Documentos de Académico
Documentos de Profesional
Documentos de Cultura
ROXANA PATIÑO y JORGE SCHWARTZ, Introducción ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 647
I. ESTUDIOS
II. RESEÑAS
GENESE ANDRADE sobre María Inés Saavedra y Patricia M. Artundo, Leer las
artes. Las artes plásticas en ocho revistas culturales argentinas. 1878-
1951 ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 1045
MARÍA ALEJANDRA MINELLI sobre David Lagmanovich y Laura Pollastri. La
revista Aula Vallejo. Introducción e índice ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 1047
ADRIANA KANZEPOLSKY sobre Saúl Sosnowski (ed.). La cultura de un siglo.
América Latina en sus revistas ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 1048
ISABEL LUSTOSA sobre Ana Luiza Martins, Revistas em revista. Imprensa e
práticas culturais em tempos de República. São Paulo. 1890-1922 ... ... 1052
SOCIOS PROTECTORES 2004 ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 1055
Revista Iberoamericana, Vol. LXX, Núms. 208-209, Julio-Diciembre 2004, 647-650
INTRODUCCIÓN
POR
zonas de problemáticas cuya clave literaria es sólo una de sus lecturas, si bien en muchos
casos, la principal; aún en las revistas más restrictivamente estéticas, es posible leer, por
su revés, los significativos silencios a los que apunta.
Esta zona de discursos polifónicos se ha desplazado en una doble vía en la cultura
latinoamericana: en su interior, las revistas actuaron como generadoras y sostenedoras de
las diversas posiciones que intelectuales y artistas tomaron a lo largo del siglo respecto de
problemáticas específicas; al mismo tiempo, en su proyección exterior, abrieron vasos
comunicantes con una sociedad que en más de un momento abrevó en la cultura para
encontrar bases identitarias, contenidos integracionistas y nuevos fundamentos de valor.
Dinamizadoras, en su mayoría, de las instancias de modernización y democratización de
un campo cultural, han sido decisivas en la expansión del circuito restringido en el que se
ubican sus miembros.
Otra perspectiva no ajena a la anterior puede integrar a las revistas como componentes
clave en el estudio de la conformación de proyectos intelectuales y literarios, tanto
individuales como grupales; proyectos derivados menos de una programática incontaminada
y unidireccional, que del resultado de una negociación entre líneas que conviven en
permanente estado de tensión y recolocación. Esta perspectiva, que ubica a las revistas
como constructoras informales de genealogías y proyectos culturales, permite estudiarlos
en el momento de su emergencia cuando todavía comparte el espacio dentro de una mismo
imaginario cultural con otras zonas de las que luego, consolidados ya como proyectos
específicos, se diferenciará con una identidad propia. No es posible captar de otro modo
esta dinámica de entrecruzameintos en la que un texto dialoga con otros en una revista
como no lo hace en el libro. Se sabe: no es lo mismo los ensayos de Mariátegui en el
contexto de la diversidad ideológica de Amauta que los mismos textos compilados en los
Siete ensayos de interpretación de la realidad peruana, o los artículos y cuentos de Borges
en el friso de Sur que en las Obras Completas, y así los ejemplos podrían multiplicarse
hasta casi alcanzar una sustantiva cantidad de las obras mayores de la literatura
latinoamericana contemporánea.
Las revistas generan un sentido inmediato de la literatura y de la cultura de un
momento dado; permiten captar con gran nitidez un estado de permeabilidad de los
discursos, una especie de estado de latencia previa a su consolidación en ideologías
culturales, en tanto conjunto articulado de ideas y valores. Este estado de movilidad del
pensamiento y de la sensibilidad posibilita una serie de cruces diversos, novedosos e
inclusive contradictorios, impensables a posteriori. Es en ese sentido que Beatriz Sarlo
piensa a las revistas como banco de prueba o laboratorio de ideas de operaciones
intelectuales que luego se consolidan en el campo cultural o fracasan o caen en desuso. La
crítica literaria de las últimas dos décadas ha dado valiosos estudios en los que es posible
calibrar la importancia de la revistas en estas zonas de cruce de ideologías y proyectos
culturales en estado previo a su consolidación y en su posterior desarrollo.
Así presentadas, pareciera que las revistas han tenido en la consideración de la crítica
y la historia literarias un lugar destacado; sin embargo, se puede coincidir en que el
volumen y la calidad de las revistas culturales latinoamericanas es inversamente proporcional
a su presencia como documento de cultura en la crítica. Su naturaleza híbrida –condición
que comparte con los suplementos culturales– la remite a un doble campo de pertenencia:
INTRODUCCIÓN 649
POR
1
Para situarmos o surgimento dos periódicos femininos no Brasil em relação ao exterior, lembremos
que o primeiro periódico feminino, o Lady’s Mercury, surgiu na Inglaterra em 1693 e o pioneiro
francês, foi o Courrier de la Nouveauté de 1758. No Brasil, supõe-se que o primeiro seria O Espelho
Diamantino impresso no Rio de Janeiro em 1827. Considera-se, segundo Eliane Vasconcelos (228-
249), o Jornal das Senhoras, de 1852, no Rio de Janeiro, o primeiro periódico feminino a ter como
proprietária uma mulher. Seu nome era Joana Paula Manso de Noronha, argentina de nascimento que
voltando à sua pátria, o passou às mãos de outras mulheres. O impresso circulou até 1885. Outras
das primeiras publicações femininas foram: O Belo Sexo , Rio de Janeiro, 1862, O Sexo Feminino
em Minas Gerais, 1873; O Domingo, 1879, no Rio de Janeiro.
654 MARIA DE LOURDES ELEUTÉRIO
2
Muitas outras revistas possuem características semelhantes das três citadas, mas não perfizeram
o mesmo espaço de tempo, longo para padrões brasileiros, e tiragens elevadas.
O LUGAR DA EMANCIPAÇÃO DA MULHER 655
apenas quatro folhas, e suas matérias, que englobavam de poemas a receitas culinárias, não
faziam prever que se desenharia um conteúdo mais acerbo. Um ano depois de seu
lançamento, Josefina transferiu seu periódico para o Rio de Janeiro, lugar evidentemente
mais cosmopolita àquela época. Nessa cidade, de fato, A família ganhou um contorno mais
nítido em favor da emancipação feminina, especialmente pelo direito de a mulher votar e
ser votada.3 A publicista, além de manter o jornal, colaborava em outras folhas, muitas
delas paulistas, escrevendo incisivos textos acerca do tema como podemos observar na
peça teatral O voto feminino, uma comédia de tese que discute a questão da igualdade de
direitos em relação ao poder em nossa nascente República.4
Em A família a maioria dos escritos provinham de mãos femininas e quase sempre
arrojadas, como podemos observar no texto de Paulina da Silva publicado ainda no
primeiro ano de sua existência: “o lugar que de direito nos pertence e que a inépcia e o
desânimo das nossas antepassadas tem deixado à revelia, o qual por mais tempo não
podemos deixar de ocupar” (Silva “O lugar da mulher” 4). A articulista atribui às próprias
mulheres a culpa pela situação em que se encontram e, diferentemente de Ana Rita/
Cláudio, como vimos no caso da Revista Feminina, incita à luta por espaços não
circunscritos ao âmbito doméstico.
O exemplo de Josefina frutificou em São Paulo com o aparecimento em 1897 de A
mensageira, revista literária dedicada à mulher brasileira, para a qual a proprietária de
A família também escreveu. Para os estudos de periodismo feminino A mensageira
constitui-se em uma espécie de paradigma, por ser talvez a única revista que, em país que
conserva sua memória precariamente, permaneceu íntegra em todos os seus 36 números
ofertados ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo por sua idealizadora, a
educadora e versejadora Presciliana Duarte de Almeida.5 Com experiência de ter produzido
em sua cidade natal, –uma pequena e longínqua cidade no interior de Minas Gerais–, uma
folha manuscrita O colibri e de ter, ao longo de sua vida assinado textos para uma
infinidade de jornais e revistas, incluindo A família, além de publicar livros de poemas,
Presciliana foi personalidade fundamental do entresséculos como nos sintetiza o estudo
de Ana Luzia Oliveira sobre periódicos paulistas: “A capacidade aglutinadora de Presciliana
3
Josefina Álvares de Azevedo (1851- ?), jornalista, teatróloga, foi uma notável precursora do
feminismo no Brasil. A família, em sua versão carioca durou de 1889 até 1897.Escreveu também:
A mulher moderna, trabalhos de propaganda, Retalhos. (Cf. Eleutério: 47-54).
4
Publicado em folhetim n’ A família em 1889 e representada no ano seguinte, no Teatro Recreio
Dramático com sucesso, tendo recebido comentários elogiosos no jornal francês Le droit des
femmes, segundo Maria Thereza Bernardes (120).
5
Era o habitual à época para periódicos do gênero uma tiragem de 500 a 1000 exemplares. Vendia-
se por assinaturas e número avulso. As imensas distâncias do país dificultavam a circulação e a
existência da maioria dos periódicos foi efêmera, indicando mais dificuldades para que se tenha hoje
um maior elenco de revistas quer seja em títulos quanto em números. Do já citados, O chromo,
subsistiu um único número, e de A Camélia temos dois exemplares apenas. Consta que A mensageira
circulou por São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O Rio seria ponto de chegada das revistas
de todo o Brasil, Minas Gerais era o alvo prioritário para a revista devido aos laços de parentesco
existentes. A revista contava com representação no Rio de Janeiro e em Paris e há menções de sua
circulação em Lisboa e no Chile.
658 MARIA DE LOURDES ELEUTÉRIO
fez daquela publicação o espaço por excelência da mulher escritora da virada do século”
(217).
Tendo como intenção primeira a educação da mulher, A mensageira, que se auto-
intitulava literária, dava ênfase à profissionalização nas letras. Assim sendo, enfática ao
apregoar a luta pela instrução feminina, distinguia-se também em relação às demais na
escolha dos textos literários, não permitindo por exemplo a inserção de piadas ou
pequenos jogos como adivinhas ou charadas, e tampouco reservando espaço para a seção
de cartas do leitor, comuns à época. Outra singularidade da revista foi sua receptividade
aos textos produzidos por homens. Sempre bem vindos, eles intensificavam o coro, agora
em dicção masculina, a favor da emancipação da mulher.
Digna de nota, a participação do educador e filólogo Sílvio de Almeida, marido de
Presciliana. Com o prestígio advindo de suas publicações, ora como contista ou versejador,
tendo um romance premiado, e freqüente atuação na grande imprensa, Sílvio, de certa
maneira, conferia credibilidade à A mensageira. Exemplo do casal que divide
responsabilidades e projetos intelectuais, Presciliana e Sílvio representavam o vigor do
apoio mútuo, pois dirigiam um estabelecimento de ensino do qual era proprietários,
reuniam amigos para debates literários, e tiveram papel decisivo na criação da Academia
Paulista de Letras, na qual ingressaram.
Por outro lado, um traço acentuadamente moralizante perpassa pelo espírito de A
mensageira, conduzido pelo argumento de que a mulher deve ser instruída e útil para
beneficiar a família e a sociedade. Trata-se do argumento da regeneração social, caro ao
positivismo. A propalada instrução era para servir, para ilustrar e disciplinar e não
objetivava a ação política, como Josefina propugnava em sua A família. A revista dirigida
por Presciliana buscava enaltecer a mulher educadora dos cidadãos da República, como
podemos aquilatar já pela evocação de seu primeiro número: “uma mãe instruída,
disciplinada, bem conhecedora dos seus deveres, marcará, funda, indestrutivelmente, no
espírito de seu filho, o sentimento de ordem, do estudo e do trabalho” (Almeida “Duas
palavras” 1).
Poesias, contos, crônicas e artigos, evidenciam a ideologia positivista e mesmo a
reforçam em particular nos poemas, que a pretexto de louvar a mulher, reafirmam as
qualidades até então, vistas como femininas, tais como a doçura e a abnegação. Os
comentários críticos, quase sempre de uma obra recém lançada, trazem adjetivos elogiosos
e estímulo para o prosseguir na senda da produção literária. Apreciações e elogios surgem,
na verdade, dispersos nos mais diferentes textos. Qualquer entrecho sobre qualquer
assunto pode citar e recomendar algum autor e mais especificamente uma autora. A coluna
mais bem elaborada do ponto de vista de critérios e argumentos para tecer uma crítica é
“Impressões de leitura”, assinada por Perpétua do Vale, pseudônimo de Presciliana Duarte
de Almeida. Ao comentar o livro Plectros de Ibrantina Cardona, Perpétua alude, ao que
considera defeitos e qualidades da obra, indicando semelhanças com os versos da poeta
Francisca Júlia, tida então como a melhor parnasiana brasileira. Ao finalizar, como
sempre, a articulista lamenta a parca produção feminina: “É este um dos lados tristes da
literatura feminina em nosso país; quase todas as escritoras se limitam a um único
trabalho” (Almeida “Impressões de Leitura” 75).
O LUGAR DA EMANCIPAÇÃO DA MULHER 659
6
Júlia Lopes de Almeida (1862-1934). Publicou: A árvore, A falência, Jornadas no meu país,
Contos infantis, A família Medeiros, A intrusa, entre outros, escreveu para vários jornais e revistas.
(cf. Eleutério:67-83)
7
O Almanaque Agrícola Brasileiro era um brinde de final de ano ofertado pelo jornal Correio
Paulistano. Alcançava tiragens extraordinárias para ao período como podemos ver por aquele de
1913 com 60.000 exemplares.
8
Chácaras e Quintais, a revista agrícola de maior sucesso em um país de predominância rural à
época. De leitura técnica, tinha como público alvo os homens. Nestas circunstâncias podemos
observar o prestígio que Júlia Lopes de Almeida tinha, e conferia, ao periódico em questão.
660 MARIA DE LOURDES ELEUTÉRIO
que viu aumentar suas vendas desde que Júlia colocou um personagem de seu romance
Correio na roça, elogiando a revista. Outra interessante colaboração saiu em O
Bromofórmio, uma folha propagandística de distribuição gratuita na qual um conto seu “O
dia do casamento”, nos mostra até onde subordinava a sua pena ao serviço da reiteração
do dever de obediência da mulher, ao enunciar o conselho da mãe à filha noiva: “vai, segue-
o até onde ele quiser levar-te, é o teu dever” (Lopes de Almeida, O dia do casamento: 7).
Júlia Lopes de Almeida com seu prestígio conseguiu influenciar e consagrar noções
de como viver os desafios dos novos papéis sociais da mulher, através de inserções em
revistas como as referidas acima, incutindo em suas leitoras a possibilidade da harmonização
entre o campo e a cidade, numa sociedade de urbanização célere, na qual educação entra
como sinônimo de obediência e a docilidade como razão maior.
Outra das assíduas colaboradoras d’A mensageira foi Anália Franco. Em uma
primeira pesquisa sobre quem escrevia literatura no Brasil, o jornalista e escritor João do
Rio entrevistou para seu livro O momento literário, vários literatos de seu tempo. Um
deles, Curvelo de Mendonça conhecido romancista libertário e autor de Emancipação
(1903), lembrou-se de Anália Franco:
Essa jovem delicada e meiga trabalhou a principio só. Fez-se professora particular e
pública, escreveu livros, abriu escolas para instruir as crianças e educar a mulher
brasileira, retirando-a da confabulação miserável nos confessionários dos padres. É
preciso reparar nesse fato, que é expressivo. Ninguém no Rio de Janeiro falou nisso. Os
livros, os romances e a revista, que essa brasileira notável tem escrito e dirigido, nem um
só momento aparecem em nosso meio literário. (...) O Sr. (José) Veríssimo e os outros
críticos ignoram tudo isso. Que importa! A obra não fica sendo menor, nem menos valiosa
(...) Entretanto, a coisa está ali em São Paulo. Ninguém a vê porque não quer ou não sabe.
(155-156)
E Anália Emília Franco representa de fato uma das mais combativas mulheres aqui
comentadas. Não pertencendo ao circuito das demais escritoras, e não dispondo do capital
cultural das demais, Anália foi das poucas mulheres letradas a fazer o curso regular de
magistério no mais importante símbolo da educação republicana, que foi a Escola Normal
de São Paulo. O que mais nos surpreendente nela não é propriamente o teor de seus
escritos, mas a singularidade de sua força empreendedora. Seu nome foi registrado por
poucos, quase sempre citada pelas próprias mulheres que a acolhiam em seus periódicos.
Assim foi em A família, (onde adotou o pseudônimo de Zália), A mensageira, A semana,
do Rio de Janeiro e Almanaque das Senhoras, de Lisboa, além de alguns jornais paulistas.
Mas era em suas próprias folhas que ela costumava divulgar seus textos. Anália criou a
publicação mensal O Álbum das meninas, revista literária e educativa dedicada às jovens
brasileiras, em 1898, em cujo primeiro número explicita o porquê de sua incursão nas
letras: “resolvi fazer uso da imprensa para dar à publicidade esta modesta revista
(...)expendendo as minhas idéias sobre educação(...) para esse fim peço e espero a
contribuição do talento e da palavra de outras penas mais competentes e abalizadas do que
a minha” (Apud. Arroyo 138).
O LUGAR DA EMANCIPAÇÃO DA MULHER 661
9
A abolição só viria em 1888 mas a lei do ventre livre era de 1871.
10
Anália Emília Franco (1856-1919) Seu teatro educativo compunha-se de: A Feiticeira, em três
atos, A Filha Ingrata, As Duas Colegiais, A Neta Vaidosa, todos drama em 2 atos, A Escolinha e
A Caipirinha. A professora também escreveu operetas, os romances: A Égide Materna e A Filha do
Artista, além de alguns hinos, em louvor à Ana Nery, Minha Terra, O Carpinteiro, a Jesus, assim
como livros didáticos: Leituras Infantis, Leitura Progressiva para Crianças, Lições aos Pequeninos,
662 MARIA DE LOURDES ELEUTÉRIO
Nada disso impediu que a autora se mostrasse categórica diante de sua produção
como afirma Eduardo Carvalho Monteiro que registrou a assertiva de Anália: “A literatura
não é o meu fim. Si a faço um pouco, é como um instrumento de trabalho” (37).
Pertencente a um estrato social diverso daquele de suas companheiras de lides
literárias, e revelando experiência concreta dos problemas que a jovem República
enfrentava com a substituição da mão de obra escrava pelos imigrantes, sua análise é mais
realista: incide na reflexão sobre as condições históricas que limitavam a ação da mulher
brasileira.
Se A mensageira propunha o rompimento com padrões anteriores da experiência
feminina, almejando um lugar na sociedade através de uma nova educação, os textos de
Anália Franco vislumbravam uma educação em sentido mais amplo. Educar a mulher para
educar o cidadão seria ponto pacífico, porém a ênfase é para o trabalho e a profissionalização
para ambos os sexos era o fulcro de seus esforços.
Nesse sucinto panorama de propostas que abordamos, podemos dizer que as revistas
de variedades apostaram numa possível consumidora. A família, em seu breve período
paulista de apenas um ano, pretendeu abordar alguns tópicos do debate emancipatório. A
mensageira privilegiou a emancipação do intelecto, enquanto as revistas de Anália Franco
foram instrumentos de divulgação para a emancipação econômica de crianças e jovens
desvalidos, numa abordagem evangelizadora.
No conjunto interessa notar o valor da leitura na formação tanto intelectual quanto
moral e, de outro lado, o da literatura como veículo para as transformações sociais. Em
ambos os casos, o mais importante é que nesse contexto a mulher brasileira aparece
escrevendo, e através desse exercício, expondo suas idéias e ideais.
BIBLIOGRAFÍA
Revistas consultadas:
A Camélia, órgão da Sociedade Noites Recreativas dedicado as Exmas Famílias (1890-
1891).
A Cigarra (1914 -1930).
A família, dedicado à educação da mãe de família (1888-1889).
A mensageira, revista literária dedicada à mulher brasileira (1897-1900).
Chácaras e Quintais (1910).
O almanaque agrícola brasileiro (1910-1915).
O Álbum das meninas, revista literária e educativa dedicada às jovens brasileiras (1898-
1900).
O Bromoformio (1906-1907).
O chromo, órgão literário dedicado ao belo sexo (1901).
Revista Feminina (1915-1926).
Vida Moderna (1907-1925).
Livros e artigos:
Almeida, Presciliana Duarte de. “Duas Palavras”. A mensageira 1/1 (1897): 1-2.
_____ “Impressões de leitura”. A mensageira 1/5 (1897): 72-76.
O LUGAR DA EMANCIPAÇÃO DA MULHER 663
Arroyo, Leonardo. Literatura infantil brasileira, ensaios preliminares para a sua história
e suas fontes. São Paulo: Melhoramentos, 1967.
Barros, Maria Cândida Silveira de. Vida e Obra de Anália Franco. São Paulo: Copident
Ltda., 1982.
Bernardes, Maria Thereza. Mulheres de ontem ? Rio de Janeiro do século XIX (1849-
1890). São Paulo: Queiróz Editores, 1989.
Bourdieu, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: 2ª edição, Perspectiva,
1987.
Buittoni, Dulcídia Helena Schroeder. Mulher de papel: A Representação da Mulher na
Imprensa Feminina Brasileira. São Paulo: Edições Loyola, 1981. Vol. XXVI da
série Comunicação.
_____ Imprensa Feminina. Vol. XLI da série Princípios. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1990.
Cruz, Heloísa de Faria. São Paulo em papel e tinta: periodismo e vida urbana-1890-1915.
Educ; Fapesp; Arquivo do Estado de São Paulo; Imprensa Oficial de São Paulo:
2000.
_____ São Paulo em revista: Catálogo de Publicações da Imprensa Cultural e de
Variedades Paulistana. (1870-1930). São Paulo: Divisão de Arquivo do Estado,
1997.
Eleutério, Maria de Lourdes. Esfinges e heroínas, a condição da mulher letrada na
transição do fim do século. (1890-1930). Tese de doutorado em Sociologia,
Universidade São Paulo, 1997.
Lima, Sandra Lúcia Lopes. Espelho de mulher: Revista Feminina (1916-1925).Tese de
doutorado em História, Universidade de São Paulo, 1991.
Lopes de Almeida, Júlia. “Entre amigas”. A mensageira 1/1 (1897): 3-5.
_____ “O dia do casamento”. O Bromoformio 5/1 (1906): 7.
Miceli, Sérgio. Intelectuais à Brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Monteiro Filho, Eduardo Carvalho. A grande dama da educação brasileira. São Paulo:
Eldorado Espírita, 1992.
Oliveira, Ana Luíza C. Revistas em revista; imprensa e práticas culturais em tempos de
república. São Paulo 1890-1922. São Paulo: Tese de doutorado em História, Universidade
de São Paulo, 1998.
Paixão, Sylvia Perlingeiro. “A Mensageira”. A Fala a menos, a repressão do desejo na
poesia feminina. Rio de Janeiro: Numen, 1991.
Pereira, Maria Stella A L. A imprensa periódica e a literatura em São Paulo (1833-1922).
Dissertação de Mestrado em História, Universidade de São Paulo, 1976.
Rio, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Garnier, 1910.
Sousa, Galante de. O teatro no Brasil. Rio de Janeiro: MEC/INL, 1960.
Santos, Maria Clara Cunha. “Carta do Rio”. A mensageira 1/8 (1898): 115-118.
Silva, Paulina. “O lugar da mulher”. A família 1/1 (1888): 4.
Vasconcelos, Eliane. “Joana Paula Manso de Noronha”. Escritoras Brasileiras do século
XIX. Antologia. Zahidé Lupinacci Muzart, org. Editora Mulheres; Santa Cruz do Sul:
Edunisc, 1999.
Revista Iberoamericana, Vol. LXX, Núms. 208-209, Julio-Diciembre 2004, 677-695
POR
INTRODUÇÃO
1
A coleção reproduz, em vários volumes, o conteúdo completo de 40 revistas que circularam entre
1906 e 1965, acompanhadas de breves apresentações. Cabe esclarecer que, ao longo do texto, as
revistas serão citadas de acordo com os dados de sua publicação original e não com os da edição fac-
similar.
2
Uma contribuição importante para o estudo das revistas literárias mexicanas dos anos 10 e 20
encontra-se no trabalho de Sheridan (1985) sobre o grupo “Contemporáneos”. De maneira cronológica,
o autor acompanha o percurso dos poetas deste que ficaria conhecido como “o grupo sem grupo” e,
nessa trajetória, analisa a linha editorial e o projeto cultural e político de revistas nas quais tais poetas
colaboraram, como San-ev-ank, México Moderno e El Maestro. Como material de referência sobre
as revistas literárias do México, é preciso destacar o importante ciclo de conferências, promovido
pelo Instituto Nacional de Bellas Artes, em 1962. Tais conferências preparadas por críticos,
jornalistas e escritores, muitos dos quais haviam participado do corpo de redação das próprias
revistas analisadas, foram publicadas em dois volumes, em 1963 e 1964.
PRODUÇÃO LITERÁRIA E PROJETOS POLÍTICO-CULTURAIS EM REVISTAS 679
culturais e literárias brasileiras não têm recebido a mesma atenção editorial que as
mexicanas. No entanto, não se pode deixar de reconhecer que os estudos que se vêm
realizando de forma relativamente constante acerca de tais materiais cumpre a função de
aproximá-los dos leitores em geral e do público especializado em particular. Nesse
sentido, vale a pena mencionar os trabalhos de teor monográfico produzidos nas décadas
de 1970 e 80 sobre revistas pré-modernistas e modernistas como, por exemplo, Kosmos
(Dimas 1983), Revista do Brasil (Ikeda 1975), Klaxon e terra roxa e outras terras (Lara
1972) e Novíssima (Guelfi 1987). Alguns estudos mais recentes, realizados com uma
perspectiva mais cultural e histórica que especificamente literária (Crespo 1990; Luca
1999), contribuem, junto com os anteriores, para a compreensão da criação literária,
ideológica e cultural veiculada pelas revistas, bem como do contexto político e ideológico
em que elas circularam.
O interessante panorama que se vislumbra a partir dos materiais originais e dos
estudos mencionados pode conduzir à elaboração de uma interessante análise comparativa.
No entanto, há alguns elementos que vale a pena examinar antes de realizá-la. Voltemos
à nossa questão inicial: que revistas selecionar entre as que circularam em um período tão
instável, quando a própria definição das revistas literárias ou culturais era tênue?
Não devemos perder de vista que, durante as décadas de 1910 e 1920, tanto no México
como no Brasil, vivia-se um processo editorial ainda incipiente. Por um lado, o público
leitor era muito reduzido, o que não favorecia a produção e a distribuição de livros em larga
escala. Por outro lado, a imprensa ocupava um lugar importante nesse horizonte de poucos
leitores, satisfazendo o desejo de informação e cultura de muitos deles. Os jornais de
caráter político-informativo normalmente mantinham páginas e seções dedicadas à
literatura, à crítica literária e de artes plásticas. Ademais, vários seguiam a tradição oriunda
do século anterior de publicar romances em forma de folhetim. Esses espaços cumpriam
uma tarefa importante na difusão da criação literária e crítica, representando para os
escritores, poetas e críticos a oportunidade de atingir mais leitores.
Em ambos os países, veículos tão ou mais importantes que os jornais como espaços
de difusão cultural eram as chamadas revistas ilustradas (as quais, curiosamente, ainda
conformam um terreno praticamente virgem para os pesquisadores). Ao cumprir a tríplice
função de informar, instruir e divertir, tais revistas conseguiam conquistar um público
cativo, geralmente de elite, funcionando, elas também, como um canal importante para a
difusão da produção cultural, literária e artística do momento.
