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ARTIGO ORIGINAL

Norbert Elias e a solidão dos moribundos

Norbert Elias and the loneliness of the dying


Edilson Baltazar Barreira Júnior 1

Resumo Palavras-Chave: Norbert Elias. Philippe


Ariès. solidão dos moribundos. morte.
O artigo busca identiÞcar as principais Medicina e Ciências Sociais.
ideias apresentadas pelo sociólogo
alemão Norbert Elias em seu livro Abstract
intitulado A solidão dos moribundos,
bem como estabelece um diálogo The article seeks to identify the main ideas
com o historiador francês Philippe presented by the German sociologist Norbert
Ariès, notadamente, a partir da obra Elias in his book entitled The loneliness of
denominada O homem diante da morte. the dying as well as establishing a dialogue
Ambos estudiosos tematizam sobre a with the French historian Philippe Aries,
morte no mundo ocidental moderno. A notably from the work called Man facing
proposta de Elias é debater a morte para death. Both scholars these deal about death
além do diagnóstico médico dos sintomas in the modern Western world. The proposal
físicos do envelhecimento e da morte, to discuss the death of Elijah is beyond the
com uma análise sociológica explicitada medical diagnosis of physical symptoms
na forma desumana como as sociedades of aging and death, with a sociological
industriais expõem seus velhos e analysis as explained in the inhumane
moribundos ao isolamento e à solidão. way the industrial companies expose their
Ariès, porém, mostra que a atitude do old and dying to isolation and loneliness.
homem perante a morte mudou muito ao Aries, however, shows that man’s attitude
longo dos séculos e que a forma como towards death changed much over the
é encarda hodiernamente é bastante centuries and how grubby it is today is
recente. A revisão de literatura mostra fairly recent. The literature review shows
que Elias critica Ariès ao apontar que that Elias Ariès critical to point out that
a posição deste último sobre a atitude the prosecution about the attitude toward
diante da morte como quase dogmática, death as an almost dogmatic, it extols the
pois enaltece a atitude tradicional de traditional attitude of quiet waiting for death
serena espera pela morte e despreza as and despises the fantasies of immortality
fantasias de imortalidade presentes hoje. here todays.

1 Mestre e doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará; Keywords: Norbert Elias. Philippe Aries.
Professor na Escola Superior da Magistratura do Estado do Ceará e
Pesquisador associado ao Núcleo de Estudos em Religião, Cultura e Política loneliness of the dying. death. Social
da Universidade Federal do Ceará Science and Medicine.

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Introdução é a obra principal com a qual Elias dialoga


em A solidão dos moribundos.
Este artigo propõe identiÞcar as
principais ideias constantes no livro A No seu livro O homem diante da morte,
solidão dos moribundos do sociólogo Ariès mostra que a atitude do homem
judeu Norbert Elias nascido na Alemanha perante a morte mudou muito ao longo dos
em 1897 e falecido na Holanda em 1990. séculos e que a forma como esta é hoje
A obra foi escrita em 1982, quando encarada é, na verdade, muito recente. As
o autor já estava com oitenta e cinco transformações da representação social da
anos, portanto um homem idoso que morte passam despercebidas, por serem
discute sobre envelhecimento e morte no muito lentas. O tempo que as separa
mundo ocidental moderno. Elias foi uma equivale às várias gerações e ultrapassa
testemunha do Século XX, sofreu com a capacidade da memória coletiva4. Para
as duas Grandes Guerras. Na Primeira, traçar um panorama dessas mudanças
ao ser convocado para o combate e na desde a Idade Média, Ariès se baseou em
Segunda, ao se deparar com a pobreza textos literários, inscrições em túmulos,
e luto com a morte trágica dos pais, em obras de arte e até diários pessoais.
especial da mãe que desapareceu em
Auschwitz1. A morte solitária, a que Ariès3 se
refere, é o ponto de partida de Norbert
A escolha de Norbert Elias para a feitura Elias5, em A solidão dos moribundos,
deste ensaio decorreu da importância assinalando que nas sociedades antigas
ocupada por ele nas ciências humanas, ou não industriais a morte era mitologizada
em particular, para as ciências sociais. Ele pela concepção de outra vida em um local
reivindicava constantemente uma ciência que poderia receber vários nomes como
dos homens que incorporasse não somente Hades, Inferno, Valhalha ou Paraíso. Nas
a tríplice repartição das ciências sociais sociedades industriais hodiernas, o homem
(Sociologia, Antropologia e Política), mas assume outras posições no enfrentamento
que também circunscrevesse disciplinas da Þnitude da vida; uma das atitudes
aÞns como a Psicologia, FilosoÞa, se manifesta no tabu de pensar sobre
História, Linguística, que resultasse a morte, afastando-a e encobrindo-a o
numa abordagem interdisciplinar2. Elias máximo possível da vida social e privada.
exprime que a relação com a morte, assim Alguns indivíduos assumem a posição de
como a vinculação com o corpo, é parte imortalidade, na qual repousa a concepção
fundamental do processo de interiorização, de que os outros morrem, mas eu não.
seja pela tolerância da morte em si mesma Assim, o autor aponta que se pode assumir
ou pela recusa das emoções que se a morte como um elemento signiÞcativo da
associam a ela. existência.

