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A contribuição teórica de Alexander Ivanovich


Mikhailov para a construção teórica da Ciência
da Informação

Thesis · March 2009

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1 author:

Roberto Lopes
Federal University of Pará
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Available from: Roberto Lopes


Retrieved on: 08 October 2016
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
MESTRADO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

CONVÊNIO

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE


INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL

INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA


COORDENAÇÃO DE ENSINO E PESQUISA

Linha de Pesquisa 1: Teoria, epistemologia, interdisciplinaridade e ciência da informação

A CONTRIBUIÇÃO TEÓRICA DE ALEXANDER IVANOVICH MIKHAILOV


PARA A CONSTRUÇÃO DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

ROBERTO LOPES DOS SANTOS JUNIOR

Niterói
Rio de Janeiro
2009
2

ROBERTO LOPES DOS SANTOS JUNIOR

A CONTRIBUIÇÃO TEÓRICA DE ALEXANDER IVANOVICH MIKHAILOV PARA


A CONSTRUÇÃO DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Ciência da Informação da
Universidade Federal Fluminense e Instituto
Brasileiro de Informação em Ciência e
Tecnologia (PPGCI/UFF/IBICT), para
obtenção do grau de mestre em Ciência da
Informação.

Orientadora: Dra. LENA VANIA RIBEIRO PINHEIRO

Niterói
Rio de Janeiro
2009
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Instituto de Artes e Comunicação Social
Departamento de Ciência da Informação

INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA


Coordenação de Ensino Pesquisa

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO


Coordenadora: Dra. Rosa Inês de Novais Cordeiro.
Sub-coordenadora: Dra. Rosali Fernandez de Souza

CIP – Brasil. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Santos Junior, Roberto Lopes dos

A contribuição teórica de Alexander Ivanovich Mikhailov para a construção da


Ciência da Informação/ Roberto Lopes dos Santos Junior; Orientadora Lena Vania
Ribeiro Pinheiro. – Rio de Janeiro, 2009.
103 f.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal Fluminense / Instituto Brasileiro


de Informação em Ciência e Tecnologia

1.Ciência da Informação 2. Informática 3. Alexander Ivanovich Mikhailov (1905-


1988) 4. Epistemologia da Ciência da Informação 5. Informação científica. 6.
Interdisciplinaridade da Ciência da Informação 7. Ciência da Informação na União
Soviética e Rússia I. Pinheiro, Lena Vania Ribeiro. lI. Título.

CDD 020

Coordenação no Rio de Janeiro – IBICT


Rua Lauro Muller, 455, 5º andar
CEP: 22290-160, Bairro Botafogo
Telefone e fax: (55-21) 2275-0792, 2275-0321, 2275-3990

Coordenação em Niterói – UFF


Rua Tiradentes, 148
Bairro Ingá
Telefone e fax: (55-21) 2629-9670, 2629-9671, 2629-9672
4

ROBERTO LOPES DOS SANTOS JUNIOR

A CONTRIBUIÇÃO TEÓRICA DE ALEXANDER IVANOVICH MIKHAILOV


PARA A CONSTRUÇÃO DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da


Universidade Federal Fluminense e Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e
Tecnologia (PPGCI/UFF/IBICT), para obtenção do grau de mestre em Ciência da
Informação.

Data da Defesa: 12 de março de 2009.

Banca Examinadora:

________________________________________________ - Orientadora
Prof° Dra. Lena Vania Ribeiro Pinheiro
Doutora em Comunicação e Cultura - IBICT/UFRJ-Eco
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia.

________________________________________________
Prof° Dra. Maria Nélida González de Gómez
Doutora em Comunicação e Cultura - IBICT/UFRJ-Eco
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia.

________________________________________________
Prof° Hagar Espanha Gomes
Livre-docente em Biblioteconomia - UFF

Suplente:

_____________________________________________________
Prof° Rosali Fernandez de Souza
Ph.D. Information Science, Polytechnic of North London/Council for National Academic Awards (CNAA)
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia.
5

AGRADECIMENTOS

A Minha mãe, Marines, e meu irmão, Walter, pelo constante apoio e torcida para que
eu tivesse sucesso no mestrado.

Para a minha orientadora, Lena Vania Ribeiro Pinheiro, pela eficiente orientação a
minha pesquisa e pelas sempre úteis dicas (principalmente no que tange ao português)
oferecidas durante a realização dessa dissertação.

A professora Hagar Espanha Gomes, pelas concisas e bem apresentadas observações


feitas na qualificação do meu projeto de pesquisa.

As professoras Maria Nélida Gónzalez de Gómez, Isa Maria Freire, Rosali Fernandez
de Souza e Gilda Maria Braga, que em conversas e discussões, muitas delas
informais, ofereceram importantes dicas e informações para a realização do meu
trabalho.

A Sonia Regina Burnier de Souza, pelo eficiente serviço que me permitiu obter um
material imprescindível para o desenvolvimento do meu projeto.

Aos meus colegas de mestrado (turma de 2007), pelo apoio.

A professora Valentina Markusova, pelo envio de material que me foi muito útil para
a dissertação e ao professor Rudhzero Gilyarevskyi, por gentilmente ter respondido
alguns dos e-mails que enviei.

A Ronaldo Figueiró, amigo (doutorando) de longa data, que, também informalmente,


ofereceu importantes dicas que me abriram os olhos sobre o funcionamento de um
curso de pós-graduação.
6

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução dessa


obra, por processo de fotocópia ou por outros meios eletrônicos.

Roberto Lopes dos Santos Junior, 12/03/2009.


7

LISTA DE TABELAS/ FIGURAS/ QUADROS

Tabela 1 - Dissertações defendidas em Ciência da Informação/ Informatika na URSS


entre 1968-1977

Tabela 2 - Lista de publicações relacionadas ao FID/RI entre 1968-1985.

Figura 1 – Identificação Hierárquica de tipos de informação científica.

Figura 2 – Identificação das propriedades e tipos de informação científica.

Quadro 1- Áreas Interdisciplinares a Informatika/ Ciência da Informação segundo


Mikhailov e colaboradores (1967-1976).

Quadro 2- Disciplinas Interdisciplinares à Ciência da Informação segundo Pinheiro


(1995 e 2006).
8

RESUMO

Estudo das idéias do pesquisador soviético Alexander Ivanovich Mikhailov, realizado por
meio da análise de três aspectos relevantes de sua produção teórica: o conceito de
informação científica, a constituição da disciplina denominada por ele e colaboradores
como Informatika, que corresponde à Ciência da Informação, e o caráter interdisciplinar
dessa área, identificando as suas relações com outros campos do conhecimento. Esta
análise se insere num panorama mais amplo de infra-estrutura de pesquisa e informação
da Informatika / Ciência da Informação, tanto na antiga União Soviética quanto na
Rússia, no qual são destacados o Instituto Estatal de Informação Científica e Técnica
(VINITI), a prestação de serviços e elaboração de produtos de informação, a formação
profissional e eventos técnico-científicos. A pesquisa conclui pelo reconhecimento da
significativa contribuição teórica e influência de Mikhailov para a construção e
desenvolvimento epistemológico da Ciência da informação.

ABSTRACT

Study and analysis of ideas and thoughts of the Soviet researcher Alexander Ivanovich
Mikhailov (and staff), identifying his contribution to the theoretical development of
Information Science. The study of his thought will be conducted by examining three
aspects shown by the author during his literature: the concept scientific information, the
discipline called by Mikhailov and collaborators as Informatics and the interdisciplinary
character shown by this area, indicating also other fields of research that Informatics /
Information Science owned or had this relationship. In parallel, will be studied the
development of the field related to scientific information and, subsequently, the
Information Science in the former Soviet Union and Russia and on the origins and the
epistemological development of Information Science, relating the work of Mikhailov
with the reality where it was produced.
9

SUMÁRIO

1. Introdução ------------------------------------------------------------------------------- 10

2. Objetivos --------------------------------------------------------------------------------- 15

3. Metodologia ------------------------------------------------------------------------------16

3.1 Procedimentos metodológicos ------------------------------------------------------17

4. A construção da Ciência da Informação na antiga URSS e na Rússia (1917-


2007) ----------------------------------------------------------------------------------------20

4.1 Breve histórico da infra-estrutura de informação científica na antiga URSS


(1917-1991)... -------------------------------------------------------------------------------20
4.2 ... E na Rússia (1992-2007) --------------------------------------------------------------26
4.3 Instituto Estatal de Informação Científica e Técnica (VINITI). ----------------28
4.4 Periódicos secundários/ serviços de informação. -----------------------------------31
4.5 Formação profissional em Informatika/ Ciência da Informação. ---------------33
4.6 Eventos técnicos e científicos em Informatika/ Ciência da Informação --------38

5. As idéias de Mikhailov e sua contribuição para a Ciência da Informação na


antiga URSS ------------------------------------------------------------------------------43

5.1 Questões conceituais e teóricas de informação científica e Informatika /


Ciência da Informação ----------------------------------------------------------------------43
5.1.1 Da Documentação à Ciência da Informação ---------------------------------------43
5.1.2 Informação científica -------------------------------------------------------------------46
5.1.3 Informatika / Ciência da Informação------------------------------------------------59
5.1.3.1 Definição e características--------------------------------------------------------------59
5.1.3.2 Breve análise da nomenclatura Informatika e sua utilização-------------------63
5.1.4 Inter-relação com outras disciplinas-------------------------------------------------66
5.1.4.1 Inter e transdisciplinaridade: origem e definições--------------------------------67
5.1.4.2 Ciência da informação, interdisciplinaridade e o pensamento de Mikhailov---
-----------------------------------------------------------------------------------------------69
5.1.4.3 A relação da Informatika / Ciência da Informação com outras áreas de
conhecimento-----------------------------------------------------------------------------71

Considerações Finais -----------------------------------------------------------------------------90

Referências Bibliográficas ----------------------------------------------------------------------94


10

1. Introdução

O campo de estudo da informação científica e, posteriormente, de Ciência da


Informação na antiga União Soviética, teve suas origens com as medidas tomadas pelo
líder bolchevique Vladimir Lênin na construção de um sistema de informação no país,
entre 1918-1922, passando por sua consolidação nas décadas de 1960 e 1970 e por um
período de reestruturação e reorganização na URSS, no final dos anos 1980. Essa
iniciativa pode ser considerada como uma das mais importantes em termos de estudo da
informação em âmbito internacional.
Especificamente no Brasil, tanto os conceitos e idéias de alguns teóricos
soviéticos quanto o desenvolvimento de órgãos como o Instituto Estatal de Informação
Científica e Técnica, ou VINITI (Vserossiisky Institut Nauchnoi i Tekhnicheskoi
Informatsii), influenciaram diferentes autores da área no País. Outra repercussão foi em
eventos técnico-científicos organizados, no final dos anos 1960 e inicio da década de
1970, por instituições ligadas à informação como, por exemplo, o antigo Instituto
Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD), hoje IBICT - Instituto Brasileiro de
Informação em Ciência e Tecnologia.
Dentre esses teóricos, o mais influente, ou pelo menos o mais citado entre os
pesquisadores brasileiros de Ciência da Informação, foi Alexander Ivanovich Mikhailov
(1905-1988). Mikhailov foi, por mais de trinta anos (1956-1988), diretor e coordenador
do já mencionado VINITI e por duas vezes vice-diretor da Federação Internacional de
Documentação, ou FID (entre 1969-1976 e 1981-1988), onde foi também coordenador de
um ramo de pesquisa nessa instituição. Esse autor foi, ainda, dos teóricos que mais
contribuíram para a discussão de questões referentes à produção e gestão da informação
científica, não só na então União Soviética, mas de parte considerável do extinto bloco
socialista.
A proposta desta pesquisa é a de estudar a produção intelectual desse pesquisador
russo, analisando as principais fases de sua obra e as características que nortearam suas
idéias e propostas, tendo como pano de fundo a infra-estrutura de informação na antiga
União Soviética e na Rússia.
11

A partir de 1945, uma nova realidade pós-segunda guerra mundial tomava forma.
Estados Unidos e União Soviética iriam iniciar uma longa disputa pela hegemonia global,
denominada Guerra Fria, disputa essa que iria ocupar a agenda mundial pelos quase 45
anos seguintes. Apesar do justificável aspecto da ameaça nuclear ser citada como a
característica mais marcante desse período, um outro fator, e de conseqüência bem mais
marcante para o surgimento da Ciência da Informação, foi a produção maciça de
documentos e o rápido e vertiginoso desenvolvimento de serviços de acumulação e
armazenamento da informação, que fez com que pesquisadores e cientistas das mais
variadas áreas de estudo repensassem suas práticas de produção e gestão da informação.
É, pois, a partir dessa combinação de competição entre as superpotências e a
explosão documental e de informações que a área atualmente conhecida como Ciência da
Informação começou a se desenvolver como um campo científico.
Nos EUA, o artigo de Vanevar Bush As we may think, publicado em 1945, pode
ser considerado um marco dessa nova fase de emergência dessa área. Freire (2006) indica
outros importantes acontecimentos, como a reunião em 1948 na Royal Society de
Londres, de pesquisadores das mais variadas áreas de pesquisa que discutiram novos
métodos de organização informacional; as reuniões de bibliotecários e documentalistas
nos EUA, em 1950, que debateram o gerenciamento informacional, e o congresso
realizado no Georgia Institute, em 1961/1962, onde pesquisadores e cientistas
consagraram o termo Ciência da Informação para identificar esse campo de pesquisa e
estudo no país e formularam sua primeira definição (FREIRE, 2006).
No lado do então emergente bloco soviético, pesquisas e análises sobre a gestão
de uma cada vez mais crescente massa de informações fizeram com que a Academia de
Ciências da URSS criasse instituições que pudessem analisar, discutir e organizar a
informação produzida, publicada e armazenada em toda a União Soviética (e
posteriormente em grande parte de sua esfera de influência).
A produção intelectual de Mikhailov, entre as décadas de 1950 e 1980, coincidiu
com essa fase decisiva, tanto para a construção da Ciência da informação como para a
definição e consolidação de normas e conceitos que tentariam resolver questões
referentes a uma sociedade que produzia e consumia, de forma cada vez mais crescente,
informações dos mais variados tipos, formatos e suportes.
12

Dentre as principais obras produzidas pelo autor, a que pode ser considerada
como a “mola mestra” ou ponto central é o livro Fundamentos da Informática (Osvony
Informatiki), publicado em 1968 na URSS, com diversas traduções em diversos países na
década seguinte1. Essa obra foi resultado de anos de pesquisa de Mikhailov, em conjunto
com outros colaboradores, e iria servir de base para produções posteriores realizadas pelo
pesquisador. Nele, Mikhailov, junto com Chernyi e Gilyareviskyi, apresentaram as
principais idéias, propostas e conceitos que compõem, na concepção dos autores, a
Informatika (uma interpretação russa acerca do que seria a Ciência da Informação).
Fizeram também parte do conteúdo conceitos de informação científica e social, e
especificação do papel do profissional ligado à Informatika na sociedade, sua relação
interdisciplinar com outras ciências e também procedimentos práticos a serem seguidos
por esse profissional, na produção e gerenciamento da informação.
Uma versão atualizada e revisada dessa obra, na verdade uma espécie de guia ou
curso para os profissionais da área, seria publicada dois anos depois sob o título de Curso
introdutório Sobre Informação/ Documentação, escrito em conjunto com Gilyarevskyi.
Outro importante trabalho de Mikhailov é o Scientific Communications and
Informatics (Nauchnye Kommunikacii i Informatika), também elaborado em conjunto
com Chernyi e Gilyarevskyi, publicado na URSS em 1976, com uma edição americana
em 1984.
Nessa obra são feitas consistentes análises acerca da produção e do gerenciamento
da informação científica, incluindo novos dados e estudos mais aprofundados sobre a
formação de órgãos e práticas sobre a gestão da informação na União Soviética, desde a
revolução de 1917 até meados dos anos 1970. Outro relevante aspecto dessa obra é que
os autores buscam diferenciar algumas características de suas idéias da de outras
correntes de pensamento da Ciência da Informação e do interesse em aproximar o
conceito soviético da visão norte-americana de Ciência da Informação, a qual chamam de
“Informatika americana” (MIKHAILOV; CHERNYI; GILYAREVISKY, [1976] 1984,
p.7-10). Esta denominação talvez tivesse por objetivo evitar algum tipo de isolamento de
seu conceito ou buscar diminuir a confusão da terminologia Informatika com termos

1
A edição que será utilizada é uma tradução cubana, em dois volumes, publicada pela Academia de
Ciências de Cuba, em 1973.
13

semelhantes como o Informatique (do francês e relacionado ligado à informação


tecnológica) e com o Informations-dokumnetationswissenchaft na antiga Alemanha
Oriental (relacionado às teorias de Klobitz e Wersig).
Devido a essa denominação diferenciada para a Ciência da Informação, na antiga
URSS, nesta pesquisa, ao serem analisados os conceitos desenvolvidos por Mikhailov e
colaboradores, será utilizada a nomenclatura Informatika/ Ciência da Informação para a
identificação da área.
Percebe-se que as idéias de Mikhailov tentam se adaptar à realidade de pesquisa
científica existente na URSS, onde a mesma recebia um forte controle e influência do
Estado, explicando talvez a idéia do estudo de uma informação científica ou social.
A influência de seu trabalho na produção científica dentro e fora da URSS foi
considerável. Em Cuba, Mikhailov desenvolveu pessoalmente o intercâmbio de pesquisas
entre os cientistas cubanos e soviéticos (PEDROSO ISQUIERDO, 2004), fazendo com
que a Ciência da Informação cubana sofresse uma forte influência de suas idéias, no
modo de produzir e gerenciar a informação no país, que se manteve mesmo após o fim da
URSS. Na década de 1990 em diante, autores como Morrales-Morejón, Cruz-Paz,
Pedroso Isquierdo, Rodríguez e Guerra, entre vários outros pesquisadores cubanos,
citaram as idéias e propostas do autor como importantes no desenvolvimento teórico da
área no país.
No leste europeu, seu pensamento também teve importante influência não só no
desenvolvimento teórico da Ciência da Informação nesses países, mas também no
funcionamento de suas Academias de Ciências e no modo de pesquisar e de trabalhar de
seus cientistas. Importantes pesquisadores como o tcheco Augustín Merta (1914-2006),
um dos principais teóricos do leste europeu em Ciência da Informação, foram de grande
valia para a discussão tanto dos conceitos soviéticos quanto dos anglo-americanos.
Na realidade anglo-saxônica e européia é citada a produção do bibliotecário inglês
Douglas Foskett, que nos anos 1960 e 1970 utilizou o termo informatika em alguns de
seus artigos, e da FID que em seus congressos e conferências também o utilizou, assim
como algumas das propostas e idéias de Mikhailov.
Além da influência do autor em outros pesquisadores da Ciência da Informação, é
reconhecido também que a obra de Mikhailov representou uma consistente contribuição
14

para o desenvolvimento da Ciência da Informação, apontando características como a


interdisciplinaridade, o interesse da área no estudo das novas tecnologias e na análise de
aspectos da recuperação da informação, importantes para a delimitação desse campo
cientifico na década de 1960.
O interesse em estudar a obra de Mikhailov surgiu a partir de estudos referentes
ao desenvolvimento epistemológico da Ciência da Informação, analisando as principais
correntes teóricas que serviram de base para o desenvolvimento dessa ciência.
Percebeu-se que, apesar de ter sido um autor com importante contribuição para a
Ciência da Informação e os fundamentos teóricos por ele construídos serem referência
para pesquisadores soviéticos e de muitos países, durante mais de trinta anos, ainda não
foi realizado um estudo com análise mais ampla e completa de sua obra e colaboradores
diretos. Sua produção científica, fundamental para a compreensão e desenvolvimento da
nova área, inclusive os seus conceitos de Informatika/ Ciência da Informação, também
não se tornaram foco central de pesquisa brasileira, que abrangesse especificamente a sua
obra e a influência que a mesma possa ter exercido em outros profissionais da área. A
tentativa de suprir, mesmo que parcialmente, essa “lacuna”, serviu de inspiração para o
desenvolvimento desta pesquisa.
No Brasil, citam-se os trabalhos de González de Gómez, Pinheiro, Freire, Dantas
e Ortega que, ao analisarem a evolução histórica da Ciência da Informação e os principais
conceitos que nortearam essa ciência, na segunda metade do século XX, abriram
importante espaço para os conceitos e idéias de Mikhailov e sobre a Informatika/Ciência
da Informação. Pinheiro, em sua tese de doutorado (1997) e em seus artigos (2002, 2005)
faz colocações acerca da contribuição das idéias do autor para o desenvolvimento da
Ciência da Informação. A autora também tem sido uma das pesquisadoras brasileiras que
mais citou a obra de Mikhailov em sua produção intelectual, pelo menos a partir de 1995.
Constatou-se, também, carência de bibliografias que discutem ou mostram como o
campo da Ciência da Informação soviética se desenvolveu. Exceções são feitas aos
bibliotecários norte-americanos Pamela Spence Richards (1941-1999) e John V.
Richardson Jr., que produziram relevantes artigos sobre o desenvolvimento da
Biblioteconomia e da Ciência da Informação na antiga URSS e na Rússia, e em trabalhos
isolados de teóricos como Arkadii Chernyi e Rudhzero Gilyarevskyi, ex-colaboradores de
15

Mikhailov, que também analisaram o desenvolvimento da Informatika/Ciência da


Informação russa e o funcionamento de Institutos como o VINITI.
Para o período após 1991 foram utilizados artigos da pesquisadora russa
Valentina Markusova, ex-orientanda de Mikhailov e atualmente uma das principais
autoras empenhadas no estudo da Ciência da Informação e no campo cientifico russo
após a dissolução da URSS.
Optou-se também pela análise geral de sua obra, na medida do possível, e não de
livros ou artigos em específico, para observação do desenvolvimento gradativo de seu
pensamento. Assim, uma análise abrangente, pelo menos de uma grande parte do que o
autor escreveu, seja mais eficiente para o entendimento e compreensão de suas idéias.
O tema a ser estudado nesta dissertação relaciona-se à linha de pesquisa “Teoria,
epistemologia, interdisciplinaridade e ciência da informação”, do Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Informação (convênio IBICT-UFF). Corresponde a uma das
principais correntes de pensamento da área na segunda metade do século XX, o que
inclui a gestão informacional e muito ajudou a moldar o seu campo de estudo no Brasil.

2. Objetivos

Objetivo geral

• Analisar a produção científica de Alexander Mikhailov e sua contribuição


teórica para a construção epistemológica da Ciência da Informação.

Objetivos específicos

• Estudar os conceitos de informação, informação científica, informação


social e Informatika/Ciência da Informação, elaborados por Mikhailov e
colaboradores e sua evolução no decorrer do tempo.
16

• Identificar e analisar a origem e a infra-estrutura de pesquisa e informação


no processo de desenvolvimento da Informatika / Ciência da Informação,
na antiga URSS (1917-1991) e na Rússia (1992-2007).
• Analisar as idéias de Mikhailov em relação às interfaces da Ciência da
Informação com outros campos do conhecimento, na sua configuração
interdisciplinar.

