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RESUMO
Desde a antiguidade, a sexualidade tem sido considerada como algo sagrado por alguns e profano
por outros, levando ao surgimento de mitos e tabus. Na atualidade, a influência do comportamento
patriarcal fomenta o comportamento instintivo relacionado a uma variedade de estímulos, dentro
os quais a própria sexualidade. O presente trabalho aborda os efeitos sombrios da ejaculação,
proporcionados pela automação dos complexos relacionados a uma sexualidade instintiva da
adolescência à idade adulta. A prática da ejaculação traz como efeitos colaterais o desânimo ou
desinteresse dos parceiros um para com o outro, provocando um comportamento propenso à
busca de fantasias eróticas envolvendo terceiros como forma de quebrar a monotonia, o que pode
culminar na busca real de novos parceiros; a neurobiologia do sexo e da ejaculação envolve
sistemas neuronais comuns a vários comportamentos que geram vício, como uso de drogas,
indicando que este comportamento pode desencadear uma compulsão. Torna-se necessário um
resgate de princípios matriarcais condizentes com uma sexualidade aliada à transcendência, em
que o orgasmo não é focado apenas nos genitais, mas sim é ampliado como um exercício
envolvendo os chakras, considerados por Jung como centros de consciência a serem
desenvolvidos, possibilitando a integração de aspectos sombrios através do resgate das tradições,
rituais e ensinamentos das culturas antigas, que tinham uma concepção da sexualidade como
ferramenta fundamental na união dos opostos e na transcendência dos aspectos instintivos.
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Introdução
Desta forma, para elaboração deste trabalho, iremos tomar por base a concepção
junguiana de que libido é toda a energia psíquica, e a partir desta premissa focaremos na
participação do instinto sexual na formação da personalidade e suas derivações ligadas à libido.
Vê-se que esta energia psíquica ligada ao instinto da sexualidade exerce uma importante
influencia nos estados saudáveis e patológicos do indivíduo conforme sua utilização. É possível
que a forma como a sexualidade contemporânea é conduzida predisponha à formação de
conteúdos sombrios, ocasionando patologias psicossomáticas.
A sexualidade masculina tem por hábito a vivência instintiva e primitiva do ato sexual, a
satisfação pessoal de caráter egoísta que se finda no momento da ejaculação. Quer queira ou
não, na maioria das vezes o homem impõe o fim do ato sexual apesar de existir uma outra parte
envolvida. A outra parte envolvida, no caso a mulher, teve
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que se adaptar a este comportamento masculino, assim tornando-se submissa e
repreendida da função erótica e intuitiva que lhe são natas. O esfriamento do
relacionamento conjugal contemporâneo se dá também pela imposição da sexualidade
patriarcal fixada em uma sexualidade instintiva primitiva, mantendo na sombra o lado
transcendente da sexualidade. Para demonstrar que este comportamento masculino é
produtor de conteúdos sombrios patológicos, serão utilizadas pesquisas cientificas para
fundamentação. Tem-se como objetivo a elucidação dos conteúdos sombrios advindos
da sexualidade instintiva ejaculatória. O trabalho se divide em três capítulos: Processos
sombrios da sexualidade masculina nas diferentes fases do desenvolvimento; O corpo
como expressão da sombra sexual; O resgate dos mitos e ritos da sexualidade
transcendente.
Capítulo 1
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1.1 A importância dos ritos de passagem
Para guiar o ser humano em seu processo de aquisição de consciência, as
sociedades criaram seus ritos de passagem, possibilitando a transmissão de
conhecimentos adquiridos pela experiência grupal nas gerações. A prática do ritual e a
vivência dos mitos auxiliam na conscientização dos aspectos sombrios da vida,
preparando os indivíduos para os novos desafios que a vida lhes proporcionará.
A sociedade contemporânea esqueceu-se de seus rituais de passagem, onde
ensinamentos eram absorvidos e assimilados pelos indivíduos. A própria passagem do
matriarcado para o patriarcado deveria ser de um modo ritualizado, mostrando a
necessidade de morte e renascimento.
Existem relatos deste comportamento ritualístico em várias tribos ao redor do
mundo, onde se pode notar a transição de uma etapa da vida para outra. Até a chegada
destes rituais, algumas tribos são bem flexíveis no contexto da sexualidade infantil,
talvez com a intenção de atenuar o aspecto sombrio da sexualidade, ou mesmo de
deixar a criança experimentar todo seu impulso originado pelos seus instintos.
Como relata o próprio Jung (1987a, p.105):
Todas as tribos e grupos primitivos que se organizam, de um modo ou de outro,
têm seus ritos de iniciação, frequentemente muito desenvolvidos e que
desempenham um papel importantíssimo em sua vida social e religiosa. Através
dessas cerimônias os meninos tornam-se homens e as meninas, mulheres. Os
cavirondos insultam aqueles que não se submetem à circuncisão ou à excisão,
chamando-os de "animais". Isto demonstra que os costumes de iniciação
representam meios mágicos através dos quais o homem abandona a condição
animal, ascendendo à condição humana.
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A Bíblia relata que a circuncisão é um pacto dos descendentes de Abraão com
Deus (BÍBLIA, Gênesis, Cap.17, Vers.10-14.), sugerindo, portanto, que é através do
órgão genital que se torna possível travar um pacto com Deus, atribuindo um possível
caráter sagrado à prática sexual, descaracterizando essa prática como algo
simplesmente instintivo e animal e atribuindo um caráter transcendental. Joseph
Campbell (2005, p.86) relata em seu livro As máscaras de Deus um exemplo de um rito
aborígene de passagem do masculino que demonstra este caráter sagrado da
circuncisão:
Durante toda noite (do ritual) a mãe do rapaz manteve uma fogueira acesa em
seu acampamento e agora traz nas mãos duas longas achas que foram acesas
naquela fogueira. Os homens cantam uma canção do fogo enquanto a mãe
passa uma acha para a mulher que deverá tonar-se sogra do rapaz e ela,
aproximando-se do jovem, lhe envolve o pescoço com tiras de pele de animal,
entrega-lhe a acha e diz-lhe para segurar firme seu próprio fogo; o que quer dizer
jamais envolver-se com mulheres destinadas a outros homens. (..) Mas temos
que reconhecer também que a vara incandescente que o menino acabou de
receber das duas mães é, no contexto do rito, uma referência explícita à
liberação controlada de seu próprio fogo sexual, que deve ser socialmente
autorizada através da provação ritualística de sua iminente circuncisão: a
segunda vara, para o qual o seu próprio fogo deve ser dirigido, agora no
acampamento da esposa escolhida.
