavras. Em outros textos
(Ex 4.12; 2Sm 23.1-2; Hc 2.1, etc), aqueles que eram vocacionados por Deus para

44
Ibidem, TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética, v. 1, p. 112
45
Ibidem, BAVINCK, Dogmática Reformada: Prolegômena, p. 387
22

transmitir alguma mensagem a indivíduos ou povos, tinham a plena convicção de que


estas palavras não eram alucinações, devaneios e ou palavras de outros indivíduos,
mas que tais instruções advinham diretamente do trono de Deus46, sendo a sua real
vontade para aquele momento e instrução para as futuras gerações.

No Novo Testamento, as passagens mais diretas e concisas quanto à


doutrina da inspiração das Escrituras são 2Tm 3.16 e 2Pe 1.21. Em 2Tm 3.16 lemos o
seguinte: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça, (grifo nosso)”47. Nesse
versículo, a expressão inspirada por Deus é na língua grega uma única palavra, o

adjetivo θεόπνευστος. Essa palavra na língua grega significa “expirado”48, ou seja,

soprado. Nesse sentido, entendemos que as Escrituras foram sopradas, expiradas por
Deus àqueles que foram vocacionados por ele mesmo, a fim de que sua vontade fosse
registrada aos leitores da época, bem como aos futuros leitores, cujo propósito é
garantir infalibilidade, bem como autoridade a tudo quanto foi revelado da parte de
Deus. Cheung ao comentar sobre o significado da palavra inspirado diz que o termo:

se tornou há muito tempo um termo teológico amplo para o que a


Escritura realmente ensina sobre sua origem — que ela é o ‘sopro
de Deus’ — e assim também infalível, inerrante e carrega autoridade
absoluta49

Ademais, O apóstolo Paulo nessa primeira parte do versículo, além de nos


informar que a origem das Escrituras é divina, ou seja, advêm do próprio Deus, foi
soprada pelo próprio Deus aos autores secundários, ele também informa que “Toda a
Escritura é inspirada por Deus”, ou seja, a partir dessa informação podemos concluir
que as Escrituras não contem a Palavra de Deus ou que somente partes dela são de
origem divina, pelo contrário, tudo o que ali se encontra registrado advêm de Deus,
por isso, não há qualquer possibilidade de erro em seu registro, sendo assim totalmente
infalível, bem como fonte de autoridade sobre a vida do povo de Deus. Em seu
comentário a 2Tm 3.16, Calvino afirma o que se segue:

Para asseverar sua autoridade, ele ensina que ela é inspirada por
Deus. Porque, se esse é o caso, então fica além de toda e qualquer

46
Ibidem, BAVINCK, Dogmática Reformada: Prolegômena.
47
BÍBLIA SAGRADA. Trad. João Ferreira de Almeida. Ed. Revista e Atualizada no Brasil. 2 ed.
Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999
48
Ibidem, COSTA, A Inspiração e Inerrância das Escrituras, p. 96
49
CHEUNG, Vincent. O ministério da Palavra. Brasília: Monergismo, 2010, p. 6
23

dúvida que os homens devem recebê-la com reverência. Eis aqui o


princípio que distingue nossa religião de todas as demais, ou seja:
sabemos que Deus nos falou e estamos plenamente convencidos de
que os profetas não falaram de si próprios, mas que, como órgãos
do Espírito Santo, pronunciaram somente aquilo para o qual foram
do céu comissiona- dos a declarar. Todos quantos desejam
beneficiar-se das Escrituras devem antes aceitar isto como um
princípio estabelecido, a saber: que a lei e os profetas não são
ensinos passados adiante ao bel-prazer dos homens ou produzidos
pelas mentes humanas como sua fonte, senão que foram ditados pelo
Espírito Santo50

Calvino, assim como outros autores já citados, também defendia a autoria


divina das Escrituras. Para esse teólogo reformado, não há qualquer possibilidade das
Escrituras possuírem qualquer outra origem que não em Deus, ou seja, que as
Escrituras não são devaneios, elucubrações, filosofias, conceitos ou valores
meramente humanos, mas que foi o próprio Deus, através da ação do Espírito Santo,
de forma sobrenatural, que capacitou e orientou os autores secundários a redigirem sua
vontade ao homem. Ademais, Calvino ainda acrescenta que não há como se beneficiar
das Escrituras, se essa crença na inspiração, na autoria divina não for algo plenamente
compreendido e aceito pelo indivíduo, pois, não se crendo na inspiração, não há como
crer que Deus fala através das Escrituras. Então, questionam Calvino sobre como é
possível saber que tudo isto é verdade e ele responde da seguinte forma:

Se alguém objetar e perguntar como é possível saber que foi as- sim,
minha resposta é a seguinte: é pela revelação do mesmo Espírito que
Deus se tem feito conhecer como seu Autor, tanto aos discípulos
quanto aos mestres51.

Em suas palavras, somente o mesmo Espírito que vocacionou e capacitou


os autores secundários das Escrituras é que pode testificar em nossos corações essa
verdade. É somente através da obra do Espírito Santo em nossas vidas que passamos
a enxergar as Sagradas Escrituras como provindas diretamente de Deus, que ela é a
sua voz ali registrada a fim de que sejamos salvos e a assumamos como nossa regra de
fé e de prática.

Outro texto básico quando se fala da inspiração das Escrituras é o de 2Pe


1.21. Nessa porção das Escrituras lemos o seguinte: “porque nunca jamais qualquer
profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de

50
CALVINO, João. Pastorais: Série comentários bíblicos. Trad. Valter Graciano Martins. São José dos
Campos: Fiel, 2009, p. 262-263
51
Ibidem, CALVINO, Pastorais: Série comentários bíblicos, p. 263
24

Deus, movidos pelo Espírito Santo”52. Assim como em 2Tm 3.16, essa passagem
também é um texto prova quanto a origem divina das Escrituras, ou seja, que elas
foram inspiradas por Deus.

Neste texto, Pedro, já logo no início de suas palavras, enfatiza que nada do
que está presente nas Escrituras é de origem humana53, nenhuma das profecias,
ensinos, narrativas, poesias etc, tem o homem como seu autor. Pelo contrário, o que os
homens sempre fizeram foi falarem da parte de Deus. Deste modo, mais uma vez
podemos concluir que, o homem nunca teve um papel ativo na composição das
Escrituras Sagradas, ao invés disso, seu papel sempre foi passivo, ou seja, agiam
conforme o Espírito Santo lhes movia e lhes dirigia o que deveria ser falado e
posteriormente registrado, ficando assim evidente, que as Escrituras não são um
amontoado de conceitos meramente humanos, mas que elas são a manifestação visível
da voz de Deus ao homem, revelando-os sua vontade e verdade para a salvação e vida
cristã.

1.2. A INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS

Duas são as bases fundamentais para uma crença sadia e fiel nas Escrituras.
A primeira delas – assunto este já tratado anteriormente – é a crença de que os Escritos
Sagrados são em sua totalidade a Palavra de Deus. O segundo pilar, é a crença de que
a Bíblia está livre de erros, ou seja, que ela é infalível, inerrante, logo, verdadeira em
todos os seus ensinamentos54. Isso porque, se partirmos do pressuposto de que as
Escrituras possuem erros, falhas, omissões, falta de harmonia entre seus livros etc,
então esse livro não pode ser confiável, não pode se tornar regra de fé e de prática, não
pode ser um livro que conduza o indivíduo à salvação em Jesus Cristo e que guie seus
passos em direção a uma vida que glorifique o nome do Senhor. Crer na possibilidade
das Escrituras serem falíveis é assumir que todas as doutrinas construídas a partir de
seu estudo são indignas de confiança e acabam por não se sustentarem, ou seja, o
cristianismo entraria totalmente em colapso.

52
BÍBLIA SAGRADA. Trad. João Ferreira de Almeida. Ed. Revista e Atualizada no Brasil. 2 ed.
Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999
53
KISTEMAKER, Simon J. Comentário al Nuevo Testamento: Exposición de las epístolas de Pedro y
de la epístola de Judas. Grand Rapids: Desafío, 1999, p. 227
54
Ibidem, ERICSON, Teologia Sistemática, p. 209
25

Isto posto, devemos também nos lembrar que ao discorrermos sobre


inerrância o objetivo não é o de conferir inspiração, autoridade e ou infalibilidade às
Escrituras. Não é criarmos mais um dogma a ser seguido pelos fieis, mas simplesmente
trazer à baila aquilo que as próprias Escrituras falam de si mesma, é apenas demonstrar
algo que os Escritos Sagrados requerem e sustentam em seu bojo. Hermisten Maia ao
discorrer sobre esta doutrina diz o seguinte:

É necessário que se diga que a inerrância não é uma teoria a respeito


da Bíblia ou uma filosofia moderna inventada pelos
fundamentalistas ou conservadores. [...], cremos que quando
asseveramos com vigor a inerrância total das Escrituras estamos
apenas dizendo o que a Escritura reivindica para si mesma; dessa
forma, não estamos defendendo a inerrância, mas sim afirmando a
inerrância da Bíblia como uma doutrina que faz parte da essência do
Evangelho [...]55.

Além de demonstrarmos a importância da crença na inerrância Bíblica e


que esta é uma doutrina que emana da própria Escritura, é necessário também
discorrermos que a inerrância das Escrituras foi exercida pelo Senhor apenas nos
escritos hebraicos e gregos, os chamados documentos autógrafos56, que foram escritos
pelos autores secundários ao serem inspirados sobrenaturalmente pelo Espírito Santo,
ou seja, houve a inerrância bíblica no momento em que os Escritos Sagradas estavam
sendo redigidos, fato esse confirmado pela Confissão de Fé de Westminster no seu
Capítulo I, seção VIII, conforme já citado anteriormente.

Herminstem Maia em seu livro A Inspiração e Inerrância das Escrituras


diz o seguinte:

A inerrância só se estende aos autógrafos originais, não às


transcrições e traduções. Isso indica que nenhuma versão, texto ou
tradução pode alegar para si, baseado em critérios subjetivos, a
autoridade final, em detrimento de outros57.

Em outras palavras, não podemos afirmar que as traduções estejam livres


de erros e ou falhas, pois neste ponto o Espírito Santo já não operava ou opera no
sentido dessa preservação. Entretanto, podemos perceber que mesmo a Bíblia já tendo
passado por tantas traduções ao longo da história, ainda continua coesa, sem

55
Ibidem, COSTA, A Inspiração e Inerrância das Escrituras, p. 103
56
UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Glossário de
Crítica Textual. Autógrafo: Manuscrito da mão do autor (por oposição a alógrafo). Disponível em: <
http://www2.fcsh.unl.pt/invest/glossario/glossario.htm>. Acesso em 26 Jun 2015
57
Ibidem, COSTA, p. 103-104
26

contradições e ainda revestida de verdade para a salvação e vida cristã.

1.2.1. CONCEITO

Assim como na inspiração das Escrituras, definir o que de fato é a


inerrância das Escrituras não é uma tarefa das mais fáceis, principalmente depois do
advento da teologia liberal que colocou em cheque essa importante doutrina.
Entretanto, assim como feito anteriormente, antes de definirmos seu conceito, veremos
como alguns teólogos definem o que é inerrância.

Hermisten Maia em seu livro A Inspiração e Inerrância das Escrituras, não


define a doutrina em suas próprias palavras, mas utiliza o conceito de outro teólogo
para conceituar o tema, onde este o faz nas seguintes palavras:

A inerrância é o ponto de vista de que, quanto todos os fatos forem


conhecidos, demonstrarão que a Bíblia, nos seus autógrafos
originais e corretamente interpretada, é inteiramente verdadeira, e
nunca falsa, em tudo quanto afirma, quer no tocante à doutrina e à
ética, quer no tocante às ciências, físicas ou biológicas58

Marcos Granconato59, define inerrância das Escrituras nas seguintes


palavras:

A inerrância significa que tudo que a Bíblia ensina e apresenta é


verdadeiro, podendo incluir aproximações, citações livres,
linguagem figurada e narrativas diferentes do mesmo evento
desde que não se contradigam. (Destaques do autor)60

Por fim, Augustus Nicodemos, define a inerrância das Escrituras da

58
P. D. Feinberg, Bíblia, Inerrância e Infabilidade da: In: EHTIC, I, p. 180; Idem, The Meaning of
Inerrancy: In: Norman L. Geisler, ed., Inerrancy, p. 294 apud COSTA, A Inspiração e Inerrância das
Escrituras, p. 103
59
MARCOS GRANCONATO é pastor titular da Igreja Batista Redenção desde 1997, concentrando seu
ministério na sede da igreja em São Paulo. É formado em Teologia pelo Seminário Bíblico Palavra da
Vida (Atibaia, SP) e em Direito, pela Universidade São Francisco de Bragança Paulista. O Pr. Marcos
também é mestre em Teologia Histórica pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper
(São Paulo, SP). É autor de vários livros e atua como professor de Teologia Sistemática, Teologia
Bíblica e História Eclesiástica desde 1984. Também atua como conferencista e preletor, ministrando
cursos teológicos em diferentes partes do Brasil. É casado com Simone e pai de três filhas, Isabela,
Helena e Sofia. Disponível em: <http://igrejaredencao.org.br/index.php?option=com_content&view=
article&id=2351&Itemid=169>. Acesso em: 31 Mai 2016
60
GRANCONATO, Marcos. A Inerrância da Bíblia. Disponível em: <http://igrejaredencao.org.br/
index.php?option=com_content&view=article&id=760:estudo-8-a-inerrancia-da-biblia&catid=37:teol
ogia-basica&Itemid=147>. Acesso em 26 Jun 2015
27

seguinte forma:

Creio que a Bíblia foi escrita por autores sobrenaturalmente


inspirados por Deus a ponto de ser verdadeira em tudo o que
afirma, e isto não somente em matérias de fé e história da salvação.
Ela é livre de erros, fraude e enganos. A Escritura não pode errar
por ser em sua inteireza a revelação do Deus verdadeiro. Ela não é
somente uma testemunha da revelação e nem se torna revelação num
encontro existencial. Ela permanece a inerrante Palavra de Deus
independentemente da resposta humana. (Destaques do autor)61

Os três autores, embora utilizando-se de termos diferentes, assumem que


a doutrina da inerrância das Escrituras afirma que a Bíblia, em seus originais, está
totalmente livre de erros, falhas e incoerências. Os três também assumem que por
consequência disso, tudo o que está ali registrado é verdadeiro, ou seja, não se trata de
falácias argumentativas, isso independentemente da crença ou não do homem nesse
fato.

A declaração de Chicago sobre a inerrância da Bíblia ainda assevera o


seguinte:

Tendo sido na sua totalidade e verbalmente dadas por Deus, as


Escrituras não possuem erro ou falha em tudo o que ensinam, quer
naquilo que afirmam a respeito dos atos de Deus na criação e dos
acontecimentos da história mundial, quer na sua própria origem
literária sob a direção de Deus, quer no testemunho que dão sobre a
graça salvadora de Deus na vida das pessoas. A autoridade das
Escrituras fica inevitavelmente prejudicada, caso essa inerrância
divina absoluta seja de alguma forma limitada ou desconsiderada,
ou caso dependa de um ponto de vista acerca da verdade que seja
contrário ao próprio ponto de vista da Bíblia; e tais desvios
provocam sérias perdas tanto para o indivíduo quanto para a
Igreja62.

A declaração de Chicago além de conceituar e reforçar tudo o que até aqui


já foi mencionado, ou seja, que as Escrituras por terem Deus como seu autor, tornam-
se por consequência inerrantes, também afirma que as Escrituras e a própria igreja
correm graves perigos caso essa doutrina não seja confessada e vivida, levando as
Escrituras a um total descrédito e a igreja a um distanciamento da verdade e da vontade
de Deus.

61
LOPES, Augustus Nicodemus. Sobre a Inerrância da Bíblia. Disponível em: <http://tempora-
mores.blogspot.com/2006/02/sobre-inerrncia-da-bblia.html>. Acesso em: 26 Jun 2015
62
O’HARE. Hyatt Regency. Declaração de Chicago Sobre a Inerrância da Bíblia. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/ textos/credos/declaracao_chicago.htm>. Acesso em: 22 Abr 2016
28

Desse modo, podemos então definir a inerrância das Escrituras como a


doutrina que reconhece que em razão da Bíblia ter sido inspirada sobrenaturalmente
por Deus, essa, em seus escritos originais, é isenta de erros, falhas, contradições e
inverdades, devendo por isso ser crida e vivida pelo povo de Deus em tudo aquilo que
afirma, sob pena da igreja trazer sobre si duras consequências caso não leve a cabo
essa verdade.

1.2.2. EVIDÊNCIAS INTERNAS DA INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS

Conforme já dito na introdução ao assunto, falar da inerrância das


Escrituras não é outorgar confiança, credibilidade e ou veracidade à Bíblia, mas apenas
reconhecer aquilo que ela afirma a cerca de si mesma.

