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MUNDO
Geografia e Política Internacional
as comemorações do quinto
século do “Descobrimento”.
DO
3- “Oswald através de uma simbologia rica nos mostra O Rei da Vela se mantendo na base da exploração (...), do
conchavo com a burguesia rural, com o imperialismo, com o operariado etc, para manter um pequeno privilégio
(não é o rei do petróleo, do aço, mas simplesmente o da mixuruca vela). Toda essa simbologia procura conhecer a
realidade de um país sem História, preso a determinados coágulos que não permitem que essa história possa fluir.”
4- “Cada vez mais o litoral encurrala o sertão, especializando-se em inépcia à medida que este se especializa em
miséria moral e ignorância. O beco é sem saída. A República, feita para uso e gozo de sua mediocridade rapinante,
E X P E D I E N T E não resolve problemas sociais. Digere. Joga pôquer. Percebe porcentagens. Não lhe sobram olhos (...).” (Monteiro
Lobato, escritor pré-modernista, em A onda verde).
MUNDO - Geografia e Política Internacional é uma publicação
de Pangea - Edição e Comercialização de Material Didático LTDA.
5- “Ao longo das praias brasileiras de 1500, se defrontavam, pasmos de se verem uns aos outros tal qual eram, a
selvageria e a civilização. (...) Nada é tão continuado, tampouco é tão permanente, ao longo desses cinco séculos, do
Redação: Demétrio Magnoli (Editor), Nelson Bacic Olic (Carto- que essa classe dirigente exógena e infiel a seu povo. (...) Tudo, nos séculos, transformou-se incessantemente. Só ela,
grafia), José Arbex Jr., Jayme Brener. a classe dirigente, permaneceu igual a si mesma, exercendo sua interminável hegemonia. Senhorios velhos se suce-
Jornalista Responsável: José Arbex Jr. (MT 14.779) dem em senhorios novos (...), numa férrea união super-armada e a tudo predisposta para manter o povo gemendo
Revisão: Paulo César de Carvalho
Diretor Comercial: Cristina Carletti e produzindo.” (Darcy Ribeiro, antropólogo, na obra O Povo Brasileiro -A formação e o sentido do Brasil).
Projeto e editoração eletrônica: Wladimir Senise
Endereço: Rua Romeu Ferro, 501, São Paulo - SP. 6- “O Brasil não tem vocação para a mediocridade.” (Lúcio Costa, urbanista).
CEP 05591-000. Fone: (011) 2104069 - Fax: (011) 8701658 -
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3. Regulamento do concurso
Rio Grande do Sul: Euler de Oliveira. Fone: (051) 2468732 - Fax: As escolas conveniadas receberão um regulamento detalhado. Divulgamos, abaixo, os principais tópicos:
(051) 3434466. Bahia: Alitônio Carlos Moreira. Fone: (071) • Podem participar todos os alunos de 2º Grau das escolas que assinam Mundo ou T&C. Cada escola poderá
3713979 - Fax: (071) 3320277. Santa Catarina: Roberto Lima. enviar até três redações. Tomamos a liberdade de sugerir que as escolas realizem um concurso interno de
Fone: (048) 9726249. Mato Grosso do Sul: Gilda Falleiros. Fone e seleção. Só receberemos os trabalhos indicados pelas escolas. Serão aceitas as redações recebidas na sede de
Fax: (067) 3829456. Pará: José Milton Morais. Fone: (091)
2498184. Maranhão: João José Campos. Fone: (098) 2381842 - Pangea, em São Paulo (v. endereço no Expediente), até o prazo de 10 de julho de 1998.
Fax (098) 2381736. • As dissertações deverão ter até 40 linhas (atenção: o título é obrigatório). Cada escola receberá três formulári-
Colaboradores: Newton Carlos, J. B. Natali, Nicolau Sevcenko, os, para a transcrição dos textos escolhidos. Adequadamente preenchidos -com letra legível !-, deverão ser
Gilson Schwartz, Rabino Henry I. Sobel, Hassan El Emleh (Fed. remetidos à sede de Pangea. Este formato é obrigatório, inclusive para garantir o sigilo.
Palestina do Brasil) e as ONGs Anistia Internacional e Greenpeace.
Homepage: http://www.uol.com.br Link Mundo
• Os trabalhos serão avaliados por uma Comissão Julgadora integrada por professores de Comunicação e
Expressão de reconhecido saber e experiência no ensino médio. Sua composição será divulgada oportuna-
Assinaturas: Por razões técnicas, não oferecemos assinaturas indivi- mente. Os autores das cinco melhores redações serão premiados por Pangea e empresas que patrocinam o
duais. Exemplares avulsos podem ser obtidos nos seguintes endere- concurso. Os prêmios serão divulgados brevemente.
ços, em SP: • A redação vencedora será publicada e comentada nas sextas edições de Texto & Cultura e Mundo (final de
• Laboratório de Ensino e Material Didático (Lemad) - Prédio do
Depto. de Geografia e História - USP outubro). Importante: todos os autores concedem a Pangea o direito de publicação das redações, sem remuneração
• Banca de jornais Paulista 900, à Av. Paulista, 900. autoral, no próprio boletim ou sob outra forma. Os trabalhos enviados não serão devolvidos.
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E D I T O R I A L 3
HÁ DOIS ANOS, O EDITORIAL A FUVEST OUSOU. A SUA PROVA IUGOSLÁVIA DESPEDAÇADA. PAULISTA”. A USP, PRINCIPAL UNI-
DE MUNDO LASTIMAVA A PROVA DE DE 1998 É UMA DECLARAÇÃO DE AMOR MUNDO NÃO TEM MEDO DE FA- VERSIDADE DO PAÍS, DEFINE PARÂ-
GEOGRAFIA APRESENTADA PELO VES- À GEOGRAFIA. AS ABORDAGENS DA SO- ZER A CRÍTICA NO TOM QUE AS CIRCUNS- METROS QUE REPERCUTEM EM TO-
TIBULAR DA FUVEST DE 1996, CLAS- CIEDADE E DA NATUREZA ESTÃO INTE- TÂNCIAS EXIGEM. HÁ DOIS ANOS, ACU- DAS AS REGIÕES, INFLUENCIANDO O
SIFICANDO-A COMO CELEBRAÇÃO GRADAS E SE REFLETEM NO ESPELHO DA SAMOS A FUVEST DE “RELEGAR A GEO- ENSINO SUPERIOR E O ENSINO MÉ-
DOS “MANUAIS DE GEOGRAFIA DES- CARTOGRAFIA. A LENTE DA GEOGRAFIA GRAFIA À CONDIÇÃO DE DISCIPLINA DIO. COM ESSA PROVA COMOVENTE,
CRITIVA DO TEMPO DOS NOSSOS POLÍTICA FILTRA INFORMAÇÕES SÓCIO- DESCARTÁVEL” E DE “SABOTAR O ESFOR- A FUVEST ASSUMIU A SUA RESPON-
PAIS”.HÁ UM ANO, OUTRO EDITO- ECONÔMICAS E AMBIENTAIS. OS FENÔ- ÇO IMENSO DE RENOVAÇÃO DO ENSINO” SABILIDADE. ELA REFERENDOU A
RIAL AVALIAVA A PROVA DE 1997 MENOS DA GLOBALIZAÇÃO TRANSPARE- DA DISCIPLINA. AGORA, É DEVER DE JUS- PRÁTICA COTIDIANA DE MILHARES
COMO UM NOTÁVEL AVANÇO, MAS CEM NA DESCONCENTRAÇÃO INDUSTRI- TIÇA CUMPRIMENTAR A MESMA FUVEST, DE PROFESSORES QUE, NAS SALAS DE
ASSINALAVA QUE, APESAR DISSO, CON- AL, NA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA, NOS QUE OFERECE UMA PROVA IRRETOCÁVEL AULA, FAZEM DA GEOGRAFIA UMA
TINUAVA DISTANTE DAS EXPECTATI- BLOCOS REGIONAIS, NO COMÉRCIO - UM MERECIDO PRESENTE DE FIM DE GRAMÁTICA DO MUNDO, UM INS-
VAS. NÓS DIZÍAMOS: “TODOS ESPE- MUNDIAL E NAS MIGRAÇÕES INTERNA- ANO AOS PROFESSORES DEDICADOS E TRUMENTO DE FORMAÇÃO DA CI-
RAM QUE A FUVEST OUSE. QUE ELA CIONAIS.E MAIS: A PROVA DA FUVEST, COMPETENTES, AOS ESTUDANTES CAPA- DADANIA. E REPROVOU SEM DÓ OS
PRODUZA PROVAS MELHORES E MAIS ANTENADA COM O MUNDO CONTEM- ZES DE INTERPRETAR O TEXTO IMPRESSO ARAUTOS DA “ GEOGRAFIA ” DE
CRIATIVAS QUE AS OUTRAS, DITAN- PORÂNEO, TRAZ A RÚSSIA PÓS-COMU- NO ESPAÇO GEOGRÁFICO. ALMANAQUE, SENTINELAS DE UMA
DO O RITMO DE RENOVAÇÃO DO NISTA, A INCORPORAÇÃO DE HONG OS EXAMES VESTIBULARES DA TRISTE TRADIÇÃO, AVESSA AO CON-
ENSINO DE GEOGRAFIA”. KONG PELA CHINA, AS FRONTEIRAS DA F UVEST NÃO SÃO UM “ ASSUNTO CEITO, À CURIOSIDADE E À CRÍTICA.