No elenco das obras publicadas O debate sobre a morte no


na França desde a década de 1970, Ocidente
sobre aquilo que me parece ser a crise
contemporânea da morte, Þgura o livro de A morte é afastada do debate social
Philippe Ariès3 intitulado O homem diante e qualquer pergunta sobre o Þm da vida
da morte publicado no Brasil em dois se restringe principalmente, ao ambiente
volumes pela Editora Francisco Alves. Esta médico. Elias sublinha que a morte não se

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prende unicamente ao atestado de óbito, as pessoas incapazes de se aproximarem


ao caixão e às cerimônias fúnebres, pois de moribundos, dando-lhes afeto e carinho,
muitas pessoas morrem gradualmente, pois a proximidade da morte dos outros
adoecem, envelhecem e são separadas do comunica a própria mortalidade.
convívio social, para Þnalmente morrerem
em completo isolamento daqueles a quem No plano social, Elias7 confere ao
eram afeiçoados. O isolamento ao qual recalcamento um sentido diferente. Ele
velhos e moribundos são submetidos situa o conceito dentro de sua formulação
revela a grande fragilidade das sociedades teórica de processo civilizador, cujo
industriais, pois os vivos têm enorme comportamento social em relação à
diÞculdade de identiÞcar-se com os morte está associado “a sentimentos de
moribundos. vergonha, repugnância e embaraço”5(p. 18),
chegando ao banimento para os bastidores
Com o passar do tempo e a da vida social ao longo do surto civilizador.
industrialização das sociedades, os Assim, para os moribundos, isto signiÞca a
sistemas que lançavam mão de crenças interdição do convívio social, o isolamento
sobrenaturais no enfrentamento dos perigos e a solidão.
e da morte foram cedendo espaço para os
sistemas seculares6, pois o aumento da O diálogo entre Elias e Ariès
expectativa de vida nessas sociedades
levou os indivíduos a se sentirem mais Elias dialoga com Philippe Ariès,
seguros. criticando a concepção historiográÞca do
Estudioso francês presente em seus vários
A segurança relativa e o aumento da trabalhos sobre a morte no Ocidente. Para
expectativa de vida retiraram a morte da Elias, Ariès entende a história como uma
vida pública. Elias aÞança que, nessas mera descrição, revelando em amplas
sociedades, há um recalcamento da imagens as mudanças de comportamento
morte, pois ela é cada vez mais adiada. A do homem ocidental diante da morte,
publicidade dos ritos funerários não é mais mas que no fundo não explica nada.
corriqueira como nas sociedades antigas e Elias entende que Ariès fundamenta seus
medievais. estudos em opiniões preconcebidas, como
a ideia de que antigamente as pessoas
Para a expressão morte recalcada, morriam calmas e serenas.
Elias atribui dois sentidos, sendo um no
plano individual e outro no social. No senso Elias argumenta que o quadro pintado
individual, o Estudioso alemão é tributário da por Ariès não era bem esse, porque a
formulação freudiana que se refere “a todo concepção antiga de morrer mais calmo
um grupo de mecanismos psicológicos de e tranquilo era uma idealização romântica
defesa socialmente instilados pelos quais e cortesã, já que a morte nas sociedades
experiências de infância excessivamente feudais medievais era incerta, breve e
dolorosas, sobretudo conßitos na selvagem. A diferença entre a atitude
primeira infância e a culpa e a angústia diante da morte no mundo medieval em
a eles associados, bloqueiam o acesso à relação aos Estados-nação ocidentais
memória”3(15-6). Nessas trincheiras cavadas industrializados é que a morte era uma
pelos indivíduos, é possível encontrar temática mais aberta nas conversas das
medos infantis relativos à morte, tornando sociedades medievais do que hoje. Na