Como também já elucidado anteriormente, a inerrância das Escrituras é


resultado da Inspiração das Escrituras (2Tm 3.16, 2Pe 1.21), ou seja, assim como Deus
– o autor das Escrituras - não possui em seus atributos qualquer possibilidade de erro,
inconstância, falhas ou mentiras (Tt 1.2; Tg 1.17), as Escrituras em si mesmas
igualmente não podem ter qualquer sombra de falhas, erros e ou contradições (Jo
10.35; Cl 1.5; 2Tm 2.15; Tg 1.18). Palavras como falhar e verdade, apresentadas nas
referências bíblicas, atestam a inerrância das Escrituras, pois, algo que falha ou falta
com a verdade, ou seja, mente, não pode ser-lhe atribuída inerrância, pelo contrário,
se a Bíblia assim o fosse, não passaria de uma literatura qualquer, assim como tantas
outras e com toda a certeza não se manteria tão vívida ao longo dos tempos, pelo
contrário, possivelmente já teria sido extinta, como tantos outros livros.

Contudo, embora tenha-se tantos argumentos a favor da doutrina da


infalibilidade das Escrituras, veremos no próximo capítulo que não é o bastante para
salvaguarda-la de novos ataques. Pois, não só o mundo, a sociedade e a cultura
conheceram e sofreram os impactos da pós-modernidade a partir de meados do século
XX, mas a doutrina da infalibilidade das Escrituras também sofreu os efeitos desse
novo movimento, efeitos esses que tem por objetivo minar o conceito de verdade
absoluta que as Escrituras carregam em si, bem como que essa seja fonte de autoridade
sobre a vida dos indivíduos.
29

2. A PÓS-MODERNIDADE E A DESCONSTRUÇÃO DA VERDADE

Não é necessário um grande esforço para percebermos que o mundo em


que vivemos, a sociedade e a própria cultura63 encontram-se em constante
transformação. Paradigmas se levantam e caem, ideologias nascem, crescem, se
desenvolvem, tornam-se dominantes, mas em um dado momento acabam por sucumbir
e são substituidas por outras que iniciam uma novo ciclo.

Com isso queremos dizer que os sistemas de pensamento, ideologias e


filosofias possuem uma natureza bastante dinâmica, ou seja, estão em constante
transformação, readequação ou sobrepondo-se umas as outras, isso em uma velocidade
muito elevada, as vezes semelhante à rapidez do desenvolvimento tecnológico.

Em razão dessa volatilibilidade das ideologias, filosofias e sistemas de


pensamento, que acabam por influenciar, transformar e conduzir a sociedade em todas
as suas relações, é necessário que a igreja esteja alerta e saiba interpretar o que de fato
está ocorrendo em seu tempo caso deseje exercer influência e imprimir suas
convicções, essas baseadas nas Escrituras, na sociedade onde encontra-se inserida e
não uma instituição voltada apenas para si mesma, preocupada com seus próprios
problemas, esquecendo-se daqueles que dia após dia têm sido influênciados e
dominados por essas ideologias que em sua grande parte, por estarem destituidas da
luz da verdade que emana das Escrituras Sagradas, acabam por exercer uma influência
e governo negativo sobre a vida dos indivíduos. Leandro Lima em sua obra Cristãos
no século 21 alerta a igreja quanto a necessidade da igreja estar alerta e vigilante64
quanto essa “dança” dos Zeitgeists65, ou seja, dos espíritos de nossa época que acabam
por exercer suas influências, sejam elas positivas ou negativas.

Caso a igreja queira realizar uma obra eficaz de influência e


transformação num mundo assim, ela precisa estar atenta para essas
transformações. Essa foi uma das grandes funções do profetas do
Antigo Testamento. Eles não eram apenas homens de visão a
respeito do futuro, mas também homens que enxergavam muito bem

63
LIMA, Leandro Antonio de. Cristãos no Século 21: Os dilemas e oportunidades da época atual. São
Paulo: Editora Agathos, 2015, p. 5, v. 1
64
Ibidem, LIMA, Cristãos no Século 21: Os dilemas e oportunidades da época atual, p. 5, v. 1
65
OLIVEIRA. Fabiano de Almeida. Reflexões Críticas Sobre Weltanschauung: Uma análise do
processo de formação e compartilhamento de cosmovisões numa perspectiva Teo-referente. Fides
Reformata, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 38, 2008. “Num sentido mais amplo, todo indivíduo já nasce imerso
em um Zeitgeist, que é o espírito do tempo, um campo mais abrangente de significado, socialmente
compartilhado por uma determinada época, que moldará o estilo de vida e a maneira de pensar das
pessoas.”
30

o presente. Esses homens tinham um olho em Deus e outro no


mundo e, assim, conseguiam perceber as ações de Deus na história,
o crescimento do mal dentro da sociedade e os principais desafios
para o povo de Deus daquele período66.

Em nossos dias, o espírito dominante que tem acabado por influênciar


todas as áreas do viver humano, ou seja, a arte, as relações de consumo67, a tecnologia,
as relações humanas e a própria religião etc, é o pós-modernismo ou pós-modernidade
como também é conhecido. Espírito esse que, principalmente no âmbito religioso, tem
tornado-se um perigoso inimigo ante suas influências aos valores escriturísticos e a
própria Escritura.

Vivemos numa época que os pensadores chamam de Pós-


Modernidade, em que tudo é certo e nada é errado. Não se pode nem
se deve criticar as idéias alheias, porque “verdade, cada um tem a
sua”. Mas uma questão lógica salta aos olhos neste tipo de
argumentação: se tudo é verdade, então nada é verdade. Porque
argumentos e conceitos contraditórios não podem coexistir na
mesma conceituação...o espírito pragmático de um mundo amoral e
sem Deus invadiu as igrejas68.

2.1. O QUE É PÓS-MODERNIDADE?

2.1.1. SEU NASCEDOURO

Determinar o fim da era moderna e início da pós-moderna não é uma tarefa


fácil, isso porque não há se quer um concenso entre os estudiosos a respeito da era em
que realmente vivemos, se moderna, hipermoderna ou pós-moderna69. Outra
dificuldade encontrada quanto a historicidade da pós-modernidade é quanto aquele que
primeiramente cunhou, ou seja, nominou esse novo período70, pois, de igual forma,

66
Ibidem, LIMA, p. 5–6, v.1
67
AMORESE, Rubem Martins. Pós-Modernidade e o Desafio da Aliança. Disponível em: <http://ww
w.monergismo.com/textos/pos_modernismo/pos_alianca.htm>. Acesso em: 26 Abr 2016
68
FILHO, Isaltino Gomes Coelho. Neopentecostalismo, 2004. In. NUNES, Élton de Oliveira. Conflito
e Exclusão: O conceito de pós-modernidade e sua recepção no meio protestante brasileiro. Revista
Brasileira de História das Religiões, Paraná, n. 3, p. 63, 2009
69
NUNES, Élton de Oliveira. Conflito e Exclusão: O conceito de pós-modernidade e sua recepção no
meio protestante brasileiro. Revista Brasileira de História das Religiões, Paraná, n. 3, p. 60, 2009
GOUVÊA, Ricardo Quadros. A Morte e a Morte da Modernidade: Quão pós-moderno é o pós-
modernismo?. Fides Reformata, São Paulo, v. 1, n. 2, 1996.
Ibidem LIMA, Cristãos no Século 21: Os dilemas e oportunidades da época atual, p. 5, v. 6-8
FREITAS, Susy Elaine da Costa. As Características da Pós-Modernidade como Influência da Videoarte
Contemporânea. Texto Digital, Santa Catarina, v. 8, n. 2, p. 68
70
GRENZ, Stanley J. Pós-Modernismo: Um guia para entender a filosofia do nosso tempo. São Paulo:
Vida Nova, 1997, p. 34
31

não há um concenso entre os estudiosos sobre quem o seja.

Entretanto, algo muito claro quanto a parte do século XX é que esse tem
sido marcado por movimentos filosóficos, artísticos, arquitetônicos, teológicos,
educacionais etc, que em sua essência tem como objetivo romper, quebrar, se apartar
de tudo aquilo que ao longo dos séculos passados foram cridos como verdade absoluta,
como verdade fundamental71 para a sociedade. Em outras palavras, parte do século XX
tem sido marcado por profundas mudanças e transformações que tem afetado todas as
esferas e níveis da sociedade. Vejamos então, um pouco do ventre que gerou e
posteriormente deu a luz à pós-modernidade

Anderson Perry discorre que o termo pós-modernidade ou


“postmodernismo”72 foi primeiramente cunhado nos idos de 1930 por um indivíduo
chamado Federico de Onís na Espanha, embora Stanley Grenz afirme que o primeiro
a cunhar o termo foi Arnold Toynbee73. Onís utilizou o termo postmodernismo para
denominar e identificar um tipo de movimento, que segundo ele estava ocorrendo
dentro do próprio modernismo. Perry destaca que posteriormente alguns escritores
espanhois também adotaram o termo “postmodernismo” em seus escritos, contudo,
não para designar ou tratar do mesmo assunto proposto por seu criador74. Contudo, tais
usos distorcidos do termo não foram suficientes para atrapalhar o desenvolvimento do
movimento inciado por Onís.

Ademais, Perry ainda demonstra em sua obra que embora o termo tenha
sido usado por Onís e outros, o uso deste só ganhou notoriedade mais tarde, cerca de
20 anos depois, no mundo de fala inglesa, agora não para determinar um modelo
estético como propôs Onís, mas agora para determinar uma época75, uma era que
estava se iniciando dentro do caminhar e do desenvolver da história. Isso é tão verdade
que em 1954 Arnold Toynbee no oitavo volume de sua obra Study of History
denominou o período pós-segunda guerra mundial de idade pós-moderna76.

Jair Ferreira dos Santos acrescenta que o fim do modernismo e início do

71
CAMPOS, Heber Carlos de. O Plurarismo do Pós-Modernismo. Fides Reformata, São Paulo, v. 2,
n. 1, 1997
72
PERRY, Anderson. As Origens da Pós-Modernidade. Trad. Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1999, p. 9-10
73
Ibidem, GRENZ, Pós-Modernismo: Um guia para entender a filosofia do nosso tempo, p. 35
74
Ibidem, PERRY, As Origens da Pós-Modernidade, p. 10
75
Ibidem, PERRY
76
Ibidem, PERRY
32

pós-modernismo se dá no ano de 1950, em função de drásticas mudanças – em sua


concepção - que algumas áreas do conhecimento como a ciência, artes e sociedades
avançadas77, sofreram nesse período. Para o autor, o pós-modernismo começa a ganhar
corpo nos idos de 1950 quando passa a influenciar a informática78 através da
massificação de tecnologias eletrônicas cujo propósito era inundar, saturar de forma
individual e massificada a sociedade com informações, diversões, bem como serviços.

Ainda na década de 50, o pós-modernismo além de utilizar-se da


informática para ganhar corpo e se solidificar, também lançou suas garras sobre a
econômia79 desenvolvendo agora um espírito consumista na sociedade afirmando que
seu hedonismo, ou seja, a sua busca pelo prazer só será satisfeita caso esse indivíduo
a cada dia adquira mais e mais bens de consumo.

Santos ainda acrescenta que o movimento pós-moderno também utilizou-


se de movimentos como a “arte Pop80”, a arquitetura, bem como os romances, para
aumentar ainda mais seus raios de alcance. Inclusive, afirma-se que é nesse período –
idos de 1960 – e através desses movimentos que a pós-modernidade definitivamente
se solidifica81, dando o golpe de misericórdia no movimento modernista ao propor um
modelo de arte mais descontraído82, sem ser levado muito a sério, como ocorria nos
tempos modernos. Por fim, Santos demonstra que a pós-modernidade tornou-se um
caminho sem volta quando quando passou a fazer parte da “filosofia83” na década de
1970, propondo uma nova forma de crítica à vida e cultura dos “países ocidentais”.

Não obstante, Heber Carlos de Campos apresenta-nos um dado a mais.


Segundo o autor, embora o modernismo até então pautado por uma cosmovisão
“científica materialista84” tenha prevalecido durante grande parte do século XIX e no
século XX tenha aderido ao “marxismo, facismo, positivismo e existencialismo85”
como suas filosofias norteadoras do pensamento, esse veio a sucumbir e encerrar seu

77
SANTOS, Jair Ferreira dos. O Que é Pós-Moderno. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986, p. 8
78
Ibidem, SANTOS, O Que é Pós-Moderno, p. 9
79
Ibidem, SANTOS, p. 10
80
Ibidem, SANTOS, O Que é Pós-Moderno, p. 10
81
LEITE, Luciana de A. Pós-Moderno: A problemática do pós-moderno no campo artístico. Disponível
em: <http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo6/posmoderno.html>. Acesso
em: 04 Mai 2016
82
Ibidem, LEITE, Pós-Moderno: A problemática do pós-moderno no campo artístico
83
Ibidem, LEITE
84
Ibidem, CAMPOS, O Plurarismo do Pós-Modernismo, v. 2, n. 1
85
Ibidem, CAMPOS
33

domínio com a queda do muro de Berlim em 198986, período esse marcado não
somente pelo fim do domínio comunista na Europa, mas também pelo fim da era
moderna, período em que o pós-modernismo se instalou de uma vez por todas como o
espírito dominante de nossa época.

Ocorre então o início de uma nova forma de pensar baseada


principalmente no questionamento, ou seja, passa-se a questionar os padrões morais87
até então estabelecidos, bem como, a própria existência de uma verdade absoluta, algo
que até então nenhum sistema ou época havia ousado fazê-lo.

2.1.2. DEFININDO A PÓS-MODERNIDADE

Alister McGrath, Rubens Amorese e Susy Elaine formam um coro


uníssono quanto a dificuldade de se formular um conceito a respeito do que é pós-
modernidade. Isso ocorre por duas razões. A primeira dificuldade quanto a uma
definição concisa do que é pós-modernidade repousa na falta de unanimidade a
respeito do que é modernidade88. Em outras palavras, não há como definir
concisamente algo quando ainda paira dúvidas quanto aquilo que o pós-modernismo
se propoe a substituir. A segunda razão é em função da falta de unanimidade entre
aqueles que se propõem a estudar o assunto89, ou seja, em razão da pluralidade de
conceitos e definições concernentes à pós-modernidade, resta prejudicada – em suas
concepções – a tentiva de construir um conceito que abarque toda a sua dimensão.
Rubens Amorese é ainda mais incisivo quanto a essa realidade, ao afirmar o seguinte:

O que é a pós-modernidade? Resposta: não sei. E tem mais:


ninguém sabe. Se soubessem, não a chamavam de "pós alguma
coisa". Chamavam-na pelo nome. Mas chamam-na de pós-
modernidade porque só sabem até a modernidade90.

86
Ibidem, CAMPOS
LOPES, Augustus Nicodemus. Hermenêuticas Pós-Modernas: Conferência Fiel Portugal. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=ygnvt0BrU-k>. Acesso em 04 Mai 2016. Augustus
Nicodemus também concorda com Heber Campos que o marco que define o fim do modernismo e início
da pós-modernidade é a queda do Muro de Berlim.
87
Ibidem, LOPES, Hermenêuticas Pós-Modernas
88
MCGRATH, Alister. Paixão Pela Verdade: A coerência intelectual do evangelicalismo. Trad. Hope
Gordon Silva. São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 155
89
Ibidem, FREITAS, As Características da Pós-Modernidade como Influência da Videoarte
Contemporânea. v. 8, n. 2, p. 68-69
90
Ibidem, AMORESE, Pós-Modernidade e o Desafio da Aliança
34

Embora haja tais dificuldades, vejamos algumas propostas de definições e


conceitos a respeito da pós-modernidade.

Alister McGrath é um dentre aqueles que formam o coro quanto as


dificuldades a respeito de uma definição e conceituação da pós-modernidade, mas
mesmo assim não se exime de também oferecer a sua parcela de contribuição quanto
ao assunto. Assim, define pós-modernidade da seguinte forma.

O pós-modernismo é geralmente entendido como algo de


sensibilidade cultural sem absolutos, certezas fixas ou fundamentos,
que se deleita no pluralismo e divergência, e que objetiva pensar
profundamente o “estabelecimento” radical de todo o pensamento
humano. Em cada um desses assuntos, isso pode ser visto como uma
reação consciente e deliberada contra a totalização do Iluminismo91.

Willian Lane Craig enxerga a pós-modernidade como algo extremamente


nocivo à saúde do cristianismo por contrapor-se à crença da existência de uma verdade
absoluta.

O pós-modernismo representa um grande desafio à missão da


apologética crista, em especial, por causa de suas visões em relação
à verdade, à racionalidade e à linguagem. [...] A razão é que os pós-
modernistas rejeitam as noções de verdade absoluta e de
racionalidade efetiva, assim como a noção de que a linguagem pode
comunicar, de maneira clara, assuntos de significado supremo92.