3. Metodologia

O campo que norteia esta pesquisa, de natureza exploratória e descritiva, com


ênfase em aspectos históricos e epistemológicos, sobretudo interdisciplinares, tem por
base, conforme já explicitado, a vertente da Informatika/ Ciência da Informação na antiga
URSS, entre a década de 1960 até a sua dissolução, em 1991, a partir da análise do
trabalho do teórico soviético Alexander Mikhailov, junto com seus colaboradores diretos.
Foram estudados, primeiramente, fatos, eventos e informações sobre a história e o
desenvolvimento da infra-estrutura de pesquisa e informação na então URSS e alguns
países de sua esfera de influência. Esse escopo inclui a descrição de como funcionavam
os principais órgãos e institutos de pesquisa no país como, por exemplo, o VINITI, bem
como os serviços de informação na URSS, os periódicos secundários, a formação
profissional na área e os eventos técnico-científicos em Informatika/Ciência da
Informação ocorridos na antiga União Soviética e na Rússia.
Após esse mapeamento foi analisada a contribuição teórica de Mikhailov para a
Ciência da Informação e discutidos aspectos que nortearam seu pensamento, como os
conceitos relacionados à informação científica, à disciplina Informatika/Ciência da
Informação e a interdisciplinaridade dessa área com outros campos do conhecimento.
Além dessa análise, foi traçado um paralelo das idéias de Mikhailov com o
desenvolvimento epistemológico da Ciência da Informação. Para essa abordagem, a
principal fonte utilizada foram os trabalhos das pesquisadoras Maria Nélida González de
Gómez e Lena Vania Ribeiro Pinheiro.
17

A pesquisadora Maria Nélida González de Gómez, que desde a década de 1980


apresenta considerável produção de análise epistemológica da Ciência da Informação, sua
estrutura e desenvolvimento teórico, caracteriza-se por um dos mais complexos e
aprofundados estudos epistemológicos da Ciência da Informação, citando trabalhos de
Mikhailov em alguns de seus artigos.
Já Pinheiro, a partir do artigo “Traçados e limites da Ciência da Informação”,
publicado em 1995, em conjunto com José Mauro Matheus Loureiro, passando pela sua
tese de doutorado “A ciência da informação entre sombra e luz: domínio epistemológico
e campo interdisciplinar”, defendida em 1997, e em artigos posteriores baseados ou não
na tese, realizou um estudo das origens e do desenvolvimento teórico da Ciência da
Informação. A autora segue a vertente da epistemologia histórica da área, fundamentada
sobretudo em Japiassu (1977 apud PINHEIRO, 1998, p.133), por meio da qual buscou
“elucidar a produção de teorias e dos conceitos científicos a partir de uma análise da
própria história das ciências, de suas resoluções e ‘démarches’ do espírito cientifico”.
A partir dos estudos dessas autoras e de outros trabalhos complementares,
brasileiros e estrangeiros, pretende-se estabelecer correlações entre as idéias de
Mikhailov com a emergência da Ciência da Informação nos anos 1960 e o
desenvolvimento teórico da área.

3.1 Procedimentos metodológicos.

Em relação aos procedimentos metodológicos utilizados nesta pesquisa, foi


realizado um exaustivo levantamento bibliográfico buscando localizar artigos e trabalhos
de Mikhailov, em diferentes publicações, para análise, especialmente dos aspectos
históricos e epistemológicos vinculados aos objetivos desta pesquisa.
Os locais onde ocorreram os levantamentos bibliográficos foram bibliotecas, em
especial o acervo do antigo IBBD e do IBICT, hoje na Biblioteca do Centro de Filosofia
e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), além da
Biblioteca da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais
18

(UFMG). Muito do material produzido por Mikhailov conseguiu ficar disponibilizado a


partir do serviço do Catálogo Coletivo Nacional de Publicações Seriadas (CCN),
disponível no site http://ccn.ibict.br/busca.jsf, no qual foram localizados, em diferentes
instituições, bibliotecas ou faculdades, periódicos que dispunham de artigos escritos por
Mikhailov, em sua grande maioria acessíveis a partir de serviços de Comutação
Bibliográfica.
Esta pesquisa envolve materiais produzidos pelo autor entre 1958, ano em que foi
publicado um de seus primeiros trabalhos sobre informação científica, até o final de
1986, quando Mikhailov se afastaria parcialmente de suas atividades por problemas de
saúde.
Além dos livros Fundamentos da Informática, Curso introdutório sobre
Informação/ Documentação e Comunicação Científica e Informatika, que podem ser
considerados como espécie de “base central” para a análise da produção teórica de
Mikhailov, destacam-se, também, diferentes trabalhos elaborados pelo autor e publicados
pela Federação Internacional de Documentação (FID), sejam os do Comitê de Estudos
sobre Pesquisa de Base Teórica da Informação, ou FID/RI, no qual Mikhailov era
coordenador, sejam no periódico do instituto, International Forum on Information and
Documentation, onde exerceu o cargo de editor-chefe, ou os oriundos da freqüente
participação do autor nos congressos internacionais realizados pela organização de dois
em dois anos.
Em relação aos periódicos, nas edições norte-americanas do periódico russo
Nauchno-Tekhnicheskaya Informatsiya, em suas duas séries, Scientific and Technical
Information Processing e Automatic Documentation and Mathematical Linguistics, foi
encontrado maior número de artigos escritos por Mikhailov (e colaboradores). Um
resultado de certa forma previsível, visto que o autor foi editor-chefe desse periódico por
mais de 25 anos. Outras publicações nas quais também aparecem trabalhos de Mikhailov
são o Informatik (Alemanha), Annals of library science and documentation (Índia), Asis
Bulletin (Estados Unidos), Rivista Dell Informazione (Itália), entre outras.
Nesse levantamento foi percebida uma lacuna do material produzido pelo autor
entre 1960 a 1965, a grande maioria em russo (cirílico) e contida em periódicos da antiga
União Soviética. Apesar da tentativa de se obter esse material, entrando em contato com
19

alguns institutos russos, como o VINITI, e mesmo tendo conseguido algum tipo de
resposta por parte desses órgãos, muito pouco ficou disponível e foi acessado.
Foram analisados, quando possível, artigos, teses e textos de autores
contemporâneos de Mikhailov que discutiram suas idéias e que podem, de certa maneira,
complementar o pensamento do autor, para análise da repercussão que suas idéias
tiveram na Ciência da Informação e mostrar pontos positivos ou críticas à sua produção
científica. Essa análise foi complementada, conforme já mencionado, pelo estudo de
autores brasileiros que estudaram e citaram, em algum momento, o pensamento de
Mikhailov em seus textos e artigos.
20

4. A construção da Ciência da Informação na antiga URSS e na Rússia

A finalidade, neste capitulo, é a de empreender uma análise da história e do


desenvolvimento da infra-estrutura em informação cientifica na antiga União Soviética e
na Rússia, situando a produção de Mikhailov no período e país onde foi apresentada. Será
feito também um estudo sobre os principais órgãos, institutos e publicações sobre
Informatika/ Ciência da Informação na URSS, a formação de profissionais e
pesquisadores no país e os eventos técnicos e científicos ocorridos tanto na União
Soviética como em âmbito internacional.

4.1 Breve histórico da infra-estrutura de informação cientifica na antiga


URSS (1917-1991)...

A origem da Ciência da Informação na URSS pode ser datada pela ascensão do


partido bolchevique ao poder, em novembro de 1917. O premier russo, Vladimir Ilitch
Lênin, acreditando que o desenvolvimento da ciência de seu país também dependia do
acesso dos conhecimentos produzidos nos países capitalistas, e temendo que se
repetissem os erros da revolução francesa, que destruiu importantes centros de pesquisa
por serem do “antigo regime”, apoiou medidas que preservassem os institutos científicos
da Rússia (RICHARDS, 1996, p.77). Uma das primeiras medidas tomadas por Lênin foi
a de manter a autonomia e uma relativa independência do principal centro de pesquisa do
país, a Academia de Ciências Russa, fundada em 1725, e uma das mais respeitadas da
Europa, mesmo com a fria recepção com que o instituto recebeu a revolução e os
bolcheviques (PIPES, 1995, p. 322).
Entre 1918 e 1922 surgiram as bases para o desenvolvimento de um sistema de
informação científica no país. As bibliotecas privadas e institucionais foram
nacionalizadas em novembro de 1918 (RICHARDS, 1996, p.78) e foram criadas duas
agências que traduziam e publicavam a literatura científica e alguns periódicos ocidentais
para a Rússia: o Bureau de Ciência e Tecnologia Estrangeira, ou BINT, em atividade em
Berlim, entre 1920 e 1928, e o Kominolit, que funcionou na URSS e foi estabelecido por
Lênin, em decreto de junho de 1921, ficando em funcionamento até o final desse ano
21

(MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVISKYI, [1968] 1973, p. 643; BROOKES, 1984,


p.222; RICHARDS, 1992, p. 271-272). Em 1926, foi promulgado o decreto “analise
sobre o estado da informação no partido comunista e medidas para sua melhoria”, que
buscou tornar mais eficiente o fluxo e a troca de informações entre diferentes setores do
partido comunista soviético (HOFFMANN, 1973, p.203).
A partir de 1927 foram implementadas políticas de treinamento de profissionais
que pudessem trabalhar de forma mais eficaz com a literatura científica recebida e
produzida no país. Essas políticas foram consolidadas na primeira metade da década de
1930, com a criação de cursos para a formação de profissionais que traduziam e
disseminavam as informações e pesquisas produzidas no exterior e nas Repúblicas
Soviéticas (RICHARDS, 1992, p.271).
Parte dessa autonomia e independência foram perdidas, à medida em que a
repressão política promovida pelo sucessor de Lênin, Joseph Stalin, aumentou de forma
vertiginosa após 1937. Muitos dos serviços e práticas de organização e produção da
informação ficaram prejudicados e alguns desses serviços passaram a ser realizados
também em órgãos de segurança e de espionagem, como o NKVD ou MVD2 (ANDREW,
GORDIEVSKIJ, 1991).
Entre 1941 e 1945, período em que a URSS se envolveu com a segunda guerra
mundial, muito desses serviços foram interrompidos ou transferidos para locais mais
afastados, assim como centros de pesquisa e bibliotecas, que foram destruídos com a
ocupação do país por tropas alemãs durante o conflito (RICHARDS, 1996, p. 78). Com o
término da guerra, projetos de “reparações” foram estabelecidos pelo governo soviético e
muito da reconstrução dessas bibliotecas foi feita com livros e coleções alemãs
confiscados pelos russos (RICHARDS, 1996, p.78-79).
Os anos do pós-guerra, aproximadamente entre 1946 e 1953, viram um
recrudescimento de posturas xenófobas na ciência soviética, onde existiram tentativas,
tanto do partido quanto de alguns cientistas, de extirpar o “cosmopolitismo”, ou seja, a
troca de informações e material entre cientistas russos e ocidentais, em diversos campos

2
Antigas denominações do serviço secreto soviético, o Komityet Gosudarstvennoy Bezopasnosti, ou KGB,
que com essa denominação ficou em atividade entre 1954 e 1991.
22

científicos (HOLLOWAY, 1997, p. 263-5). Os primeiros anos da guerra fria fizeram da


ciência russa uma de suas primeiras vítimas3.
Apesar de a Academia de Ciências Soviética ainda ter mantido certa
independência, nesse período, e de ser a única instituição a receber publicações
científicas estrangeiras, mesmo assim sofria um forte controle vindo do partido comunista
e dos órgãos de informação como o MVD. Embora ainda permitisse que uma certa elite
científica pudesse desfrutar de algum acesso à informação ocidental, parte considerável
da ciência russa não teve o mesmo privilégio, a despeito dos esforços (bem sucedidos) da
Academia de Ciências e de alguns pesquisadores e bibliotecários, em tentar pelo menos
atenuar essa situação (RICHARDS, 1996, p.85-86).
Entretanto, se os últimos anos do governo de Stalin foram marcados por um
fechamento político, cultural e científico, esse período também viu surgir os primeiros
indícios de um novo sistema de informação no país. Isso pode ser percebido com a
implantação de um Comitê estatal para a Ciência e Tecnologia, entre 1949 e 1953,
chamado de Gostekhinka, e até 1991 denominado GKTN; o surgimento de periódicos
como o Referativnyi Zhurnal, publicado em 1952, e até hoje em atividade, e a
implantação de institutos dedicados à produção e ao controle da informação recebida e
gerada no país, como o VINITI, mencionado na introdução desta pesquisa. Entretanto,
medidas realmente concretas que confirmariam essa mudança só seriam vistas após a
morte do líder soviético, em março de 1953 4.
As décadas de 1950 e 1960 viram o desenvolvimento e a consolidação do que
viria a ser denominado de “sistema de informação cientifica”, que se manteve até o final
da URSS. Entre 1951 a 1960, foram criadas aproximadamente 1861 unidades de

3
A exceção nesse período seria no campo da Física, onde por causa do interesse de Stalin em conseguir a
bomba atômica num curto período de tempo e da coerente liderança de físicos como Igor Kurchatov, a área
conseguiu manter alguma autonomia e não sofreu os piores efeitos dos últimos anos stalinistas ( ver
HOLLOWAY, 1997). A maioria dos outros campos, infelizmente, não teve a mesma sorte. Em alguns
deles, em especial a Biologia e Genética, nas quais as desastradas e autoritárias propostas do pesquisador
Trofim Lynsenko prevaleceram nesse período, as conseqüências foram desastrosas e demoraram décadas
para serem reparadas (HOBSBAWM, 1995, p.514).
4
Essa mudança de postura pode ser explicada pelo grande material científico e tecnológico retirado da
Alemanha para a URSS, entre 1946 a 1949, material esse que seria útil para a construção de importantes
projetos como a bomba atômica russa, testada com sucesso em agosto de 1949 e da indústria espacial
soviética, consolidada com o lançamento do primeiro satélite, o Sputnik 1, em 1957. A necessidade de se
organizar e tratar a informação advinda desse material explica parcialmente essa relativa mudança de
atitude (RICHARDS, 1996, p.78-79; HOLLOWAY, 1997).
23

informação, que visavam a suprir organizações e indústrias com material científico


(CHERNYI, GILYAREVISKYI, KOROTKEVICH, 1993, p.13) e, a partir de 1954,
implantados institutos e comitês de informação cientifica e técnica nas Repúblicas
Soviéticas, com o objetivo de apoiar seus governos com informações que dessem suporte
às suas decisões econômicas e administrativas (GILYAREVISKYI, 1999, p.202).
Nesse período entraram em atividade outros institutos de pesquisa da informação,
alguns não necessariamente vinculados à Academia de Ciências. Além do VINITI, os
outros órgãos que podem ser citados são o Centro Estatal de Informação Científica e
Técnica (VNTITS), o Instituto Central de Investigação Científica sobre Informação de
Patentes e Investigações Técnicas e Econômicas (TSNIIPI), o Instituto Estatal de
Investigação Científica de Informação Científica e Técnica, Classificação e Codificação
(VNIIKI) e o Instituto de Pesquisa de Informação Interdisciplinar (VIMI), entre outros
(MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVISKYI, [1968] 1973).
Esses órgãos tinham como objetivo principal não somente centralizar os serviços
e as atividades de produção e disseminação da informação, mas também de interligar
diversos institutos, organismos e empresas ao redor da URSS, no sentido de oferecer
maior controle e eficiência a esses serviços (MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVISKYI, [1968] 1973). Entretanto, não foram obtidas maiores informações
sobre a eficiência desses órgãos após a década de 1970 ou se os mesmos cumpriram seus
objetivos a contento.
Algumas normas e regimentos que regulamentavam a organização da produção
de informação científica foram promulgados na década de 1960 como, por exemplo, o
“Decreto sobre o sistema nacional de informação cientifica e técnica”, de 29 de
novembro de 1966, considerado um dos principais, que regulamentou os serviços, órgãos
e atividades de geração e organização da informação no país (GILYAREVISKYI, 1999).
Na década de 1970, completava-se a construção do sistema de informação
científica no país, com uma rede que interligava indústrias, institutos e organismos que
trabalhavam com a informação científica, por toda a União Soviética (CHERNYI,
GILYAREVISKYI, KOROTKEVICH, 1993, p.16). Entretanto, segundo os autores, seus
resultados foram contraditórios e aquém do que realmente se esperava.
24

Os mesmo autores (1993) afirmam que, ainda na década de 1970 iniciou-se um


programa de automatização e informatização, com a criação de uma base de dados, cujo
objetivo era interligar diferentes centros de pesquisa e de produção da informação ao
redor da URSS. Contudo, apesar de algum sucesso ter sido percebido, o objetivo
principal do programa não foi atingido de forma satisfatória.
No campo teórico, a partir da década de 1960, com as iniciativas e cursos
promovidos pelo VINITI e por outros órgãos, a Ciência da Informação soviética viu o
florescimento de uma base para a teoria da “Informatika/ Ciência da Informação”, com o
aparecimento de uma geração de teóricos e pesquisadores que começavam a discutir as
definições e conceitos de informação social e informação científica, nesse campo que
viria a ser desenvolvido na URSS, e sobre as práticas de produção, armazenamento e
disseminação da informação5.
Outra característica em relação à Ciência da informação na União Soviética foi a
de “exportação” de seus conceitos e práticas de organização e disseminação da
informação, além da construção de projetos de pesquisa para outros países sob sua esfera
de influência.
Desde a criação, em 1949, do Conselho para Assistência Econômica Mútua
(COMECON), que visava à integração econômica dos países do bloco comunista, foram
realizados congressos, cursos e encontros no sentido de centralizar os serviços de
produção de informação nos países comunistas e de buscar uma troca efetiva de
informações entre bibliotecários e profissionais da informação desses países
(RICHARDS, 1999, p. 206-207).
Em 1969, foi iniciado o desenvolvimento do que seria chamado de Rede
Internacional de Informação Científica (MSNTI), na qual a URSS tentava suprir os países
sob sua influência, de material científico publicado nos países ocidentais, tendo obtido
sucesso apenas parcial (RICHARDS, 1999, p.212). Esse programa, de certa forma, foi
uma extensão das iniciativas feitas na União Soviética, entre as décadas de 1920 e 1930,
para o tratamento e disseminação da literatura e informação cientifica.

5
Dessa geração, além de Mikhailov podem ser citados seus colaboradores A. I. Chernyi e R. S.
Gilyareviskyi, e os pesquisadores V. A. Polushkin, Yu. A. Shreider, A. D. Ursul, G. M. Dobrov, V.
V.Nalimov, E. P. Semenyuk e A. V. Sokolov.
25

Em relação à atuação da Ciência da Informação soviética nos países ocidentais,


muito da teoria e prática produzida por pesquisadores russos foram apresentados e
discutidos em diversos congressos e seminários promovidos por órgãos como, por
exemplo, a FID, no qual o VINITI, membro desde 1958, manteve forte influência até o
final dos anos 1980. O próprio Mikhailov foi, por quase treze anos (1975 a 1988) editor-
chefe do principal periódico do instituto, o International Forum on Information and
Documentation, além da já citada coordenação no Comitê de Estudos sobre Pesquisa de
Base Teórica da Informação, ou FID/RI, entre as décadas de 1960 e 1980.
Também cabe destacar a considerável participação soviética em projetos
desenvolvidos pela UNESCO nas décadas de 1960 e 1970 como, por exemplo, o Sistema
Mundial de Informação Cientifica e Tecnológica, ou UNISIST.
A Ciência da Informação soviética enfrentaria, na década de 1980, duas realidades
distintas. A primeira, a manutenção da alta produção de publicações científicas, mesmo
com algumas flutuações durante essa década (WILSON, MARKUSOVA, 2004) e a
segunda, a real consolidação do conceito “Informatika”, no campo científico soviético.
Por outro lado, e de forma mais evidente na segunda metade dessa década,
surgiram sinais de que, apesar do gigantesco aparato desenvolvido e do sucesso de órgãos
como o VINITI, que se tornariam centros de excelência para a área, o sistema de Ciência
da Informação no país não estava rendendo o resultado esperado.
Isso é explicado por fatores como a forte burocracia imposta pelo partido
comunista, que não permitia a troca e a divulgação de informações importantes entre
diferentes institutos, e dificultava o acesso e até mesmo a reprodução de documentos
científicos (CASTELLS, 1999; GILYAREVISKYI, 1999); a forte centralização imposta
para a produção e organização da informação, o que prejudicou de forma drástica a maior
mobilidade e diversidade de atividades, pesquisas e resultados; o estático patrocínio dado
pelo governo à Ciência da Informação soviética, que não acompanhou as mudanças e
transformações pelas quais o campo de estudo necessitava, mantendo-se inalterado por
quase vinte anos, e um atrasado sistema telefônico e tecnológico que impedia uma
26

eficiente interligação entre diferentes centros de pesquisa e institutos científicos


(SULLIVAN, 1986; GILYAREVISKYI, 1999, p.204)6.
Com a ascensão de Mikhail Gorbatchev como secretário geral do partido
comunista, em março de 1985, iniciou-se um período de reavaliação dos conceitos e
práticas da Ciência da Informação no país. Com a abertura promovida pelas políticas da
“Glasnost” e “Perestroika”, começaram a surgir críticas abertas de bibliotecários e de
outros profissionais de informação acerca da situação que eles estavam vivendo, marcada
por problemas como baixa remuneração, pouco reconhecimento e condições às vezes
precárias de trabalho (MOREIRO GONZÁLEZ, 1995; CHOLDRIN, s.d.).
O campo teórico também começou a ser alvo de críticas, alguns pesquisadores
indicavam uma revisão e reavaliação do conceito Informatika/ Ciência da Informação,
buscando maior diversificação em seu conteúdo. Mesmo teóricos como Sokolov e
Gilyareviskyi, a partir de 1989 procuraram alternativas para esse conceito e o seu campo
de estudo (MOREIRO GONZÁLEZ, 1995, p.178-179).
Essas discussões e antagonismos seriam abruptamente interrompidos com o
colapso não só do bloco comunista, entre 1989 e 1990, mas da própria União Soviética,
que seria dissolvida em dezembro de 1991, encerrando, assim, os quase 75 anos de
experiência comunista na Rússia.

4.2 ... E na Rússia (1992-2007)

A Ciência da Informação e o campo de pesquisa científico na Rússia, após 1991, teve


que se adaptar a uma nova e, em muitos aspectos imprevisível, realidade política e
econômica.
Muito do pensamento e idéias que existiam na Ciência da Informação Soviética
deixaram de ser adotados na Rússia pós-comunista (MOREIRO GONZÁLEZ, 1995).