Em um contexto em que, tanto no México como no Brasil, a maioria das revistas
estritamente literárias ou culturais costumava ter vida breve, a criação literária e intelectual
requeria o apoio de meios de difusão complementares. Não se pode ignorar que, enquanto
tais revistas circulavam de maneira geralmente precária e errática, em poucos números que
se perdiam entre um público leitor especializado e restrito, as revistas ilustradas possuíam
um campo de circulação representativamente maior. Isso lhes dava uma grande visibilidade
social, cultural e política e uma capacidade substantiva de influência junto ao público, com
a possibilidade de interferir na própria formação do seu gosto e, eventualmnte, de difundir
com maior êxito novas correntes literárias, artísticas e ideológicas.
Ora, se pretendemos estudar algumas revistas para procurar entender e refletir sobre
a efervescência cultural e política das cidades de São Paulo e do México, nas décadas de
680 REGINA AÍDA CRESPO
1910 e 20, vale a pena evitar os critérios de definição estritos para a sua eleição.
Ampliemos os horizontes da análise, com a incorporação de revistas que, independentemente
de uma definição rigorosa como culturais ou literárias, possuíam, no momento em que
circularam, um projeto cultural explícito ou implícito, e uma postura própria e representativa
dos debates que se desenvolviam acerca do contexto político e da criação intelectual e
literária. Como veremos, durante as décadas de 1910 e 1920, tais revistas foram
testemunhas de um processo significativo de mudanças nos planos político, econômico e
cultural, e foram porta-vozes de alguns setores sociais interessados em participar ativamente
de tal processo. Assim, não só é possível vê-las a partir de uma perspectiva especificamente
cultural e literária, como também do ponto de vista político e ideológico, considerando-
as arenas de reflexão e influência.
Para este exercício breve e panorâmico de comparação, foram selecionadas seis
publicações. Frutos de um amplo processo de criação intelectual e estética, elas merecem
ser estudadas como parte ativa e definidora do contexto social, cultural e político de que
fizeram parte.
A longeva e tradicional Revista de Revistas, publicação semanal ilustrada fundada
por Luis Rojas, e a aparentemente fútil e ingênua A Cigarra, publicação quinzenal do
paulista Gelásio Pimenta, possuíam muito em comum. Vencendo praticamente incólumes
vários períodos de instabilidade e mudanças sociais, tanto a revista mexicana como a
brasileira conseguiram conquistar fatias relativamente amplas e diversificadas de público.
Ambas ofereciam a esse público, além de artigos de opinião, notícias, literatura e
curiosidades científicas e históricas, muitas fotos e ilustrações requintadas, fofocas e
propaganda. Essa mescla entre cultura e entretenimento, temperada com um forte apoio
à política oficial, consolidaria uma corrente importante na mídia dos dois países.3
Como uma espécie de publicação híbrida, entre o que se poderia definir como revista
literária, ilustrada e gazeta política, com um amplo espaço destinado ao humor, O
Pirralho, a primeira revista do futuro modernista Oswald de Andrade, aproxima-se de
certa maneira da polêmica e áspera Multicolor. A revista mexicana, fundada pelo jornalista
político espanhol Mario Vitoria, mesclou irreverência, caricatura, crítica política, sátira e
3
A Revista de Revistas circulou de 1910 a 1972. Nesses 62 anos, teve muitos proprietários e editores.
Apesar de se definir como apolítica, apoiou enfaticamente o governo de Porfirio Díaz. Até 1924,
apesar de algumas mudanças em sua linha editorial, foi uma revista declarada ou implicitamente
governista (à exceção da curta presidência de Francisco Madero, a quem fez velada oposição).
Infelizmente, sua característica mais interessante se perdeu: a reprodução, em espanhol, de artigos
de periódicos nacionais e estrangeiros (basicamente estadunidenses e europeus). Essa política, que
durou praticamente toda a década de 10 e deixou de existir iniciados os anos 20, dava-lhe um lugar
particularmente importante no panorama local, e um caráter cosmopolita, que a diferenciava das
competidoras. A Cigarra, por sua vez, surgiu em 1914. Até 1924, a revista foi editada por Gelásio
Pimenta, seu fundador-proprietário. Durante esses dez anos, manteve uma postura política e
socialmente conservadora e um caráter essencialmente triunfalista Em 1934, alguns anos depois da
morte de Pimenta, A Cigarra foi vendida ao empresário e jornalista Assis Chateaubriand e passou
a ser publicada no Rio.
PRODUÇÃO LITERÁRIA E PROJETOS POLÍTICO-CULTURAIS EM REVISTAS 681
maledicência, em doses nem sempre justas e proporcionais, para retratar um dos períodos
mais conflituosos da Revolução Mexicana.4
Finalmente, El Maestro e a Revista do Brasil –revistas que conquistaram um lugar
oficial na história cultural, literária e política de seus respectivos países– compartilharam
algumas preocupações de teor cultural, estético e ideológico. Seus editores eram escritores
e intelectuais que, no caso da primeira publicação, estavam atrelados ao Estado e, no caso
da segunda, buscavam influenciá-lo, ou pelo menos dialogar com ele. Ambas as revistas
deixaram de lado o mundanismo, o entretenimento e a sátira política veiculados pelas
publicações anteriormente mencionadas, para dedicar-se plenamente à tarefa de formular
e difundir um projeto de cultura, pensado em termos nacionais.5
4
O Pirralho circulou, semanalmente, de 1911 a 1915 e, a partir de então, quinzenalmente, até 1917.
A revista manteve uma linha de crítica irreverente a alguns personagens do contexto político
nacional, além de sempre opinar com certa independência sobre temas e acontecimentos do
momento. No entanto, O Pirralho nunca deixou de se comportar como uma revista “mundana”, a
par dos interesses do público de elite ao qual finalmente se dirigia. Multicolor circulou, também
semanalmente, de maio de 1911 a julho de 1914, quando fechou suas portas em meio à crise da
presidência do militar golpista Victoriano Huerta, a quem havia apoiado e que passou à história
mexicana como “el usurpador”. Multicolor sustentou uma campanha inclemente contra o candidato
e, depois, presidente Francisco Madero, e acabou desaparecendo junto com Victoriano Huerta,
quando este fugiu do país, em julho de 1914.
5
El Maestro. Revista de Cultura Nacional constou de 17 números e circulou de 1921 a 1923. Foi
criada por iniciativa de José Vasconcelos, reitor da Universidade Nacional de junho de 1920 a
outubro de 1921, e ministro da educação, de outubro de 1921 a julho de 1924. De abril a setembro
de 1921, a revista foi editada pela universidade e, a partir de outubro, pela SEP - Secretaría de
Educación Pública. A Revista do Brasil, publicação mensal, foi fundada em 1916 por um grupo de
intelectuais paulistas reunidos em torno da figura de Júlio de Mesquita, dono do jornal O Estado de
S. Paulo. De 1918 a 1925, a revista pertenceu ao escritor e empresário Monteiro Lobato, quem
consolidou sua orientação reflexiva, crítica e nacionalista e ampliou o espaço dedicado pela
publicação à literatura brasileira.
682 REGINA AÍDA CRESPO
que manipularam, a partir desse passado, para a ratificação cultural e histórica do momento
em que lhes tocou viver nem sempre foram os mesmos.
Conhecer as revistas e analisá-las, em seus vínculos com o contexto em que
circularam, significa acompanhar sua trajetória e a luta –silenciosa ou veemente, vitoriosa
ou não– que desenvolveram pela consolidação de um espaço próprio no terreno político-
cultural. Os grupos representados em cada uma delas buscaram não apenas atrair
determinadas parcelas do público, como conquistar legitimidade cultural e política
suficiente para difundir e, eventualmente, implantar suas idéias e projetos.
Para refletir sobre as revistas escolhidas e o lugar que ocuparam no México e no Brasil
dos anos 10 e 20, devemos procurar saber se atuaram, e de que maneira, como criadoras
ou defensoras de uma determinada tradição cultural; se conquistaram autoridade e
legitimidade suficientes no campo cultural, para atuar como “instituições”; se buscaram
ou não criar novos paradigmas estéticos ou culturais; se atuaram ou não como a expressão,
no dizer do próprio Williams, de “formações” intelectuais e artísticas.
6
Ver, por exemplo, “El reinado de la barbarie” (12 ene. 1913):2, artigo anônimo sobre o ataque de
zapatistas a uma fábrica, em que se comenta que “desde que la revolución de 1910 echó abajo al
régimen porfiriano, las hordas que se ampararon bajo las banderas de esa misma revolución con el
único propósito de robar, de asesinar y de cometer toda clase de atentados, han asolado el territorio
de la República, sin que el Gobierno haya logrado extinguirlas”.
7
A Revista de Revistas incentivaria tal reflexão, publicando o artigo “La moderna literatura
mexicana”, de Julio Jiménez Rueda (12 e 19 feb. 1922). Nele, o crítico apresentava um panorama
da poesia mexicana, a partir do Modernismo, no qual enumerava os poetas mais representativos e
os mais promissores. Nesse momento, Jiménez Rueda estava otimista com os rumos da criação
literária nacional: “Nunca como ahora la República está en mejor aptitud para producir grandes
poetas, interesantes dramaturgos, amenos cuentistas. El pensamiento, puesto en los grandes dolores
del país, ha hecho que vayan los artistas al pueblo, que busquen sus tradiciones, que estudien sus
costumbres”. Em 1925, o mesmo crítico, nada otimista, iniciaria uma longa polêmica no jornal El
Universal Ilustrado, com “El afeminamiento en la literatura mexicana”, artigo em que destacava a
artificialidade da vida intelectual mexicana, a dificuldade dos escritores em deixar sua torre de
marfim e a inexistência de uma obra literária capaz de expressar “las agitaciones del pueblo en todo
ese periodo de cruenta guerra civil [...] el pueblo [que] ha arrastrado su miseria ante nosotros sin
merecer tan siquiera un breve instante de contemplación” (Schneider 163). Tal polêmica teve como
mérito tornar conhecida a chamada “Novela de la Revolución” e em trazer à discussão a existência
ou não de uma literatura emancipada das formas do passado. Sobre o tema, consultar Schneider e
Díaz Arciniegas (1989).
684 REGINA AÍDA CRESPO
8
Ver, por exemplo, “Todo en calma” (29 jun. 1911), pequena crônica que questiona a capacidade
de liderança de Madero e critica a instabilidade política do país. Ver, também, Atila. “San Emiliano
Zapata” (9 nov. 1911), poema rimado, em octossílabos, que ironiza Zapata. A “elegância”, a alma
generosa, a linguagem correta e até a “santidade” do personagem, fazem o poeta sugerir que ele seja
incorporado ao almanaque dos santos católicos. Vale a pena conhecer “Prácticamente terminados”,
de E. L. Quinto (23 ene. 1913), longo poema em dodecassílabos, no qual o “autor” critica a situação
do país, a debilidade de Madero e a violência de Zapata. O fecho do poema - “Que viviré implorando
divina gracia/Para que pronto acabe la democracia” - ilustra significativamente a linha político-
ideológica de Multicolor. Finalmente, a crônica “Semana política”, de Un Familiar (30 jul.1914),
no último número de Multicolor. Ao analisar ironicamente as pugnas entre as facções revolucionárias,
o autor chega a tratar o futuro presidente, Venustiano Carranza, por “don Venus”. A revista, que já
ridicularizara Madero, adotava aqui, ainda que atenuadamente, uma irreverência inusitada para o
cerimonialismo tradicional da imprensa diante das autoridades políticas.
PRODUÇÃO LITERÁRIA E PROJETOS POLÍTICO-CULTURAIS EM REVISTAS 685
9
Quanto aos textos: Gorostiza. “Recordando a los humildes”. I 1 (abr.-sep. 1921):31-32; Torres
Bodet.” ‘El Emilio’ de Juan Jacobo Rousseau”. I 1 (abr.-sep. 1921):33-36; Pellicer. “A los
estudiantes mexicanos”. I 1 (abr.-sep. 1921):37. Quanto aos poemas: Pellicer. “El Sol! El Sol! El
Sol!” I 2 (abr.-sep. 1921):203; Torres Bodet. “Una mujer”. I 2 (abr.-sep. 1921):205; Gorostiza.
“Balada de la luz sumisa”. I 4 (abr.-sep. 1921):431-432.
686 REGINA AÍDA CRESPO
10
O polêmico projeto editorial de Vasconcelos incluía publicar A Ilíada, A Odisséia, Ésquilo,
Eurípedes, Platão, Plutarco, Plotino, Goethe, Tagore e Romain Rolland, além dos Evangelhos (1993
I 47), em tiragens médias de 25.000 exemplares (Fell 488). Vasconcelos recebeu muitas críticas ao
editar filósofos gregos num país em que se falavam mais de 50 línguas e em que uma parte
significativa da população (cerca de 10%) não falava, muito menos pensava o mundo no espanhol
nacionalizador. Além dos filósofos, a SEP editou livros de leitura para o ensino primário e manuais
técnicos e artísticos, destinados à educação e sensibilização do povo. Normalmente, os livros eram
editados em grandes quantidades e vendidos abaixo do custo, ou distribuídos gratuitamente (Crespo
106).
11
Ver, por exemplo, Mena. “Nueva orientación arqueológica e histórica”. III 2 (abr. 1922-
1923):154-166; e Hyde. “Antigüedad del hombre en el Valle de México”. II 4-5 (oct. 1921-mar.
1922):366-387.
PRODUÇÃO LITERÁRIA E PROJETOS POLÍTICO-CULTURAIS EM REVISTAS 687
escribiremos para los muchos, mas con el propósito constante de elevarlos, y no nos
preguntaremos qué es lo que quieren las multitudes, sino qué es lo que más les conviene,
para que ellas mismas encuentren el camino de su redención. I 1 (abr.-sep. 1921): 6.
12
Respectivamente, II 4-5 (oct. 1921-mar. 1922):455-457; III 1 (abr. 1922-1923):88-99; Caloca II
4-5 (oct. 1921-mar. 1922):436-439; Ramos Pedrueza I 1 (abr.-sep. 1921):123-130; I 3 (abr.-sep.
1921):235-242; I 4 (abr.-sep. 1921):341-348).
13
Respectivamente, López Velarde. “La suave patria”. I 3 (abr.-sep. 1921):311-314, Santos
Chocano. “La campaña de Dolores”. I 5-6 (abr.-sep. 1921):623-625, Mistral. “El grito”. II 4-5 (oct.-
1921-mar.1922): 339-340.
688 REGINA AÍDA CRESPO
Nesse sentido, poderíamos deduzir que, sem apreensão nem sofrimento, as artes e a
literatura ganhariam um forte estímulo e um caráter de inconteste exaltação. O lugar da
literatura estaria resguardado e a separação entre arte e política também. Essa visão é
patente na revista A Cigarra que, coerente com o próprio nome, anunciava em seu primeiro
número o seu principal objetivo: oferecer ao leitores o verão a cada quinzena. A Cigarra
não se propunha ser útil, mas sim agradável, presenteando os leitores com as “indispensáveis
inutilidades que constituem o ornato e o encanto da existência” (“Crônica” 6 mar 1914).
Entre elas a revista classificava a arte como a suprema e oferecia ao seu público muitos
contos, poemas e uma série de crônicas literárias, muitas delas refletindo sobre temas
como as mudanças de estação climática e a intensa vida social e cultural da cidade de São
Paulo.14
Entre seus escritores colaboradores estavam, na prosa, os indefectíveis Coelho Neto
e Cornélio Pires, acompanhados do jovem Monteiro Lobato –que logo, logo voaria mais
alto, em seu próprio veículo, a Revista do Brasil– e do irrequieto Oswald de Andrade –que
já tinha uma posição de evidência, à frente de O Pirralho.
Junto ao núcleo de escritores que fariam parte da história literária nacional, ou pelo
menos paulista, A Cigarra possuía uma equipe de cronistas como Manuel Leiroz, que não
participaria de nenhuma antologia literária, no que seria acompanhado por outros
colaboradores da revista como Juliano Rey e Magalhães Torres, sem mencionar os
pseudônimos Jaffa, Coroca Velha e Purcheria do Sabará. Entre os poetas, reinava Olavo
Bilac, acompanhado de outros “mestres do passado” como Vicente de Carvalho e
Albertina Bertha, além de vários desconhecidos (muitos deles, na realidade, estudantes de
medicina ou direito, fazendo seu debut na sociedade paulista com a publicação de um
soneto açucarado).
Habituados a responder ao que provavelmente definiam como o gosto médio do
público em termos de criação literária, os editores de A Cigarra não costumavam
aventurar-se na publicação de grandes novidades estéticas, ainda que eventualmente o
fizessem. Nesse sentido, é interessante comentar que a revista publicou vários textos de
Oswald de Andrade, inclusive alguns excertos da primeira versão de seu João Miramar
(Crespo 1990 64) e o primeiro ato de Mon Coeur Balance, composta em francês, em
parceria com Guilherme de Almeida, também colaborador eventual de A Cigarra (125).
Temos, aqui, uma característica fundamental do momento, que se aplica tanto ao Brasil
como ao México: o universo cultural ainda era numericamente restrito e, mais que isso,
refletia uma enorme fusão entre vida social e vida literária. Assim, na cidade de São Paulo,
o travesso Oswald, parte da elite econômica, partícipe de sua vida mundana e figura
expressiva do mundo literário, podia ser “condescendentemente” publicado por uma
revista esteticamente conservadora como A Cigarra.
14
Ver, por exemplo, “Crônica” 11 maio 1915, texto que descreve a chegada do inverno e seus efeitos
benéficos sobre a população chic de São Paulo; “Hora literária” 23 nov. 1916, que comemora o êxito
deste evento de poesia, ao qual compareceu uma “luzida e seletíssima assistência”; “Crônica” 1 jun.
1923, que comenta com júbilo a intensa vida cultural paulistana e elogia o trabalho editorial do
paulista Lobato.
PRODUÇÃO LITERÁRIA E PROJETOS POLÍTICO-CULTURAIS EM REVISTAS 689
Se, na década de 1910, não parecia haver grandes dúvidas de que a literatura era “o
sorriso da sociedade”, para O Pirralho ela também significava riso. A revista oferecia um
espaço especial para a crítica política feita com bom humor. Ao longo de seus sete anos
de existência, O Pirralho adotou um procedimento simultaneamente mordaz e cômica no
tratamento da conduta de alguns políticos, tomados como objeto de escárnio, entre os
quais o marechal Hermes da Fonseca, presidente da República, de 1910 a 1914. Fonseca
foi objeto de várias crônicas humorísticas, poemas satíricos e até mesmo personagem de
um encontro hilariante com dois repórteres apócrifos da revista, Pindoba e Gaudêncio.15
Além disso, O Pirralho propiciava que a sensibilidade corrosiva dos redatores se
transformasse em registros capazes de refletir as transformações vividas pela cidade de
São Paulo como berço do desenvolvimento econômico falado com sotaque imigrante. As
seções O Rigalegio, Cartas de abax´o pigues e O Birralha, xornal allemong (supostos
“jornais” simuladamente autônomos, escritos por “estrangeiros” e publicados dentro de
O Pirralho) confirmam o caráter perceptivo da revista frente aos novos tempos que
tomavam conta da cidade.16
É interessante notar que, segundo Wilson Martins, nos anos 10, O Pirralho era muito
menos inovador do que poderia parecer.17 Apesar de todas as novidades introduzidas pela
publicação, se observamos a lista dos seus colaboradores literários, não podemos deixar
de concordar com o crítico. Entre os poetas assíduos em O Pirralho, capitaneados por
Olavo Bilac, encontraríamos Amadeu Amaral, Ricardo Gonçalves e Martins Fontes, além
de “duas extraordinárias mulheres, Rafaelina de Barros e Albertina Bertha” (“Quatro
anos”. 4 set. 1915). Entre os narradores, os regionalistas Alcides Maia e Monteiro Lobato,
além do consagradíssimo Coelho Neto, sempre presente nas colunas literárias da época.
No entanto, na companhia de tantos escritores, por assim dizer, “tradicionais”, os
leitores tinham a oportunidade de deliciar-se com os textos de Cornélio Pires e,
15
A narrativa da “entrevista” compõe-se da combinação de quatro elementos distintos: a paródia (por
exemplo, a fala do marechal), a comicidade aliada à inverossimilhança da situação narrada, o
suspense e a inserção dos pontos de vista de O Pirralho no contexto do episódio narrado (Gaudêncio.
“Pirralho no Palácio do Catete” 7 mar. 1914). Outro texto curioso é a “História do Brasil do Hermes”
27 dez. 1913, que transcreve a suposta versão do presidente sobre a guerra do Paraguai, cheia de
comicidade e imprecisões históricas. Também vale a pena conhecer o “diário” da guerra do
Contestado, firmado pelo próprio “Marechá”, em que o oportunismo e o autoritarismo dos políticos
e do exército brasileiro são tratados com irreverência e ironia (“Boletim Oficial da Guerra contra os
fanáticos”. Pelo Hermes. 10 out. 1914).
16
Os textos, escritos por supostos imigrantes italianos e alemães eram, em primeiro lugar, o resultado
de um curioso trabalho de transcrição fonético-filológica. Representaram a tentativa bem-sucedida
de reproduzir na escrita o registro oral dos imigrantes, no seu esforço em falar português. Nos textos
do pseudônimo Juó Bananere, algumas palavras provinham do italiano, outras passavam por um
processo italianizador e se misturavam com palavras grafadas em português ou aportuguesadas,
numa estruturação sintática mais aproximada da do português. Nos textos germanizados de O
Birralha, o procedimento era o mesmo. Ambos constituíam um registro específico – o
“macarrônico”–, denominação criada pela própria revista (23 maio 1914).
17
Segundo Martins (6 23), “em 1915, O Pirralho nada tinha de revolucionário, aceitando com
abundância de coração os valores consagrados e a literatura oficial”.
690 REGINA AÍDA CRESPO
18
Júlio de Mesquita concebia a Revista do Brasil como um terreno específico para a discussão de
questões nacionais. A revista foi fundada como sociedade anônima, composta por 66 acionistas
oriundos da elite intelectual e econômica paulista de caráter liberal: médicos, engenheiros,
professores, advogados, políticos e jornalistas (Luca 42; 44-45). Nos seus primeiros dois anos, a
Revista do Brasil contou com suporte ideológico, apoio técnico e ajuda financeira (em forma de
propaganda) do jornal O Estado de S. Paulo.
PRODUÇÃO LITERÁRIA E PROJETOS POLÍTICO-CULTURAIS EM REVISTAS 691
19
A divulgação de estudos como os de Saint Hilaire e de Alcântara Machado sobre os tempos
coloniais e a vida dos bandeirantes, publicados em vários números, entre 1922 e 1923, vem
comprovar a preocupação da Revista do Brasil com o resgate do papel heróico e insubstituível do
estado de São Paulo na construção do país. O cultivo a esta espécie de “mito de origem” (o Brasil
era o que era devido à ação dos bandeirantes) daria respaldo ao forte regionalismo que a Revista do
Brasil sustentava. No contexto do mito, aos paulistas “fundadores” caberia para sempre o papel de
vanguarda. Na Colônia, como os ampliadores das fronteiras. Em finais do Império e, principalmente,
durante toda a República, como os construtores da riqueza e modernizadores do país (na combinação
entre café, indústria e hegemonia política). Tal mito reforçaria a imagem de São Paulo como a
locomotiva do progresso brasileiro – “O Progresso de São Paulo”. 25 93 (set. 1923): 94-105.
20
Na realidade, não se pode pensar na Revista do Brasil sem concebê-la como parte da trajetória
política e intelectual de Lobato. Preocupado com as causas sociais, Lobato abriu as páginas da revista
para a difusão de campanhas como as sanitárias, promovidas pelo governo paulista, e escreveu
artigos em defesa de uma política de saúde pública de caráter nacional. Criou ou respaldou
movimentos em prol de uma arte, de uma literatura e de uma língua nacionais, e deu espaço a
692 REGINA AÍDA CRESPO
COMPARAÇÕES
numerosos intelectuais preocupados com o tema. Sua obsessão em estimular a leitura (o que explica
sua obra monumental no âmbito da literatura infantil) pode ser pensada também como uma
campanha social - e não apenas para estimular a venda dos livros que passou a editar. Finalmente,
sua aproximação com intelectuais hispano-americanos, especialmente argentinos, representou a
tentativa de estimular o intercâmbio intelectual e literário do Brasil com os vizinhos.
PRODUÇÃO LITERÁRIA E PROJETOS POLÍTICO-CULTURAIS EM REVISTAS 693
BIBLIOGRAFÍA
Guelfi, Maria Lúcia F. Novíssima: estética e ideologia na década de vinte. São Paulo:
USP-IEB, 1987.
Ikeda, M. A. B. Revista do Brasil - 2.a Fase. Contribuição para o estudo do modernismo
brasileiro. São Paulo, 1975. 2 v. Dissertação (Mestrado em Letras) - Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.
Klaxon. Mensário de arte moderna [ed. fac-similar]. São Paulo: Martins/Secret. Cult.
Ciência e Tecnol. Est. S. Paulo, 1976.
Lara, Cecília de. Klaxon, terra roxa e outras terras: dois periódicos modernistas de São
Paulo. São Paulo: IEB-USP, 1972.
Las revistas literarias de México. 2. v. México: Instituto Nacional de Bellas Artes, Depto.
de Literatura, v. 1 1963, v. 2 1964.
Luca, Tânia Regina de. A Revista do Brasil: um diagnóstico para a (N)ação. São Paulo:
Fundação UNESP Editora, 1999.
Martins, Wilson. História da inteligência brasileira. 7 v. São Paulo: Cultrix, Editora da
Universidade de São Paulo, 1978. v. 6.
Monterde, Francisco. “Savia Moderna, Multicolor, Nosotros, México Moderno, La Nave,
La Falange, Ulises, El Libro y el Pueblo, Antena, etcétera”. Las revistas literarias
de México. México: INBA, 1963. 111-143.
Multicolor. México, 1911-1914.
O Pirralho. São Paulo, 1911-1917.
Revista de Antropofagia [ed. fac-similar]. São Paulo: Abril/Metal Leve, 1976.
Revista de Revistas. México, 1910-1924.
Revista do Brasil. São Paulo, 1916-1925.
Revistas literarias mexicanas modernas (Gladios, La Nave, Nosotros, San-ev-ank,
Pegaso, México Moderno, El Maestro) [ed. facsimilar]. México: Fondo de Cultura
Económica, 1979.
Schneider, Luis Mario. Ruptura y continuidad. La literatura mexicana en polémica. 2.a
reimp. México: Fondo de Cultura Económica, 1986.
Sheridan, Guillermo. Los contemporáneos ayer. México: Fondo de Cultura Económica,
1985.
_____ Índice de Contemporáneos. Revista mexicana de cultura 1928-1931. México:
UNAM, 1988.
Valdés, Héctor. Índice de la Revista Moderna, arte y ciencia: 1898-1903. México:
UNAM, 1967.
Vasconcelos, José. Memorias: Ulises Criollo; La Tormenta; El Desastre; El Proconsulado.
2. v. 3.a reimpresión. México: Fondo de Cultura Económica, 1993.