Stanley J. Grenz define a pós-modernidade como um conjunto de ideias


que visam romper definitivamente com todos os valores e conceitos construídos pela
modernidade, além de também defini-la como uma filosofia que rompe com a ideia de
uma única cosmovisão, afirmando existir uma pluralidade de cosmovisões.

O pós-modernismo [...] trata-se de uma revolução no conhecimento.


De modo mais específico, a era pós-moderna marca o fim do
“universo” – o fim da cosmovisão que a tudo abrange. [...] Os pós-
modernos rejeitam a possibilidade da construção de uma
cosmovisão única correta e contentam-se simplesmente em falarem
de muitas visões e, consequentemente, de muitos mundos93.

Por fim, Gene Edward Veith, Jr define a pós-modernidade como uma


corrente de pensamento que exclui por completo a ideia de verdade absoluta. Em sua
visão, a pós-modernidade possibilita a cada indivíduo construir e tornar-se detentor de

91
Ibidem, MCGRATH, Paixão Pela Verdade: A coerência intelectual do evangelicalismo, p. 155
92
CRAIG, Willian Lane. Ensaios Apologéticos: Um estudo para uma cosmovisão cristã. Trad. José
Fernando Cristófalo. São Paulo: Hagnos, 2006, p. 282
93
Ibidem, GRENZ, Pós-Modernismo: Um guia para entender a filosofia do nosso tempo, p. 68
35

uma verdade, que obrigatoriamente necessita ser aceita pelos demais.

[...] os pós-modernistas rejeitam totalmente a verdade objetiva. [...]


O que as pessoas consideram ser verdade varia, segundo os pós-
modernistas, de cultura para cultura, cada qual construindo o seu
próprio sistema de crenças. As pessoas também constroem suas
próprias verdades ao escolherem suas próprias crenças e seus
próprios significados a partir de suas próprias razões pessoais.
Consequentemente, a verdade é relativa94.

Os quatro autores, embora utilizando-se de termos diferentes, assumem


que a pós-modernidade, primeiramente tem por objetivo romper total e
definitivamente com os conceitos, valores e verdades do modernismo e, em um
segundo momento, destacam que a pós-modernidade também tem por objetivo refutar
a ideia de que há uma verdade absoluta, pelo contrário, o pós-modernismo defende que
cada tempo, cada cultura e cada indivíduo é responsável por construir a sua própria
verdade e que essa necessita ser aceita e respeitada como tal pelos demais indivíduos.

Diante desses e de outros testemunhos, definimos a pós-modernidade


como uma corrente de pensamento que tem por objetivo libertar-se das amarras que
prendem os pensamentos e valores a uma única forma ou a uma única visão,
valorizando a pluralidade e a multiplicidade de ideias, conceitos e valores, concedendo
liberdade ao indivíduo a fim de que ele por si mesmo crie seu próprio edifício teórico
e de valores.

2.1.3. CARACTERÍSTICAS DA PÓS-MODERNIDADE

Conforme já conceituado anteriormente, a pós-modernidade tem por


objetivo romper com todos os conceitos, valores e ideias construídos pela
modernidade. Desse modo, a primeira característica que encontramos na pós-
modernidade é a relativização da verdade.

Enquanto que na modernidade cria-se na existência de um sentido objetivo


e que se podia chegar à verdade absoluta, ou seja, aquilo que é definido como verdade
em um determinado tempo e lugar95, torna-se verdade para todos os tempos, lugares e

94
VEITH JR, Gene Edward. De todo o teu entendimento: Pensando como cristão num mundo pós-
moderno. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 56-57
95
OPPENHEIMER, Mike. A Arte do Humanismo no Mundo de Hoje. Disponível em: <http://www.eis
meaqui.com.br/estudos-biblicos/4128-verdade-absoluta-x-verdade-relativa>. Acesso em: 04 Mai 2016
36

para todos os indivíduos, na pós-modernidade isso já não existe.

Para os pós-modernistas não existe um logos transcendental96, a verdade


das verdades, mas que as verdades são relativas, ou seja, são verdades para uns e não
são verdades para outros, são verdades em um determinado tempo e lugar, mas deixam
de ser em outros tempos e lugares, cada indivíduo é responsável por determinar aquilo
que é certo ou errado97. D. Estevão Bettencourt define o relativismo pós-moderno da
seguinte forma:

O relativismo é uma corrente que nega toda verdade absoluta e


perene assim como toda ética absoluta, ficando a critério de cada
indivíduo definir a sua verdade e o seu bem. Opõe-se-lhe o
fundamentalismo, que afirma peremptoriamente a existência de
algumas verdades e algumas normas fundamentais... O indivíduo se
torna o padrão ou a medida de todas as coisas. Tal atitude está
baseada em fatores diversos, entre os quais o historicismo: com
efeito a história mostra que tudo evolui e se tornam obsoletas coisas
que em tempos passados eram plenamente válidas98.

Na visão de D. Estevão Bettencourt, no pós-modernismo o indivíduo é


responsável por chancelar ou recusar algo como verdade. A verdade na pós-
modernidade depende da cosmovisão daquele que se põe a analisar os fenômenos e
não mais os métodos científicos como o fora na modernidade. Assim, a verdade se
ergue ou se dissolve conforme cada indivíduo, tempo ou lugar que bem lhe aprouver.

Assim, em tempos pós-modernos, uma cultura, um povo ou alguma ala da


sociedade não pode requerer para si o domínio da verdade. Isso porque, cada tempo,
cada povo, cada cultura tem a sua própria verdade, constrói seu próprio arcabouço
daquilo que acredita ser verdadeiro, daquilo que acredita ser a melhor regra de conduta,
cabendo aos demais não manifestar nenhum tipo de oposição. Pelo contrário, deve
inseri-la em meio ao panteão de verdades que a pós-modernidade erigiu a partir do seu
nascedouro.

Não obstante, uma segunda característica da pós-modernidade é o


completo repúdio a qualquer conceito de neutralidade. Durante a modernidade
desenvolveu-se a crença de que era totalmente possível analisar e interpretar

96
VEITH JR, Gene Edward. Tempos Pós-Modernos: Uma avaliação cristã do pensamento e da cultura
da nossa época. São Paulo: Cultura Cristã, 1999, p. 30
97
Idem, OPPENHEIMER, A Arte do Humanismo no Mundo de Hoje
98
BETTENCOURT, D. Estevão. O Que é o Relativismo? Revista Pergunte e Responderemos. Rio de
Janeiro, n. 531, 2006, p. 394
37

determinado objeto ou assunto de forma totalmente neutra, ou seja, totalmente isento


de pressupostos que todo indivíduo carrega em si. No caso do Cristianismo, afirmava-
se que era possível interpretar textos das Escrituras Sagradas de modo totalmente
isento, neutro, sem que a teologia do indivíduo influenciasse tal interpretação. Na pós-
modernidade esse conceito foi abolido, pois desenvolveu-se a crença de que são os
pressupostos tácitos de cada indivíduo que são responsáveis por determinar o modus
operandi como a interpretação será realizada, bem como os seus resultados. Marcos
Neira discorrendo sobre o assunto afirma o seguinte:

A interpretação de fenômenos sociais e a construção de


conhecimentos são campos de lutas simbólicas disputadas pelos
diversos grupos culturais que compõem a sociedade e tentam fazer
prevalecer suas concepções de mundo. Todo pesquisador está
influenciado por valores e experiências pessoais, familiares e
profissionais, consequentemente não há como reclamar uma
posição neutra de quem investiga ou do conhecimento produzido. O
discurso da neutralidade é pura ingenuidade de alguns e esperteza
de outros, que empregam o artifício para garantir a hegemonia. Daí
a necessidade da multiplicidade de vozes no desenrolar da pesquisa,
principalmente daquelas marginalizadas, bem como da explicitação
do posicionamento político e epistemológico do pesquisador. Tanto
uma como a outra são elementos imprescindíveis para a construção
da pesquisa na perspectiva da bricolagem99.

Marcos Neira reforça aquilo já fora afirmado anteriormente. Não há


qualquer possibilidade de se realizar uma pesquisa sem que os pressupostos e os
paradigmas do pesquisador influenciem em seu trabalho. Em outras palavras, ele
afirma que o conceito de neutralidade científica não passa de um grande mito da
modernidade e que a presença de tais pressupostos e paradigmas são indispensáveis a
um processo de pesquisa científica confiável.

Ademais, transpondo novamente esse conceito para o cristianismo, chega-


se inevitavelmente à conclusão não há como aproximar-se das Escrituras Sagradas a
fim de interpreta-la sem que os pressupostos, paradigmas e a sua teologia não
influencie nos resultados obtidos através de seu labor, ou seja, os conceitos, valores e
ideias presentes no indivíduo é que determinarão os resultados que serão colhidos.

Uma terceira característica presente na pós-modernidade é o politicamente

99
NEIRA, Marcos Garcia. O Currículo Cultural da Educação Física em Ação: A perspectiva dos seus
autores. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2011, p. 63. Disponível em: <http://www.gpef.fe.usp.
br/teses/agenda_2012_04.pdf>. Acesso em: 04 Mai 2016
38

correto. Na modernidade eram comuns os embates, as discussões, as discordâncias, as


críticas em torno de assuntos, posturas, valores e ideias. Com a chegada da pós-
modernidade criou-se um respeito exacerbado100 às diferenças, uma preocupação
descomunal a fim de que ninguém se sinta ofendido com as opiniões alheias,
impedindo assim em muitos casos que juízos de valor sejam emitidos sobre
determinado assunto. Augustus Nicodemus Lopes, em uma de suas homilias enquanto
chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie define o politicamente correto da
seguinte forma:

Nesta época de pós-modernidade, surgiu o conceito do


politicamente correto – na mentalidade pluralista e inclusivista, a
opinião e as convicções de todos têm de ser respeitadas. A razão
para esse “respeito” é que a opinião de um é vista como tão
verdadeira quanto a do outro. Assim, torna-se politicamente
incorreto criticar as opiniões, a conduta e as preferências morais,
políticas, religiosas de alguém. Devem-se amenizar os comentários
críticos com eufemismos ou generalidades que não ofendam. Já que
não existem conceitos absolutos na área de religião e de moral, não
pode haver proselitismo, isto é, alguém tentar convencer o outro a
mudar de religião ou de comportamento101.

Através da conceituação do politicamente correto proposta por Augustus


Nicodemus podemos depreender que esta característica da pós-modernidade é uma
consequência da relativização da verdade. Pois, a partir do momento onde se institui
uma pluralidade de verdades e, que essas devem ser aceitas como tais, nenhum
indivíduo pode criticar ou emitir uma opinião contrária a determinado assunto a fim
de que a sua opinião pareça melhor ou mais confiável que as demais. Deve haver um
respeito mútuo de opiniões e práticas.

A quarta e última característica da pós-modernidade é a inversão de


valores. Assim como o politicamente correto, a inversão de valores é também resultado
da perda dos absolutos. A razão para tal afirmação é simples. A partir do momento em
que a verdade é polarizada102, ou seja, deixa de ser absoluta e passa a ser relativa, e
essa não estando iluminada à luz das Escrituras Sagradas, deixa-se de ter um padrão,
uma regra ou um modelo norteador de valores a ser seguido, cujo resultado será que o

100
GRUDA, Mateus Pranzetti Paul. Os Discursos do Politicamente Correto e do Humor Politicamente
Incorreto na Atualidade. Assis: Unesp. Disponível em: <http://www.assis.unesp.br/Home/PosGradua
cao/Letras/ColoquioLetras/Mateus_Gruda.pdf>. Acesso em: 04 Mai 2016
101
LOPES, Augustus Nicodemus. Fundamentos. São Paulo: Mackenzie. Disponível em: <http://www.
mackenzie.br/fundamentos.html>. Acesso em: 04 Mai 2016
102
Ibidem, PERRY, As Origens da Pós-Modernidade, p. 109
39

certo tornar-se-á errado e o que é errado tornar-se-á certo, conduzindo a sociedade de


nossos tempos a um profundo, perturbador e desesperador caos moral103.

Por fim, tais características acabaram por afetar todas as áreas do


conhecimento e do viver humano, regulando o modo pelo qual o conhecimento é agora
concebido, bem como as relações interpessoais. Logo, o cristianismo – principalmente
o estudo e interpretação das Escrituras - não passa ileso a tais características e
implicações da pós-modernidade. Isso porque, em tempos pós-modernos, as verdades
fundamentais das Escrituras estão sendo duramente atacadas, relativizadas, algumas
invalidadas, vistas como inúteis e até mesmo arrogantes. Pois, na ótica dos pensadores
pós-modernos as verdades escriturísticas não são politicamente corretas, bem como
verdades absolutas.

Contudo, ao analisar esse movimento e observar o seu trato para com as


Escrituras, pode-se concluir que ele não inventou uma nova forma de estudar e
interpretar a Palavra de Deus, mas que utiliza-se de métodos anteriores à pós-
modernidade, que já colocavam em cheque a veracidade e a infalibilidade104 das
Escrituras Sagradas. Embora a hermenêuticas pós-modernas quanto a interpretação da
Palavra de Deus tenha surgido no século XX, o ventre que as gerou encontra-se
anterior a isso, mais especificamente, no liberalismo teológico e seu método histórico-
crítico de interpretação das Escrituras que tinham como objetivo primaz colocar em
cheque a doutrina da infalibilidade.

2.2. O MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO

Se o ventre das hermenêuticas pós-modernas encontram-se na crítica


bíblica, que compreende tanto o método histórico-crítico, bem como a baixa crítica, o
ventre destes é o Iluminismo. O Iluminismo apregoava que o homem só poderia
conhecer a realidade a sua volta e dar respostas ao problemas existentes através da
razão105. Essa perspectiva racional de ler a realidade acabou por adentrar ao

103
Ibidem, CAMPOS, O Plurarismo do Pós-Modernismo, v. 2, n. 1
104
CASA PUBLICADORA DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS. Os métodos de interpretação da Bíblia:
Conheça cada um deles, evite equívocos e pratique uma hermenêutica sadia. Rio de Janeiro:
CPADNEWS, 2013. Disponível em: <http://cpadnews.com.br/conteudo-exclusivo/14765/os-metodos-
de-interpretacao-da-biblia-(parte-1).html>. Acesso em: 09 Mai 2016
105
SÓHISTÓRIA. O Iluminismo: Pensadores e características. Disponível em:
<http://www.sohistoria.com.br/resumos/iluminismo.php>. Acesso em: 09 Mai 2016
40

cristianismo, dando início àquilo que ficou conhecido como liberalismo teológico.
Logo, o liberalismo teológico influênciado pelo Iluminismo e pela filosofia
racionalista, rompe com o método histórico-gramatical, método este adotado pelos
reformadores do século XVI e aqueles que vieram a posteriori, implantando uma nova
forma de interpretar as Escrituras que ficou conhecido como método histórico-crítico.

O método histórico-crítico encontra-se totalmente em oposição ao método


histórico-gramatical, pois esee tinha como ponto de partida a análise da intenção do
autor106, ou seja, buscava-se entender quais eram as razões e as intenções do autor ao
redigir determinada porção das Escrituras. Já o método histórico-crítico não tem por
objetivo analisar as intenções do autores da Bíblia, pelo contrário, a sua abordagem
passa a ser de questionamento quanto a redação daquela porção das Escrituras
Sagradas. Segundo Augustus Nicodemus o método histórico-crítico surge a partir das
palavras do teólogo liberal J. Solomo Semler que afirmou o seguinte: “A raiz de todos
os males (na teologia) é usar os termos ‘Palavra de Deus’ e ‘Escritura’ como se fossem
idênticos”107. A partir disto pode concluir-se que as Escrituras não são em sua totalidade
a Palavra de Deus. Logo, essa não pode ser considerada infalível e inerrante, pelo
contrário, deve ser vista como um livro cheio de erros e inverdades. Assim, o método
histórico-crítico tem por objetivo encontrar dentro do todo das Escrituras, aquilo que seja
de fato a Palavra de Deus.

2.2.1. CRÍTICA DAS FONTES

O método histórico-crítico acabou por gerar diversos tipos de


aproximações críticas das Escrituras. Uma destas aproximações é a chamada crítica
das fontes.

