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1 101
1 author:
Roberto Lopes
Federal University of Pará
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SEE PROFILE
CONVÊNIO
Niterói
Rio de Janeiro
2009
2
Niterói
Rio de Janeiro
2009
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Instituto de Artes e Comunicação Social
Departamento de Ciência da Informação
CDD 020
Banca Examinadora:
________________________________________________ - Orientadora
Prof° Dra. Lena Vania Ribeiro Pinheiro
Doutora em Comunicação e Cultura - IBICT/UFRJ-Eco
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia.
________________________________________________
Prof° Dra. Maria Nélida González de Gómez
Doutora em Comunicação e Cultura - IBICT/UFRJ-Eco
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia.
________________________________________________
Prof° Hagar Espanha Gomes
Livre-docente em Biblioteconomia - UFF
Suplente:
_____________________________________________________
Prof° Rosali Fernandez de Souza
Ph.D. Information Science, Polytechnic of North London/Council for National Academic Awards (CNAA)
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia.
5
AGRADECIMENTOS
A Minha mãe, Marines, e meu irmão, Walter, pelo constante apoio e torcida para que
eu tivesse sucesso no mestrado.
Para a minha orientadora, Lena Vania Ribeiro Pinheiro, pela eficiente orientação a
minha pesquisa e pelas sempre úteis dicas (principalmente no que tange ao português)
oferecidas durante a realização dessa dissertação.
As professoras Maria Nélida Gónzalez de Gómez, Isa Maria Freire, Rosali Fernandez
de Souza e Gilda Maria Braga, que em conversas e discussões, muitas delas
informais, ofereceram importantes dicas e informações para a realização do meu
trabalho.
A Sonia Regina Burnier de Souza, pelo eficiente serviço que me permitiu obter um
material imprescindível para o desenvolvimento do meu projeto.
A professora Valentina Markusova, pelo envio de material que me foi muito útil para
a dissertação e ao professor Rudhzero Gilyarevskyi, por gentilmente ter respondido
alguns dos e-mails que enviei.
RESUMO
Estudo das idéias do pesquisador soviético Alexander Ivanovich Mikhailov, realizado por
meio da análise de três aspectos relevantes de sua produção teórica: o conceito de
informação científica, a constituição da disciplina denominada por ele e colaboradores
como Informatika, que corresponde à Ciência da Informação, e o caráter interdisciplinar
dessa área, identificando as suas relações com outros campos do conhecimento. Esta
análise se insere num panorama mais amplo de infra-estrutura de pesquisa e informação
da Informatika / Ciência da Informação, tanto na antiga União Soviética quanto na
Rússia, no qual são destacados o Instituto Estatal de Informação Científica e Técnica
(VINITI), a prestação de serviços e elaboração de produtos de informação, a formação
profissional e eventos técnico-científicos. A pesquisa conclui pelo reconhecimento da
significativa contribuição teórica e influência de Mikhailov para a construção e
desenvolvimento epistemológico da Ciência da informação.
ABSTRACT
Study and analysis of ideas and thoughts of the Soviet researcher Alexander Ivanovich
Mikhailov (and staff), identifying his contribution to the theoretical development of
Information Science. The study of his thought will be conducted by examining three
aspects shown by the author during his literature: the concept scientific information, the
discipline called by Mikhailov and collaborators as Informatics and the interdisciplinary
character shown by this area, indicating also other fields of research that Informatics /
Information Science owned or had this relationship. In parallel, will be studied the
development of the field related to scientific information and, subsequently, the
Information Science in the former Soviet Union and Russia and on the origins and the
epistemological development of Information Science, relating the work of Mikhailov
with the reality where it was produced.
9
SUMÁRIO
1. Introdução ------------------------------------------------------------------------------- 10
2. Objetivos --------------------------------------------------------------------------------- 15
3. Metodologia ------------------------------------------------------------------------------16
1. Introdução
A partir de 1945, uma nova realidade pós-segunda guerra mundial tomava forma.
Estados Unidos e União Soviética iriam iniciar uma longa disputa pela hegemonia global,
denominada Guerra Fria, disputa essa que iria ocupar a agenda mundial pelos quase 45
anos seguintes. Apesar do justificável aspecto da ameaça nuclear ser citada como a
característica mais marcante desse período, um outro fator, e de conseqüência bem mais
marcante para o surgimento da Ciência da Informação, foi a produção maciça de
documentos e o rápido e vertiginoso desenvolvimento de serviços de acumulação e
armazenamento da informação, que fez com que pesquisadores e cientistas das mais
variadas áreas de estudo repensassem suas práticas de produção e gestão da informação.
É, pois, a partir dessa combinação de competição entre as superpotências e a
explosão documental e de informações que a área atualmente conhecida como Ciência da
Informação começou a se desenvolver como um campo científico.
Nos EUA, o artigo de Vanevar Bush As we may think, publicado em 1945, pode
ser considerado um marco dessa nova fase de emergência dessa área. Freire (2006) indica
outros importantes acontecimentos, como a reunião em 1948 na Royal Society de
Londres, de pesquisadores das mais variadas áreas de pesquisa que discutiram novos
métodos de organização informacional; as reuniões de bibliotecários e documentalistas
nos EUA, em 1950, que debateram o gerenciamento informacional, e o congresso
realizado no Georgia Institute, em 1961/1962, onde pesquisadores e cientistas
consagraram o termo Ciência da Informação para identificar esse campo de pesquisa e
estudo no país e formularam sua primeira definição (FREIRE, 2006).