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deterioração da medula espinhal (MASTERS; JOHNSON; KOLODNY, 1987, p.284).
Hipócrates considerava que reter o sêmen proporcionava ao corpo a máxima energia; a
sua perda a morte, Platão e Aristóteles compartilhavam desta visão. Pitágoras
aconselha que as relações sexuais ocorressem preferencialmente no inverno, embora a
perda do esperma fosse sempre prejudicial (RANKE-HEINEMANN, 1996, p.22).
Nas grandes religiões, a masturbação sempre foi considerada um pecado, uma
transgressão à lei de Deus. No Cristianismo, Judaísmo e Islamismo a demonização da
prática se deve à passagem Bíblica de Onâ. Er, irmão mais velho de Onã, é eliminado
por Deus em circunstâncias não explicadas. Cabe a Onã, então, a missão de gerar um
descendente de seu irmão. Mas quando está com Tamar, viúva de Er, Onã opta por
derramar o sêmen na terra. Neste momento é morto por Deus (BÍBLIA, Gênesis,
Cap.38, Vers.9-10).
Deve-se captar o sentido maior por trás destas tradições e costumes, saber qual
seria o benefício das ações preventivas, das orientações a respeito do comportamento
sexual dos indivíduos. Joseph Campbell (2005, p. 86) alerta que:
A série de ritos impressionantes, grosseiros como podem parecer ao olhar
civilizado, não deve ser reduzida a uma simples manifestação supersticiosa da
ignorância primitiva. Pelo contrário, esses ritos são o instrumento prático de uma
sabedoria primitiva, pelo menos em alguns aspectos mais sofisticados e
eficientes que muitos dos nossos, sendo seu objetivo principal o fator pedagógico
ou, como tal pudéssemos dizer melhor, o hermético; a transformação mágica de
uma psique.
Deste modo, vemos uma similaridade dos conceitos de Freud com a dos antigos
filósofos e médicos Gregos a respeito da masturbação. Para compreendermos
analiticamente os comportamentos dos jovens, devemos levar em conta que nossos
instintos são arquetípicos, ou seja, são comportamentos primordiais e essenciais para a
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existência humana. O nível de atuação desses instintos no indivíduo varia de acordo
com a automação dos complexos sobre o ego. Jung faz uma analogia interessante da
automação dos complexos como personalidades independentes: O ego é um
aglomerado de conteúdos altamente dotados de energia e, assim, quase não há
diferença ao falarmos de complexos e de complexo do ego. Pois os complexos têm um
certo poder, uma espécie de ego (...) Nos sonhos eles frequentemente aparecem
personificados. E uma pessoa poderá treinar a tal ponto, que os fará visíveis ou
audíveis quando acordada. (JUNG, 1985, p.67).
Percebo que durante a masturbação ocorre uma projeção mental advinda do
inconsciente, onde a mesma torna-se fonte formadora de aspectos sombrios para o
inconsciente. Estas projeções vêm do inconsciente para a consciência, onde tomam a
autonomia do ego e enantiodromicamente, voltam para o inconsciente com mais força
ou com maior capacidade de expressão na consciência. Deste modo, verifica-se um
processo de compulsão autoalimentador. Vemos que podemos traçar um paralelo
destes complexos com os mitos dos íncubos e súcubos.(formas mentais masculinas e
femininas que drenam a energia sexual da pessoa, através de sonhos eróticos
seguidos de ejaculação, chamados de poluções noturnas). Para Jung (1987a, p.100):
Mas quando os conteúdos do inconsciente, isto é, as próprias fantasias não são
“realizadas”, dão origem a uma atividade negativa e à personificação; em outras
palavras, o animus e a anima tornam-se autônomos. Ocorrem nessa
eventualidade anormalidades psíquicas, estados de possessão de diversos
graus, que vão desde os estados de ânimo e “ideias” até as psicoses. Todos
esses estados se caracterizam por um fator desconhecido, por algo que toma
posse da psique num grau maior ou menor, prolongando sua existência nociva
ou repugnante contra todos os esforços de compreensão, razão e energia e
proclamando desse modo o poder do inconsciente sobre a consciência: o poder
soberano da possessão. Nestes casos, a parte possuída desenvolve em geral
uma psicologia de animus ou anima. O íncubo da mulher consiste numa legião
de demônios masculinos; o súcubo do homem é uma forma de vampiro feminino.
No caso dos homens, estas figuras femininas (súcubos) vistas nos sonhos ou
devaneios são a expressão da anima (aspecto inconsciente oposto ao gênero
masculino). Penso que essas imagens também contemplam aspectos de fantasias
absorvidas pelo indivíduo no seu dia a dia bem como aspectos dos complexos. Sabe-se
que o indivíduo não tem complexos, e sim os complexos é que o tem. Como disse Jung
(1985, p.67):
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Gostamos de pensar que somos unificados; mas isso não acontece nem nunca
aconteceu. Realmente não somos senhores dentro de nossa própria casa. É
agradável pensar no poder de nossa vontade, em nossa energia e no que
podemos fazer. Mas na hora H, descobrimos que podemos fazê-lo até certo
ponto, porque somos atrapalhados por esses pequenos demônios, os
complexos. Eles são grupos autônomos de associações, com tendência de
movimento próprio, de viverem sua vida independentemente de nossa intenção.
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Depois de vários anos, a ciência vê uma correlação da compulsão sexual com
outras compulsões. A dopamina, um neurotransmissor presente em diversas áreas do
sistema nervoso central, é um mediador químico de grande importância no sistema de
recompensa, sendo liberada em situações prazerosas como ao alimentar-se, durante o
sexo, bem como durante o uso de drogas de abuso. A dopamina também parece ser
um neurotransmissor chave para o desenvolvimento do comportamento de adição,
comumente chamado de vício, sendo que o excesso de comportamentos que levam à
liberação dessa substância pode levar à diminuição da sensibilidade do sistema à
presença da mesma, o que pode fazer com que o indivíduo busque mais e mais
estímulo, como as drogas em alguns casos, ou o sexo em outros (BURKETT; YOUNG,
2012).