Williams, Raymond. Marxismo y literatura. Trad. de Pablo di Masso. Barcelona:
Península, 1997.
Revista Iberoamericana, Vol. LXX, Núms. 208-209, Julio-Diciembre 2004, 665-676
POR
A lo largo del siglo XIX, Brasil fue la única monarquía en medio de varias repúblicas
de lengua española. Esto creó el mito de la paz del Imperio que contrastaba con la
turbulencia política de las repúblicas hispanoamericanas, dominadas por las dictaduras de
los caudillos. Era común la idea de que Brasil debía alejarse del ejemplo de los vecinos
que amenazaría incluso la integridad del territorio nacional. La adopción de la República
significaría seguir el camino de la fragmentación de la América española.
A pesar de esta tendencia al aislamiento, el Imperio brasileño se alió a Argentina y
Uruguay en la Guerra de la Triple Alianza (1865-1870) para enfrentar a Paraguay. El
contacto con los países vecinos determinó tanto el renacimiento del ideal republicano,
como el surgimiento de un interés por las cuestiones americanas. El más importante
escritor brasileño del siglo XIX, Machado de Assis (1839-1908), al comentar la poesía del
chileno Guillermo Malta, sintetizó la imagen que de Hispanoamérica tenía Brasil en los
siguientes términos:
A anarquia moral e material é também em alguns de seus países elemento adverso aos
progressos literários; mas a dolorosa lição do tempo e das rebeliões meramente pessoais
que tanta vez lhes perturbam a existência, não tardará que lhes aponte o caminho da
liberdade, arrancando-os às ditaduras periódicas e estéreis. Causas históricas e constantes
têm perpetuado o estado convulso daquelas sociedades, cuja emancipação foi uma
escassa aurora entre duas noites de despotismo. (116-17)
1
El historiador brasileño Oliveira Lima puso como epígrafe a su obra O império brasileiro (1821-
1889) (1928) una curiosa declaración del presidente de Venezuela, Rojas Paul, al enterarse de la
caída de la monarquía brasileña: “Se ha acabado la única República que existía en América: el
Imperio del Brasil”.
666 RICARDO SOUZA DE CARVALHO
2
Sobre estos periódicos, el brasileño José Veríssimo registra en el artículo “Perspectivas da América
Latina” de 1912: “Ajudando o conhecimento e divulgação da América Latina na Europa, existem
ali periódicos que honram a inteligência latino-americana, como o Mundial, cujo diretor é Ruben
Darío, ‘o mestre reconhecido da nova poesia e um dos maiores líricos de todos os tempos da língua
espanhola’, segundo conceitua F. Garcia Calderón, e La Revista de América, recentemente
aparecida em París, dirigida por este mesmo sr. Calderón, e onde colaboram escritores brasileiros”
(32).
LA REVISTA AMERICANA (1909-1919) 667
2. DIPLOMÁTICOS ESCRITORES
3. EL BARÓN Y SU REVISTA
3
En Brasil, escriben sobre García Merou: Taunay; Araripe Jr. y Veríssimo.
4
Los artículos formarán la obra de publicación póstuma Impressões da América Espanhola (1904-
1906). En ocasión de su nombramiento para el cargo en Caracas, cuando quería ir a París o Londres,
Euclides da Cunha intenta consolar a Oliveira Lima en carta del 1 de setiembre de 1904: “a
Venezuela é talvez a parte mais intelectual de toda a América Latina. Há, pelo menos, ali, uns poetas
extraordinários, e de Estrada Palma, conservo ainda a impressão dos versos maravilhosos. De lá virão
as suas cartas para o Estado, que as receberá festivamente” (227).
668 RICARDO SOUZA DE CARVALHO
5
“Un día en cierto número de ciudades latinoamericanas aparecieron los clubes de estilo inglés.
Clubes con salones para estar, amueblados con cómodos sillones, salas de lectura con pocos libros,
en cambio, muchos periódicos y revistas - la Revue de Deux Mondes, sobre todo” (Romero 285). El
diplomático-escritor Oliveira Lima ratifica la importancia del periódico francés: “repositório no
qual, apesar dos fáceis doestos dos snobs, continua encontrar-se a nota literária do dia, o eco nítido
de todas as transformações mentais do século” (“O romance...” 39).
LA REVISTA AMERICANA (1909-1919) 669
6
La novela de Rufino Fombona, El hombre de hierro (1907), fue comentada por dos intelectuales
brasileños: Oliveira Lima (“Duas novelas hispano-americanas”, Impressões 198-206), amigo del
escritor venezolano cuando representó a Brasil en Caracas, y José Veríssimo (“Letras venezolanas”,
Cultura, Literatura e política 97-102).
670 RICARDO SOUZA DE CARVALHO
Os seus autores, porém, e não sei se isso os não desmerece como pensadores latino-
americanos, intelectualmente são todos ou quase todos produtos exclusivamente europeus.
Formaram-se mentalmente na Europa, escrevem na Europa, publicam-se na Europa.
Apenas são americanos de nascimento, porventura de estirpe e mormente de vontade.
Esta, porém, não lhes dá para o serem com todos os constrangimentos, percalços e
decepções que o americanismo in situ comporta. E esta é justamente a fraqueza do seu
latino-americanismo longínquo. Aliás não lho exprobo, antes de todo o coração lho
invejo. Estou mesmo certo que comigo lho inveja boa parte dos intelectuais meus
patrícios. O fato, porém, parece-me notável por significativo da íntima desconformidade
dos espíritos liberais latino-americanos com o seu meio nativo. (33)
El periódico del Barón de Rio Branco prefiere no publicar artículos de Veríssimo con
el enfoque crítico de “Perspectivas da América Latina”, sino trabajos del consagrado
crítico e historiador de la literatura, como “A evolução literária do Brasil”: un cuadro más
de la joven República para el continente.
Las tensiones entre nacionalismo y cosmopolitismo de los intelectuales
latinoamericanos, que pasaron de las ex-metrópolis ibéricas a la fascinación por París,
encuentran a un nuevo personaje: los Estados Unidos. La Revista Americana, que casi
podríamos llamarla Revista Latinoamericana por no contar con colaboradores
norteamericanos, trata sobre los Estados Unidos principalmente con relación a los temas
del panamericansimo, como la Doctrina Monroe. Los cuatro números de 1915 del
periódico presentan en la tapa a dos mujeres que surgen de un mapa del continente
americano, en el norte y en el sur, queriendo darse las manos. No obstante, las diferencias
se hacen sentir entre las dos Américas, como muestran los artículos de Alberto Nin Frías,
“Comparaciones entre los Estados Unidos y la América Latina”, y de Oliveira Lima,
“América Latina e América Inglesa ou a Evolução Brasileira comparada à Hispano-
Americana e com a Anglo-Americana”. Buscando un nuevo modelo, el latinoamericano
se sorprende ante los Estados Unidos; como sostiene Nin Frías: “El sudamericano
acostumbrado a la vida patriarcal de nuestra feliz sociedad acaba por sentirse anonadado
entre oleadas de gentíos, que se renuevan sin cesar, venidos de los cuatros puntos
cardinales de esta nueva Europa” (222).
La Revista Americana a veces da voz a la admiración de Joaquim Nabuco (1849-
1910) –uno de los intelectuales brasileños más destacables del siglo XIX, y diplomático en
Washington en sus últimos años de vida– que proclama en una conferencia el acercamiento
entre las dos Américas; en otras oportunidades, el periódico cede espacio al recelo de un
Jacinto López que analiza “La intervención armada de los Estados Unidos en la República
Dominicana”.
LA REVISTA AMERICANA (1909-1919) 671
5. ENCUENTROS LATINOAMERICANOS
La cita, que también se vuelve epígrafe del poema, es del diplomático-poeta brasileño
Fontoura Xavier (1856-1922), que ha publicado algunos poemas en inglés. En su elección,
Darío sintomáticamente valora la poderosa lengua “panamericanista” y olvida la solitaria
lengua portuguesa.
Fontoura Xavier representó a Brasil en varios países del continente, como Argentina,
Guatemala, e incluso los Estados Unidos, lo que le deja profundas impresiones expresadas,
por ejemplo, en el poema “As cataratas do Niágara”, incluido en su obra Opalos (1884).
García Merou lo presenta al público hispánico en El Brasil intelectual (1900) como “uno
de los libros más sugestivos de la literatura brasilera contemporánea, la revelación más
clara de un talento refinado y original.”(408). Traduce al español –el título sugestivamente
es vertido al inglés como “The Bald headed eagle”– un poema de 1890 en el que Fontoura
Xavier a través del símbolo del águila revela, como haría Rubén Darío, el deseo del
predominio de los Estados Unidos en Latinoamérica:
Darío dedica el poema “Balada de la bella niña del Brasil” a Ana Margarida, hija de
Fontoura Xavier, publicado en la Revista Americana en 1912, durante su segunda visita
a Brasil, y luego incluido en Canto a la Argentina y otros poemas (1914). Alude a los
primeros versos de la “Canção do exílio” –“Minha terra tem palmeiras, Onde canta o
Sabiá”, himno poético de Brasil del escritor romántico Gonçalves Dias (1823-1864):
Cuando Rubén Darío enarboló, como epígrafe de sus hexámetros al Águila norteamericana,
el primer verso del canto a la misma que, en años anteriores, diera a los públicos latinos
el poeta brasilero Fontoura Xavier, no podía imaginarse que, andando yo y el tiempo, en
tierras de Centroamérica, vendrían mi diestra a estrechar la del noble compañero y su
libro de versos a ajustarse bajo mi pluma de traductor. (“Prólogo” 341)
De Fontoura Xavier le llama la atención el diplomático que convive con el poeta: “Firmar
un alegato, estipular un tratado, plantear una idea de Gobierno, celebrar una transacción
económica y entre los folios caligráficos de las documentaciones deslizar los pétalos
sueltos de una poesía sincera, es vivir la verdad de la vida, sentirse pleno y producirse
íntegro, abarcando zodiacalmente el giro incesante del mundo moderno” (342). Así como
la Revista Americana orquesta anhelos nacionalistas y cosmopolistas, Chocano los
reconoce como formadores de la poesía del autor de Opalos: “La producción de este poeta
brasilero corresponde, naturalmente, a los medios en que ha desenvuelto su vida: la patria
y Europa. En cierto aspecto de su producción se denota el ambiente nativo; en otro, la
influencia de las civilizaciones refinadas: es la suya, a veces, poesía de temperamento; y
otras, poesía de cultura” (342).
Entre el diplomático y el poeta, Fontoura Xavier elige al primero para la Revista
Americana con el estudio “A história da diplomacia européia pelo antigo embaixador D.
J. Hill”. El interés de escritores hispanoamericanos por la literatura brasileña se repetirá
pocas veces. Rubén Darío y José Santos Chocano como poetas viajeros acaban encontrando
a un diplomático-poeta brasileño. La mayoría ignora las obras escritas en portugués.
Mientras tanto, Brasil posee una tradición de intelectuales que se han interesado por la
literatura hispanoamericana, que empieza con José Veríssimo y sigue en el siglo XX con
Mário de Andrade, Manuel Bandeira y Brito Broca (Schwartz 185-200).
6. DESENCUENTROS LATINOAMERICANOS
Sobrinho en “Guerra do Paraguai (pela verdade histórica)” discute dos artículos de Juan
Emiliano O’Leary (1879-1969) publicados en el periódico paraguayo Patria que tratan de
supuestas crueldades de la tropa liderada por el Conde d’Eu. Costa Sobrinho se presenta
como “testemunha contemporânea, presencial, e muitíssimas vezes ocular, e coparticipante
nos acontecimentos” (60) del conflicto de 1865-1870. En cuanto a Juan Emiliano
O’Leary, además de diputado, según el brasileño, es “poeta inspirado” e “historiador
nacionalista” (60). Fue miembro de la promoción de escritores de 1900 que en Paraguay
transformó la figura del dictador Solano López en héroe, sinónimo de la nacionalidad de
un país que renacía de la catástrofe de la guerra. En ese mismo año de 1919 el historiador
publica Nuestra epopeya.
Siguiendo la tradición de la historia oficial brasileña, Costa Sobrinho considera a
Solano López “o mais feroz déspota, tirano sanguinário que o mundo já viu, fratricida, que
por pouco teria sido também matricida” (60) y “alma de fera encarnada num corpo
humano” (63). Califica como “descrição tragi-horrendi-poeti-romântica” (61) el artículo
de O’Leary sobre el asesinato del teniente coronel Pablo Caballero el 12 de agosto de 1869.
Transcribe un trozo del texto en español y entre paréntesis hace irónicos comentarios en
portugués:
Ved cómo habla (o Conde d’Eu) con uno de sus ayudantes. Da una orden, una larga orden,
gesticulando y moviendo los brazos con rabia (O Conde d’Eu era um homem de uma
calma, de uma tranqüilidade de gestos, ainda mesmo nos transes mais difíceis, mais
desesperados, como jamais conheci).
La orden va a cumplirse.
Ahí viene el comandante Caballero. Viene, sereno y altivo, en medio de sus verdugos.
Le han ordenado que diga que se rinde, si no quiere morir (Como render-se um homem
que já vinha no meio de seus verdugos, por conseqüência preso?! Rende-se, ou não, quem
está solto, embora cercado; mas nunca depois de se achar no meio dos seus verdugos, e
por conseqüência prisioneiro).
Pero esa palabra no pronuncia un jefe paraguayo (como ignora a história daquela guerra
o ilustre historiador?).
Ante su negativa, empieza el martirio de acuerdo con las instrucciones terminantes del
Príncipe.
Frente a la cruz de la Iglesia hay un montón de mochilas. Ved cómo lo acuestan a
Caballero, cómo lo atan de pies y manos a las ruedas de los cañones y cómo lo tiran hasta
quedar suspendido en el aire (Leia-se com atenção!).
¡Es el suplicio de Tupac Amarú!
Esa que llega es la esposa del héroe. Ha sido llamada para que presencie el martirio de
su infortunado compañero.
¡Ved cómo le azotan sin piedad!
Le han vuelto a intimar que se declare rendido. ¡Su respuesta es la misma!
Y sigue el tormento.
Pero ya es tiempo de que concluya.
Un soldado se aproxima, esgrimiendo un feloso puñal (veja-se bem, não é um instrumento
cortante – faca, espada, etc. é um instrumento perfurante – punhal), y, con la habilidad
de un profesional (isto é, de um PARAGUAY) cercena la cabeza del comandante de
Piribebuy que rueda a los pies de su mujer!” (PUÑAL, m., arma ofensiva que sólo hiere
674 RICARDO SOUZA DE CARVALHO
de punta, diz o dicionário espanhol; e foi com este instrumento que o Sr. O’Leary diz que
o soldado cerceou a cabeça do comandante de Piribebui, que rodou aos pés de sua esposa.
Que habilidade! Assim só paraguaio lopista). (61-62)
BIBLIOGRAFÍA
Araripe Júnior, Tristão de Alencar. “Don Martin García Merou (perfil literário)”. Obra
crítica de Araripe Júnior. Vol. 3. Rio de Janeiro: Ministerio da Educação e Cultura,
1958-70. 21-61.
_____ “O Brasil intelectual”. Obra crítica de Araripe Júnior. Vol. 3. Rio de Janeiro:
Ministerio da Educação e Cultura, 1958-70. 497-502.
Bilac, Olavo. “Pátria”. Revista Americana 5/1 (Rio de Janeiro, 1915): 5.
Blanco Fombona, Rufino. “Ensayo sobre el modernismo literal en América”. Revista
Americana 4/7-8 (Rio de Janeiro, 1913): 204-19
Candido, Antonio. “Os brasileiros e a nossa América” . Recortes. São Paulo: Companhia
das Letras, 1993.
Chocano, José Santos. “Ode continental”. Revista Americana 6/6 (Rio de Janeiro, 1917):
58-66.
_____ “Prólogo. Para la traducción castellana de los Opalos de Fontoura Xavier”. Revista
Americana 2/2 (Rio de Janeiro, 1911): 341-44. Volumen publicado en 1914.
Cunha, Euclides da. Correspondência de Euclides da Cunha. Walnice Nogueira Galvão
y Oswaldo Galotti, org. São Paulo: EDUSP, 1997.
Darío, Rubén. El canto errante. Poesía. 2a edición. Caracas: Ayacucho, 1985.
_____ “Balada de la bella niña del Brasil”. Revista Americana 3/5-6 (1912): 641-42.
Dimas, Antonio “A encruzilhada do fim do século” . América Latina: palavra, literatura
e cultura. v. 2. Emancipação do discurso. Ana Pizarro, org. São Paulo: Memorial da
América Latina/ Unicamp, 1994.
Doratioto, Francisco Fernando M. “A construção de um mito”. Mais! Folha de São Paulo
(São Paulo, 9-11-1997): 5.
Fontoura Xavier. Opalos . Río de Janeiro: Gráfica Sauer, 1928. 4° ed.
_____ “A história da diplomacia européia pelo antigo embaixador D. J. Hill”. Revista
Americana 3/3 (Rio de Janeiro, 1917): 185-99.
García Merou, Martín. El Brasil intelectual. Impresiones y notas literarias. Buenos Aires:
Félix Lajouane, 1900.
LA REVISTA AMERICANA (1909-1919) 675
Graça Aranha. “La literatura actual en Brazil”. Revista Brasileira 13/4 (Rio de Janeiro,
1898): 181-213.
Gusmán, Ernesto A. “Los nuevos poetas de México”. Revista Americana 7/3 (Rio de
Janeiro, 1917): 81-92.
Henríquez Ureña, Max. “Problemas de nuestra América”. Revista Americana 7/5-6 (Rio
de Janeiro, 1918): 61-63.
Leite da Costa Sobrinho, José. “Guerra do Paraguai (pela verdade histórica)”. Revista
Americana 9/1 (Río de Janeiro, 1919): 60-66.
Lins, Álvaro. Rio-Branco. 2a ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1965.
López, Jacinto. “La intervención armada de los Estados Unidos en la República
Dominicana”. Revista Americana 6/8 (Rio de Janeiro, 1917): 140-60.
Machado de Assis, Joaquim Maria. “Un cuento endemoniado e La mujer misteriosa por
Guilherme Malta”. Crítica literária. São Paulo: Editora Mérito, 1962.
Nabuco, Joaquim. “A aproximação das duas Américas”. Revista Americana 1/8 (Rio de
Janeiro, 1910): 173-81.
Needell, Jeffrey D. Belle Époque Tropical. Celso Nogueira, trad. São Paulo, Companhia
das Letras, 1993.
Nin Frías, Alberto. “Comparaciones entre los Estados Unidos y la América Latina”.
Revista Americana 1/8 (Rio de Janeiro, 1910): 222-28.
Oliveira Lima. “América Latina e América Inglesa ou a Evolução Brasileira comparada
à Hispano-Americana e com a Anglo-Americana”. Revista Americana 4/10-12 (Rio
de Janeiro, 1913): 1-21.
_____ “O romance francês em 1895”. Revista Brasileira 2/25 (Rio de Janeiro, enero
1896): 39.
_____ O império brasileiro (1821-1889). [1928]. Belo Horizonte: Itatiaia/São Paulo:
Edusp, 1989.
_____ Impressões da América Espanhola (1904-1906). Manoel da Silveira Cardozo, ed.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1953.
Rama, Ángel. “La modernización literaria latinoamericana (1870-1910)” . La crítica de
la cultura en América Latina. Caracas: Ayacucho, 1985.
Romero, José Luis. Latinoamerica: las ciudades y las ideas. México: Siglo XXI, 1976.
Ribeiro Júnior, José. “O Brasil monárquico em face das repúblicas americanas”. Brasil em
perspectiva. Carlos Guilherme Mota, org. São Paulo: Bertrand, 1995. 20a ed.
Schwartz, Jorge. “Abaixo Tordesilhas!” Estudos Avançados 7/17 (São Paulo, 1993): 185-
200.
Sodré, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1966.
Taunay, Visconde de. “Um literato argentino - D.M.G. Merou”. Revista Brasileira 1 (Rio
de Janeiro, 1895): 280-89 y 7 (1895): 32-41.
Vaz Ferreira, María Eugenia. “Invicta”. Revista Americana 1/8 (Rio de Janeiro, 1910):
281-83.
Veríssimo, José. Cultura, literatura e política na América Latina. João Alexandre
Barbosa, ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.
676 RICARDO SOUZA DE CARVALHO
POR
1
He desarrollado el papel fundacional de las revistas culturales peruanas de este período y las
relaciones con el proceso vanguardista literario en El laboratorio de la vanguardia literaria en el
Perú.
698 YAZMÍN LÓPEZ LENCI
de la Universidad del Cusco”, aunque también albergó a miembros del antiguo Centro
Científico del Cuzco.2 La revista se propuso abordar científicamente la realidad de la
región del Cusco bajo diferentes disciplinas, aunque concentró sus esfuerzos en
redimensionar los estudios históricos. A través de sus páginas se difundieron investigaciones
de alumnos, graduados y docentes sobre folclore, literatura y música quechuas, monografías
etnográficas que describían prácticas religiosas, fiestas, alimentación y vestimentas de las
comunidades campesinas; pero sobre todo, trabajos acerca de la organización laboral y el
régimen de propiedad de las mismas. Los jóvenes abogados cusqueños Luis E. Valcárcel
y Félix Cosio, protagonistas de la Reforma, revalorizaron la organización comunal y
plantearon la necesidad de legalizar el régimen de propiedad colectiva para impedir las
crecientes usurpaciones de tierras practicadas por los terratenientes de la región. La
preocupación jurídica se extiende a la necesidad, según los jóvenes abogados, de
reglamentar la aplicación de justicia en los casos de criminalidad indígena y de
levantamientos campesinos, para lo cual proponen que se dicte un código especial para las
sublevaciones, la conducción bilingüe de los juicios y la presencia de jueces con “altas
calidades morales”. La preocupación por el desarrollo industrial y la producción agrícola
de la región llevaría a proponer un modelo de modernización liberal que contemplara la
reforma del régimen de propiedad de la tierra, la división de los grandes latifundios, la
enajenación de los bienes rústicos de la Iglesia, el cultivo intensivo, la introducción de
nuevos cultivos, y el uso de maquinaria (Valcárcel “La cuestión...”), así como la
construcción de vías de comunicación, el fomento de la inmigración y llegada de capitales,
la creación de nuevas necesidades de consumo y la instrucción de los campesinos
(Giesecke).
El grupo que editó La Sierra y apoyó la iniciativa de la Revista Universitaria estuvo
integrado por Luis E. Valcárcel, Félix Cosio, José Uriel García, Rafael Aguilar, Miguel
Corazao, Humberto Luna, Francisco Tamayo, José Mendizábal y Luis Rafael Casanova,
quienes se presentaron a sí mismos como la encarnación del potencial intelectual del
Cusco y como los sujetos renovadores del periodismo y de las relaciones de fuerza dentro
del campo intelectual. Para ello propusieron la cohesión de la élite intelectual cusqueña
a través de una campaña que dotara de prestigio al pasado, de la vulgarización del debate
científico reservado a la élite, y del tratamiento de tópicos regionales (véase La Sierra 1
1910). El empeño historicista cusqueño está vinculado al proyecto historiográfico que
José de la Riva Agüero había lanzado en 1910, alentando la constitución de la nacionalidad
a partir de la integración del período colonial y del imperio incaico en los estudios
históricos. Para el maestro limeño, que mantenía contacto con los intelectuales cusqueños
a partir de los sucesos de la Reforma, la modernidad nacional se sustenta en la reconciliación
con el pasado colonial. La respuesta cusqueña se expresaría rápidamente en una traslación
2
El Centro Científico del Cuzco (1897-1907) divulgó el proyecto de desarrollo de la élite
terrateniente que se vio amenazada por el creciente poder económico de las recién instaladas
sucursales de casas comerciales extranjeras. Nace hacia 1890 una conciencia de defensa de la
economía local, que discute las posibilidades de explotación racional de las riquezas naturales y de
la colonización de la selva, en una serie de estudios sobre geografía regional que publicó la revista
del Centro. Véase Rénique, “El Centro...”.
LA CREACIÓN DE LA NACIÓN PERUANA EN LAS REVISTAS 699
del eje y el objetivo de los estudios: no se trataba solamente de la recuperación del Cusco
colonial y del Cusco imperial incaico, sino sobre todo, de posibilitar el resurgimiento del
pensamiento andino. La estrategia cusqueña se amparó en los esfuerzos por demostrar,
primero, que no se estaba rezagado respecto al movimiento científico contemporáneo, y
segundo, la utilidad de la aplicación de los estudios académicos a la realidad.
Implementar este programa significaba fomentar el desarrollo de la historia, la
arqueología, la etnografía, la sociología peruana y el folclore como disciplinas prioritarias.
La respuesta cusqueña guarda una importante relación con el impacto que causó en el
medio regional la llegada de las expediciones de científicos norteamericanos de la
Universidad de Yale, encabezadas por Hiram Bingham entre 1911 y 1915. Los viajes de
las expediciones interdisciplinarias extranjeras a Machu Picchu tuvo el efecto del agente
externo que comunicó dos espacios geográficos lejanos y provocó interrogantes sobre el
curso de la modernización regional andina.
A nivel institucional apreciamos consecuencias de este encuentro con los científicos
norteamericanos a partir de la fundación en 1913 del Instituto Histórico del Cusco, que
reunía a miembros de dos generaciones cusqueñas (el grupo de La Sierra y del Centro
Científico del Cuzco), pero que sería presidido por el joven Valcárcel. Órgano del Instituto
sería la revista Nuestra Historia de la cual solo pudo editarse un número, dedicado al
rescate de la revolución de Pumacahua de 1814 y de un olvidado prócer cusqueño de la
Emancipación. Con la fundación en 1916 del Centro Nacional de Arte e Historia, editor
de la revista de literatura y arte Estudios, nos encontramos frente a un proyecto de la
generación más joven integrada por los hermanos Cosio, Luis E. Valcárcel, Uriel García
y Rafael Aguilar. El rescate del regionalismo del arte en el Perú fue el programa de esta
institución, que aspiró a redefinir el carácter de la literatura nacional. La redacción de la
revista denunció la ausencia absoluta de temas locales en la literatura peruana, demandando
“un mayor esfuerzo para desprenderse del gusto fácil de la imitación, si no calco, de
modelos exóticos” (Estudios 1, 1917). Los cusqueños concentraron significativos
ensayos en desarrollar la tesis del carácter histórico del arte (el arte revela el “alma de su
época”) atribuyéndole la potencialidad de reconstruir y de revivir sociedades desaparecidas.
Dentro de esta articulación entre arte e historia, la cerámica, la arquitectura, la textilería,
las tumbas y los cantares populares, serían entendidos y estudiados en este momento como
los caracteres buscados del libro de la historia andina. Los miembros de la “Escuela
Cusqueña”, nombre dado por Francisco García Calderón a la generación de la Reforma de
1909, anunciaron la traducción y la separación de la inintelegibilidad del gran macro-texto
histórico andino, a fin de reconstruir la vida cotidiana y la sensibilidad colectiva del
hombre andino antiguo.