A crítica das fontes surgiu com um indivíduo chamado Jean Astruc. Este
indivíduo ao estudar o livro de Gênesis chegou à conclusão que Moisés valeu-se de

106
Ibidem, CASA PUBLICADORA DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS, Os métodos de interpretação
da Bíblia: Conheça cada um deles, evite equívocos e pratique uma hermenêutica sadia.
107
SEMLER, J. S. Abhandlung von freier Untersuchung des Canon, em Texte zur Kirchen- und
Theologiegeschichte, 68 (Gütersloh, 1967), p. 52, apud LOPES, Augustus Nicodemus. O Dilema do
Método Histórico-Crítico na Interpretação Bíblica. Fides Reformata, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 121,
2005
Ibidem, CASA PUBLICADORA DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS, Os métodos de interpretação da
Bíblia: Conheça cada um deles, evite equívocos e pratique uma hermenêutica sadia.
41

algumas fontes de dados para redigir a história narrada em tal livro. Para a crítica das
fontes, o relato de Gênesis não foi expirado, soprado por Deus, mas Moisés utilizou-
se de dados já existentes para redigi-lo. Augustus Nicodemus a este respeito ele diz o
seguinte:

No Antigo Testamento, a chamada crítica das fontes tem a sua


origem no comentário de Gênesis (1753) de Jean Astruc, um médico
francês, onde ele defende que Moisés teria usado duas fontes
diferentes para escrever Gênesis, uma que se refere a Deus como
Elohim e outra que se refere a Deus como Yahweh108.

Quanto ao Novo Testamento, a crítica das fontes aplica o mesmo método,


ou seja, visa descobrir quais foram as fontes utilizadas pelos autores na redação de
cada um livros que compõem essa porção das Escrituras. Os principais nomes que
concentraram seus esforços a fim de desmonstrarem “tal verdade” são C. H. Weisse
(1838) e P. Wernle (1899)109.

Desse modo, pode-se definir a crítica das fontes como um método que tem
por objetivo reconhecer quais foram as fontes – essas de diferentes tempos e lugares –
utilizadas na redação e confecção de determinado livro das Escrituras Sagradas. A esse
respeito lemos o seguinte:

Crítica das Fontes – Partia do princípio de que os textos bíblicos


eram edições feitas a partir de várias fontes diferentes, e usavam
como pista qualquer aparente diferença de vocabulário ou estilo,
repetições de histórias e digressões. A primeira hipótese desse tipo
de crítica foi a Hipótese Documentária, que cria nas fontes Eloísta,
Javista, Deuteronomista e do Quarto Documento no Antigo
Testamento110.

Esse método não leva em conta a possibilidade dos autores terem utilizado-
se de diversos termos para falarem do mesmo assunto ou de uma mesma pessoa,
demonstrando assim uma riqueza de vocabulário. Ao contrário, encaram essas
variações como fontes de dados diferentes umas das outras, concluindo assim que as
Escrituras possuem erros e que de modo algum podem ser inspiradas por Deus,
levando-as a um profundo descrédito.

108
LOPES, Augustus Nicodemus. O Dilema do Método Histórico-Crítico na Interpretação Bíblica.
Fides Reformata, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 123, 2005
109
Ibidem, LOPES, O Dilema do Método Histórico-Crítico na Interpretação Bíblica, v. 10, n. 1, p.
124
110
Ibidem, CASA PUBLICADORA DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS, Os métodos de interpretação
da Bíblia: Conheça cada um deles, evite equívocos e pratique uma hermenêutica sadia.
42

2.2.2. CRÍTICA DA FORMA

Enquanto que a crítica das fontes tem por finalidade demonstrar que os
autores bíblicos lançaram mão de fontes de vários tempos e lugares para
confeccionarem seus escritos, a crítica da forma tem por objetivo demonstrar que as
palavras ditas por Jesus, relatadas nos Evangelhos, por exemplo, não são
verdadeiras111, ou seja, a igreja a fim de que seus objetivos fossem alcançados, acabara
por adultera-las e deturpa-las a seu bel prazer. O críticos da forma ainda afirmam que
o objetivo primaz dessa aproximação reside na busca pela verdade, ou seja, encontrar
as reais palavras de Jesus112, por exemplo, quando essas ainda não foram deturpadas
por parte da história ou da igreja quando esses resolveram por redigi-las. Em outras
palavras, quando essas ainda encontravam-se em sua fase oral113. Pois, na visão dos
críticos da forma as Escrituras foram a Palavras de Deus quando essas ainda
encontravam-se em sua fase oral de transmissão. Na visão dos críticos da forma as
Escrituras não são a Palavra de Deus expirada a seus autores através do Espírito Santo,
mas sim um livro literário como qualquer outro. Leonardo Gonçalves conceitua a
crítica da forma nas seguintes palavras:

A premissa fundamental da crítica formal é que os evangelhos são


o produto do labor da igreja primitiva. Os autores dos evangelhos
procuraram unir várias tradições orais independentes e
contraditórias que existiam na igreja antes que fosse escrito o Novo
Testamento. Essas tradições orais também não são dignas de
confiança, consistindo basicamente de ditos e relatos individuais
referentes a Jesus e aos seus discípulos. A igreja ajuntou essas
tradições e usou em forma de narrativa, inventando lugares, tempos
e enlaces para unir as tradições independentes114.

Há um consenso que o principal expoente da crítica da forma é Rudolph


Bultmann e que esse método tornou-se mais conhecido através da publicação de sua
obra denominada A História da Tradição Sinótica115. Nessa obra Bultmann procura
provar que na redação do Evangelho de Marcos o autor utilizou-se de inúmeras fontes

111
GONÇALVES, Leonardo. Crítica da Forma: O método investigativo de Rudolf Bultmann.
Disponível em: <https://teologiacontemporanea.wordpress.com/2009/10/07/critica-da-forma-o-
metodo-investigativo-de-rudolf-bultmann/>. Acesso em 09 Mai 2016
112
Ibidem, LOPES, O Dilema do Método Histórico-Crítico na Interpretação Bíblica, v. 10, n. 1, p.
125
113
OSBORNE, Grant R. A Espiral Hermenêutica: Uma nova abordagem à interpretação bíblica. São
Paulo: Vida Nova, 2009, p. 256
114
Ibidem, GONÇALVES, Crítica da Forma: O método investigativo de Rudolf Bultmann
115
Ibidem, LOPES, O Dilema do Método Histórico-Crítico na Interpretação Bíblica, v. 10, n. 1, p.
126
43

de dados, compilando-as em um único bloco, dando a roupagem necessária para que


os objetivos que a igreja tinha em mente fossem alcançados. Bultmann assim como os
críticos das fontes não cria que as Escrituras Sagradas são a Palavra de Deus em sua
totalidade, mas sim que ela a contém. Inclusive chega a afirmar que no caso dos
Evangelhos, menos de dez porcento116 daquilo que se afirma ser as palavras de Jesus,
realmente o são.

2.2.3. CRÍTICA DA REDAÇÃO

Se para crítica das fontes o importante é identificar quais e quantas fontes


foram utilizadas pelos autores e para a crítica da forma o mais importante é a
transmissão oral, pois a transmissão escrita encontra-se comprometida, para a crítica
da redação o que mais importa é o o redator das Escrituras Sagradas. Grant Osborne
destaca o seguinte a respeito da crítica da redação.

A nova escola acredita que os Evangelhos são o resultado de


composição, sendo todos literários em vez de compilações
artificiais. A chave é perceber como o redator (editor) usou as suas
fontes e então determinar o propósito teológico por trás dessas
variações117.

A partir das palavras de Osborne podemos concluir que o redator é de suma


importância para o entendimento da forma final dos textos por ele redigidos e
transmitidos aos seus leitores. Pois, são esses redadores os responsáveis pela
mensagem na forma como essas se encontram. Eles foram os responsáveis por se
apropriarem das fontes existentes e dar-lhes os contornos finais a fim de que uma
mensagem una fosse entregue118 para que os objetivos da igreja quanto ao ensino,
evangelização e doutrinação pudessem ser alcançados. Em razão desse importante
papel dos redatores na composição dos Escritos Sagrados, é a eles que deve-se recorrer
a fim de compreender a mensagem, as intenções e os propósitos do texto em suma.

Como observado até aqui, a crítica da redação também tem por finalidade
descontruir a ideia de que as Escrituras Sagradas são a Palavra de Deus. Em razão de

116
Ibidem, CASA PUBLICADORA DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS, Os métodos de interpretação
da Bíblia: Conheça cada um deles, evite equívocos e pratique uma hermenêutica sadia.
117
Ibidem, OSBORNE, A Espiral Hermenêutica: Uma nova abordagem à interpretação bíblica, p. 257
118
Ibidem, LOPES, O Dilema do Método Histórico-Crítico na Interpretação Bíblica, v. 10, n. 1, p.
127
44

tal objetivo, este método também acabou por contribuir para a disseminação da crença
de que a Bíblia é sim cheia de falhas e erros e que a doutrina da infalibilidade das
Escrituras é uma farsa. Isso porque, a crítica da redação deposita integralmente no
redator a responsabilidade pela forma final das Escrituras a que temos acesso.Pois, em
última instância foi a sua vontade que acabou por prevaceler sobre o texto e não a
vontade do Espírito Santo através dos diversos autores que as Escrituras possuem.

Ademais, foi também através de um comentário bíblico do livro de Gênesis


denominado de Das erste Buch Mose, Genesis de autoria de um teólogo denominado
Gerhard von Rad119 que a crítica da redação começou a ganhar seus primeiros
contornos. Nesta obra von Rad envida todos os seus esforços tentando sempre
descobrir as intençoes e propósitos do autor a respeito daquilo que ele estava a
transmitir.

2.3. HERMENÊUTICAS PÓS-MODERNAS

Após o método histórico-crítico causar enormes estragos ao longo do


século XIX no que tange ao estudo e interpretação das Escrituras Sagradas,
principalmente ao questionar sua veracidade e infalibilidade, o século XX vê emergir
a partir do método histórico-crítico aquilo que passou a ser denominado de
hermenêticas pós-modernas. Se a pós-modernidade tem por objetivo romper com
todos os grilhões da modernidade, descontruindo todos os seus conceitos, valores e
ideias, as hermenêuticas pós-modernas também seguem o mesmo caminho, pois
procuram implantar uma nova forma de interpretação das Escrituras, desconsiderando
e reijeitando as intenções e propósitos do autor, transferindo toda ênfase para o leitor,
ou seja, é o leitor, com seus pressupostos e paradigmas quem irá determinar o real
sentido do texto a partir de agora. A respeito das hermenêuticas pós-modernas, Moisés
Silva discorre o seguinte:

A ascensão do Novo Cristicismo (nos estudos literários norte-


americanos) chamou a atenção para o fato de que os textos literários
têm determinado significado por si mesmos, independente da
intenção original do autor. Especialmente quando aplicados à
Bíblia, essa visão minimiza a historicidade das narrativas. Além
disso, uma crescente ênfase no papel do leitor introduzia um forte

119
Ibidem, LOPES, O Dilema do Método Histórico-Crítico na Interpretação Bíblica, v. 10, n. 1, p.
127
45

elemento de subjetividade ao trabalho de interpretação. Apesar de,


possivelmente, ser verdade que não devemos identificar o
significado de um texto de maneira total e exclusiva com aquilo que
o autor pretendia conscientemente comunicar, é um erro grave
deixar de lado o conceito da intenção do autor ou mesmo relegá-lo
a um segundo plano120.

Moisés Silva em suas palavras não só identifica o modus operandi das


hermenêuticas pós-modernas, como também faz um importante alerta quanto aos
perigos desse método interpretativo das Escrituras que surge a partir de meados do
século XX. Ele enfatiza que de modo algum o conhecimento pode ser formado a partir
de uma total negativa dos interesses e propósitos do autor, ao contrário, que esses
devem sim ser levados em consideração, mesmo que não em sua totalidade a fim de
que a formação do conhecimento não se torne algo exclusivamente subjetivo.

2.3.1. DESMITOLOGIZAÇÃO

A desmitologização tem como principal nome o teólogo liberal Rudolph


Bultmann. Ele introduziu essa nova hermenêutica através de sua obra Jesus Cristo e
Mitologia, publicada em alemão no ano de 1958121. Bultmann influenciado pelo
existencialismo122, afirma que a linguagem empregada no Novo Testamento está
totalmente envolta por mitologias e sobrenaturalidade, isso por culpa dos pressupostos
e paradigmas aos quais seus autores estavam envolvidos quando conceberam cada um
de seus escritos. Em razão disso, Bultmann propõe que uma nova leitura seja imposta
aos relatos neotestamentários, leitura essa totalmente desprovida dessa linguagem
sobrenatural e mitológica, ou seja, todos os milagres, intervenções divinas e
demoníacas e eventos sobrenaturais sejam extirpados das Escrituras a fim de que se
encontre o verdadeiro cânon em meio a tudo o que foi registrado. Observemos o que
o próprio Bultmann diz a respeito:

Ninguém que seja adulto o suficiente para pensar por conta própria

120
KAISER JR, Walter C; SILVA, Moisés da. Introdução à Hermenêutica Bíblica: Como ouvir a
palavra de Deus apesar dos ruídos de nossa época. 2 ed. Trad. Paulo C. N. Dos Santos; Tarcízio J. F. de
Carvalho; Suzana Klassen. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 220
121
LOPES, Augustus Nicodemus. Resenha da obra: BULTMANN, Rudolph. Jesus Cristo e Mitologia.
Trad. Daniel Costa. São Paulo: Editora Novo Século, 2000, 80 p. Fides Reformata, São Paulo, v. 5, n.
2, 2000
122
CONN, Harvie M. Teología Contemporánea en el Mundo. Trad. Ewerton B. Tokashiki. Grand
Rapids: Libros Desafío, 1992, pp. 38-42. Disponível em: <http://doutrinacalvinista.blogspot.com.br/20
12/01/desmitologizacaoa-mensagem-de-rudolf.html>. Acesso em: 10 Mai 2016
46

imagina que Deus possa habitar um céu situado em algum lugar.


Não existe mais céu algum no sentido tradicional da palavra. O
mesmo se aplica ao inferno no sentido de um submundo mítico
localizado debaixo dos nossos pés. Portanto, a história segundo a
qual Cristo desceu ao inferno e subiu ao céu deve ser descartada.
Não podemos mais esperar pelo retorno do Filho do Homem nas
nuvens ou acreditar que os fiéis o encontrarão nos ares123.

Para Bultmann, a linguagem mitológica empregada pelo Novo Testamento


a fim de tornar palpável, conceitos existentes somente no imaginário dos autores
escriturísticos, não deve ser aceito nos tempos atuais. Assim, se há uma intenção em
transmitir a mensagem das Escrituras Sagradas, de forma fiel e verdadeira, ao homem
do século XX, o caminho a ser trilhado é o da desmitologização124. Na visão de
Bultmann as Escrituras Sagradas devem ser interpretadas de modo que o homem de
nossos dias possa compreende-la, ou seja, deve haver uma intepretação que respeite o
contexto existencial do indivíduo e não mais o do autor, até porque, em sua ótica o
homem atual não está mais interessado em relatos mitológicos como estavam os
autores escriturísticos em suas épocas.

2.3.2. ESTRUTURALISMO

O estruturalismo tem os nomes de Vladimir Propp e Claude Lévi-


Strauss125 como principais expoentes dessa hermenêutica pós-moderna, nomes esses
que foram responsáveis mais por sua difusão do que propriamente por sua concepção.

Ademais, o estruturalismo, enquanto método interpretativo, tem por


objetivo descobrir a verdadeira mensagem que encontra-se encoberta pela mensagem
superficial126. Para os estruturalistas o real sentido de um texto não está naquilo que o
autor expressou através de suas palavras em determinada porção de um texto, mas
encontra-se no todo da obra. Assim, se o leitor deseja encontrar o real sentido de
determinado versículo das Escrituras, por exemplo, ele não pode deter-se somente em
tal, mas deve abstrair a verdade do todo daquela passagem, bem como através da
mensagem que está oculta no texto em análise. Assim, o intérprete nesse método deve

123
BULTMANN, Rudolph, apud, SILVEIRA, Jonathan. Rudolf Bultmann e a desmitologização.
Disponível em: <http://bereianos.blogspot.com.br/2014/07/rudolf-bultmann-e-desmitologizacao.
html>. Acesso em: 10 Mai 2016
124
Ibidem, CONN, Teología Contemporánea en el Mundo
125
Ibidem, OSBORNE, A Espiral Hermenêutica: Uma nova abordagem à interpretação bíblica, p. 606
126
Ibidem, OSBORNE, p. 607
47

focalizar tanto o contexto macro do texto, quanto interpretar os signos deixados pelo
autor a fim de que se chegue ao real sentido da passagem. Grant Osborne em seu livro
A Espiral Hermenêutica cita um exemplo que esclarecerá o método estruturalista.