Na atualidade, a compulsão dos adolescentes por pornografia, drogas e jogos
eletrônicos é imensa, podendo se estender por toda a vida. É uma troca de libido,
alimentando personas virtuais que não interagem com o mundo real. Sabemos que o
mundo real é que propicia o contato com as próprias fragilidades, oferecendo
oportunidades para a integração consciente das mesmas. Assim, o adolescente se
priva de oportunidades importantes para seu próprio crescimento.
É natural e benéfico que os jovens se sintam atraídos sexualmente. Segundo
Jung (2011, p.115), nesta idade os jovens fazem experiências com a vida. E precisa
fazê-las a fim de poder construir julgamentos corretos. Mas como o próprio autor
pontua, não se faz experiências sem erros ou falhas. Vejo que a liberdade sexual que
os jovens têm hoje contrasta com a falta de segurança em sua formação no convívio
em sociedade. Eles querem ir, mas não sabem para onde, não têm suporte e
orientação. A falta do mito de um significado maior para a sexualidade, onde ocorreria
um encontro com o numinoso através do sexo sob uma forma ritualística sagrada, está
perdida nas lendas e nos sonhos do inconsciente, tornando-se totalmente sombrio na
contemporaneidade. Temos em um polo esta liberdade sexual incentivada e produzida
pela cultura moderna e em outro polo a concepção religiosa sobre o sexo, onde a
mesma não soube fazer a conexão com o sagrado. A cultura judaico-cristã colocou a
espiritualidade e a sexualidade em caminhos separados, algo que na síntese tem a
mesma essência: a criação de vida e a felicidade. A prática do celibato extirpou esta
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conexão provocando uma das maiores concentrações de sombra sexual na
humanidade. Mesmo os que não eram celibatários, bebiam do veneno da culpa, pela
transgressão de um significado equivocado.
Em sua dificuldade de lidar com a instintividade do ser humano, a moral judaico-
cristã repreende os instintos, colocando-os na sombra, sem a devida integração ao
consciente; ela propõe ideais de amor e paz que nunca serão alcançados sem a
compreensão dos opostos. Segundo Sanford (1988, p.64):
De modo geral, esses padrões de ideal que direcionam nosso modo de ser e de
agir pertencem a nossa cultura de acordo com as necessidades da sociedade e
com os padrões morais judaico-cristãos. Assim, a sociedade nos diz que não
podemos furtar, assassinar ou agir de alguma forma socialmente destrutiva, sem
que sejamos punidos. A maioria de nós se conforma, mais ou menos, a esses
padrões e, consequentemente, nega e reprime o ladrão e o assassino que
existem dentro de nós. O código moral judaico-cristão vai além e nos incita a ser
amáveis, tolerantes, sexualmente castos etc. Tentando nos conformar aos
padrões ideais rejeitamos nosso lado agressivo, vingativo e de impulsos sexuais
incontroláveis.
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alimentando um sentimento sombrio em relação ao compromisso de estabelecer uma
família. Sobre este comportamento Jung (2011, p.120) explana muito bem:
A relação platônica dos sexos na idade estudantil é assunto de grande
importância. Sua forma mais comum é o flirt que consiste numa atitude
experimental, bem própria desta idade. Trata-se de uma atitude voluntária mas
que, por consenso tácito de ambos os lados, é sem compromisso. Aqui reside
sua vantagem e também sua desvantagem. A atitude experimental possibilita um
aprender a conhecer-se sem consequências fatais. Ambos os sexos exercitam
seu julgamento e seu jeito de expressar-se, adaptar-se e defender-se em relação
ao outro. Muitíssimas experiências de valor inestimável para a vida futura são
acumuladas no flirt. Mas o caráter de descompromisso pode facilmente
transformar o flirt em algo habitual, insípido, superficial e sem coração. O homem
se torna um dândi, um partidor de corações, e nem imagina a figura insossa que
está fazendo. A mulher se torna coquete, não sendo levada a sério por nenhum
homem de respeito. Por isso não se pode aconselhar o flirt a qualquer custo.
A meu ver, o que ocorre com frequência no mundo masculino jovial é que o flirt
tem por base propulsora não somente o impulso sexual, e sim um comportamento de
autoafirmação do ego, uma adaptação da persona do indivíduo perante o grupo social a
qual pertence. São dois componentes que o indivíduo carrega desde o início da
formação do ego, a necessidade de atenção e a de dominação; egoísmo e
egocentrismo, do qual os complexos relacionados à sexualidade tomam força a partir
da puberdade. O jovem precisa cumprir o papel da persona de seu grupo social. Jung
(1987a, p.32) explana:
... a persona não passa de uma máscara da psique coletiva. No fundo, nada tem
de real; ela representa um compromisso entre o indivíduo e a sociedade, acerca
daquilo que alguém parece ser: nome, título, ocupação, isto ou aquilo. De certo
modo, tais dados são reais; mas, em relação à individualidade essencial da
pessoa, representam algo de secundário, uma vez que resultam de um
compromisso no qual outros podem ter uma quota maior do que a do indivíduo
em questão.
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entendimento, e sim de mecanismos para acelerar a sua manifestação. O “fast sex” é
um exemplo de comportamento, “a fila tem que andar” dizem eles. Pecamos com a falta
dos ritos, que ensinavam aos jovens a necessidade de passar por etapas e
determinados processos para a construção de qualquer projeto pessoal. A velocidade
atual da informação sem orientação atropela qualquer planejamento. Talvez estejamos
vivenciando o final de uma era patriarcal, com seus ideais paternalistas. Jung (1987a,
p.85-86) fala sobre o mundo patriarcal do homem:
O mundo do homem é o povo, o “Estado”, os negócios, etc. Sua família
representa um meio dirigido para uma finalidade, e é um dos fundamentos do
Estado. Sua esposa não é necessariamente a mulher (pelo menos no mesmo
sentido que ela pensa em dizer “meu marido”). Para o homem, o geral precede o
pessoal; daí o fato de seu mundo ser composto de uma multiplicidade de fatores
coordenados, enquanto que para a mulher o mundo além do marido acaba numa
espécie de nevoeiro cósmico.