mal do país, frustrando as esperanças balcânica. Mas, com Israel, e tornou-se um poderoso
do Ocidente num acordo de paz. 1 durante a Guerra ESTREITO DE
BÓSFORO
ímã para as repúblicas ex-soviéticas da
SÍRIA
Chipre é uma pequena ilha, com 9.250 da Bósnia (1992- Ásia Central, ricas em petróleo, que
CHIPRE
km2 e cerca de 750 mil habitantes, lo- MAR MEDITERRÂNEO
LIBANO
2 95), ela funcio- ESTREITO DE
DARDANELOS
querem escapar à influência exclusiva
calizada no Mediterrâneo oriental (veja ISRAEL nou como obstá- da Rússia.
JORDÂNIA
o Mapa). Na sua aparente insignificân- 3 culo interposto Há um ano, a Grécia sugeriu
LÍBIA 3 CANAL DE
SUEZ
EGITO
cia, constitui fonte de aguda dor de ARÁBIA
SAUDITA
entre o Ocidente que a UE considerasse a candidatura
cabeça que atormenta Washington há e os Bálcãs. De de Chipre ao bloco. Era uma brilhante
24 anos: o estado de beligerância la- um lado, por bai- iniciativa diplomática, destinada a co-
tente entre a Grécia e a Turquia. pão, enquanto os turco-cipriotas pro- xo do pano, permitiu o trânsito de su- locar a Turquia na encruzilhada. Op-
Povoada por gregos, mas domi- clamavam um Estado autônomo, só primentos militares para a Sérvia. De tando por um acordo sobre Chipre, a
nada pelo Império Otomano entre reconhecido pela própria Turquia. outro, multiplicou atritos diplomáti- Turquia estaria abrindo caminho para
1570 e 1878, Chipre é habitado por O Mediterrâneo oriental apre- cos com a Albânia, a Macedônia e a o ingresso da ilha na UE e, talvez, para
78% de gregos étnicos, cristãos orto- senta tradicional interesse estratégico. Bulgária, países com significativa po- a sua própria e tão sonhada adesão.
doxos, e 18% de turcos étnicos, mu- Os petroleiros provenientes do Golfo pulação muçulmana. No fundo, a Gré- Optando pela discórdia, selaria o seu
çulmanos. Em 1974, a Grécia, sob re- Pérsico e do Canal de Suez o atraves- cia temia a expansão da influência tur- isolamento e ainda correria o risco de
gime militar, estimulou uma tentativa sam antes de chegar aos portos da Eu- ca na região. A política grega está mu- ver a porção greco-cipriota da ilha ser
de golpe em Chipre dos defensores da ropa Ocidental. A frota russa no Mar dando. Ela cortou laços com os sérvios, aceita no bloco. As eleições em Chipre
enosis - a reunião com a “mãe-pátria”. Negro o alcança depois de navegar pe- participou das forças da ONU que pa- são o prosseguimento dessa estratégia.
Foi o sinal para a intervenção militar los estreitos de Bósforo e Dardanelos, cificaram a Albânia, tornou-se o mai- Agora, de olhos postos na Turquia,
da Turquia, que ocupou o terço seten- controlados pela Turquia. Este país re- or investidor na Macedônia e na americanos e europeus esperam uma
trional da ilha. A mediação da OTAN, presentou o pilar principal do flanco Bulgária. E - grande surpresa ! - o seu postura flexível dos turco-cipriotas.
integrada tanto por gregos como por sul da OTAN durante a Guerra Fria. ministro do exterior defendeu recen- Afinal, a ilha minúscula é uma chave
turcos, evitou a guerra. Depois, forças Com o fim da Guerra Fria, tornou-se temente a candidatura da Turquia à da porta que separa o Ocidente do
da ONU estabeleceram uma zona-tam- ainda mais importante estabelecer um União Européia (UE). Oriente.
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4 Estados em decomposição, terras sem lei
© Benito/Gamma-Keystone
Zeroual. A verdade é que há no país uma guerra civil
entre um governo ilegítimo e facções islâmicas que
rejeitam qualquer diálogo - até com as principais for-
ças políticas representativas da população muçulma-
na. Os massacres são cometidos pelos dois lados. E
os 30 milhões de argelinos são reféns de vinganças
assassinas. Marginalizada, a FIS lançou uma campanha O banho de sangue gerou sua própria lógica.
A guerra explodiu em 1992, depois que o go- terrorista contra alvos do governo. Seus militantes Um comando do GIA escolhe uma aldeia em que
verno anulou eleições legislativas vencidas pela Frente vinham das camadas mais pobres da população, os vivem meia dúzia de militares. No ataque, eles, suas
Islâmica de Salvação (FIS). Os vencedores prometiam órfãos do modelo econômico. Formaram-se vários famílias, vizinhos e amigos são degolados para “dar o
abolir os partidos rivais e instalar um regime inspira- grupos guerrilheiros, entre eles o GIA. O grupo ob- exemplo”. Ou então o alvo é uma aldeia berbere (veja
do nas leis islâmicas. Mas houve um golpe de Estado teve o apoio do Irã e a adesão de centenas de antigos o Box), suspeita de colaborar com o governo. Dias
“preventivo”, tolerado pela União Européia - princi- voluntários argelinos, que cerraram fileiras com a guer- depois, é a vez do exército ou dos esquadrões da morte
palmente a França. Temia-se que um Estado islâmico rilha muçulmana contra os soviéticos, na guerra do paramilitares se vingarem. Em outubro de 1997, a
fundamentalista na Argélia, similar ao Irã dos aiato- Afeganistão, nos anos 80. Em junho de 1992, a guer- FIS anunciou a suspensão unilateral da luta armada,
lás, contaminasse outros países do Maghreb, como o rilha islâmica matou o presidente Mohammed depois de um ataque na região de Blida, aparente-
Marrocos e a Tunísia. Boudiaf. Foi o sinal para o início de uma intensa cam- mente cometido pelo GIA, que matou 200 civis. Os
Isso poderia ferir interesses econômicos. A panha repressiva contra a maioria muçulmana. O go- dirigentes do GIA acusaram a Frente Islâmica de “trair
França traz da Argélia um terço do gás que consome. verno armou mais de 150 mil civis, enquanto boa parte a revolução”. O governo do presidente Zeroual es-
Um gasoduto de 1.400 quilômetros, inaugurado em de seus 500 mil soldados dedicavam-se a proteger fregou as mãos de contentamento. Nada melhor do
1996, atravessa o deserto argelino levando combus- gasodutos, refinarias de petróleo e instalações de em- que a ameaça do “terror islâmico”, para justificar seu
tível à Espanha e Portugal. O governo francês temia presas estrangeiras no país. O serviço secreto argelino reinado.