6
Segundo estimativa feita pelo jornalista Walter Sullivan, em 1986, apenas cerca de 30% das famílias
soviéticas possuíam telefone (23% em centros urbanos e 7% em áreas rurais), mostrando um sistema de
comunicação ainda atrasado e ineficiente (SULLIVAN, 1986). Em relação ao aspecto tecnológico,
especificamente ligado aos computadores, apesar do papel pioneiro da URSS na Europa, na construção e
aprimoramento de um sistema de computadores (MALINOVSKY, 2006), a partir da década de 1970, por
motivos diversos, o programa tecnológico russo não só ficou em desvantagem em relação ao programa
norte-americano, mas entrou num período de estagnação e ineficiência durante boa parte da década de 1980
(CASTELLS, 1999; MALINOVISKY, 2006).
27

Mesmo assim, alguns conceitos ainda mantiveram sua importância e novas propostas
surgiram para adaptar a Informatika/ Ciência da Informação a essa nova realidade (para
uma análise de conceitos e estudos realizados na Rússia pós-URSS ver, por exemplo,
Maceviciute, 2006).
A ciência russa nesse período enfrentou uma situação na qual o governo, apesar
de ainda oferecer algum apoio para a pesquisa, cortou recursos para institutos e órgãos
científicos. O próprio VINITI sofreu uma diminuição de investimento em alguns setores,
como, por exemplo, em verbas para a obtenção de literatura científica estrangeira, que
caiu de 720 mil dólares, em 1990, para menos da metade em 1993 (MARKUSOVA,
CHERNYI, GILYAREVISKYI, GRIFFITH, 1996, p.375). Dados indicam que essa
situação está sendo mantida, com um anunciado corte de 20 % em pesquisas na
Academia de Ciências Russa, no inicio de 2007 (MARKUSOVA, JANZ, LIBKIND,
LIBKIND, VARSHAVSKY, 2007).
Em relação à sua atuação internacional, a Informatika/Ciência da Informação
russa viu sua participação ser reduzida drasticamente, tanto em órgãos como a FID (que
encerrou suas atividades em 2002) e a UNESCO, como em programas nos países de sua
antiga esfera de influência, a maioria encerrada no final da década de 1990 (RICHARDS,
1999, p.213). Entretanto, estudos recentes indicam que os centros de pesquisas e
universidades russas conseguiram aumentar de forma considerável sua participação, seja
em produção intelectual ou em pesquisas, com outros países, sendo citadas colaborações
com os Estados Unidos, Europa Ocidental (Itália, Holanda, Suíça) e até mesmo países
como o Japão e Israel (MARKUSOVA, 2000; MARKUSOVA, MININ, LIBKIND,
JANZ, ZITT, BASSECOULARD-ZITT, 2004, p. 375-380; WILSON, MARKUSOVA,
2004, p. 360, Tabela 1). Apesar de uma considerável, porém previsível diminuição, a
colaboração entre pesquisadores russos com os das outras ex-Republicas Soviéticas e dos
países do leste europeu foi mantido (CHOLDRIN, s.d.).
Grande parte da estrutura construída para o chamado “Sistema de informação
cientifica Soviética” ou foi dissolvida, ou perdeu consideravelmente sua importância e
atuação (GILYAREVISKYI, 1999, p. 195). Entretanto, tanto o principal órgão de
informação científica na Rússia, o VINITI, quanto seus principais periódicos
28

(Referativnyi Zhurnal e o Nauchno-Tekhnicheskaya Informatsiya), sobreviveram à


dissolução da URSS e mantiveram-se em atividade.

4.3 Instituto Estatal de Informação Cientifico e Técnica (VINITI).

O principal órgão de pesquisa e estudo sobre a informação na União Soviética, e


talvez um dos maiores em âmbito internacional, foi o Instituto Estatal de Informação
Científico e Técnica, ou VINITI, mencionado ao longo deste texto. Apesar de não ter
sido o único instituto que realizou esse tipo de atividade no país, o VINITI foi uma
espécie de “órgão central” que coordenou a maior parte das pesquisas e projetos ligados à
Ciência da Informação, tanto na URSS como em grande parte do antigo bloco socialista.
Sua criação, em 19 de junho de 1952, deveu-se ao esforço do acadêmico A. N.
Nesmeyanov, então presidente da Academia de Ciências da União Soviética, ao
convencer o governo da necessidade da implantação de um organismo que trabalhasse
com a informação científica nessa instituição (CHERNYI, GILYAREVISKYI, 2002,
p.12), e da necessidade e o interesse do governo soviético na criação de uma agência que
controlasse a informação científica produzida e recebida no país e que centralizasse os
serviços e métodos de organização da informação (MOREIRO GONZÁLEZ, 1995,
p.175; RICHARDS, 1996, p. 87).
Em seus primeiros anos, entre sua fundação, inicialmente denominado Instituto de
Informação Cientifica, até a ascensão de Mikhailov como diretor do Instituto, em outubro
de 1956, as atividades do VINITI foram inicialmente estipuladas em:

1. “Pesquisa para o aperfeiçoamento de métodos usados nos


trabalhos ligados à informação cientifica”.
2. Preparar e publicar, de 1953 em diante, um periódico que
sistemática e exaustivamente refletisse toda a literatura mundial da
“fisico-matematica” e as ciências químicas e, a partir de 1954,
também em ciências biológicas, geológicas, geográficas e técnicas.
3. Compilação e publicação de uma literatura bibliográfica.
4. Preparar relatórios que englobem várias áreas de ciências e do
campo de engenharia na URSS e em países estrangeiros.
5. Preparar traduções e fazer cópias de artigos de periódicos para
atender pedidos de instituições (Vestnik AN SSSR, 1952 apud
CHERNYI, GILYAREVISKYI, 2002, p.12) “.
29

O corpo de profissionais que integravam o VINITI foi constituído principalmente


de cientistas e profissionais de diferentes formações e graduações e muitos deles
passariam praticamente as suas carreiras dedicadas a projetos e a atividades
desenvolvidos pelo instituto. Incluem-se também profissionais, cientistas e estudantes,
que se desvincularam de seus institutos, centros de pesquisa ou universidades de origem
para fazerem parte do VINITI (CHERNYI, GILYAREVISKYI, 2002, p.13).
O Instituto, no campo tecnológico, além de ter dominado uma eficiente tecnologia
de reprodução de documentos (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVISKYI, [1968]
1973) pôde usufruir dos mais modernos e eficientes computadores e programas
produzidos na URSS como, por exemplo, modelos como o Minsk-22 e 32, o ES-1022 e o
Gamma-10 (CHERNYI, GILYAREVISKYI, 2002, p.18). Comparado com outros
institutos de pesquisa soviéticos, que não dispunham da mesma estrutura (CASTELLS,
1999), pode-se dizer que o VINITI foi uma espécie de exceção, nesse sentido.
Um dos primeiros projetos em que o VINITI participou, a partir de 1955, e que se
tornaria um dos mais importantes nos primeiros anos do Instituto, foi o de
desenvolvimento da máquina de tradução, um aparelho que buscava traduzir em
diferentes formatos periódicos publicados em outras línguas fora do russo. O projeto
obteve considerável sucesso até meados da década de 1970, quando seus recursos foram
gradativamente reduzidos (HUTCHINS, 1986), porém, retomou sua importância a partir
de 1980 (CHERNYI, GILYAREVISKYI, 2002, p.19).
O VINITI, a partir de meados da década de 1950, participou de diversos projetos
em diferentes campos científicos, muitos relacionados à utilização de novas tecnologias
no armazenamento e disseminação da informação, alguns em convênio com outros
órgãos ou institutos soviéticos (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVISKYI, 1967;
CHERNYI, GILYAREVISKYI, 2002).
O vertiginoso crescimento do VINITI, em seus primeiros anos, chegou a atrair a
atenção da comunidade científica norte-americana. Segundo o pesquisador Eugene
Garfield, o desenvolvimento de institutos como o ISI7 e de iniciativas como o Science

7
Sigla para Institute for Scientific Information, hoje pertencente ao Thomson Scientific, uma empresa que
dispõe de bases de dados, abrangendo cerca de 16 mil títulos de revistas, segundo estimativa feita por Testa
30

Citation Index (SCI) foram diretamente influenciados pelas atividades realizadas pelo
VINITI e em publicações como o Referativnyi Zhurnal (GARFIELD, 2002).
Mas, infelizmente, o Instituto não escapou da influência da política do sistema
soviético. Richards, citando o trabalho do “dissidente” George Vladutz e do pesquisador
Zhores Medvedev, apontou a existência, no VINITI, de um setor denominado de
“primeiro departamento”, unidade ligada a KGB, setor esse destinado a retirar das
publicações científicas ocidentais que chegavam ao país trechos ou artigos desfavoráveis
a União Soviética ou à ciência russa (RICHARDS, 1992, p.274-275).
Em relação à sua atuação em outros países, cita-se a participação do VINITI em
outros institutos no leste europeu, onde os centros de pesquisa de informação e as
Academias de Ciências seguiram os modelos e a estrutura propostos e conduzidos pelo
VINITI, pelo menos até o final da década 1960 (MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVISKYI, [1968] 1973).
Nesse aspecto, a entidade que mais recebeu suporte e colaboração do VINITI foi a
cubana, ou mais especificamente, o Instituto de Información Científica y Tecnológica, ou
IDICT.
Apesar de o intercâmbio entre os dois Institutos ter sido consideravelmente
intenso, desde o início da década de 1960, quando Cuba começou a sofrer um forte
embargo dos Estados Unidos estimulando, assim, o estreitamento econômico e político
entre esse país e a URSS, a “integração” entre os mesmos foi consolidada somente no
final de 1965. Este fato ocorreu quando Mikhailov visitou o país e assinou convênios de
cooperação entre os dois institutos, que se transformariam num amplo programa de
reestruturação do IDICT sob os moldes soviéticos e que se intensificaria nos anos
seguintes, somente diminuindo (drasticamente) em 1989 (PEDROSO ISQUIERDO,
2004).
Entre 1975 e 1980, o VINITI obteve o número de aproximadamente 20 mil
funcionários trabalhando na instituição atingindo, segundo alguns autores, seu ápice

(1998). Ainda segundo o autor, o ISI indexava cerca de oito mil periódicos “registrando os dados
bibliográficos completos para cada documento incorporado, incluindo os resumos originais em inglês, os
endereços dos autores e editores e as referências bibliográficas citadas em cada revista”, com o objetivo de
“(...) oferecer uma cobertura ampla das mais importantes e influentes revistas publicadas em todo o mundo
para manter seus assinantes atualizados, suprindo suas necessidades de informação corrente e
retrospectiva” (TESTA, 1998).
31

(CHERNYI, GILYAREVISKYI, 2002, p.13; RICHARDS, 1996, p.87). Iniciava-se, nesse


período, no Instituto, como em outros órgãos soviéticos, uma fase de automação do seu
acervo, que seria denominado de Sistema Automático de Informação ou Assistent
(CHERNYI, GILYAREVISKYI, 2002, p.18). Esse sistema foi desenvolvido em quatro
etapas, Assistent-1 (entre 1971-1975), Assistent 2 (entre 1976-1980), Assistent 2-A (entre
1981-1985) e o Assistent 3 (desenvolvido a partir de 1985), visando a disseminação das
publicações do VINITI em formato eletrônico, constituindo uma base de dados e uma
rede de integração entre o Instituto e os outros países do bloco comunista (CHERNYI,
GILYAREVISKYI, 2002, p.18).
Com o fim da URSS, o Instituto sofreu profunda reorganização de seus projetos,
programas e prioridades. Não existe disponível uma ampla literatura sobre o VINITI após
1991. O parco material disponível mostrou que o Instituto nesse período sofreu uma
considerável queda de recursos (MARKUSOVA, CHERNYI, GILYAREVISKYI,
GRIFFITH, 1996), teve suas funções e atividades modificadas em propostas e decretos
formulados em 1992, para se adaptar à nova realidade da Rússia, e reorganizou seus
programas, apesar de ter mantido sua importância graças à atuação dos profissionais do
instituto e de Yuri Arskii, diretor do VINITI desde 1993 (CHERNYI,
GILYAREVISKYI, 2002, p. 24-25). O VINITI dispõe, atualmente, de uma pagina
própria na Internet, em língua russa, mantendo, com considerável regularidade,
informações atualizadas de sua estrutura e atividades: http://www2.viniti.ru/.

4.4 Periódicos secundários/ serviços de informação.

O interesse na criação de periódicos secundários, tipo “abstracts” e índices, e em


serviços de informação no país existiu desde a ascensão do governo bolchevique ao
poder, no final de 1917, como já mencionado. Ainda nesse ano buscou-se a criação
desses periódicos, que pudessem recuperar resumos e bibliografias de publicações
científicas ocidentais e entre as Republicas Soviéticas. Entre 1920 a 1932, o principal
periódico secundário publicado, nesse sentido, foi o Reportes do trabalho científico e
técnico nas repúblicas, consistindo em resumos de 10 a 15 linhas informando sobre as
pesquisas realizadas no país e, entre 1928 a 1935, a Literatura Científica na União
32

Soviética, de periodicidade anual (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVISKYI, 1967,


p.18; RICHARDS, 1996, p.82).
A partir de 1931, com o objetivo de obter informações sobre as inovações
tecnológicas desenvolvidas no exterior, foram publicados diversos periódicos secundários
que buscavam apresentar resumos de pesquisas cientificas realizadas na URSS e
internacionalmente, muitas no campo industrial e da metalurgia. Algumas dessas
publicações seriam centralizadas nas Notícias de Literatura de Engenharia, publicadas
entre 1936 a 1953 (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVISKYI, 1967, p.19).
Mas um periódico secundário que efetivamente supriu a necessidade de registrar e
resumir as produções científicas publicadas na URSS e no exterior surgiu somente em
1952, com a edição do Referativnyi Zhurnal (em inglês Abstract Journal). Em alguns
anos, o Referativnyi se tornaria o principal periódico de revisão soviético e um dos
principais no gênero em âmbito internacional.
As disciplinas englobadas pelo periódico foram a Matemática, Astronomia, Química,
Mecânica (todas publicadas a partir de 1953), Física, Biologia, Geologia (a partir de
1954), Informatika/Ciência da Informação (a partir de 1963), Proteção ambiental (a partir
de 1975), Ciência da Computação (a partir de 1987), entre outros (CHERNYI,
GILYAREVISKYI, KOROTKEVICH, 1993, p.15) 8.
Nesse periódico eram elaborados resumos e descrições bibliográficas de artigos,
coleções, patentes e monografias de diferentes tipos de publicações científicas, tanto
soviéticas quanto estrangeiras, e foram lançados anualmente volumes em que eram
indexados os assuntos, o nome do autor e, em alguns casos, informações relacionadas a
determinados tipos de pesquisa e projetos (MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVISKYI, [1976] 1984, p.219). Esse trabalho era realizado por cientistas e
especialistas em suas respectivas áreas de atuação e a periodicidade, forma e estrutura das
edições dependiam do material e da disciplina englobada (MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVISKYI, [1976] 1984, p. 340).
Em meados dos anos 1970, algumas edições do periódico começaram a ser
distribuídas em outros formatos como fitas magnéticas e microfilmes (MIKHAILOV,
CHERNYI, GILYAREVISKYI, [1976] 1984, p.340). Em 1982 foi iniciada a produção de

8
O período estudado pelos autores vai de 1953 a 1990.
33

um banco de dados para armazenar eletronicamente alguns desses volumes, que se


encontra ainda em processo de implantação e manutenção (SHAMAEV, ZHAROV,
GORSHKOV, 2007), e, a partir de 1995, o periódico apareceu tanto em versão eletrônica
como em formato impresso.
A importância do Referativnyi Zhurnal se manteria alta mesmo após o colapso da
União Soviética. Em pesquisa realizada em meados da década de 1990, foi relatado que o
mesmo era considerado de grande importância para cerca de 47% dos pesquisadores e
cientistas consultados na Ucrânia e 17 % na Rússia (MARKUSOVA, CHERNYI,
GILYAREVISKYI, GRIFFITH, 1996. p.376).
Entretanto, em algumas edições do periódico ocorreu uma drástica queda em sua
circulação. No caso da edição dedicada à Matemática, foi verificada uma queda abrupta
em sua publicação, de 3500 exemplares editados em 1953, reduziu-se para 667 em 1993 e
a uma simbólica quantidade de 84 exemplares, em 2006, além de outras edições que
também sofrem atualmente com uma circulação meramente simbólica, como a de Física
(com uma circulação de apenas 48 exemplares, em 2006), Química (55 exemplares, em
2006) e a de Mecânica (58 exemplares, em 2006) (SHAMAEV, ZHAROV,
GORSHKOV, 2007, p.10).
Outros periódicos secundários de formato parecido ao Referativnyi Zhurnal foram
publicados na URSS, durante as décadas de 1950 e 1970, muitos distribuídos pelo
VINITI (CHERNYI, GILYAREVISKYI, 2002, p.17).

4.5 Formação profissional em Informatika/ Ciência da Informação.

A formação do profissional de Ciência da Informação (ou Informatika), chamado por


Mikhailov de Informador (profissional ou especialista de uma determinada ciência ou
disciplina que se ocupa de atividades científico-informativas) e Informático9 (um
especialista em Informatika, com maior qualificação do que um informador), em inglês,
respectivamente, Information Officer e Information Scientist (MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVISKYI, [1968] 1973, p.58), teve sua origem em meados do século XVIII,
com algumas atividades de resumo elaborados na Academia de Ciências Russa

9
Segundo a tradução em espanhol da edição cubana.
34

(MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVISKYI, [1976] 1984, ps. 215-216), e com a


implantação de cursos nas duas principais metrópoles da Rússia (Moscou e São
Petersburgo), nos últimos anos do regime Czarista (RICHARDSON JR., 2000, p.115-
116).
Entretanto, seria com a ascensão do comunismo, principalmente sob os esforços de
Lênin e de sua esposa Nazheda Krupskaya, que apareceriam os primeiros sinais de um
sistema de ensino voltado para a informação, no país.
Entre 1917 e 1920, três tipos diferentes de cursos eram oferecidos para bibliotecários
na universidade Shanyavski, em Moscou: os de curta duração, que eram realizados em
um período de três a quatro semanas; os que duravam um ano, para profissionais de
bibliotecas públicas e outro, também de um ano, para profissionais de bibliotecas
cientificas (RICHARDSON JR., 2000, p.118).
Após um período de reestruturação, incluindo cursos oferecidos também para
museólogos, foi instituído em Moscou, em 1924, o Instituto de Bibliografia, oferecendo
um curso de dois anos para a formação de bibliotecários de bibliotecas científicas, e em
1930 foi criado um Instituto de Ensino na então Biblioteca Estatal de Lênin, também para
a formação de bibliotecários (RICHARDSON JR., 2000, p.118-119).
Já em Petrogrado10, os primeiros cursos de Biblioteconomia seriam instituídos no
final de 1918, no Instituto Extra Escolar de Petrogrado. Tanto o curso quanto o Instituto
sofreram mudanças entre 1924 e 1927, mudando tanto de nome quanto sua estrutura
curricular (RICHARDSON JR., 2000, p.117-118).
Um dos primeiros cursos “práticos” de organização da informação foi desenvolvido
em 1931, para “especialista e engenheiro da informação”, no Instituo de Língua
Estrangeira da Universidade de Moscou. Com duração de quatro anos (depois reduzido
para dois) e formado principalmente por químicos, metalúrgicos e técnicos em eletrônica,
o curso tinha por objetivo treinar profissionais que pudessem coletar, traduzir e
disseminar as publicações que chegavam do exterior para a Rússia (RICHARDS, 1992, p.
271).

10
Nome adotado por São Petersburgo, entre 1914 e 1924. De 1924 a 1991 a cidade seria chamada de
Leningrado e depois voltaria novamente a se chamar São Petersburgo.
35

Em 1932 seria implantado um curso de “bibliotecário técnico”, com duração de dois


anos, na Biblioteca Científica Estatal, em Moscou. Nesse curso seriam ensinadas
atividades de classificação e resumo de material científico. Os formandos desse curso
trabalhariam posteriormente em seções de referência de bibliotecas técnicas em diferentes
tipos de indústrias e organizações (RICHARDS, 1992, p.271).
Após um certo refluxo devido aos expurgos stalinistas e a segunda guerra mundial,
gradativamente os cursos de informação seriam restabelecidos no país. Porém, somente
depois da criação do VINITI, em 1952, é que iriam surgir cursos mais específicos de
informação e até mesmo faculdades e cursos de pós-graduação em Ciência da
Informação.
O primeiro curso de pós-graduação, estruturado especificamente para a informação
científica, foi criado em 1959, no VINITI. No início dos anos 1970 as principais linhas de
pesquisa dessa pós se dividiam em três: Informação científica e técnica; Técnicas de
computação e Linguagem matemática, aplicada e estrutural (MIKHAILOV, 1972b,
p.106). Entre 1965 e 2002, cerca de 228 alunos de mestrado e 17 de doutorado foram
formados no curso de pós-graduação do Instituto (CHERNYI, GILYAREVISKYI, 2002,
p. 23). Em novembro de 1969 foi inaugurada, no VINITI, a Universidade de Informação
Científica do Povo, que oferecia cursos destinados a alunos e especialistas de nível
superior que buscavam maior especialização nas áreas de Informatika/ Ciência da
Informação e Informação Científica (MIKHAILOV, 1972b, p.103-104).
Durante as décadas de 1960 e 1970, outros cursos de graduação e pós-graduação,
foram implantados em universidades e em institutos de pesquisa na URSS, alguns
organizados ou supervisionados pelo VINITI. Destacam-se, em 1963, na Universidade
Estatal de Moscou, uma cadeira destinada à Informação Científica, com a coordenação de
Mikhailov em seus primeiros anos (MIKHAILOV, 1972b, p.106); a criação, em 1975, de
uma matéria específica sobre a “Informação Científica e Técnica”, em faculdades e
instituições de ensino na URSS (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVISKYI, 1977,
p.37); e, a partir de 1977, a implantação do curso “Fundamentos da Ciência da
Informação, Biblioteconomia e Bibliografia”, em diferentes institutos e universidades na
Rússia, Ucrânia, Letônia e em outras repúblicas soviéticas (RICHARDS, 1992, p.277).
36

Um levantamento realizado por Mikhailov e colaboradores sobre as dissertações


defendidas em cursos de pós-graduação de Ciência da Informação, na URSS, entre 1968
a 1977, indicou quais foram as principais temáticas apresentadas nesses trabalhos,
mostradas na tabela 1.
TABELA 1:
Dissertações defendidas em Ciência da Informação/ Informatika na URSS entre
1968-1977
Tema nº de dissertações
Documentos científicos primários e seus fluxos 22
Documentos secundários e publicações 26
Guarda e recuperação de documentos científicos e da informação: 58
• Sistemas de recuperação da informação 24
• Descritor IRL 23
• Classificação alfabética, hierárquica e facetada 11
Necessidades de informação e seu suporte 18
Processos de automatização da informação 14
Leitura automática de texto 6
Equipamentos para as atividades de informação 4
História e organização das atividades de informação cientifica 11
Total: 150
Fonte: MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVISKYI, 1977, p.39.