No lado do então emergente bloco soviético, pesquisas e análises sobre a gestão
de uma cada vez mais crescente massa de informações fizeram com que a Academia de
Ciências da URSS criasse instituições que pudessem analisar, discutir e organizar a
informação produzida, publicada e armazenada em toda a União Soviética (e
posteriormente em grande parte de sua esfera de influência).
A produção intelectual de Mikhailov, entre as décadas de 1950 e 1980, coincidiu
com essa fase decisiva, tanto para a construção da Ciência da informação como para a
definição e consolidação de normas e conceitos que tentariam resolver questões
referentes a uma sociedade que produzia e consumia, de forma cada vez mais crescente,
informações dos mais variados tipos, formatos e suportes.
12
Dentre as principais obras produzidas pelo autor, a que pode ser considerada
como a “mola mestra” ou ponto central é o livro Fundamentos da Informática (Osvony
Informatiki), publicado em 1968 na URSS, com diversas traduções em diversos países na
década seguinte1. Essa obra foi resultado de anos de pesquisa de Mikhailov, em conjunto
com outros colaboradores, e iria servir de base para produções posteriores realizadas pelo
pesquisador. Nele, Mikhailov, junto com Chernyi e Gilyareviskyi, apresentaram as
principais idéias, propostas e conceitos que compõem, na concepção dos autores, a
Informatika (uma interpretação russa acerca do que seria a Ciência da Informação).
Fizeram também parte do conteúdo conceitos de informação científica e social, e
especificação do papel do profissional ligado à Informatika na sociedade, sua relação
interdisciplinar com outras ciências e também procedimentos práticos a serem seguidos
por esse profissional, na produção e gerenciamento da informação.
Uma versão atualizada e revisada dessa obra, na verdade uma espécie de guia ou
curso para os profissionais da área, seria publicada dois anos depois sob o título de Curso
introdutório Sobre Informação/ Documentação, escrito em conjunto com Gilyarevskyi.
Outro importante trabalho de Mikhailov é o Scientific Communications and
Informatics (Nauchnye Kommunikacii i Informatika), também elaborado em conjunto
com Chernyi e Gilyarevskyi, publicado na URSS em 1976, com uma edição americana
em 1984.
Nessa obra são feitas consistentes análises acerca da produção e do gerenciamento
da informação científica, incluindo novos dados e estudos mais aprofundados sobre a
formação de órgãos e práticas sobre a gestão da informação na União Soviética, desde a
revolução de 1917 até meados dos anos 1970. Outro relevante aspecto dessa obra é que
os autores buscam diferenciar algumas características de suas idéias da de outras
correntes de pensamento da Ciência da Informação e do interesse em aproximar o
conceito soviético da visão norte-americana de Ciência da Informação, a qual chamam de
“Informatika americana” (MIKHAILOV; CHERNYI; GILYAREVISKY, [1976] 1984,
p.7-10). Esta denominação talvez tivesse por objetivo evitar algum tipo de isolamento de
seu conceito ou buscar diminuir a confusão da terminologia Informatika com termos
1
A edição que será utilizada é uma tradução cubana, em dois volumes, publicada pela Academia de
Ciências de Cuba, em 1973.
13
2. Objetivos
Objetivo geral
Objetivos específicos
3. Metodologia
alguns institutos russos, como o VINITI, e mesmo tendo conseguido algum tipo de
resposta por parte desses órgãos, muito pouco ficou disponível e foi acessado.
Foram analisados, quando possível, artigos, teses e textos de autores
contemporâneos de Mikhailov que discutiram suas idéias e que podem, de certa maneira,
complementar o pensamento do autor, para análise da repercussão que suas idéias
tiveram na Ciência da Informação e mostrar pontos positivos ou críticas à sua produção
científica. Essa análise foi complementada, conforme já mencionado, pelo estudo de
autores brasileiros que estudaram e citaram, em algum momento, o pensamento de
Mikhailov em seus textos e artigos.
20
2
Antigas denominações do serviço secreto soviético, o Komityet Gosudarstvennoy Bezopasnosti, ou KGB,
que com essa denominação ficou em atividade entre 1954 e 1991.
22
3
A exceção nesse período seria no campo da Física, onde por causa do interesse de Stalin em conseguir a
bomba atômica num curto período de tempo e da coerente liderança de físicos como Igor Kurchatov, a área
conseguiu manter alguma autonomia e não sofreu os piores efeitos dos últimos anos stalinistas ( ver
HOLLOWAY, 1997). A maioria dos outros campos, infelizmente, não teve a mesma sorte. Em alguns
deles, em especial a Biologia e Genética, nas quais as desastradas e autoritárias propostas do pesquisador
Trofim Lynsenko prevaleceram nesse período, as conseqüências foram desastrosas e demoraram décadas
para serem reparadas (HOBSBAWM, 1995, p.514).
4
Essa mudança de postura pode ser explicada pelo grande material científico e tecnológico retirado da
Alemanha para a URSS, entre 1946 a 1949, material esse que seria útil para a construção de importantes
projetos como a bomba atômica russa, testada com sucesso em agosto de 1949 e da indústria espacial
soviética, consolidada com o lançamento do primeiro satélite, o Sputnik 1, em 1957. A necessidade de se
organizar e tratar a informação advinda desse material explica parcialmente essa relativa mudança de
atitude (RICHARDS, 1996, p.78-79; HOLLOWAY, 1997).