também que a militância islâmica alcançasse as suas também tomou suas providências, infiltrando agentes
fronteiras. São quase 800 mil argelinos e descenden- no GIA e organizando massacres bárbaros, logo atri-
tes vivendo na França. buídos aos “terroristas muçulmanos”.
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CRISE ASIÁTICA,
CRISE GLOBAL ? Desastre financeiro abala crença no “Século do Pacífico”
Desde o início do século XVI, por mais de quatro séculos, o Ocidente ascendeu na economia-mundo. (...) Em 1950, depois de um século e meio de industrialização ocidental, a sua parte na riqueza atingia 56%, enquanto a sua parte da
população pairava em torno de 17%. A Ásia, com 66% da população global, controlava apenas 19% da riqueza, contra 58% em 1820. Em 1992, impulsionada por altas taxas de crescimento, a parcela asiática da riqueza tinha se elevado
Gilson Schwartz a 33%. Essa tendência histórica deve prosseguir e conduzirá à reemergência da Ásia (...) Em torno de 2025, a Ásia deve reassumir o seu lugar no centro da economia-mundo. Ela poderá abrigar então 55% a 60% da riqueza, com a parcela
Da Equipe de Colaboradores do Ocidente retrocedendo dos 45% de hoje para algo entre 20% e 30%.
(Steven Radelet e Jeffrey Sachs, “A Reemergência da Ásia”, Revista Foreign Affairs, novembro-dezembro 1997, p. 44-46)
ricanos denunciaram a “distância crescente entre os bertação, pensa que João Paulo II, “extremamente
muitos que têm pouco e os poucos que têm muito” sensível à dimensão da justiça e da ética social”,
e estabeleceram como prioritária a “opção pelas depois de ver o que significou o triunfo do neolibe-
vítimas de estruturas sociais injustas”. ralismo, afinal concordou com críticas da Teologia
Naquele ano, João Paulo II fez uma viagem à da Libertação, mostrando um “sistema perverso e
Polônia, a primeira como papa ao seu país natal, desumano”. A questão que se colocaria, a partir de
impregnada de anticomunismo. As idéias de cria- Letônia, que o marxismo “tem pitadas de verdade”. agora, é saber se é ou não possível mudar a “alma”
ção de uma “Igreja popular”, o surgimento de mo- A viagem a Cuba se realizou já sem os “condiciona- do sistema sem mudar o próprio sistema. Boff acre-
vimentos de “cristãos para o socialismo” e a presen- mentos” antes produzidos pelo medo ao comunis- dita que não e ainda vê ambigüidades nos discursos
ça de padres em guerrilhas acabariam se tornando mo. O Sínodo das Américas cuidou de exorcizar os de João Paulo II, embora ele tenha assumido, se-
insuportáveis para uma hierarquia preocupada com medos antigos, tarefa nada complicada, tendo em gundo o teólogo brasileiro (que foi uma das víti-
a quebra do sistema de poder vertical da Igreja. Ou vista o naufrágio do chamado “socialismo real”. A mas do ex-Santo Oficio), princípios fundamentais
com a própria sobrevivência da Igreja como insti- idéia de reprodução, no Caribe, dos acontecimen- da Teologia da Libertação: a opção pelos pobres deve
tuição. A Teologia da Libertação “navega com os tos de 1989 na Europa Oriental foi esfriada pelo ser de toda a Igreja, e não apenas dos teólogos, e a
ventos da dialética marxista e das lutas de classes próprio Vaticano. Fontes da Igreja em Roma passa- fé deve ter dimensão pública e política, não apenas
em suas preocupações com os pobres”, disparou o ram a jornalistas a informação de que o papa não mística e eclesiástica.
cardeal alemão Joseph Ratzinger, chefe do ex-San- quer que se repita em Cuba o que sucedeu no anti- Uma coisa é certa: João Paulo II é, provavel-
to Ofício. “Há mistura de verdades cristãs com op- go império soviético, “o advento de um capitalis- mente, o papa mais “político” e mais “intervencio-
ções fundamentalmente não cristãs e é inadmissí- mo selvagem, de máfias”. nista” deste século. Em seu papado, as representa-
vel o emprego da análise marxista, por parte dos Os discursos no Brasil, em outubro do ano ções diplomáticas no Vaticano já chegam a 165.
cristãos, na interpretação da realidade social e eco- passado, já tinham deixado clara a inconformidade Eram 87, há vinte anos. O livro Sua Santidade, de
nômica”, foi o arremate do golpe final. papal com os rumos do pós-comunismo. Na estei- Carl Bernstein e Marco Politi, mostra como o anti-
A Igreja, segundo Ratzinger, não podia ficar ra de ataques ao “capitalismo desregrado”, social- comunismo condicionou esse intervencionismo.
reduzida a uma parte do povo cristão, do qual “tam- mente “irresponsável”, João Paulo II afirmou que Um dos confidentes de João Paulo II foi Bill Casey,
bém fazem parte não pobres e não oprimidos”. Qual nenhum sistema econômico é completo sem justi- ex-diretor da CIA. O alvo agora seria o neolibera-
não foi a surpresa, portanto, quando há quatro anos ça social e é inaceitável o livre-mercado, que pro- lismo ? O próprio papa teria dito, segundo indis-
João Paulo II teve gesto de gentileza para com Karl move individualismo excessivo e compromete o crições de íntimos, que “acabado o comunismo, o
Marx. Admitiu em discurso em Riga, capital da papel da sociedade. Pesou, e muito, em seus brios alvo principal passa a ser o capitalismo”.
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Uma cruz na Praça da Revolução 9
A o desembarcar em Havana, a 21
de janeiro, João Paulo II criticou forte-
Ruiz Diaz, que tenta vender por 15 dó-
lares um casaco de peles. “Este vison es-
mente “o capitalismo selvagem, o tava em um armário da casa onde moro,
neoliberalismo, o consumo desenfreado que foi expropriada dos espanhóis pelo
no mundo e o embargo econômico” de- governo, na época da revolução. É uma
© Antonio Ribeiro/Gamma/Keystone
NO
M
Amazônia: inferno verde,
UN
500 A
DO
paraíso em chamas
Foi anunciada recentemente a si- do Espírito Santo. senvolvidas, especialmente o extrativis- da mais a ocupação e o desmatamento.