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Época Medieval, a morte era menos oculta um moribundo passou a ser “contagioso”,
e mais familiar: portanto, só resta afastar-se para não
se contaminar. Assim, a separação
A vida na sociedade medieval era involuntária ou não, a que os moribundos
mais curta; os perigos, menos são submetidos, provoca neles a sensação
controláveis; a morte, muitas vezes de não pertença e de exclusão.
mais dolorosa; o sentido da culpa e o
medo da punição depois da morte, a Este afastamento silencioso,
doutrina oÞcial. Porém, em todos os semiconsciente ou não, dos vivos em
casos, a participação dos outros na relação aos moribundos perdura mesmo
morte de um indivíduo era muito mais após a morte. As tarefas e objetos para
comum. 5(p. 23) os funerais são deixados a cargo de
empresas especializadas, quando outrora
A morte, portanto, era mais pública em eram atividades executadas pela própria
épocas antigas, não existindo uma censura família. A memória do morto pode continuar
social, como ocorre hoje. A interdição permeando o ambiente familiar, mas os
da morte no contexto social afasta os corpos mortos e as sepulturas foram
moribundos do convívio comunitário e destituídos dos sentidos que em épocas
familiar, para morrerem em conÞnamentos passadas lhes eram conferidos9.
dos hospitais, em condições mais
higiênicas, mas em profunda solidão. Elias destaca o papel da memória
dos mortos para os vivos presentes ou
O sentimento vigente em nossos dias, futuros. Muitos vivos, querendo deixar
que exclui a morte e os moribundos da vida uma marca de sua existência para ser
social, desnuda a falência dos velhos rituais lembrada pelas gerações futuras, se
de pesar e suas convenções padronizadas, debruçam de forma incansável em criar e
as quais favoreciam o enfrentamento das realizar. Isso nem sempre é uma atividade
condições emocionais de luto. Os novos consciente, porém desvenda o medo da
rituais, na presente etapa civilizatória, morte, da Þnidade do esquecimento. As
manifestam a incapacidade de muitas gerações futuras julgarão o que deve ou
pessoas expressarem seus sentimentos não ser lembrado das épocas anteriores,
e emoções na vida pública e até mesmo pois “quando a cadeia da recordação
privada. Portanto os rituais religiosos de é rompida, quando a continuidade de
morte aliviam as angústias dos crentes, uma sociedade particular ou da própria
pois estes sentem que outras pessoas sociedade humana termina, então o
estão preocupadas com eles. Já os rituais sentido de tudo que seu povo fez durante
seculares, aludidos anteriormente, foram milênios e de tudo o que era signiÞcativo
destituídos de sentido, quando interditavam para ele também se extingue”5(p.41). Assim,
veladamente as excessivas demonstrações há mútua dependência entre as gerações,
de sentimento. cuja compreensão atual é obstaculizada
pela recusa na aceitação da Þnitude da
No atual estádio civilizatório, como vida individual.
ensina Elias, as pessoas quando estão
próximas aos moribundos são incapazes Elias ainda indica que a consciência
de demonstrar afeição e carinho, mediante da Þnitude do homem é muito antiga,
um toque de ternura. Tocar e acariciar8 mas a forma de encobri-la mudou com o

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passar do tempo. Em épocas antigas, os aconselham seus Þlhos sobre o início da


homens tinham nas fantasias coletivas, um vida sexual, alertando acerca de doenças
mecanismo para lidar com a morte. Isto, e gravidez indesejada. A conversa dos pais
porém, não quer negar que presentemente ainda está muito restrita ao que evitar e
não desempenhem papel algum, mas, pouco se fala sobre outras dimensões da
com a escalada da individualização, elas sexualidade. Portanto, o sexo, como área
perderam força, sendo substituídas por interdita da vida social, mudou ao longo do
fantasias pessoais de imortalidade. século XX.