Observamos pues que la década de 1910 en la ciudad del Cusco estuvo marcada por
un proceso de ampliación de las fronteras intelectuales, que dependió del paulatino
asentamiento de intereses comunes ligados no solo al proyecto de modernización
económica liberal, sino a la articulación de un imaginario sustentador de un nuevo sistema
cultural. La llegada del nuevo rector Giesecke coincidió con la maduración de pulsiones
imaginarias de los grupos emergentes regionales del Cusco, que retomarían el incaísmo
nativista como eje de discursos para la reconstrucción del sistema cultural peruano. Dentro
de este proceso el debate sobre el rol de las universidades de provincias, y especialmente
700 YAZMÍN LÓPEZ LENCI
I cuando esta Universidad se halla en estas condiciones, cuando ha llevado i puede llevar
en mayor escala esta labor esencialmente de cultura nacionalista i de adentramiento
regional, se le quiere hoy restar algunos de sus atributos importantes i alentar contra su
vida, en nombre de una alta selección espiritual hecha en sólo un centro, cuya influencia
no puede esparcirse ni relativamente en un país extenso i variado como el nuestro, que
necesita, antes que la quintaesencia de sabios profundos o de especialistas reconcentrados
en una urbe soberbia, modestos órganos del pensamiento distribuidos en los principales
centros tradicionales, que estén en contacto inmediato con las necesidades de las
3
Estas líneas de Deustua muestran la naturaleza de la disputa de las élites en la elaboración de un
proyecto de nación peruana. La élite intelectual limeña lamenta la disparidad y se postula como
directora natural de la homogenización: “La conciencia nacional no puede formarse si la gran
diversidad de factores étnicos que por desgracia constituyen nuestra sociedad, no recibe una
dirección de una clase educadora animada de idénticos propósitos y decidida a seguir las mismas
vías, en virtud de una cultura superior común”. ( “El problema de la educación nacional”. Citado
en Ugarte, 15).
LA CREACIÓN DE LA NACIÓN PERUANA EN LAS REVISTAS 701
regiones e infundan a la masa gris de sus poblaciones el aliento de cultura que dignifique
la vida i abra nuevos i amplios horizontes a las aspiraciones de la colectividad. (26)
Aunque la élite intelectual del Cusco aceptaba la existencia de una “cultura superior”,
desplazó el liderazgo homogeneizador responsable de una institución académica convertida
en “oficinas de preparación mecánica a los exámenes” y de extensión de certificados,
títulos y diplomas. Por ello, si la articulación de un sistema educativo alternativo dentro
de un nuevo sistema cultural suponía el descentramiento o multiplicación de centros, la
élite cusqueña creó una propuesta de reforma de la universidad nacional que incluía la
participación conjunta de ambos tipos de universidades, de la “Mayor” (capitalina) y de
“las Menores”. La nueva institución debería cumplir tres objetivos: el científico, definido
como la transmisión de los resultados de la labor científica extranjera y la formación de
una “ciencia nacional” mediante el estudio del territorio, de las historias y de las
instituciones del país; el profesional, que supondría la adaptación a las condiciones de la
actividad económica del país y a las necesidades de cada región; y el educativo, por el cual
se perseguía la formación de “hombres patriotas y cultos”, vale decir, de la élite directriz
(Ugarte).
Pero en esta propuesta hay otras correlaciones que es necesario considerar. Muchos
de los intelectuales, periodistas y catedráticos involucrados en este proceso de modernización
cultural crearon correspondencias semánticas entre la institución académica y la ciudad
del Cusco, dándole a aquélla el carácter de voz traductora y pregonera de las pulsiones
históricas de ésta. El centro letrado de la ciudad se introdujo en la vida socio-cultural con
la función autoatribuida de medium, como la voz y el eco de las voces “interiores y
remotas”, lo que la llevaba a autodefinirse como el laboratorio donde se ensayaría la
creación del “nacionalismo histórico”. Para llegar a esta elaboración discursiva se parte
de la tesis del mestizaje como problema nacional, en la medida en que no podría existir la
nación peruana si la coexistencia en una misma individualidad de dos elementos étnicos
(“voces”) siguía siendo inarmónica, desequilibrada y enfrentada. La invención del
nacionalismo contendría la virtualidad de restaurar el equilibrio perdido desde la invasión
española. La obra de estudio interdisciplinario desde la universidad cusqueña cumpliría
así la función de medium del pasado y sería el laboratorio de la reconstrucción nacional.
De ello se desprende el singular empeño en la investigación histórica de la tradición
indígena y de la tradición colonial.4 La formación de la nación solo podía concebirse,
según la propuesta cusqueña, a través de la reconciliación del impulso modernizador con
esta doble tradición, tesis que explica la desconstrucción del proceso emancipador y de la
independencia porque el desprecio absoluto de la tradición conllevaba, para los intelectuales
de San Antonio Abad, la “desnaturalización” del propio ser nacional:
4
Debe tenerse en cuenta que la derrota peruana en la Guerra del Pacífico, que enfrentó al Perú, Chile
y Bolivia entre 1879 y 1883, desencadenó en el país una profunda crisis económica, política y social.
Para la élite oligárquica limeña la creación de una historia nacional se convirtió en uno de los
objetivos reconstructivos prioritarios.
702 YAZMÍN LÓPEZ LENCI
pudiera ser súbita obra de voluntades efímeras, i no la lenta i compleja creación histórica,
en que los elementos concurrentes de raza i cultura, han tenido que amalgamarse bajo la
paciente i fuerte presión del medio americano i del tiempo, supremo fecundador de frutos
sociales. (Cosío 7)
La música incaica, [...] se ha propagado tanto, que, dignificados por la alta armonización
los aires del folklore se oyen con tanta reverencia i delectación como si fueran la
vibración de sagradas lenguas que nos hablaran de un reino perdido o de una tierra por
conquistar. (énfasis mío)
5
El levantamiento exigía que el pueblo fuera declarado capital de distrito y se oponía al dominio
terrateniente. Durante semanas las autoridades perdieron el control de la región, sin embargo sería
fácilmente recuperado: “un jueves, día de mercado en Toccroyoc donde se reúnen los miembros de
los diversos caseríos que constituyen la comunidad, aparecen hombres armados y a caballo de Yauri
[...] se entabla la batalla, desigual en perjuicio de los campesinos, a pie y solamente provistos de
hondas y armas improvisadas. En el curso del combate, según unos, cuando intenta huir y ocultarse
disfrazado de mujer, según otros, el jefe de los rebeldes es herido, apresado y ejecutado. Su cuerpo
quedará expuesto varios meses sobre el techo de la iglesia de Ocoruro para servir de lección a los
vencidos” (Kapsoli, 69).
6
El levantamiento de Lauramarca se extiendió a las haciendas de Palpa, Tocra, Ayuni y Laurayani.
Con Miguel Quispe, que tiene su centro de operaciones en Paucartambo, alcanzó Colca, Quispicanchi,
Espinar y Canchis.
704 YAZMÍN LÓPEZ LENCI
Los indios lo veneran como un ser superior y misterioso, encargado por el Padre Sol para
cumplir una misión redentora en beneficio de los descendientes del Imperio de los Incas.
Con todo el rito que tradicionalmente se conserva, se le ha consagrado Inca del
Tahuantinsuyo y sus súbditos le obedecen con fanático fervor. (El Pueblo, 9 nov. 1922)
período de las insurrecciones indígenas tomó una actitud concreta frente a la inmovilidad
de la llamada “Escuela Cusqueña”, su posicionamiento apuntaba a respaldar una política
estatal proteccionista en la que abogados como él debían asumir el liderazgo frente a los
“arzobispos, médicos, ingenieros, literatos y personas de oropeles y campanillas que
apenas conocen al indio por los fotograbados de los periódicos”. Por su parte, Félix Cosio
descalificó a los comités obreros y pro-indígenas que propiciaban un acercamiento a los
movimientos campesinos, acusándolos de apoyar un “falso indigenismo” y de buscar
contribuciones para financiar las campañas de “propaganda socialista” en la capital del
país. Así advertía el joven profesor Cosio a los maestros y estudiantes la naturaleza
alarmante de un inminente conflicto social de gran envergadura, y exigía la pronta
organización de un Patronato Indígena dentro de la universidad para operar como
intermediario ante los órganos administrativos estatales:
… si no se hace desaparecer en forma radical i rápida las causas que han herido de
desesperación a los indígenas, el levantamiento de éstos tendrá todo el rojo resplandor de
un fuego destructor i purificador, que anulará los actuales valores jurídicos de la
propiedad territorial, i la rehará sobre las bases de un colectivismo ayllal; es decir
reaparecerá la propiedad del ayllu i aun la constitución social de estos núcleos en su
pureza primitiva, aunque adaptado, en cuanto al aprovechamiento de la tierra, a las
formas nuevas del cultivo intenso con el auxilio de las máquinas i de la división del
trabajo. (“La universidad” 58)
Las rebeliones campesinas indígenas que conmocionaron el sur andino entre 1919 y
1923 con su violencia defensiva, sus exigencias legales y su plataforma milenarista,
enfrentaron a los intelectuales cusqueños con una realidad hasta el momento encubierta
y relativamente distante. El proyecto modernizador que suscribían había supuesto la
crítica al atraso económico, la falta de tecnificación y el carácter conservador de las
haciendas y propietarios cusqueños. Sin embargo, cuando la realidad de las rebeliones
ocupó la ciudad del Cusco a través de la presencia constante de líderes campesinos que
presentaban denuncias ante el Patronato, tuvieron que tomar cuenta de la verdadera
naturaleza del gamonalismo imperante en el campo de todo el departamento. Su propio
proyecto “nacionalista” y “progresista” de construir una nación moderna fue cuestionado
por las implicancias de la constitución del latifundio. Es conveniente subrayar que hasta
1920, como bien lo apunta Rénique, estos intelectuales se incluían como parte de la
generación de intelectuales “oligárquicos”, integrantes de los partidos Civil, Liberal y
Demócrata, al lado de José de la Riva Agüero, Víctor Andrés Beláunde, Javier Prado,
Manuel Vicente Villarán y Juan Baustista de Lavalle (Rénique, “De la fe...” 28).
Sin embargo ya hacia 1917 puede detectarse un acuerdo de cooperación entre la
Sociedad de Artesanos7 y la Asociación Universitaria, que empezaba a distanciarse
críticamente de la visión optimista modernizadora de sus padres, y a desarrollar un
7
La Sociedad de Artesanos fue fundada en 1870 con el objetivo de preparar a los artesanos en el
proceso de modernización regional a partir del fomento del trabajo calificado y de los valores de la
seriedad y diligencia. A mediados de la década de 1910 se constituyó en uno de los ejes de la
dinámica urbana de la ciudad.
706 YAZMÍN LÓPEZ LENCI
8
Como bien lo anota Krüggeler, los artesanos estuvieron sujetos a una serie de construcciones
ideológicas y prejuicios raciales que prevalecían no solo en el Cuzco sino en todo el Perú. Los
maestros artesanos marcaban su propia distancia social de las clases bajas discriminando a
cusqueños que ellos consideraban indios. La etnicidad jugó un rol muy importante en la vida
cotidiana de los trabajadores: los maestros artesanos usaban frecuentemente lisuras basadas en
prejuicios raciales para insultar a sus empleados, y los trabajadores no dudaban en usar los mismos
términos para ofenderse entre ellos. En público el maestro presentaba a su jornalero como un
responsable hombre de trabajo, pero en la esfera privada del taller el empleado podría convertirse
en un “estúpido indio” si era flojo o no cumplía las expectativas del empleador. Los artesanos y
líderes obreros no eran democráticos defensores de principio alguno de igualdad racial. La negativa
a vincular las cuestiones de la clase trabajadora con la “cuestión indígena” muestra que muchos
líderes obreros representaban más o menos abiertamente los compartidos prejuicios básicos que
dominaban la sociedad urbana. Celebrar a los indigenistas cuando hablaban sobre el fabuloso pasado
del Perú era apropiado porque demostraba solo una actitud moderna y orientada al futuro. Véase
Krüggeler, 180-82.
LA CREACIÓN DE LA NACIÓN PERUANA EN LAS REVISTAS 707
a demostrar los fundamentos indígenas de la unidad nacional que estaría basada en una
unidad geo-étnica, étnica, cultural, lingüística y religiosa. El cataclismo que produjo la
conquista europea destruyó los fundamentos de la nacionalidad, porque, según Tello,
determinó el abandono de las represas y canales de regadío, la destrucción de las vías de
comunicación, el saqueo y derrumbe de los templos, la persecusión religiosa, el olvido de
las artes y la esclavización de la población aborigen (47). La historia y conciencia nacional
se cubrió entonces de escombros, siendo sustituida por una historia colonial fragmentadora
y excluyente.
Por eso, “Panorama de cien años” se cierra con una exhortación a la construcción de
la “civilización hispano-peruana” sobre el “pedestal indígena”, cuyos elementos de
conjunción debieran buscarse en la adaptación a la naturaleza, la utilización de los propios
recursos, el conocimiento de la obra de los antiguos peruanos y la admiración de las
generaciones que crearon una civilización en suelo andino. El texto es el llamado del
arqueólogo peruano a la generación contemporánea “hacer revivir el pasado”.
Valcárcel se apoyaría en los hallazgos arqueológicos recientes y en las conclusiones
de Tello para desarrollar la tesis del agrarismo y de la originalidad de la cultura peruana
antigua, que a su vez parte de inhabilitar la oposición ciudad/campo entendida como
civilizado/rústico. Este recurso discursivo incluye la presentación de otra civilización: la
civilización en el Perú es una creación campesina cuyo fundamento es la sociabilidad
cósmica, es decir el estrecho vínculo entre el hombre y el medio ambiente. Los incas,
pertenecientes a las “comunidades de labriegos”, se transforman a los ojos de Valcárcel
en el pueblo escogido para el renacimiento de la “antiquísima raza keswa” desaparecida
durante largas edades, para atribuirles la fundación del Tawantinsuyo como “una sociedad
modelo de comunismo”. Los incas fueron civilizados y civilizadores porque dominaron
la naturaleza, lograron el bienestar social e integraron los “agregados disímiles” dentro del
arquetipo de la cultura agraria. Para el autor, los incas construyeron una sociedad
comunista sobre la base del colectivismo agrario, la cooperación y la solidaridad; una
sociedad en la cual el individuo adquiría valor en tanto constituyente de “guarismo” dentro
de una comunidad.9
9
Así relata Valcárcel el comunismo incaico en 1922: “El producto arrancado a la tierra con el trabajo
de todos no podía ser de nadie en particular. No hay propiedad individual. La tierra pertenece a la
asociación. Sin embargo, el individuo está obligado a dos clases de trabajo agrícola; tiene que labrar
las parcelas que se le adjudican por el Estado periódicamente y los terrenos privilegiados del Sol y
del Inka; en uno y otro esfuerzo cooperan sus cófrades. Cada uno, a más de agricultor, es alfarero,
tejedor, fabricante de herramientas o armas. Pero, todos los productos de arte o de la industria se
recogen en los depósitos públicos, en kolkas y pirwas, para ser distribuídos ‘a cada uno según sus
necesidades’. Todos los hombres ejercen una función, dentro de la unanimidad del trabajo. Nadie
está exceptuado de aplicar su actividad a la producción: mujeres, niños, ancianos, realizan un género
de labor proporcional a sus capacidades. El Inka inicia el laboreo de los campos. No se conoce
parasitismo, como tampoco proletariado. La comunidad agraria que hallaron los Inkas recibió de
ellos elevada organización que la condujo a su perfeccionamiento. El Tawantinsuyu consumó la
utopía de extender el bienestar al mayor número, suprimiendo las desigualdades de la riqueza”
(“Glosario...” 95-96).
LA CREACIÓN DE LA NACIÓN PERUANA EN LAS REVISTAS 709
En el Perú necesitamos una renovación completa. A todos los males que he analizado el
único remedio es la revolución social como en México. En México como en el Perú ese
partido lo forma el limeñismo oligárquico, antro corrupto de políticos, i sus aliados
naturales, los terratenientes de provincia y los caciques departamentales. (“La verdad ...”
22-23)
10
“Agrarismo: síntesis panteísta que es el valor y la significación de la vida inkaica; del mismo modo
que la vida griega, es síntesis artístico-plástica de la existencia humana y el alma cristiana es síntesis
suprema de lo ético-religioso. AGRARISMO debe ser nuestra divisa. Solo volviendo a la tierra,
podemos purificarnos de los vicios de nuestra falsa democracia urbana. Nuestras ciudades no han
nacido espontáneamente, por un movimiento de concentración, sino que fueron fundadas por las
necesidades de defender la rapiña de los destructores del Inkanato. Surgían en torno de la fortaleza
o del obraje o de la mina, grilletes, peñones de Sísifo de la Raza.Volvamos a la tierra, cultivándola
con el mismo fervor que nuestros viejos abuelos los Inkas.La sencillez campesina nos devolverá la
confianza y la alegría de la vida que hemos perdido por nuestra desatentada imitación servil de lo
extranjero. Rieguen nuestro huerto espiritual las tonificantes linfas andinas, no las aguas pútridas
de la moribunda civilización europea” (110-11). El programa del resurgimiento concentra los
siguientes valores: el amor a la tierra, la solidaridad y el interés social, la sencillez, la disciplina, el
“dinamismo volitivo”, el trabajo, “el principio de la función como determinante del valor del
individuo”. Quiero remarcar que la recusación de la función del letrado ocupa una posición
importante en tal programa cuando menciona la necesidad de una “parquedad intelectualista”.
11
Con la llegada al poder de Augusto B. Leguía en 1919 culminaba con éxito la lucha por la jornada
de ocho horas que se había iniciado en 1912 en Lima con la marcha del “pan grande” en apoyo
popular a la candidatura de Billinghurst, y una serie de movilizaciones populares (“paro de las
subsistencias”). De esta época data el inicio de la alianza entre los estudiantes universitarios, la
pequeña burguesía urbana y el sector obrero, la cual favoreció el Congreso de la Federación de
Estudiantes Peruanos realizado en el Cusco en 1920, en el que se sancionó la creación de las
Universidades Populares González Prada en toda la república.
LA CREACIÓN DE LA NACIÓN PERUANA EN LAS REVISTAS 711
La revista Kosko12 aglutinó las voces más representativas del movimiento antileguiísta
cusqueño iniciado en 1923, y se asumió como vocero y defensor de la recién creada
Universidad Popular González Prada (10 de mayo de 1924) en el local de la Sociedad de
Artesanos, bajo los postulados de la “educación popular” y “justicia social”; ocupando así
dentro de la sociedad el espacio de enfrentamiento a la influencia de la iglesia católica.
Después de la clausura de la Universidad Popular,13 Kosko fortaleció sus lazos con los
sectores populares del Cusco, acentuó su anticlericalismo, empezó a difundir textos de
Lenin, Henri Barbusse, Romain Rolland, Vasconcelos y a hacer propaganda del éxito de
las revoluciones mexicana y rusa. La revista promovió una candidatura obrera al
parlamento, propuso la creación de organizaciones populares independientes y promovió
la alianza de los intelectuales cusqueños con el sector obrero. Por otro lado, se enfrentó
al regionalismo terrateniente y procuró construir otro regionalismo sustentado en la
reforma agraria, el desarrollo industrial, la protección comercial, la solidaridad regional
y la creación de un arte con raíces históricas surandinas. Kosko, que aparece en el campo
intelectual desligada de intereses académicos, y que fue fundada por el tipógrafo y
dirigente sindical Roberto Latorre, estuvo patrocinada por un sector de la pequeña
burguesía provinciana, afectada directamente por las transformaciones en la estructura
económica del Cusco (la expansión del latifundismo). Se trataba del nuevo estrato urbano
que tenía una estrecha relación con el campo porque sus integrantes procedían de familias
campesinas, de pequeños comerciantes o de propietarios arruinados de pueblos de la
región. Es por ello que logró atraer la colaboración de periodistas, maestros, catedráticos
progresistas, estudiantes universitarios radicales, poetas y artistas como Luis E. Valcárcel,
Uriel García, Rafael Tupayachi, Ángel Vega Enríquez, José Carlos Mariátegui y Haya de
la Torre.
El antileguiísmo que se asentó en el Cusco a partir de Kosko se expresó como
antilimeñismo, anticentralismo y federalismo. El descontento de la naciente burguesía
agraria, industrial y profesional se organizó en la Logia Federalista (1922–1925),14 que fue
una organización secreta de oposición a Leguía y conectada con exiliados peruanos en el
extranjero. La Logia postulaba el Estado Federal Cusqueño (que comprendería de
Arequipa a Ayacucho), en clara referencia al proyecto fracasado del Estado Sud Peruano
12
La revista Kosko tuvo tres etapas: la primera (19 mayo 1924-22 julio 1924) estuvo dirigida por
el periodista Luis Yábar Palacio; la segunda (7 agosto 1924-15 abril 1925), por el abogado Luis
Felipe Paredes, vinculado al Centro Nacional de Arte y e Historia y al grupo Resurgimiento; y la
tercera (hasta el 1 de enero de 1926), por el tipógrafo propietario Roberto Latorre.
13
La Universidad solo duraría cuatro meses, hasta agosto de 1924, fecha en que por presión de la
iglesia sería clausurada por las autoridades acusada de centro de conspiración política. A ello se
sumaría el inicio de la represión gubernamental contra el movimiento obrero y estudiantil, que
emprendió una campaña antileguiísta en abierta oposición a la convocatoria a elecciones en 1924
por Leguía, la cual perseguía legitimar una reelección fraguada.
14
Miembros de la Logia eran David Samanez Ocampo, Francisco Tamayo, Luis Yábar Palacio,
Roberto Latorre, Víctor Guevara, Alberto Delgado, Rafael Aguilar, Atilio Sivirichi y Abel Montes,
entre otros. En setiembre de 1924 la Logia emprende la lucha armada con el propósito de derrocar
a Leguía mediante las montoneras de Tamayo y Luis Yábar que tomaron Urubamba y Paucartambo
respectivamente. Sin embargo fueron derrotados en octubre del mismo año, con lo que culminan las
montoneras en el Perú republicano (Tamayo 33 y 71).
712 YAZMÍN LÓPEZ LENCI
Salimos a la lucha periodística con una orientación fija, una senda clara i una convicción
firme: defender los intereses de la Sierra i difundir el conocimiento de sus valores hasta
hoy olvidados con imperdonable justicia. (I/1, 19 abril 1924)
La prisión de que fue víctima nuestro Director ha dado margen a una serie de comentarios
de diversa índole; se creyó que Kosko dejaría de ver la luz pública antes las actitudes de
fuerza; muy lejos de eso, nuestra campaña regionalista, sincera, franca i altiva, no puede
silenciarse ni permitir que se consumen inauditos atropellos contra la libertad de
pensamiento, la de imprenta, i el derecho de libre expresión […] i un sagrado derecho nos
asiste a reclamar para el Cusco las ventajas que con justicia anhela; la Federación, como
un imperativo de vida i un credo de acción: la Libertad como un principio efectivo i
tangible. [...]
La Federación salve al Perú ! (I/5, 7 julio 1924)
Y aunque desde aquel año de 1535 en que don Francisco Pizarro rectifica lo hecho por
Manco Capahg, Lima es, ostensiblemente, la capital del Perú, Cuzco sigue manteniendo,
dentro del alma de la raza, su categoría de pueblo director, de región influyente. La lucha
política del Cuzco contra Lima, se llama Regionalismo. Ya el hecho de elevar y mantener
la capital colonista en el centro de una zona árida, de un arenal ingalvanizable, reveló el
sentido íntimo de esta capitalía: el propósito originario de vivir a costa del resto del país.
Fue la subconciencia del centralismo. Hoy, eso se hace concientemente. […] Junto al
Cuzco, condensador multisecular de la Tradición, […] está el altiplano andino, granja y
dehesa de la república y depósito de la leyenda embellecedora de la cultura nacional […]
Más allá del altiplano, está Arequipa, el oasis nervioso, sede de la revolución equilibradora,
receptor altoparlante de los anhelos del Incaismo. (“De un ensayo”)
Es demasiado el felino de los Andes (Túpac Amaru), para usufructuar un sitio en la ciudad
de los virreyes. Ya me figuro la cólera que sentiría el indio formidable, viendo todos los
días ese desfile de entalladitos amujerados, capaces de hacerle versos a una zapatilla. Los
monumentos deben, según mi concepto, ser erigidos como una realidad de la época a sus
precursores […] Deben responder a una corriente de sinceridad colectiva. Un Túpac
Amaru en Lima, sería como erigir un Lenin en Nueva York. […] El indio rebelde en el
seno del colonialismo corruptor i aliado del gamonalismo serrano, sería Túpac Amaru en
Lima. […] En justicia hai que confesar que Túpac Amaru, como verdadero símbolo de
revolución aborigen, es tan extraño en el Cuzco como en Lima. Nuestro serranismo no
debe ir tan lejos de atribuirse todas las virtudes i ninguno de los defectos. Si estamos como
estamos, sin poder exigir en cien años un monumento a ninguno de nuestros grandes
hombres regionales es por culpa nuestra .[…] Llamamos Atahuallpa a un indio piel roja
que en traje de colorado de las praderas del oeste de Estados Unidos está sobre una pila.
[…] Nuestro serranismo como tal debe de inspirarse en el símbolo trascendental de Túpac
Amaru, que demandando justicia muere rebelde en la demanda, antes que ser servil
cortesano o palaciego (“Sobre Túpac Amaru”).
Kosko jugó un papel aglutinante en el sur andino15 y logró la convocatoria del trabajo
periodístico plural mediante una alianza entre intelectuales y estudiantes cusqueños con
los obreros y artesanos de la ciudad, redimensionando el regionalismo académico de la
Revista Universitaria, que paulatinamente derivó hacia un posicionamiento político.16
Esto se expresó también en el arte gráfico ya que por primera vez salía una revista con
diseño, xilografías y fotograbados de temas nativistas. Pero sería con la fundación del
grupo Resurgimiento17 en 1926, que se intentaría por primera vez la constitución de un
frente nacional “indigenista” encargado de denunciar y quebrar el sistema latifundista. Ya
se había superado la mera proclama humanitarista y de la reivindicación legalista que había
caracterizado a los esfuerzos “indigenistas” anteriores. Ahora se trataba de propiciar la
coordinación entre los sectores urbanos (medio y popular) y el sector campesino, y de
lograr una organización sólida a nivel nacional. La edición de un boletín de denuncia, “La
15
Kosko logró integrar a colaboradores de Puno, Arequipa, Lima y sobre todo, ya en enero de 1925
circulaba en todo el sur andino incluida Bolivia y Argentina, donde además tenía sus representantes.
Gracias a la revista alcanzarán gran difusión en el altiplano las ideas de Luis E. Valcárcel, como lo
anota Manuel Quiroga: “por sus grandes sugerencias para tener el hondo amor a la vida agraria,
propulsando su desarrollo a base de los sagrados acervos históricos de la raza autóctona”. Kosko 63
(30 dic.1925).
16
La revista fue censurada y clausurada en 1925, después de trece meses de su fundación. Al igual
que en el caso de la Universidad Popular González Prada, sus miembros sufrieron la persecusión
política. La integraban periodistas, abogados progresistas, artistas y estudiantes.
17
El grupo Resurgimiento se fundó el 26 de noviembre de 1926 gracias a la iniciativa de Luis E.
Valcárcel, y estuvo integrado por periodistas, abogados progresistas, artistas y estudiantes como
Luis Felipe Aguilar, Uriel García, Félix Cosio, Casiano Rado, Roberto Latorre y Luis Felipe Paredes.