Nos anos 1980 são criados outros tipos de cursos como, por exemplo, de
instituições de cultura, implantados no Instituto Cultural de Moscou, outro relacionado à
ética profissional, realizado no Instituto Cultural de Kuibyshev, e cursos de informação
automatizada nas cidades de Kemerovo e Tomsk (ambas na Rússia) e em Alma Ata,
Cazaquistão (RICHARDS, 1992, p.283-285).
Após 1985 surgem críticas abertas de profissionais e pesquisadores sobre a
situação em que o ensino de informação passava na União Soviética. As principais
vinham da discrepância do que era ensinado nos cursos e em faculdades, comparado à
realidade dos centros de informação e bibliotecas da URSS, a desorganização que alguns
centros de ensino apresentavam e o isolamento dos profissionais de informação com os
de outras ciências e áreas de pesquisa (RICHARDS, 1992, p.284-286).
37

A grande maioria das instituições de ensino de Biblioteconomia e Ciência da


Informação, na Rússia, continuou em atividade após 1991. Em pesquisas realizadas em
institutos de ensino e universidades de cidades russas como São Petersburgo, Vladivostok
e Khabarovsk (RICHARDSON JR., 1998; 2003; 2006), foi percebido que esses institutos
conseguiram de alguma forma obter alguns benefícios advindos de uma realidade mais
democrática e menos centralizadora no país. Entretanto, ainda segundo essas pesquisas,
os institutos ainda sofrem com a tumultuada transição para o capitalismo na Rússia e a
problemas como, por exemplo, baixa taxa de natalidade, situação econômica e política
instável, problemática inserção dessas universidades numa nova realidade tecnológica e
diminuição do controle e patrocínio do estado para com esses órgãos de ensino.
Um dos principais canais nos quais os profissionais formados discutiram questões
referentes à Ciência da Informação no país e os teóricos russos da área apresentaram suas
propostas e idéias referentes à informação científica e social, foi o periódico Nauchno-
Tekhnicheskaya Informatsiya, atualmente em atividade na Rússia.
Sua publicação ocorreu em 1961 como uma revista de periodicidade mensal. Em
1967, o periódico foi dividido em duas partes: uma primeira denominada de Organização
e métodos para o trabalho de informação e uma segunda chamada de Processos e
sistemas de informação. Como já mencionado anteriormente, ambas as séries começaram
a ser publicadas também nos Estados Unidos, em língua inglesa, dando maior acesso
internacional a esse material. A primeira série desse periódico foi publicada como
Scientific and Technical Information Processing, a partir de 1974 e a segunda como
Automatic Documentation and Mathematical Linguistics, publicada desde 1967, ambas
pela Allerton Press, com regularidade bimestral. A partir de 1997, o conteúdo da revista
apareceria tanto em versão eletrônica, estando disponível gratuitamente na versão russa
(em cirílico), e em formato impresso. Da sua fundação até 1988, Mikhailov foi o editor-
chefe da revista, cargo atualmente ocupado por seu antigo colaborador, Gilyareviskyi.
Em relação a cursos oferecidos em âmbito internacional, apesar do intercâmbio
entre a URSS e estudantes de outros países, principalmente os de sua esfera de influência
existirem desde meados dos anos 1960, com cerca de 300 estudantes de países
comunistas recebendo cursos de informação científica entre 1963 e 1971 (RICHARDS,
1992, p.278), sua consolidação e expansão se daria com a implantação, em 1971, do
38

Instituto para a Qualificação de Profissionais da Informação (IPKIR). Estimativas


indicam que, entre 1971 a 1976, 853 estudantes de países como Bulgária, Hungria,
Polônia, Romênia, Mongólia e Etiópia teriam sido formados nesse curso (RICHARDS,
1998). O IPKIR chegou ainda a implantar ambiciosos projetos de ensino e publicação de
manuais para os países do bloco socialista, que ocorreram até meados da década de 1980
(RICHARDS, 1999, p.210).
A estrutura curricular do IPKIR, baseada em dados de 1977, era constituída das
seguintes disciplinas:
1. “Fundamentos teóricos da Ciência da Informação.
2. Atividades de organização da informação.
3. Origens da Informação.
4. Fontes e serviços de informação.
5. Classificação
6. Processamento da informação.
7. Automação.
8. Propaganda cientifica e técnica “(RICHARDS, 1992,
p.277).

O Instituto Krupskaya para a cultura de Leningrado, atualmente Academia de


Cultura de São Petersburgo, seria outro importante local para a formação de profissionais
da informação. Entre 1974 a 1991, o Instituto formou cerca de vinte e cinco alunos
estrangeiros em seu doutorado e, em 1991, havia formado cerca de dois mil alunos
estrangeiros graduados em Biblioteconomia (RICHARDS, 1999, p.210-211).
Com o fim da URSS, boa parte desses cursos de âmbito internacional ou foram
extintos ou, como no caso dos do IPKIR, diminuíram de forma drástica sua atuação.
Alguns institutos também encerraram seus cursos e convênios com estudantes e
universidades de outros países, no final da década de 1990 (RICHARDS, 1999).

4.6 Eventos técnicos e científicos em Informatika/ Ciência da Informação.

Não existe uma extensa bibliografia sobre congressos, eventos e conferências


ocorridos na antiga União Soviética e na Rússia. Muito do material que discute o assunto
apenas faz uma breve citação das conferências realizadas, sem uma análise mais
aprofundada e, com exceção das reuniões realizadas em conjunto com a FID, muito do
material não se encontra acessível. Entretanto, apesar dessas limitações, foram obtidos
39

alguns dados de eventos relacionados à Ciência da Informação no país e


internacionalmente, importantes para se ter uma idéia de como o campo de estudo
soviético discutiu e “interagiu” em relação a questões da Ciência da Informação/
Informatika.
Um dos primeiros eventos realizados na União Soviética ocorreu em 1924, com o
primeiro Congresso Nacional de Bibliotecas (RICHARDSON JR., 2000, p.110) e, em
1936, numa conferência que discutiu os problemas teóricos da Biblioteconomia e da
Bibliografia (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVISKYI, 1967, p.19). Após este
evento, praticamente não se encontram registros, pelo menos na bibliografia pesquisada,
de encontros ou reuniões de grande porte no país, até aproximadamente meados da
década de 1950. Em maio de 1957 é registrado um congresso realizado no VINITI, no
qual foi analisada a possibilidade e o desenvolvimento de máquinas e tecnologias que
acumulassem uma considerável quantidade de informação (MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVISKYI, 1967, p.20), e a participação de Mikhailov, representando o VINITI,
na conferência sobre informação científica realizada em Washington, Estados Unidos, em
novembro de 1958.
Nas décadas de 1960 e 1970, contudo, é identificado maior número de congressos
que trataram de aspectos referentes à informação científica e Ciência da Informação.
Dentre esses destaca-se uma série de conferências, realizadas entre 1961 a 1976, quando
foram discutidas as novas tecnologias de processamento e disseminação da informação
(MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVISKYI, 1967, p.22; 1977 p. 37-38) e outros
seminários que analisaram aspectos relacionados à informação científica e a Informatika/
Ciência da Informação na URSS, nesse período.
Em âmbito internacional foram realizados, no período de 1964 a 1979, encontros e
reuniões entre bibliotecários e profissionais da informação da URSS e dos países do
antigo bloco socialista, que contribuíram para a reorganização das bibliotecas e do
sistema de informação dos países comunistas do leste europeu (RICHARDS, 1999,
p.208).
Ainda nesse âmbito, três grandes congressos podem ser citados. O primeiro,
realizado em 1975 em Moscou e em Alma Alta (Cazaquistão), com países do bloco
chamado “Não-alinhados” da África, Ásia e América Latina, buscou mostrar as
40

vantagens do sistema de informação implantado na URSS e nos países comunistas, em


comparação ao utilizado pelos países capitalistas (RICHARDS, 1999, p.209). Essa
posição um tanto hostil seria mantida em 1983 no congresso realizado na então
Biblioteca Estatal Lênin, em Moscou, onde foram feitas severas criticas ao campo da
Biblioteconomia nos Estados Unidos, seja no âmbito teórico quanto no prático
(RICHARDS, 1999, p.212). Porém, em outubro de 1989, com o clima de distensão que
marcava os últimos anos da Guerra Fria, foi realizada em Moscou a Primeira (e última)
Conferência Leste-Oeste de Informação Científica, Técnica e On-line, com países tanto
do bloco soviético, quanto capitalistas (RICHARDS, 1992, p.276).
Entretanto, seria na FID que a Ciência da Informação russa conseguiu melhor
interagir com colegas ocidentais e onde pode realizar eventos e congressos que
produziram contribuições duradouras para a área. De 1958, quando o VINITI fez parte da
Federação até 1991, a URSS sempre teve importante papel e colaboração em diversos
eventos e conferências realizados na organização, chegando também a servir de sede para
alguns, além da constante participação de pesquisadores e teóricos soviéticos (entre eles
Mikhailov) nos congressos internacionais realizados pela FID a cada dois anos.
É no Comitê de Estudos sobre Pesquisa de Base Teórica da Informação, ou FID/RI,
que se percebe uma efetiva interação da Ciência da Informação soviética com o campo de
estudo norte-americano e da Europa ocidental. Esse Comitê teve como objetivo inicial e
principal, nos anos seguintes, de analisar e discutir questões teóricas da Ciência da
Informação / Informatika, aspectos relacionados à sua evolução epistemológica e à
relação interdisciplinar da Informatika com outras ciências e disciplinas (AFREMOV,
1981, p.17).
Instituído em 1965, com a coordenação de Mikhailov e inicialmente formado por
quinze pesquisadores soviéticos e treze de outros países (MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVISKYI, 1967, p.22), esse Comitê teve uma produção regular até
aproximadamente 1986, quando não são mais encontrados registros de publicações ou de
encontros do FID/RI, possivelmente devido à saúde debilitada de Mikhailov nessa época.
A produção originada da FID/RI é mostrada na tabela 2.
41

TABELA 2
Lista de publicações relacionadas ao FID/RI entre 1968-1985.

Título /número da publicação Ano em que foi publicado


Problemas teóricos da Informatika (FID 435) 1968/1969
Sistemas contemporâneos de informação (FID 478) 1971
As necessidades dos usuários de informação (FID 501) 1973
Ciência da Informação: escopo, objeto de pesquisa e problemas (FID 530) 1975
Sobre a eficiência das atividades de Informação cientifica (FID 527) 1976
Prognóstico do desenvolvimento das atividades de informação cientifica (FID 563) 1979
Novas tendências da Informatika e sua terminologia (FID 568) 1979
Critérios de qualidade dos sistemas e processos de informação (FID 591) 1981
Ciência da Informação e a nova tecnologia da informação (FID 628) 1984
Aspectos sociais da Informatika moderna (FID 649) 1985
Fonte: Afremov, 1981, p.18 e Biblioteca do Instituo Brasileiro de Informação em Ciência e
Tecnologia.

O FID/RI não seria somente um conceituado centro de estudo da Ciência da


Informação/Informatika, como foi também um importante local de encontro e trocas de
idéias entre pesquisadores de diferentes nacionalidades. Teóricos como Bertham
Brookes, Robert Fairthorne, Frederick Lancaster, Gernot Wersig, Douglas Foskett,
Michel Menou, Nicholas Belkin, entre outros, apresentaram suas idéias, conceitos e
propostas em alguns desses encontros ou em publicações promovidos por esse Comitê, o
que garantiu credibilidade e confiabilidade às reuniões e ao material publicado.
Após a dissolução da URSS, houve uma diminuição na participação russa em
eventos de Ciência da Informação, tanto em âmbito nacional como internacionalmente.
Entretanto, pesquisadores e teóricos russos continuam participando de diferentes eventos,
congressos e palestras de Ciência da Informação como, por exemplo, a ISSI
(International Society for Informetrics and Scientometrics) e a IFLA (International
Federation of Library Associations and Institutions), indicando que o campo de estudo da
informação na Rússia apesar de enfraquecido, mantém sua importância.
Em relação à Rússia, o país realizou e participou de congressos como, por exemplo, a
6º Conferencia Internacional da Sociedade da Informação realizada em Moscou, em
42

outubro de 2002; da Conferência de Serviços de Informação para as Ciências de Base e


Aplicadas e a Assembléia Geral do ICSTI (International Council for Scientific and
Technical Information), ambas realizadas no VINITI, em maio de 2005.
43

5. As idéias de Mikhailov e sua contribuição para a Ciência da Informação na


antiga URSS

Neste capítulo é estudada a produção intelectual de Mikhailov (e colaboradores),


analisando inicialmente a sua contribuição para a Ciência da Informação na antiga URSS.
Essa abordagem desdobra-se na analise da “produção teórica” de Mikhailov,
mostrando as idéias desenvolvidas pelo autor que ajudaram a construir a Ciência da
Informação como, por exemplo, os conceitos de informação científica, a disciplina
apresentada por Mikhailov e colaboradores pela nomenclatura Informatika e a
interdisciplinaridade desse campo de pesquisa.

5.1 Questões conceituais e teóricas de informação científica e Informatika /


Ciência da Informação.

Neste tópico são apresentadas as abordagens de Mikhailov e colaboradores sobre


aspectos referentes à nomenclatura Informatika e à informação científica, que diferem das
análises de autores anglo-saxões, o que será explicitado posteriormente. O estudo desses
conceitos, quando possível, está relacionado à emergência e ao desenvolvimento da
Ciência da Informação no período em que essas idéias foram desenvolvidas e publicadas
(décadas de 1950 a 1970).

5.1.1 Da Documentação à Ciência da Informação

Apesar de não ser unânime, existe um certo consenso em indicar a data de 1895,
com a criação do Instituto Internacional de Bibliografia, na Bélgica, como um dos marcos
de emergência da Ciência da Informação (PINHEIRO, 2005). Entre essa data até
aproximadamente 1940, podemos indicar uma fase na qual era adotado mais o termo
Documentação, que começava a tomar forma, marcada pela visão do advogado belga
Paul Otlet e, posteriormente, da documentalista francesa Suzane Briet, na Europa, e em
44

iniciativas de institutos como o ADI (American Documentation Institute), nos Estados


Unidos.
Na concepção européia, o termo Documentação consistia na análise e organização
de diferentes tipos de documentos relacionados às bibliotecas, arquivos e museus e em
“(...) toda a gama de produtos de informação que surgem e se expandem com a revolução
industrial: artigos e relatórios científicos e técnicos, desenhos industriais, patentes,
protótipos, cartões-postais, fotografias” (PEREIRA, 2000, p viii).
Nos Estados Unidos, o conceito foi relacionado diretamente a suportes e meios de
armazenamento e reprodução de documentos, como a fotografia e o microfilme, que
começavam a ser utilizados em larga escala no país, a partir de década de 1930 (SHERA,
CLEVELAND, 1977, p.252-253).
Entre 1945 e 1961 a Ciência da Informação começava a ser esboçada, com o
aparecimento de novas idéias e teorias como, por exemplo, a Cibernética, a Recuperação
da Informação e a Teoria da Informação, formuladas logo após o final da segunda guerra
mundial, e da inclusão do termo informação científica na nomenclatura desse ainda
embrionário campo de estudo.
Em relação e essas novas teorias, é citado o artigo de Vannevar Bush “As We
May Think”, publicado em 1945 e as obras “Cybernetics: Or the Control and
Communication in the Animal and the Machine” (1948), de Norbert Wiener e “A
Mathematical Theory of Communication” (1949), de Claude Shannon e Warren Weaver,
como importantes contribuições, mesmo que de forma indireta, para o desenvolvimento
teórico da Ciência da Informação (PINHEIRO, 2002, p.73). Muitos dos conceitos
utilizados por esses autores seriam aproveitados posteriormente, inclusive na obra de
Mikhailov.
Em relação à Informação científica, seu conceito foi discutido e analisado em
congressos, em especial na reunião de 1948, com cerca de 340 participantes, na Royal
Society de Londres e na conferência sobre informação científica ocorrida em Washington
em 1958, e no artigo de Mikhailov “Finalidades y problemas de la información
científica”, publicado em 1959 (PINHEIRO, 2005 ; FREIRE, 2006, p.11; BARRETO,
2008).
45

Seria em outubro de 1961 e em abril de 1962, quando foram realizadas as


conferências do Georgia Institue of Technology, nos Estados Unidos, que a Ciência da
Informação, segundo Pinheiro (2005), entrava numa “fase conceitual e de
desenvolvimento interdisciplinar”, ou seja, de definição de seu campo teórico e de
reconhecimento de seu caráter interdisciplinar. Nessas Conferências surgiu a primeira
definição diretamente relacionada à Ciência da Informação:
“Ciência que investiga as propriedades e o
comportamento da informação, as forças que governam o fluxo
de informação e os meios de processamento da informação para
um eficiente acesso e utilização. Esse processo inclui a origem,
disseminação, coleção, organização, armazenamento,
recuperação, interpretação e o uso da informação
(CONFERENCES ON TRAINING SCIENCE INFORMATION
SPECIALISTS, 1962, apud SHERA, CLEVELAND, 1977,
p.265)”.

Essa definição praticamente é a mesma do artigo de Robert Taylor, “Professional


aspects of Information Science and Technology”, publicado em 1966 no ARIST, ao qual
se refere Harold Borko, reproduzindo-o em “Information Science: What is It?”, de 1968.
Pinheiro (2005, p.18; 2006b, p.115-116) chama a atenção para este fato e acrescenta a
informação de que Taylor esteve presente às reuniões do Georgia Tech, o que pode levar
à dedução de que seja ele o autor dessa definição primeira.
Nesse período aparecem diferentes nomenclaturas para a área, como Ciência da
Biblioteca e da Informação, Ciência e Engenharia da Informação e Ciência e Tecnologia
da Informação (PINHEIRO, 2002, p.61; Para um levantamento e análise das
terminologias utilizadas ou relacionadas à Ciência da Informação e da dificuldade da área
em definir seu campo de pesquisa e estudo, ver os trabalhos de Wellisch, 1972, que
mostra simpatia pela utilização do termo Informática para a área, e Schrader,1984).
Na edição de dezembro de 1966, o periódico soviético Nauchno-Tekhnicheskaya
Informatsiya publicou um artigo de autoria de Mikhailov, Chernyi e Gilyareviskyi,
intitulado “Informatika: um novo nome para a teoria da informação cientifica”. Nesse
artigo, provavelmente o primeiro trabalho produzido a partir de resultados advindos do
Comitê de Estudos sobre Pesquisa de Base Teórica da Informação, ou FID/RI, instituído
no ano anterior, os autores apontavam o surgimento de uma nova disciplina, denominada
Informatika que “(…) estuda a estrutura e propriedades da informação cientifica, bem
46

como as regularidades das atividades de informação cientifica, sua teoria, história,


métodos e organização” (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, 1967).
Com a Informatika, surgia mais uma definição e interpretação relacionada a então
emergente área da Ciência da Informação, daí a decisão de acoplar à terminologia
soviética também a Ciência da Informação, seu termo correspondente anglo-saxão.
Assim, tanto essa disciplina, uma abordagem soviética acerca do que seria a Ciência da
Informação, quanto o conceito informação científica (o principal objeto de estudo da
área, na visão dos autores) foram a principal contribuição teórica de Mikhailov e
colaboradores para a área, mesmo que, em certo aspecto, esses conceitos tenham também
adicionado maior “confusão” terminológica na Ciência da Informação.

5.1.2 Informação científica

Para podermos entender qual foi o principal conceito e estrutura que norteou a
Informatika / Ciência da Informação, é necessário analisar primeiramente seu principal
objeto de estudo, a informação científica. Essa análise é necessária por duas razões. A
primeira é porque esse conceito foi utilizado anos antes da construção da disciplina
Informatika, chegando a ser proposta, em 1963, uma disciplina denominada “Informação
Científica” para o estudo da área, o que posteriormente foi rejeitado pelo próprio
Mikhailov, mas que serviria de base para o desenvolvimento do conceito Informatika,
anos mais tarde (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1968] 1973). A segunda
razão relaciona-se à importância desse objeto de estudo para a produção científica de
Mikhailov e colaboradores, recebendo considerável atenção em seus artigos, livros e
apresentações em congressos e conferências.
A primeira utilização desse termo pode ser datada de 1959, quando o periódico
Boletín de la Unesco para las Bibliotecas publicou o trabalho de Mikhailov, “Finalidades
y problemas de la información científica”. Esse artigo tratava mais especificamente dos
serviços realizados pelo VINITI, sem uma análise aprofundada do conceito informação
científica, porém, indicando em algumas partes a necessidade de um sistema centralizado
47

de organização da informação, o que pode ser exemplificado por sua afirmativa no inicio
desse trabalho:

“Em nossa época só é possível manter um ritmo


acelerado de desenvolvimento cientifico e técnico mediante uma
boa organização da informação cientifica. (...) Dado o nível atual
de desenvolvimento da ciência (...) é evidente que muitas
questões cientificas e técnicas poderiam ser resolvidas com
maior rapidez se existisse uma informação ampla e sistemática
sobre todos os campos de saber” (MIKHAILOV, 1959, p.267).

Entre 1960 a 1965, Mikhailov trabalhou em diferentes artigos e em dois livros: “A


Informação Científica na Engenharia Elétrica”, escrito em conjunto com B. M. Tareev,
publicado em 1961, e “Fundamentos da Informação Científica”, de autoria conjunta com
Chernyi e Gilyarevskyi, publicado em 1965 e no qual esse conceito é descrito como
“informação lógica obtida no processo de conhecimento científico (ou seja, o objeto da
atividade de informação científica)” (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI,
[1968] 1973, p.53). Entretanto, os autores consideram a Informação científica não
somente como um objeto de estudo, relacionado à produção científica, mas também uma
espécie de disciplina, o que acabou recebendo consideráveis criticas, com as quais
Mikhailov e colaboradores concordaram, buscando então uma nova nomenclatura para a
área (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1968] 1973).
A partir de 1966, até aproximadamente 1971, informação científica foi
considerada uma subárea de estudo ou campo cientifico, e depois passou a ser
reconhecida como objeto de pesquisa, daí ser delineada a sua estrutura e função.
Mikhailov e colaboradores enfatizaram, primeiramente, que o surgimento desse
conceito (e da disciplina Informatika) veio da acumulação, ou do crescimento
exponencial da literatura científica e técnica produzida e publicada, causando uma
espécie de “crise” ou “explosão” da informação. Em conseqüência, tornou-se necessária
uma atividade que permitisse eficiente armazenamento, organização e recuperação desse
tipo de informação para apoio ao cientista e pesquisador (MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVSKYI, [1968] 1973, p. 43; 1969).
Essa preocupação com o crescimento vertiginoso da produção científica seria uma
constante na literatura de Mikhailov (como autor único ou com colaboradores) nas
48

décadas seguintes identificando, a partir daí, três características que seriam importantes
para o desenvolvimento da informação científica e suas respectivas atividades:

• “Variação do crescimento do número de


usuários da informação.
• Crescimento do volume de documentos de
caráter científico.
• Desenvolvimento de tecnologias para o
processamento e transmissão da informação
“(MIKHAILOV, 1985, p.2).

A partir dessa abordagem, a informação científica foi definida como:


“Informação lógica obtida durante o processo de
conhecimento, o qual reflete adequadamente as leis do mundo
objetivo e se utiliza na prática histórico-social” (MIKHAILOV,
1967 a, p.239-240).

Inicialmente, os autores apresentaram quatro características que identificavam o


conceito de informação científica: objeto ou tipo de informação obtido durante um
processo de leis que regem a “realidade objetiva”, isto é, de atividades humanas
destinadas, de alguma forma, a transformar a natureza e a sociedade; informação que é
processada e generalizada pelo pensamento lógico abstrato, diferenciando a informação
científica de dados obtidos aleatoriamente pelo homem, no processo de percepção
sensorial; informação que reflete adequadamente as leis da “realidade objetiva”,
determinando, assim, o desenvolvimento científico obtido e, por ultimo, informação que
é aplicada nas práticas históricas e sociais evitando, assim, que outros tipos de
informação, como senso comum, ficção científica ou de outros conhecimentos
pseudocientíficos sejam classificados como informação científica (MIKHAILOV, 1967a,
p.240; MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1968] 1973, ps. 56-57).
Os autores apresentam também três tarefas fundamentais referentes a esse tipo de
informação, sendo as duas primeiras realizadas de forma eficiente:

1. “Re-coleta exaustiva e processamento analítico sintético da


informação documental, a fim de prover rapidamente, ao
conhecimento dos pesquisadores, os novos avanços técnicos
e científicos.
2. Armazenamento prolongado da informação documental,
utilizando sistemas que permitam realizar uma busca rápida,
exaustiva e multifacetada dos dados solicitados.
49

3. Processamento da informação por meio de sistema lógico


informativo, com o objetivo de obter uma nova informação,
por exemplo, a base de “analogias químicas” registradas na
memória de uma maquina determinando a possibilidade de
síntese dos compostos químicos ainda não obtidos
“(MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1968]
1973, p. 44).