tuação do desmatamento da Amazônia. Desde os anos 70, o desfloresta- mo vegetal (borracha, castanha), que cau- A estratégia de integração nacio-
Segundo o governo, em 1995 haviam mento tem se tornado mais intenso em savam danos epidérmicos ao meio natu- nal inverteu o eixo da colonização ama-
sido desmatados cerca de 29 mil km2, toda a Amazônia Legal. Em 1978, o ral. Nessa época praticamente só havia zônica. Da época colonial até meados do
área que diminuiu para 18 mil km2 no desmatamento atingia apenas 3,8% da uma forma de penetração na região, re- século XX, as correntes de povoamento
ano seguinte. Em 1997, as estimativas área florestada da região. Hoje, a cifra é presentada pela navegação fluvial, o que moviam-se no sentido leste-oeste, atra-
apontam para a cifra de 13 mil km2. superior a 10%. Os estados mais afeta- também contribuía para a preservação vés dos caminhos fluviais, estabelecendo
Os números do desmatamento dos foram os do Pará (34%), Mato Gros- das florestas. núcleos nas várzeas dos rios. Nas últimas
podem ser analisados de duas formas. so (23%) e Maranhão (19%). Esses três A estratégia governamental de décadas, os fluxos migratórios movem-
Uma delas, que aliás foi ressaltada pelo estados concentram cerca de três quar- integração da Amazônia mudou esse pa- se no sentido sul-norte, através das ro-
governo, mostra a diminuição de ritmo tos de toda a destruição florestal. Se con- norama. A transferência da capital fede- dovias que interligam o Centro-Sul à
do fenômeno. Comparando-se os dados siderarmos que os menores índices são ral para Brasília e a posterior construção Amazônia. Rasgando a floresta, a colo-
de 1995 com os de 1997, constata-se a os do Amapá e Roraima, pode-se con- de rodovias de integração, como a Belém- nização contemporânea exerce impacto
redução de mais de 50% no total das áreas cluir que o desmatamento tem sido mais Brasília, estimularam a expansão das ati- inédito sobre o ambiente natural.
desflorestadas. dramático nas porções orientais e meri- vidades primárias ao longo das estradas.
A outra forma, relacionando esse dionais da Amazônia. Essa concentração Em pouco mais de uma década, a popu-
conjunto de dados aos anteriores, mos- geográfica da destruição tem como ex- lação regional saltou de 100 mil para 2 30.000
tra uma realidade diferente. Nunca tan- plicação o processo de ocupação pelo qual milhões de pessoas. 25.000
tas árvores foram abatidas ou queimadas a região vem passando nas últimas déca- A partir de 1968, e ao longo dos
20.000
na Amazônia brasileira como em 1995, das. anos 70, novas rodovias - entre as quais a
nômeno (veja o Gráfico). Se somarmos desmatamento era bem pouco expressi- e a Transamazônica - passaram a ser 10.000
a área desmatada em 1995 e 1996, tere- vo, não só em função da pequena popu- construídas. A descoberta de novas jazi- 5.000
mos uma superfície de pouco mais de lação radicada na região, mas também das minerais e o estímulo à colonização
47 mil km2, superior à área da Suíça ou pelo tipo de atividades econômicas de- das terras disponíveis impulsionaram ain- 0
88/89 89/90 90/91 91/92 92/94 94/95 95/96
Que Fazer?
Em busca do emprego
Batente, trampo, lide, trabalho. Uma olhada no dicionário assusta. “Trabalho”
vem do latim “tripaliare” - martirizar com o “tripaliu”, um instrumento de tortura!
Mas a tortura hoje mudou de nome: ferrar-se agora é ficar desempregado, mal
empregado, vivendo de bico ou na dependência daquela graninha com que papai
ou mamãe comparecem, se puderem.
Vestibular: quantas vagas existem em escolas públicas? A maioria vai ter de
pagar pelos estudos. E se você pretende, na onda da globalização, estudar nos
Estados Unidos ou na Europa? Mais dinheiro.
Mas a questão “grana” e a batalha do vestibular são apenas uma parte do
problema. Ter de trabalhar no lugar errado e com as pessoas erradas ou aceitar um
emprego que paga mal porque você não se preparou o suficiente podem ser torturas
ainda mais insuportáveis.
Que fazer? É hora de começar a enfrentar essas questões. Trabalho, vocação,
independência, prazer e grana - numa época de revolução permanente nas tecnolo-
gias, ou seja, no “como fazer”.
Nesse campo, fazer uma boa viagem pela vida só é possível se não for preciso
apertar os cintos.
✔ Mapa do Futuro
Como organizar as idéias, planejar uma carreira, pesar os prós e os contras? Preparamos
um roteiro básico, passo a passo, com as 10 questões mais importantes na hora de
escolher o que fazer pelo resto da vida. Pág. 2
✔ Altos e Baixos
O que está acontecendo nos mercados? Quais as carreiras mais procuradas para
estágios? Onde estão sendo contratados os executivos mais bem pagos do mundo?
Descubra em nossa seção de indicadores. Pág. 3
✔ Quanto Custa?
Na hora de pensar em carreiras, cursos e profissões, sonhar não tem limites. Mas é importan-
te não esquecer que a realização de qualquer projeto exige um bom planejamento. Pág. 3
■ INTERPRETAR ■ ESCREVER ■
CHEGA DE SAUDADE ?
C omo uma espécie de Michael J. Fox em aventuras como as do filme De
volta para o futuro, escolhemos duas datas para visitar nesta edição. A primeira
parada é o ano de 1958 -o ano que não devia terminar. Em seguida, a estação de
1968 -o ano que não terminou. Por estranho que pareça, uma viagem sem tirar os
pés do presente. Como se fôssemos um mergulhador que vive a encarnação do anfíbio
-na água, sem perder o ar; no passado, sem esquecer o presente; mãos na terra e
olhos no futuro. A principal bagagem que levamos conosco é a consciência do presente
de que partimos, os átomos da memória- os átomos do oxigênio que alimenta o
escafandrista.
Explicando em outros termos: é como andar no fusca do presidente Juscelino
Kubitschek, coqueluche de 58, depois de conhecer as arrojadas linhas das Ferrari,
nos sofisticados “salões do automóvel” de hoje. Como um garoto que alimenta suas
© Reprodução: AE
dizer que é “o ano que não devia terminar”. 68 também tem seu charme, apesar da
falta de frescor da época, marcada pelo endurecimento das relações políticas, pelas
manifestações estudantis, pelas investidas guerrilheiras, por prisões, torturas e
Um banquete antropofágico: “Tropicália”, 1968 desaparecimentos de militantes talvez por isso é que se diga que é “o ano que não
terminou”. 68 foi o ano do lançamento do disco -e, com ele, do movimento homônimo-
Tropicália. Nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e os Mutantes (de
Rita Lee) procuravam fazer a mais perfeita tradução deste tempo tumultuado, dando
T&C e Mundo lançam seqüência à “linha evolutiva da música popular brasileira”, segundo Caetano
Concurso de Redação -1998 estagnada desde João Gilberto. Um movimento que dizia É proibido proibir
“Brasil: 500 anos entre a floresta e a escola” (composição de Caetano inspirada num slogan dos jovens do Maio francês de 68),
em nome da Alegria, alegria (canção do baiano classificada em 4.º lugar no III
(pág.02) Festival da Record, em 1967). Mas o que restou de tudo isso? Os jornalistas
Marcelo Rezende e Jayme Brener falam mais do tema nas páginas 04, 05 e 06.
Apertem os cintos...
MARÇO
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MARÇO
98 98
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40 anos de Bossa Nova / 30anos de Tropicália
mentos do passado. período como inocente e inútil. De certa forma, um tecia por lá no período.
Como sempre, os filhos estavam recusando o reflexo do que acontecia no mundo. Se, por um lado, Marcelo Rezende é jornalista da Folha de S.Paulo. (M.R.)
Os Mutantes: humor elétrico arrombando a festa A Tropicália significou, de acordo com Caetano Veloso, a retomada da linha evolutiva da música popular brasileira,
estagnada desde a bossa nova de João Gilberto. Aliás, foi um movimento que procurou utilizar as informações da modernidade
-não só musical- para recriar, renovar, a canção tupiniquim. Nas palavras de Caetano, para “dar um passo à frente da música
popular, na medida em que João Gilberto fez”.