23
5
Dessa geração, além de Mikhailov podem ser citados seus colaboradores A. I. Chernyi e R. S.
Gilyareviskyi, e os pesquisadores V. A. Polushkin, Yu. A. Shreider, A. D. Ursul, G. M. Dobrov, V.
V.Nalimov, E. P. Semenyuk e A. V. Sokolov.
25
6
Segundo estimativa feita pelo jornalista Walter Sullivan, em 1986, apenas cerca de 30% das famílias
soviéticas possuíam telefone (23% em centros urbanos e 7% em áreas rurais), mostrando um sistema de
comunicação ainda atrasado e ineficiente (SULLIVAN, 1986). Em relação ao aspecto tecnológico,
especificamente ligado aos computadores, apesar do papel pioneiro da URSS na Europa, na construção e
aprimoramento de um sistema de computadores (MALINOVSKY, 2006), a partir da década de 1970, por
motivos diversos, o programa tecnológico russo não só ficou em desvantagem em relação ao programa
norte-americano, mas entrou num período de estagnação e ineficiência durante boa parte da década de 1980
(CASTELLS, 1999; MALINOVISKY, 2006).
27
Mesmo assim, alguns conceitos ainda mantiveram sua importância e novas propostas
surgiram para adaptar a Informatika/ Ciência da Informação a essa nova realidade (para
uma análise de conceitos e estudos realizados na Rússia pós-URSS ver, por exemplo,
Maceviciute, 2006).
A ciência russa nesse período enfrentou uma situação na qual o governo, apesar
de ainda oferecer algum apoio para a pesquisa, cortou recursos para institutos e órgãos
científicos. O próprio VINITI sofreu uma diminuição de investimento em alguns setores,
como, por exemplo, em verbas para a obtenção de literatura científica estrangeira, que
caiu de 720 mil dólares, em 1990, para menos da metade em 1993 (MARKUSOVA,
CHERNYI, GILYAREVISKYI, GRIFFITH, 1996, p.375). Dados indicam que essa
situação está sendo mantida, com um anunciado corte de 20 % em pesquisas na
Academia de Ciências Russa, no inicio de 2007 (MARKUSOVA, JANZ, LIBKIND,
LIBKIND, VARSHAVSKY, 2007).
Em relação à sua atuação internacional, a Informatika/Ciência da Informação
russa viu sua participação ser reduzida drasticamente, tanto em órgãos como a FID (que
encerrou suas atividades em 2002) e a UNESCO, como em programas nos países de sua
antiga esfera de influência, a maioria encerrada no final da década de 1990 (RICHARDS,
1999, p.213). Entretanto, estudos recentes indicam que os centros de pesquisas e
universidades russas conseguiram aumentar de forma considerável sua participação, seja
em produção intelectual ou em pesquisas, com outros países, sendo citadas colaborações
com os Estados Unidos, Europa Ocidental (Itália, Holanda, Suíça) e até mesmo países
como o Japão e Israel (MARKUSOVA, 2000; MARKUSOVA, MININ, LIBKIND,
JANZ, ZITT, BASSECOULARD-ZITT, 2004, p. 375-380; WILSON, MARKUSOVA,
2004, p. 360, Tabela 1). Apesar de uma considerável, porém previsível diminuição, a
colaboração entre pesquisadores russos com os das outras ex-Republicas Soviéticas e dos
países do leste europeu foi mantido (CHOLDRIN, s.d.).
Grande parte da estrutura construída para o chamado “Sistema de informação
cientifica Soviética” ou foi dissolvida, ou perdeu consideravelmente sua importância e
atuação (GILYAREVISKYI, 1999, p. 195). Entretanto, tanto o principal órgão de
informação científica na Rússia, o VINITI, quanto seus principais periódicos
28
7
Sigla para Institute for Scientific Information, hoje pertencente ao Thomson Scientific, uma empresa que
dispõe de bases de dados, abrangendo cerca de 16 mil títulos de revistas, segundo estimativa feita por Testa
30
Citation Index (SCI) foram diretamente influenciados pelas atividades realizadas pelo
VINITI e em publicações como o Referativnyi Zhurnal (GARFIELD, 2002).
Mas, infelizmente, o Instituto não escapou da influência da política do sistema
soviético. Richards, citando o trabalho do “dissidente” George Vladutz e do pesquisador
Zhores Medvedev, apontou a existência, no VINITI, de um setor denominado de
“primeiro departamento”, unidade ligada a KGB, setor esse destinado a retirar das
publicações científicas ocidentais que chegavam ao país trechos ou artigos desfavoráveis
a União Soviética ou à ciência russa (RICHARDS, 1992, p.274-275).
Em relação à sua atuação em outros países, cita-se a participação do VINITI em
outros institutos no leste europeu, onde os centros de pesquisa de informação e as
Academias de Ciências seguiram os modelos e a estrutura propostos e conduzidos pelo
VINITI, pelo menos até o final da década 1960 (MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVISKYI, [1968] 1973).
Nesse aspecto, a entidade que mais recebeu suporte e colaboração do VINITI foi a
cubana, ou mais especificamente, o Instituto de Información Científica y Tecnológica, ou
IDICT.