Outra característica enfatizada pelos autores é a diferença conceitual entre o termo


informação científica e a classificação pura de informação, o que foi evitado na
concepção soviética de Ciência da informação/ Informatika. Essa distinção fica
evidenciada na definição dos autores para o objeto informação:

“São processos, métodos e leis relativos ao registro,


processamento sintético-analítico, armazenamento, recuperação
e disseminação da informação científica, mas não a informação
científica tal qual atributo de uma respectiva ciência ou
disciplina (MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVSKYI,1969)”.

Ainda sobre esse aspecto, Mikhailov apontou as várias denominações que


poderiam ser atribuídas ao conceito informação no qual
“(...) o termo é usado denotando o controle de sinais em
aparelhos automáticos, o código genético dos cromossomos,
sinais circulando em células cerebrais e, finalmente,
conhecimento disseminado na forma de artigos textuais ou
armazenados em banco de dados computadorizados”
(MIKHAILOV, 1983, p.14).

Essa diferenciação pode ser explicada por três motivos. O primeiro é o interesse
de Mikhailov em “especificar” o conteúdo e o tipo de informação estudado pela área,
evitando que qualquer outro tipo de informação não relacionada à científica seja incluído
nesse tipo de estudo e abordagem. Essa preocupação renderia posteriormente críticas de
outros autores, que afirmavam ter a teoria de Mikhailov caráter “restritivo”, apresentando
uma área de caráter social, mas com um escopo de estudo mais voltado ao trabalho
científico e de pesquisa (ROBERTS, 1976).
O segundo motivo é a vaga interpretação do termo informação (svedeniye em
russo) no vocabulário russo. Segundo Gilyarevskyi (2007, p. 41-43), o termo foi
introduzido na Rússia a partir da década de 1920, relacionado a noticias e, a partir da
50

década de 1950, utilizado indiretamente em conceitos ligados à Cibernética e, após a


década de 1970, passou por definições e concepções divergentes, confusas ou que não se
relacionam totalmente com o campo de estudo russo da Ciência da Informação.
O terceiro e último é referente à própria definição informação científica. Pinheiro
(1997) afirma que o conceito apresenta diferenças entre a abordagem anglo-saxônica e
soviética. Na URSS, diferentemente dos EUA, o termo ciência tem abordagem mais
ampla e não se limita à ciência propriamente dita, alcança aspectos culturais, portanto,
informação científica se relacionava também a características culturais e sociais, e não
somente a aspectos científicos ou tecnológicos, comuns à definição norte-americana ou a
de alguns países europeus.
Seria em 1975, quando foram publicados os trabalhos do congresso promovido
pelo FID/RI, que discutiu as características desse tipo de informação, que Mikhailov,
Chernyi e Gilyarevskyi identificaram quais estruturas, características e propriedades
faziam parte da informação científica 11.
Baseando-se na obra do pesquisador soviético V. S. siforov, os autores
distinguiram quatro classes e subdivisões hierárquicas, das quais a informação científica é
constituída:
1) Informação sobre fatos científicos (classe A);
2) Informação sobre hipóteses científicas, conceitos e teorias
que elucidam e combinam a totalidade dos fatos científicos e
interação entre eles (classe B);
3) Informação que combina a totalidade dos fatos científicos,
hipóteses, conceitos, teorias e leis que formam o fundamento de
uma determinada ciência ou campo de conhecimento (classe C);
4) Informação que reflete e forma uma abordagem comum do
conhecimento e transformação do mundo que nos cerca (classe
D). (SIFOROV apud MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVSKYI, [1975] 1980, p.73).

Nesse trabalho, segundo os autores, a informação cientifica apresenta 12


propriedades principais:
1. Inseparabilidade da Informação científica de seu suporte físico: Apesar de ter
natureza não-material, a informação cientifica não existe sem algum tipo de
revestimento material e nem pode ser separada de seu suporte físico. Utilizando o

11
Esses conceitos também foram reproduzidos, praticamente ipsis litteris, no livro Scientific
Communication and Informatics, publicado em inglês, em 1984, paginas 72 a 83.
51

conceito marxista-leninista de reflexo, significa que esse tipo de informação não


existe sem um reflexo (como o de um espelho) (MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVSKYI, [1975] 1980, ps. 75-76).
2. Não-aditividade, não-comutatividade e não-associatividade da informação
científica: significa que esse tipo de informação, além de ser a soma total dos
elementos de informação científica (por exemplo, palavras), que formam
determinada mensagem, esses mesmos elementos não podem ser organizados de
forma aleatória e nem grupados em combinações diferentes sem distorcer, de
alguma forma, o conteúdo da mensagem (MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVSKYI, [1975] 1980, p.76).
3. Valor da informação científica: Essa característica está relacionada
especificamente ao comportamento do receptor quando recebe uma determinada
informação científica. Quanto mais essa informação for incluída na relação entre
esse receptor e o canal onde essa informação foi transmitida, maior será seu
valor. Os autores afirmam também que o conceito de valor é atribuído somente
para a informação usada para fins de controle (como, por exemplo, de caráter
governamental e administrativo) e que somente tem existência para com os seres
vivos, tendo os seres humanos a capacidade de selecionar a informação recebida
(MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1975] 1980, p.76-77).
4. Natureza social da informação científica: ressalta que a informação científica é
uma atividade e um tipo de informação que é percebido pela sociedade humana
como um todo (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1975] 1980, p.
77-78).
5. Natureza semântica da informação científica: indica o caráter conceitual da
informação científica, na qual os conceitos são os que compõem “o significado
de palavras e generalizam as características dos objetos e fenômenos”, pelo ponto
de vista do seu conteúdo. Os autores ressaltam, ainda, que “qualquer informação
científica é semântica, mas nem toda a informação semântica é científica”
(MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1975] 1980, p.78-79).A
característica “semântica” da informação científica ou até mesmo a tentativa de
se medir e classificar ”informação semântica” recebeu considerável atenção de
52

Mikhailov e colaboradores, em diferentes trabalhos. Em uma das primeiras


abordagens dessa característica, os autores afirmam que a geração, acumulação e
transmissão desse tipo de informação são essenciais para o desenvolvimento
científico, técnico e cultural da humanidade, portanto, relacionando diretamente o
desenvolvimento de novos meios de divulgação e armazenamento da informação,
do meio oral para outros tipos de comunicação, com o progresso humano e da
sociedade (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI [1968] 1973, p.66-67).
Posteriormente, os autores buscaram estabelecer um valor para a informação
científica, a partir de conceitos de informação semântica de autores como R.
Carnap e Bar-Hillel e das tentativas do teórico Yuri Shreider em criar uma teoria
semântica da informação (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1976]
1984, p. 83-88).
6. Natureza lingüística da informação científica: significa que a informação
científica é lingüística por natureza, pois só consegue ser materializada a partir do
resultado de um pensamento universalizado e abstrato, representado por um
conjunto de símbolos que servem como meio de expressão ou comunicação, ou
seja, pela linguagem, podendo ser registrada em diferentes suportes físicos para
sua posterior transmissão. (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI,
[1975] 1980, p. 79-80).
7. Independência da informação científica da linguagem e do suporte físico: a
informação científica não é afetada com a utilização de diferentes suportes físicos
para seu armazenamento e nem com a mudança da língua na qual está sendo
expressa e onde ocorrem mudanças, mas não a ponto de modificar seu conteúdo
(MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1975] 1980, p.80).
8. Não-continuidade da informação científica: traduz que uma informação cientifica
pode ser apresentada e disseminada de diferentes maneiras, não seguindo um
padrão “contínuo”. Por exemplo, uma determinada informação científica pode ser
apresentada tanto em um artigo como em uma palestra ou apresentação em
congresso diferenciando, assim, o meio, o suporte e a forma no qual essa
informação foi transmitida. (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI,
[1975] 1980, p.81-82).
53

9. Cumulatividade da informação científica: propriedade relacionada à utilização,


organização e avaliação, pelos cientistas e pesquisadores, da informação
científica utilizada anteriormente para maior acessibilidade a futuras gerações de
pesquisadores. Segundo os autores, essa propriedade é mais nítida nas ciências
exatas e naturais (por exemplo, Matemática, Física e Química) (MIKHAILOV,
CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1975] 1980, p.82-83).
10. Independência da informação científica de seus criadores: a informação
cientifica, depois de gerada se torna independente de quem a criou. Isso significa
que uma determinada teoria ou descoberta feita por um cientista ou pesquisador,
mesmo não perdendo o papel dado a ele pelo seu “pioneirismo”, é discutida e
analisada posteriormente sem enfatizar o caráter “autoral” da descoberta (como é
feita numa obra de arte, por exemplo) (MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVSKYI, [1975] 1980, p.84-85).
11. Envelhecimento12 da informação científica: significa que determinada
informação cientifica atinge um envelhecimento completo, ou total
obsolescência, quando novas informações científicas mostram que a mesma ou
está errada ou é incapaz de ser utilizada adequadamente para refletir os
fenômenos do mundo material, da sociedade e de determinado pensamento. Em
relação ao Envelhecimento “parcial” desse tipo de informação, ou autores
apontam certa dificuldade em estipular, com precisão, onde e de que forma a
mesma ocorre, dependendo muito da informação produzida e da nova informação
que irá acarretar essa obsolescência (MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVSKYI, [1975]1980).
12. Dispersão da informação científica: traduz que a informação (seja sob forma de
uma hipótese, teoria, noções etc.) agrupada e publicada originalmente por seu
criador adquire uma nova “vida” ou função na obra de outros autores, sendo
citada, agrupada ou analisada de diferentes maneiras por diferentes autores e
cientistas. (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1975] 1980, p.86-
87).

12
Ou obsolescência (em MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1976] 1984, p.80).
54

Essas propriedades foram identificadas também segundo um esquema hierárquico


proposto pelos autores, nos seguintes tipos de informação: informação social e não-
social, semântica e não-semântica e científica e não científica, conforme ilustrados na
figura 1.

FIGURA 1:
IDENTIFICAÇÃO HIERÁRQUICA DE TIPOS DE INFORMAÇÃO
CIENTÍFICA.

Fonte: MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1975] 1980, p.75.

A partir desse esquema, os autores identificaram as propriedades de cada tipo de


informação, devidamente assinaladas na figura 2.
55

FIGURA 2:
INDENTIFICAÇÃO DAS PROPRIEDADES E TIPOS DE INFORMAÇÃO
CIENTÍFICA.

Fonte: MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1975] 1980. p. 88.

Alem dessas propriedades, os autores enfatizaram dois outros valores ou funções


relacionados à informação científica.
O primeiro valor seria o “econômico”, que poderia ser atribuído a esse tipo de
informação e à atividade de informação científica. Sobre essa questão, Mikahilov, em
trabalho de 1972 destaca que num primeiro momento, há facilidade em se calcular
economicamente os custos e os ganhos financeiros advindos de atividades de informação
científica, porém, não seus benefícios e vantagens para um determinado organismo ou
empresa que investe ou que se utiliza desse serviço (MIKHAILOV, 1972 a, p.9).
Mikhailov afirma, ainda, que esse tipo de atividade deve ser discutido de forma muito
mais ampla do que simplesmente do custo ou do lucro advindo, devendo ser analisado
também fatores como, por exemplo, o rápido suporte dado ao especialista para uma idéia
ou pesquisa que precisa rapidamente dessa informação permitindo, assim, um suporte
realmente qualitativo para o campo cientifico e técnico (MIKHAILOV, 1972 a, p.9).
56

Ao analisar de forma mais aprofundada essa questão, Mikhailov e colaboradores


procuraram diferenciar a informação científica de um bem econômico qualquer,
reconhecendo que alguns tipos de informação científica não podem ter seu valor
econômico, devido a sua utilização para a sociedade e a ciência, e que sua estrutura não
permite sua “possessão”, isto é, não pode ser patenteada, comprada ou vendida, mesmo
que as atividades, a forma em que a mesma é publicada ou disponibilizada (livros,
periódicos, artigos, etc...) possam ter seu valor econômico medido13 (MIKHAILOV,
CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1976] 1984, ps. 88-93).
A segunda, em relação ao caráter social da informação científica e de sua
disseminação, Mikhailov, em trabalho publicado em 1984, assinala que o acesso à
informação para a sociedade deve ser colocado como a principal norma ética da área.
Esse autor afirma, ainda, que a partir de eficientes serviços de informação cientifica, os
cidadãos e principalmente cientistas e pesquisadores, devem ter rápido acesso à
informação da qual necessitam em determinada pesquisa ou estudo (MIKHAILOV, 1984,
p.2).
Ainda em relação a essa característica social da informação científica e da
Informatika/ Ciência da Informação, devem ser citados os trabalhos da professora Isa
Freire, que em diferentes ocasiões (FREIRE, 2001; 2003; 2004) apresentou e evidenciou
essa propriedade nas idéias de Mikhailov e colaboradores. Segundo a autora, os
pensamentos dos autores representavam a expectativa de uma atuação social mais ampla
da Ciência da Informação, onde os pesquisadores da área podiam “vislumbrar os
problemas da informação em nova perspectiva, orientando seu interesse teórico para além
dos limites das atividades do campo científico” e esses profissionais poderiam ser
apresentados como “(...) mediadores no processo de comunicação social, em especial nas
situações de comunicação do conhecimento de natureza técnica e científica para os
diversos grupos da sociedade” (FREIRE, 2003, p.57).
Por outro lado, a autora, de certa forma repetindo as já citadas críticas de Roberts
(1976), afirma que “apesar da visão social, Mikhailov e colaboradores restringiam a

13
Nessa parte, a análise de Mikhailov e colaboradores baseia-se em concepções do marxismo-leninismo e a
realidade soviética da época, onde existia oposição a uma concepção de lucro acerca da atividade científica.
57

prática da ciência da informação ao campo das atividades científicas e técnicas, excluindo


da sua perspectiva a explicitação de outros grupos sociais” (FREIRE, 2004).
Em outro trabalho, Mikhailov e colaboradores analisam a percepção e a recepção da
informação científica produzida e divulgada, pela sociedade e cientistas. Segundo os
autores, para a sociedade, a descoberta de uma nova teoria científica, se não chega a ser
desprezada, também não recebe a atenção ou a importância que a mesma deveria obter.
Isso acontece, segundo os autores, possivelmente pelo desconhecimento das pessoas em
relação a essa teoria ou também por não conseguirem assimilar de imediato as complexas
fórmulas ou idéias que essas teorias muitas vezes apresentam (MIKHAILOV,
CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1976] 1984, ps.94-95).
Os autores destacam, ainda, que as descobertas e informações científicas muitas vezes
se encontram em forma “prematura”, e nesse estágio a mesma não recebe apoio e
atenção, nem da sociedade nem da classe cientifica, que às vezes, por diferentes motivos,
pode recebê-las, até mesmo com certa hostilidade. Isso não significa que a teoria ou o
conceito proposto esteja errado, pelo contrário. Porém, segundo os autores, na realidade
na qual as idéias foram propostas, muitas vezes as mesmas não chegam a ser assimiladas
de forma correta (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1976] 1984, ps101-
102).
Mikhailov e colaboradores citaram diferentes exemplos para corroborar essa opinião,
como algumas importantes descobertas que somente tiveram seu reconhecimento e real
utilização décadas depois de serem apresentadas por seus autores (MIKHAILOV,
CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1976] 1984, ps.94-101).
Ao discutir o aspecto econômico e da receptividade da sociedade para com a
informação cientifica, os autores buscam (indiretamente) justificar sua abordagem sobre
o caráter “social” da informação cientifica em sua teoria. O foco de sua atenção é a sua
assimilação e acessibilidade pelos pesquisadores e cientistas, que podem codificar e
apresentar essas informações para a sociedade.
A partir dessa abordagem do caráter social da informação científica, serão analisadas
obras ou correntes de pensamento que influenciaram ou nortearam a teoria de Mikhailov
sobre esse tipo de informação.
58

Em um primeiro momento, estudando os trabalhos elaborados pelo autor entre 1958


até 1986, foi percebido que Mikhailov estudou conceitos e idéias de pesquisadores norte-
americanos, europeus ou de outros países ocidentais relacionando, assim, a teoria
desenvolvida pela Ciência da Informação na União Soviética com a que era,
paralelamente, formulada no ocidente. Mikhailov aborda, por exemplo, refutando ou
corroborando, vários conceitos apresentados por autores como Derek Solla Price ou Brian
Vickery, constantemente citados e analisados em sua obra, além de outros autores
ocidentais. Esse procedimento, natural entre cientistas, embora mais difícil naquela fase,
entre soviéticos e anglo-saxões, também é percebido nas obras e trabalhos de outros
autores soviéticos em periódicos ou em artigos publicados pela FID. Essa constatação
reflete que no campo da Ciência da informação/ Informatika na URSS foram estudados
trabalhos e obras de outros países fora do bloco comunista e, também, em algumas
ocasiões, chegou a haver interação com pesquisadores desses outros campos de pesquisa
e países.
Mikhailov e seus colaboradores enfocaram, de forma extensiva, em alguns casos,
conceitos e teorias desenvolvidos por autores como Karl Marx, Friedrich Engels e Lênin,
entre outros da corrente de pensamento Marxista-leninista, a principal no país até o inicio
dos anos 199014. Mesmo que em certos trabalhos, as idéias desses teóricos não
chegassem a ser relacionadas, de forma satisfatória, aos conceitos desenvolvidos por
Mikhailov, essas fontes são utilizadas em várias ocasiões e em diferentes textos do autor,
tentando relacionar a Informatika a uma visão “social” da área ou apenas tentando
adaptar a Ciência da Informação/ Informatika à realidade em que a Rússia vivia naquele
período.
Outra importante influência que apareceu na obra de Mikhailov e de outros autores
soviéticos, nas décadas de 1950 a 1970, foi a do físico inglês John Bernal. Em seu livro
“O estudo social da ciência”, publicado originalmente em 1939, apareceu um dos
primeiros conceitos de “sociologia da ciência”, vertente que “(...) trata de examinar o
14
Em relação a Lênin, Brookes (1984, p.221) afirma que o líder soviético, por diferentes razões, manteve-
se atento às teorias da Documentação, relacionadas aos teóricos Paul Otlet e Henry La Fountaine, bem
como a conceitos desenvolvidos pelo Instituto Internacional de Bibliografia- IIB, na Bélgica e na Sociedade
Real inglesa, o que permitiu a ele criar e desenvolver um sistema de informação cientifica na Rússia, nos
primeiros anos após 1917. Esse fato explica parcialmente o motivo pelo qual Lênin possuía textos que
discutem conceitos relacionados à documentação, bibliotecas e de análise, ainda primitiva, acerca do
conceito informação cientifica (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI [1976] 1984, p.247-260).
59

fenômeno científico como um fato social” (SCHWARTZMAN, 1984), que foi


consideravelmente estudada ou citada por Mikhailov e colaboradores em alguns de seus
trabalhos.

5.1.3 Informatika / Ciência da Informação

Nessa parte são discutidos aspectos relacionados à disciplina Informatika/ Ciência da


Informação, e apresentados e analisados os conceitos, propriedades e características desse
campo de pesquisa. São estudadas, ainda, a origem, evolução e utilização da
nomenclatura Informatika na Ciência da Informação.

5.1.3.1 Definição e características.

Em relação à disciplina ou campo de estudo Informatika/ Ciência da Informação,


proposta inicialmente em dezembro de 1966, a definição elaborada por Mikhailov e
colaboradores e que foi mantida em sua produção intelectual nas décadas seguintes,
consiste no seguinte :
“Disciplina científica que estuda a estrutura e as propriedades
(não especificamente o conteúdo) da informação científica,
assim como as leis que regem as atividades ligadas à informação
cientifica, sua teoria, história, metodologias e organização. O
objetivo da Informatika é a de desenvolver métodos e meios
eficientes de registro, processamento analítico sintético,
armazenamento, recuperação e disseminação da informação
científica (MIKHAILOV, 1967 a, p.241)”.

A emergência dessa área, segundo o autor (1967 a, p.239-240), se deveu


principalmente a três fatores, já citados anteriormente: a produção cada vez mais
crescente e vertiginosa da literatura científica publicada, necessitando assim de novas
atividades de organização e produção da informação científica; a necessidade do
surgimento de uma área que buscasse otimizar o processo de seleção, organização,
manutenção e acesso da informação científica e, por último, o aparecimento e utilização
de novas tecnologias de armazenamento e disseminação da informação científica.
60

A partir das reuniões e publicações relacionadas a FID/RI, Mikhailov, em conjunto


com outros pesquisadores, definiu e apresentou as áreas de pesquisa constituintes da
Informatika/ Ciência da Informação especificadas no prefácio da publicação FID 435,
referente aos “Problemas Teóricos da Informatika”, de 1969, e que continuaram sendo
estudados e analisados posteriormente:

"1. Informática e leis que governam o desenvolvimento da


ciência: continuidade e caráter internacional da ciência;
crescimento dos principais indicadores da ciência e efeitos de
suas leis no desenvolvimento das atividades de informação na
Informática;
2. Interação de Informática com outros campos do
conhecimento; lugar da Informática entre outras disciplinas cujos
métodos emprega; definição de áreas de assunto e métodos de
Informática;
3. Concepção geral de informação: conteúdo de conceitos de
"informação" e "informação científica", nos aspectos filosóficos,
matemáticos, cibernéticos e outros;
4. Terminologia de Informática: definição dos conceitos básicos
de Informática e sua expressão em diferentes linguagens naturais
e artificiais;
5. Teoria dos sistemas de recuperação da informação; estrutura,
funcionamento e principais aspectos de sistemas de recuperação
da informação; meios de avaliação da eficiência de buscas de
informação etc.;
6. Problemas lingüísticos de Informática: correlação de
linguagens e pensamento: tradução automática; resumo e
indexação automática; fundamentos teóricos de linguagens
artificiais e classificações;
7. Problemas psicológicos de informática: aspectos psicológicos
da atividade científica criativa, percepção de várias formas de
informação científica, problemas psicológicos envolvendo o
sistema homem/ máquina;
8. Estudos dos registros e necessidades de informação: princípios
e métodos de estudos dentro de requisitos de informação na
adequação à demanda de informação;
9. Eficiência nas atividades de informação: critérios e métodos
de sua avaliação: determinação crítica de várias abordagens e
definição de critérios;
10. Estudo dos meios automáticos de apresentação (registro) de
informação científica: classificação de formas existentes e
métodos de representação da informação: características dos
documentos em termos de seu valor internacional; análise de leis
que governam o desenvolvimento dos sistemas atuais de
publicações científicas.
11. Bases organizacionais de atividades de informação:
princípios básicos da construção de sistemas de informação
especializados, nacionais e regionais: aspectos de treinamento de
pessoal.
61

12. Papel dos meios técnicos de atividade de informação:


questões fundamentais de mecanização e automação.
(MIKHAILOV, 1969, p.3-6)15."