Esta procura pelo novo, contudo, jamais implicou o desprezo pelo passado. Ao contrário, é exatamente o conheci-
mento da tradição que legitima os experimentalismos, como base de partida para a superação de modelos já esgotados. A
Bossa não negou o samba -mesclou nossas raízes às modernas manifestações da música americana. Pariu o novo aceitando
e incorporando a influência do jazz. A Tropicália aprendeu a lição, como bem exemplifica a regravação da seresta “Coração
Materno”, do boêmio Vicente Celestino. Deu à luz o novo com outra bossa, batendo no liquidificador ingredientes vários
e distintos, como o tupi e o inglês, o samba e o rock, o berimbau e a guitarra, o coqueiro e o arranha-céu.
Como a bossa frutificou na tropicália, esta também espalhou (espalha) suas sementes, na seqüência da “linha evolutiva”
© Antônio Andrade / Abril Imagens
da MPB. As influências tropicalistas podem ser notadas em diversas manifestações: no final da década de 70, em São Paulo,
no teatro Lira Paulistana, surgiu uma geração de músicos e compositores herdeiros dos “antropofágicos” artistas. A idéia de
João Gilberto: um banquinho e um violão associação entre o erudito e o popular, por exemplo, foi encarnada por Arrigo Barnabé, músico de formação clássica. Ele foi
para esta geração, guardadas as devidas proporções, uma espécie de Rogério Duprat, o maestro e arranjador dos tropicalistas.
Itamar Assumpção conferiu à letra o estatuto de poesia, exatamente como Caetano -a canção ganha espaço no “pedestal” da
arte, valorizada como forma artística (em um sentido mais elevado). Grupos como Língua de Trapo e Premeditando o
Breque, recheados de humor, arrombaram a festa, inaugurando outros carnavais, bem na linha dos Mutantes de Rita Lee.
Na década de 90 o movimento Mangue Beat, liderado pelo genial e saudoso Chico Science e sua Nação Zumbi, foi
a mais perfeita tradução tropicalista. Além da rica mistura rítmica que promoveram, com elementos do maracatu, do
samba e do rock, o símbolo que elegeram já fala por si só: uma antena parabólica fincada no mangue, representando de
certa forma a “floresta” e a “escola”, o primitivo e o civilizado -os Brasis que convivem no Brasil. Sem falar na nova leva de
músicos e compositores, como Lenine (para Caetano, “a maior surpresa da MPB atual”) e Zeca Baleiro (convidado por Gal
© Cristiano Mascaro / Abril Imagens
Costa para seu acústico). Além de Chico César (que tem uma pinta tanto de Caetano quanto de Gil), Carlinhos Brown (que
tocou várias vezes “com os velhos” baianos) etc.
Nem tudo são flores, entretanto, a se observar o “Som Brasil” em comemoração aos 30 anos da Tropicália. Os
Geraldo Vandré, ícone da
“música de protesto”
grandes sucessos do final da década de 60 ganharam em fins de 90 novas “interpretações”, nas vozes de Daniela Mercury e
Banda Eva. Como disse um jornalista, o evento foi “macumba pré-carnavalesca para turistas e desavisados”, “a definitiva
fossilização do tropicalismo”. Seria esta a linha “involutiva” da MPB?
MARÇO
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COM BRASILEIRO, NÃO HÁ QUEM POSSA...
Em 1958 o Brasil vivia a euforia
1958 do crescimento econômico e da 1968
“o ano que não devia terminar” vitória na Copa do Mundo “o ano que não terminou”
© Reprodução: AE
Redação no Vestibular • Redação no Vestibular • Redação no Vestibular • Lucília Maria Sousa Romão 7
Redação no Vestibular • Redação no Vestibular • Redação no Vestibular •
Redação no Vestibular • Redação no Vestibular • Redação no Vestibular •
Redação no Vestibular • Redação no Vestibular • Redação no Vestibular •
jogo rá
pido
© Salaber-Liaison / Gamma-RBA
na ponta da língua escrita. A ordem
agora é transformar o que se vê em um
texto com estrutura livre.
m ão n “Enterro na Rede”, de Cândido Portinari. “Epopéia do Povo Mexicano - O México Pré-Hispânico - O Antigo Mundo
a m as sa Índígena”, 1929, de Diego Rivera.
TEMA 1) Com base no tema explícito no texto abaixo, escreva uma dissertação de mais • “ O Brasil reprova por ano 5 milhões de crianças no ensino fundamental. Somando-as
ou menos 30 linhas. Mostre qual é a sua posição sobre o Novo Código de às que abandonam a escola durante o ano, um em cada três não conclui a série em que
Trânsito e fundamente o que você pensa, usando provas sólidas. se matricula. Esse é um dos principais problemas do ensino brasileiro (...). O proble-
ma é que na rede pública brasileira a reprovação de alunos é a regra - a ponto de os
“O Código de Trânsito Brasileiro é um apanhado de boas idéias e punições severas que especialistas da área terem cunhado a expressão ‘pedagogia da repetência’ para descre-
pode combater a barbárie das ruas, desde que realmente aplicado (...). Esperamos um ver essa tradição.”
choque de cidadania no brasileiro, que deve perceber que todos ganham com um trân-
sito seguro.” (Folha de S.Paulo, 22/01/98) • “ Proliferam no país medidas como ciclos, a aprovação automática, classes de acelera-
ção e recuperação nas férias, que visam solucionar o problema do progresso na
TEMA 2) Ler e dissertar são partes do mesmo processo. Por conta disso, a coletânea a escolarização” - Matérias especiais publicadas pela Folha de S.Paulo- fevereiro/98.
seguir tem a função de lançar algumas luzes sobre o debate. São informações
e argumentos que devem ser usados pelo aluno na confecção da sua disserta-
ção. Mínimo de 30 linhas. Tema: A Educação no Brasil do Real.
REFUTAÇÃO
A finalidade é experimentar a argumentação em alto e bom som -o aluno Trata-se de uma série de recursos e procedimentos com a mesma finalidade:
deve contradizer a tese enunciada por certa personalidade. Para tal, espera-se que ele convencer o leitor, fazendo-o crer que tal tese é confiável, merecedora de crédito e
use procedimentos capazes de convencer o leitor. respeito. Por conta das provas, argumentos, dados concretos, o leitor é persuadido
Prove, então, que o bem-humorado Barão de Itararé estava errado quando afir- racionalmente.
mou: “No Brasil a vida pública é, muitas vezes, a continuação da privada.”. Para refutar Portanto, fica claro que o bom argumento deve ter a intenção de fortalecer a
essa declaração, use exemplos, fatos históricos, estatísticas e referências sólidas. tese, seduzir o leitor, fazê-lo comungar do mesmo pensamento do autor. Mesmo que
por um momento apenas. Para melhor enfrentar esta batalha de idéias, é necessário
que se tenha um repertório cultural mínimo -exemplos históricos, cifras precisas,
ARGUMENTOS DIÁRIOS depoimentos de autoridades no assunto debatido etc. Não se contente com as miga-
lhas do lugar-comum.
