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EXERCÍCIO É RUIM, MAS É TÃO BOM...

31-01-2003

O estresse que ativa o sistema de recompensa do cérebro e


deixa o corpo em forma

Suzana Herculano-Houzel,
Neurocientista

Quer deixar seu camundongo de estimação feliz? Ofereça-lhe uma


rodinha de exercício, daquelas que parecem uma roda-gigante onde
o bicho corre sem sair do lugar. Maratonistas, morram de inveja:
roedores que dispõem dessa versão animal da esteira ergométrica
correm cada dia mais um pouco, até chegar a impressionantes dez
quilômetros por dia, mesmo com aquelas patinhas curtas. Humanos
com acesso a academias, equipamento caseiro de ginástica ou uma
boa estrada onde correr não são muito diferentes, desde que
tenham tempo em suas mãos.

Camundongos engaiolados até que têm horas de sobra, mas


passar tanto tempo se exercitando não é mera questão de falta de
algo melhor a fazer. Exercício faz o cérebro se sentir bem,
literalmente: ativa o mesmo sistema de recompensa envolvido em
qualquer outro prazer cotidiano – inclusive sexo, drogas, rock'n'roll e
um bom prato de comida. O curioso é que o mesmo exercício que
proporciona prazer é tratado pelo corpo como fonte de estresse.
Comece a correr e seu corpo reagirá com adrenalina, cortisol, e
todas as mudanças associadas: pulso acelerado, deslocamento da
circulação sangüínea para os músculos e a tão cobiçada queima de
reservas de gorduras.

Como é que correr ou fazer qualquer tipo de exercício pode ser bom
se o corpo se estressa, perde o fôlego e fica com os músculos
doloridos? Tá certo que o instrutor pode ser um belo exemplar do
sexo oposto e você queira fazer as outras duzentas abdominais que
ele pede só para lhe agradar, mas o que faz todo o sofrimento se
transformar em prazer?

Que não restem dúvidas: a corrida é razão de prazer, mesmo para


reles camundongos. Se a corrida frenética, voluntária e compulsiva
do seu bichinho não o convencer, experimente dificultar o acesso à
rodinha. Seu camundongo fará o que for necessário -- subir
escadas, apertar botões, escalar grades – para poder usar a
'esteira'. Pense no bem-estar que você sente após a aula de
ginástica e compreenderá!

Esse bem-estar parece ser coisa de opióides que o cérebro produz


para si mesmo durante o exercício. Opióides são substâncias de
ação analgésica e poderosos formadores de vício que incluem as
conhecidas morfina e heroína, produtos vegetais e versões como a
endorfina, encefalina e a dinorfina, fabricadas pelo próprio cérebro.

Morfina e heroína agem diretamente sobre o sistema de


recompensa do cérebro: elas ativam-no e ao mesmo tempo levam-
no a um processo de habituação que faz com que doses cada vez
maiores sejam necessárias para surtir o mesmo efeito. O outro lado
da habituação é que, com a exposição prolongada às drogas, o que
antes era o nível 'zero' de atividade do sistema de recompensa,
mantido sem que nada de especial fosse feito, agora depende de
estimulação externa para ser atingido. O resultado é a síndrome de
abstinência -- o conjunto de sensações de mal-estar que fazem com
que o comportamento passe a se dirigir totalmente à obtenção de
mais estímulo para o sistema de recompensa.

Com o opióide produzido pelo cérebro em resposta à corrida não é


diferente. Negue a um camundongo ou humano corredor de longa
data acesso à sua rodinha ou estrada e ele exibirá todos os sinais
de abstinência que você reconhece em alguém tentando largar o
cigarro, como agitação e agressividade. O exercício, sobretudo o
crônico, ativa diretamente o núcleo acumbente do sistema de
recompensa do cérebro, mais especificamente aqueles neurônios
do núcleo que produzem dinorfina e distribuem esse opióide a
outras regiões do cérebro. Com apenas um mês de exercício diário
na rodinha (e provavelmente já antes disso), a produção de
dinorfina no núcleo acumbente do cérebro dos camundongos
aumenta de forma crônica, em um exemplo de adaptação do
sistema ao novo hábito. Não por acaso, um dos efeitos diretos da
ativação dos neurônios que fabricam dinorfina é justamente o
aumento da locomoção – correndo na rodinha, na esteira ou na
estrada.