Além dessas características, Ortega (2004) identificou e separou quatro principais


áreas que, segundo Mikhailov e colaboradores, compõem a Informatika/ Ciência da
Informação: Informatika teórica, que estuda os sistemas abstratos de informação;
Informatika de gestão, relacionada à gestão de sistemas de informação; Informatika
científica, que investiga os sistemas de informação automatizados e a Informatika
bibliotecária, voltada aos sistemas de Informação bibliotecária.
Em meados da década de setenta, as principais características da área foram
identificadas pelos autores:

• “Informática é uma disciplina científica e não uma ciência


independente.
• Informática estuda a estrutura e as propriedades da
informação cientifica, mas não de qualquer informação, nem
mesmo informação semântica.
• Informática estuda todos os processos de comunicação
cientifica levados a efeitos tanto pelos canais formais (i.e.,
através da literatura cientifica), quanto pelos canais
informais (contatos pessoais entre cientistas e especialistas,
correspondência, permuta de “Preprints”, etc.).
• Informática pertence às disciplinas sociais ligadas com o
estudo do fenômeno e das leis peculiares à sociedade
humana. (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI,
[1975]1980, p. 72; [1976] 1984 p.365)”.

Em outra publicação editada pela FID/RI, a FID 563, de 1979, o autor sistematizou as
principais questões que norteavam a Informatika/ Ciência da Informação e,
paralelamente, a informação científica, a partir do final dos anos de 1970 e que, de certa
forma, mantiveram-se na primeira metade da década seguinte:

1. Aspectos sócio-psicológicos envolvendo a geração e o uso da


informação científica, incluindo o estudo das razões que
motivam a produção de artigos e livros e os critérios que devem
ser usados no desenvolvimento de publicações científicas;
2. O futuro do sistema de literatura científica, especialmente os
periódicos, incluindo o estudo de critérios e a revisão de
determinados mecanismos;

15
Foi utilizada, comparando com a obra original, a tradução feita por Pinheiro em sua tese de Doutorado
(1997, p. 220).
62

3. O problema da informação na ciência moderna;


4. O estudo de problemas da indexação automática, tradução e
do resumo de conteúdo sendo parte de uma problemática maior
da chamada “inteligência artificial”;
5. O problema de idioma e outras barreiras na ciência moderna e
em trabalhos ligados à informação científica;
6. Interação de órgãos de informação “Sci-tech” com as
bibliotecas;
7. Aspectos econômicos dos trabalhos ligados à informação
científica, especialmente aqueles que utilizam modernos modelos
de automação. (MIKHAILOV, 1979, p.8).

A partir dessas definições e questões propostas pelo autor e colaboradores, apesar das
diferenças já citadas em itens anteriores, são percebidas também algumas semelhanças
com o que estava sendo estudado pela Ciência da Informação nos Estados Unidos e na
Europa ocidental, sobre a organização, recuperação e disseminação da informação
produzida e registrada, e o caráter interdisciplinar desse campo científico.
Em meados de 1983, Mikhailov, em conjunto com Gilyarevskyi, apresentou um
trabalho utilizando tanto fontes vinculadas à antiga URSS, quanto da Alemanha Oriental
e dos Estados Unidos, onde identificou e apresentou as características que norteavam a
Informatika/ Ciência da Informação na primeira metade da década de 1980.
Nesse artigo, os autores enfatizaram que o desenvolvimento da área é e deve ser
vinculado principalmente ao estudo das estruturas e propriedades da Informação
científica como, por exemplo, sua complexidade, obsolescência, valor, utilização e outros
aspectos relacionados a fatores econômicos, sociais e psicológicos (MIKHAILOV,
GILYAREVSKYI, 1983). Características referentes à automação da informação e das
novas tecnologias de recuperação e organização da informação, apesar de muito
importantes para a área, não poderiam ser colocadas como a principal questão de estudo
para a Informatika/ Ciência da Informação, para que a mesma não perdesse o foco de sua
pesquisa e ficasse, de certa forma, presa somente à análise de aspectos tecnológicos
(MIKHAILOV, GILYAREVSKYI 1983. p.12-13).

5.1.3.2 Breve análise da nomenclatura Informatika e sua utilização.


63

Em relação à nomenclatura Informatika, proposta pelos autores e a forma com que a


mesma foi estudada na Ciência da informação na URSS, Estados Unidos, Europa
Ocidental e no Brasil, irá ser feita uma breve análise do histórico e do desenvolvimento
do termo. O conceito Informatika (Informática em português ou espanhol, Informatics em
inglês, Informatique em francês ou Informatik em alemão) sofreu uma espécie de
“duplicidade” teórica nas décadas de 1960 e 1970, onde diferentes conceitos e definições
englobavam um mesmo termo.
Uma das primeiras utilizações dessa nomenclatura ocorreu em 1957, pelo cientista
alemão Karl Steinbuch, no livro “Informática: processamento automático da informação”
no qual o conceito foi utilizado para designar ou definir uma área ligada à recuperação da
informação, a partir de meios ou aparelhos eletrônicos, área essa que viria a ser conhecida
posteriormente como Ciência da Computação16 (WIDROW, HARTESTEIN, HETCH-
NIELSEN, 2005).
Em 1962, uma segunda definição para o termo apareceu na França, sob a forma
Informatique, elaborada pelo pesquisador francês Philipe Dreyfus, que apresentou essa
nomenclatura como uma “moderna ciência relacionada ao processamento eletrônico da
informação” (BAUER, 1996). Nos Estados Unidos, nessa mesma época, Walter F. Bauer
que, com outros pesquisadores, criou uma empresa chamada Informatics Incorporated,
em 1962, em atividade até 1986, também sugeriu o termo para a análise das novas
tecnologias que produziam e recuperavam a informação (BUAER, 1996). As definições
de Steinbuch, Dreyfus e Bauer, referentes às áreas de matemática e de computação,
tiveram considerável influência e foram amplamente utilizadas em seus paises de origem,
nos Estados Unidos e em grande parte da Europa, onde a informática acabou sendo
diretamente relacionada com a computação ou a meios eletrônicos de recuperação da
informação (para um levantamento das utilizações desse termo, ver Fourman, 2002).
A definição de Mikhailov criou, durante a segunda metade da década de 1960 e
inicio dos anos 1970, uma certa “confusão” conceitual, onde o termo dividiu espaço tanto
com o conceito anglo-saxão “Ciência da Informação”, quanto com outras definições
relacionadas ao termo Informática existentes nesse período.

16
Outras informações sobre o autor podem ser encontradas em http://edoc.hu-berlin.de/e_rzm/15/biener-
klaus-1997-12-01/PDF/17.pdf
64

Segundo Mikhailov e colaboradores, a utilização desse termo foi baseada em uma


crítica feita pelo pesquisador russo Y. G. Dorfman, e publicado em um periódico
soviético em 1966, ao livro “Fundamentos da informação científica”, onde os autores
buscaram, então, uma nova denominação para esse campo científico. Foi decidido usar o
termo Informtatika (Informát[informação]+ika[automática ou automação]), baseado em
outras disciplinas que receberam classificação parecida nessa época, como a Cibernética,
Semiótica, Cosmonáutica, entre outras (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI,
[1968], 1973, p.54-55; MIKHAILOV, GILYAREVSKYI, 1983, p.3). Apesar de haver
registros de diferentes utilizações desse termo por outros autores soviéticos, na primeira
metade da década de 1960, também referentes a uma disciplina científica relacionada à
organização e recuperação da informação (CORDEIRO, 2004, p.66), foi à definição dada
por Mikhailov e colaboradores que acabou sendo utilizada na URSS, a partir de 1966.
Mikhailov, Chernyi e Gilyarevskyi discutiram essa questão de forma aprofundada em
pelo menos duas publicações (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1976]
1984; 1977). Nesses trabalhos, os autores buscam indicar a coerência da utilização do
termo Informatika para a Ciência da Informação e tentam mostrar as limitações que os
conceitos correlatos apresentavam, como Ciência da Informação e Informatologia.
Inicialmente, os autores buscam diferenciar a Informatika do conceito Documentação,
seja ela ligada às teorias de Paul Otlet ou à visão anglo-saxônica relacionada a novas
tecnologias de armazenamento da informação. Para eles, o termo Documentação (e
denominações co-relatas como “documentação científica”), apesar de ter influenciado o
surgimento e o desenvolvimento da Ciência da Informação, tinha certa limitação teórica e
prática, sendo, “muito específico e poli-semântico” (apud ORTEGA, 2007). Além disso,
é centralizado demasiadamente no documento, sendo que a informação científica
ultrapassa os limites do mesmo. Os autores enfatizaram também que o termo
“Documentação” e o campo de pesquisa referente à essa área, na antiga URSS, nunca
conseguiu efetivamente ser relacionado à Informatika/ Ciência da Informação no país
(MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1968] 1973, p.50-51; [1976] 1984
p.375-376).
Os autores também tentaram diferenciar a Informatika dos conceitos Ciência da
Informação (para os autores, muito amplo, por abranger outras informações além da
65

científica) e Informatologia, desenvolvidos em meados da década de 1960 e que, segundo


definição de Ortega (2007), baseada em artigo de P. Atherthon, consistia na “(...)
atividade e a pesquisa (dentro do processamento da informação) que combina os
procedimentos intuitivos e algoritmos quando são utilizados computadores para auxiliar o
17
intelecto humano” . Segundo Mikhailov e colaboradores, apesar desse conceito poder
ser usado na realidade soviética, preferiu-se a sua não utilização, pelo menos ipsi literis,
para assim evitar alguma confusão conceitual ou terminológica (MIKHAILOV,
CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1968] 1973, p.52-53; [1976] 1984 p.366-367).
Esses autores buscaram analisar as diferentes interpretações do termo Informatika
na União Soviética, Estados Unidos, Inglaterra, França, Polônia e Alemanha. Nesse
último país, o próprio termo alemão “informatik” sofreu duas interpretações
distintas,tanto do lado ocidental quanto do antigo lado oriental, onde o conceito Ciência
da Computação se confundiu com a definição soviética (MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVSKYI, [1976] 1984, p.375-378; 1977 p.42-43). Por fim, Mikhailov e
colaboradores indicam que o conceito soviético seria o mais completo por não tratar
somente de processos automatizados de produção e organização da informação,e sim de
todo o processo de criação, produção e organização da informação científica
(MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1976] 1984, p. 375-378).
Após um período de discussão sobre qual nomenclatura seria utilizada, o termo
Ciência da Informação foi o que acabou sendo adotado (de forma não unânime) pela área,
nos Estados Unidos e Europa ocidental, assimilando e não ignorando as idéias e a
produção feita na URSS e na Rússia, onde ambos os nomes (Informatika e Ciência da
informação) foram utilizados nas publicações e cursos da área. O próprio Mikhailov
evitou polemizar em demasia sobre essa questão. Ao perceber a preferência da utilização
do termo Ciência da Informação no ocidente, o autor reconheceu que tanto os termos
Informatika como Ciência da Informação poderiam co-existir sem maiores problemas
(MIKHAILOV, 1980).
17
O teórico chinês Zhang Yuexiao, em artigo publicado em 1988, fundamentado no trabalho de Ottens e
Debbons (1970), propôs uma definição diferenciada para o termo, indicando que a informatologia seria
uma “(...) meta-ciência de informação do conhecimento que está localizada no grau de informação do
conhecimento: é uma abstração, mais do que uma substância, e tem por base mais do que substituir
disciplinas relacionadas com as comunicações do conhecimento, tais como Informática, Educação,
Jornalismo, Biblioteconomia, Documentação, Arquivística, Museologia, Comunicação e assim por diante
(YUEXIAO, 1988, p.487)”.
66

No Brasil, entre aproximadamente 1968 e 1973, os conceitos Ciência da informação e


Informática se revezaram na classificação da área no país. Essa “indefinição” conceitual
pode ser visualizada no Seminário sobre Informática, promovido pelo então IBBD, em
novembro de 1968, e no Seminário sobre Documentação e Informática, promovido pelo
IBBD e pela Fundação Getúlio Vargas, em novembro de 1971, ambos ocorridos no Rio
de Janeiro. Nesses congressos, além de uma certa indefinição na utilização da
terminologia relacionada à Ciência da Informação, Documentação e Informática, foram
apresentados e utilizados tanto os conceitos propostos por Mikhailov, como os de
Dreyfus para classificar a Informática. Essa questão foi resumida por Gomes (1980, p.7),
ao afirmar que, no Brasil, nesse período, o termo Informática sofria uma ambigüidade
pois era “(...) tomado pelos bibliotecários e documentalistas com a acepção dos
soviéticos e pelos analistas, segundo os franceses”.
Essa questão começou a ser parcialmente resolvida em 1970, com a criação do
primeiro curso de mestrado em Ciência da Informação, instituído pelo IBBD, e em 1972,
no primeiro número do periódico Ciência da Informação, no artigo “Da Bibliografia a
ciência da informação: um histórico e uma posição”, escrito por Hagar Espanha Gomes e
Célia Ribeiro Zaher, no qual, apesar dos conceitos russos e franceses serem (e
continuarem sendo) utilizados pela Ciência da Informação no Brasil, preferiram o uso do
termo anglo-saxão para a definição da área no pais. Uma “última palavra” sobre essa
questão, indiretamente corroborando o que foi discutido no artigo de 1972, foi dada por
Hagar Espanha Gomes, na introdução da coletânea “Ciência da informação ou
Informática?”, publicada em 1980.

5.1.4 Inter-relação com outras disciplinas

Nesta parte são estudadas as definições e conceitos de Inter e


Transdisciplinaridade na sua origem, classificação, interpretação e análises desse
fenômeno, realizadas por Mikhailov e outros teóricos da Ciência da Informação e, por
ultimo, a identificação e especificação das disciplinas e de que forma se efetiva a relação
interdisciplinar entre a Informatika/ Ciência da Informação com outras áreas de
conhecimento, segundo a produção intelectual de Mikhailov e colaboradores.
67

5.1.4.1 Inter e transdisciplinaridade: origem e definições.

Atualmente, os termos multi, inter e transdisciplinaridade fazem parte do


vocabulário científico e tem seus conceitos mais ou menos definidos (apesar de ainda
distante de consolidação), pela necessidade do campo científico atual, imerso em projetos
cada vez mais complexos e diversificados, e de uma “(...) mobilização cada vez mais
intensa dos saberes convergindo em vista da ação” (JAPIASSU, 1976, p.44), mesmo que,
no campo prático, o próprio Japiassu admita que o “fenômeno interdisciplinar está longe
de ser evidente” (JAPIASSU, 1976), o que foi afirmado há 30 anos atrás.
Apesar de, aparentemente, esses conceitos sempre terem feito parte das
discussões epistemológicas e dos discursos de diferentes áreas e disciplinas, somente na
segunda metade do século XX é que o tema viria realmente fazer parte dos debates
científicos.
Braga (1999, p.9) afirma que um dos primeiros conceitos que podem ser
relacionados com a interdisciplinaridade foi elaborado em 1840, na obra do cientista
inglês William Whewell, que utilizou o termo “consiliente” que, segundo a autora,
significa um “salto conjunto do conhecimento entre e através das disciplinas, por meio da
ligação de fatos e teorias, para criar novas bases explanatórias” (BRAGA 1999 apud
PINHEIRO, 2006b, p.113). Pombo (2005, p.7) cita outros trabalhos importantes para o
desenvolvimento desse conceito, como, por exemplo, o livro “La Rebelion de las
Massas” (1929), de Ortega y Gasset, que continha fortes criticas sobre a excessiva
especialização do cientista e pesquisador, em alguns casos chegando à arrogância.
Entretanto, essa discussão só tomaria forma e seria amplamente estudada após
1945. Nesse período, segundo González de Gómez e Orrico (2006, p.16-17), existiu o
interesse em incorporar, nas esferas publica, política e da sociedade civil as descobertas
advindas das pesquisas (basicamente) relacionadas ao campo bélico, como, por exemplo,
o projeto da bomba atômica ou à chamada “corrida espacial” ocorrida nos anos 1950 e
1960, onde essas pesquisas pareciam seguir a uma “demanda não disciplinar de pesquisa
estratégica”, ou seja, sem uma excessiva separação entre pesquisadores de diferentes
áreas.
68

Cabe destacar também a influente obra do teórico C. P. Snow, “Two cultures”


(1959), que, segundo Pombo (2005, p.8), fez uma interessante analise não só da excessiva
especialização sofrida pelos cientistas e pesquisadores, mas também indicando uma
separação da ciência entre os intelectuais literatos (das ciências humanas) e os cientistas
(das ciências exatas).
Seria nas décadas de 1960 e 1970 que a discussão sobre a interdisciplinaridade
ganharia espaço no campo acadêmico e em organismos como a Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, ou UNESCO e a Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Economico, ou OCDE (GONZÁLEZ DE GÓMEZ,
ORRICO, 2006, p.17). A OCDE realizaria dois seminários internacionais sobre a
interdisciplinaridade, uma em 1969 e outra em 1984, e a UNESCO promoveria
seminários sobre o tema entre 1971 e 1972 (POMBO, 2003; GONZÁLEZ DE GÓMEZ,
ORRICO, 2006, p. 17; PINHEIRO, 2006 a, p. 3).
Outros congressos foram realizados na década de noventa, discutindo o conceito
transdisciplinaridade, com destaque para o primeiro congresso internacional de
transdisciplinaridade, realizado em Portugal em 1994 e a conferência realizada em
Locarno, Suíça, em 1997, que discutiu esse fenômeno no âmbito universitário
(GONZALÉZ DE GÓMEZ, ORRICO, 2006, p.18).
No campo teórico, destacam-se as pesquisas do cientista suíço Jean Piaget (1896-
1980), importantes para o desenvolvimento dos conceitos relacionados à
interdisciplinaridade, entre as décadas de 1950 e 1970, e de alunos e seguidores de sua
teoria, como o brasileiro Hilton Japiassu.
Mas quais seriam os conceitos relacionados à inter e a transdisciplinaridade?
Nesta dissertação, entre diferentes interpretações de outros autores para esses conceitos18,
serão utilizadas sobretudo as de Japiassu, do seu livro “Interdisciplinaridade e Patologia
do Saber”, publicado em 1976, citadas por Pinheiro em diferentes trabalhos (PINHEIRO,
1998; 2006 a; 2006b) relacionando, assim, esses conceitos com a Ciência da Informação.
Segundo Japiassu, o conceito disciplina seria uma...

18
Para a analise de outras interpretações sobre a interdisciplinaridade, é indicada a leitura de trabalhos dos
pesquisadores Ivani Fazenda, Olga Pombo, Julie Thompson Klein e Edgar Morin.
69

“... exploração científica especializada de determinado


domínio homogêneo de estudo, isto é, o conjunto sistemático e
organizado de conhecimentos que apresentam características
próprias nos planos de ensino, da formação, dos métodos, e das
matérias: esta exploração consiste em fazer surgir novos
conhecimentos que se substituem aos antigos (JAPIASSU, 1976,
p. 61 e 72)”.

A Interdisciplinaridade, a partir dessa análise, constituiria uma espécie de etapa


superior, ou em conjunto, do fazer científico...

“Método de pesquisa e de ensino suscetível de fazer


com que duas ou mais disciplinas interajam entre si, esta
interação podendo ir da simples comunicação das idéias até a
integração mutua dos conceitos, da epistemologia, da
terminologia, da metodologia, dos procedimentos, dos dados e da
organização da pesquisa (MARCONDES, JAPIASSU, 1991)”.

Ainda citando Japiassu, Pinheiro ressalta que “a pesquisa interdisciplinar se faz


das aproximações, das interações, e dos métodos comuns às diversas especialidades”
(JAPIASSÚ, 1976).
Em relação à Transdisciplinaridade, seu conceito foi definido como uma etapa
superior à interdisciplinaridade, na qual não basta atingir interações e reciprocidade entre
pesquisas específicas, mas sim situar essas ligações no “interior de um sistema total, sem
fronteiras estabelecidas entre as disciplinas” (JAPIASSU, 1976 apud PINHEIRO, 2006b,
p.114).

5.1.4.2 Ciência da informação, interdisciplinaridade e o pensamento de


Mikhailov

De que forma a interdisciplinaridade vem sendo estudada na Ciência da


Informação? Na área, pelo menos a partir de 1961, quando começou a se consolidar
epistemologicamente, sempre foi assumido o forte caráter interdisciplinar e a relação
teórica e prática com diversas ciências ou disciplinas. A própria definição, formulada nos
congressos do Gerogia Institute, apresenta essa característica:
70

“Esse campo [Ciência da informação] é derivado e se


relaciona com a matemática, lógica, lingüística, psicologia,
tecnologia ligada a computadores, operações de busca, arte
gráfica, comunicação, ciência da biblioteca, administração e
outros campos (CONFERENCES ON TRAINING SCIENCE
INFORMATION SPECIALISTS, 1962, apud SHERA,
CLEVELAND, 1977, p.265)”.

Entretanto, os muitos conceitos referentes à interdisciplinaridade só foram


discutidos, de forma mais profunda, nas décadas seguintes, seja no campo
epistemológico, com as pesquisas lideradas por Piaget, ou como na própria Ciência da
Informação, em trabalhos como a coletânea “The study of information: interdisciplinary
messages”, editada por Fritz Machlup e Una Mansfield, em 1983, que estudou o aspecto
interdiciplinar em diferentes disciplinas, entre ela a Ciência da Informação ou, em menor
medida, em artigos isolados, como, por exemplo, “The Phenomena of interest to
Information Science”, dos pesquisadores alemães Gernot Wersig e U. Nevelling (1975).
A literatura de Ciência da Informação, nos anos 1960, apesar de enfatizar o caráter
interdisciplinar da área e indicar com que campos essas relações acontecem, carece de
maior aprofundamento teórico sobre o assunto, fato esse ressaltado por Pinheiro (2006b,
p.115-118).
Em relação a Mikhailov, o autor também deu considerável atenção a essa
característica em sua produção intelectual, porém, com maior profundidade, apresentando
não só as áreas, mas de que forma essas relações aconteciam. A primeira abordagem do
autor (em conjunto com Chernyi e Gilyarevskyi) nesse tema foi em 1965, no artigo “A
interconexão entre a informação científica com as Bibliotecas e a Bibliografia”,
publicado no periódico Soviet Biblioteki. Porém, essa analise só seria realmente
aprofundada a partir do final de 1966, com o desenvolvimento do conceito e da disciplina
Informatika/ Ciência da Informação quando, além de relacionar as disciplinas
constituintes ou que apresentam algum vínculo com a área, tentou explicar de que forma
essa relação ocorria ou deveria ser concretizada.
Mikhailov, ao tratar do tema, ressaltou a necessidade de se discutir aspectos
referentes à relação entre diferentes disciplinas e campos do saber, indicando uma nova
realidade, na qual fica evidenciado o...
71

“(...) desaparecimento progressivo de tradicionais


fronteiras entre diferentes campos de conhecimento. (...) Para
que seu trabalho seja frutífero, devem-se conhecer os resultados
de investigações que são levadas a cabo em outros campos
científicos e técnicos” (MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVSKYI, [1968] 1973, p.36).