Nació a raíz de una rebelión de los campesinos de la hacienda de Lauramarca en enero de 1927,
quienes se negaron a pagar el derecho de yerbaje y por ello sufrieron la persecución, tortura y exilio
forzado en la selva de Cosñipata. Los campesinos que lograron escapar al Cusco tomaron contacto
con algunos intelectuales de la ciudad, los que organizaron asambleas en las que aquellos exponían
y discutían libremente en quechua sus problemas.
714 YAZMÍN LÓPEZ LENCI
violenta situación de los indios del Departamento”, en que registraron los relatos de los
campesinos, difundido en el Cusco y en Lima a través de Amauta, causó la inmediata
persecusión de los miembros de Resurgimiento y la disolución del grupo en mayo de 1927,
cuando estaba aún en su fase de formación, sin llegar a constituir una institución orgánica
ni a fundar una publicación periódica. Y aunque de sus estatutos (Amauta 5, enero 1927)
se desprende una orientación paternalista en la que predominan juicios morales y
propuestas asistencialistas, y una respuesta de tranformación en términos culturales como
la promoción de conferencias en quechua y el estímulo de las manifestaciones del arte
popular, es cierto también que anuncia la posibilidad de un gran levantamiento campesino,
lo cual significó otorgar proyecciones políticas a un insólito frente nacional.
La revista Kuntur, que tuvo como precedente la fundación de la célula aprista
cusqueña (febrero de 1927) y la huelga estudiantil universitaria (mayo de 1927) liderada
por el grupo Ande,18 se fundó (octubre de 1927) con el objetivo de denunciar y
desenmascarar el seudoindigenismo leguiísta, el racismo de la revista La Sierra editada
en Lima y la posición de los catedráticos que habían limitado su acción a la actividad
académica. Kuntur persiguió la radicalización de los estudiantes e intelectuales
“indigenistas”, la alianza de obreros y campesinos con el estudiantado radical, el
esclarecimiento de la naturaleza económica-política del proceso de constitución de la
nación peruana y de la importancia del problema agrario, así como el rechazo de las
visiones idealizadas del pasado. El programa básico consistía en la lucha contra el
gamonalismo, la eliminación de los latifundios, y la creación del sovietismo agrario como
forma política (Francke Ballve 155). Dentro de este contexto disentirían de José Carlos
Mariátegui en la formación de un frente cultural amplio y democrático, y criticarían como
pasadista la visión cíclica de Luis E. Valcárcel en Tempestad en los Andes. En 1928 el
grupo de Kuntur abandonaría el Apra y fundaría la Célula Comunista del Cusco, y a
diferencia de los otros grupos, sus actividades se prolongarían aún después que se
cancelara la edición de la revista.
Pero todo este programa de acción estaba tejido por la problematización de la
construcción de la nación, que ya tenía dieciocho años de desarrollo desde la Reforma de
1909, y por una narración que se orientaba en las coordenadas anticlerical, antiacadémica,
antilimeña y antigamonal. Esta narración comprendería la diagnosis del país: ser un
espacio muerto para el exterior, ser un espacio colonial donde se concretizó la ruptura de
la tradición nacional, y contener en el espacio andino el recinto donde sobrevive esta
tradición, que no es otra que la incaica. El Perú es:
18
En 1925 un grupo de estudiantes de la Facultad de Letras de la Universidad San Antonio Abad
formó el grupo Ande, dirigido por Román Saavedra, Julio G. Gutiérrez y Oscar Rozas Tersi. El grupo
publicó la revista oral Pututu , de la que salieron siete números, pero que contaba con un solo
ejemplar manuscrito que era leído en diferentes locales. La revista era de carácter literario y artístico.
LA CREACIÓN DE LA NACIÓN PERUANA EN LAS REVISTAS 715
Nuestros indios ya no tienen el mismo espíritu que creo el pucara, el Koricancha, el Apu,
que rindió culto al paisaje en torno iluminado de luz solar, al magnífico panorama de la
noche. El indio actual es más un valor biológico, una posibilidad espiritual; mera arcilla
para una nueva forma de cultura. En cuanto pervive en ciertas modalidades de su historia
autóctona –su agrarismo, su colectivismo, su falta de inquietud sobre problemas de
ultramundo, su lengua, etcétera, viene siendo un retrasado, un sujeto de estudio
arqueológico o motivo de exaltación lírica, un pueblo antihistórico, por tanto. Pero en
716 YAZMÍN LÓPEZ LENCI
cuanto sale o se liberta de ese estuario sombrío de su pasado que lo sume en mortal quietud
y se pone en marcha, ya es otro, es el nuevo indio. (“El Neoindianismo”)
El neoindianismo de Uriel García enfrenta las tesis de Luis E. Valcárcel que a partir
de 192519 circulan desde Kosko, La Sierra (Cuzco), y con profusión en otras revistas del
sur andino, las que sostienen que la sierra es la nacionalidad y anuncian un proyecto mítico
andino que se encubre bajo el “nuevo ciclo” de Spengler, pero que expone la utopía
regresiva: el agrarismo, la restauración de las antiguas jerarquías andinas, del culto
religioso al sol, de la veneración de huacas, de la revitalización de las comunidades, como
respuesta al extrañamiento frente a un Estado, una cultura y una lengua no representativas.
Este proyecto extendido en Tempestad en los Andes,20 elabora una historia en la que
confluyen el igualitarismo y el autocratismo, las relaciones igualitarias entre los ayllus
autosuficientes y las relaciones subordinadas de éstos con la élite incaica. Por ello el
discurso refuerza el carácter pacífico e integrador de los incas durante las conquistas, sabio
y paternal, de la élite dirigente, la armonización de los principios de autonomía y
centralismo, para poder relajar la realidad del principio monárquico hasta poder hacerlo
coincidir con el comunismo, que en los Andes todavía busca su Lenin.
Kuntur, en sus únicos dos números, entretejió discursos en que convergen la
invención de la nación peruana con la crítica del regionalismo o federalismo, del
andinismo, de las tesis de Valcárcel y, sobre todo, con la problematización de la letra, del
letrado y de las instituciones académicas cusqueñas:
Lo postizo y lo ridículo están en los líricos tonantes del Andinismo. El lema de éste es:
lucha y amor pasionales. Liberación del centralismo, por urgencia telúrica y vital y
creación del espíritu andino con la misma gozosa sensualidad del amor loco, desenfrenado.
Eso es lo viril y heroico. “Ellos los indios” diputados y senadores, como latifundistas
atávicos no harían sino cebar los rifles y azuzar una traílla de bandoleros para terminar
con los indios que sólo reclaman sus vaquitas y sus carneros. […] ¿Qué hacen los
universitarios cuando se realizan matanzas de indios? Como son cuerdos se callan y como
viven de la sangría de los indios sonríen hipócritamente (Saavedra “Perú en ojotas”).
Así como en Bolivia, el ilustre y radical Franz Tamayo, latifundista y gamonal, no puede
permitir que los indios de la Isla del Sol, aprendan a leer, aquí nuestros intelectuales
“radicalistas”, “comunistas”, “bolcheviques” o “indigenistas”, no permiten que ni los
sirvientes de sus casas acudan a las escuelas (Latorre).
19
Véanse: Valcárcel, “De los Andes...”; “El Perú...”; “Costa y Sierra”.
20
Véase López Lenci.
LA CREACIÓN DE LA NACIÓN PERUANA EN LAS REVISTAS 717
filiación con Manuel González Prada como en diversas revistas andinas, especialmente
cuando se atribuye a la división étnica-cultural del Perú la raíz del problema de la
nacionalidad. Como bien lo apunta Francke, la asimilación del pensamiento pradiano fue
incompleto porque La Sierra reducía la problemática a la ausencia de una cultura nacional
integradora de toda la población peruana, sin considerar el perfil socio-económico ya
indicado por Prada (109-86). La dirección de la revista se adjudica la representación del
núcleo de la intelectualidad serrana, bautizándose como “serranistas” o “andinistas” cuya
misión sería la creación de una auténtica cultura nacional. Para ello emplean un agresivo
tono regionalista y emprenden una campaña de propaganda personal que se sirve de la
difusión del “Indolatinismo” y “Euroamericanismo” de Vasconcelos, Ricardo Rojas y
Alfredo Palacios, representantes de pequeñas burguesías antiimperialistas.
La revista asume un criterio paternalista y moralista que les sirve para denominarse
a sí mismos como “indios” y al mismo tiempo manifestar el desprecio por el hombre y la
cultura campesina andina y reclamar la modernización occidental. Alaban a terratenientes
costeños y coinciden con los intelectuales conservadores limeños como José de la Riva
Agüero, Víctor Andrés Belaúnde y Alejandro Deustua en el diagnóstico moralista. Víctor
Guevara recurre al determinismo biológico para señalar la decadencia del “indígena”,
alcohólico y refractario a la higiene, y proponer una solución eugenésica del mejoramiento
de la raza, que el grupo de Kuntur calificará de “solución bovina”. Así se expresa Guevara:
“...en atención a que el temperamento de la raza es servil, apático, holgazán, supersticioso,
retardatario, conviene cruzarla con los pueblos de las razas europeas dotadas de las
cualidades contrarias a esos defectos, capaces de producir un equilibrio progresivo” (8).
La respuesta al problema agrario coincide con el Programa Mínimo del Apra de 1931,
según el cual se proponía modernizar y tecnificar la agricultura, repartir las tierras no
utilizadas por los latifundios, cooperativizar las comunidades indígenas y fomentar la
pequeña propiedad (Wise 167, Francke Ballve 150). Como consecuencia de la ruptura
entre Mariátegui y Haya de la Torre, La Sierra iniciaría una campaña de desprestigio del
primero, sin embargo, no puede oponerse radicalmente la edición de La Sierra a la revista
Amauta, porque intelectuales regionalistas como Valcárcel y Emilio Romero colaboraron
en ambas. Además de ello, La Sierra publicó en su número 29 (1929) la respuesta de
Mariátegui a un cuestionario preparado por un “Seminario de Cultura Peruana” sobre el
problema agrario nacional. Pero como lo apunta Wise (168), la diferenciación entre
Amauta o Kuntur y La Sierra se daría por el rechazo categórico que la revista de los
cusqueños emigrados harían del socialismo (lo que explica su opción por el aprismo), por
su antilimeñismo agresivo y por la salida pedagógica como única solución de la
nacionalidad,21 mientras Amauta inscribiría como decisivo el rol del campesinado en la
construcción del socialismo en el Perú. A pesar de ello, la publicación en Lima de La
21
Según el autor, una revisión de los culture heroes es significativa: en Amauta son los líderes de
las revolución rusa (Lenin,Trotski, Lunatcharski), y en La Sierra, son intelectuales latinoamericanos
que propagan un americanismo antiimperialista (Manuel Ugarte, Franz Tamayo, Ricardo Rojas,
Alfredo L. Palacios y Víctor Raúl Haya de la Torre); y las coincidencias entre las dos publicaciones
no dejan de ser interesantes: José Vasconcelos, Henri Barbusse y Sandino.
718 YAZMÍN LÓPEZ LENCI
BIBLIOGRAFÍA
22
“Kosko será siempre, hoy y mañana, centro, eje y fuente de unidad nacional. Sin tradición, sin
sentido histórico de la vida de los pueblos, en suma, sin cultura, no se concibe la nacionalidad. Cuzco
significa esto y algo más. En la actualidad representa el meridiano intelectual del Perú. Del Cuzco
surgen las más avanzadas ideas de renovación jurídica-política; fuertes espíritus artísticos, hombres
que tiene por meta la transformación integral del Perú, en pueblo y hombres libres y nuevos”
(Guevara, Guillermo).
LA CREACIÓN DE LA NACIÓN PERUANA EN LAS REVISTAS 719
REVISTAS CITADAS
PERIODICOS
El Sol (Cusco)
El Tiempo (Lima)
El Pueblo (Arequipa)
Revista Iberoamericana, Vol. LXX, Núms. 208-209, Julio-Diciembre 2004, 721-733
POR
Oswald de Andrade disse uma vez, lembrando os tempos de quando ainda flertava
com os anarquistas, que só se podia entender a embrulhada mental sul-americana dos
primeiros anos do século XX considerando que, por aqui, o contrário do burguês nunca foi
o proletário, mas sim o boêmio. E que este, no Brasil daquela época, longe de ser um
parceiro irreverente do escritor de vanguarda, foi quase sempre um aliado acadêmico dos
parnasianos e, como estes, uma espécie de arauto letrado da tradição.1
Metido ele próprio na burla boêmia dos literatos da Metrópole, levado pelo instinto
do panfleto e do humor que já então antecipavam a nota inventiva de sua escrita, Oswald
viu logo que o caminho não era aquele, e que o texto libertário que buscava teria pouco
a dizer à indisciplina daqueles marginalizados eruditos que só escreviam para impressionar
a Academia. “O mal –reconhecerá depois no prefácio do Serafim Ponte Grande– “foi ter
medido o meu avanço sobre o cabresto metrificado de duas remotas alimárias –Bilac e
Coelho Neto. O erro, ter corrido na mesma pista inexistente”. E num daqueles desabafos
impiedosos e cheios de verve: “O anarquismo da minha formação foi incorporado à
estupidez letrada da semicolônia. Freqüentei do repulsivo Goulart de Andrade ao glabro
João do Rio, do bundudo Martins Fontes a o bestalhão Graça Aranha. Embarquei, sem
dificuldades, na ala molhada das letras, onde esfusiava gordamente Emílio de Menezes”
(131).
Para quem se interesse pela trajetória das revistas e jornais libertários no Brasil
daquela época, tal desabafo, ao contrário de repercutir como provocação isolada, é uma
senha em plena trincheira de certa imprensa anarquista onde muitos daqueles boêmios,
acadêmicos e poetas –empurrados pelo verbo exaltado e a ação destemida de alguns
militantes– viveriam o sonho de converter-se, ainda que por um momento, em ferozes
militantes da comuna.
Mais importante do que isso é ainda lembrar que no conjunto desse processo a
oposição intelectual entre o livro e o jornal, tão decisiva para o desencanto de Oswald,
1
“Boêmia brasileira e vanguarda européia são coisas muito diferentes”, nos diz Vera Maria
Chalmers na introdução do belo estudo que dedicou ao jornalismo de Oswald de Andrade. A sátira
boêmia inscreve-se no sistema tradicional, enquanto a vanguarda é o rompimento radical com a
tradição, pela proposta de uma estética antagônica aos cânones vigentes” (21).
722 ANTONIO ARNONI PRADO
acaba se transferindo dos parnasianos para os anarquistas, que –como se sabe– jamais se
livrariam da solenidade petrificada dos cânones literários, como nos lembra Vera
Chalmers, então adaptados à retórica humanitária dos princípios da Acracia (20).
Sob este aspecto, Oswald de Andrade talvez tenha sido, relevada a atitude crítica e
a ação militante de Lima Barreto, a única vocação anarquista das nossas letras a converter
a rebeldia política em expressão literária de vanguarda. Um modo de compreender a
distância que desde logo o separa dos boêmios insubmissos daquele tempo é acompanhar
a “aventura do sonho efêmero” em que estes últimos acabaram se envolvendo, inspirados
pelos ventos revoltosos trazidos pela República no bojo dos ideais igualitários despertados
com o novo século.
Sabe-se que, para os anarquistas, o esclarecimento do homem comum nunca foi uma
questão de doutrinação sistemática. Na verdade, a ação intelectual anarquista, embora
assumindo um compromisso essencial com a libertação espiritual do povo, não se dirigia
à massa em abstrato, nos termos em que o propunham “aqueles que pretendiam governá-
la”, como disse certa vez o teatrólogo Neno Vasco em “A nossa ação”, na revista
Renovação (I.6.1922). Bem, ao contrário, distanciava-se disso, ao dirigir-se concretamente
aos indivíduos tomados cada um em sua circunstância, com vistas a “formar consciências,
despertar energias, coordenar vontades” e sobretudo desenvolver a solidariedade.
No Brasil, em grau diferente do que ocorria por exemplo com a Itália ou a Espanha
–onde a expansão dos focos de ação direta na verdade ampliava uma tradição de lutas em
grande parte sustentada por trabalhadores amadurecidos na defesa de seus direitos e em
pleno domínio de seu papel histórico na resistência à hegemonia dos grupos
dominantes2–, a irradiação intelectual desse esclarecimento exigiu um esforço quase
heróico dos pequenos jornais e revistas que a articulavam. Sem pensar no abandono a que
se via relegado o trabalhador pobre no Brasil daquele tempo –desinformado, destituído
dos direitos mais elementares e em geral excluído do precário sistema educacional– três
outros aspectos emperravam a ação emancipadora da imprensa anarquista na São Paulo
provinciana dos primeiros anos do século XX.
O primeiro deles, em parte agravado pela escassa tradição gráfico-editorial –refere-
se ao pequeno universo de autores e leitores envolvidos no processo da difusão ideológica
da mensagem libertária. Além disso, mantidos à custa de assinaturas e de contribuições
obtidas graças às festas e aos atos de promoção social, os jornais e revistas anarquistas
refletiam, de um lado, a persistência dos problemas de identidade do imigrante europeu
no espaço do Novo Mundo, e, de outro, como uma espécie de resposta a esse exílio nos
trópicos, a definição de uma referência européia tão vasta quanto a princípio desligada do
universo de leitura e de experiência do leitor brasileiro.
No caso de São Paulo, sobretudo, é fácil constatar esse processo quando observamos
a influência com que o “Risorgimento” posterior à unificação italiana alimentou o
imaginário e a produção intelectual dos grupos filodramáticos espalhados pelo estado de
São Paulo em torno das projeções da “nova Itália” que então surgia e cujas referências
estéticas –na ausência de outras– ligavam os ideais de expressão e leitura do imigrado
2
Veja-se a respeito o panorama traçado por Lily Litvak em Musa libertaria: arte, literatura y vida
cultural nel anarquismo español (1880-1913).
BOÊMIOS, LETRADOS E INSUBMISSOS 723
italiano aos grandes símbolos da cultura da pátria mãe, do teatro de Goldoni e Alfieri à
lírica de Carducci e Leopardi, das personagens de Paolo Giacometti, Silvio Pellico e Carlo
Marengo às figuras-síntese de Manzoni, Garibaldi, Mazzini e De Amicis.
O dado a registrar é que, mesmo escorraçado da pátria-mãe,3 o trabalhador imigrante
–graças à expansão das sociedades filodramáticas em São Paulo– continua vinculado a
seus elos identitários de origem num espaço sem outra referência mais próxima que a da
projeção ideológica de seus valores e símbolos através da poesia, da música e sobretudo
do teatro. Tal atitude se expande para os periódicos anarquistas cujos militantes imigrados
vêem ainda mais agravado, no Brasil, o peso de uma exclusão que, reprimida no país de
origem, permanece sem identidade na terra de adoção.
Por esse viés, filodramáticos e anarquistas –apesar das diferenças– andaram juntos
uma parte de seu percurso de imigrantes na São Paulo de fins do século XIX e primeiros anos
do século XX, como o atestam nas revistas do período a natureza dos laços espirituais e a
trajetória intelectual de alguns de seus militantes mais expressivos. Sob este aspecto, pode-
se mesmo dizer que tanto na imprensa libertária quanto nas revistas de ilustração
nacionalista (tão caras aos filodramáticos) prevalece –malgrado as diferenças tão fundas
entre elas– uma espécie de núcleo comum dirigido à formação espiritual do imigrante
pobre deslocado para o Novo Mundo. E mesmo fora do âmbito dos jornais e revistas
escritos em italiano (ou fomentados pela colônia italiana de São Paulo) é expressiva a
convergência de interesses para autores como Ibsen, Zola, Victor Hugo, Tolstói, Pio
Baroja, Pi y Margal, Pi y Arsuaga que, além dos autores italianos, davam assim a referência
intelectual à formação dos leitores.
La Colônia (1921) , revista de língua italiana publicada em São Paulo, reforça por
exemplo os vínculos nacionalistas com a “nova Itália”, exaltando os grandes símbolos de
sua civilização milenária. “Nel sogno imperiale di Dante –diz o editorial de 20 de setembro
de 1921– l’aquila è il simbolo dell’impero di Roma: l’único impero legítimo –assinala–
che possa existere nel mondo”. A intenção de incluir o leitor imigrado como um membro
integrado “allo universale impero”, serve de estímulo às elites emergentes que vão
assumindo postos na indústria e no comércio de São Paulo, orgulhosos de pertencerem a
uma Itália reunificada e poderosa. “Per la prima volta, dopo i tempi di Roma antica
–prossegue o texto– l’Italia si trova riunita; facciamo sí che essa sía davvero quale la
previdero i nostri pensatori, quali la cantarono i nostri poeti...”. E conclui: “Da oggi
incomincia una storia nuova pel nostro Paese”. Curioso é que apesar do tom patrioteiro,
uma ou outra alusão dispersa deixa entrever, ainda que muito tênues, os primeiros sinais
de contato com a paisagem local. Num primeiro momento quando a revista procura
desfazer a impressão de imperialismo diante de seus leitores. E em seguida quando enxerta
a essa idéia uma blague com o time de futebol da colônia italiana de São Paulo, bastante
popular não apenas entre os imigrantes: “Se fossimo imperialisti, –argumenta o
editorial– che cosa non saremmo al mondo, con Dante e... le vittorie del Palestra Italia?”
(“Nel sogno imperiale di Dante” 2).
3
Miroel Silveira nos mostra a expansão desse desterro em A contribuição italiana ao teatro brasileiro
(1895-1964).
724 ANTONIO ARNONI PRADO
É verdade que os anarquistas viam com muita ressalva esse tipo de concessão
democrática das pequenas revistas que, no seu entender, começavam então a discriminar
a massa dos imigrantes em favor de uma minoria. Mesmo nas revistas menos dogmáticas,
a crítica aos imigrantes da elite –os futuros comendadores Crespis e condes
Matarazzos– é um dos temas mais palpitantes daquele momento de transformação social
na São Paulo trepidante dos primeiros anos da industrialização. Numa edição de A
Encrenca (1929) encontramos uma espécie de caricatura dos privilegiados que vão
transformando São Paulo numa “terra de ricos [onde] não deve existir povo” e onde “tudo
deve ser grande ... como grande também deve ser a fome” que grassa pela cidade
(“Consciência no estômago” 4). A Encrenca não deixa, aliás, de sacudir os fascistas do
Fanfulla quando sai em defesa de um brasileiro nato (italiano filho de imigrantes) que lutou
os quatro anos da Primeira Guerra na frente italiana (sendo inclusive condecorado), mas
é apresentado como desertor. Aqui, a aproximação do filho do imigrante com o brasileiro
nato, ao mesmo tempo que o separa o italiano do tipo ítalo-paulista, define um sentimento
de identidade, ainda que tênue, com a pátria adotiva.
No extremo oposto da frente libertária imigrante, estão as revistas mantidas pela
colaboração de escritores e intelectuais. Um exemplo dos mais expressivos é o grupo de
Kultur –a revista internacional de estudos filosóficos e questões sociais, que circulou no
Rio de Janeiro entre os anos de 1904 e 1905 editada por Elísio de Carvalho, um admirador
de Oscar Wilde depois convertido em perito policial doublé de mecenas e paladino dos
latifundiários do Nordeste. Na pauta de Kultur o anarquismo entrava como uma espécie
de subcapítulo do projeto civilizador das elites ilustradas que vinham de propor, louvadas
nas iniciativas recentes da Europa, um malogrado projeto de Universidade Popular no
Brasil, como nos mostra Carlos de Miranda em “A Universidade Popular –para a instrução
superior e a educação social do proletariado”.
Vários dos principais diretores da revista –Elísio de Carvalho, Mota Assunção e
Curvelo de Mendonça, por exemplo– integravam o Comitê de Proteção que presidiria esse
“futuro centro para a instrução superior e a educação social do proletariado”, contando
“com o “apoio moral de várias notabilidades do nosso meio” (“A Universidade Popular”
26), entre as quais Sílvio Romero, José Veríssimo, Rocha Pombo e Araújo Viana, a que
depois acabaram aderindo artistas, pintores e poetas. O dado novo é que, entre o projeto
da Universidade Popular e a criação da revista, o que vai prevalecer é o tom elevado dos
temas e dos princípios à luz dos quais Elísio manterá a mesma retórica reformista já
exposta no Manifesto Naturista de 1900, (Carvalho, 1901) que escreveu inspirado nas
idéias de Saint-Georges de Bouhélier e que buscava romper com o elitismo literário da
torre de marfim dos simbolistas para propor, em seu lugar, a mesma revolução de base
moral concebida pelos naturistas franceses, interessados num projeto de educação
superior do povo através da literatura e das artes.
Por esse lado, o programa da revista Kultur –que na verdade prolonga as teses da
revista Meridional dirigida pelo mesmo Elísio de Carvalho no ano anterior– apresenta-se
para o leitor brasileiro como uma espécie de porta-voz tropical das experiências de Lugné
Poe com o teatro popular francês ou ainda da própria cooperativa de instrução ética e social
idealizada por Georges Dehermé. Não sem motivo, a própria idéia da Universidade
Popular e de seu pomposo Comitê de Proteção inspira-se em grande parte nos programas
BOÊMIOS, LETRADOS E INSUBMISSOS 725
4
Sobre a ação de alguns militantes estrangeiros trasladados para o Brasil, ver o ensaio de Antonio
Candido. Teresina etc.
726 ANTONIO ARNONI PRADO
antes deles já existia um povo artista como que articulando consciência e sensibilidade,
luta e vocação para a liberdade.
Romualdo de Figueiredo, no mencionado jornal Renovação, (“A arte e o povo” 5) e
Maria Lacerda de Moura no Internacional (1924) –para não falar dos artigos de Vera
Starkoff divulgados pelas páginas de Spartacus (1919)– insistem por exemplo em que a
literatura anarquista não apenas sublinha a convergência entre humanismo (Proudhon) e
coletivismo (Kropotkin), como também ressalta que as tarefas do “escritor rebelde”, em
geral esboçadas “entre o caos e a revolta”, só produzem efeito se atreladas aos três
princípios básicos da chamada “arte em situação”, que buscavam abrir a realidade à
compreensão de todos, expor concretamente as causas de suas contradições e oferecer ao
homem comum os dados necessários à sua inserção positiva na luta pela transformação da
ordem social adversa.
Isso explica que, ajustados à revista ou ao jornal de combate, o conto, o poema, a
burleta ou o monógo, por exemplo, passam muitas vezes a circular num horizonte oposto
ao de sua concepção de origem. E isto mesmo quando amoldados ou transcritos para
figurar como emblema literário ou mesmo paródia de uma verdade, princípio ou atitude.
Adaptados à linguagem do jornal ou da revista, só funcionam se forem breves e diretos no
recorte da imagem ou no contorno ideológico da mensagem. Sob este aspecto, produzem
efeitos muito mais velozes e instantâneos que os textos doutrinários do romance, da poesia
ou do teatro libertário tais como os conceberam escritores-militantes como Jean Grave,
Pietro Gori ou Luigi Damiani, na Europa, ou Fábio Luz, José Oiticica e Curvelo de
Mendonça, no Brasil, por exemplo. Nessa perspectiva, um verso vale mais que uma
epopéia, um sketch ou um recorte de cena muito mais que um ato inteiro, um relato-
flagrante mais que o próprio conto, a fala de uma personagem, mais que o argumento de
todo um romance. E nós percebemos que o choque se instala quando comparamos que os
efeitos se equivalem e que a literatura anarquista da imprensa –quase sempre tão redutora
quanto a de seus filósofos e intérpretes– segue tão ortodoxa e polarizada quando a
pregação ideológica de seus romances e poemas.