Preocupado de ver a sua corridinha matinal ser chamada vício?


Não fique. Vício ela é, de fato – ao menos de acordo com a
classificação emergente dos comportamentos que têm em comum a
ativação do sistema de recompensa do cérebro. Mas, juntamente
ao prazer da música, da comida, do sexo, do aprendizado e das
pequenas e grandes realizações cotidianas, esse é um prazer que
vem de dentro. Como tal, a ativação do sistema de recompensa
acontece dentro de limites estipulados pelo sistema -- dentro da
'margem de segurança', por assim dizer. O resultado é que o
cérebro consegue lidar com os ajustes necessários, e busca
constantemente nova estimulação como em qualquer outro vício,
mas sem chegar a extremos que desviem o comportamento em
direção a uma busca constante de níveis anormalmente altos de
atividade do sistema de recompensa que só podem ser atingidos
pela ação direta de drogas.

O melhor é que o resto do corpo também se adapta ao novo hábito


do exercício. A capacidade cardíaca aumenta, a respiração se torna
mais eficiente, o colesterol circulante diminui, os músculos se
desenvolvem, passam a consumir mais energia, e assim cada vez
menos gordura é depositada naqueles pneuzinhos indesejáveis. Os
camundongos podem não se importar muito em ficar mais ou
menos elegantes, mas talvez isso sirva de ajuda a você: se a
perspectiva de toda aquela dinorfina no sistema de recompensa não
for suficiente para tirá-lo da cama, tente imaginar a ativação do seu
sistema de recompensa ao descobrir que aquela roupa especial
voltou a lhe caber. E aí, vai largar o controle remoto e encarar?

Suzana Herculano-Houzel
O Cérebro Nosso de Cada Dia
31/01/03

Fontes:
Werme M, Messer C, Olson L, Gilden L, Thorén P, Nestler EJ, Brené
S (2002). DeltaFosB regulates wheel running. Journal of
Neuroscience 22, 8133-8138.

Werme M, Thorén P, Olson L, Brene S (2000). Running and cocaine


both upregulate dynorphin mRNA in medial caudate putamen.
European Journal of Neuroscience 12, 2967-2974.

Fonte:
http://ich.unito.com.br/oldsite/cerebro/cn17.htm
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Site: O Cérebro Nosso de Cada Dia


http://www.cerebronosso.bio.br/welcome/

Livros publicados: SHH

 neurocientista: SUZANA HERCULANO-HOUZEL

• Fique de bem com o seu cérebro (2007)


• Por que o bocejo é contagioso? (2007)
• O Cérebro em Transformação (2005)
• Sexo, Drogas, Rock'n'Roll & Chocolate (2003)
• O Cérebro Nosso de Cada Dia (2002)

Fique de bem com seu cérebro

Suzana Herculano-Houzel

Editora Sextante, 2007

208 p., R$ 19,90

Este livro foi escrito para quem deseja alcançar o bem-estar e torná-lo algo cada
vez mais intenso e freqüente em sua vida. Suzana Herculano-Houzel mostra o
melhor caminho para a conquista desse objetivo: ficar de bem com o próprio
cérebro, isto é, cuidar para que ele funcione da melhor maneira possível − sempre.

Aqui você conhecerá uma série de descobertas recentes da neurociência e saberá


de que modo elas podem ajudar você a manter o cérebro saudável. Com um texto
claro e cativante, a autora apresenta uma abordagem prática desse assunto, com
dicas que estimularão você a arregaçar as mangas e se dedicar a obter mais paz e
felicidade no dia-a-dia.
Cada um dos 15 capítulos deste livro contém informações a respeito de um aspecto
relacionado ao bem-estar. Entre outras coisas, você aprenderá que é essencial:

- Cuidar bem da sua saúde física − o cérebro precisa do corpo.