Outra afirmação feita pelos autores, que pode ser indiretamente relacionada ao
atual conceito de transdisciplinaridade, ressalta o surgimento de novas disciplinas, como
a bioquímica, biofísica, geoquímica, semiótica, entre outras, indicando uma realidade
onde cientistas de diferentes áreas buscam concentrar seus esforços e estudar problemas
científicos, o que estimula o surgimento de novas disciplinas cientificas (MIKHAILOV,
CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1968] 1973, p.19). Os autores afirmam, também, que a
interpenetração e a integração entre as ciências podem resolver parcialmente o problema
do isolamento e da especialização excessiva sofrida pelos pesquisadores e por diversas
disciplinas (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1968] 1973, p.20).
Mikhailov afirma, ainda, que, para um profissional realizar eficientemente tarefas,
teóricas e praticas, relacionadas à informação científica, o mesmo deverá possuir certos
conhecimentos sobre atividades e teorias ligadas à informação, tendo que,
inevitavelmente, expandir sua visão acadêmica e profissional, obviamente utilizando
também o conhecimento adquirido em sua área de atuação, ao qual originalmente se
especializou (MIKHAILOV, 1970, p.2).

5.1.4.3 A relação da Informatika / Ciência da Informação com outras áreas de


conhecimento.

Em relação a quais disciplinas a Informatika/ Ciência da Informação manteve algum


tipo de “vinculo” no seu campo teórico ou prático Mikhailov, como autor único ou nos
trabalhos em colaboração, entre 1966 e 1976, citou sistematicamente quais campos
científicos mantinham algum contato com a área, alguns dos quais mantiveram-se com o
passar dos anos e outros, por diferentes motivos, não mais mantêm essa relação, o que é
explicitado, sistematizado e relacionado no quadro seguinte. Muitas dessas inter-relações
72

foram discutidas no artigo “Informática: escopo e métodos”, escrito em conjunto com


Chernyi e Gilyarevskyi, e publicado no documento FID 435, em 1969, tendo essa
característica do trabalho sido analisada posteriormente por Pinheiro (1998, p.140-141).

QUADRO 1
ÁREAS INTERDISCIPLINARES A INFORMATIKA/ CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO SEGUNDO MIKHAILOV E COLABORADORES (1967-1976)

Publicação Interdisciplinas
Mikhailov (1967 a) Teoria da Informação Matemática,
Cibernética, Semiótica, Matemática
Lógica, Semântica Lógica, Psicologia,
Ciência do Livro, Biblioteconomia,
Bibliografia.
Mikhailov, Chernyi, Gilyarevskyi ([1968] Teoria da Informação Matemática,
1973). Cibernética, Semiótica, Matemática
Lógica, Semântica Lógica, Psicologia,
Ciência do Livro, Biblioteconomia,
Bibliografia.
Mikhailov, Chernyi, Gilyarevskyi (1969). Matemática lógica, Semântica, Psicologia,
Ciência do Livro, Bibliografia,
Engenharia, Semiótica.
Mikhailov, Gilyarevskyi (1971). Cibernética, Semiótica, Lingüística,
Psicologia, Biblioteconomia, Ciência do
Livro, Ciência da Ciência, Ciência
Técnica.
Mikhailov, Chernyi, Gilyarevskyi, ([1976] Teoria da informação, Semiótica,
1984). Cibernética, Psicologia, Pedagogia,
Biblioteconomia, Bibliografia.
73

Conforme já observado no parágrafo anterior, as áreas interdisciplinares sofrem


alterações, no decorrer do tempo, algumas têm diminuída a sua relevância e outras
passam a contribuir para a área de Informatika / Ciência da Informação, ganhando
importância, fenômeno natural tanto pela evolução da sociedade quanto pelo
desenvolvimento do próprio campo científico. Sobre esta questão, após as suas pesquisas
teóricas e empíricas sobre interdisciplinaridade da Ciência da Informação, Pinheiro
(2007) reconhece as “mutações no território epistemológico” da Ciência da Informação e
aborda os seus “traços interdisciplinares”, ressaltando as transformações nessas relações
interdisciplinares, em momentos de maior ou menor intensidade. Esta autora finaliza pela
afirmativa de que “as transmutações, por sua vez, são determinadas por fenômenos
científicos, tecnológicos, econômicos, históricos, sociais e culturais (PINHEIRO, 2007)”.
Outro interessante aspecto que pode ser analisado, a partir desse quadro, é a
verificação da atualidade de Mikhailov (e colaboradores) nessa “listagem” de áreas
correlatas à Informatika/ Ciência da Informação, se comparada a outros estudos
realizados posteriormente na área. Apesar de ser relativamente difícil, pela carência de
pesquisas empíricas ou abordagens semelhantes sobre esse tema e mesmo com certas
limitações e dificuldades, pode-se recorrer, novamente a Pinheiro, a partir de duas
pesquisas realizadas, nas quais são identificadas áreas ou disciplinas que apresentam
relação com a Ciência da Informação, no Brasil e no exterior. No primeiro caso, a análise
do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, IBICT-UFRJ (1995) e da
revista Ciência da Informação, do IBICT (2005) e, no exterior, tomando como fonte a
publicação ARIST- Annual Review for Information Science and Technology. São
identificados, a seguir, os resultados de pesquisas empíricas de Pinheiro relativos ao
Programa de Pós-Graduação (1995) e ao ARIST, este iniciado na tese de doutorado,
posteriormente atualizado até 2004 e publicado em 2006 19.

19
Em ambas as pesquisas o campo da Ciência da Informação é traçado de acordo com as subáreas que o
constituem e a partir desse mapeamento são identificadas as áreas ou campos do conhecimento cujas
interfaces contribuem para a relação interdisciplinar. Nesta dissertação são consideradas os resultados
incluídos nas publicações de 1995 e de 2006, apenas das áreas interdisciplinares, sem identificação das
subáreas às quais estariam relacionadas.
74

QUADRO 2
DISCIPLINAS INTERDISCIPLINARES A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
SEGUNDO PINHEIRO (1995 e 2006).

Publicações Interdisciplinas
Pinheiro, Loureiro(1995) Administração, Antropologia,
Arquivologia, Biblioteconomia, Comunicação,
Educação, Economia, Epistemologia,
Estatística, Filosofia, Filosofia da Ciência,
História, História da Ciência, Informática,
Jornalismo Científico, Lingüística,
Matemática, Museologia, Psicologia,
Sociologia.
Pinheiro (2006b) Administração, Arquivologia,
Biblioteconomia, Ciência da Computação,
Ciência Política, Comunicação, Direito,
Economia, Educação, Epistemologia,
Estatística, Ética, Filosofia, Filosofia da
Ciência, História da Ciência, Lingüística,
Matemática, Museologia, Psicologia,
Sociologia da Ciência.

Ao compararmos os dois quadros, percebemos que algumas áreas


interdisciplinares são identificadas tanto nas pesquisas de Mikhailov quanto nas de
Pinheiro: Biblioteconomia, Lingüística, Psicologia, Matemática, Ciência da Ciência
(também apresentada como Sociologia da Ciência e podendo ser vinculada a áreas como
História da Ciência e Filosofia da Ciência), Pedagogia (ligada ao campo da Educação) e
até mesmo a Cibernética, se levarmos em conta que, no final dos anos 1960, em alguns
75

momentos esta área ocupava o papel do que hoje é preenchido pela Ciência da
Computação.
Tendo a cautela de considerar as realidades, metodologias e períodos distintos dos
estudos desenvolvidos por Mikhailov e Pinheiro, ao serem comparados os dois quadros,
percebe-se que o autor soviético foi coerente com o mundo em que vivia, ao indicar
áreas que, na época, realmente apresentavam alguma relação interdisciplinar com a
Ciência da Informação, depois enfraquecidas na medida do desenvolvimento da área e
do surgimento de novas relações interdisciplinares. Ao mesmo tempo, teve um olhar
acurado e algumas vezes antecipador, ao incluir campos do conhecimento que estavam
surgindo e eram tão novos quanto a Ciência da Informação, cuja importância permanece
a até se intensificou ou ampliou, por exemplo, a Cibernética ou uma teoria como a da
Informação.
Em relação a como e de que forma essa inter-relação ocorre, Mikhailov (em
conjunto com Chernyi e Gilyarevskyi) abordou as disciplinas de maior interface teórica
e conceitual com a Informatika/ Ciência da Informação: Biblioteconomia/ Bibliografia/
Ciência do livro, Cibernética, Ciência da Ciência/ Sociologia da ciência, Matemática,
Psicologia e Semiótica, a seguir explicitadas.

• Biblioteconomia/ Bibliografia/ Ciência do livro.

A análise de Mikhailov e colaboradores sobre a relação da Informatika/ Ciência da


Informação com áreas de estudo relacionadas à organização e estudo de livros,
publicações científicas e bibliotecas, pode ser considerada como uma das que mais
recebeu atenção dos autores, mas também das mais ambíguas. Apesar dessa relação ser
colocada como uma das mais importantes na Informatika / Ciência da Informação, são
apresentadas também fortes criticas de Mikhailov a essas áreas, tanto no escopo teórico
quanto prático.
Em relação à Biblioteconomia e a Bibliografia, Mikhailov e colaboradores afirmam
que a relação dessas áreas com a Informatika/ Ciência da Informação decorre do objeto
76

de estudo e de algumas atividades práticas em comum entre ambas as ciências


(MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1968] 1973, p.71). Ambas as áreas
foram definidas por esses autores, no caso da biblioteconomia, seria como uma disciplina
“que estuda a essência, a organização e os métodos de uso público dos registros escritos
impressos” (MIKHAILOV, GILYAREVSKYI, 1971,p.13), e a bibliografia como uma
área que visa “o registro, a descrição, a classificação e análise qualitativa das publicações
e a coleta de vários instrumentos, que ajudam a se orientar na literatura atual,
popularizando-a e promovendo sua eficiente utilização” (MIKHAILOV,
GILYAREVSKYI, 1971,p.14).
No aspecto prático, Mikhailov e colaboradores, ao longo de boa parte dos livros
Fundamentos da Informatika e Curso Introdutório sobre Informação/ Documentação,
apresentam e explicam diferentes procedimentos e tipos de classificação: Classificação
Decimal de Dewey, Classificação expansiva de Cutter, Classificação Decimal Universal,
e Classificação dos dez pontos de Ranganathan, entre outros. Essas classificações
utilizadas nas bibliotecas e nos serviços de informação, são de grande importância para
uma posterior organização e recuperação da informação, apresentam também vantagens
e limitações (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1968] 1973, p. 167-208;
MIKHAILOV, GILYAREVSKYI, 1971, p.117-147).
Mikhailov e colaboradores afirmaram, ainda que a Informatika/ Ciência da
Informação desenvolveu novos métodos e serviços em informação científica,
desconhecidos da biblioteconomia e da bibliografia, muitos deles relacionados à
indexação e á utilização das novas tecnologias para a organização e recuperação da
informação. Os autores apresentam uma área que, apesar de mais recente, possui uma
qualidade mais aprimorada no tratamento do documento científico (MIKHAILOV,
CHERNYI, GILYAREVSKYI, 1969).
Ainda no campo prático, os autores afirmam que as diferenças entre o campo de
atuação da Informatika/ Ciência da Informação com o das bibliotecas precisam ser
apresentadas e, em alguns casos, ressaltadas, como, por exemplo, que o escopo de
trabalho e de pesquisa da Informatika/ Ciência da Informação é mais amplo e
diversificado do que as atividades relacionadas à bibliografia e biblioteconomia que, na
77

maioria das vezes, centralizam-se nos livros, periódicos ou outros tipos de publicações
encontradas nas bibliotecas (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, 1969).
Mikhailov e colaboradores posteriormente afirmaram que a discussão sobre a relação
prática ente a Informatika/ Ciência da Informação e a Biblioteconomia e a Bibliografia
estaria em uma nova e positiva fase de discussão, na qual o caráter independente das duas
áreas está sendo respeitado, com uma correta demarcação da atuação entre os órgãos de
pesquisa desses dois campos científicos (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI,
[1976] 1984, p.245).
Entretanto, em relação à Biblioteconomia, Mikhailov e colaboradores fazem também
várias críticas relacionadas tanto a aspectos práticos, já apresentados, quanto teóricos.
No campo teórico, Mikhailov e colaboradores afirmaram que várias publicações da
área, no ocidente (ou segundo os autores, nos países burgueses), estavam apresentando
idéias errôneas, equivocadas e incorretas referentes a uma possível crise sofrida pela
Biblioteconomia. Esse campo poderia no futuro trabalhar somente com diferentes
suportes e não mais com livros impressos, e a problemas relacionados ao profissional que
poderia trabalhar nessa área onde é afirmado que suas tarefas são puramente técnicas e
que outros profissionais como engenheiros e matemáticos poderiam muito bem fazer o
trabalho de um bibliotecário (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1968]
1973, p.71-72).
Evitando, aqui, concordar ou discordar das idéias dos autores, deve-se mencionado
que, ao apresentarem essa idéia, Mikhailov e colaboradoes não identificam fontes ou
textos que exemplifiquem essa afirmação, o que prejudica uma analise um pouco mais
aprofundada da mesma. Contudo, dois fatores podem ser expostos, explicando
parcialmente a postura dos autores.
O primeiro, relacionado à posição dos autores em apresentar essas áreas como menos
diversificadas ou aprimoradas, se comparadas a Informatika/ Ciência da Informação,
referentes às diferenças entre o campo da Biblioteconomia, na então URSS, com a
desenvolvida nos Estados Unidos e Europa Ocidental. Na União Soviética, segundo
Richardson Jr. (2000, p.120), o escopo, objetivos e funcionamento das bibliotecas no
país, diferente do que ocorria nos Estados Unidos, por exemplo, eram bastante
centralizados, com forte caráter político e ideológico na formação de seus profissionais.
78

Mikhailov e colaboradores, ao apresentarem as funções e os objetivos das bibliotecas


soviéticas, de certa forma enfatizaram essas características:

“(...) a biblioteca Soviética é uma instituição científica e


cultural que organiza o uso social das obras impressas e escritas
e está chamada a ajudar o leitor na escolha de livros e a orientar
a leitura para difundir amplamente as idéias do comunismo,
elevar o nível ideológico, político e cultural do povo soviético e
mobilizá-lo para a solução das tarefas políticas, científicas e
econômicas (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI,
[1968] 1973, p.72)”.

A segunda razão, referente às criticas feitas a (possíveis) idéias errôneas apresentadas


pela biblioteconomia nos Estados Unidos e Europa Ocidental, é relacionada à própria
postura hostil de parte da classe bibliotecária soviética, que fazia duras criticas ao campo
de estudo da biblioteconomia nos países capitalistas, como, por exemplo, em
conferências e congressos ocorridos no país nas décadas de 1970 e 1980, já citados
anteriormente.
Em relação à Ciência do Livro, área que “estuda registros impressos e escritos em
plano histórico e teórico” (MIKHAILOV, GILYAREVSKYI, 1971, p.14), esse campo de
estudo é importante para a Informatika/ Ciência da Informação, pois oferece
conhecimentos importantes sobre as principais etapas e estágios de formação e do
desenvolvimento das publicações e documentos científicos (MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVSKYI, [1968] 1973, p.67).

• Cibernética

Em 1948, o cientista sueco Norbert Wiener (1894-1964), com a colaboração de outros


pesquisadores, publicou o livro “Cybernetics: or the Control and Communication in the
Animal and the Machine”, livro esse que definiu os conceitos do campo de pesquisa
denominado por ele e o pesquisador Arturo Rosenblueth de Cibernética. Segundo Kim
(2004, p.200-201), essa área teve suas origens em pesquisas realizadas durante a segunda
guerra mundial, relacionadas à programação de máquinas e computadores com
mecanismos de controle para a artilharia antiaérea.
A idéia fundamental da Cibernética é a de que
79

“(...) certas funções de controle e de processamento de


informações semelhantes em máquinas e seres vivos – e também,
de alguma forma, na sociedade – são, de fato, equivalentes e
redutíveis aos mesmos modelos e mesmas leis matemáticas”
(KIM, 2004, p.200).

E, segundo palavras do próprio Wiener,

“(…) um campo mais vasto que inclui não apenas o estudo da


linguagem, mas também o estudo das mensagens como meios de
dirigir a maquinaria e a sociedade, o desenvolvimento de
máquinas computadores e outros autômatos (…), certas reflexões
acerca da psicologia e do sistema nervoso, e uma nova teoria
conjetural do método científico” (WIENER, 1984, p. 15 apud
KIM, 2004, p.200).

O exercício dessa ciência na União Soviética teve um caráter contraditório e


problemático.
Ao serem apresentados pela primeira vez no país, no inicio dos anos 1950, seus
conceitos foram duramente criticados e rejeitados, sendo a Cibernética classificada de
“pseudociência” pela classe política soviética, postura essa influenciada em parte pelo
clima sombrio dos primeiros anos da guerra fria e dos últimos anos de Stalin no poder20
(MINDELL, SEGAL, GEROVITCH, 2003).
Porém, a partir de 1955 houve uma drástica mudança de postura na classe científica
e política russa, que não só passou a aceitar as idéias propostas pela Cibernética, como
adotou esse campo de estudo como um dos principais do país, recebendo ampla atenção
nos institutos de pesquisa soviéticos, o que é comprovado pelo surgimento de variados
tipos de publicações que discutiam seus diferentes aspectos. Essa atenção chegaria ao
ápice na década de 1960, com a Cibernética sendo chamada de “a ciência do comunismo”

20
Na verdade, as críticas sobre esse campo científico foram muito mais violentas, tendo a área sofrendo
classificações como “ciência do obscurantismo”, “pseudociência burguesa norte-americana” e “Ciência
reacionária” (GEROVITCH, 2001b, p.554-557). Entretanto, a relação entre a URSS e essa ciência, nesse
período, era ambígua, pois apesar das severas críticas feitas pelo campo científico soviético, entre 1950 e
1955, paralelamente, algumas idéias e conceitos da Cibernética eram utilizados por pesquisadores
soviéticos para a construção dos primeiros computadores no país, em projetos militares e no programa
espacial soviético (GEROVITCH, 2001 a). Isso, em parte, explica a rápida e vertiginosa reabilitação da
Cibernética na URSS, no final dos anos 1950, já livre da influência stalinista. Para um levantamento sobre
a posição dos campos científico e militar soviéticos e de diferentes institutos, incluindo o VINITI, sobre a
Cibernética durante toda a década de 1950, ver os trabalhos de Gerovitch (2001 a, 2001 b).
80

e com participação de teóricos renomados, como o próprio Norbert Wiener, em


congressos da área no país, nessa época (BLEKHMAN, PEVZNER, 2000, p.8;
MINDELL, SEGAL, GEROVITCH, 2003).
Entretanto, a partir dos anos 1970 surgiram criticas de pesquisadores russos, que
afirmavam ser exagerada a atenção dada a essa ciência no país, por motivos políticos,
bem como a adoção de alguns de seus conhecimentos, por exemplo, relacionados à
criação e a organização da informação, que, segundo esses pesquisadores, estavam sendo
aplicados de forma incorreta ou distorcida (MINDELL, SEGAL, GEROVITCH, 2003).
Sobre a relação da Cibernética com a Informatika/ Ciência da Informação, Mikhailov
e colaboradores assinalam, inicialmente, uma certa indefinição de como e de que forma
essa relação poderia ser medida, seja no campo teórico ou prático, devido as duas áreas
serem recentes e com um escopo teórico ainda não totalmente delimitado (MIKHAILOV,
CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1968] 1973, p.64). Por outro lado, são indicados fatores
de similaridade entre essas duas áreas científicas como, por exemplo, na busca de
soluções eficientes para diferenciados problemas relacionados à recuperação e ao
processamento lógico da informação científica, baseados em computadores e em
dispositivos cibernéticos, isto é, de diferentes suportes automatizados (MIKHAILOV,
GILYAREVSKYI, 1971, p.13).
Mikhailov e colaboradores, apesar de concordarem com alguns pontos apresentados
pela Cibernética, reagiram com certa cautela ao analisar outros aspectos dessa teoria
como, por exemplo, a possibilidade da tecnologia substituir meios formais de
comunicação e conhecimento ou que essa tecnologia pudesse algum dia ter maior
“inteligência” que seus criadores, indicando exagero, incoerência ou impossibilidade de
utilização desses conceitos para com a Informatika/ Ciência da Informação.
(MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1976] 1984, p.140-141).
Na produção intelectual do autor, no final da década de 1970 e em meados da de
1980, apesar de a relação entre as duas áreas não ser mais explicitada em seus trabalhos,
foi percebido em alguns desses artigos a utilização de conceitos ligados à Cibernética e
idéias sobre interfaces da Informatika/ Ciência da Informação com os processos
computadorizados de recuperação da informação. Essa prática também ocorreu nos
Estados Unidos, Brasil e Europa Ocidental, onde, a partir da década de 1950, foram
81

utilizadas, em maior ou menor medida, dependendo do país e do autor, as idéias e


conceitos de Wiener ou de outros autores da Cibernética, bem como as teorias correlatas
como a Inteligência Artificial, neste último caso, muitas vezes apresentando interface
também com a psicologia cognitiva (LIMA, 2003).

• Ciência da Ciência/ Sociologia da ciência

A Rússia, e posteriormente a URSS, teve um papel importante e, em certos aspectos,


até mesmo pioneiro, na construção da área de estudo conhecida atualmente como
Sociologia da ciência, já citada anteriormente. Suas raízes no país remontam do final do
século XIX, na obra do estudioso russo Vladimir Vernadskii. Seu desenvolvimento
ocorreu entre as décadas de 1920 e 1930, com a criação de institutos de pesquisas
destinados ao estudo da história da ciência e do conhecimento, estimulada e coordenada
por personalidades políticas como, por exemplo, S. F. Ol’denburg e Nikolai Bukharin, e
no aparecimento de seguidores da teoria de Vernadskii, como, por exemplo, o
pesquisador Boris Hessen (WOUTERS, 1999, p.84-87). Porém, essas iniciativas foram
abruptamente interrompidas com os expurgos de Stalin, no final dos anos 1930
(WOUTERS, 1999, p.84-87).
Após um longo período de hiato, os estudos na área no país foram lentamente
recuperados (principalmente na Ucrânia) no final da década de 1950 e meados da década
de 1960. Nessa época, foram publicados dois trabalhos considerados os precursores no
desenvolvimento desse campo de pesquisa na União Soviética: o livro Ciência da
Ciência (Nauka o nauke), escrito por G. M. Dobrov, publicado em 1966, e o livro
Cientometria (Naukometryia), escrito por V. V. Nalimov e Z. M. Mulchenko, publicado
em 1969.
Apesar das abordagens diferenciadas, ambos os trabalhos continham propostas e
questionamentos referentes à tentativa de medir a relação entre o conhecimento científico
e sua evolução, e a comparação do impacto que cientistas de diferentes países com boa
infra-estrutura em ciência, a partir de diferentes publicações, causavam ao campo
82

científico internacional (RICHARDS, 1992, p. 272-273). Apesar da influência indireta de


autores como Derek de Solla Price, que obteve uma recepção mista de suas idéias entre
os pesquisadores da União Soviética (WOUTERS, 1999, p.91), Robert K. Merton e John
Bernal serem percebidos nessas obras, as mesmas mantinham sua abordagem relacionada
às pesquisas e trabalhos desenvolvidos na URSS que ocorriam nesse período.
Mikhailov e colaboradores citam a relação entre a Ciência da ciência e a Informatika/
Ciência da Informação em pelo menos dois trabalhos (MIKHAILOV, GILYAREVSKYI,
1971; MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1976] 1984). Em ambos, os
autores afirmam que os dois campos apresentam pontos em comum, como, por exemplo,
o interesse em examinar os fluxos e processos de informação e transmissão da
informação científica; a análise da eficiência do trabalho científico para sua posterior
melhoria, e em tentar estabelecer prognósticos sobre o desenvolvimento da ciência
(MIKHAILOV, GILYAREVSKYI, 1971, p.14; MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVSKYI, [1976] 1984, p.244).
Por outro lado, os autores ressaltam também que existem diferenças entre os dois
campos de pesquisa, no que diz respeito à abordagem em que é analisado o fluxo de
informação no campo científico. Na Informatika/ Ciência da Informação é reconhecido
que as atividades de Informação científica formam uma parte diferenciada e independente
do processo de comunicação científica (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI,
[1976] 1984, p.245).