No debate entre as crenças coletivas A relação entre sexo e morte Þgura no


dos antigos e as fantasias de imortalidade trabalho de Georges Bataille (1897-1962)
dos contemporâneos, Elias mais uma vez intitulado O erotismo. Para Bataille10, o
critica o trabalho de Ariès. O Sociólogo erotismo tem função intermediária da vida
alemão reconhece a erudição do Historiador com a morte ou da paz com a violência,
francês, mas ressalva que lhe faltam os conÞgurando-se numa regra, a qual impõe
modelos teóricos na elaboração de uma disciplina e ordem ao homem, separando-o
história de longa duração, bem como a da animalidade. A violação a esta ordem,
ausência de uma concepção do que seja essencialmente ligada ao sexo, não
impulso à individualização. Para Elias, Ariès constitui a sua abolição, mas o seu
comete um erro quando, de forma quase complemento, já que o tabu existe para ser
dogmática, enaltece a atitude tradicional transgredido. Diferentemente de Platão,
de serena espera pela morte e despreza Bataille entende que o eros não leva mais
as fantasias de imortalidade presentes no à eternidade do mundo das ideias, mas à
momento. Ele aÞança, porém, a ideia de experiência concreta da morte. Portanto,
que, no curso do processo civilizador, as para o estudioso francês, o erotismo “é
ideações coletivas diminuíram o impacto ora o amor, a santidade, a ascese, ora a
sobre as mentes individuais, a tal ponto libertinagem, o deboche, a obscenidade,
que as fantasias individuais de imortalidade porém não consegue permanecer entre
surgem com maior destaque. esses termos opostos, sem identiÞcar-se
nem com uns nem com outros”11(p.65).
A morte e o sexo foram áreas
sociobiológicas mais permeadas de tabus. Assim, no curso de século XX, o sexo
Em torno do sexo, existia grande número e a morte percorreram caminhos distintos.
de normas religiosas, morais e sociais Enquanto, as representações sobre sexo se
que não podiam ser violadas. Nas últimas desvencilhavam dos tabus a elas impostas,
décadas, contudo, mudança signiÞcativa o embaraço, a agonia, a ocultação e o
ocorreu nas sociedades. Nas escolas, os isolamento da morte aumentaram, tornando
professores falam abertamente aos alunos a aproximação dos vivos aos moribundos
sobre métodos anticonceptivos e o exercício semelhante à reação das pessoas sobre
da sexualidade. Os meios de comunicação os encontros abertos na vida social da era
recomendam em múltiplas campanhas vitoriana. Elias resume:
publicitárias o uso de preservativo, a Þm de
evitar doenças sexualmente transmissíveis. Tanto a sexualidade como a morte
A família, um dos últimos bastiões da são fatos biológicos moldados pela
resistência, conseguiu quebrar algumas experiência e pelo comportamento
barreiras civilizadoras, pois os pais já de maneira socialmente especíÞca,

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isto é, de acordo com o estágio o Renascimento, pois, mesmo após