[...] O estruturalismo nega que a declaração de superfície de João


3.16 possa transmitir o significado do texto para o indivíduo. Em
vez disso, deve-se consultar o diálogo inteiro entre Jesus e
Nicodemos em João 3.1-15, em particular os códigos binários do
alto (Jesus) e de baixo (Nicodemos), depois aplicar esses ao
acréscimo editorial de João 3.16-21, que tem seus próprios códigos
de emissão-recepção, julgamento-salvação, crer-rejeitar, [...]. Esses
símbolos são então decifrados para descobrir a estrutura profunda,
[...], e então transformados com base nos códigos de nossos próprios
dias. O pano de fundo e a gramática de superfície não falam; são
antes as oposições dentro do texto em si que comunicam o
significado. Essas, além disso, falam diretamente a todo
ouvinte127. (Grifo nosso)

Além do mais, para os estruturalistas a mensagem que o autor desejou


transmitir no passado quando o redigiu não é mais importante. O que de fato é
importante é o que ela significa agora em nossos dias. As intenções do autor são
totalmente descartadas e o que prevalece são as impressões que o leitor retira através
daquilo que ele consegue abstrair além da superfície do texto.

2.3.3. CRÍTICA DA RESPOSTA DO LEITOR

A crítica da resposta do leitor, também conhecida como reader-response,


é mais um método hermenêutico que destaca a importância do leitor no estudo e
interpretação de um texto. A crítica da resposta do leitor afirma que no processo de
formação do conhecimento, o leitor é tão importante, e até mais, do que o próprio autor
da obra128. Tanto que David Jobling no livro A Bíblia Pós-Moderna afirma que “[...]
os textos são construídos (como quer que sejam concebidos) sempre e só por leitores
no ato da leitura”129. Na crítica da resposta do leitor não é mais o texto que exerce
domínio sobre o leitor, mas é o leitor que passa a ter o domínio sobre a obra. A partir
disso, pode-se inferir que em razão da ênfase nesse método recair totalmente sobre

127
Ibidem, OSBORNE, A Espiral Hermenêutica: Uma nova abordagem à interpretação bíblica, p. 608
128
Teoria da Crítica da Resposta do Leitor: Uma introdução. Disponível em: <http://www.shmoop.
com/reader-response-theory/>. Acesso em: 11 Mai 2016
129
JOBLING, David; et al. A Bíblia Pós-Moderna: Bíblia e cultura coletiva. São Paulo: Edições Loyola,
2000, p. 39
48

leitor, poderá assim haver uma multiplicidade de interpretações a respeito do mesmo


texto ou assunto. Logo, a única conclusão a que se pode chegar é que todas devem ser
levadas em consideração e encaradas como verdade.

Na crítica da resposta do leitor, a subjetividade, até então evitada no


processo de interpretação literária, agora é vista com bons olhos e até mesmo
incentivada. O leitor é quem a partir de agora tem a responsabilidade para criar o
significado130 da obra que tem em suas mãos. O leitor, a partir de toda a bagagem de
conhecimento e experiências é quem formará e determinará a real mensagem que o
texto está a transmitir.

Quando empregado à intepretação das Escrituras Sagradas, a crítica da


resposta do leitor também emprega a mesma metodologia, ou seja, os autores
inspirados pelo Espírito Santo, tornam-se meros expectadores nas mãos dos leitores,
cabendo aos últimos a determinação do significado da passagem em questão. Além do
mais, esses significados determinados pelo leitor podem variar não só de leitor para
leitor, mas que um único leitor pode ter várias impressões cada vez que se aproxima
do mesmo texto. Osborne ilustra muito bem essa verdade quando diz o seguinte:

Em outras palavras, o Sermão do Monte como um texto é chamado


à existência quando o leitor o vivencia. Além disso, não há
interpretação objetiva de Mateus 5-7, mas sim um ato subjetivo
quando o leitor escolhe uma estratégia de leitura e aborda o texto
em conformidade com ela. Por essa razão, leitores podem vivenciar
um texto de forma diferente cada vez que o leem131.

2.3.4. DESCONSTRUCIONISMO

O desconstrucionismo, enquanto método hermenêutico, nunca teve em seu


cerne objetivos religiosos, ou seja, tornar-se um método de interpretação das Escrituras
Sagradas. Todavia, o desconstrucionismo acabou por ser adotado entre alguns
estudiosos das Escrituras132, passando assim a influenciar o campo da hermenêutica
bíblica.

O principal nome do desconstrucionismo é do Jacques Derrida. Embora

130
Ibidem, OSBORNE, p. 615
131
Ibidem, OSBORNE, A Espiral Hermenêutica: Uma nova abordagem à interpretação bíblica, p. 616
132
Detweiler, 1982; Culler 1982; Ellis 1989; Burke 1992; Critchley 1992, entre outros.
49

francês, Jacques Derrida viu seus ideais ganharem força e notoriedade nos Estados
Unidos quando lá ministrou aulas na Johns Hopkins University133. Para Jacques
Derrida o pensamento, principalmente no ocidente, é formado por estruturas superiores
que impedem a inserção novas formas de pensamento no estudo e formação do
conhecimento. Para ele só há um caminho, a desconstrução, ou seja, para que o
pensamento ocidental ganhe novas roupagens, tenha contato com outras visões e
versões é necessário que essas estruturas superiores sejam colocadas a baixo a fim de
que as novas estruturas possam assumir o seu lugar ao sol.

Fazer justiça a essa necessidade significa reconhecer que, em uma


oposição filosófica clássica, nós não estamos lidando com uma
coexistência pacífica de um face a face, mas com uma hierarquia
violenta. Um dos dois termos comanda (axiologicamente,
logicamente etc.), ocupa o lugar mais alto. Desconstruir a oposição
significa, primeiramente, em um momento dado, inverter a
hierarquia134.

Para os desconstrucionalistas os textos estão repletos de erros, bem como


carregam uma carga preconceituosa a determinada ala da sociedade. Assim, cabe ao
desconstrucionismo desmantelar toda a estrutura textual a fim de encontrar tais erros,
que segundo eles, foram ali colocados pelos autores propositalmente a fim de exercer
domínio e controle sobre seus leitores. Bill Crouse diz o seguinte:

“A abordagem desconstrutiva a um "texto" [...] é a de o desmantelar,


tomando especial atenção às suas pressuposições elitistas, anti-
feministas e pouco chiques. O projecto é informado pela filosofia
segundo a qual o mundo se encontra indefinido até que alguém -
temporariamente e só segundo um estilo - o torna definido ao usar
palavras para o descrever. Uma vez que (alegadamente) as palavras
estão sempre a alterar de significado, nenhuma interpretação dessas
palavras é mais correcta que qualquer outra. A função do criticismo
é, portanto, expor a sua contradição inerente na própria ideia do
"significado" ou veracidade dum texto.”135

Assim, pode-se concluir que o objetivo do método desconstrucionalista é


o de colocar abaixo as intenções e propósitos do autor, que em sua visão é sempre o

133
GOULART, Audemaro Taranto. Notas Sobre o Desconstrucionismo de Jacques Derrida. Minas
Gerais: PUC, 2003, p. 2. Disponível em: <http://www.pucminas.br/imagedb/mestrado_doutorado/
publicacoes/PUA_ARQ_ARQUI20121011175312.pdf>. Acesso em: 11 Mai 2016
134
DERRIDA, Jacques. Posições. Trad. Tomaz Tadeu da Silva. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2001,
p. 48, apud, PREDOSO JÚNIOR, Neurivaldo Campos. Jacques Derrida e a Desconstrução: Uma
introdução. Disponível em: <http://www.encontrosdevista.com.br/Artigos/Neurivaldo_Junior_Derrida
_e_a_desconstrucao_uma_introducao_final.pdf>. Acesso em: 11 Mai 2016
135
CROUSE, Bill. Desconstrucionismo: O culto de Hermes pós-moderno. Disponível em: <http://omar
xismocultural.blogspot.com.br/2014/01/desconstrucionismo-o-culto-de-hermes.html>. Acesso em: 11
Mai 2016
50

de opressão e controle, construindo no lugar novos conceitos, ideias e valores


abstraídos a partir do manuseio do texto por parte do leitor, a fim de que os erros e
preconceitos sejam extirpados da literatura.

Portanto, embora a pós-modernidade e os movimentos dela decorrentes,


tenham a todo custo, tentado colocar em xeque o conceito de verdade absoluta que as
Escrituras carregam em si, enxergando-a como uma literatura qualquer e não como a
Palavra inspirada e inerrante de Deus, veremos no próximo capítulo alguns
argumentos, algumas respostas que tem por objetivo refutar essa ideia equivocada da
pós-modernidade em relação à Escritura Sagrada, demonstrando que essa é sim a
verdade das verdades, o logos transcendental, por isso digna de crédito e de ser crida
como a única regra de fé e de prática.
51

3. A RESPOSTA REFORMADA À RELATIVIZAÇÃO PÓS-MODERNA

A despeito de todas as controvérsias instauradas pela pós-modernidade no


que tange à veracidade, à suficiência e a autoridade das Escrituras Sagradas, a igreja
primitiva, os Pais da Igreja e posteriormente os reformadores protestantes a partir do
século XVI136, sempre creram e confiaram nas Escrituras, em nada duvidando. Isso
porque, criam que seus escritos eram inspirados, ou seja, eram advindos do próprio
Deus. Nesse diapasão, Norman Geisler tratando a respeito da doutrina da inspiração
das Escrituras afirma que tanto a igreja primitiva, quanto a igreja no período dos Pais
da Igreja sempre reconheceram a origem divina das Escrituras:

Os da era apostólica e os que de imediato lhe sucederam


reconheciam a origem divina dos escritos do Novo Testamento, ao
lado da autoridade fina do Antigo Testamento. Salvo casos de
heréticos, todos os grandes pais da igreja cristã, desde os tempos
mais remotos, creram na inspiração divina do Novo Testamento, e
assim a ensinaram. Em suma, sempre houve uma reivindicação
contínua e firme da inspiração do Antigo e do Novo Testamento,
desde o tempo de sua composição até o presente momento137.

Ademais, além da a igreja primitiva, os Pais da Igreja e posteriormente os


reformadores protestantes a partir do século XVI crerem que a Bíblia é inspirada por
Deus, eles também creram ao longo da história que essa era suficiente para governa-la
e dirigi-la, em razão do fato, de que “tudo o que aprouve Deus revelar [...] em matéria
de fé e prática”138, foi nela registrado, sem adicionar ou omitir qualquer tipo de
informação. Em outras palavras, assim como um leme direciona e conduz uma
embarcação para onde lhe aprouver, assim também o é as Escrituras no que tange à
igreja. Um exemplo que pode ilustrar muito bem essa realidade da igreja, encontra-se
no evento histórico do retorno de João Calvino, o reformador genebrino, de
Estrasburgo na Alemanha para Genebra na Suíça, depois de dois anos de sua expulsão
por parte do Parlamento139 que não acatou sua proposta de “Instrução e Confissão de
Fé Segundo os Usos da Igreja de Genebra”140. Esse retorno tão ansiado por parte dos
genebrinos, foi para que João Calvino pudesse novamente retirar da Bíblia e transmitir
a eles,

136
BAVINCK, Dogmática Reformada: Prolegômena, v. 1, p. 455
137
Ibidem, GEISLER, Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós, p. 55
138
Ibidem, ANGLADA, Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras, p. 74
139
POMPEU, Renato. Calvinismo e Democracia. Disponível em: <http://www.monergismo.com
/textos/calvinismo/calvinismo_democracia.htm>. Acesso em: 14 Jul 2016
140
Ibidem, POMPEU, Renato. Calvinismo e Democracia
52

Os princípios que deveriam reger a vida dos cidadãos daquela


cidade, tanto no que se referia às questões eclesiásticas, quanto às
demais questões que envolviam a administração e ordem na cidade.
Por esta razão, Calvino fez da pregação baseada nas Escrituras seu
principal instrumento de trabalho141.

Isso porque, o grande desejo por parte dos genebrinos era o de que as
Escrituras tomassem um lugar central na vida de todos142, não só na esfera eclesiástica,
mas também na vida civil, ou seja, os genebrinos ansiavam para que as Escrituras,
pregadas por Calvino, interferisse positivamente em todo o seu modus operandi, por
crerem que ela era infalível, logo, suficiente para dirigir e governar todas as suas
relações.

Mas, não só a igreja e os reformadores protestantes do século XVI ao longo


da história reconheceram a necessidade, a importância e a suficiência das Escrituras
quanto ao que o homem necessita saber para ser salvo e viva uma vida para o inteiro
agrado de Deus143. A própria Escritura reivindica tal suficiência. No Salmo 19.7-13
ela afirma que “a lei do Senhor é perfeita”, que “os preceitos do Senhor são retos” e
que “o mandamento do Senhor é puro” e “mais desejáveis do que o outro [...] e mais
doces do que o mel”, mas ela também declara que é por meio das Escrituras que “se
admoesta o teu servo”. Além do mais, o Salmo 19 continua declarando que é somente
através das Escrituras que o homem é iluminado, conscientizado e libertado de sua
vida pecaminosa, demonstrando desse modo a insuperável necessidade de sua
presença na vida do homem, bem como da igreja.

No entanto, a igreja e os reformadores protestantes do século XVI, além


de reconhecer as Escrituras como infalível e suficiente, também a reconheceu como a
verdade das verdades, o logos transcendental, a verdade absoluta. Isso porque,

Ela presume, dada a revelação de que Deus provê na Palavra


Bíblica, que podemos conhecer seu caráter e suas intenções de
maneira que correspondam ao que está aí. Sem dúvida, os escritores
humanos da Escritura eram falíveis, mas a obra de inspiração do
Espírito assegurou que, a despeito da falibilidade humana, a
correspondência entre seus escritos e a realidade das coisas fosse

141
MIRANDA, Daniel Leite Guanaes. Calvino e o Sola Scriptura: A aplicação deste princípio na cidade
de Genebra e a sua relevância para o Brasil nos dias atuais. Disponível em: <
http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/Calvino-Sola-Scriptura_Daniel-Leite.pdf>. Acesso em:
14 Jul 2016
142
WALLACE, Ronald. Calvino, Genebra e a Reforma. Trad. Marco Antônio Domingues Sant’anna.
São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 35
143
Ibidem, ANGLADA, Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras, p. 74
53

assegurada. O resultado foi o de uma revelação plenamente


confiável. Tal revelação reflete quem Deus é. Devido à ultimada
pureza do seu caráter, é impossível que Deus minta144.

Além das Escrituras serem a verdade porque nela Deus revelou o seu
caráter e o Espírito Santo assegurou que tudo o que fosse nela registrado se tornasse
plenamente confiável. Essa também é verdade porque nela encontramos o testemunho
de Jesus Cristo que assegura veementemente a sua veracidade. Em sua oração
sacerdotal, registrada no capítulo 17 do Evangelho de João, Jesus nos diz o seguinte:

Jo 17.17-19 17 Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. 18


Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao
mundo. 19 E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que
eles também sejam santificados na verdade145.

Em suas palavras, Jesus está afirmando que a Escritura é verdade não


porque ela se amolda, ou porque se harmoniza com algum outro padrão de verdade já
existente146, pelo contrário, que a Palavra de Deus é a própria verdade a que todas as
pseudo-verdades devem se harmonizar. A palavra verdade, usada por Jesus nesse

trecho das Escrituras é a palavra grega ἀλήθεια, que no contexto de João tem

“regularmente o sentido de realidade em contraste com a falsidade ou a mera

aparência”147 e especificamente em Jo 17.17 a palavra ἀλήθεια tem o sentido de que

a “palavra da parte de Deus é válida, eficaz, e não é falsa de modo algum; pelo
contrário, está de acordo com a realidade. É todas estas coisas precisamente porque é
a palavra reveladora do próprio Deus.”148

Desse modo, em tempos pós-modernos onde as Escrituras Sagradas não


são mais consideradas como a verdade absoluta, mas simplesmente a verdade dos
cristãos, devemos seguir os sábios conselhos de James M. Boice, que assevera as
seguintes palavras:

Portanto, uma visão elevada da Bíblia e um forte comprometimento


com a Palavra de Deus fortalecerão o cristão contra a aparente maré

144
WELLS, David F. Coragem Para Ser Protestante. Trad. Wadislau Gomes. São Paulo: Cultura Cristã,
2010, p. 75
145
BÍBLIA SAGRADA. Trad. João Ferreira de Almeida. Ed. Revista e Atualizada no Brasil. 2 ed.
Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999
146
COSTA, Hermisten Maia Pereira da. Introdução à Cosmovisão Reformada. São Paulo: Material não
publicado, 2015, p. 318
147
BROWN, Colin; COENEN, Lothar. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. 2.
ed. Trad. Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 2000, v. II, p. 2616
148
Ibidem, BROWN; COENEN, Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, p. 2619
54

de relativismo que está varrendo toda a nossa cultura. Na verdade,


a visão da Bíblia que os reformadores sustentavam é a única coisa
que pode impedir que essa maré alcance o crente149.

3.1. A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS

Embora a igreja tenha ao longo dos tempos crido e sustentado que as


Escrituras, por ser inspirada e infalível, logo, fonte de suprema e irrevogável
autoridade150 sobre questões doutrinárias, bem como questões da vida e prática cristã,
a história nos demonstra que nem sempre houve unanimidade quanto a essa verdade,
principalmente no período da idade média.