• Matemática

A relação entre a antiga área da Matemática, mais especificamente a Lógica


Matemática, com a Informatika/ Ciência da Informação, segundo Mikhailov e
colaboradores, aparece especificamente nos procedimentos práticos, nos quais uma área
contribuía na definição de conceitos e métodos de avaliação e classificação realizadas
pela outra.
Inicialmente, Mikhailov buscou diferenciar o desenvolvimento e o funcionamento
teórico e prático das duas áreas, apontando que a lógica matemática, além de se vincular
à informação em geral (e não somente à informação científica), é uma disciplina na qual
83

são ignorados aspectos semânticos referentes à comunicação e transmissão da


informação, tanto que sua teoria não consegue cobrir todo o escopo teórico e prático da
Informatika/ Ciência da Informação (MIKHAILOV, 1967a, p.242).
Os autores destacam, também, que a utilização da Matemática pela Informatika/
Ciência da Informação é diretamente na criação de linguagens informativas para a
“formalização de processos de dedução lógica para teorias ou conceitos científicos”
(MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1968] 1973, p.65), ou seja, uma espécie
de “codificação” da informação que permita, posteriormente, uma rápida localização da
mesma.

• Psicologia

Outra relação interdisciplinar de considerável importância para a Informatika/ Ciência


da Informação, segundo Mikhailov e colaboradores, seria com a Psicologia, ciência que
estuda os processos mentais e os comportamentos humanos. Apesar de ter suas origens
datadas na antiguidade, somente obteve sua consolidação teórica na segunda metade do
século XIX e na primeira do século XX, com os trabalhos de diversos pensadores, como,
por exemplo, Wilhelm Wundt, Franz Bretano, William James, Sigmund Freud e Karl
Jung (GRIJÓ, FILIPE, OLIVEIRA, CUNHA, 2001).
Na União Soviética, além do trabalho pioneiro de Ivan Pavlov (1849-1936), muito do
desenvolvimento dessa ciência deveu-se aos pesquisadores Lev Vygotsky, Alexander
Luria e Aleksei Leontiev, entre outros, que ajudaram na emergência e na evolução da
Psicologia do país, entre as décadas de 1920 e 1970, e na formulação de teorias
importantes para a área como, por exemplo, a do sócio-construtivismo e a da Psicologia
Histórico-Cultural 21.
A utilização de conceitos e idéias da psicologia na ciência da Informação, pelo menos
nos Estados Unidos e Brasil, tem seu inicio aproximadamente na segunda metade da
década de 1960, porém recebendo maior aprofundamento teórico a partir do inicio da

21
Para uma análise mais aprofundada de conceitos e idéias desses pesquisadores, ver o trabalho de Tuleski,
2007.
84

década de 1970, quando foi percebido uma considerável participação de psicólogos em


assuntos referentes à Ciência da Informação, e vice-versa, mantendo-se com uma
produção bibliográfica relativamente alta até meados dos anos 1990. Atualmente, apesar
de uma considerável redução, ainda são realizados interessantes trabalhos que analisam a
inter-relação entre as duas áreas, como por exemplo, nos artigos de Ingwersen (1996),
Lima (2003) e Neves (2006), que discutem a relação entre a Ciência da Informação e a
Psicologia Cognitiva (campo que trata do modo como as pessoas percebem, aprendem,
recordam e pensam sobre a informação).
Para Mikhailov e colaboradores, a relação entre a Informatika/ Ciência da Informação
e a Psicologia permite uma análise mais aprofundada do documento científico, não só no
que diz respeito à preparação ou organização do mesmo, mas também de buscar conhecer
seu processo de criação e desenvolvimento, permitindo um controle mais qualitativo
sobre esse tipo de material (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, [1968] 1973,
p.65-66).
Diferente da idéia apresentada por Mikhailov e corroborada por outros pesquisadores
soviéticos, a abordagem sobre a interface entre a Psicologia e a Ciência da Informação,
na produção realizada nos Estados Unidos, Inglaterra e Brasil, tem sua ênfase no usuário
que busca determinado tipo de informação ou ao profissional que organiza e recupera
essa informação ou documento, muitas vezes sendo relacionados ao campo da Psicologia
comportamental. Um interessante contraponto à abordagem Soviética pode ser a análise
da coletânea A contribuição da Psicologia para o estudo dos usuários da informação
técnico-científica, publicada em 1980, organizada por Hagar Espanha Gomes, e
contendo artigos de Douglas Foskett, Ranganathan e Maria Nazaré de Freitas Pereira. É
oportuno mencionar que o prefácio foi elaborado por José Augusto Dela Coleta, da área
de Psicologia do Trabalho Outra interessante obra que também pode servir de
comparação é o projeto de pesquisa coordenado pelo teórico norte-americano Tefko
Saracevic, que utilizou diferentes critérios, entre os quais o psicológico, na avaliação dos
processos de busca, recuperação e organização da informação (SARACEVIC, KANTOR,
CHAMIS, TRIVISION, 1988; SARACEVIC, KANTOR, 1988 a;1988b). Em relação a
estudos focalizados especificamente no usuário, outra fonte interessante é a revisão de
literatura realizada por William Paisley (1968).
85

Os autores indicaram três “recentes” (para a época em que o artigo ‘informatics; its
scope and methods’, foi escrito, em 1969) ramos da Psicologia que apresentam algum
tipo de interesse para a Informatika/ Ciência da Informação: a psicologia do trabalho, a
psicologia da engenharia e a psicolingüística.
A primeira, oriunda do século 19 e que na época do artigo encontrava-se em
desenvolvimento, relaciona-se ao estudo e análise de questões referentes ao trabalho,
como, por exemplo, o aumento de eficiência profissional, bases de racionalização de
habilidades e seleção recrutamento de pessoal (MIKHAILOV, CHERNYI,
GILYAREVSKYI, 1969; PINHEIRO, 1998, p.141).
Já a psicologia de engenharia abrange estudos da relação homem-máquina e da
aplicação do conhecimento humano para o desenvolvimento de sistemas e seus
componentes, tendo por objetivo alcançar o máximo de eficiência com o menor esforço
possível para sua operação e serviço (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI,
1969; PINHEIRO, 1998, p.141). Segundo os autores, seria essa parte da psicologia mais
vinculada aos interesses da Informatika/ Ciência da Informação.
E, por último, a psicolingüística, relativa ao estudo da "natureza do discurso, a
organização hierárquica do comportamento verbal, mecanismos do discurso e da
percepção, problemas de semântica e de motivação verbal e não-verbal, bem como
tarefas práticas envolvidas na comunicação de massa e no discurso da cultura"
(MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, 1969). A sua importância para a
Informatika/ Ciência da Informação reside no fato de proporcionar melhor entendimento
do pensamento criativo, da criação e da utilização da informação técnica e científica,
permitindo assim uma melhor codificação dessa informação e da compreensão dos
“mecanismos de processamento analítico-sintético da informação” (MIKHAILOV,
CHERNYI, GILYAREVSKYI, 1969).

• Semiótica

A Semiótica, ou ciência dos signos, baseia-se no estudo e análise dos sinais e da sua
transmissão, apesar de a partir dos anos 1960, novas abordagens, estudos e classificações
86

sugerirem novas interpretações para essa ciência e seu campo de atuação e pesquisa
(FIDALGO,1998;2004).
Suas origens datam da Antigüidade, mais especificamente no trabalho do médico e
filósofo grego Claudio Galeno (c.130 - c.200), mas somente adquiriu forma e identidade
com os trabalhos do filósofo inglês John Locke, no final do século XVII, e foi
consolidada nas obras dos autores. Charles Sanders Pierce e Ferdinand de Saussure
(FIDALGO, 1998, p.2-9). Durante o decorrer do século XX, outros teóricos como
Charles Morris, Louis Hjelmslev, Algirdas Greimas e Umberto Eco, entre outros,
colaboraram no desenvolvimento e análise desse campo científico (FIDALGO, 1998, p.2-
9).
Entretanto, na Ciência da Informação, seria com as idéias do engenheiro e
matemático norte-americano Claude Shannon (1916-2001), que a semiótica encontraria
sua relação mais evidente com a área, contribuindo em seu desenvolvimento e
emergência, permitindo o desenvolvimento de conceitos que viriam ser posteriormente
conhecidos como “teoria matemática da comunicação” (PINHEIRO, 2002). Com já dito
anteriormente, diversos autores da Ciência da Informação, entre eles Mikhailov, citaram
diferentes trabalhos e idéias de Shannon em seus artigos. No Brasil, podem ser citados os
trabalhos de Braga (1995), Almeida (2005) e Barreto (2008), entre muitos outros, que
ressaltam a importância das idéias de Shannon para o desenvolvimento da Ciência da
Informação. Braga (1995) destaca: “Shannon não só desvincula a informação do suporte
físico como também estabeleceu a noção de mensagem distinta da informação e a noção
de dependência do estado mental do receptor”.
Em seu livro “A teoria matemática da informação”, escrito em conjunto com Warren
Weaver e publicado originalmente em 1949, foram apresentadas propostas e idéias,
muitas desenvolvidas nos laboratórios da Bell Company durante a segunda guerra
mundial, posteriormente utilizadas ou analisadas na Ciência da Informação em seu
estágio embrionário (décadas de 1950 e 1960). Em especial, cita-se a teoria matemática
da comunicação que, entre outros conceitos, apresenta a característica de “(...) uma fonte
que passa a informação a um transmissor que a coloca num canal (mais ou menos sujeito
a ruído) que a leva a um receptor que a passa a um destinatário” (FIDALGO, 2004, p.17),
característica que permitiu o desenvolvimento de estudos da comunicação e de conceitos
87

relacionados à “(...) quantidade de informação, quantidade mínima de informação (o


célebre Bit), redundância, ruído, transmissor, receptor, canal” (FIDALGO, 2004, p.17).
Entretanto, Pinheiro (2002, p.74) alerta para o fato de que as idéias de Shannon não
consideram aspectos semânticos, de relevância ou relacionados à informação,
diferenciando-se assim da Ciência da Informação.
Na URSS, apesar de uma rejeição inicial das idéias de Shannon, e da própria
Semiótica, na primeira metade da década de 1950, após 1955, gradativamente os
conceitos relacionados à teoria matemática da comunicação foram incorporados, e
posteriormente utilizados na realidade científica do país (MINDELL, SEGAL,
GEROVITCH, 2003).
O campo de estudo de Ciência da Informação/ Informatika na URSS foi influenciado
por idéias e propostas da Semiótica, tendo seus conceitos sido analisados em diferentes
artigos e publicações da área. Em meados da década de 1960, o VINITI criou um
departamento destinado ao estudo teórico da Semiótica (BLEKHMAN, PEVZNER,
2000, p.9) e, a partir de 1975, o Instituto publicou o periódico Semiótica e Informatika,
uma coletânea de artigos discutindo conceitos e questões de ambas as ciências, que
continuou sendo produzido após o fim da URSS.
Inicialmente, Mikhailov viu a relação entre as duas ciências na utilização e no
desenvolvimento de tecnologias e formas automatizadas de armazenamento e codificação
documental. Para o autor, o uso eficiente de conceitos da Semiótica em questões
referentes aos equipamentos e máquinas de tradução de documentos, na decifração de
linguagens antigas e em problemas de Lingüística seria de grande ajuda para com a
Informatika/ Ciência da Informação (MIKHAILOV, 1967b, p.120). Por outro lado, o
autor afirma também que os profissionais tanto da Informatika/ Ciência da Informação
quanto da Semiótica precisavam buscar rapidamente soluções para problemas referentes à
recuperação da informação, mais especificamente relacionados aos requerimentos e
necessidades dos usuários e de um melhor processamento da informação e do documento,
para uma utilização mais eficiente de suas idéias e conceitos entre essas duas ciências
(MIKHAILOV, 1967b, p.120).
88

Posteriormente, ao analisarem as interfaces das duas ciências, Mikhailov e


colaboradores chegaram à divisão da Semiótica em três partes: Pragmática, Semântica e
Sintática22.
A primeira delas, a Pragmática, ou “o estudo da linguagem em uso, ou (...) o estudo
da relação dos signos com seus intérpretes”(MARCONDES, 2000, p.39), os autores
consideram que a pragmática apresenta também "propriedades de sinais que têm
significado para a Informatika como inteligibilidade e não-inteligibilidade, essencialidade
e não-essencialidade” (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, 1969) e citam as
práticas de resumo, indexação e recuperação da informação, entre outras, como
atividades de caráter pragmático. Entretanto, os autores lamentam que essa parte da
Semiótica (na época em que o artigo foi escrito) fosse a menos estudada (MIKHAILOV,
CHERNYI, GILYAREVSKYI, 1969).
Já a Semântica é o campo da semiótica relacionado a formas de "designação de
objetos e conceitos por meio de sinais (relação entre o signo e o objeto)" que
correspondem a pesquisas referentes "as relações entre sistemas de sinais e a realidade”
(MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, 1969). Segundo os autores, essas
pesquisas e estudos de caráter semântico ocupam um importante lugar no escopo da
Informatika/ Ciência da Informação e no desenvolvimento de sistemas de organização e
recuperação da informação (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, 1969;
PINHEIRO, 1998, p.141).
E por ultimo a sintática, que "trata de prioridades formais e externas de sinais e suas
combinações (relação de um signo com o outro)", relacionando “todos os aspectos da
derivação formal de sentenças, de outras sentenças, somente na base de vínculos formais
entre si, manifestados numa certa similaridade de estruturas externas dessas sentenças”
(MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, 1969). Essa parte da Semiótica teria sua
utilidade na “mecanização” ou “automação” das atividades referentes à informação ou a
informação científica (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, 1969; PINHEIRO,
1998, p.141).

22
Segundo Fidalgo (1998, p.6), essas sub-disciplinas da Semiótica foram apresentadas e estudadas pelo
pesquisador norte-americano Charles Morris, na década de 1930.
89

Para evidenciar a relação entre a Informatika/ Ciência da Informação e a Semiótica,


os autores citam alguns exemplos práticos ocorridos no VINITI naquele período: um
ligado a um sistema de codificação de fórmulas e estruturas químicas para
“Mecanização” e outra referente à recuperação de dados factuais “automatizados”, no
campo da química orgânica (MIKHAILOV, CHERNYI, GILYAREVSKYI, 1969;
PINHEIRO, 1998, p.141). Os autores afirmam, também, que a relação entre as duas áreas
estaria influenciando, ainda, no desenvolvimento da própria Semiótica (MIKHAILOV,
CHERNYI, GILYAREVSKYI, 1969; PINHEIRO, 1998, p.141).
90

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta dissertação, a partir do material que pôde ser levantado, avaliado e discutido,
buscou analisar onde e de que forma ocorreu a contribuição de Alexander Ivanovich
Mikhailov, em sua produção científica, para a construção e o desenvolvimento teórico da
Ciência da Informação. Foi percebido que Mikhailov, com a colaboração de outros
autores, teve participação decisiva no desenvolvimento da área, apresentando importantes
idéias, elaborando conceitos e efetivando análises sobre Informação Científica, a
emergente disciplina Informatika/ Ciência da Informação e sobre o caráter
interdisciplinar dessa área.
Em relação à Informação Científica, principal objeto de estudo de Mikhailov em
pesquisas iniciadas no final da década de 1950, diferentes classificações e enfoques do
termo afloraram, até obter maior consistência (e estabilidade) teórica a partir de 1967 e,
mais especificamente, entre 1974 e 1975.
A abordagem de Mikhailov e colaboradores difere da desenvolvida nos Estados
Unidos e em boa parte da Europa e buscou um objeto de estudo para área mais
“elaborado” e com algumas delimitações epistemológicas, e não tão amplo como o
conceito puro de informação. Como visto no decorrer da pesquisa, embora existindo
diferentes termos e interpretações de Ciência e Informação na Rússia, parte considerável
do que foi apresentado pelos autores, em inúmeros trabalhos, pode e foi utilizado por
pesquisadores norte-americanos e brasileiros, principalmente no que diz respeito aos
atributos da informação científica.
Também devem ser citados os valores considerados para esse tipo de informação
e a atividades com esta relacionada como, por exemplo, o valor “econômico” e o valor
“social”, seja referente à necessidade de se trabalhar e tornar a informação para a
sociedade, seja ao analisar como a mesma a recebe ou assimila.
Mesmo que as críticas de Roberts (1976) e Freire (2004) sobre a ambigüidade e o
caráter restritivo desse aspecto “social” nos trabalhos de Mikhailov e colaboradores
possam ser corretas, em certos ângulos, não pode ser ignorado que os autores assumiram
postura e abordagem até mesmo inovadora, principalmente se considerarmos que nos
91

Estados Unidos, Brasil e Europa Ocidental, no mesmo período (final da década de 1960 e
inicio da de 1970), a área estava ainda embrionária na sua construção científica e
abordagens.
Sobre a segunda contribuição, em relação à disciplina Informatika/ Ciência da
Informação e suas propriedades, foi verificada consistência na sua concepção inicial e
definições decorrentes, de Mikhailov e colaboradores, no final de 1966, mantidas pelo
menos até fins dos anos 1980, e até hoje estudadas e reconhecidas. Os conceitos,
características e a estrutura da Informatika/ Ciência da Informação além de englobarem
múltiplos e diversificados aspectos (inter-relação com demais disciplinas, estudo teórico
da área, análise das novas tecnologias e dos meios automatizados de organização da
informação, recuperação da informação, entre outros), também assimilavam novas
questões e problemáticas que apareceram no decorrer dos anos, permitindo, assim, que a
área mantivesse sua atualidade e pertinência no seu campo teórico e prático.
Sobre a nomenclatura Informatika, proposta por Mikhailov e colaboradores para a
área, duas constatações merecem atenção, que justificaram a necessidade de se estudar
separadamente a construção e o uso dessa terminologia pelos autores.
A primeira é que, apesar da mesma, após a década de 1970, não ter sido utilizada
pela Ciência da Informação fora da URSS/ Rússia, os conceitos e características
construídos por Mikhailov - e que correspondem à Ciência da Informação, tal como é
compreendida no mundo - foram estudados e analisados, em alguns casos de forma
minuciosa e densa, em países como os Estados Unidos e o Brasil. A segunda é que as
propostas formuladas por Mikhailov e colaboradores, analisadas junto a outras
abordagens para o termo como, por exemplo, Informática, de Dreyfus e de Steinbuch,
quase sempre aparecem quando é realizado um estudo histórico da terminologia que
representa e denomina a área, reconhecendo a corrente de pesquisa soviética, que galgou
importância no desenvolvimento da Ciência da Informação.
A terceira e última contribuição, relativa à interdisciplinaridade, ou à inter-relação
entre a Informatika/ Ciência da Informação e outras disciplinas científicas, demonstra
que Mikhailov e colaboradores não só vislumbraram o caráter interdisciplinar da área,
como também identificaram as subáreas com as quais concretizava-se a
interdisciplinaridade, em menor e maior intensidade. Se essa análise carecia de maior
92

aprofundamento epistemológico, isso pode ser justificado pelo fato de a Ciência da


Informação, entre as décadas de 1960 até meados dos anos 1970, ainda não estar
suficientemente desenvolvida e não ter ainda maturidade epistemológica, como campo
científico, nem ter alcançado aprofundamento e densidade teóricas.
Além dessas contribuições, nesta dissertação foi identificada e discutida, no seu
decorrer, a presença e extensiva utilização de conceitos inspirados no marxismo-
leninismo, em alguns trabalhos de Mikhailov, o que pode ter criado alguma limitação
em aplicações nos países de outra orientação ou sistema político. Ao ser analisada, por
exemplo, a infra-estrutura de pesquisa e informação na antiga União Soviética, foi
verificado também que, apesar do caráter inovador e até mesmo grandioso desse sistema,
o mesmo sofria de certa limitação, em diferentes aspectos, oriundos de um regime
político e ideológico muitas vezes fechado e restritivo. Por outro lado, não pode ser
ignorado que a forte infra-estrutura informacional (instituições, serviços e produtos de
informação, eventos, publicações), cujo exemplo mais significativo é o VINITI, criou
um ambiente e propiciou o surgimento e os avanços de atividades de informação
científica e da própria Ciência da Informação na URSS. O colapso do comunismo na
Rússia, quase 40 anos depois, fez com que teorias e práticas em Ciência da Informação
fossem contestadas, porém, as críticas sobre alguns desses procedimentos e idéias já
existiam antes do fim da URSS, ou seja, a área de Informatika/ Ciência da Informação no
país já apresentava problemas ainda durante a existência da União Soviética.
Entretanto, apesar desses empecilhos, as idéias e contribuição teórica de
Mikhailov e colaboradores não perderam sua importância no tempo, para construção e
desenvolvimento epistemológico da Ciência da Informação, não somente na União
Soviética e Rússia, mas no mundo todo.
Durante esta pesquisa, uma questão paralela ao tema desta dissertação aparece,
relativa ao impacto do pensamento de Mikhailov na Ciência da Informação brasileira,
estudo que poderia ser realizado, por exemplo, por meio de análises de citações, o que
abre perspectivas para futuras pesquisas sobre a obra desse grande teórico ou sobre a
“corrente soviética” de pesquisa em Ciência da Informação. As fontes poderiam ser
artigos publicados em periódicos, comunicações em congressos da área e dissertações e
teses dos cursos de pós-graduação em Ciência da Informação no país, que permitiriam
93

identificar onde e de que forma as idéias do autor foram adotadas na área no Brasil. Nesta
pesquisa, esta questão aparece tangencialmente, na medida da revisão de literatura e não
foi aprofundada por não ser seu objetivo.
Esta dissertação pode ser concluída com a afirmativa de que o pensamento e
idéias de Miklhailov, ao lado de outros grandes pesquisadores norte-americanos,
soviéticos e da Europa ocidental contribuíram, direta ou indiretamente, para sedimentar
sólida base teórica e conceitual desse campo científico. Estes fundamentos permitiram a
sua sustentação e consolidação, a partir da década de 1960, e particularmente Mikhailov
tem seu nome firmado como um dos grandes teóricos da Ciência da Informação na
segunda metade do século XX, cujas idéias têm seu prolongamento até hoje -
permanecem vivas.
94

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