alcançado pelo desenvolvimento da muitas variações, permanece ainda hoje.
humanidade, e da civilização como O caminho percorrido por este surto à
um aspecto desse desenvolvimento. individualização apresentou várias etapas.
Cada indivíduo assume os padrões Nas fases iniciais, o sentido estava posto
sociais comuns à sua própria maneira. na ideia da vida sociável e morte solitária,
5 (p.53-4)
. pois se podia viver em alegria com os
outros, porém o momento da morte deveria
A relação das pessoas com a morte ser solitário. Elias assinala que uma
não Þca circunscrita apenas ao aspecto pessoa, ao perceber a aproximação de sua
biológico, mas, ao longo do processo de morte e perdendo o sentido para os outros,
civilização, as mudanças associadas a vivencia a experiência de verdadeiramente
essa relação revelaram mais nitidamente estar sozinho.
o problema sociológico da morte nas
sociedades contemporâneas. Elias Este estar sozinho o qual descreve Elias
assevera que é no mundo ocidental onde é uma das muitas variantes do conceito
a morte atinge alto grau de recalcamento de solidão, que também pode signiÞcar o
desde algumas características. A primeira amor ferido de uma pessoa no passado,
apontada por ele diz respeito ao fato de que cuja lembrança no presente faz evocar as
nessas sociedades a morte é considerada dores e as marcas. Desta forma, indivíduos
algo distante, em virtude da expectativa de assim atingidos, involuntariamente,
vida ter sido aumentada com o incremento ocultam seus sentimentos em relação aos
de novas técnicas médicas. Aliada, outros, vivendo uma forma de solidão.
diretamente a esta característica, outra Também pode signiÞcar o fato de pessoas
revelada por Elias mostra que nessas viverem no meio de outras, mas que já
sociedades a experiência da morte é vista perderam o sentido para estas, como é o
como um estádio Þnal de um processo caso dos mendigos e bêbados deitados nas
natural, ocorrente na velhice. A terceira calçadas e ignorados pelos transeuntes. A
característica que ele registra é o alto grau forma extrema de solidão, destacada pelo
de paciÞcação interna vivida por essas Sociólogo alemão, diz respeito à condição
sociedades, que leva as pessoas a criarem como os judeus eram levados para as
imagens de uma morte pacíÞca, na qual câmaras de gás nos campos nazistas -
o indivíduo falece após um período de reunidos ao acaso, homens, mulheres,
enfraquecimento decorrente da própria crianças e velhos, todos nus, rumo à morte,
velhice. Por Þm, a última característica das desconhecidos entre si, sozinhos no meio
sociedades industriais revela-se no alto de muitos.
grau de individualização, em que a morte
no imaginário e na memória de uma pessoa Considerações Finais
aproxima-se da imagem que possui de si
mesma. Em outro texto de Elias, também
inserido no livro A Solidão dos moribundos,
Elias acentua que a natureza especial ele retoma alguns problemas sociológicos
da morte e sua experiência nas sociedades do envelhecer e morrer. O estudioso
industriais não podem ser devidamente tedesco ressalta que há grande diÞculdade
compreendidas sem o grande impulso das pessoas mais jovens em entenderem
da individualização estabelecido desde ou imaginarem o momento em que as

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2. Waizbort L. organizador. Dossiê Norbert Elias.


pernas deixarão de obedecer às suas São Paulo: Edusp; 2001.
vontades. Muitos veem a condição do
3. Ariès P. O homem diante da morte. Rio de Janeiro:
idoso, embora semiconsciente, como um Francisco Alves; 1981. 2 v.
desvio social, pelo qual não querem passar.
4. Halbwachs M. A memória coletiva. São Paulo:
Os mais jovens têm grande diÞculdade de Vértice; 1990.
se colocar na posição vivida pelos velhos.
5. Elias N. A solidão dos moribundos seguido de
Presentemente, resiste-se à ideia de
envelhecer e morrer. Rio de Janeiro: Zahar;
envelhecimento12 e da morte o máximo 2001.
possível, pois envelhecer é Þcar tutelado
6. Berger P. L. O dossel sagrado. São Paulo: Paulus;
e potencialmente mais dependente dos 1985.
outros, perdendo o poder e o controle de
7. Elias N. O processo civilizador: uma história dos
outrora. costumes. Rio de Janeiro: Zahar; 1994. v. 1.
8. Bologne J. C. Do sagrado ao íntimo. In: Cahen.
Elias contrapõe a forma de morrer nas G. organizador. O beijo. São Paulo: Mandarim;
sociedades contemporâneas, com a de 1998.
falecer nas sociedades medievais ou pré- 9. Riedl T. Últimas lembranças: retratos da morte,
industriais. Na maneira antiga, a família no Cariri, região do Nordeste Brasileiro. São
estava no centro do cuidado dos velhos e Paulo: Annablume; 2002.
moribundos, pois era no espaço familiar 10. Bataille, G. El erotismo. Madrid: Tusquets; 2005.
que eles recebiam proteção e afeto, mesmo 11. Perniola, M. Pensando o ritual: sexualidade,
em situações higiênicas adversas. morte, mundo. São Paulo: Studio Nobel; 2000.
12. Beauvoir, S. A velhice. Rio de Janeiro: Nova
Portanto, a pretensão de Elias é Fronteira; 1990.
completar o diagnóstico médico dos
sintomas físicos do envelhecimento e da
morte, com um diagnóstico sociológico
explicitado na forma como as sociedades Endereço para correspondência:
industriais expõem seus velhos e Edilson Baltazar Barreira Júnior
moribundos ao isolamento e à solidão Rua Cônsul Gouveia, 198
Carlito Pamplona - CEP 60.335-390
Referências Fortaleza - Ceará
1. Heinich N, Elias N. História y cultura em occidente. E-mail: edilsonbarreira@yahoo.com.br
Buenos Aires: Nueva Visión; 1999.

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