Isso porque, a Igreja Católica Apostólica Romana, principalmente a partir


de 1076 d.C., ao instituir o dogma da infalibilidade da igreja151, em 1545 ao instituir o
dogma que confere autoridade igual à da Bíblia, à tradição152, bem como através do
dogma da infalibilidade papal, acabou por instituir outros meios de autoridade quanto
a assuntos doutrinários e questões da vida e prática cristã. Pois, para o catolicismo
romano passaram a existir três grandes fundamentos de autoridade quanto ao ensino
dos fiéis, os quais são: a tradição da igreja, o magistério e as Escrituras153, ou seja, para
o catolicismo romano, as Escrituras possuem autoridade derivada, isso porque, sem a
interpretação por parte da tradição154 e do magistério ela torna-se uma literatura como
qualquer outra. Isso é tão verdade, que mais tarde, em 1929 o padre Bernhard Stempfle
afirmou o seguinte:

A Bíblia não é a única fonte de fé, como Lutero ensinou no séc.


XVI, porque sem a interpretação de um apostolado divino e
infalível, separado da Bíblia, jamais poderemos saber, com certeza,
quais são os livros que constituem as Escrituras inspiradas, ou se as

149
BOICE, James M.; et al. Firme Fundamento: A inerrante palavra de Deus em um mundo errante.
Trad. Claudio Chagas. Rio de Janeiro: Anno Domini, 2013, p. 82
150
HANKO, Ronald. A Autoridade da Escritura. Trad. Felipe Sabino de Araújo Neto. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/bibliologia/a-autoridade-escritura_dag_r-hanko.pdf>. Acesso
em: 18 Jul 2016, p. 1
151
MENEZES, Escriba Valdemir Mota de. O que é A Igreja Católica Romana?. Disponível em: <
https://books.google.com.br/books?id=TX-wCQAAQBAJ&pg=PA10&lpg=PA10&dq=dogma+da+in
falibilidade+da+igreja+1076+d+c&source=bl&ots=38Tw4uPeq8&sig=Z0JQn1A2Iogzpu8L7gBv52m
rKsw&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjXp6Wvov3NAhVEx5AKHSIfAXAQ6AEIHDAA#v=onep
age&q=dogma%20da%20infalibilidade%20da%20igreja%201076%20d%20c&f=false>. Acesso em:
18 Jul 2016, p. 10
152
Ibidem, MENEZES, O que é A Igreja Católica Romana?, p. 13
153
MIRANDA, Leonardo. Autoridade das Escrituras. Disponível em: <
http://www.ubeblogs.com.br/profiles/blogs/autoridade-das-escrituras>. Acesso em: 18 Jul 2016
154
Ibidem, SPROUL, Posso Crer na Bíblia?, p. 15
55

cópias que hoje possuímos concordam com os originais. A Bíblia


em si mesma, não é mais do que letra morta, esperando por um
intérprete divino... Certo número de verdades reveladas têm
chegado a nós, somente por meio da tradição divina155.

Entretanto, Reformadores como John Wyclif, no século 14156, Martinho


Lutero, João Calvino, entre outros, buscaram combater tais inverdades edificadas pelo
catolicismo romano, edificando no lugar um novo edifício, afirmando a partir de então
que a Escritura é a única fonte de autoridade sobre questões doutrinárias, de vida e
prática cristã, bem como que não há “nenhuma autoridade humana que seja maior,
nem regra de homens capaz de suplantar seus preceitos, e nenhum ensino que possa
contradizer algo que ela ensine.”157. A esse respeito, Augustus Nicodemus também
contribui afirmando que os reformadores protestantes não só lutaram para recuperar a
doutrina da autoridade das Escrituras, mas também que os reformadores afirmavam
que essa autoridade e infalibilidade que as Escrituras carregam é provinda de si mesma,
bem como que ela deve ser o juiz e árbitro em todas as questões que envolvem a igreja,
bem como a vida de cada cristão.

Os Reformadores recuperaram a doutrina da autoridade das


Escrituras canônicas que havia sido soterrada durante a Idade
Média. Ele (sic) rejeitaram a autoridade e infalibilidade papal e re-
estabeleceram (sic) a autoridade e infalibilidade das Escrituras.
Entenderam que este conceito é derivado da própria escritura e tem
raízes nos profetas do AT, no Senhor Jesus e seus apóstolos. Assim,
a Escritura passou a ser o Juiz Supremo nas Igrejas protestantes e na
vida individual, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de
ser determinadas, todos os decretos de concílios, todas as opiniões
dos antigos escritores e as doutrinas de homens e opiniões
particulares têm de ser examinados (sic)158.

Entretanto, a luta contra a autoridade da Escrituras não é algo exclusivo da


idade média ou do catolicismo romano. A pós-modernidade, conforme afirma Stott,
tem feito brotar no coração dos indivíduos uma profunda disposição de ânimo
antiautoridade159, raras vezes ou nunca vislumbrado até então. Para Stott, tudo aquilo
que era aceito como símbolo de autoridade sobre o indivíduo como, “família, escola,

155
Ibidem, MIRANDA, Autoridade das Escrituras
156
MATOS, Alderi Souza de. A Centralidade da Bíblia na Experiência Protestante. São Paulo: CPAJ,
disponível em: <http://www.mackenzie.br/6965.html>. Acesso em: 18 Jul 2016
157
Ibidem, HANKO, A Autoridade da Escritura, p. 1
158
LOPES, Augusto Nicodemus. A Confiabilidade e a Autoridade das Escrituras. Disponível em:
<http://voltemosaoevangelho.com/blog/2012/03/augustus-nicodemus-confiabilidade-e-autoridade-das-
escrituras/>. Acesso em: 18 Jul 2016
159
STOTT, John. Eu Creio na Pregação. Trad. Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida, 2003, p. 52
56

universidade, Estado, igreja, Bíblia, papa e Deus”160 está sendo questionado, criticado
e até mesmo abandonado.

Tudo quanto dá a impressão de "autoridade estabelecida”, ou seja,


de privilégio entrincheirado ou de poder inassaltável, está sendo
sujeitado a escrutínio e a oposição.Um "radical" é exatamente
alguém que faz perguntas inconvenientes e irreverentes a algum
"estabelecimento" que antes se considerava imune à crítica161.

A consequência dessa disposição antiautoridade apregoada pela pós-


modernidade, é a condenação de todo e qualquer discurso que afirma que as Escrituras
são a verdade absoluta, ou seja, eles afirmam que é impossível que um livro utilizado
apenas pelas religiões seja o único provido de verdade e que todos os demais estão
desprovidos de tal veracidade162. Logo, a Escritura não pode ser considerada como o
único livro provido de autoridade a fim de regular a vida e prática dos indivíduos.

Assim, em tempos pós-modernos, onde o que tem prevalecido é uma


disposição antiautoridade, o caminho a ser trilhado é o mesmo que os reformadores
trilharam em seu tempo, frente as oposições à autoridade das Escrituras. Esses
primeiramente rejeitaram tal sentimento, ou seja, não se associaram, não foram
coniventes com tal postura, com tal pensamento. Na verdade, protestaram contra essa
disposição de ânimo antiautoridade às Escrituras. E, em segundo lugar, demonstraram
àqueles que descriam, o que é, e o porquê das Escrituras serem fonte de autoridade163.

Desse modo, faz-se necessário lembrar que as Escrituras Sagradas são


fonte de autoridade, porque foram divinamente inspiradas pelo próprio Deus164. Em
decorrência de terem sido inspiradas por Deus, que é a fonte de toda verdade e que
nele não há falsidade ou mentira165, as Escrituras são verídicas em tudo aquilo que ela
afirma, logo, necessita não só ser crida como tal, mas também obedecida como a única
e verdadeira fonte de regra de fé e de prática a que o indivíduo166 necessita para
conduzir seus passos. Além do mais, a Escritura por ser inspirada e infalível, logo, é

160
Ibidem, STOTT, Eu Creio na Pregação, p. 52
161
Ibidem, STOTT, Eu Creio na Pregação, p. 53
162
Ibidem, LOPES, A Confiabilidade e a Autoridade das Escrituras
163
Ibidem, GEISLER, Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós, p. 56
164
ANGLADA, Paulo. A Doutrina Reformada da Autoridade Suprema das Escrituras. Fides
Reformata, São Paulo, v. 2, n. 2, 1997. Disponível em: <
http://www.mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/revista/VOLUME_II__1997__2/a_doutrina_r
e.....pdf>. Acesso em: 18 Jul 2016
165
SCHWERTLEY, Brian M. Sola Scriptura e o Princípio Regulador do Culto. Trad. Marcos
Vasconselos. São Paulo: Os Puritanos, 2001, p. 12
166
BAVINCK, Dogmática Reformada: Prolegômena, v. 1, p. 459
57

suficiente fonte de autoridade e de verdade, bem como deve ser vista como fonte de
autoritativa acima da autoridade humana167 exercida por meio do Estado, da ciência,
da arte etc, ou seja, todas as demais coisas necessitam estar submetidas à sua
autoridade. Sproul, ao tratar a respeito das Escrituras e a sua autoridade, acrescenta
que essa autoridade que as Escrituras carregam em si, permeiam o seu todo e não
apenas algumas partes, pois, seu propósito é levar os indivíduos a crer que as Escrituras
são a Palavra de Deus, ao invés da crença de que elas contem a Palavra de Deus.

A autoridade da Bíblia está baseada no fato de que ela é a Palavra


de Deus Escrita. Visto que a Bíblia é a Palavra de Deus e que o Deus
da Bíblia é a verdade e fala a verdade, a autoridade da Bíblia está
ligada à inerrância. Se a Bíblia é a Palavra de Deus e se Deus é o
Deus que fala a verdade, então, a Bíblia tem de ser inerrante – não
penas em algumas de suas parte, como alguns teólogos modernos
dizem, mas totalmente, como a igreja, em sua maioria, tem dito
através dos século de sua história168.

Ainda é necessário considerar, que as Escrituras são fonte de suprema e


irrevogável autoridade não somente porque os reformadores e a igreja assim a
reconheceram, mas também porque a própria Escritura afirma que é tal fonte169. No
período véterotestamentário, os profetas nunca pronunciavam seus discursos como
sendo algo provindo de si mesmos, mas sempre asseveravam que tais palavras eram
provindas do próprio Deus, por isso sempre utilizavam expressões como “assim diz o
Senhor, ouvi a palavra do Senhor, palavra que veio da parte do Senhor”170, ou seja, os
ouvintes da mensagem deveriam atentar a tais palavras, reconhece-las como advindas
do próprio Deus, bem como obedece-las, por serem autoritativas sobre suas vidas.

No período neotestamentário, podemos observar primeiramente Jesus, em


textos como Mateus 4.4, 6-7, 10 e João 10.35 ao afirmar “está escrito e a Escritura não
pode falhar” confirmar a autoridade suprema das Escrituras171. Também não podem
ser esquecidas as palavras de Paulo à igreja de Tessalônica, onde ele – como de
costume em suas cartas – agradece ao Senhor por aqueles irmãos terem recebido as
Escrituras como ela realmente é, ou seja, a Palavra de Deus (1Ts 2.13) e não como
palavras meramente humanas. Em outras palavras, aqueles irmãos reconheciam tais

167
BAVINCK, Dogmática Reformada: Prolegômena, v. 1, p. 465
168
Ibidem, SPROUL, Posso Crer na Bíblia?, p. 13-14
169
Ibidem, ANGLADA, Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras, p. 63
170
Ibidem, ANGLADA, A Doutrina Reformada da Autoridade Suprema das Escrituras
171
Ibidem, COSTA, A Inspiração e Inerrância das Escrituras, p. 111
58

palavras como advindas de Deus, logo, plenamente revestidas de autoridade.

Portanto, em tempos de relativismo pós-moderno, onde se diz existir


“verdades” e não verdade, as Escrituras são fonte da verdade absoluta, porque
primeiramente, são a própria Palavra de Deus revelada ao homem, inspiradas e
infalíveis. Mas em segundo lugar, por consequência de serem inspiradas e infalíveis,
são fonte de suprema e irrevogável autoridade, autoridade essa as quais todas as demais
devem submeter-se, e isso não ocorreria, se as Escrituras de fato não fossem o logos
transcendental.

3.2. A INDESTRUTIBILIDADE DAS ESCRITURAS

Além da doutrina da autoridade das Escrituras como resposta à


relativização da verdade pós-moderna, a reforma também tem a favor da veracidade
absoluta das Escrituras, o argumento da sua indestrutibilidade.

A despeito de sua importância, ou se se pensar bem, talvez em razão da


grande importância das Escrituras para o homem, essa tem sido alvo de inúmeros
ataques, sejam de ordem intermitente ou persistente, sutil ou violenta.

O primeiro ataque que temos às Escrituras tentando destruí-la é o do diabo.


Em Gênesis 3.1 pode-se observar claramente sua tentativa em pôr em dúvida a
existência da revelação da divina: “Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais
selváticos que o SENHOR Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse:
Não comereis de toda árvore do jardim? (Destaque nosso)”.

Mais adiante, após a resposta de Eva afirmando que Deus havia


determinado que de todas as árvores do jardim eles poderiam alimentar-se, menos da
que se encontrava no meio do jardim (Gn 3.2-3), o diabo mais uma vez coloca em
dúvida a revelação divina ao afirmar que “É certo que não morrereis. Porque Deus
sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis
conhecedores do bem e do mal. (Destaque nosso)” (Gn 3.4-5).

Mas a Bíblia é a Palavra de Deus e tem sobrevivido a circunstâncias


totalmente adversas. Quando olha-se para a história da literatura, pode-se observar que
uma porcentagem muito pequena de livros sobrevive além de um quarto de século, e
59

uma porcentagem ainda menor dura um século, e uma porção quase insignificante dura
cerca mil anos. Entretanto, as Escrituras Sagradas têm resistido não só aos ataques,
que vêm sobre ela de todos os lados, mas ao próprio tempo que, também colabora para
que os escritos caiam no mar do esquecimento.

Ademais, em 303 d.C. mais uma vez as Escrituras sofreram um forte


ataque, agora por meio das mãos do imperador Diocléciano (284 – 305 d.C)172 cuja
determinação era a de que cada igreja e cada Bíblia fossem aniquilados de sobre toda
a terra173, movendo uma feroz e persistente perseguição a fim de que seus objetivos
fossem alcançados. Contudo, as Escrituras hoje são encontradas em mais de mil
línguas e ainda é o livro mais lido do mundo174, ou seja, ainda não se levantou nenhuma
força capaz de impedir que as Escrituras alcancem os confins da terra, muito menos
capaz de aniquila-la.

Contudo, mesmo diante de tamanha prova de que as Escrituras são a


Palavra de Deus, por isso, não só revestidas de autoridade, mas também revestidas de
indestrutibilidade, os ataques não cessaram. Pois, “liberais, ateus e neo-ateus, outras
religiões e a pós-modernidade”175 tem, dentro das mais variadas formas, seja através

172
MEDEIROS FILHO, Carlos Fernandes de. Biografias: Diocleciano, Gaius Aurelius Valerius
Diocletianus. Campina Grande/PB: UFCG. Disponível em:
<http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/Diocleci.html>. Acesso em: 19 Jul 2016. Imperador romano
(284-305) nascido perto de Salona, posteriormente Split, na costa da Dalmácia, cujas reformas
contribuíram para adiar o declínio de Roma e criaram as bases do império bizantino. De origem modesta,
fez carreira militar, chegando a comandante da guarda imperial e cônsul. Depois da morte do
imperador Numeriano (284), matou o suposto assassino, Árrio Áper, e assumiu o poder, apoiado pelo
exército da Anatólia. Reconhecido pelo Senado (285), após o assassínio do irmão de Numeriano, o co-
imperador Carino, deu início às reformas que marcaram seu governo. Inicialmente dividiu o império
em dois (285): do Ocidente e do Oriente, com dois augustos e dois césares, com seu homem de
confiança, Maximiano, a quem entregou a metade ocidental do império, enquanto ficava com a parte
oriental. Em seguida, repartiu mais ainda o poder num sistema chamado tetrarquia (governo de quatro),
implantado para acabar com as agitações nas sucessões imperiais (293), porém com indiscutível
predomínio de sua autoridade e uma progressiva centralização de poder. O governo do Ocidente ficou,
assim, dividido entre Maximiano, a quem coube a Itália e a África, e Constâncio Cloro, que recebeu a
Bretanha, a Gália e a Espanha. Enquanto no Oriente, a maior parte, inclusive o Egito, ficava com o
próprio Diocleciano, e as regiões do Danúbio e da Ilíria eram confiadas a Galério. No campo executivo
limitou os poderes do Senado, fortaleceu e ampliou o exército imperial e promoveu reformas tributárias
e legislativas. No campo judiciário, determinou que se realizassem duas compilações de leis imperiais,
os códigos gregoriano e hermogeniano. No campo religioso, tornou obrigatório o culto a Júpiter, com
quem se identificou, e ordenou uma violenta perseguição aos cristãos (303), que se estenderia por mais
de dez anos, na Itália, África e no Oriente. Muito doente, abdicou a 1 de maio (305),
obrigou Maximiano a fazer o mesmo (305) e viveu os últimos anos de sua vida no suntuoso palácio que
mandara construir, em Salona.
173
Ibidem, GEISLER, Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós, p. 56
174
SILVA, Hélio de Menezes. Bibliologia: A doutrina da Bíblia. João Pessoa/PB: 2008. Disponível em:
<http://solascriptura-tt.org/Bibliologia-InspiracApologetCriacionis/Bibliologia-BibliaGenuinaConfiav
elCanonicaInspirada-Livro-Helio.htm>. Acesso em: 19 Jul 2016
175
Ibidem, LOPES, A Confiabilidade e a Autoridade das Escrituras
60

da desconsideração da existência de algo sobrenatural, seja através do questionamento


quanto a sua veracidade, seja através do conceito de que mestres, gurus e seres
iluminados, são superiores, ou de que as Escrituras são um livro meramente religioso,
tentado minar o seu valor, o caráter e a própria existência das Escrituras, mas sem
pleno e completo sucesso.