Aqui a novidade vem da contribuição da massa de autores anônimos, de apócrifos e
de concepções coletivas que rompem com a forma tradicional e entram pela síntese das
impressões instantâneas, mas não dispensam a “moral da história” –como nos relatos de
Sacha Volant nas colunas do Internacional– nem se livram do traço grosso da caricatura
e da blague, como nos flagrantes da miséria urbana e do cotidiano, tão comuns nos textos
jornalísticos de Felipe Gil (Novo Rumo, 1906), de um certo Demócrito (O Despertar,
1904) e de P. Industrial (Aurora Social, 1901). Um exemplo contíguo está no instantaneísmo
do teatro, cujas personagens-espelho passam no palco pelo mesmo processo de aprendizagem
que a peça quer transferir para o espectador militante. Ainda aqui, as cenas estampadas na
imprensa –mais ágeis se comparadas ao andamento das peças doutrinárias (penso nos
dramas de José Oiticica e de Avelino Fóscolo, por exemplo)– aceleram a formação
libertária do público através de cortes que abreviam os episódios, sintetizam a trama e
enxugam os motivos dramáticos em que as rubricas em geral perdem a função cênica e o
monólogo muitas vezes transcende o diálogo direto.5
5
Aprofundei a leitura do tema em “Elucubrações dramáticas do professor Oiticica”. Sobre a
personagem-espelho, ver Eva Golluscio de Montoya. “Pactos de representación en un teatro
728 ANTONIO ARNONI PRADO
militante: el problema del destinatario”; sobre a estrutura do teatro popular libertário, ver Nora
Maziotti. “Ideología libertaria en escenarios rioplatenses”.
6
Em estudo acadêmico recente, Maria Tarcisa Silva Bega explorou a trajetória da geração simbolista
no Paraná, mostrando como estas revistas foram decisivas na expansão da literatura anticlerical e
do ideário social reformista e pretensamente libertário de autores como Dario Vellozo e Rocha
Pombo, este último autor de No hospício, um dos primeiros romances de intenções anarquistas
escritos no Brasil. Cf. Maria Tarcisa Silva Bega. Sonho e invenção do Paraná: a geração simbolista
e a construção da identidade regional.
BOÊMIOS, LETRADOS E INSUBMISSOS 729
7
“Os dois burros”, in Arnoni Prado, Antonio e Foot Hardmann, Francisco. Contos anarquistas (78-
79).
8
“Xenofobia?”, ibid.
730 ANTONIO ARNONI PRADO
Filho, elogiado por Lima Barreto quando saiu em 1907 o romance O cravo vermelho,
publica na revista dirigida por Maria Lacerda de Moura um artigo em que chega a propor
o boicote feminino ao beletrismo, para que através deles as mulheres se livrem dos “bonzos
do canonismo deprimente ou dos galãs que lhes exaltam as belezas de vitrine e os
sentimentos de serralho” (“O veneno literário” 8). Para Ribeiro Filho, por exemplo, era
inadmissível que a epilepsia estética dos concursos de beleza, então emergentes, convertesse
a seleção darwiniana numa eleição jornalística, “digna de todas as sátiras” por humilhar
as outras mulheres e estabelecer em nome da beleza e da arte “um novo e estranho mercado
de escravas” (“O concurso de beleza” 7). Outro militante histórico, Everardo Dias, nas
páginas dessa mesma revista, acusará diretamente os simbolistas por terem transformado
a poesia num “eunuco moral” recheado de seres excepcionais divididos entre a pureza
inatingível e os vícios execráveis cada vez mais evidentes no coração de uma sociedade
em cuja arte “a mentira tem sido cultivada com esmero” (“Os simbolistas fizerom da arte
un eunuco moral” 12).
Aqui, se o que marca é no fundo o peso inegável da ideologia, não há como negar que
as referências à literatura e as artes mudam de contexto e passam a guardar uma relação
mais próxima com os fatos do cotidiano e os percalços do homem das ruas. “Abaixo a
literatura que se vende à mediocridade das instituições sociais constituídas. Abaixo os
contrabandistas do sonho, os cabotinos das idéias: Le couteau entre les dents e El hombre
mediocre deveriam andar de mão em mão entre os intelectuais” –bradava Maria Lacerda
de Moura num editorial de abertura que soou como manifesto dirigido aos chamados
homens livres (“Aos intelectuais” 2).
A mensagem repercute como em uníssono. Para os libertários da Renascença, Rui
Barbosa desaparecera tarde demais (“deveria ter morrido quando ainda era rebelde...”), a
hora presente exigia colher “no meio do progresso da história” as bases necessárias à
melhoria da vida de que a literatura se convertia em testemunha. “Sou individualista
porque faço questão capital do desenvolvimento do indivíduo. Mas esse desenvolvimento
não deve implicar a escravização das multidões” –anuncia o poeta Octávio Brandão (“Sou
individualista” 3). Ao mesmo tempo, um poema de Afonso Schmidt saúda “o asfalto, as
copas e o frontal das casas”, onde “zumbe o dínamo, / o esmeril morde o metal, / uma chuva
de centelhas / espirra o motor”, fundindo o sol às “grandes máquinas que comem aço”
(“Soldando trilhos” 5). E um colaborador como Ângelo Guido, ao resenhar o Suave
convívio do futuro modernista Andrade Muricy, sublinha a diferença entre a crítica
construtora deste último –um crítico que, nos termos de Guido, escreve com simpatia,
“com a emoção que nasce de uma quase identificação entre o espírito que analisa a obra
e o espírito do autor”– e a crítica escolástica de um Duque Estrada, por exemplo, segundo
Guido “um frio analista [que] anda a catar minudências sem conseguir perceber o que, no
conjunto, tem uma obra de profundo e significativo” (“O suave convivio” 4).
É assim que, distanciados do preciosismo acadêmico dos insubmissos da Kultur, os
libertários das revistas militantes mergulham na onda que alterava a antiga paisagem da
cidade e por aí vão se atrelando às imposições de um novo tempo já em curso para as
transformações que viriam depois com o modernismo. Sob este aspecto, passam a circular
como anti-sintomas de um futurismo revoltado contra a violência da máquina e do
progresso material à disposição dos abastados, igualmente interessados na renovação das
BOÊMIOS, LETRADOS E INSUBMISSOS 731
artes, dos costumes e da própria fisionomia do capital. E por aí avançam sem recuar um
momento até acabarem marginalizados como um contraste moral isolado pela luz sensível
da utopia num momento em que as elites ilustradas de São Paulo, em fevereiro de 1922,
já em plena expansão cosmopolita, decidem patrocinar a Semana de Arte Moderna no
Teatro Municipal.
Desde 1921, no entanto, os anarcóides de O Parafuso (1917-1921) vinham recusando
a modernidade pela modernidade, que vinculavam às negociatas da classe política, à
jogatina nas roletas dos hotéis e dos clubes fechados e ao esbanjamento da elite paulista
no comando da economia do Estado. A revista A Vida (1924-1928) lançará uma chamada
sobre o que considerava “a escravidão moderna”, e reproduzirá no artigo “Sacco e
Vanzetti, um diálogo de Nicola Sacco com o presidente da Corte que o condenou à morte:
“Eu sei que a sentença está entre duas classes: a classe oprimida e a classe rica... vós
tiranizais e matais. Nós educamos o povo” (12). E um militante como Capllonch,
dirigindo-se aos artistas modernos pelas páginas da revista Renovação, lembrará em que
“a missão das gerações modernas e futuras não é injetar cafeína nem dar balões de oxigênio
a um manequim articulado que agoniza”, num vivo repúdio à arte fútil, aristocrática e
mórbida cujo único objetivo , em suas próprias palavras, era “recrear e estimular o ócio
do privilegiado” (“Dignificar a arte” 37-38).
Já então a literatura, engolfada nas contradições da sociedade industrial, deixava para
trás a figuração acadêmica dos parnasianos e se afastava da linguagem retórica dos
boêmios desgarrados da tradição e sem lugar definido no sistema da nova ordem. Temas
incontornáveis sob as dobras da modernidade, o trabalhador luta contra a máquina, o
progresso sofistica a opressão e os motivos da literatura e da arte intercortam a perplexidade
moral ante o novo século que surgia. Nas páginas de A Vida o cronista Benjamim Costallat
seguirá invocando no arranha-céu o “hino em cimento armado à potência e ao valor do
operário moderno” (“O dia do trabalho” 13); o poeta Lírio de Rezende recordará, num
canto comovido, o legado redendor dos heróis de Chicago, “novos semeadores em prol da
redenção dos povos sofredores” (“Aos heróis de Chicago” 7); e um certo Tedralva,
dignificando a legião dos colaboradores anônimos, imagina num breve conto de ação
militante o último vôo de um aviador idealista que, lá do alto, enquanto o motor roncava
em contínua trepidação, esparramava os olhos compassivo sobre a cidade lá embaixo,
pensando “nas misérias que neste charco se arrostam”.
BIBLIOGRAFIA
POR
CELINA MANZONI
Universidad de Buenos Aires
1
La revista se reconocía por el número cambiante cada año más que por el subtítulo escrito siempre
con minúsculas con el que fue identificada después. Realizo un estudio bastante exhaustivo de la
revista de avance, así como de algunos otros temas aludidos en este artículo, en Un dilema cubano.
Nacionalismo y vanguardia.
736 CELINA MANZONI
y John Dos Passos con “Lo nuevo ininteligible”, traducción de una carta dirigida al New
York Times. Una retórica anticuada se contrapone de manera casi violenta a otra, e instala
no sólo un nivel diferente de reflexión sino sobre todo otro lenguaje. Dice Dos Passos:
De la contumacia en las disputas y del empleo injusto de las palabras viejo y joven, queda
el arte rebajado de categoría a anécdota, a objeto de moda. Y nada más opuesto que la
moda al arte. [...] Los “ismos” se suceden, las voces hacen trepidar el ámbito, y jóvenes
de todas clases tratan de apoderarse del hoy en nombre del mañana sin pensar que ya están
en los colegios los que les van a llamar viejos pasados unos años. (174)
2
Subrayo el término, porque la cuestión de la “asincronía” de la literatura latinoamericana respecto
de otras literaturas es una de las teorías más extendidas y todavía menos discutidas. García Canclini
(65-80) plantea el problema en términos de “multitemporalidades asimétricas”.
738 CELINA MANZONI
que sucediera algo similar cuando se trata de pensar no solo las funciones y las
modalidades de una forma literaria específica. El deslinde de la prosa de la vanguardia, a
diferencia de lo que sucede con la poesía, las artes plásticas o la música, es relativamente
reciente (Verani-Achugar). En todas las revistas, la prosa, además de las formas mencionadas
más arriba, se manifiesta en cuentos, relatos, capítulos de novela, crónicas, incluso avisos
publicitarios y otras expresiones en general heterodoxas.
El cruce de un género venerable y al mismo tiempo de difícil definición, con la
voluntad experimental, en una lectura desviada, oblicua, permite reconocer un espacio en
el que la estética tanteadora del ensayo se vincula a algunos de los gestos más audaces de
la prosa de la vanguardia. La apropiación gozosa y desprejuiciada de formas del arte y la
sociabilidad popular desdeñadas por la alta cultura como el circo y la pantomima, en la
base de la admiración por Chaplin; el carnaval, el jazz, el charleston, el tango, la música
transeúnte de los organitos, el boxeo, el fútbol u otros deportes, unida al gusto por lo
fragmentario que se realiza en las revistas en la proliferación y dispersión de frases
célebres, apostillas, aforismos, máximas, epitafios, los “Membretes” de Girondo, el
“Index Barbarorum” de la revista de avance, los “Motivos” de Contemporáneos, las
greguerías de Ramón Gómez de la Serna, es expresiva además, del placer que se encuentra
en lo pequeño y lo paradójico. Se recrea una sintaxis aprendida en los collages en los que
la yuxtaposición caótica o el estudiado desorden, según como se mire, de elementos
menores e insignificantes en sí mismos, recortados de manera arbitraria, contribuye a la
sugestión de lo novedoso; en la prosa de Blaise Cendrars algunos de cuyos breves relatos
infantiles fueron traducidos en la revista de avance; en el arte de la fotografía y el del cine.
La reproducción en varias de las revistas de imágenes urbanas del tipo de las de Man Ray
o de Stieglitz, que recortaban en detalles a veces mínimos la gran ciudad, contribuyó
seguramente a orientar la mirada hacia espacios físicos y simbólicos escondidos: callecitas,
rincones, los patios, las tardes, el vacío del domingo, e incluso a la creación mítica del
suburbio; una mirada fragmentada pero también a veces violenta en la que influyó la
admiración universal por el cine.
El interés por gestualidades y formas del habla cotidiana devaluados por la academia
nutre el breve ensayo de Emilio Roig de Leuchsenring, “Del rascabucheo considerado
como una de las bellas artes”, y el más famoso de Jorge Mañach, Indagación del choteo
(1928), lo mismo que las “Definiciones para la estética de lo cursi” de Bernardo Ortiz de
Montellano, la glorificación de la cursilería por Pablo Rojas Paz en Martín Fierro (1924)
y el posterior Ensayo sobre lo cursi (1934) de Ramón Gómez de la Serna. El comentario
sobre el libro de Mañach publicado en Contemporáneos es expresivo de una conciencia
estética que, asociada a la vocación por lo ínfimo, amplía la percepción del mundo:
Quizás no bastaría el ahinco erudito para encontrar al Cristóbal Colón de este actual
archipiélago sociológico hecho de pequeñas islas-deportes, coquetería, cuestiones
suntuarias y, último descubrimiento, choteo-barridas por una brisa de frivolidad. [...]
Ahora los inmigrantes desalojan su afán de los grandes continentes a cambio de explorar
islotes, si más chicos, también más pintorescos. [...] La cartografía, en tanto, se ensancha.
(Salazar Mallén)
FORMAS DE LO NUEVO EN EL ENSAYO DE LA VANGUARDIA 739
En la atención que Jaime Torres Bodet y José Carlos Mariátegui le dedican a Nadja
(1929), la novela de André Breton, también se puede leer, aun en las diferencias, la
seducción provocada por el encuentro con lo maravilloso en el espacio de lo banal. Las
“fragmentarias razones” con las que Borges encara las coplas criollas, las acriolladas y los
refranes en El tamaño de mi esperanza (1926), o sus elecciones de lo ínfimo en los
ejercicios de prosa narrativa que cuajan en 1936 en Historia universal de la infamia, lo
mismo que el “Breve ensayo sobre el ómnibus” de Leopoldo Marechal en el número 20
de Martín Fierro, juegan, experimentan, con el afán de concisión, síntesis, elegancia,
brevedad, ritmo y contundencia, de una escritura que se anhelaba despojada y que se
debatía contra el peso muerto de una prosa superficial y ostentosa heredada del siglo XIX
que o había resultado inmune a la renovación modernista o la había constituido en
estereotipo. El cartel colocado al pie de la página 142 del mismo número 20 de Martín
Fierro: “LOS ESCRITORES JAMÁS DEBIERAN OLVIDAR QUE LA CIRUJIA [sic]
ES UN ARTE DE GRAN ESTILO”, realiza en tono de solfa el programa de la vanguardia
contra el discursismo, el lugar común y la improvisación en la prosa, y explica la
importancia del espacio destinado en varias de sus revistas al ensayo y a la reflexión sobre
sus formas. El hecho de que quienes cultivan el género pueden ser también poetas y
algunos de ellos grandes poetas, como César Vallejo, ratifica la necesidad de pensar los
géneros en su contemporaneidad, en el diálogo, el intercambio y la interpenetración de
discursos.
En un artículo escrito cinco años después del cierre de la revista de avance, Jorge
Mañach, recupera la idea de una “sensibilidad nueva” abierta a la rebeldía, en la que el
rechazo de las retóricas se relaciona directamente con el cambio social. Refiriéndose a las
minúsculas con que escribieron el nombre de la revista, racionalizará:
Arce, a los románticos franceses y a sus epígonos. Esas elecciones (afines, por lo demás,
a las de Borges), identificaron su obra con lo que Mañach llamó “sajonismo intelectual”
(216), suerte de imperativo mental que le permitió a Castellanos, también traductor del
inglés, la creación de un estilo ensayístico moderno: neto, preciso y económico. Mañach
despliega una poética del ensayo en debate además con una opinión corriente, según la cual
se denominaría ensayo a toda prosa seria, de relativa brevedad, que no sea meramente
anecdótica o descriptiva. La confluencia en Castellanos de oralidad y escritura, le permite
una redefinición: “el género se caracteriza no tanto por una medida como por una calidad
y por un ritmo especiales de exposición” (220). En resumen, un estilo que condensa una
actitud ética del intelectual: “Y no desear, no hacer interjecciones sino juicios; pensar, ser
desinteresados, es ser actuales” (223). En el marco de este tipo de elaboraciones se inserta
el número de homenaje de la revista de avance dedicado a José Carlos Mariátegui.
EL ENSAYISMO DE MARIÁTEGUI
Si por una parte la condición fragmentaria de las revistas favoreció entre otras formas
de experimentación la del ensayo, por otra es indudable que José Carlos Mariátegui
exploró al máximo ese posible; su intenso trabajo disperso en tantas publicaciones
periódicas además de Amauta, constituyó una textualidad que, más allá de su pasión crítica
y teórica, arrebataba a los lectores por la fuerza de lo que distinguieron como su “estilo”.
La reflexión abierta por la revista de avance toma como pre-texto los dos únicos
libros organizados y prologados por su autor: Escenas de la vida contemporánea (1925)
y 7 ensayos de interpretación de la realidad peruana (1928); como es sabido, ambos
reúnen trabajos publicados previamente en las revistas limeñas Variedades, Mundial y
Amauta.
En el prólogo a La escena contemporánea Mariátegui reflexiona: “no pretenden
estas impresiones, demasiado rápidas o demasiado fragmentarias, componer una explicación
de nuestra época. Pero contienen los elementos primarios de un bosquejo o un ensayo de
interpretación de esta época y sus tormentosos problemas que acaso me atreva a intentar
en un libro más orgánico” (11). Más adelante afronta la singularidad de su método y lo
constituye en una elección teórica y estética: la fragmentariedad del ensayo le parece el
“mejor método para explicar o traducir nuestro tiempo” (11). Una afirmación en la que
subyace no solo una renuncia filosófica a la seguridad que en apariencia transmiten las
pretensiones totalizadoras sino también una apuesta al movimiento y una persecución de
la ligereza de la prosa como signos de un moderno cuya fugacidad solo es posible intuir
mediante la rapidez de las impresiones. El carácter heterodoxo de este prólogo en cuanto
al rechazo de toda concepción totalizante, incluso la del marxismo, se extiende también,
como señala Antonio Melis en el prólogo a sus Obras Completas, a “la pretensión de
cualquier ciencia particular de erigirse en canon de interpretación universal” (23).
Aun así es imposible no registrar una cierta tensión entre fragmentariedad y
organicidad, que se expresa –y no por única vez– en el anhelo de libro orgánico como ideal
futuro. Aunque puede leerse también como una declaración deudora de un horizonte social
en el que el libro sostiene el prestigio de una modalidad argumentativa, no debería
descartarse una polémica implícita con la organicidad de la ideología del hispanismo a
FORMAS DE LO NUEVO EN EL ENSAYO DE LA VANGUARDIA 741
ultranza representada por la obra academicista de José de la Riva Agüero. Como una
manera de superar el desajuste, más que conflicto, entre lo fragmentario y lo orgánico,
utiliza los procedimientos de asociación y ensamblado propios del arte moderno, que, en
la base del collage, recuperan además de lo fragmentario, una estética de la discontinuidad.
Otro modo de reconocer la imposibilidad de que una teoría pueda aprehender el panorama
completo del mundo contemporáneo y mucho menos “su movimiento”, de allí que
proponga la exploración “episodio por episodio, faceta por faceta” (La escena 11). Su
conciencia de la multiplicidad del fenómeno y del retraso del juicio y de la imaginación
respecto de la totalidad, lo autorizan a proponer que “el mejor método para explicar y
traducir nuestro tiempo es, tal vez, un método un poco periodístico y un poco
cinematográfico” (11): formas de comunicación moderna y de masas instaladas con
firmeza en el horizonte de Mariátegui.
En los límites de ese mismo envión reflexivo caracteriza su propio punto de vista: “sé
muy bien que mi visión de la época no es bastante objetiva ni bastante anastigmática” (12).
La utilización del término científico que designa la corrección del astigmatismo, un
defecto de visión provocado por la curvatura irregular del ojo que produce una impresión
desplazada de la norma, y por eso, “incorrecta”, no solo revela el tipo de relación que su
mirada establece con el objeto sino que en el mismo movimiento denuncia el carácter
convencional de las habituales atribuciones de objetividad. Se podría decir que ante el
espectáculo del mundo, su “filiación” y su “fe”, su mirada desviada de la norma se refracta
de modo tal que el ensayo se constituye en ese momento en que la luz ilumina de manera
oblicua una imagen nueva de la sociedad, que no será objetiva pero tampoco sectaria, que
nunca subordinará el juicio estético al criterio de lo correcto político. Como culminación,
la metáfora óptica extiende la experiencia de lo individual para refractarla a lo social; es
por eso que caracteriza a su visión como “un documento leal del espíritu y la sensibilidad
de mi generación” (12).
Tres años después, en la “Advertencia” a los 7 ensayos de interpretación de la
realidad peruana, retoma el mismo planteo filosófico y estético ahora respaldado por la
traducción y la glosa del epígrafe de Nietzsche que encabeza el volumen.3 “Como La
escena contemporánea, no es éste, pues, un libro orgánico. Mejor así. Mi trabajo se
desenvuelve según el querer de Nietzsche, que no amaba al autor contraído a la producción
intencional, deliberada, de un libro, sino a aquél cuyos pensamientos formaba un libro
espontánea e inadvertidamente” (11). Aun así, lo mismo que en el prólogo de 1925, insiste:
“Muchos proyectos de libro visitan mi vigilia” (11). En la tensión entre fragmento y
totalidad recupera un impulso por el que vida y pensamiento se constituyen en una unidad
en devenir, “un único proceso” en el que se tensa la fugacidad del instante con la
conciencia de una misión deliberadamente orientada hacia un horizonte entrevisto. “Y si
algún mérito espero y reclamo que me sea reconocido es el de –también conforme a un
principio de Nietzsche– meter toda mi sangre en mis ideas” (11). Podría decirse que esa
petición ilumina una prosa en la que la combinación de un conjunto de procedimientos,
traspasada por el impulso expresivo de una sensibilidad ante lo nuevo, se constituye en un
3
El epígrafe de Nietzsche, transcripto en alemán, pertenece a El viajero y su sombra y se constituye
en una señal más –si se quiere, desafiante– del carácter original del marxismo de Mariátegui.
742 CELINA MANZONI
rasgo de estilo. Muchos de sus contemporáneos pudieron reconocer esa cualidad inseparable
de su pensamiento, y, dentro de las expectativas de sus propios horizontes, los redactores
de la revista de avance lo expresaron en el homenaje que dedicaron a su memoria.
El número especial fue anunciado poco después de conocerse la noticia de su muerte
en Lima el 17 de abril de 1930: “La muerte de José Carlos Mariátegui, por ser duelo de
la América nueva, es duelo de ‘1930’. [...] La tiranía borgiana de Leguía más que el largo
padecer físico ha matado al autor de los ‘Siete Ensayos’” (“La muerte...”).4 En el material
que contiene la revista destaca el grabado de un perfil de Mariátegui (“cabeza de aguilucho
obstinado”, dijo Marinello), por el pintor cubano Carlos Enríquez. Además de los
artículos que se le dedican, reproduce fragmentos de un ensayo sobre el americanismo y
de una carta que poco antes de su muerte le había enviado a Marinello en la que además
de mencionar la amistad con Waldo Frank y su futuro viaje a Buenos Aires, promete un
artículo.5
El número se abre con un texto de Waldo Frank, “Una palabra sobre Mariátegui, que
por haber sido escrito con anterioridad, se publica acompañado de una carta que lo
autoriza:
Si ustedes quieren, pues, queridos hermanos, pueden publicar junto con esta carta las
palabras que ya les mandé. [...] Hemos perdido un líder y un hermano: la Muerte nos ha
infligido una severa derrota. No hay nada que podamos hacer sino saludarle, y seguir
adelante, en su espíritu. (166)
4
Se puede convenir en que la definición de una dictadura como “borgiana”, aunque no desentone
en el contexto de la revista, constituye entonces un modo audaz de adjetivación hoy perdido por su
proliferación como lugar común.
5
1930 revista de avance IV/47 (La Habana, 15 junio 1930): 166. En el fragmento sobre el
americanismo rechaza algunas de las ideas en debate: “Es ridículo hablar todavía del contraste entre
una América sajona materialista y una América latina idealista, entre una Roma rubia y una Grecia
pálida. Todos estos son tópicos irremisiblemente desacreditados. El mito de Rodó no obra ya –no
ha obrado nunca– útil y fecundamente sobre las almas. Descartemos, inexorablemente, todas estas
caricaturas y simulacros de ideologías y hagamos las cuentas, seria y francamente, con la realidad”.
FORMAS DE LO NUEVO EN EL ENSAYO DE LA VANGUARDIA 743
quien figuran por lo menos dos colaboraciones en Amauta, extravagante en relación con
el conjunto en el que se inscribe, parece también extemporáneo, aunque en realidad apenas
se adelanta a una corriente de pensamiento que muy pronto, inspirada en la ortodoxia de
la Internacional Comunista y su interpretación del marxismo, en la exacerbación del
nacionalismo y en los debates que rodearon la guerra de España, entre otros factores,
necesitó poco tiempo para constituirse en dominante. Así como pretendió borrar el
pensamiento de Mariátegui, silenció y estigmatizó a las vanguardias y constituyó zonas de
vacío en una cultura que, una vez más y en otras condiciones, se replantea la necesidad de
reflexionar sobre su misma existencia.
BIBLIOGRAFÍA
Revistas
1927. 1928. 1929. 1930. revista de avance, La Habana, 1927-1930. Material fotocopiado.
Contemporáneos (1928-1931) Edición facsimilar. 11 vols. México: Fondo de Cultura
Económica, 1981.
Amauta. Revista mensual de Doctrina, Literatura, Arte, Polémica, 1926-1932. Edición
facsimilar. Lima: Empresa Editora Amauta S.A., s.f. Estudio preliminar de Alberto
Tauro.
Revista Martín Fierro 1924-1927. Edición facsimilar. Buenos Aires, Fondo Nacional de
las Artes, 1995. Estudio preliminar de Horacio Salas.
Adorno, Theodor. Teoría estética. [1970]. Versión castellana de Fernando Riaza. Madrid:
Taurus, 1992.
Alexander, Robert. Comunism in Latin America. New Jersey: Rutgers University Press,
1957.
Aricó, José. Mariátegui y los orígenes del marxismo latinoamericano. 2ª ed. México:
Pasado y Presente, 1980.
Borges, Jorge Luis. Inquisiciones. [1925]. Buenos Aires: Seix Barral, 1994.
_____ El tamaño de mi esperanza. [1926]. Buenos Aires: Seix Barral, 1993.
_____ Historia universal de la infamia. [1935]. Buenos Aires: Emecé, 1954.
Dos Passos, John. “Lo nuevo ininteligible”. 1928. revista de avance 11/24 (La Habana,
15 julio 1928): 188.