Apesar de o intercâmbio entre os dois Institutos ter sido consideravelmente
intenso, desde o início da década de 1960, quando Cuba começou a sofrer um forte
embargo dos Estados Unidos estimulando, assim, o estreitamento econômico e político
entre esse país e a URSS, a “integração” entre os mesmos foi consolidada somente no
final de 1965. Este fato ocorreu quando Mikhailov visitou o país e assinou convênios de
cooperação entre os dois institutos, que se transformariam num amplo programa de
reestruturação do IDICT sob os moldes soviéticos e que se intensificaria nos anos
seguintes, somente diminuindo (drasticamente) em 1989 (PEDROSO ISQUIERDO,
2004).
Entre 1975 e 1980, o VINITI obteve o número de aproximadamente 20 mil
funcionários trabalhando na instituição atingindo, segundo alguns autores, seu ápice
(1998). Ainda segundo o autor, o ISI indexava cerca de oito mil periódicos “registrando os dados
bibliográficos completos para cada documento incorporado, incluindo os resumos originais em inglês, os
endereços dos autores e editores e as referências bibliográficas citadas em cada revista”, com o objetivo de
“(...) oferecer uma cobertura ampla das mais importantes e influentes revistas publicadas em todo o mundo
para manter seus assinantes atualizados, suprindo suas necessidades de informação corrente e
retrospectiva” (TESTA, 1998).
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O período estudado pelos autores vai de 1953 a 1990.
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9
Segundo a tradução em espanhol da edição cubana.
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10
Nome adotado por São Petersburgo, entre 1914 e 1924. De 1924 a 1991 a cidade seria chamada de
Leningrado e depois voltaria novamente a se chamar São Petersburgo.
35
Nos anos 1980 são criados outros tipos de cursos como, por exemplo, de
instituições de cultura, implantados no Instituto Cultural de Moscou, outro relacionado à
ética profissional, realizado no Instituto Cultural de Kuibyshev, e cursos de informação
automatizada nas cidades de Kemerovo e Tomsk (ambas na Rússia) e em Alma Ata,
Cazaquistão (RICHARDS, 1992, p.283-285).
Após 1985 surgem críticas abertas de profissionais e pesquisadores sobre a
situação em que o ensino de informação passava na União Soviética. As principais
vinham da discrepância do que era ensinado nos cursos e em faculdades, comparado à
realidade dos centros de informação e bibliotecas da URSS, a desorganização que alguns
centros de ensino apresentavam e o isolamento dos profissionais de informação com os
de outras ciências e áreas de pesquisa (RICHARDS, 1992, p.284-286).
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TABELA 2
Lista de publicações relacionadas ao FID/RI entre 1968-1985.
Apesar de não ser unânime, existe um certo consenso em indicar a data de 1895,
com a criação do Instituto Internacional de Bibliografia, na Bélgica, como um dos marcos
de emergência da Ciência da Informação (PINHEIRO, 2005). Entre essa data até
aproximadamente 1940, podemos indicar uma fase na qual era adotado mais o termo
Documentação, que começava a tomar forma, marcada pela visão do advogado belga
Paul Otlet e, posteriormente, da documentalista francesa Suzane Briet, na Europa, e em
44
Para podermos entender qual foi o principal conceito e estrutura que norteou a
Informatika / Ciência da Informação, é necessário analisar primeiramente seu principal
objeto de estudo, a informação científica. Essa análise é necessária por duas razões. A
primeira é porque esse conceito foi utilizado anos antes da construção da disciplina
Informatika, chegando a ser proposta, em 1963, uma disciplina denominada “Informação
Científica” para o estudo da área, o que posteriormente foi rejeitado pelo próprio
Mikhailov, mas que serviria de base para o desenvolvimento do conceito Informatika,
anos mais tarde (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1968] 1973). A segunda
razão relaciona-se à importância desse objeto de estudo para a produção científica de
Mikhailov e colaboradores, recebendo considerável atenção em seus artigos, livros e
apresentações em congressos e conferências.
A primeira utilização desse termo pode ser datada de 1959, quando o periódico
Boletín de la Unesco para las Bibliotecas publicou o trabalho de Mikhailov, “Finalidades
y problemas de la información científica”. Esse artigo tratava mais especificamente dos
serviços realizados pelo VINITI, sem uma análise aprofundada do conceito informação
científica, porém, indicando em algumas partes a necessidade de um sistema centralizado
47
de organização da informação, o que pode ser exemplificado por sua afirmativa no inicio
desse trabalho:
décadas seguintes identificando, a partir daí, três características que seriam importantes
para o desenvolvimento da informação científica e suas respectivas atividades:
Essa diferenciação pode ser explicada por três motivos. O primeiro é o interesse
de Mikhailov em “especificar” o conteúdo e o tipo de informação estudado pela área,
evitando que qualquer outro tipo de informação não relacionada à científica seja incluído
nesse tipo de estudo e abordagem. Essa preocupação renderia posteriormente críticas de
outros autores, que afirmavam ter a teoria de Mikhailov caráter “restritivo”, apresentando
uma área de caráter social, mas com um escopo de estudo mais voltado ao trabalho
científico e de pesquisa (ROBERTS, 1976).
O segundo motivo é a vaga interpretação do termo informação (svedeniye em
russo) no vocabulário russo. Segundo Gilyarevskyi (2007, p. 41-43), o termo foi
introduzido na Rússia a partir da década de 1920, relacionado a noticias e, a partir da
50
11
Esses conceitos também foram reproduzidos, praticamente ipsis litteris, no livro Scientific
Communication and Informatics, publicado em inglês, em 1984, paginas 72 a 83.
51
12
Ou obsolescência (em MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1976] 1984, p.80).