Vale criar um “mix” em que a descrição e a narração por vezes se misturem
O jovem, saindo do cinema, afirma que não gostou do filme. Insiste que
numa só trança. Interação que pode ser frutífera no caso de uma discussão sobre o
houve excesso de cenas violentas, um enredo pobre, atores fracos, além de uma
sistema penitenciário brasileiro hoje. Deve-se traçar um perfil da situação, fornecen-
conotação racista no desfecho.
do por exemplo características dos presídios, além de dar pistas sobre as leis e as
O adulto apresenta sua escolha política: tal candidato é o mais preparado.
punições aplicadas. Para completar, é possível citar exemplos, como o Carandiru,
Com uma bagagem acadêmica expressiva, ele tem experiência no Senado e sabe for-
explicando e narrando como os fatos se desenrolaram.
talecer a imagem do país no exterior com visitas internacionais, discursos inteligen-
Na tentativa de aprimorar esse potencial de argumentação, cabe ao aluno
tes e uma convincente postura diplomática.
investigar os porquês de suas idéias, gostos, desgostos. Sustentar essas teses nossas de
O apartamento que a imobiliária está anunciando é ótimo: a localização é das
cada dia é o nosso trabalho daqui para a frente. Ensaiando os primeiros movimentos,
melhores. Há boa infra-estrutura de lazer e recreação na área externa. Três quartos
escreva um parecer sobre determinado filme a que assitiu. Depois, dê argumentos
bem iluminados, duas vagas na garagem, acabamento de primeira: tudo isso com
que confirmem sua opinião. Faça o mesmo com : o país que você gostaria de conhe-
financiamento direto da construtora.
cer, certa personalidade política, o plano real. Esse tipo de exercício deve ser feito no
Esses exemplos tão cotidianos são, grosso modo, o embrião de um processo a ser
cotidiano: pulsação quente a ser testada.
muito explorado no texto dissertativo: a argumentação. Essência básica nos debates e
discussões de idéias. Complemento necessário ao raciocínio. Indispensável ferramenta.
MARÇO
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2 B R A SIL
DE NO
S
NO
Concurso de Redação - 1998
M
UN
5 00 A
T&C e Mundo
DO
6 ANOS DE MUNDO
NO BRASIL 1. Objetivo do concurso
A preocupação central do concurso é estimular o hábito do contato com o texto e, assim, contribuir para o
processo de formação de massa crítica no Brasil. Esta, aliás, foi a nossa grande ambição ao decidirmos lançar
o boletim T&C - um pequeno e modesto passo face às necessidades do país, onde o conceito de cidadania
nunca foi construído.
Para que o concurso se desenvolva bem, é essencial a colaboração do professor, especialmente o da área de
Comunicação e Expressão. Como veremos adiante, as normas do concurso prevêem a participação ativa do
mestre. Então, mãos à obra!!!
2. Tema da Dissertação
Leia a coletânea abaixo, extraindo dela subsídios para a construção de um texto a respeito do seguinte tema:
“Brasil: 500 anos entre a floresta e a escola”.
1- “No ano 2000 o Brasil comemora, além da passagem do século e do milênio, quinhentos anos do seu descobri-
mento.(...) A sobrecarga de presságios desencadeada por uma tal conjunção combina bem com a psicologia de
uma nação falhada que encontra razões para envergonhar-se de um dia ter sido chamada de ‘país do futuro’. O
Brasil é o outro gigante da América, o outro melting pot de raças e culturas, o outro país prometido a imigrantes
europeus e asiáticos(...). O epíteto de “gigante adormecido’, aplicado aos Estados Unidos pelo almirante Yamamoto,
© Museu Nacional de Belas Artes, RJ
será tomado por qualquer brasileiro como referente ao Brasil, e confundido com o já considerado agourento
‘deitado eternamente em berço esplêndido’ da letra do Hino Nacional.”(Caetano Veloso, no livro Verdade
Tropical -1997)
2- “...Acenda todas as velas! Economia em regressão. As grandes empresas estão voltando à tração animal! Estamos
ficando um país modesto. De carroça e vela! Também já hipotecamos tudo ao estrangeiro, até a paisagem! Era o
país mais lindo do mundo. Não tem agora uma nuvem desonerada. (...) A Amé-ri-ca - é - um - blefe!!! Nós todos
mudamos de continente para enriquecer. Só encontramos aqui escravidão e trabalho! Sob as garras do imperia-
“Primeira Missa”, de Víctor Meirelles
lismo! Hoje morremos de miséria e de vergonha! Somos os recrutas da pobreza! Milhões de falidos transatlânticos!
Para as nossas famílias, educadas na ilusão da Amé-ri-ca, só há a escolher a cadeia ou o rendez-vous! Há o
suicídio também!” (Abelardo I, personagem da peça O Rei da Vela, 1937, de Oswald de Andrade)
Estamos na Internet 3- “Cada vez mais o litoral encurrala o sertão, especializando-se em inépcia à medida que este se especializa em
Converse com os editores e consulte o miséria moral e ignorância. O beco é sem saída. A República, feita para uso e gozo de sua mediocridade
arquivo do Ulysses e das outras publicações rapinante, não resolve problemas sociais. Digere. Joga pôquer. Percebe porcentagens. Não lhe sobram olhos (...).”
da editora Pangea (Mundo e Texto & (Monteiro Lobato, escritor pré-modernista, em A onda verde -1921)
Cultura) na home page:
www.uol.com.br/mundo 4- “Somos herdeiros de uma província vasta e privilegiada, onde se multiplicou um povo ativo, sedento de progres-
so e de prosperidade. Temos tudo o que se pode pedir para nos fazermos uma das mais prósperas nações da Terra.”
(Darcy Ribeiro, antropólogo, na obra O Brasil como problema -1995)
5- “Brasil, mostra a tua cara!/ Quero ver quem paga/ Pra gente ficar assim/ Brasil, Qual é o teu negócio/ O nome
do teu sócio/ Confia em mim/ (...)Grande pátria desimportante/ Em nenhum instante/ Eu vou te trair” (Cazuza,
E X P E D I E N T E Brasil -do disco Ideologia, de 1988)
Texto & Cultura - Interpretar ■ Escrever é uma 6- “ O Brasil não tem vocação para a mediocridade.” (Lúcio Costa, urbanista)
publicação de Pangea - Edição e
Comercialização de Material Didático LTDA.
3. Regulamento do concurso
Redação: Paulo César de Carvalho (Editor); José Arbex Jr.;
Lucília M. S. Romão (assessora pedagógica). As escolas conveniadas receberão um regulamento detalhado. Divulgamos, abaixo, os principais tópicos:
Jornalista Responsável: José Arbex Jr. (MT 14.779) • Quem poderá participar? Todos os alunos de 2º Grau das escolas que assinam Mundo ou T&C.
Revisão: Paulo César de Carvalho
Projeto e editoração eletrônica: Wladimir Senise • Qual a forma de participação? Cada escola poderá enviar até três redações. Tomamos a liberdade de sugerir que
Endereço: Rua Romeu Ferro, 501, São Paulo - SP. as escolas realizem um concurso interno de seleção. Importante: poderão participar todos os leitores do
CEP 05591-000. Fone: (011) 2104069 - Fax: (011) 8701658 - boletim, mas apenas mediante a intermediação das escolas. Até por razões técnicas, não podemos receber, ler e
E-mail: pangea@uol.com.br julgar milhares de redações. Isso significa que só receberemos os trabalhos indicados pelas escolas.
Distribuidores:
Rio Grande do Sul: Euler de Oliveira. Fone: (051) 2468732 -
• Qual o prazo para o envio das redações? Serão aceitas as redações recebidas na sede de Pangea, em São Paulo
Fax: (051) 3434466. Bahia: Alitônio Carlos Moreira. Fone: (071) (v. endereço no Expediente), até o prazo de 10 de julho de 1998.