Eco, Umberto. Obra abierta. Barcelona: Seix Barral, 1965.
Frank, Waldo. “Una palabra sobre Mariátegui”. 1930. revista de avance V/47 (La Habana,
15 junio 1930): 165-66.
García Canclini, Néstor. Culturas híbridas. Estrategias para entrar y salir de la modernidad.
Buenos Aires: Sudamericana, 1992.
Girondo, Oliverio. “Membretes”. Obra. 5ª ed. Buenos Aires: Losada, 1993.
Gómez de la Serna, Ramón. Ensayo sobre lo cursi. [1934] . Suprarrealismo. Ensayo sobre
las mariposas. Madrid: Moreno-Ávila, 1988.
Hernández Catá, alfonso. “Estética del tiempo. Lo nuevo, lo viejo y lo antiguo”. 1928.
revista de avance 11/23 (La Habana, 15 junio 1928): 141-45 y 1928. revista de
avance 11/24 (La Habana, 15 julio 1928): 173-79.
746 CELINA MANZONI
Ichaso, Francisco. “Meditación del impedido”. 1930. revista de avance V/47 (La Habana,
15 junio 1930): 185-86.
Jitrik, Noé. “Destrucción y forma en las narraciones”. América Latina en su literatura.
4a.ed. César Fernández Moreno, coord. e intro. México: Siglo XXI-UNESCO, 1992.
Lizaso, Félix. “Hombre de letra viva”. 1930. revista de avance V/47 (La Habana, 15 junio
1930): 181-82.
_____ y José Antonio Fernández de Castro. La poesía moderna en Cuba (1882-1925).
Madrid: Hernando, 1926.
Manzoni, Celina. Un dilema cubano. Nacionalismo y vanguardia. La Habana: Casa de las
Américas, 2001.
Mañach, Jorge. “Un ensayista cubano. Francisco José Castellanos, precursor”. 1927.
revista de avance I/9 (La Habana, 15 agosto 1927): 215-20, 223.
_____ “La palabra sola”. 1930. revista de avance V/47 (La Habana, 15 junio 1930): 176-
78.
_____ “El estilo de la revolución” [1935]. Historia y estilo. La Habana: Minerva, 1944.
96-97.
_____ “La crisis de la alta cultura en Cuba” [1925]. “Indagación del choteo” [1928].
Edición al cuidado de Rosario Rexach. Miami: Universal, 1991.
Marechal, Leopoldo. “Breve ensayo sobre el ómnibus”. Martín Fierro II/20 (Buenos
Aires, 1925): 139.
Mariátegui, José Carlos. La escena contemporánea [1925]. Obras completas. Lima:
Amauta, 1959. vol. 1.
_____ 7 ensayos de interpretación de la realidad peruana [1928]. Obras completas.
Lima: Amauta, 1980. vol. 2.
_____ “Nacionalismo y vanguardismo” [1925]. “Heterodoxia de la tradición” [1927].
Peruanicemos al Perú. Lima: Amauta, 1970. vol. 11.
Marinello, Juan. “El amauta José Carlos Mariátegui”. 1930. revista de avance V/47 (La
Habana, 15 junio 1930): 168-72.
Melis, Antonio. “La experiencia vanguardista en la revista Amauta. Europäische
Avantgarde im lateinamerikanischen Kontext. Akten des internationalen Berliner
Kolloquiums 1989. La Vanguardia Europea en el Contexto Latinoamericano. Actas
del Coloquio Internacional de Berlin 1989. Harald Wentzlaff-Eggebert, ed. Frankfurt
(Main): Vervuert, 1991.
_____ “José Carlos Mariátegui hacia el siglo XXI”. Mariátegui total. Lima: Amauta,
1994. xi-xxxiv.
Moraña, Mabel. Literatura y cultura nacional en Hispanoamérica, 1910-1940.
Minneapolis: Institute for the Study of Ideologies and Literatures, 1984.
Novás Calvo, Lino. “Su ejemplo”. 1930. revista de avance V/47 (La Habana, 15 junio
1930): 173-174.
_____ “La muerte de José Carlos Mariátegui”. 1930. revista de avance IV/46 (La Habana,
15 mayo 1930): 132.
Ortiz de Montellano, Bernardo. “Definiciones para la estética de lo cursi”. [1929].
Contemporáneos. México: FCE, 1981. 199-205.
FORMAS DE LO NUEVO EN EL ENSAYO DE LA VANGUARDIA 747
POR
HORACIO TARCUS
Universidad de Buenos Aires
Universidad de La Plata
Un intenso proceso de efervescencia social, política y cultural se inicia con los ecos
locales de la revolución rusa, el estallido y expansión de la Reforma Universitaria (1918)
y las grandes huelgas obreras de los años 1918-1919, cerrándose el ciclo con el golpe
militar de setiembre de 1930. Esta “década larga”, tradicionalmente abordada como el
período del enfrentamiento entre las revistas de la izquierda comprometidas con el
realismo artístico, por un lado, y las revistas de la vanguardia artística, por otro, fue
fecunda en la proliferación de formaciones culturales y en publicaciones que abarcan en
verdad un espectro político-intelectual mucho más amplio, complejo e intrincado que el
que permite pensar la contraposición Florida-Boedo. Incluso admitiendo que la oposición
realismo-vanguardias funcionó como una divisoria de aguas en el período, dicho par
antinómico no se corresponde puntualmente con una confrontación izquierdas/derechas.
Los “casos” de Roberto Arlt y de Raúl González Tuñón, en tanto descentrados de dicho
esquema, en cuanto exceden la mera antinomia, se han convertido en paradigmáticos.1
Como se ha señalado, “las fracciones juveniles del campo político se superponían a
menudo con las del campo intelectual, intercambiando aliados y protagonistas. El
movimiento de renovación estética no había cristalizado aún en posiciones ideológicas
irreductibles... Existe un continuum ideológico-experiencial animado por el proyecto de
conquistar a la sociedad, y cambiarla estética, moral o políticamente” (Sarlo, Una
modernidad periférica 111).
Y si bien la crítica ha avanzado en este sentido, proponiendo nuevas miradas sobre
los escritores y las revistas centrales del período (Proa y Martín Fierro, La Campana de
Palo y Claridad), una aproximación a otras figuras intelectuales y otras formaciones
culturales del período menos transitadas –aquellas reunidas en torno a revistas como
Insurrexit (1920-21), Cuasimodo (1920-1921), Revista de Oriente (1925-1926), Babel
(1921-1928) y La Vida Literaria (1928-1932)–, acaso aporte a la configuración de un
escenario más complejo para la comprensión del período, desde el cual podrá apreciarse,
por ejemplo, cómo muchos de los jóvenes habitualmente adscriptos al “vanguardismo
1
Sobre los alcances y límites de la oposición Florida/Boedo, véase, fundamentalmente, Prieto 1969,
y Sarlo 1983 y 1988. Es útil consultar también los numerosos testimonios de los memorialistas
(Barletta, Yunque, R. González Tuñón, Córdova Iturburu, González Lanuza, Girondo, entre los
principales).
750 HORACIO TARCUS
artístico puro” y al “apoliticismo” de Florida –como Jorge Luis Borges, Eduardo González
Lanuza y Francisco Piñero– emergieron en el campo intelectual como escritores anarquistas
atraídos por la revolución rusa; al mismo tiempo que muchas formaciones
izquierdistas –diez años antes de que el stalinismo impusiera como canon el realismo
socialista– buscaron articular vanguardia política con vanguardia artística. Asimismo,
podrá apreciarse cómo una figura intensamente receptiva de las vanguardias europeas,
José Carlos Mariátegui, fue ampliamente difundido en las revistas argentinas de los veinte.
Y cómo incluso en la prehistoria de Sur, la revista más característica de la élite liberal,
aparecen comprometidas corrientes de pensamiento como el americanismo, el
antiimperialismo y el socialismo. Veremos cómo el peruano Mariátegui, el argentino
Samuel Glusberg y el norteamericano Waldo Frank concibieron inicialmente una revista
americanista de proyección continental –que iba a llamarse Nuestra América–, aunque por
curiosas vicisitudes, el proyecto quedó en manos de Victoria Ocampo, quien lo lanzará con
su propia orientación en 1931, ya rebautizado con su nombre definitivo.
El Grupo Insurrexit, hasta hoy apenas una confusa mención en los libros de historia
del movimiento estudiantil, pertenece más al orden del mito que al de la historia. Sin
embargo, a juzgar por las referencias que encontramos en fuentes de la época, así como
por las personalidades que pasaron por las páginas de su revista, puede inferirse que no
pasó inadvertido a sus contemporáneos. Incluso su nombre fue retomado por otro grupo,
más de una década después, homenaje que, por otra parte, contribuyó a hacer todavía más
confusa la historia. No faltan quienes confunden el primer Insurrexit (1920-1921), un
emprendimiento independiente, de cuño marxista libertario, con el segundo Insurrexit
(1933-1935), que editó un periódico del mismo nombre, inspirado por Héctor P. Agosti
y que fue vocero de los universitarios comunistas (y sus compañeros de ruta), por donde
hizo su paso el joven Ernesto Sábato.2 Es que no es sencillo disipar las brumas que se
ciernen sobre Insurrexit. Primer y principal obstáculo: todavía no ha podido reconstruirse
una colección completa de su revista. Segundo: ninguno de sus mentores vive ya y para
peor, algunos de los que vivieron hasta hace unos pocos años, no querían recordar el
radicalismo de su juventud.3
2
El trabajo más documentado de historia del movimiento estudiantil en la Argentina de A. Ciria y
H. Sanguinetti, menciona brevemente al grupo Insurrexit, reconociendo que la bibliografía al
respecto “es escasa”. Pero atribuye al primer Insurrexit figuras del segundo (como Angel Hurtado
de Mendoza y Paulino González Alberdi).
3
En los años setenta, el poeta y crítico Eduardo González Lanuza, por entonces colaborador habitual
de Sur y La Nación, se negó rotundamente a recordar esa experiencia ante los requerimientos de
Emilio Corbière. Poca gracia le habrá causado el soneto recordatorio de Enrique Espinoza (seud.
Samuel Glusberg): “En el año veintitantos tus donaires/ primeros conocí en la extrema izquierda./
¿Quién del grupo Insurrexit hoy se acuerda/ dentro y fuera de nuestro Buenos Aires?[...] Tú,
González Lanuza en Sur ahora,/por Gandhi a lo pacífico inclinado,/el insurrecto no eres ya de
otrora...”. (20).
REVISTAS, INTELECTUALES Y FORMACIONES CULTURALES IZQUIERDISTAS 751
norteamericano Robert Minor, “Mi opinión ha variado” (nº 4, 5 y 6), que llama a
comprender mejor y a apoyar a la Rusia de los Soviets. Su referente internacional es un
nucleamiento intelectual, el Grupo Clarté (Claridad), que desde París inspiran los
escritores Henri Barbusse y Romain Rolland, y cuyo lema es: “Hagamos la revolución
previamente en los espíritus”. Dentro del campo intelectual local, Insurrexit mantiene
relaciones fraternales con Cuasimodo, la revista que dirige el intelectual “anarco-
bolchevique” Julio R. Barcos, y, del otro lado de la cordillera, con Juventud, el órgano de
la Federación de Estudiantes de Chile.
Insurrexit informa y fija posición ante los conflictos estudiantiles, aunque su
“misión” parece dictada por la necesidad de comprometer a la juventud con la “cuestión
social”, de promover la “unidad obrero-estudiantil”: “¿Qué es cada uno de ustedes?
Vamos a ver. Un traje entallado, un zapato Walk-Over, una corbata, otras chucherías...
Todo a cargo de papá o mamá. [...] Compañeros universitarios, que hacen caso al vigilante
y a la historia, ‘liguistas’, nacionalistas, futuros médicos, abogados, ingenieros, filósofos,
aspirantes a oficiales de reserva, dirigentes futuros, escuchen, al abrirse de nuevo las
facultades, nuestra palabra: ¡Viva la revolución rusa! ¡Viva la revolución social! ¡Viva el
comunismo!” (“La Universidad” 1). Interpelaciones semejantes a los estudiantes dirigen
en sucesivos números Hipólito Etchebehere, Nicolás Olivari, Carlos Machiavello, Francisco
Piñero y Julio R. Barcos. Otros temas recurrentes de la revista son las realizaciones
sociales de la URSS; la literatura social (Barbusse y Rolland, Almafuerte y Barret) y,
finalmente, la situación social y política argentina (Leónidas Barletta propone una central
sindical única, una nota anónima informa sobre el congreso socialista “tercerista”, otra
sobre la celebración del lº de Mayo).
En el n° 4, la estudiante de odontología Mica Feldman cuestiona doblemente la
política de las sufragistas: en primer lugar, porque no han comprendido que mientras no
haya revolución social no habrá emancipación de la mujer; y en segundo lugar, porque los
derechos políticos, el voto y el parlamento no conducen a la emancipación anunciada:
“Buena muestra es la política masculina para tratar de formar partidos políticos femeninos”
(“Nuetro voto” 1), argumenta la joven de 18 años. Hipólito Etchebehere, estudiante de
ingeniería, escribe en casi todos los números: contra la guerra (n° 1), por la extensión de
la revolución rusa (n° 3 y 4), sobre “La certeza del triunfo”: pasando revista de la crisis
social y política en Europa, concluye: “La situación revolucionaria existe en todas partes.
La Revolución Social llega. Es más, está realizada ya en Rusia. En eso se basa nuestra fe
inquebrantable, racional” (9: 5).
Estos jóvenes universitarios parecen haberse atraído la simpatía de algunas figuras
de la generación anterior. Hemos dicho que Lugones y Palacios responden a su encuesta.
Además, muchos escritores ceden sus originales o incluso escriben expresamente a pedido
de los jóvenes: Arturo Capdevila publica allí “La tierra”, una crítica de la propiedad
privada; Alfonsina Storni no sólo colabora con sus versos, sino que ensaya una reflexión
política “En la encrucijada” de la civilización moderna (nº 4); Herminia Brumana anticipa
una serie de relatos (“Chafalonías”, nº 7) y Horacio Quiroga envía dos colaboraciones, una
de ellas un alegato antibelicista (“La propaganda post-guerra”, nº 9). En el nº 7 se da a
conocer también una carta que les dirige desde Francia el mismísimo Barbusse: “Mis
compañeros de París, de otras partes y yo, estamos, absolutamente, de corazón y de espíritu
con ustedes”.
REVISTAS, INTELECTUALES Y FORMACIONES CULTURALES IZQUIERDISTAS 753
EL GRUPO INSURREXIT
Estamos en setiembre de 1920. Dos rosarinos como yo, Francisco Rinesi y Francisco
Piñero, que conocen mis ideas por haberlas yo manifestado siendo estudiante en el
colegio nacional, vienen a verme para informarme de la fundación de Insurrexit y pedir
mi adhesión. Por ser ambos hijos de familias burguesas, no di crédito inmediato a la
seriedad de la empresa, reservando mi respuesta hasta saber mejor las finalidades del
grupo. Al cabo de una semana volvieron los dos jóvenes en compañía de Hipólito
Etchebehere, cuya imagen, ese día, nunca se me borró de la memoria. Alto, delgado, de
tez muy clara, ojos de un raro color gris azulado que le iluminaban extrañamente el rostro,
llevaba un chamberguito de alas redondeadas vueltas hacia arriba, plantado en mitad de
la cabeza como una aureola. Habló largo rato, sin énfasis, exponiendo sus ideas con una
claridad ejemplar, una fuerza y una convicción que hacían difícil no creer en lo que él
creía. Jamás he vuelto a ver en la vida un ser tan luminoso. Y no me ciega el amor que
nos unió durante dieciséis años, hasta la hora de su muerte. Todos aquellos que lo
conocieron dicen como yo. (Etchebehere 4)
Hipólito Etchebehere había nacido con el siglo en Sa Pereira, Provincia de Santa Fe,
de padres franceses. Instalado con su familia en Buenos Aires, aún no tiene 19 años cuando
desde el balcón de su casa asiste estremecido al pogromo que la policía y las bandas
nacionalistas de la Liga Patriótica desatan en el humilde barrio judío del “Once”. Era uno
de los momentos cruciales de lo que quedó en la historia argentina como la “semana
trágica” de enero de 1919. Según el testimonio de Mica, esta experiencia lo marcará para
toda su vida.
los talleres donde entra a trabajar, a causa de la propaganda revolucionaria que difunde
entre los obreros. Vive en altillos prestados, come algunas veces en casa de su madre, otras
veces no come. Consigue dos o tres lecciones particulares que ni siquiera sabe hacerse
pagar, pasa largas horas en la biblioteca del Partido Socialista leyendo a Kropotkine,
Proudhon, la Historia de la Comuna de París por Lissagaray, con el afán de adquirir los
elementos teóricos que habrán de cimentar su fe de revolucionario, buscando al mismo
tiempo voluntarios para iniciar una acción colectiva. (1-3)
En ese mismo sentido, Eduardo González Lanuza lanzará Prisma, la primera revista
mural argentina. Borges recordaba la experiencia de esta revista, cuando en 1921,
acompañado por González Lanuza, Francisco Piñero y su primo Guillermo Juan, salían de
noche “cargados con baldes de engrudo y escaleras proporcionados por mi madre y
caminábamos kilómetros, pegando las hojas a lo largo de Santa Fe, Callao, Entre Ríos y
México” (“Las memorias de…” XIII-XIV). Al año siguiente, y con el aporte de Macedonio
Fernández, amigo del padre de Borges, el grupo editará la revista Proa. “Aquellos fueron
años felices, rememorará Borges, porque en ellos se sumaron las amistades. Son los años
de Norah Lange, Macedonio Fernández, Piñero y mi padre. Detrás de nuestro trabajo había
sinceridad; sentíamos que estábamos renovando la prosa y la poesía” (XIII-XIV).
Mucho se ha hablado del grupo de noveles escritores ultraístas, del joven Borges y
de Macedonio, pero, curiosamente, poco o nada sabemos de Francisco Piñero, a quien el
autor de Fervor de Buenos Aires incluía entre los más entrañables de los “años felices”.
El olvido puede atribuirse a la temprana muerte y a la escasa obra dejada por el joven poeta,
pero es probable que haya operado también algún filtro político: Piñero, al igual que el
joven Borges, no sólo estaba comprometido con la poética ultraísta: era un escritor
anarquista esperanzado por el experimento soviético. Francisco M. Piñero había nacido
en Rosario en 1901, en el seno de una familia tradicional. En 1920 lo encontramos
estudiando en la Facultad de Derecho de la Universidad de Buenos Aires y formando parte
de Insurrexit. En 1921-1922 forma parte del grupo Prisma y al año siguiente del de la
revista Proa.
González Lanuza, apoyado por Borges y Piñero, lanzará, pues, Prisma, donde
confluyen pensamiento libertario y poética vanguardista. En el primer cartel (diciembre
1921), además de los poemas ultraístas, una “Proclama” arremetía contra la mercantilización
del arte y la “nadería” de la poética modernista atiborrada de cisnes, jardines y dioses
griegos. En el segundo cartel (marzo 1922), se agrega la firma de Piñero, con su poema
“Tormentas”. El editorial retoma el tenor de la “Proclama” inicial: “Hastiados de los que
no contentos con vender, han llegado a alquilar su emoción i su arte, prestamistas de la
belleza, de los que estrujan la mísera idea cazada por casualidad, tal vez arrebatada,
nosotros, millonarios de vida y de ideas, salimos a regalarlas en las esquinas, a despilfarrar
las abundancias de nuestra juventud, desoyendo las voces de los avaros de su miseria”. Y
enseguida vendrá la consolidación del movimiento ultraísta en los tres números de Proa
(1922-1923), que reunirá otra vez a Borges, Lanuza y Piñero, sumando ahora a Macedonio
Fernández.
Pero Francisco Piñero (1901-1923), revolucionario y ultraísta, morirá a los 22 años
en un accidente de tránsito. En el prólogo al libro en que sus amigos de la vanguardia
política reunirán sus textos, Cerca de los hombres (1923), se informa que “cuando le
ocurrió el accidente que le costó la vida en Río Negro, quisieron llevarlo al único hospital
confortable de Viedma. Pero ese hospital pertenecía a una congregación religiosa. Se negó
REVISTAS, INTELECTUALES Y FORMACIONES CULTURALES IZQUIERDISTAS 757
a que lo condujera allí. Indicó la Asistencia Pública. Luego, en otro pobre hospital de
Patagones, murió” (6).
Por su parte, su amigo de la vanguardia artística, Borges, lo recordará en el último
número de Proa: “De golpe, con la injuriosa precisión de una afrenta, ha desalmado
nuestro fervor el fallecimiento de Francisco Piñero, excelente poeta, mayor amigo y
máximo alentador de aventuras intelectuales... Fenecido a los veintidós años, Piñero deja
una breve y honda obra crítica, ‘La Estética de los Diferentes’, y recorriendo por siempre
nuestra memoria, una marcha de versos altaneros, definitivos como estatuas” (“Francisco
Piñero”, Textos recobrados 173). Tres años después incluirá algunos de sus poemas en el
Índice de la nueva poesía americana, junto a los mejores poetas de su generación. Los
editores (Borges, Alberto Hidalgo y Vicente Huidobro) abrían la sección consagrada a
cada autor con una dirección postal a donde dirigirse. Seguramente fue Borges el que
estampó en la página con que se abrían los poemas de su amigo: “Francisco M. Piñero. Se
puede escribirle al cielo” (227).
La última guerra europea ha acelerado el despertar de una nueva conciencia humana. Una
tragedia tan inmensa no podía resultar estéril. Por encima de los escombros de la guerra,
Rusia encarna hoy el anhelo universal de realizar una humanidad nueva y, por eso, frente
a la política imperialista de Occidente representada por los Estados Unidos, es para
nosotros el símbolo de una nueva civilización. Queremos recoger en nuestras hojas el
esfuerzo que a la par de Rusia, se realiza en Méjico, Marruecos, China, la India y desde
el fondo de las masas obreras y campesinas de todo el mundo para divulgar entre los
obreros e intelectuales de nuestro país y de toda la América del Sud. (1 junio 1925)
“agentes solidarios”, pues sólo vendiendo todo el tiraje pueden recuperarse apenas los
costos. Mientras las publicaciones del PC interpelan al obrero comunista, la Revista de
Oriente se dirige a un público más amplio, particularmente el de los obreros, estudiantes
e intelectuales influidos inicialmente por el anarquismo y atraídos luego por la revolución
rusa, y apela a las firmas de antiguos anarquistas o sindicalistas, como José Vidal Mata,
Bartolomé Bossio y, nuevamente, Julio R. Barcos. Y si bien campea una adscripción
teórica al marxismo, todavía aparecen fuertes signos del estilo libertario, como cuando un
redactor anónimo ironizaba acerca de un Congreso de Trabajadores que había convocado
la Liga Patriótica, una fuerza patronal de choque, “donde se destacaban los abdómenes de
los frailes, las frentes chatas de los militares, la gomina de los niños bien y la pintura de
algunas chicas fifí, pero donde no se dieran cita las manos callosas” (“Notas de
actualidad”, 3).
El espectro de colaboradores es amplio: de Insurrexit y Cuasimodo provienen
González Lanuza, Angel Rosenblat, Alberto Astudillo, Nicolás Olivari, Herminia Brumana
y el siempre activo Barcos. Pero se agregan nuevas firmas: entre los artistas plásticos
destacan los grabados de José Planas, Beovide y Pompeyo Audivert. Entre los escritores,
se alternan las firmas de los de Boedo y los de Florida. Por una parte, colaboran autores
como el narrador y poeta realista Álvaro Yunque; Moisés Kantor, autor de una pieza teatral
sobre Lenin; César Tiempo, que publica algunos de aquellos célebres poemas firmados
con su heterónimo femenino, Clara Beter; el entonces cuentista y periodista Raúl
Scalabrini Ortiz, futuro ensayista del ser nacional, que colabora con un relato (“¡Te vas!
¡Te vas!”) en el que un empleado de una compañía exportadora siente, al ver los barcos
mercantiles que zarpan, un llamado profundo a dejar su trabajo rutinario, zarpar con ellos
a conocer el mundo y vivir la vida... Por otra parte, aparecen nombres de la vanguardia,
como el poeta y ensayista que provenía de la vertiente espiritualista de la reforma
universitaria Alfredo Brandán Caraffa, editor de Inicial y de Proa; el poeta ultraísta Jacobo
Fijman, que aporta un poema (“Sub-drama”) que gira en torno a las palabras-símbolos que
dan el nombre a la revista (“...Orientes y Occidentes/ se quebrarán mis ejes/ Lo sé”) (2: 10)
o el activo González Lanuzza, a quien sin duda se debe el comentario sin firma sobre
Inquisiciones, en el que el elogio de Borges (nadie como él “ha enardecido la metáfora”;
“es el mejor de los escritores jóvenes, así por su cultura como por sus ingénitas cualidades
de comprensión y sensibilidad”) (3: 27) se contrapesa con la referencia a “esa milicia
indisciplinada y vana que se llama ‘nueva generación’”, dentro de la cual “Borges ocupa
el lugar de las excepciones” (27). Revista de Oriente debe ser la última revista de izquierda
(al menos por muchas décadas) en donde se hace el elogio de Borges, aún a pesar de los
devaneos de la “nueva sensibilidad”.
En suma, revista de transición hacia las publicaciones culturales comunistas de los
treinta –Actualidad, Nueva revista, etc.–, todavía caben y se articulan a su modo
vanguardia política y vanguardia artística, marxismo y anarquismo, clasismo y
antiimperialismo. Por un lado se mira a la Rusia Soviética, por otro a los intelectuales del
Grupo Clarté de París, por otro a Latinoamérica.4 Un suelto repetido en números
4
En relación a este último punto, es de destacar la presencia permanente de los apristas: tanto Haya
de la Torre y José Carlos Mariátegui, como los peruanos exiliados en la Argentina, enviarán
colaboraciones regulares.
760 HORACIO TARCUS
sucesivos, “Lo que todos deben leer”, da idea de la mezcla: Kropotkine, Bernard Shaw,
el libro Prismas, de González Lanuza, La calle de la tarde de Norah Lange, Cerca de los
hombres de Francisco Piñero. Pero aparece ya la impronta de la política oficial soviética
hacia el arte y la cultura, que irá ganando terreno. Siguiendo a la crítica soviética, Revista
de Oriente denosta a Chagall y su exposición de París, comienza a hacer del realismo un
canon estético, y si valora las vanguardias rusas, lo hace en tanto se “enderezan” hacia los
obreros o colaboran con el gobierno bolchevique. Signos todos de lo que será, desde fines
de los veinte, la política comunista oficial durante décadas, a la que irán a subordinarse,
en mayor o menos grado, los sucesivos emprendimientos revisteriles del sector, acaso con
la única salvedad de Contra, capitaneada en los treinta por Raúl González Tuñón. No es
casual que durante la más grande impugnación de esa política cultural, en los intensos años
sesenta, una de las revistas emblemáticas de la nueva izquierda, La rosa blindada, escoja
a Tuñón como padrino intelectual.
II
Una verdadera red de intercambios unía en los años veinte todos los puntos de
América Latina, en un grado que sorprende incluso hoy, en los tiempos de internet.