54
FIGURA 1:
IDENTIFICAÇÃO HIERÁRQUICA DE TIPOS DE INFORMAÇÃO
CIENTÍFICA.
FIGURA 2:
INDENTIFICAÇÃO DAS PROPRIEDADES E TIPOS DE INFORMAÇÃO
CIENTÍFICA.
13
Nessa parte, a análise de Mikhailov e colaboradores baseia-se em concepções do marxismo-leninismo e a
realidade soviética da época, onde existia oposição a uma concepção de lucro acerca da atividade científica.
57
Em outra publicação editada pela FID/RI, a FID 563, de 1979, o autor sistematizou as
principais questões que norteavam a Informatika/ Ciência da Informação e,
paralelamente, a informação científica, a partir do final dos anos de 1970 e que, de certa
forma, mantiveram-se na primeira metade da década seguinte:
15
Foi utilizada, comparando com a obra original, a tradução feita por Pinheiro em sua tese de Doutorado
(1997, p. 220).
62
A partir dessas definições e questões propostas pelo autor e colaboradores, apesar das
diferenças já citadas em itens anteriores, são percebidas também algumas semelhanças
com o que estava sendo estudado pela Ciência da Informação nos Estados Unidos e na
Europa ocidental, sobre a organização, recuperação e disseminação da informação
produzida e registrada, e o caráter interdisciplinar desse campo científico.
Em meados de 1983, Mikhailov, em conjunto com Gilyarevskyi, apresentou um
trabalho utilizando tanto fontes vinculadas à antiga URSS, quanto da Alemanha Oriental
e dos Estados Unidos, onde identificou e apresentou as características que norteavam a
Informatika/ Ciência da Informação na primeira metade da década de 1980.
Nesse artigo, os autores enfatizaram que o desenvolvimento da área é e deve ser
vinculado principalmente ao estudo das estruturas e propriedades da Informação
científica como, por exemplo, sua complexidade, obsolescência, valor, utilização e outros
aspectos relacionados a fatores econômicos, sociais e psicológicos (MIKHAILOV,
GILYAREVSKYI, 1983). Características referentes à automação da informação e das
novas tecnologias de recuperação e organização da informação, apesar de muito
importantes para a área, não poderiam ser colocadas como a principal questão de estudo
para a Informatika/ Ciência da Informação, para que a mesma não perdesse o foco de sua
pesquisa e ficasse, de certa forma, presa somente à análise de aspectos tecnológicos
(MIKHAILOV, GILYAREVSKYI 1983. p.12-13).
16
Outras informações sobre o autor podem ser encontradas em http://edoc.hu-berlin.de/e_rzm/15/biener-
klaus-1997-12-01/PDF/17.pdf
64
18
Para a analise de outras interpretações sobre a interdisciplinaridade, é indicada a leitura de trabalhos dos
pesquisadores Ivani Fazenda, Olga Pombo, Julie Thompson Klein e Edgar Morin.
69
Outra afirmação feita pelos autores, que pode ser indiretamente relacionada ao
atual conceito de transdisciplinaridade, ressalta o surgimento de novas disciplinas, como
a bioquímica, biofísica, geoquímica, semiótica, entre outras, indicando uma realidade
onde cientistas de diferentes áreas buscam concentrar seus esforços e estudar problemas
científicos, o que estimula o surgimento de novas disciplinas cientificas (MIKHAILOV,
CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1968] 1973, p.19). Os autores afirmam, também, que a
interpenetração e a integração entre as ciências podem resolver parcialmente o problema
do isolamento e da especialização excessiva sofrida pelos pesquisadores e por diversas
disciplinas (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1968] 1973, p.20).
Mikhailov afirma, ainda, que, para um profissional realizar eficientemente tarefas,
teóricas e praticas, relacionadas à informação científica, o mesmo deverá possuir certos
conhecimentos sobre atividades e teorias ligadas à informação, tendo que,
inevitavelmente, expandir sua visão acadêmica e profissional, obviamente utilizando
também o conhecimento adquirido em sua área de atuação, ao qual originalmente se
especializou (MIKHAILOV, 1970, p.2).
QUADRO 1
ÁREAS INTERDISCIPLINARES A INFORMATIKA/ CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO SEGUNDO MIKHAILOV E COLABORADORES (1967-1976)
Publicação Interdisciplinas
Mikhailov (1967 a) Teoria da Informação Matemática,
Cibernética, Semiótica, Matemática
Lógica, Semântica Lógica, Psicologia,
Ciência do Livro, Biblioteconomia,
Bibliografia.
Mikhailov, Chernyi, Gilyarevskyi ([1968] Teoria da Informação Matemática,
1973). Cibernética, Semiótica, Matemática
Lógica, Semântica Lógica, Psicologia,
Ciência do Livro, Biblioteconomia,
Bibliografia.
Mikhailov, Chernyi, Gilyarevskyi (1969). Matemática lógica, Semântica, Psicologia,
Ciência do Livro, Bibliografia,
Engenharia, Semiótica.
Mikhailov, Gilyarevskyi (1971). Cibernética, Semiótica, Lingüística,
Psicologia, Biblioteconomia, Ciência do
Livro, Ciência da Ciência, Ciência
Técnica.
Mikhailov, Chernyi, Gilyarevskyi, ([1976] Teoria da informação, Semiótica,
1984). Cibernética, Psicologia, Pedagogia,
Biblioteconomia, Bibliografia.
