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Entre 1883 e 1889 Bismarck introduziu na Alemanha um amplo serviço público de saúde, então um
seguro de acidentes e por fim um seguro invalidez: a causa do sucesso da economia de mercado
alemã.
“Minha ideia era ganhar a classe trabalhadora, ou melhor dizendo, suborná-la, para que visse
o Estado como uma instituição social composta por ela e que deve se ocupar de seu bem estar”. Assim
justificou Otto von Bismarck a introdução do primeiro sistema de seguridade social do mundo. Não
se tratava de uma declaração hipócrita, muito menos cínica: ela era sincera.
A ideia de que esses benefícios deveriam ser suficientes para cobrir todos os custos de
sobrevivência surgiu apenas no período entre as duas grandes guerras mundiais. E, de fato, apenas
com a reforma do sistema de previdência de Konrad Adenauer, em 1957, o sistema de seguridade se
tornou plena realidade. Desde então existe o conhecido sistema de ampla seguridade social alemão.
Sem a seguridade social haveria a permanente ameaça de que uma enorme massa de
trabalhadores caísse na miséria, como já havia mostrado o primeiro terço do século 19, com suas
previsíveis consequências políticas e econômicas. “A situação das classes trabalhadoras” tal qual
exposta por Engels era tão ruim, que na Europa continental, especialmente após 1850, um movimento
operário radical ganhou força, com esperanças revolucionárias. A seguridade social era uma
consequência direta do capitalismo e o fazia ao mesmo tempo capaz de sobreviver – ele estabilizava
o poder compra das massas e tinha também um significado econômico positivo.
Essas tarefas não podiam ser cumpridas pelas formas de seguridade social até então existentes.
E não havia qualquer alternativa privada ao sistema estatal de seguridade. Nos tempos pré-capitalistas
não havia qualquer forma de seguridade coletiva. Contra os riscos da vida, a única instância existente
para a proteção social era a família. A igreja e outras instituições religiosas se ocupavam dos pobres,
depois da reforma protestante gradativamente mais as comunidades religiosas elas mesmas, já que ao
menos no mundo protestante foram elas que assumiram atividades de apoio aos pobres que até então
eram desempenhadas pelas instituições formais da Igreja Católica. Mas essas atividades ajudavam
evidentemente muito pouco. Havia uma forma extrema de pobreza em todas as sociedades europeias,
em parte até meados do século 19.
Com efeito, as primeiras formas de seguridade coletiva surgiram com base em cálculos
matemáticos. Elas também eram bastante limitadas, atingiam apenas viúvas e órfãos e, mesmo assim,
apenas pequenos grupos de pessoas; não se tratava de instituições para as massas, assim como não o
eram as guildas e as associações comerciais, cujos membros se apoiavam reciprocamente. Com o
“nascimento do proletariado” essas formas tradicionais de seguridade estavam sobrecarregadas. A
questão social, como se chamava o problema do empobrecimento do proletariado desde o início do
século 19, exigia novas respostas.
A resposta foi dada pela introdução de uma seguridade social obrigatória, pouco a pouco, em
todos os países industrializados. E, apesar do sistema ser parecido em todos esses países, existem
também diferenças importantes entre eles. O sistema alemão protege os cidadãos de modo abrangente,
mas não é organizado diretamente pelo Estado – é bastante diferente, portanto, de sistemas
estritamente estatais de seguridade, como é o caso de França ou Japão, ou mesmo da rede complexa
de seguridade dos Estados Unidos, onde seguros privados têm um papel muito importante. Um amplo
sistema de seguridade social não existe por lá, até os dias de hoje.
Estagnação do desemprego
Tampouco os alemães queriam, a princípio, uma solução ampla e abrangente. A ideia era
apenas garantir o nível de empregos. Coexistiam então um sistema público e um sistema privado,
embora o sistema estatal fosse responsável apenas pelos casos de seguro com “maior risco”.
Apenas depois da segunda guerra mundial, quando havia aparentemente dinheiro suficiente,
o sistema de seguridade foi ampliado fortemente e seus benefícios melhorados dramaticamente. Isso
atingiu não apenas o sistema de seguridade social, como também outros serviços de apoio aos pobres,
que não estavam relacionados com relações de trabalho – o que se deu por meio de uma modificação
da legislação no começo dos anos 1960. Desde então, os empregados não estavam mais expostos
diretamente aos riscos do mercado diretamente, como aponta o sociólogo Rainer M. Lepsius. A ideia
de Bismarck de que os trabalhadores deveriam ser vistos como beneficiários do Estado não estava
completamente realizada, mas bastante próxima.
Isso teve consequências. De um lado, esse desenvolvimento contribuiu para uma relativa
estabilização das taxas de desemprego. Por outro lado, o sistema de seguridade mostrou-se, em
tempos de crise, um estabilizador automático, que diminuía uma queda grande e brusca da demanda
e, com isso, do emprego. A seguridade social pertence por isso a qualquer ordem capitalista. Ela é
uma condição, um pressuposto, uma consequência do bem-estar da população como um todo.
Contudo, ela precisa ser constantemente adaptada. Seja às possibilidades financeiras, seja aos riscos
que uma sociedade está disposta a tomar.