3713979 - Fax: (071) 3320277. Santa Catarina: Roberto Lima. • Quais as características das dissertações? As dissertações deverão ter até 40 linhas (atenção: o título é obriga-
Fone: (048) 9726249. Mato Grosso do Sul: Gilda Falleiros. Fone tório). Cada escola receberá três formulários pautados e numerados, para a transcrição dos textos escolhi-
e Fax: (067) 3829456. Pará: José Milton Morais. Fone: (091) dos. Adequadamente preenchidos -com letra legível!-, deverão ser remetidos à sede de Pangea. Este forma-
2498184. Maranhão: João José Campos. Fone: (098) 2381842 -
to é obrigatório, inclusive para garantir o sigilo (a Comissão Julgadora não terá acesso aos nomes dos
Fax (098) 2381736.
Colaboradores: Antonio Medina Rodrigues, Nicolau autores ou das respectivas escolas).
Sevcenko, Emília Amaral, Aguinaldo J. Gonçalves, José de • Quem julgará os trabalhos? Os trabalhos serão avaliados por uma Comissão Julgadora integrada por profes-
Paula Ramos Jr., José Emílio M. Neto, Clenir B. de Oliveira e sores de Comunicação e Expressão de reconhecido saber e experiência no ensino médio. Sua composição
Marcelo Rezende. será divulgada oportunamente.
Homepage: http://www.uol.com.br Link Mundo
• Haverá prêmios para os trabalhos vencedores? Sim. Os autores das cinco melhores redações serão premiados
A Redação não se responsabiliza pela opinião ou
por Pangea e empresas que patrocinam o concurso. Outras redações poderão receber prêmios de Menção
informação veiculadas em matérias assinadas.
Assinaturas: Por razões técnicas, não oferecemos assinaturas indi-
Honrosa. Os prêmios serão divulgados oportunamente.
viduais. Exemplares avulsos podem ser obtidos nos seguintes en- • As redações serão publicadas? A redação vencedora será publicada e comentada na sexta edição de Texto &
dereços, em SP: Cultura (final de outubro). As demais poderão ou não ser publicadas. Importante: os autores concedem a
• Laboratório de Ensino e Material Didático (Lemad) - Prédio T&C o direito de publicá-las, sem remuneração autoral, no próprio boletim ou sob outra forma. Os trabalhos
do Depto. de Geografia e História - USP enviados não serão devolvidos.
• Banca de jornais Paulista 900, à Av. Paulista, 900.
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E D I T O R I A L 3
TEXTO & CULTURA É UMA PU- ARTE MODERNA. DE VILLA-LOBOS A MEIRO ENCONTRO ENTRE “A SELVAGERIA E A DOS ASSASSINATOS DE MENORES
BLICAÇÃO QUE PROCURA ENTENDER, ADONIRAM BARBOSA, DE TARSILA A TOM CIVILIZAÇÃO”. OBSERVANDO EVENTOS COMO ABANDONADOS, DAS TORTURAS DE
DESDE 1995, DIVERSOS ASPECTOS DA JOBIM, INSISTIMOS EM COLABORAR PARA CANUDOS E O CONTESTADO, O ESCRITOR PRÉ- DETENTOS, DOS GENOCÍDIOS DE ÍN-
COMPLEXA FORMAÇÃO DO BRASIL. A QUE SE DECIFRE O ENIGMA... MODERNISTA MONTEIRO LOBATO CRITICAVA DIOS. COMO DIZ CAETANO, DAN-
BUSCA NÃO É NOVA, MAS NEM POR ISSO NESTE MOMENTO, SOBRETUDO, UM BRASIL QUE VIVIA ENTRE “O SERTÃO E O ÇAMOS COM UMA GRAÇA CUJO SE-
MENOS OUSADA - TRATA-SE DA AINDA EM QUE TANTO SE FALA DOS 500 ANOS DO LITORAL”. NA MESMA LINHA, O MODERNISTA GREDO SE DESCONHECE, “ENTRE A
DIFÍCIL TAREFA DE “DESVELAMENTO DO BRASIL, T&C SENTE-SE MAIS ATUAL DO OSWALD DE ANDRADE ENFATIZAVA QUE NOS- DELÍCIA E A DESGRAÇA, ENTRE O
MISTÉRIO DA ILHA BRASIL”. QUE NUNCA, TÃO PRESENTE QUANTO OS SA IDENTIDADE RESIDE ENTRE “A FLORESTA E A MONSTRUOSO E O SUBLIME”.
MOVIDOS POR TAL ÂNIMO É QUE VERSOS DO HINO NACIONAL DE DRUM- ESCOLA ”. C OMO RESUMIU O CINEASTA “O BRAZIL NÃO CONHECE
DISCUTIMOS TEMAS COMO A PRESENÇA MOND - “NOSSO BRASIL É NO OUTRO GLAUBER ROCHA NO TÍTULO DE UM FILME O BRASIL/ (...) O BRAZIL NÃO ME-
DO NEGRO NA LITERATURA NACIONAL, A MUNDO. ESTE NÃO É O BRASIL./ NENHUM SEU, SOMOS DEUS E O DIABO NA TERRA DO RECE O BRASIL/ O BRAZIL TÁ MA-
ASSIMILAÇÃO DO ÍNDIO NO IMAGINÁRIO BRASIL EXISTE. E ACASO EXISTIRÃO OS BRA- SOL. O BRASIL PARECE SER UM PAÍS REGIDO TANDO O B RASIL / D O B RASIL ,
TUPINIQUIM, A PARTICIPAÇÃO DO ITALI- SILEIROS?”. MAIS UMA VEZ, VOLTA À TONA PELO SIGNO DA AMBIGÜIDADE. S.O.S AO BRASIL”. PENSANDO NES-
ANO NO PORTUGUÊS “MACARRÔNICO” A VELHA MAS SEMPRE NOVA MÁXIMA DE UM BRASIL PLURAL NO TABULEIRO: TAS QUERELAS DO BRASIL (COMPO-
FALADO EM SÃO PAULO. ASSIM É QUE, SHAKESPEARE, EQUAÇÃO ATEMPORAL E “REI” INDUSTRIAL, “CAVALOS” LATIFUNDIÁRI- SIÇÃO DE M AURÍCIO T APAJÓS E
DA CARTA DE ACHAMENTO DO BRASIL AOS UNIVERSAL, DESDE SEMPRE DIFÍCIL - TO BE OS E MUITOS “PEÕES”. BICHO DE MUITAS CA- ALDIR BLANC), T&C ENGROSSA O
DIAS DE HOJE, DO QUINHENTISMO À PRO- OR NOT TO BE: THAT’S THE QUESTION! O BEÇAS, TEMPLO DE DEUSES VÁRIOS, “BABEL” CORO DAS COMEMORAÇÕES DOS
DUÇÃO CONTEMPORÂNEA, DE PERO VAZ QUE É ESTE COLOSSO ENIGMÁTICO QUE DE REGIONALISMOS: O BRASIL DO NORTE E O 500 ANOS LANÇANDO O TEMA DO
A GIL, DE VIEIRA A JORGE AMADO, DE RESPONDE PELO NOME BRASIL? QUEM SÃO DO SUL; O BRASIL CIVILIZADO E O CAIPIRA; O CONCURSO DE REDAÇÃO DE 1998 -
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA A GUIMA- OS FILHOS DESTA PÁTRIA-MÃE MISTERIO- BRASIL NEGRO E O ÍNDIO; O BRASIL URBANO E “BRASIL: 500 ANOS ENTRE A FLO-
RÃES ROSA, PERSEGUIMOS O ECLETISMO SA? SER OU NÃO SER, DESDE 1500, AINDA O RURAL; O BRASIL SAMBISTA E O ROQUEIRO; RESTA E A ESCOLA”.