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Vemos que o capitalismo se mantém as custas de frustrações. Caso houvesse
satisfação sexual por parte do feminino, o capitalismo estaria arruinado. A moda com
forte exposição sexual mantém o universo masculino preso a seus impulsos instintivos,
tornando-o uma regra do comportamento sexual humano. Salvo raríssimas exceções,
não existe mídia para o público masculino que não tenha apelo sexual como pano de
fundo para a venda, o capitalismo sabe onde é o calcanhar de Aquiles, o ponto fraco
masculino.
O domínio opressor do patriarcado pode estar com seus dias contados, as
confusões de papéis que vemos nestes tempos modernos proporcionara o caos
necessário para as transformações. Pelo efeito pendular veremos o retorno gradual do
matriarcado, de seus valores esquecidos pelo tempo e pela ciência moderna. E.
Simone D. Magaldi (2010, p.65) traz em seu livro intitulado Ordem e Caos, um relato
deste tempo.
A história das ciências demonstra a supervalorização da razão, do logos, e a
superdesvalorização dos conteúdos sensíveis, sentimentais e total negação da
intuição, todos esses muito mais femininos do que masculinos. No entanto, a
razão e a lógica não respondem sozinhas a todas as nossas indagações.
Arquétipos muito mais arcaicos apontam para uma dimensão essencial feminina.
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apresenta por si mesma, e que só podemos captá-la se formos suficientemente
rápidos.
Capítulo 2
É muito comum dentro do universo masculino, não dar a devida atenção para as
mensagens que o corpo envia. A falta de compreensão com o que se passa no corpo
se estende à falta de consciência dos processos compensatórios da psique. Se o corpo
vai mal, a psique não fica atrás. Esta falta de interesse do homem por sua saúde é bem
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conhecida dos profissionais da área médica, onde a procura por assistência à saúde só
ocorre quando a situação se torna insustentável. Quando a vida se complica e os
problemas são somatizados, o indivíduo pode estar entrando em um período de vida
que o convidará para uma reflexão interna de valores. Nesta fase, aquilo que estava
reprimido no inconsciente, negado, deixado de lado começa a atormentar a consciência
e se expressar no corpo. Muitas vezes esse processo se instala durante a metanóia.
A metanóia é um chamado para o indivíduo iniciar um processo de morte e
renascimento. É um momento de reflexão que se dá através das crises que o indivíduo
virá a passar nesta fase. Crises existenciais são um recorrente durante a vida, mas
como diz MAGALDI (2010, p.107):
Se passarmos pela adolescência e sublimarmos a questão do mito do
significado, a razão de sermos, certo é que, na metanóia, esses fantasmas se
levantarão de nosso inconsciente e exigirão respostas. Ninguém passa pela vida
ignorando-a, é preciso reconhecer os limites e necessidade de todas as esferas
do ser humano.
A metanóia poderá também ser uma fase importante para o homem rever a sua forma
de conduzir sua sexualidade, pois vários conteúdos sombrios vêm à tona e mal sabe
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ele que muitos deles estão relacionados com esse aspecto. Para que o indivíduo
entenda o processo da metanóia e comece sua trajetória para a individuação, é
necessária a colaboração do ego no processo. Enquanto o ego tomar as decisões em
oposição ao Self não se realizaram as mudanças necessárias, mas sim veremos
homens e velhos em comportamento regressivo, querendo se tornar jovens em atitudes
infantis e reprimindo novamente os conteúdos sombrios que se apresentam nesta fase.
Este tipo de comportamento arquetípico no masculino chama-se de Puer Aeternus, ou
seja, o Eterno Jovem. Como todo arquétipo, sempre existe dois lados opostos da
atuação. O comportamento regressivo é a identificação com uma imagem arquetípica
não condizente com o processo de individuação. Carlos São Paulo nos esclarece sobre
o Puer:
O homem ao amadurecer, encontra dentro de si mesmo o seu aspecto Puer.
Porém, se o Ego não consegue manter essa experiência por meio da atitude da
consciência introvertida, o mundo lá fora lhe pregará peças e, aí aparecerão as
relações assimétricas e, consequentemente, perderá todo o encanto cedendo
lugar às crises. Essas crises poderão levar o sujeito a melhorar a qualidade de
sua vida, ou sucumbir na loucura, ou mesmo na morte literal.
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Muitos homens tem uma enorme dificuldade de sair da forma instintiva e primitiva
do sexo, incorrendo no risco de cada vez mais se aproximar da promiscuidade,
estendendo-a para o relacionamento conjugal. Pesquisas demonstram que a média de
duração dos relacionamentos conjugais no Brasil caiu. O IBGE revela que em 2011, a
média era de 15 anos, quando em 2006 alcançou 18 anos. Segundo o levantamento, os
homens solteiros na data do casamento tinham, em média, 28 anos; enquanto as
mulheres se casaram com 26 anos, ambos três anos a mais que os números de 2001,
quando os homens casavam com 25 e as mulheres com 23 anos. Nota-se que uma
maior idade para contrair o casamento não resultou em relacionamentos mais duráveis.
Ter um tempo maior para experimentar a sexualidade não fez com que os
relacionamentos durassem mais. Nossos ritos modernos não ajudam a transmitir o real
significado da sexualidade para um relacionamento estável. Jung (2011, p.135)
comenta sobre o significado da sexualidade para o homem e para a mulher:
Mas a maioria dos homens são cegos do ponto de vista erótico. Cometem o
imperdoável erro de confundir o Eros com sexualidade. O homem acha que
possui a mulher porque a possui sexualmente. Ora, é justamente na posse
sexual que ele menos a possui, porque para a mulher o que importa é o Eros.