- Identificar e cultivar os seus prazeres − eles são a base do bem-estar.

- Ouvir as suas emoções − elas são imprescindíveis para as boas decisões.

- Sorrir e buscar a felicidade − ela torna o corpo mais saudável.

- Saber a diferença entre tristeza e depressão − para respeitar a primeira e


tratar a segunda.

- Tirar proveito do estresse agudo − é surpreendente, mas ele tem efeitos


benéficos.

- Lidar com a ansiedade − em doses saudáveis, ela é uma benção.

- Fazer as pazes com os remédios − às vezes os medicamentos são realmente


necessários.

- Combater o estresse crônico − um vilão causador de muitos males físicos e


mentais.

- Exercitar-se regularmente − isso pode funcionar como um "exilir da


juventude".

- Dormir bem e bastante − descubra a importância das sonecas para o cérebro.

- Cultivar os relacionamentos − o isolamento é um fator intenso de estresse


social.

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Por que o bocejo é contagioso?

e outras curiosidades da neurociência do cotidiano

Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2007

Há perguntas que nós fazemos todos os dias e, mesmo assim, nunca conseguimos
responder: por que sentimos medo de filmes de terror? Por que suamos frio? Por que
comer chocolate é tão bom? Por que fui contar aquele segredo? O que não desconfiamos
é que as respostas para todas estas questões estão na neurociência.

Em Por que o Bocejo é Contagioso?, a neurocientista Suzana Herculano-Houzel


responde a 80 dessas perguntas que tanto nos intrigam no cotidiano. Tudo isso de um
modo simples, fácil de entender e, ao mesmo tempo, de acordo com as pesquisas mais
recentes em sua área. A publicação inaugura ainda a série Ciência da Vida Comum,
nova coleção de divulgação científica da Zahar, que apresenta para o leitor as aplicações
da ciência e da tecnologia em nossas vidas cotidianas.

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Cérebro em Transformação

Ed. Objetiva, 2005.

Cabeça de adolescente é um mistério: tédio, paixão, bobeira, ansiedade, e muita, muita


irresponsabilidade. Em O Cérebro em Transformação, da neurocientista Suzana
Herculano Houzel, você vai descobrir que nem só de hormônio vive a adolescência. Na
verdade, tudo o que ocorre entre os 11 e os 18 anos é fruto de uma grande revolução
química e neurológica. Daí as súbitas mudanças de humor, as inúmeras questões, a
insegurança.

Numa abordagem original, Suzana Herculano revela que a adolescência é um período


necessário e desejável da vida. O que acontece então na cabeça do adolescente é muito
mais do que uma simples enxurrada hormonal. Seu comportamento é fruto de um
cérebro adolescente, que passa por uma grande reformulação.

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Sexo, Drogas, Rock'n'Roll... & Chocolate


O Cérebro e os prazeres da vida cotidiana

Vieira & Lent Casa Editorial, Rio de Janeiro, 2003. 2a edição.

O que nos faz querer mais? Por que tudo o que envolve sexo, música, comida e drogas
dá prazer? O que todos os prazeres cotidianos têm em comum? Respostas a essas e
outras perguntas você encontra neste livro, escrito em linguagem acessível e bem-
humorada.

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O Cérebro Nosso de Cada Dia

Descobertas da neurociência sobre a vida cotidiana

Vieira & Lent Casa Editorial, Rio de Janeiro, 2002. 8a edição.

A neurociência é o conjunto de áreas da ciência que se interessam pelo sistema nervoso:


como ele funciona, se desenvolve, evolui, é alterado por substâncias químicas, e como
resultado disso tudo produz a mente e os comportamentos. Neste, que foi o primeiro
livro da neurocientista Suzana Herculano-Houzel, você descobre como a neurociência
explica vários aspectos da vida cotidiana, da dificuldade de lembrar dos sonhos às
vantagens cognitivas das mães, passando pela razão da falta de originalidade da ficção
científica e pela descoberta intrigante das falsas memórias. Um livro escrito em
linguagem ágil, acessível e bem-humorada, para o leitor não-especialista curioso com o
que traz dentro da própria cabeça.

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