DA RELIGIOSIDADE BRASILEIRA. NÃO FOI É A QUESTÃO. O BRASIL ACARAJÉ E O BIG-MAC. FLORESTA E AGORA É COM VOCÊ! MÃOS
À TOA QUE CAMINHAMOS DOS 300 ANOS JÁ NO ENCONTRO INICIAL, AS VI- ESCOLA; SELVAGERIA E CIVILIZAÇÃO; DEUS E À OBRA!!!
DE ZUMBI AOS 30 ANOS DA TROPICÁLIA; SÕES DE MUNDO DIFERENTES E OPOSTAS DIABO. O BRASIL ETECÉTERA. NA MESMA RE-
DOS 150 ANOS DE NASCIMENTO DE CAS- SE CHOCARAM CRUAMENTE -PARA O AN- LUZENTE “TERRA DO SOL”, DO FUTEBOL, DO
TRO ALVES AOS 75 ANOS DA SEMANA DE TROPÓLOGO DARCY RIBEIRO, FOI O PRI- CARNAVAL, CONVIVEM OS MATIZES CINZENTOS
des
c ‘‘O ESTILO É O QUE FAZ COM QUE O AUTOR DE UMA CARTA ANÔNIMA SEJA
ub
© Reprodução: AE
Recife, foi o grande orientador de uma atividades e iniciou uma caminhada do-
gestação poética embrionada na simpli- lorosa, da qual ainda conseguiu tirar
cidade, no verso resumido, na fala coti- versos e ironia. Passou diversas tempo-
diana. Dizia : “ o poema, no sonho, te radas em Campanha, Teresópolis,
persegue/ e , servo, ao acordar ele te se- Uruquê, Quixeramobim. Por fim em-
gue”. E soube como ninguém fazer ver- barcou para a Europa, a fim de se tratar ou o que quer que me pudesse acontecer Com os problemas de saúde
sos a partir de vasos de rosas, pêssegos no sanatório de Clavadel na Suiça. Lá não me preocupava, porque eu sabia que agravados, o poeta deixou o seu apar-
na fruteira, gatos ao sol, casas e pensões conheceu Paul Éluard e Salvador Dali, pondo a minha mão na sua, nada haveria tamento e foi morar com Maria de
onde habitavam seres humanos tão entre outros. Voltou ao Rio e enterrou que eu não tivesse a coragem de enfrentar. Lourdes, sua companheira dos últi-
iguais a nós. Tão dentro de nós. sua mãe, sua irmã e seu pai, tendo uma Sem ele, eu me sentia definitivamente só. mos anos: “ Ouço o tempo, segun-
Ele pedia: “Criancice? Deus me perda afetiva a cada dois anos. E era só que teria que enfrentar a pobreza e do por segundo/ Urdir a lenta eter-
conserve as minhas criancices!”. No que Ferido pela presença da morte, a a morte”. nidade...”. Morreu no dia 13 de ou-
foi prontamente atendido, pois a mes- solidão se consumou e o poeta come- Os amores foram poucos, porém tubro de 1968 . Foi embora para
ma chama de inocente generosidade foi çou um período amargo em que che- densos e cheios de significados, resguarda- uma terra onde ele é amigo do rei.
sua companheira até a morte. E foram gou a preparar chá para os seus fantas- dos dos olhos curiosos. Raras vezes chegou
tantos tropeços: a saúde debilitada, a mas. “Quando meu pai era vivo, a morte a apresentar uma paixão.
agosto 98
2
Mapa do T udo ao mesmo tempo agora, diz a canção dos
Titãs. Mas navegar é preciso e a sua viagem é pelo
Futuro tempo. Reserve um tempo, agora, para começar a
imaginar o futuro. A seguir, um roteiro para você
desenhar o seu próprio Mapa do Futuro(*):
Pesquise sobre profissões. Tente descobrir, falando com Ainda não acabou... Comece desde já a se informar
3 pessoas da família ou pais de amigos, como se de- 8 sobre as dicas de obtenção de empregos na área que
senvolve uma carreira na prática. Não se deixe levar você escolheu. Qual o salário médio de um estagiário?
pelas belas descrições formais, burocráticas, que são Quais as exigências mais recentes de seleção e treina-
oferecidas em programas de faculdades e alguns ser- mento?
viços de orientação vocacional. Não esqueça de per-
guntar sobre salários e perspectivas de evolução pro- Aprenda a preparar um currículo pessoal. Se você pre-
fissional. 9 tende trabalhar durante o segundo grau ou desde o
início da faculdade, procure informações sobre como
Depois de selecionar algumas carreiras, compare suas enfrentar uma entrevista em processos de seleção de
4 habilidades e interesses com as exigidas pelas carrei- estagiários ou profissionais.
ras que você escolheu.
Mas isso ainda não basta. Escolha um objetivo dentro 10 Seja ousado... ou cara de pau! Tente visitar empresas
e técnicos da sua área de interesse. Mande um e-mail
5 da carreira. Você quer chegar ao topo? Quanto tempo para um profissional. Entre em contato direto com o
e dinheiro são necessários para atingir o objetivo que tipo de trabalho que te interessa.
você escolheu?
Altos e Baixos
■ A Organização Internacional do
Trabalho (OIT) calcula que existam
800 milhões de desempregados no
mundo, o patamar mais elevado
desde a década de 30.
■ O governo brasileiro gasta menos de
R$ 315 por aluno/ano. Nos Estados
Unidos, o gasto médio já é 20 vezes
Quanto custa?
maior que isso: US$ 6.000 por
aluno/ano. Na hora de pensar em carreiras, cursos e profissões, sonhar não tem limites. Mas é
■ Segundo o Instituto Brasileiro de importante não esquecer que a realização de qualquer projeto tem um custo.
Geografia e Estatística (IBGE), no ano Uma boa conversa com os pais é essencial. A família tem condições de poupar o
passado 45% dos desempregados necessário? Como compatibilizar os planos de irmãos de várias idades? Na maioria
brasileiros tinham entre 15 e 24 anos. dos casos, o que parece caro demais torna-se viável quando a família começa a pou-
■ As mulheres estão na frente: pesquisas par bem cedo. A palavra-chave é planejamento e diálogo, tentando enxergar 5, 10 e
nos países ricos mostram que entre os 15 anos à frente.
jovens é maior o número de mulheres Mas é importante procurar também uma assessoria financeira. O BankBoston, por
que chegam à universidade: as exemplo, lançou um produto voltado ao planejamento educacional de longo prazo (“Boston
maiores diferenças em favor das Futuro Programado”). Com juros de 12% ao ano, um curso de 5 anos de duração com
meninas aparecem na França, na mensalidades na faixa de R$ 700 exigirá uma poupança mensal, ao longo de 4 anos, de
Espanha e nos Estados Unidos. R$ 570. Se você começar antes, poupando ao longo de 6 anos, a reserva mensal cai para
R$ 335. Os mais previdentes, que iniciarem sua poupança na 1a. série do primeiro grau,
a poupança mensal necessária cai para R$ 130. Ou seja, quanto antes começar o plane-
jamento, mais fácil será pagar pelos estudos, até mesmo no exterior. A Caixa Econômica
Federal também oferece linhas de crédito educativo. Os estágios e bolsas de estudo tam-
bém são uma opção, mas nesse caso a renda pode ser temporária e insuficiente.
Na prática, a solução mais comum é combinar trabalhos temporários, ajuda fami-
liar, bolsas de estudo e empréstimos voltados para a educação.
agosto 98
4 Mas, nos três casos, há um
problema: um dia, se diz ao jo- B I B L I O T E C A
Expediente
Supervisão Editorial: Gilson Schwartz
Consultor pedagógico: Luiz Paulo Labriola
Pesquisa: Knowware Consultoria
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