Para a maioria das mulheres o carinho, afeto e a atenção contam muito durante
o sexo. Para a maioria dos homens o instinto sexual vem de forma brutal e animalesca
durante a relação sexual, dificilmente conseguindo controlar a tensão sexual. A
diferença biológica em relação ao prazer entre homem e mulher é algo sombrio no
universo masculino. No geral, o tempo para se chegar à excitação na mulher é bem
maior do que no homem. Para muitos homens a ejaculação precoce e a impotência são
temores que rondam suas relações sexuais.
De acordo com a pesquisa Estudo da Vida Sexual do Brasileiro, realizada por
Abdo et al. (2006) da Faculdade de Medicina da USP, de um total de 2 mil homens
entrevistados entre 18 e 40 anos, 35% apresentou algum grau de disfunção erétil, dos
quais 75% deles apresentavam uma disfunção leve e os outros 25% apresentaram
disfunção moderada ou completa. Estes sintomas são mais comuns nos homens na
meia idade, mas aparecem com frequência em qualquer fase da vida. Infelizmente os
homens não se dão conta dos processos psíquicos que ocasionaram sua queda, o que
os sintomas querem lhe dizer. A natureza nos avisa bem antes que algo na sexualidade
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não vai bem. Se o homem soubesse ler os sinais que o corpo diz sobre o que está
havendo, teria maiores sucessos em suas práticas sexuais. A ansiedade de se chegar
ou não ao orgasmo, de exercer o sexo até que a mulher esteja também atingindo o
êxtase, causam traumas e frustrações. Nesses momentos a mulher esquece-se do Eros
e age conforme a sexualidade masculina, somente para a satisfação do masculino. Por
isso a técnica de fingir orgasmo é amplamente comum no meio feminino. Uma forma de
conter a frustração masculina pelo desempenho. Para muitas mulheres só lhes resta o
desânimo do homem depois da relação. Desânimo que se acumula com o tempo, se
tornando um sentimento cada vez mais arrebatador, resultando em muitos casos de
traição ou separação.
Uma pesquisa interessante sobre o comportamento sexual em ratos esclarece a
tendência no masculino para o desânimo nas relações conjugais e a possível saída
para promiscuidade. Ratos machos sexualmente saciados param de copular depois de
várias ejaculações com a mesma fêmea, mas a presença de uma fêmea
receptiva desconhecida faz com que o macho retome à atividade de cópula, um
processo chamado de efeito Coolidge (TLACHI-LÓPES et al., 2012)
O desânimo do homem após a ejaculação pode levar ao esfriamento do
relacionamento, fomentando a necessidade constante de técnicas para apimentar o
sexo. Um exemplo são as fantasias eróticas de conteúdos pornográficos, que envolvem
a figura de uma terceira pessoa. Estes comportamentos comprovam o desinteresse
progressivo do masculino para a beleza original e natural do feminino em sua
companheira.
A liberdade sexual, tendo como referência conteúdos pornográficos presentes na
mídia, faz com que a promiscuidade seja companheira física e psicológica no universo
masculino. Mesmo que o homem tenha um relacionamento fiel, a promiscuidade lhe
atormenta psicologicamente. Jung (2011, p.227) esclarece sobre a promiscuidade,
analisando o comportamento dos americanos desde a guerra:
Há uma tendência acentuada para a promiscuidade que se manifesta não só nos
inúmeros divórcios mas também na liberação da geração mais jovem quanto aos
preconceitos sexuais. Consequência inevitável é a deterioração do
relacionamento individual entre sexos. Um acesso fácil não desafia os valores do
caráter e por isso também não os desenvolve, dando origem a sérios obstáculos
para um entendimento mútuo mais profundo. Este entendimento, sem o qual não
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existe verdadeiro amor, só é alcançado superando-se todas as dificuldades
inerentes à diferença psicológica entre os sexos. A promiscuidade paralisa todos
esses esforços porque oferece oportunidades fáceis de fuga. E o relacionamento
individual se torna muito supérfluo. Quanto mais predominarem uma assim
chamada liberdade sem preconceitos e a fácil promiscuidade, tanto mais o amor
se tornará banal e degenerará em interlúdios sexuais transitórios.
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atletas antes das competições e também de tribos indígenas que se ausentam do sexo
antes da temporada de caça com o intuito de apurarem suas habilidades.
Capítulo 3
Em uma pesquisa realizada em Nova York de 1849 a 1879 com 250 pessoas
que viviam em uma comunidade religiosa chamada Oneida, John Humphrey Noyes,
teólogo e fundador da comunidade, quis implementar um método contraceptivo para
seus seguidores. Durante o período do experimento, nasceram apenas 40 crianças.
Através de sua interpretação bíblica, incentivou a pratica sexual sem a ejaculação.
Noyes afirmava que era possível ter prazer no sexo, sem o derrame do sêmen e que
este era somente para a concepção de crianças. Pregava igualdade entre homens e
mulheres e dizia que os homens deveriam aprender a amar sua mulher com mais
carinho. Em suas palavras, ele explica os fundamentos e benefícios desta prática
(NOYES,1872, p.8).
A relação sexual ordinária é uma relação momentânea, que termina na exaustão
e no desgosto. Se ela começa no espírito, logo termina na carne. A amorosidade,
que é espiritual, é abafada pela reprodutividade, que é sensual. A exaustão, que
naturalmente se segue, produz remorso e vergonha, e isto leva ao desgosto e ao
encobrimento dos órgãos sexuais, que contraem associações desagradáveis,
devido ao fato de serem instrumentos de excesso pernicioso. Esta é sem dúvida
a filosofia da origem da vergonha depois da Queda. Adão e Eva primeiro
afundaram o espiritual no sensual, avançando prematuramente do espiritual em
direção ao sensual, e então ficaram envergonhados, e começaram a olhar de
modo negativo para os instrumentos de sua insensatez. Ao mesmo princípio
podemos creditar o processo de esfriamento que se instaura entre os amantes
depois do casamento e que frequentemente termina em indiferença e desgosto.
Exaustão e remorso tornam o olhar malicioso não só em relação aos
instrumentos do excesso, mas também em relação à pessoa que provoca o
excesso. Em contraste a isto, os amantes que utilizam seus órgãos
sexuais como simples servidores de suas naturezas espirituais, abstendo-se do
ato propagativo, exceto quando a procriação é planejada, podem desfrutar o
mais alto êxtase da cooperação sexual por qualquer duração de tempo, sem
saciedade ou exaustão; e assim a vida conjugal pode se tornar
permanentemente mais doce que o cortejo ou mesmo a lua de mel.