Logo, a única conclusão a que se pode chegar diante de tais fatos, é a de


que as Escrituras são de fato verdadeiras. Pois, nenhum livro, nenhuma literatura,
nenhuma ideia ou conceito, conseguiria prevalecer por tanto tempo, como as Escrituras
tem prevalecido176 e, muito menos diante de tantos e ferozes ataques que ela sofreu e
tem sofrido ao passo do desenrolar da história sem sucumbir, cumprindo desse modo,
as palavras de Jesus que em Marcos 13.31 afirma que “Passará o céu e a terra, porém
as minhas palavras não passarão”.

3.3. O CUMPRIMENTO DAS PROFECIAS PRESENTES NAS


ESCRITURAS

Outra resposta reformada ao relativismo pós-moderno, que insiste em


afirmar que as Escrituras não são a verdade absoluta, mas simplesmente a verdade dos
cristãos é o argumento do cumprimento das profecias relatadas nas Escrituras. No
período veterotestamentário, o crivo utilizado para se aferir se a profecia era ou não
verdadeira, era baseado no seu cumprimento ou no seu não cumprimento (Dt 18.22)177.
Tomando então esse crivo como fundamento para se aferir a veracidade das profecias
das Escrituras, a conclusão a que se chega não poderia ser outra se não a da sua
veracidade. Pois, tudo aquilo que foi predito através da boca dos profetas, quanto a
tempos, locais e indivíduos178 de fato se cumpriram com precisão. Isso é tão verdade,
que Calvino ao discorrer sobre as profecias veterotestamentárias afirma que essa
verdade quanto ao cumprimento das profecias “Nos demais profetas, porém, isto se vê
ainda muito mais claramente.”179.

Exemplo disso pode ser observado quanto às profecias a respeito da

176
Ibidem, TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética, v. 1, p. 145
177
Ibidem, GEISLER, Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós, p. 59
178
GILBERTO, Antônio. A Bíblia Através dos Séculos: A história da formação do livro dos livros. Rio
de Janeiro: CPAD, 1986, p. 24
179
Ibidem, CALVINO, As Institutas: Edição clássica. Vol. 1, p. 93
61

dispersão de Israel180. Em Deuteronômio 28.15-68 vemos a primeira promessa de


dispersão do povo de Deus caso esse abandonasse o Senhor e desviasse de seus
caminhos: “Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do SENHOR, teu Deus, não
cuidando em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos que, hoje, te
ordeno, então, virão todas estas maldições sobre ti e te alcançarão (Dt 28.15)”. Mais
adiante, em Isaías 39.6-7, mais uma vez Deus, por intermédio de seu profeta anuncia
a queda e o exílio de seu povo181 por causa de sua insistente desobediência aos
mandamentos de Deus:

Eis que virão dias em que tudo quanto houver em tua casa, com o
que entesouraram teus pais até ao dia de hoje, será levado para a
Babilônia; não ficará coisa alguma, disse o SENHOR. Dos teus
próprios filhos, que tu gerares, tomarão, para que sejam eunucos no
palácio do rei da Babilônia.

Algo que pode ser observado nas palavras de Deus por intermédio de seu
profeta, é que agora ele inclusive alerta o povo a respeito de qual seria o povo
responsável por destruir, desterra-los e transforma-los novamente em escravos.

Em Jeremias 15.4, Deus promete por meio de boca de seu servo que
seguramente o reino de Judá não passaria incólume diante de seus olhos, mas que
futuramente disciplinaria o seu povo por causa de sua desobediência: “Entregá-los-ei
para que sejam um espetáculo horrendo para todos os reinos da terra; por causa de
Manassés, filho de Ezequias, rei de Judá, por tudo quanto fez em Jerusalém.”. Em
Jeremias 25.11, Deus novamente por meio de seu profeta, cerca de 100 anos antes182,
transmite a seu povo o tempo que eles ficariam exilados na Babilônia: “Toda esta terra
virá a ser um deserto e um espanto; estas nações servirão ao rei da Babilônia setenta
anos. (Destaque nosso)”.

Todavia, as Escrituras não contem profecias somente a respeito da queda


e do exílio do reino de Judá, mas também quanto à sua restauração. Em Isaías 45.1 o
Senhor não só promete a restauração a Judá, mas também relata, por meio de quem ele
agiria para que essa profecia se cumprisse183: “Assim diz o SENHOR ao seu ungido,
a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações ante a sua face, e para

180
Ibidem, GILBERTO, A Bíblia Através dos Séculos: A história da formação do livro dos livros, p. 24
181
Ibidem, CALVINO, As Institutas: Edição clássica. Vol. 1
182
HILL, Andrew E.; WALTON, J. H. Panorama do Antigo Testamento. Trad. Lailah de Noronha. São
Paulo: Editora Vida, 2007, p.470
183
Ibidem, CALVINO, As Institutas: Edição clássica. Vol. 1
62

descingir os lombos dos reis, e para abrir diante dele as portas, que não se fecharão.”,
ou seja, o Senhor promete que o futuro rei Ciro seria o seu instrumento para libertação
e restauração de seu povo à terra prometida.

Quanto às profecias a respeito de Cristo184, nota-se de igual forma que


essas também se cumpriram assim como as demais. Em Isaías 53, temos o belíssimo
relato, cerca de 700 anos antes, do sofrimento, das agruras e da glorificação de
Cristo185 quando de sua encarnação na plenitude dos tempos (Gl 4.4). Além do mais,
o livro profeta Miquéias, também, cerca de 700 anos antes do nascimento de Cristo186,
relata não só a respeito do nascimento do Messias, mas também a localidade onde tal
evento ocorreria: “E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de
milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde
os tempos antigos, desde os dias da eternidade. (Destaque nosso)”.

Portanto, diante de tais fatos, que não só foram profetizados, mas que se
cumpriram exatamente como o Senhor prometera (Jr 1.12), não há como negar tanto a
origem divina das Escrituras, quanto a sua veracidade. Logo, digna de ser crida,
obedecida e utilizada para combater os sofismas que tentam induzir o homem ao
engano quanto à verdade absoluta das Escrituras.

3.4. A HARMONIA E A UNIDADE DAS ESCRITURAS

Além das respostas supracitadas, outra resposta que a doutrina reformada


possui quanto a inspiração, suficiência e veracidade das Escrituras, é o da sua harmonia
e unidade, ou seja, embora as Escrituras sejam compostas por sessenta e seis livros,
vários autores, localidades diversas, bem como escrita ao longo de séculos, nota-se,
tanto que a história não se encerra ao término de cada livro, pelo contrário, no livro
seguinte nota-se a continuação da história, quanto que o tema que perpassa toda a
Escritura é também o mesmo, ou seja, Jesus Cristo187. Discorrendo a respeito do
assunto, J. C. Ryle não só reconhece a realidade da harmonia e unidade das Escrituras,

184
Ibidem, GEISLER, Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós, p. 59
185
HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Isaías e Malaquias. Trad. Degmar Ribas
Júnior. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 79
186
PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento no Antigo Testamento. São Paulo:
Hagnos, 2006, p. 436
187
Ibidem, ANGLADA, Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras, p. 51
63

mas ousa dizer que não há outro livro com as mesmas características que as Escrituras
– vários escritores, de lugares e tempos diferentes – que tenha a mesma harmonia e
unidade que as Escrituras possuem.

Todos nós sabemos quão difícil é encontrar uma história contada


por três pessoas que não vivem juntas, na qual não haja algumas
contradições e discrepâncias. Se a história é longa e envolve uma
grande quantidade de detalhes, a unidade parece mais do que
impossível, entre os homens em geral. Mas isso não acontece com
a Bíblia. Temos aqui um livro escrito por mais de trinta pessoas
diferentes. Os escritores eram homens de todas as posições e classes
sociais. [...] Viveram em tempos diferentes durante um período de
1500 anos, e a maioria deles nunca viu um ao outro face a face. E
ainda assim há uma perfeita harmonia entre esses escritores! Todos
escreveram como se uma só pessoa ditasse para eles.188

Ademais, se as Escrituras não fossem “obra de uma só mente”189, em


outras palavras, se as Escrituras não tivessem advindo do próprio Deus, pois só “ele
conhece o fim e o princípio. Só ele poderia saber o que a Bíblia revela. [...] Só ele
poderia revelar a natureza, os pensamentos e os propósitos de Deus. Só ele poderia
dizer se o pecado pode ser perdoado”190, essas de modo algum teriam a unidade e
harmonia que possuem. Isso porque, o contexto em que as Escrituras foram escritas de
modo algum corrobora para tal realidade. O primeiro fator que não corrobora para a
unidade e harmonia das Escrituras é quanto a diversidade de autores e de atividades
que esses desempenhavam.

Para que tivéssemos as Escrituras nos moldes que a temos hoje, foram
utilizados cerca de 40 escritores191, que exerciam as mais variadas atividades possíveis.
Daí, encontrar nas Escrituras essa variedade de estilos literários que ela possui192.
Como exemplo dessa realidade, podemos citar o caso de Moisés, que junto ao povo de
Israel exercia as funções de juiz, legislador, administrador sacerdote e profeta193, mas
que conforme Atos 7.22 também havia sido educado na ciência dos egípcios. Davi e
Salomão eram reis e Daniel era chefe de estado na Babilônia. Em Amós 7.14 lê-se que
o autor desse livro não possuía nenhum dos nobres ofícios aqui destacados, mas que

188
RYLE, J. C. A Inspiração das Escrituras. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, (s.d.),
2-3
189
Ibidem, HODGE, Teologia Sistemática, p. 125
190
Ibidem, HODGE, Teologia Sistemática
191
Ibidem, GEISLER, Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós, p. 57
192
Ibidem, GILBERTO, A Bíblia Através dos Séculos: A história da formação do livro dos livros, p. 22
193
GRONINGEN, Gerard van. Revelação Messiânica no Antigo Testamento. 2. ed. Trad. Cláudio
Wagner. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 197
64

era boiadeiro e colhedor de sicômoros194. No período neotestamentário, temos o


exemplo de Mateus que era um funcionário público (Mt 9.9) e Pedro, Tiago e João que
desenvolviam o ofício de pescadores195. Por fim, temos o exemplo de Paulo que era
um judeu, educado aos pés de Gamaliel (At 22.3) e quanto a lei antes de sua conversão,
um fariseu (Fp 3.5). Após sua conversão, um grande e renomado teólogo erudito.
Entretanto, o que se percebe ao longo das páginas das Escrituras é que, mesmo sob tão
grande gama de autores, de estilos e atividades diferentes, eles transmitem uma única
mensagem196, ou seja, a mensagem da redenção197, que culmina na pessoa e obra de
Jesus Cristo. E por mais que tente se encontrar contradições em tais escritos, esses
restarão fadados ao fracasso.

Ademais, além da diversidade de autores, tem-se também como ponto


desfavorável à unidade e harmonia das Escrituras, a diversidade de condições em que
as Escrituras foram redigidas. Um exemplo disso é o do próprio pentateuco que foi
escrito por Moisés enquanto o povo caminha em direção à terra de Canaã. Já Jeremias,
escreveu suas profecias quando estava encarcerado (Jr 36.1-6). No período
neotestamentário, temos as epístolas paulinas, onde muitas delas foram escritas
enquanto Paulo encontrava-se aprisionado198, bem como temos o contexto da redação
do livro de Apocalipse, onde João encontrava-se exilado na ilha de Patmos (Ap 1.9).
Some-se ainda a tudo isso, não só condições geográficas e ou situacionais em que cada
livro foi escrito, mas também as próprias condições de tempo. Isso porque, as
Escrituras foram redigidas em um período de cerca de dezesseis séculos199 e nesse
período muitas coisas mudaram ou até mesmo deixaram de existir. Hermisten Costa,
ao discorrer sobre o assunto diz o seguinte:

Num período de 16 séculos, muita coisa muda. Os conceitos


mudam, as explica- ções se modificam, a compreensão da realidade
se transforma. Por mais vagarosas e tímidas que fossem as
transformações na antiguidade, na realidade, muitos elementos
novos surgiram no cenário da história humana. No período em que
a Bíblia foi escrita, o cenário militar conheceu uma sequência em
que pelos menos cinco exércitos dominaram grande parte do mundo

194
COSTA, Hermisten Maia Pereira da. A Inspiração da Escritura: Sua perfeição e harmonia. São
Paulo: Mackenzie, 2009. Disponível em: <
http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/DIRETOR/A_Inspiracao_da_Escritura__sua_Per
feicao_e_Harmonia.pdf>. Acesso em: 21 Jul 2016, p. 6
195
Ibidem, GILBERTO, A Bíblia Através dos Séculos: A história da formação do livro dos livros, p. 22
196
Ibidem, TENNEY; BARABAS, Enciclopédia da Bíblia, v. 1, p. 788
197
Ibidem, ANGLADA, Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras, p. 51
198
Ibidem, GILBERTO, A Bíblia Através dos Séculos: A história da formação do livro dos livros, p. 22
199
Ibidem, ANGLADA, Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras, p. 51
65

conhecido, tais como: Os egípcios, assí- rios, babilônios, gregos e


romanos; no campo da Filosofia, após um período de mitos e lendas,
passando pelos Pré-socráticos, surgiram homens como Sócrates
(469-399 a.C.), Platão (427-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.),
até hoje respeitados em muitas de suas contribuições; na
organização jurídica, os romanos são até hoje estudados, respeitados
e copiados. Tudo isto evidenciando um longo processo de
maturação e transformações, onde os conceitos antigos eram
adaptados ou simplesmente rejeitados200.

Entretanto, mesmo em meio a tantas condições desfavoráveis à unidade e


a harmonia das Escrituras, nota-se que a sua mensagem é uma. A revelação de Deus
mantém-se uniforme e progressiva desde Gênesis à Apocalipse, como se tivesse sido
escrita por uma única pessoa, em um curto período de tempo. Contudo, a harmonia e
a unidade das Escrituras só é possível, conforme as palavras de Norman Geisler,
porque “certamente ela adveio de algo que se achava fora do alcance de seus autores
humanos”201, “obra de uma só mente”202, ou seja, se as Escrituras não tivessem como
seu supremo autor, o próprio Deus, se seus autores não tivessem sido inspirados por
Deus, de modo algum conseguir-se-ia ter uma só revelação, um só pensamento, um só
tema, ou um só propósito203.

Em razão dessa harmonia e unidade que as Escrituras carregam em si,


essas não podem ser cridas somente em partes, ou seja, que somente alguns de seus
trechos são Palavra de Deus, como afirma os teólogos liberais204. Mas, devemos seguir
os sábios conselhos de Charles Hodge, que ao discorrer sobre a unidade das Escrituras,
faz as seguintes considerações:

A unidade orgânica das Escrituras prova que elas são produto de


uma só mente. São tão unidas que não podemos crer numa parte sem
crer em todas; não podemos crer no Novo sem crer no Antigo
Testamento; não podemos crer nos Profetas sem crer na Lei; não
podemos crer em Cristo sem crer em seus Apóstolos;

Logo, mais uma vez temos uma prova indubitável de que as Escrituras não
são um livro meramente religioso, verdadeiro somente para as religiões, ou um livro
de origem meramente humana. Pelo contrário, as Escrituras são verdade para todos e
a verdade acima de todas as verdades, porque é um livro divino, um livro advindo do

200
Ibidem, COSTA, A Inspiração da Escritura: Sua perfeição e harmonia, p. 7
201
Ibidem, GEISLER, Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós, p. 57
202
Ibidem, HODGE, Teologia Sistemática, p. 125
203
Ibidem, GILBERTO, A Bíblia Através dos Séculos: A história da formação do livro dos livros, p. 22
204
Ibidem, LOPES, A Confiabilidade e a Autoridade das Escrituras
66

próprio Deus, um livro como supracitado, cuja origem provém de uma só mente; que,
embora tenha usado diversos autores, nas mais diversas circunstâncias, a preservou de
tal modo, que essa se apresenta a seus leitores de forma harmoniosa e uma,
apresentando única mensagem, a redenção, que só é possível através de uma única
pessoa, Cristo, a quem a própria Escritura diz que: “Porque dele, e por meio dele, e
para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!”.