73
19
Em ambas as pesquisas o campo da Ciência da Informação é traçado de acordo com as subáreas que o
constituem e a partir desse mapeamento são identificadas as áreas ou campos do conhecimento cujas
interfaces contribuem para a relação interdisciplinar. Nesta dissertação são consideradas os resultados
incluídos nas publicações de 1995 e de 2006, apenas das áreas interdisciplinares, sem identificação das
subáreas às quais estariam relacionadas.
74
QUADRO 2
DISCIPLINAS INTERDISCIPLINARES A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
SEGUNDO PINHEIRO (1995 e 2006).
Publicações Interdisciplinas
Pinheiro, Loureiro(1995) Administração, Antropologia,
Arquivologia, Biblioteconomia, Comunicação,
Educação, Economia, Epistemologia,
Estatística, Filosofia, Filosofia da Ciência,
História, História da Ciência, Informática,
Jornalismo Científico, Lingüística,
Matemática, Museologia, Psicologia,
Sociologia.
Pinheiro (2006b) Administração, Arquivologia,
Biblioteconomia, Ciência da Computação,
Ciência Política, Comunicação, Direito,
Economia, Educação, Epistemologia,
Estatística, Ética, Filosofia, Filosofia da
Ciência, História da Ciência, Lingüística,
Matemática, Museologia, Psicologia,
Sociologia da Ciência.
momentos esta área ocupava o papel do que hoje é preenchido pela Ciência da
Computação.
Tendo a cautela de considerar as realidades, metodologias e períodos distintos dos
estudos desenvolvidos por Mikhailov e Pinheiro, ao serem comparados os dois quadros,
percebe-se que o autor soviético foi coerente com o mundo em que vivia, ao indicar
áreas que, na época, realmente apresentavam alguma relação interdisciplinar com a
Ciência da Informação, depois enfraquecidas na medida do desenvolvimento da área e
do surgimento de novas relações interdisciplinares. Ao mesmo tempo, teve um olhar
acurado e algumas vezes antecipador, ao incluir campos do conhecimento que estavam
surgindo e eram tão novos quanto a Ciência da Informação, cuja importância permanece
a até se intensificou ou ampliou, por exemplo, a Cibernética ou uma teoria como a da
Informação.
Em relação a como e de que forma essa inter-relação ocorre, Mikhailov (em
conjunto com Chernyi e Gilyarevskyi) abordou as disciplinas de maior interface teórica
e conceitual com a Informatika/ Ciência da Informação: Biblioteconomia/ Bibliografia/
Ciência do livro, Cibernética, Ciência da Ciência/ Sociologia da ciência, Matemática,
Psicologia e Semiótica, a seguir explicitadas.
maioria das vezes, centralizam-se nos livros, periódicos ou outros tipos de publicações
encontradas nas bibliotecas (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, 1969).
Mikhailov e colaboradores posteriormente afirmaram que a discussão sobre a relação
prática ente a Informatika/ Ciência da Informação e a Biblioteconomia e a Bibliografia
estaria em uma nova e positiva fase de discussão, na qual o caráter independente das duas
áreas está sendo respeitado, com uma correta demarcação da atuação entre os órgãos de
pesquisa desses dois campos científicos (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI,
[1976] 1984, p.245).
Entretanto, em relação à Biblioteconomia, Mikhailov e colaboradores fazem também
várias críticas relacionadas tanto a aspectos práticos, já apresentados, quanto teóricos.
No campo teórico, Mikhailov e colaboradores afirmaram que várias publicações da
área, no ocidente (ou segundo os autores, nos países burgueses), estavam apresentando
idéias errôneas, equivocadas e incorretas referentes a uma possível crise sofrida pela
Biblioteconomia. Esse campo poderia no futuro trabalhar somente com diferentes
suportes e não mais com livros impressos, e a problemas relacionados ao profissional que
poderia trabalhar nessa área onde é afirmado que suas tarefas são puramente técnicas e
que outros profissionais como engenheiros e matemáticos poderiam muito bem fazer o
trabalho de um bibliotecário (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1968]
1973, p.71-72).
Evitando, aqui, concordar ou discordar das idéias dos autores, deve-se mencionado
que, ao apresentarem essa idéia, Mikhailov e colaboradoes não identificam fontes ou
textos que exemplifiquem essa afirmação, o que prejudica uma analise um pouco mais
aprofundada da mesma. Contudo, dois fatores podem ser expostos, explicando
parcialmente a postura dos autores.
O primeiro, relacionado à posição dos autores em apresentar essas áreas como menos
diversificadas ou aprimoradas, se comparadas a Informatika/ Ciência da Informação,
referentes às diferenças entre o campo da Biblioteconomia, na então URSS, com a
desenvolvida nos Estados Unidos e Europa Ocidental. Na União Soviética, segundo
Richardson Jr. (2000, p.120), o escopo, objetivos e funcionamento das bibliotecas no
país, diferente do que ocorria nos Estados Unidos, por exemplo, eram bastante
centralizados, com forte caráter político e ideológico na formação de seus profissionais.