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Percebo que a mulher sofre duplamente com a sexualidade patriarcal
ejaculatória. Ela não tem escolha para uma boa saída, ou tem partos consecutivos, ou
torna-se escrava de remédios contraceptivos que alteram sua produção hormonal
natural. É interessante notar que o maior índice de câncer nos seres humanos na
atualidade se manifesta nos órgãos relacionados à sexualidade. Parece que a saída do
paraíso pelo fato de se ter comido a maçã foi um castigo e tanto para os humanos: “E à
mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua concepção; com dor darás à
luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará” (BÍBLIA, Gênesis,
Cap.3, Vers.16). A partir daí têm-se um substrato para a fundamentação e propagação
do patriarcado, caracterizado não só pela forma dominadora no que tange à
sexualidade, mas também uma ampla variedade de aspectos sociais em diversas
culturas.
Talvez Noyes tenha sido um dos poucos religiosos de nossa época que soube
entender o significado da sexualidade em uma concepção religiosa. Visão defendida
pelos antigos cristãos, os chamados Gnósticos. Existem textos bíblicos que sugerem
um comportamento sexual diferente: “E também se um homem se deitar com a mulher
e tiver emissão de sêmen, ambos se banharão com água, e serão imundos até à tarde”
(BÍBLIA, Levítico, Cap.15, Vers.18). Alguns textos bíblicos citam até a transmutação do
sêmen como nos textos tântricos e alquímicos: “Bebe água da tua fonte, e das
correntes do teu poço. Derramar-se-iam as tuas fontes por fora, e pelas ruas os ribeiros
de águas? Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade”
(BÍBLIA, Provérbios, Cap.5, Vers.15,18).
Talvez pela dificuldade de implementação de mudanças no comportamento
sexual frente às regras de uma cultura patriarcal, o sexo para a religião ocidental tomou
uma condição demoníaca, onde só poderia ser realizado para concepção. Este caráter
demoníaco assombra o masculino, pela dificuldade de lidar com o apelo do instinto
sexual.
Penso que o amor entre duas pessoas é a coroação da busca pela compreensão
das forças opostas dentro de cada indivíduo, sendo muito mais que apenas uma
satisfação momentânea ou um ato de procriação. É no caminho da sexualidade que o
homem e a mulher se unem no casamento alquímico, prática que nos ajuda a integrar
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nossos opostos, onde o homem se torna mais feminino por saber desfrutar de Eros,
admirando sua anima em sua amada e sua amada autoafirmando seu animus em
relação ao seu amado. É na relação de um casal que se encontra a melhor
oportunidade de autoconhecimento, pois o aprendizado que se tem em saber dividir,
esperar, cooperar, perdoar e amar; não será encontrado com tal perfeição como a que
se tem em uma união a dois. É nesta união em um mesmo teto onde as maiores
projeções acontecem, onde nos descobrimos um no outro, onde nos desnudamos e nos
entregamos para a experiência como no rosarium philosophorum.
Talvez os grandes alquimistas quisessem passar um conhecimento preservado a
sete chaves, ocultado em simbologias que protegessem seu significado perante a
imposição religiosa da época, oferecendo uma grande ajuda para aqueles que
quisessem desvendar os segredos das potencialidades humanas, ocultas dentro de
cada ser, uma transformação alquímica, psicológica e sexual. A palavra Alquimia, do
árabe Al-Kemi ou do grego Chemeia, tem o mesmo significado: Química Sagrada. Um
método de conexão com o sagrado. Sobre os Alquimistas, Jung (1990, p.325-6)
comenta:
Os alquimistas são, de fato, pessoas solitárias; cada qual diz o que tem a dizer à
sua maneira. Raramente tem discípulos e parece que transmitiam bem pouca
coisa por tradição direta; nem temos provas da existência de quaisquer
sociedades secretas. Cada qual trabalhava sozinho no laboratório e sofria com a
solidão. (...) Temos a impressão de que cada qual tentava expressar sua
vivência particular e citava os ditos dos mestres que pareciam espelhar seus
próprios sentimentos. Todos concordam desde os tempos mais remotos que sua
Arte é sagrada e divina e que sua obra só pode ser levada a cabo mediante a
ajuda de Deus. Esta ciência só é dada a poucos e só é entendida por aqueles a
quem Deus ou um mestre abriu o entendimento.
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tradições tântricas. Jung (1990, p.446) comenta sobre a similaridade da alquimia
ocidental e oriental:
Ela (a alquimia ocidental) procurava produzir um ”corpus subtile”, o corpo
transfigurado da ressurreição, isto é um corpo que fosse simultaneamente
espírito. Através desta tendência ela encontrou-se com a alquimia chinesa, tal
como a conhecemos no texto do Segredo da Flor de Ouro. Nesta obra trata-se
do “corpo diamantino”, isto é da imortalidade que se alcança através da
transformação do corpo.
A meu ver os textos alquímicos chineses utilizam uma linguagem mais clara e
direta, pois não necessitavam de utilizar uma linguagem oculta sobre os processos de
sublimação da energia sexual como ocorria nos textos da alquimia ocidental, pois eles
não sofriam uma perseguição religiosa.
No livro “O segredo da Flor de Ouro”, Jung e Wilheim (1983, p.120) expressa
uma frase de Buda “A manifestação desemboca no vazio” da seguinte maneira:
Isto é a sublimação da semente na força. Quando o discípulo não entende este
princípio e deixa escapar a força de forma direta, ela se transforma em semente;
é disto que se trata quando se diz: "O vazio desemboca na manifestação". Mas
todo homem que se une corporalmente a uma mulher, primeiro sente prazer e
depois, amargura; quando a semente escorreu, o corpo se sente cansado e o
espírito, abatido. Algo bem diverso ocorre quando o adepto permite que o
espírito e a força se unam. Isto dá primeiro pureza e depois frescor; quando a
semente transmuta, o corpo se sente bem e livre.