3.5. O TESTEMUNHO DO ESPÍRITO SANTO

Atribui-se a João Calvino os primeiros trabalhos quanto à formulação e


desenvolvimento da doutrina do testemunho do Espírito Santo205 quanto à autoridade
e veracidade das Escrituras Sagradas. Ademais, assim como o desenvolvimento de
outras doutrinas, que surgiram a partir de dúvidas dentro da própria igreja, ou para
combater falsos ensinamentos que tentavam persuadir o povo de Deus ao engano, a
doutrina do testemunho do Espírito Santo nasceu com a finalidade de combater
heresias que tentavam macular a suficiência e a autoridade das Escrituras. Neste
diapasão, Sproul assevera que:

Testimonium spiritus sancti internum. Essa máxima da Reforma,


que aponta para o testemunho interior do Espírito Santo, tornou-se
paulatinamente mais importante à medida que a igreja teve de
enfrentar a questão da integridade da Escritura Sagrada. Em virtude
da falta de confiança na autoridade e na confiabilidade do depósito
de fé apostólico, fomos levados reiteradas vezes a refletir em
profundidade sobre a relação entre a Palavra e Espírito206.

De forma mais específica, Calvino ao sistematizar a doutrina do Espírito


Santo, procurava combater a ideia católica romana de que o valor das Escrituras só
teria validade até onde a igreja assim o determinasse através da tradição, bem como a
ideia de que a igreja – leia-se católica romana – também era responsável por definir
quais livros eram ou não canônicos. Tal fato é tão verdade, que nas Institutas da
Religião Cristã ele assim afirma:

Entre a maioria, entretanto, tem prevalecido o erro perniciosíssimo


de que o valor que assiste à Escritura é apenas até onde os alvitres
da Igreja concedem. Como se de fato a eterna e inviolável verdade

205
GEISLER, Norman (Org.). A Inerrância da Bíblia. Trad. Antivan Guimarães Mendes. São Paulo:
Editora Vida, 2003, p. 404
206
Ibidem, GEISLER, A Inerrância da Bíblia, p. 403
67

de Deus se apoiasse no arbítrio dos homens! Pois, com grande


escárnio do Espírito Santo, assim indagam: “Quem porventura nos
pode fazer crer que essas coisas provieram de Deus?” Quem, por
acaso, nos pode atestar que elas chegaram até nossos dias inteiras e
intatas? Quem, afinal, nos pode persuadir de que este livro deve ser
recebido reverentemente, excluindo um outro de seu número, a não
ser que a Igreja prescrevesse a norma infalível de todas essas
coisas?” Depende, portanto, da determinação da Igreja, dizem, não
só que se deve reverência à Escritura, como também que livros
devam ser arrolados em seu cânon. E assim, homens sacrílegos,
enquanto, sob o pretexto da Igreja, visam a implantar desenfreada
tirania, não fazem caso dos absurdos em que se enredam a si
próprios e aos demais com tal poder de fazer crer às pessoas simples
que a Igreja tudo pode207.

Tempos mais tarde, é a vez de François Turretini se levantar contra tal


heresia católica romana, afirmando que o mesmo Espírito que inspirou os autores das
Escrituras a redigi-la de modo infalível é o mesmo que também imprime no coração
humano a certeza de que as Escrituras são de fato a Palavra de Deus e, que não cabe a
igreja requerer para si tal atributo que é exclusivo do Espírito Santo.

O artigo 4º da Confissão Francesa diz: “sabemos que os livros da


Escritura são canônicos, não tanto pelo consenso comum da igreja,
mas segundo o testemunho e persuasão internos do Espírito Santo”
[...]. Daí, devemos entender, pelo Espírito Santo, o Espírito falando
tanto na Palavra quanto no coração, pois o mesmo Espírito que age
objetivamente na Palavra, apresentando a verdade, opera
eficientemente no coração, também imprimindo essa verdade em
nossa mente208.

Ademais, percebe-se que esse método não é exclusivo do catolicismo


romano, na idade média. Os pós-modernistas em pleno século XX e XVI também tem
adjudicado para si a responsabilidade por determinar o que é ou não verdadeiro209. A
verdade na pós-modernidade depende da cosmovisão daquele que se põe a analisar os
fenômenos e não mais os métodos científicos como o fora na modernidade, ou no caso
das Escrituras, não é mais o Espírito Santo quem determina se as Escrituras são
verdadeiras ou não, mas sim, aqueles que a manuseia. Assim, a verdade se ergue ou se
dissolve conforme cada indivíduo, tempo ou lugar bem lhe aprouver.

Contudo, a partir do testemunho de Calvino e de Turretini, pode-se


observar, que não cabe ao catolicismo romano, à pós modernidade, ou quem quer que

207
Ibidem, CALVINO, As Institutas: Edição clássica, v.1, p. 81
208
Ibidem, TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética, v. 1, p. 145
209
Ibidem, BETTENCOURT, O Que é o Relativismo? p. 394
68

seja, determinar se as Escrituras são ou não verídicas, pois, além da própria Escritura
testificar de si mesma que ela é inspirada, suficiente e veraz, é também necessário que
o Espírito Santo não só testifique ao homem que o mesmo agora é filho de Deus (Rm
8.16)210, mas também, assim como encontramos na segunda epístola de Pedro, que este
testifique em seus corações que as Escrituras são de fato a Palavra inspirada e infalível
de Deus (2Pe 1.20-21), ou seja, em cada indivíduo que é justificado pela graça,
mediante a fé em Jesus Cristo (Rm 5.1), o Espírito Santo é responsável por infundir
em seu coração a certeza quanto à veracidade das Escrituras Sagradas211. Pois,
conforme afirma Millard Erickson, o homem por causa de sua finitude e dos efeitos da
queda, não consegue compreender a Deus em sua totalidade212, como também carece
de certeza quanto a assuntos relacionados a questões de esfera divina.

A última razão pela qual a obra especial do Espírito Santo é


fundamental é que os seres humanos necessitam de certeza em
relação às questões divinas. Uma vez que estamos preocupados aqui
com questões que envolvem vida e a morte (espirituais e eternas), é
fundamental não contar apenas com meras possibilidades. Nossa
necessidade de certeza é diretamente proporcional à importância do
que está em jogo; em questões que envolvem consequências eternas,
precisamos do tipo de convicção que o raciocínio humano não pode
garantir.213

Logo, aqueles a quem o Espírito Santo ainda não infundiu em seus


corações que as Escrituras são verdadeiras e divinas214, de modo algum poderão chegar
a tal conclusão, por mais persuasivos que sejam os argumentos a eles transmitidos.
Pois, as Escrituras não só possuem origem divina, mas também tratam exclusivamente
de assuntos divinos, cabendo-nos então seguir os conselhos de Calvino ante a essa
realidade.

Ora, assim como só Deus é idônea testemunha de si mesmo em sua


Palavra, também assim a Palavra não logrará fé nos corações
humanos antes que seja neles selada pelo testemunho interior do
Espírito. Portanto, é necessário que o mesmo Espírito que falou pela
boca dos profetas penetre em nosso coração, para que nos persuada
de que eles proclamaram fielmente o que lhes fora divinamente
ordenado215.

210
Ibidem, GEISLER, Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós, p. 56
211
Ibidem, GILBERTO, A Bíblia Através dos Séculos: A história da formação do livro dos livros, p. 24
212
Ibidem, ERICSON, Teologia Sistemática, p. 237
213
Ibidem, ERICSON, Teologia Sistemática
214
Ibidem, TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética, v. 1, p. 145
215
Ibidem, CALVINO, As Institutas: Edição clássica, v.1, p. 85
69

3.6. A INFLUÊNCIA TRANSFORMADORA DAS ESCRITURAS NA VIDA


DAS PESSOAS

F. B. Meyer certa feita disse as seguintes palavras a respeito das Escrituras:


“O melhor argumento em favor da Bíblia é o caráter que ela forma"216. Com essa frase,
Meyer deseja ressaltar que um, dentre os vários argumentos em favor da veracidade
das Escrituras é o da sua influência transformadora que os Escritos Sagrados
imprimem na vida de indivíduos e também de nações. Nesse mesmo diapasão,
Turretini não só afirma a capacidade transformadora das Escrituras, provada através
da conversão e da expansão do Evangelho da salvação, mas também que essa é uma
marca que evidencia a origem divina das Escritas.

A conversão do mundo e o sucesso do evangelho constituem clara


prova de sua divindade. A menos que os apóstolos fossem homens
de Deus e arautos da verdade celestial, não se poderia conceber
como aconteceu que suas doutrinas [...], unicamente pela persuasão
[...], no mais curto espaço de tempo, em quase todos os lugares,
fossem tão propagadas que anularam toda oposição e saíram
vitoriosas sobre as religiões que eram monitoradas com todos esses
auxílios, de modo que todas as nações e mesmo os próprios reis,
deixando a religião do país no qual haviam nascido e se educado,
sem a esperança de qualquer vantagem [...] abraçaram essa que era
absurda para a razão e desagradável à carne e que parecia repelir em
vez de atrair217.

Em outras palavras, se a fé cristã, se as Escrituras Sagradas, se a mensagem


proferida pelos apóstolos, que provinha das Escrituras, fosse uma fraude, fosse
inverídica, de modo algum haveria possibilidade de se contemplar tais resultados, pois
eles não existiriam218. E isso é fácil de ser comprovado, pois, por mais que os gregos
fossem doutos e letrados, por mais que seus filósofos exercessem influência em todo
o mundo219, não só em seu tempo, mas até os nossos dias, esses não foram capazes de
combater a corrupção, a licenciosidade, a impureza, bem como o politeísmo e a
idolatria que reinava abundantemente em toda a Grécia. Outro exemplo próximo é o
do império Romano, que assim como os gregos exerceram uma grande influência no
mundo todo em seu tempo. Foram reconhecidos por suas táticas de guerra, por seus
grandes guerreiros, pela formulação de uma legislação jurídica que até hoje influência

216
MEYER, F. B. Comentário Bíblico. 2. ed. Trad. Amantino Adorno Vassão. Belo Horizonte: Betânia,
2002 apud GILBERTO, A Bíblia Através dos Séculos: A história da formação do livro dos livros, p. 25
217
Ibidem, TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética, v. 1, p. 119
218
CARSON, D. A (org.). A Verdade: Como comunicar o evangelho a um mundo pós-moderno. Trad.
Jurandy Bravo. São Paulo: Vida Nova, 2015, 111 - 112
219
Ibidem, GILBERTO, A Bíblia Através dos Séculos: A história da formação do livro dos livros, p. 25
70

o direito no mundo todo220, pela sua grande capacidade expansionista, mas que
também não foram capazes de barrar a licenciosidade, a impureza, o politeísmo, a
idolatria, bem como a corrupção. Tal fato é tão verdade, que a célebre frase “o tempora,
o mores” cunhada pelo senador e escritor Cícero, foi dita com o propósito de
exteriorizar a perversidade, os costumes dissolutos221, bem como a corrupção no
império Romano.

Entretanto, na outra ponta do pêndulo, encontra-se as Escrituras, que em


Hb 4.12222 afirma que ela mesma é “[...]é viva, e eficaz, e mais cortante do que
qualquer espada de dois gumes [...], ou seja, que ela cumpre os propósitos para o qual
ela foi formada (Is 55.11), e isso pode ser visto através do testemunho de vida de
inúmeros indivíduos que tiveram suas vidas completamente transformadas após esse
contato direto com as Escrituras (1Pe 2.2). John Stott, discorrendo a respeito da
pregação chega à seguinte conclusão a respeito das Escrituras:

[...] a Palavra de Deus é poderosa. Isso se dá não somente porque


Deus tem falado e continua a falar através daquilo que já tem falado,
mas porque quando fala, Deus age. Sua Palavra faz mais do que
explicar a sua ação; é ativa em si mesma. Deus realiza seu propósito
mediante sua Palavra; (Grifo do autor)223

Portanto, diante de tais fatos que demonstram a completa transformação


que Deus opera na vida do homem através das Escrituras e sua influência sobre a vida
deste, bem como que nenhuma outra literatura é capaz de fazer o que as Escrituras
fazem; a única conclusão que se pode chegar é quanto à suficiência, a autoridade e a
veracidade das Escrituras e de que essa verdade está acima das demais. Pois, nenhuma
outra é capaz de transformar radical e definitivamente a vida do homem, como a
Escritura faz.

220
XAVIER, Renata Flávia Firme. Evolução histórica do Direito Romano. Revista Jus Navigandi,
Teresina, ano 16, n. 2782, 12 fev. 2011. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/18474>. Acesso
em: 22 Jul 2016, p. 2
221
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http://www2.uol.com.br/debate/1489/cadd/cadernod04.htm>. Acesso em: 22 Jul 2016
222
Ibidem, GEISLER, Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós, p. 57
223
Ididem, STOTT, Eu Creio na Pregação, p. 109
71

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A doutrina da Infalibilidade das Escrituras é uma ferramenta fundamental


para a edificação do cristão e da igreja, bem como útil para o combate às heresias que
se levantam dentro dessa. Isso fica claro a partir do primeiro capítulo, que discorreu a
respeito da Inspiração e Inerrância das Escrituras, doutrinas essas que foram
responsáveis por resgatar a autoridade, suficiência e veracidade das Escrituras
Sagradas que haviam sido subtraídas pelas heresias católico romanas, mais tarde pelo
iluminismo e os movimentos pós-iluminismo, como agnosticismo, racionalismo,
idealismo e o existencialismo e, nos séculos XX e XXI pelo relativismo pós-moderno.

O segundo capítulo buscou demonstrar onde e quando surgiu o pós-


modernismo, bem como os seus atributos, ou seja, as características inerentes ao
movimento que foram responsáveis pelo desenvolvimento e fortalecimento do
conceito de relativização da verdade. Na segunda seção do capítulo, viu-se que,
embora os teólogos pós-modernos neguem, o método histórico-crítico de interpretação
das Escrituras teve uma forte e determinante influência sobre as hermenêuticas pós-
modernas, influência essa responsável por perpetuar na pós-modernidade o conceito
de que as Escrituras não são verdade absoluta, apenas a verdade da religião cristã. A
terceira e última seção demonstrou como as hermenêuticas pós-modernas, assim como
o método histórico-crítico, procuraram implantar uma nova forma de interpretação das
Escrituras, desconsiderando e reijeitando as intenções e propósitos do autor,
transferindo toda ênfase para o leitor, ou seja, é o leitor, com seus pressupostos e
paradigmas quem irá determinar o real sentido do texto a partir de agora, interpretando
as Escrituras como lhe aprouver.

O terceiro e último capítulo buscou demonstrar que, a despeito de todas as


controvérsias instauradas pela pós-modernidade no que tange as Escrituras Sagradas,
a igreja sempre creu e confiou nas Escrituras, em nada duvidando. Isso porque, há
inúmeros argumentos probatórios em favor da inspiração das Escrituras, ou seja, que
os Escritos Sagrados são de fato advindos do próprio Deus, por isso, são verazes,
infalíveis, suficientes e fonte de autoridade para a salvação e a vida cristã. Portanto,
digna de confiança, credibilidade, aceitação e a única regra de fé e prática.

Por fim, todo esse caminho foi percorrido, pois o objetivo dessa
monografia foi demonstrar como a doutrina da Infalibilidade das Escrituras é a
72

resposta mais adequada ao espírito pós-moderno de nossa época que insiste em


relativizar as Escrituras e as verdades que dela emanam. Ante esse trabalho, entende-
se que só haverá uma crença sólida e inabalável na veracidade absoluta das Escrituras
caso esse edifício tenha como fundamento a doutrina da Infalibilidade. É somente
através dessa doutrina, que emana da própria Escritura, que se pode ter um correto
entendimento a respeito do que são as Escrituras, ou seja, inspiradas por Deus,
infalíveis e inerrântes. Pois, a não compreensão de forma clara do que são as Escrituras,
abre brecha não só para o relativismo da verdade, mas também para tantas quantas
outras heresias que tentam macular, minar ou destruir as verdades de Deus presentes
em seus Escritos Sagrados.
73

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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