78
• Cibernética
20
Na verdade, as críticas sobre esse campo científico foram muito mais violentas, tendo a área sofrendo
classificações como “ciência do obscurantismo”, “pseudociência burguesa norte-americana” e “Ciência
reacionária” (GEROVITCH, 2001b, p.554-557). Entretanto, a relação entre a URSS e essa ciência, nesse
período, era ambígua, pois apesar das severas críticas feitas pelo campo científico soviético, entre 1950 e
1955, paralelamente, algumas idéias e conceitos da Cibernética eram utilizados por pesquisadores
soviéticos para a construção dos primeiros computadores no país, em projetos militares e no programa
espacial soviético (GEROVITCH, 2001 a). Isso, em parte, explica a rápida e vertiginosa reabilitação da
Cibernética na URSS, no final dos anos 1950, já livre da influência stalinista. Para um levantamento sobre
a posição dos campos científico e militar soviéticos e de diferentes institutos, incluindo o VINITI, sobre a
Cibernética durante toda a década de 1950, ver os trabalhos de Gerovitch (2001 a, 2001 b).
80
• Matemática
• Psicologia
21
Para uma análise mais aprofundada de conceitos e idéias desses pesquisadores, ver o trabalho de Tuleski,
2007.
84
Os autores indicaram três “recentes” (para a época em que o artigo ‘informatics; its
scope and methods’, foi escrito, em 1969) ramos da Psicologia que apresentam algum
tipo de interesse para a Informatika/ Ciência da Informação: a psicologia do trabalho, a
psicologia da engenharia e a psicolingüística.
A primeira, oriunda do século 19 e que na época do artigo encontrava-se em
desenvolvimento, relaciona-se ao estudo e análise de questões referentes ao trabalho,
como, por exemplo, o aumento de eficiência profissional, bases de racionalização de
habilidades e seleção recrutamento de pessoal (MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVSKYI, 1969; PINHEIRO, 1998, p.141).
Já a psicologia de engenharia abrange estudos da relação homem-máquina e da
aplicação do conhecimento humano para o desenvolvimento de sistemas e seus
componentes, tendo por objetivo alcançar o máximo de eficiência com o menor esforço
possível para sua operação e serviço (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI,
1969; PINHEIRO, 1998, p.141). Segundo os autores, seria essa parte da psicologia mais
vinculada aos interesses da Informatika/ Ciência da Informação.
E, por último, a psicolingüística, relativa ao estudo da "natureza do discurso, a
organização hierárquica do comportamento verbal, mecanismos do discurso e da
percepção, problemas de semântica e de motivação verbal e não-verbal, bem como
tarefas práticas envolvidas na comunicação de massa e no discurso da cultura"
(MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, 1969). A sua importância para a
Informatika/ Ciência da Informação reside no fato de proporcionar melhor entendimento
do pensamento criativo, da criação e da utilização da informação técnica e científica,
permitindo assim uma melhor codificação dessa informação e da compreensão dos
“mecanismos de processamento analítico-sintético da informação” (MIKHAILOV,
CHERNYI, GILYAREVSKYI, 1969).
• Semiótica
A Semiótica, ou ciência dos signos, baseia-se no estudo e análise dos sinais e da sua
transmissão, apesar de a partir dos anos 1960, novas abordagens, estudos e classificações
86
sugerirem novas interpretações para essa ciência e seu campo de atuação e pesquisa
(FIDALGO,1998;2004).
Suas origens datam da Antigüidade, mais especificamente no trabalho do médico e
filósofo grego Claudio Galeno (c.130 - c.200), mas somente adquiriu forma e identidade
com os trabalhos do filósofo inglês John Locke, no final do século XVII, e foi
consolidada nas obras dos autores. Charles Sanders Pierce e Ferdinand de Saussure
(FIDALGO, 1998, p.2-9). Durante o decorrer do século XX, outros teóricos como
Charles Morris, Louis Hjelmslev, Algirdas Greimas e Umberto Eco, entre outros,
colaboraram no desenvolvimento e análise desse campo científico (FIDALGO, 1998, p.2-
9).
Entretanto, na Ciência da Informação, seria com as idéias do engenheiro e
matemático norte-americano Claude Shannon (1916-2001), que a semiótica encontraria
sua relação mais evidente com a área, contribuindo em seu desenvolvimento e
emergência, permitindo o desenvolvimento de conceitos que viriam ser posteriormente
conhecidos como “teoria matemática da comunicação” (PINHEIRO, 2002). Com já dito
anteriormente, diversos autores da Ciência da Informação, entre eles Mikhailov, citaram
diferentes trabalhos e idéias de Shannon em seus artigos. No Brasil, podem ser citados os
trabalhos de Braga (1995), Almeida (2005) e Barreto (2008), entre muitos outros, que
ressaltam a importância das idéias de Shannon para o desenvolvimento da Ciência da
Informação. Braga (1995) destaca: “Shannon não só desvincula a informação do suporte
físico como também estabeleceu a noção de mensagem distinta da informação e a noção
de dependência do estado mental do receptor”.
Em seu livro “A teoria matemática da informação”, escrito em conjunto com Warren
Weaver e publicado originalmente em 1949, foram apresentadas propostas e idéias,
muitas desenvolvidas nos laboratórios da Bell Company durante a segunda guerra
mundial, posteriormente utilizadas ou analisadas na Ciência da Informação em seu
estágio embrionário (décadas de 1950 e 1960). Em especial, cita-se a teoria matemática
da comunicação que, entre outros conceitos, apresenta a característica de “(...) uma fonte
que passa a informação a um transmissor que a coloca num canal (mais ou menos sujeito
a ruído) que a leva a um receptor que a passa a um destinatário” (FIDALGO, 2004, p.17),
característica que permitiu o desenvolvimento de estudos da comunicação e de conceitos
87
22
Segundo Fidalgo (1998, p.6), essas sub-disciplinas da Semiótica foram apresentadas e estudadas pelo
pesquisador norte-americano Charles Morris, na década de 1930.