Interessante notar que o texto descreve que a pessoa correta poderá utilizar o
meio errado, que ele atuará de forma correta. Pode-se concluir que se a pessoa está
disposta a entrar no caminho da individuação e incluir sua sexualidade como parte
integrante desta mudança, certamente as ferramentas necessárias para seu trabalho
irão aparecer - sonhos, intuições, sincronicidades - o inconsciente irá alertar para tais
mudanças. Aqui se cumpre a antiga frase das iniciações esotéricas: “Quando o
discípulo está pronto o mestre aparece”.
A transmutação da energia sexual é muito bem documentada nos textos taoistas
e tântricos. Eles reúnem em grande parte um ensinamento que ajudaria na
compreensão dos aspectos da sexualidade, vinculada à psique.
Jung (2011, p.101-102) comenta sobre a grande jornada que a psicologia
ocidental necessita percorrer para o entendimento da sexualidade:
O estudo da sexualidade que para nós nasceu em Viena e na Inglaterra encontra
na Índia modelos bem superiores. Sobre o relativismo filosófico encontramos lá
textos milenares, e a própria concepção da ciência chinesa se baseia
exclusivamente num ponto de vista supracausal que mal suspeitamos. E a
respeito de certas novas descobertas, um tanto complicadas, de nossa
psicologia, podemos encontrar uma descrição bastante clara em antigos textos
chineses, como mostrou recentemente o professor Wilhelm. O que consideramos
uma descoberta especificamente ocidental – a psicanálise e os movimentos que
derivam dela – não passa de uma tentativa de principiantes, em comparação
com a arte que a tempo se vem exercendo no Oriente.
São poucos o que sabem que a palavra sacra (sagrado) deu o nome ao osso
sacro, lugar onde mora a serpente kundalini. Este é um conhecimento novo para o
ocidente. Poucos são os que já estudaram a Kundalini em sua forma sexual. Uma
parcela deste conhecimento oriental sobre sexualidade chegou até o ocidente sob o
nome de sexo tântrico. Como estamos na era do capitalismo e do culto a liberdade
sexual desorientada, muitas escolas “ditas” tântricas pregam um ensinamento muito
mais de apegos aos instintos sexuais, até mesmo incentivando a ejaculação.
Ensinamento este muito diferente do que a filosofia original propõe. Desta forma, esse
ensinamento que poderia contribuir de maneira significativa para a compreensão da
sexualidade transcendente passa a transmitir uma imagem equivocada e sombria,
incorrendo no risco de desviar do caminho aqueles que buscam o verdadeiro
conhecimento.
É importante esclarecer que a visão da sexualidade dentro de um contexto
sagrado e transcendental não está somente expressa no sexo tântrico, este
ensinamento é encontrado em diferentes culturas do mundo antigo.
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A mitologia Fálica e da grande mãe está presente nos fundamentos de várias
religiões, pode-se ver os símbolos masculino e feminino representados no Lingam e
Yoni do Hinduísmo, na estrela do Judaísmo, bem como na cruz do Cristianismo. Estes
símbolos não expressavam somente a importância da procriação e da fertilidade
terrena, mas também indicavam a sexualidade como uma força humana a ser utilizada
para uma conexão com o sagrado.
É de extrema importância reconhecer o caráter numinoso e simbólico da
sexualidade, expressos nos mitos, lendas e contos ao redor do mundo. Os cálices,
vasos e rosas sagradas são símbolos da sexualidade feminina. A imagem simbólica da
sexualidade mais propagada é a da serpente, provavelmente devido a sua similaridade
com o formato do órgão genital masculino. Das serpentes sagradas do Egito e dos
povos primitivos da América, o culto à serpete se espalhou por todo mundo. Um
aspecto interessante e curioso de se observar é o comportamento sexual das
serpentes, parecendo-se com a dos grandes mestres da arte do sexo sagrado, sendo
extremamente demorado e entrelaçado, como simbolizado no caduceu de Hermes.
Tantos nos símbolos mitológicos, quanto nas histórias lendárias e religiosas, se
vê muito mais a presença da figura masculina do que a feminina; sugerindo uma
influência patriarcal. Por outro lado, como menciona o instrutor e pesquisador gnóstico
Claudio Carone (1992, p.77-78):
Quando estudamos os textos tântricos sentimo-nos um pouco constrangidos com
a abordagem quase que exclusivamente dos aspectos masculinos, colocando-se
os problemas femininos em plano secundário. Realmente, os tratados tântricos
apresentam pouquíssimas informações sobre os processos sexuais da mulher.
Apesar da nítida tendência patriarcal e machista daqueles tempos, os tantristas,
taoistas, etc.. alegavam que o motivo da quase exclusão feminina se baseia no
fato de que tais textos tinham como objetivo auxiliar o homem devido à sua
inferioridade sexual em relação à mulher. A natureza do homem sendo o fogo é
facilmente apagado pela água (mulher). Pode-se notar que quase todos os textos
se relacionam com a arte de preservar o fogo masculino, a arte de não deixá-lo
se extinguir, ou seja evitar que a água o apague.
A mulher, com seu instinto de cuidadora, deve manter sua ternura e amor
durante a relação, ajudando o homem em sua dificuldade no ato sexual. A mulher que
incorpora o arquétipo luxurioso de Dalila jamais conseguirá ajudar a manter a força de
seu Sansão. Neste sentido, Carone (2005, p.126-7) vem ao nosso auxílio discutindo os
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arquétipos femininos das Deusas Gregas que ajudam a mulher, e consequentemente o
homem, em sua relação matrimonial.