89
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta dissertação, a partir do material que pôde ser levantado, avaliado e discutido,
buscou analisar onde e de que forma ocorreu a contribuição de Alexander Ivanovich
Mikhailov, em sua produção científica, para a construção e o desenvolvimento teórico da
Ciência da Informação. Foi percebido que Mikhailov, com a colaboração de outros
autores, teve participação decisiva no desenvolvimento da área, apresentando importantes
idéias, elaborando conceitos e efetivando análises sobre Informação Científica, a
emergente disciplina Informatika/ Ciência da Informação e sobre o caráter
interdisciplinar dessa área.
Em relação à Informação Científica, principal objeto de estudo de Mikhailov em
pesquisas iniciadas no final da década de 1950, diferentes classificações e enfoques do
termo afloraram, até obter maior consistência (e estabilidade) teórica a partir de 1967 e,
mais especificamente, entre 1974 e 1975.
A abordagem de Mikhailov e colaboradores difere da desenvolvida nos Estados
Unidos e em boa parte da Europa e buscou um objeto de estudo para área mais
“elaborado” e com algumas delimitações epistemológicas, e não tão amplo como o
conceito puro de informação. Como visto no decorrer da pesquisa, embora existindo
diferentes termos e interpretações de Ciência e Informação na Rússia, parte considerável
do que foi apresentado pelos autores, em inúmeros trabalhos, pode e foi utilizado por
pesquisadores norte-americanos e brasileiros, principalmente no que diz respeito aos
atributos da informação científica.
Também devem ser citados os valores considerados para esse tipo de informação
e a atividades com esta relacionada como, por exemplo, o valor “econômico” e o valor
“social”, seja referente à necessidade de se trabalhar e tornar a informação para a
sociedade, seja ao analisar como a mesma a recebe ou assimila.
Mesmo que as críticas de Roberts (1976) e Freire (2004) sobre a ambigüidade e o
caráter restritivo desse aspecto “social” nos trabalhos de Mikhailov e colaboradores
possam ser corretas, em certos ângulos, não pode ser ignorado que os autores assumiram
postura e abordagem até mesmo inovadora, principalmente se considerarmos que nos
91
Estados Unidos, Brasil e Europa Ocidental, no mesmo período (final da década de 1960 e
inicio da de 1970), a área estava ainda embrionária na sua construção científica e
abordagens.
Sobre a segunda contribuição, em relação à disciplina Informatika/ Ciência da
Informação e suas propriedades, foi verificada consistência na sua concepção inicial e
definições decorrentes, de Mikhailov e colaboradores, no final de 1966, mantidas pelo
menos até fins dos anos 1980, e até hoje estudadas e reconhecidas. Os conceitos,
características e a estrutura da Informatika/ Ciência da Informação além de englobarem
múltiplos e diversificados aspectos (inter-relação com demais disciplinas, estudo teórico
da área, análise das novas tecnologias e dos meios automatizados de organização da
informação, recuperação da informação, entre outros), também assimilavam novas
questões e problemáticas que apareceram no decorrer dos anos, permitindo, assim, que a
área mantivesse sua atualidade e pertinência no seu campo teórico e prático.
Sobre a nomenclatura Informatika, proposta por Mikhailov e colaboradores para a
área, duas constatações merecem atenção, que justificaram a necessidade de se estudar
separadamente a construção e o uso dessa terminologia pelos autores.
A primeira é que, apesar da mesma, após a década de 1970, não ter sido utilizada
pela Ciência da Informação fora da URSS/ Rússia, os conceitos e características
construídos por Mikhailov - e que correspondem à Ciência da Informação, tal como é
compreendida no mundo - foram estudados e analisados, em alguns casos de forma
minuciosa e densa, em países como os Estados Unidos e o Brasil. A segunda é que as
propostas formuladas por Mikhailov e colaboradores, analisadas junto a outras
abordagens para o termo como, por exemplo, Informática, de Dreyfus e de Steinbuch,
quase sempre aparecem quando é realizado um estudo histórico da terminologia que
representa e denomina a área, reconhecendo a corrente de pesquisa soviética, que galgou
importância no desenvolvimento da Ciência da Informação.
A terceira e última contribuição, relativa à interdisciplinaridade, ou à inter-relação
entre a Informatika/ Ciência da Informação e outras disciplinas científicas, demonstra
que Mikhailov e colaboradores não só vislumbraram o caráter interdisciplinar da área,
como também identificaram as subáreas com as quais concretizava-se a
interdisciplinaridade, em menor e maior intensidade. Se essa análise carecia de maior
92
identificar onde e de que forma as idéias do autor foram adotadas na área no Brasil. Nesta
pesquisa, esta questão aparece tangencialmente, na medida da revisão de literatura e não
foi aprofundada por não ser seu objetivo.
Esta dissertação pode ser concluída com a afirmativa de que o pensamento e
idéias de Miklhailov, ao lado de outros grandes pesquisadores norte-americanos,
soviéticos e da Europa ocidental contribuíram, direta ou indiretamente, para sedimentar
sólida base teórica e conceitual desse campo científico. Estes fundamentos permitiram a
sua sustentação e consolidação, a partir da década de 1960, e particularmente Mikhailov
tem seu nome firmado como um dos grandes teóricos da Ciência da Informação na
segunda metade do século XX, cujas idéias têm seu prolongamento até hoje -
permanecem vivas.
94
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