Nos ensinamentos gnósticos cristãos, o termo castidade não tinha o mesmo
significado de celibato. Era empregado para aqueles que não desperdiçavam suas
energias sexuais instintivamente, tanto homens quanto mulheres, pois as mulheres
também devem sublimar sua energia sexual durante o sexo, pois a Kundalini não é
despertada com emoções orgásticas comuns. Tanto homens quanto mulheres devem
trabalhar com outros centros de consciência, controlando e suavizando a respiração,
levando a atenção ao cérebro durante a inspiração, e expirando o ar concentrando-se
no coração, para que assim, esta energia saia do genital e suba pelos centros
energéticos. Jung fala sobre a ascensão da Kundalini, sob uma visão psicológica, como
sendo uma corrente emocional que é unida pelos chakras, durante uma entrevista
relatada pelo escritor chileno Miguel Serrano (1970, p.71) no livro O Círculo Hermético:
... os chakras, diz Jung, são centros da consciência e Kundalini, a serpente
ígnea, que dorme na base da coluna vertebral, é uma corrente emocional que
une de baixo para cima e também de cima para baixo.(...) Se chegássemos a
desenvolver todos os centros, digo, seríamos o homem total e talvez terminasse
dessa forma a História, que é um movimento pendular entre diferentes chakras,
isto é, de civilizações que expressam um chakra, uma instância diferente, outras
consciências, em diversos lugares e épocas da terra, com um homem que pensa
outros pensamentos, de um modo peculiar. Ah, se pudéssemos atingir o homem
total!
A meu ver, Jung e outros escritores que estudaram o conhecimento oriental, não
deixaram claro em suas obras, que a ascensão da Kundalini se dá pela sublimação e
transmutação da energia sexual, mas é de conhecimento geral que existe um chakra
específico (esplênico) ou centro de consciência que está localizado na região dos
órgãos sexuais e de sua importância no conjunto para o despertar desta energia
emocional que se chama Kundalini.
Em vários locais do mundo existem vários nomes para esta sexualidade
transcendental: Sexo Tântrico, Alquimia Sexual, Sahaja Maithuna, Hieros Gamus e
outros. Através da minha experiência, noto que realizar esta prática não é para
amadores, pois nas tradições esotéricas se diz que são muitos anos de treino, sendo
necessária a harmonia entre os diversos centros da consciência. Dificilmente alguém
conseguirá ter sucesso na prática se traumas, medos, ansiedades, indisposição física,
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etc. vierem à tona no momento do amor. Nestes casos, os casais não conseguem ir
além do componente instintivo do sexo, ficando focados na região genital, sem
avançarem a consciência para os outros centros. Todos os aspectos sombrios
prejudicam a relação e danificam o magnetismo do casal. Este conhecimento é
relativamente novo para muitos e para outros é um mito, algo intangível. Na área da
sexualidade contemporânea, percebo que sublimar o orgasmo para um propósito de
encontro com o Self é uma das maiores sombras que existe, considerada como algo
impensável. Esta prática não é uma repressão do instinto, mas sim sua sublimação,
elevando essa energia instintiva para um nível superior de sentimento e compreensão,
onde se tem um prazer de caráter mais numinoso, pois está sendo gerido pelo Self.
De modo algum se pode descartar ou denegrir qualquer forma de sexualidade,
pois elas são necessárias no processo psicológico de transformação da psique. É
necessário dar vazão a estes impulsos em determinadas fases da vida, pois fazem
parte da biologia humana. Caso o indivíduo queira ampliar seu estado de consciência
em relação à sua sexualidade, será necessária uma reavaliação dos conceitos culturais
e dos ensinamentos relacionados à prática sexual. Desta forma terá condições de
reconhecer e avaliar os conteúdos sombrios que lhe apresente e assim, finalmente,
ampliar seu estado de consciência.
Na busca de um aumento de consciência é imprescindível estar ciente dos
componentes sombrios que se manifestam durante e após uma prática sexual de
finalidade ejaculatória. O efeito causado por um comportamento compulsivo só é
percebido pelo indivíduo quando realiza a abstenção consciente do ato e uma posterior
sublimação. Por isso a privação da ejaculação tem uma grande importância, pois ela dá
a oportunidade para que o indivíduo perceba seu organismo, seu corpo e sua mente
sem o comportamento compulsivo e assim identifique conteúdos do inconsciente que
agem por detrás daquele comportamento, possibilitando sua integração.
O aprendizado do ser humano se dá através de suas experiências, e é de
extrema importância se lançar nelas para captar o profundo significado que cada uma
traz consigo. A sexualidade é um instinto de extrema importância para o ser humano,
não apenas para reprodução, mas como uma ferramenta de bem estar, saúde mental e
corporal. Ela deverá estar presente no caminho evolutivo humano, como uma
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ferramenta que possui poderes transformadores, que apenas estamos começando a desvendar.
Conclusão
Na cultura patriarcal em que vivemos, onde o poder parece reinar monetariamente sobre o
amor, os seres humanos que estiverem totalmente imersos nesta cultura dificilmente alcançarão
maiores graus de evolução da consciência. O matriarcado deve voltar a conduzir os seres humanos
nas questões relacionadas com o cuidado, o aprendizado e principalmente nas questões
relacionadas à sexualidade numa forma erótica, transcendente e sagrada. A integração dos
aspectos sombrios da sexualidade é de extrema importância para os indivíduos que buscam o
caminho da individuação.
O ser humano deve se relacionar e integrar seus opostos, masculino e feminino. É no
relacionamento conjugal que se tem a maior oportunidade de encontrar, de se ver na projeção do
outro, de saber qual é a função participativa de cada um. Não simplesmente um domínio do
Matriarcado sobre o Patriarcado, mas a correta atuação da função primordial específica do gênero.
O resultado seria o mítico ser andrógeno que possui as qualidades dos gêneros, o ser humano
primordial das lendas e contos. O super Homem de Nietzsche.
Infelizmente a maioria da humanidade não realiza o trabalho de evolução da consciência,
ficam presos na satisfação dos complexos patológicos ligados aos instintos, dentro os quais o
instinto sexual, numa utilização ilusória do sexo, sob forma de aliviar a pressão de uma vida
alienada a padrões comportamentais de massa. Infelizmente este comportamento ejaculatório
favorece ainda mais o rebaixamento da consciência, dificultando assim a integração dos conteúdos
do inconsciente. A falta dos Mitos e Ritos voltados ao aspecto transcendente da sexualidade
dificulta a obtenção e propagação destas informações. A visão sagrada da sexualidade ainda se
mantém oculta no inconsciente coletivo, sendo ainda um assunto sombrio e talvez se manterá
assim por muito tempo, pois vemos na história humana que são poucos os que se
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sacrificaram pela integração da sombra, que se integram aos ideais do Self, que
seguem o caminho para a individuação ao encontro de si mesmo.
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