Circulación a través de las revistas (por intercambios entre ellas para su venta, por los
canjes de avisos, por los comentarios recíprocos), y circulación de las personas (a través
de la nutrida correspondencia, o de los viajes para dictar conferencias, para asistir a
congresos políticos, los exilios, etc.). Son los años de la proyección latinoamericana de la
Reforma Universitaria, de la Unión Latinoamericana, del primer APRA, de la Internacional
Comunista y de los movimientos literarios de vanguardia: todos esos procesos van a
propiciar la circulación de ideas, de revistas, de figuras.
Dentro del abigarrado cuadro de vínculos políticos y culturales que se establecen
entre distintos puntos de Latinoamérica a lo largo de los años veinte, sobresale la
encrucijada que resulta del cruce de tres líneas significativas de pensamiento y acción: el
americanismo, el antimperialismo y el socialismo. Cruce de tres líneas que remite a tres
figuras claves de la época: el peruano José Carlos Mariátegui, el americano Waldo Frank
y el argentino Samuel Glusberg. Un seguimiento de las revistas que animaron, de los textos
que unos escribían acerca de los otros y de la correspondencia mantenida entre ellos,
permitirá echar luz sobre algunas zonas poco conocidas del campo intelectual y político,
tanto en Argentina como en Latinoamérica.
Pero varios años antes, el mismo Glusberg había descubierto a otro autor, que, a su
vez, lo iba a conducir a la pista de Mariátegui: Waldo Frank. Frank (1889-1967) era un
narrador y ensayista norteamericano, nacido en New Jersey en el seno de una familia judía
acomodada. Su singular combinación de pacifismo activo, comunismo humanista y fe
762 HORACIO TARCUS
entonces) con la pulcritud de la edición: el nombre Babel no sólo remitía a la torre bíblica,
sino que Glusberg, no sin humor, lo había convertido en las iniciales de “Biblioteca
Argentina de Buenas Ediciones Literarias”.
En 1921 decidió convertir los cuadernos en una revista que acompañase su política
editorial y es así que aparece el primer número de Babel. La revista, además de publicar
poemas, cuentos y ensayos de los autores citados, propició encuestas (sobre la educación,
el arte, etc.), promovió concursos, y dedicó números especiales a los autores preferidos de
Glusberg, que volverán una y otra vez en sus ediciones y en sus escritos: Horacio Quiroga,
Luis Franco, Heinrich Heine, entre otros.
En lo que hacía a su propia producción literaria, Glusberg prefería mantenerse en un
oculto segundo plano, reservándose a sí mismo la figura del difusor, del animador o del
propiciador. Con todo, alcanzó cierto reconocimiento con La levita gris (1924), libro en
que reunió una serie de “cuentos judíos de ambiente porteño”. Retornó a la narrativa varios
años después con otro volumen de cuentos (Ruth y Noemí, 1934) y dos relatos de viaje
(Compañeros de viaje, 1937 y Chicos de España, 1938).
No es fácil clasificar a Glusberg y a su formación cultural dentro de los parámetros
Florida/Boedo. Su revista y muchos de sus autores están fuera de uno y otro grupo, como
Nalé Roxlo (a quien se considera entre los independientes, a pesar de que colaboró en
Martín Fierro), Martínez Estrada, Luis Franco, José Pedroni o Arturo Cancela (este
último, autor de la hilarante propuesta de fusionar ambos grupos en un tercero: “Floredo”).
Y si su propia narrativa lo aproxima más a cierto realismo social –la gran literatura rusa
del siglo XIX había sido el punto de partida de su formación cultural– y su fervor lugoniano
lo alejan de cualquier actitud parricida, en 1924 aparece ligado nada menos que a la
fundación de la revista vanguardista Martín Fierro.5
Los jóvenes que lo acompañan en la empresa de Babel son el poeta catamarqueño
Luis Franco, el poeta y futuro ensayista Ezequiel Martínez Estrada, el humorista Arturo
Cancela, así como una “poetisa” que acaba de editar un libro, Languidez, y que este primer
número celebra así: “la señorita Storni ha escrito el más bello libro de versos del año
pasado”. Los jóvenes han conseguido que la revista sea apadrinada por la generación
anterior: Leopoldo Lugones, Roberto Payró, Horacio Quiroga, Ricardo Rojas.
La periodicidad quincenal pasa a ser, después de los primeros números, mensual. Las
siguientes entregas mantienen este carácter abierto, un tanto ecléctico, donde caben tanto
los poemas paganos de Luis Franco, los versos sencillos de Fernández Moreno y el más
que clásico “Romancero” de Don Leopoldo Lugones, del que se van a burlarse agriamente
los vanguardistas de Martín Fierro. Consagrados y noveles: por un lado, se publican aquí
por primera vez los trípticos morales de José Ingenieros (reunidos después de su muerte
en Las fuerzas morales); por otro, el primer avance que hace Roberto Arlt de El juguete
rabioso, bajo el título “Recuerdos del adolescente” (11 enero 1922).
5
“La idea [de relanzar la revista Martín Fierro] fue de Samuel Glusberg, quien convenció a Evar
Méndez” (González Tuñón 15).
764 HORACIO TARCUS
AMERICANISMO
6
N. del E. La correspondencia entre Frank y Glusberg, así como de éste con Mariátegui fue editada
por el autor de este artículo, con posterioridad a la redacción del mismo (Tarcus, 2002). Las cartas
se citan siguiendo la fuente del Archivo Glusberg, ubicado en el CeDinCi (Buenos Aires).
REVISTAS, INTELECTUALES Y FORMACIONES CULTURALES IZQUIERDISTAS 765
EL TRIÁNGULO FRAN/MARIÁTEGUI/GLUSBERG
Mientras prepara el viaje de Frank, Glusberg tiene referencias, por Lugones, desde
1926, de la obra de Mariátegui. Además, a fines de ese mismo año, y dentro de esa red
latinoamericana, comienza a recibir Amauta. Para mejor, descubre que el peruano también
se ha interesado por Frank y le escribe pidiéndole que le envíe el comentario que había
escrito a propósito de la aparición de Virgin Spain.
Mariátegui responde con afecto y entusiasmo, y la correspondencia, que se extiende
desde entonces (1927) hasta su muerte (1930), se centrará en preocupaciones comunes.
Tengamos en cuenta que también aquí se operan una serie de implícitas identificaciones:
tanto Glusberg como Mariátegui tienen un origen humilde, son intelectuales autodidactas,
animados por un colosal voluntarismo, un poderoso afán de promoción cultural de lo
mejor de cada una de sus respectivas culturas. También se hacen visibles las diferencias:
mientras Mariátegui es, o quiere ser, un hombre de partido, Glusberg no es, estrictamente,
un político: es un intelectual de izquierda, un escritor politizado. Mariátegui, desde Lima,
lanza Amauta en 1927, y Glusberg abandona Babel y lanza, desde Buenos Aires, un nuevo
proyecto revisteril: La Vida Literaria (1928-1932). La diferencia entre Amauta y La Vida
Literaria consiste en que detrás de la primera hay una clara vocación de construcción
hegemónica. Sin embargo, el interés de La Vida Literaria excede su lugar de exponente
del modernismo literario tardío (Lugones, Quiroga, Storni, Payró): está en el cruce
singular entre americanismo, anti-imperialismo y socialismo que intenta articular la
formación intelectual que lidera Glusberg, y que quiere proyectar hacia toda América por
medio de una asociación triangular con Waldo Frank en los EE.UU. y el Mariátegui de la
revista Amauta desde Perú.
Una de las preocupaciones comunes de la correspondencia entre Mariátegui y
Glusberg gira en torno al envío recíproco de libros y artículos. Entre los años que se
desarrolla este epistolario, Glusberg edita una revista efímera, los Cuadernos de Oriente
y Occidente, cuyo nº 1 reproduce un trabajo de Mariátegui, y comienza la publicación de
La Vida Literaria, que establece una hermandad creciente con Amauta. La revista de
Glusberg publica numerosas noticias sobre su par peruana, muchos artículos de Mariátegui
y las primeras fotos y noticias biográficas sobre su director aparecidas en nuestro medio.
Recíprocamente, en Amauta son comentadas las publicaciones de Glusberg.
Paralelamente, en el transcurso de los años 1927-30, va creciendo el aislamiento
político de Mariátegui (ruptura con el APRA, rechazo de sus tesis por el Komintern). Su
principal interlocutor y difusor en Buenos Aires, luego encargado de su traslado a esta
ciudad, es justamente, Glusberg, un independiente de izquierda. Sin ignorar el compromiso
político de Mariátegui, Glusberg no deja de aconsejarle que ingrese al país enfatizando su
perfil de escritor antes que su perfil de político (carta del 6 diciembre 1928). Lo previene
de los agrupamientos políticos, y le aconseja no llegar asociado a ninguno de ellos. Es que
Glusberg se ha responsabilizado de la instalación y de la futura subsistencia de Mariátegui
en la Argentina, y el punto para él es ampliar el espectro de solidaridad con el futuro
expatriado.
Otro de los frutos del intercambio entre Glusberg y Mariátegui es la visita de Frank
al Perú. Como vimos, ya existía un acercamiento epistolar entre Frank y Mariátegui, pero
766 HORACIO TARCUS
Mariátegui prepara su viaje sin imaginar que son esos sus últimos días. Anota
Glusberg: “Mientras me preparaba para recibir a José Carlos Mariátegui fraternalmente,
como a un genuino embajador espiritual del Perú, mientras él mismo, lleno de fe en su tan
soñado viaje a Buenos Aires, empezaba a remitirme, como credenciales, las primeras
colaboraciones de aquellos a quienes representaría entre nosotros: he aquí que su muerte,
torciendo su itinerario porteño, nos lo aleja para siempre. Y así, este número de La Vida
Literaria, que debía ser de acercamiento, como aquel otro norteamericano, con motivo de
la visita de Waldo Frank, sale, por el contrario, como un número de despedida” (Espinoza,
La Trinchera 40).
Y Frank, a su vez, anotó en sus Memorias: “Yo trabajaba, dichoso, en mi libro Virgin
America. Trabajaba jubilosamente. El viaje había sido de buen augurio. Entonces llegó la
noticia de la caída de Yrigoyen... y de la muerte de Mariátegui. Lloré...” (284).
Pero volvamos tan sólo unos meses atrás. Recordemos que Glusberg viene
promocionando la gira de Frank desde La Vida Literaria. Frank llegó finalmente a Buenos
Aires en setiembre de 1929 y es entonces cuando discute con Glusberg el plan de editar
una revista literaria argentina de proyección continental y perspectiva americanista, que
se llamaría Nuestra América.
Pero las cosas se complicaron, en parte como resultado del propio éxito de Frank en
la Argentina. Todas las instituciones culturales, desde la aristocrática Amigos del Arte
hasta la recién creada Sociedad Argentina de Escritores, lo recibieron y lo homenajearon.
Sus conferencias se convirtieron enseguida en un suceso nacional y Frank lució en la
primera plana de los diarios argentinos. “En Buenos Aires –reconoció en sus
Memorias–, monté una especie de teatro intelectual” (276).
Fue al final de una de sus conferencias en los Amigos del Arte que conoció a Victoria
Ocampo, una de las mayores exponentes de la élite literaria. De su común deslumbramiento
hablan las Memorias de Frank y los Testimonios de la Ocampo. Es en este contexto de
recíproco encantamiento que Frank tuvo la desdichada idea de incluir a Victoria en su
proyecto de revista común con Glusberg y Mariátegui. Recuerda en sus Memorias: “Con
esa intención la puse en contacto con Samuel Glusberg (ellos no se conocían). Sus
variedades de cultura se enriquecerían recíprocamente y enriquecerían al órgano del
Nuevo Mundo que entraba en mis proyectos. El aporte de Victoria sería la familiaridad con
los clásicos y con las últimas novedades de París y Londres en el campo de las artes y las
letras; el aporte de Glusberg sería su sólido conocimiento de los problemas sociales y de
la visión profética de las Américas” (282). Frank partió de Buenos Aires convencido de
haber propiciado una verdadera fundación, y le escribía a Glusberg desde su escala en
Lima refiriéndose a Mariátegui, Victoria y el propio Glusberg: “Si ayudo yo a juntar á
vosotros tres en una obra continental, no seré yo sin valor en la historia de América
hispana” (sic, Lima, 6 diciembre (1929), Archivo Glusberg).
Pero la alquimia intentada por Frank perdió su efecto apenas se alejó el propiciador.
Victoria y Glusberg, la dama aristocrática y el inquieto inmigrante, no iban a entenderse.
A los desencuentros en la discusión del proyecto, se sumó la negativa de Victoria a
768 HORACIO TARCUS
BIBLIOGRAFÍA
Revistas citadas
Insurrexit. Revista Universitaria 1 (Buenos Aires, setiembre 1920).
Insurrexit. Revista Universitaria 12 (Buenos Aires, noviembre 1921).
REVISTAS, INTELECTUALES Y FORMACIONES CULTURALES IZQUIERDISTAS 771
Cuasimodo. Revista Decenal. (primera época: Panamá, nº 1 al 13: 1920; 2ª época: Buenos
Aires, nº 14: abril 1921; nº 27: dic. 1921). Dir.: Nemesio Canale/Julio R. Barcos;
luego sólo éste último; en el n° 23 aparece como director F. Olea; a partir del n° 25,
Julio R. Barcos/Rómulo Schenini.
Prisma. Revista Mural. Buenos Aires ( n° 1: dic. 1921-n° 2: marzo 1922). Dir.: Eduardo
González Lanuza.
Revista de Oriente [órgano de la Asociación amigos de Rusia]. Buenos Aires (nº 1: jun.
1925- nº 9/10: set. 1926).
Babel. Revista de Arte y crítica. Buenos Aires (primera época: nº 1: abr. 1921- nº 31: 1928;
2ª época: Santiago de Chile, nº 1: 1939- nº 60: 1951). Dir.: Enrique Espinoza [Samuel
Glusberg].
La Vida Literaria. Crítica, información, bibliografía. Buenos Aires (nº 1: jul. 1928-nº 43:
jul. 1932). Dir.: Enrique Espinoza [Samuel Glusberg].
AA.VV. “El periódico Martín Fierro. Memoria de sus antiguos directores”. Buenos
Aires: s/e, 1949 (redactada por Oliverio Girondo y aprobada por los otros directores:
Evar Méndez, Alberto Prebisch, Eduardo J. Bulrich).
Ayerza de Castillo, Laura y Odile Felgine. Victoria Ocampo. Barcelona: Circe, 1993.
Barcos, Julio R. “Entre los míos”. Cuasimodo (abril 1921): 10-11.
Borello, Rodolfo. “La crítica moderna”. Capítulo. La historia de la literatura argentina
45 (Buenos Aires: CEAL, 1967).
Borges, Jorge Luis. “Rusia”; “Guardia roja”. Cuasimodo. Revista decenal 27 (1921).
_____ “Las memorias de…”. La Opinión. Segunda sección (17 set. 1974).
_____, Alberto Hidalgo y Vicente Huidobro. Índice de la nueva poesía americana.
Buenos Aires: El Inca, 1926.
_____ Textos recobrados (1919-1929). Buenos Aires: Emecé, 1997.
Córdova Iturburu, Cayetano. La revolución martinfierrista. Buenos Aires: ECA, 1962.
Ciria, A y H. Sanguinetti. Los reformistas. Buenos Aires: Jorge Alvarez, 1968.
Doeswijk, Andreas. Entre camaleones y cristalizados: los anarco-bolcheviques
rioplatenses. 1917-1930. Tesis de doctorado. Campinas: UNICAMP, 1998. (s/n)
Espinoza, Enrique (Samuel Glusberg). La noria. Buenos Aires: Losada, 1962.
_____ Trinchera. Buenos Aires: Babel, 1932.
Etchebehere, Mika. “Hipólito Etchebehere”, texto mecanografiado de una carta a un
corresponsal argentino no identificado, s/f [c. 1973]. Fondo Mika Etchebehere del
CeDinCi. Buenos Aires.
Frank, Waldo. Memorias. Buenos Aires: Sur, 1975.
González Tuñón, Raúl. “Crónica de Florida y Boedo”. La literatura resplandeciente.
Buenos Aires: Boedo/Silbalba, 1976.
King, John. Sur. Estudio de la revista argentina y de su papel en el desarrollo de una
cultura. 1931-1970. México: FCE, 1990.
Lafleur, H.R., Sergio Provenzano y Fernando Alonso. Las revistas literarias argentinas.
1893-1967. Buenos Aires: CEAL, 1968.
“La Universidad”. Editorial. Insurrexit 7 (marzo 1921): 1
Maitron, Jean, dir. Dictionnaire biographique du mouvement ouvrier français. Paris:
Editions Ouvrieres, 1997. (Edición digital), voces “Etchebéhère, Hippolyte” y
“Etchébehère, Mika”, redactadas por M. Bonnel y M. Dreyfuss.
772 HORACIO TARCUS
Mariátegui, José Carlos. “El alma matinal y otras estaciones del hombre de hoy”. Obras
Completas. Vol. 3. Lima: Amauta, 1959.
_____ Correspondencia. Lima: Amauta, 1984.
Méndez, Jesús. “The Origins of Sur. Argentine’s Elite Cultural Review”. Revista
Interamericana de Bibliografía XXXI/1 (1981).
“Notas de actualidad”. Revista de Oriente 1/1 (1925): 3.
Ocampo, Victoria.“Vida de la revista Sur. 35 años de una labor”. Sur nº 3-3-304-305
(noviembre 1966-abril 1967).
_____ Testimonios. Novena serie. Buenos Aires: Sur, 1975.
_____ Testimonios. Décima serie. Buenos Aires: Sur, 1979.
_____ “Correspondencia”. Sur 347 (jul.-dic. 1980).
_____ “Victoria Ocampo. 1890-1979. Homenaje”. Sur 346 (ene.-jun. 1980).
Pereyra, Washington. La prensa literaria argentina. Tomo segundo: Los años rebeldes
1920-1929. Buenos Aires: Librería Colonial, 1995.
Piñero, Francisco M., Cerca de los hombres. Buenos Aires: Tor, 1923.
Prieto, Adolfo. “Boedo y Florida”. Estudios de literatura argentina. Buenos Aires:
Galerna, 1969.
Ricard, F. “Voces amigas”. Cuasimodo (abril 1921): 24.
Rodríguez, Fernando, D. “Inicial. Revista de la nueva generación. La política de la
vanguardia literaria de los años ’20”. Estudios Sociales V/8 (Santa Fe, 1995).
_____ “Inicial, Sagitario y Valoraciones. Entre las letras y la política. Juvenilismo y
americanismo en la década del ’20”, mimeo, 1997.
Sarlo, Beatriz. “Vanguardia y criollismo: la aventura de Martín Fierro”. Ensayos
argentinos. De Sarmiento a la vanguardia. Beatriz Sarlo y C. Altamirano, eds.
Buenos Aires: CEAL, 1983.
_____ Una modernidad periférica: Buenos Aires 1920 y 1930. Buenos Aires: Nueva
Visión, 1988.
Tarcus, Horacio, Mariátegui en la Argentina, o las políticas culturales de Samuel
Glusberg. Buenos Aires: El Cielo por Asalto, 2002.
_____ “Samuel Glusberg, entre Mariátegui y Trotsky”. El Rodaballo 4 (1996) y 5 (1996/
97). Reproducido en el Boletín Amauta y su época, 3 y 4, Lima (1997).
_____ “El pensamiento latinoamericano en los ‘20: americanismo, antiimperialismo,
socialismo”. La cultura en la Argentina de fin de siglo. M. Margulis y M. Urresti,
eds. Buenos Aires: Oficina de Publicaciones del CBC, 1997.
_____ “Babel”. Lote (Venado Tuerto, noviembre 1997).
_____ “Amauta en Buenos Aires (o las redes del pensamiento latinoamericano en los ‘20:
americanismo, antiimperialismo y socialismo)”. AAVV, Amauta y su época. Lima:
Miraflores, 1998.
Terán, Oscar, “Modernos intensos en los veintes”. Prismas. Revista de historia
intelectual. Universidad de Quilmes, 1(1997).
Viñas, David, dir. / Graciela Montaldo, ed. Historia social de la literatura argentina.
Tomo VII: Yrigoyen, entre Borges y Arlt (1916-1930). Buenos Aires: Contrapunto,
1989.
Revista Iberoamericana, Vol. LXX, Núms. 208-209, Julio-Diciembre 2004, 773-793
POR
PATRICIA M. ARTUNDO
Instituto de teoría e historia del arte “Julio E. Payro”
Universidad de Buenos Aires
Con estas palabras Atalaya (Alfredo Chiabra Acosta, 1889-1932) resumía su visión
del anarquismo argentino. En ellas se puede descubrir la profunda decepción que sentía
quien había sido partícipe activo del movimiento anarquista desde principios de los años
veinte, en particular, desde su trabajo como editor del Suplemento Semanal (1922-1926)
de La Protesta.
El cierre para esa relación tiene fecha precisa: el 15 de octubre de 1926 cuando fue
dejado cesante; corte abrupto que había sido adelantado meses antes cuando su labor
quedó reducida a su mínima expresión.2 Entre sus camaradas anarquistas finalmente había
vencido la idea de que, desde un punto de vista práctico, el arte carecía de valor
revolucionario: ellos desconfiaban de la importancia que él podía revestir para el
proletariado urbano en función de su adoctrinamiento.
1
[Atalaya]. “El anarquismo argentino”. Texto sin datar, posterior a 1926. Archivo Atalaya.
Propiedad Albino Fernández. [Reflexiones, 36]. Como parte de la beca que me fuera otorgada por
el Fondo Nacional de las Artes (FNA) tuve a mi cargo la organización de este Archivo. Véase:
Artundo, Atalaya.... Compuesto por más de 1.000 documentos, estos fueron organizados a partir de
los diversos temas y géneros abordados por Atalaya, asignándoles una numeración corrida. En
adelante los textos pertenecientes a este Archivo serán citados como Archivo Atalaya (AA),
indicando a continuación el tipo de documento y su número de orden, como en este caso: “AA.
Reflexiones, 36”
2
Hasta entonces había comprendido crítica y notas de arte, sueltos, traducciones, cuentos,
bibliografía, textos doctrinarios y de divulgación, selección de obras a reproducir. Su correspondencia
con Luis Falcini informa acerca de las alternativas por las que pasó su relación con La Protesta.
Véanse: Cartas datadas “5 noviembre/26” (MNBA/26) y “4 agosto de 1926” (MNBA/39). Epistolario
Atalaya-Falcini. Donación Falcini. Archivo Documental. Museo Nacional de Bellas Artes (MNBA).
La edición de estas cartas se encuentra agregada al informe de Artundo, 2001. En adelante estas
cartas serán citadas por su localización actual (MNBA) y el número con el que fueron ingresadas
como parte de la Donación Falcini.
774 PATRICIA M. ARTUNDO
[...] El propósito de lucha no debe excluir al de una siembra cultural para el futuro. Todo
lo que hagamos para educar al sentimiento y el gusto de los hombres, será labor
beneficiosísima.
[...] Entre muchos anarquistas se teme que esto signifique una desviación de la línea recta
que se le ha trazado a la propaganda revolucionaria; y que, a veces, la publicación de una
biografía de un hombre como Tolstoy o Leonardo Da Vinci, es salirse de los cánones
subversivos preestablecidos. Sin embargo, en cuestiones culturales, nadie debería ser
más sectario que nosotros.
Y hay que comprender que la base de la futura cultura proletaria, sólo se podrá formar
con las obras de los verdaderamente grandes, quienes por su genialidad, fueron sencillos
y, por lo mismo, resultan los más accesibles al pueblo. (2)
En la base de los cuestionamientos que tenían lugar en el seno del diario se encontraba
una de las particularidades del anarquismo: allí todo estaba sujeto a discusión y esto
explica también los constantes cambios producidos en el cuerpo de su redacción.3 Para
Eduardo G. Gilimón, los redactores:
[...] de una publicación anarquista están colocados en una situación poco grata, por
cuanto que los lectores son apasionados, toman una ingerencia en el diario que resulta
molesta y dados los matices tan varios que entre los anarquistas existen, siempre hay un
número considerable de descontentos con la redacción.
Otras publicaciones no tienen nada que temer del público lector. El que lee un diario, si
en él encuentra algo que no le gusta, lo pasa por alto y sigue leyendo lo demás.
En el campo anarquista las cosas pasan de otro modo.
Lo que no agrada se comenta, se critica y llega hasta promover actos de desagrado (52-
53).
Si en esta breve introducción hemos evitado abordar directamente nuestro tema, ello
se debe a que La Campana de Palo. Periódico mensual. Bellas Artes y Polémica hizo su
reaparición precisamente en el momento de ruptura que hemos señalado; por tal motivo
resulta difícil llegar a entender esta nueva etapa ignorando la relación de Atalaya con el
anarquismo. Lo mismo puede afirmarse respecto de Carlos Giambiagi (1887-1965), su
compañero al frente de la revista; él también compartía su oposición a los mecanismos de
funcionamiento de la sociedad: sus frecuentes escapes a San Ignacio y su vida en la selva
3
Para una historia del diario, véase: Abad de Santillán, 1927 y Quesada, 1974. Recientemente el
CeDInCI publicó en versión digital el Certamen Internacional de La Protesta (2002). Luego de
finalizado este trabajo para Revista Iberoamericana, fue publicado el libro de Juan Suriano,
Anarquistas: cultura y política libertaria en Buenos Aires. 1890-1910. Buenos Aires: Manantial,
2001, que resulta de imprescindible consulta. Varios de los puntos que tratamos aquí son
desarrollados con detenimiento por Suriano y lamento no haberlo conocido antes dado que además
su lectura resulta sugerente en muchos sentidos.
UNA ACCIÓN EN TRES TIEMPOS 775
misionera llevaban implícita su abierta crítica y rechazo a ellos. En una carta a su amigo
Atalaya, fechada el 22 de septiembre de 1921, este pintor y grabador resumía la visión que
tenía de sí mismo: “[...] somos anarquistas, en ese sentido de críticos agudos de esperanza
y fe en el porvenir. Como críticos escépticos en toda esa serie de iniciativas que atañen a
cuestiones transitorias; y místicos por la fuerza de nuestra fe en lo que ha de venir” (212).
En el caso de Atalaya, él puede ser considerado como uno de aquellos intelectuales
críticos que segregados de la sociedad encuentran en algún momento un espacio en o cerca
de los partidos y movimientos políticos. Para Michael Walzer, estos críticos sociales “son
apenas extraños en su nuevo ambiente. Los partidos y los movimientos son creaciones de
personas muy semejantes a ellos mismos. En la medida en que siguen siendo críticos,
críticos ahora de sus nuevos camaradas, no están tanto alienados como dificultosamente
integrados [...]” (16) [énfasis agregado].
El incorporar esta nueva perspectiva de estudio en nuestra lectura de La Campana de
Palo, resulta imprescindible no sólo para comprender la propuesta de los once números
publicados entonces (septiembre de 1926 - septiembre-octubre de 1927), sino también las
diferencias existentes con lo que hoy se conoce como su primera época, esto es, los seis
números aparecidos entre los meses de junio y diciembre de 1925.4
Los integrantes de la empresa en ese segundo momento fueron: además de Atalaya,
Giambiagi y Juan A. Ballester Peña, el escultor Luis Falcini, el músico Juan C. Paz y los
escritores Álvaro Yunque, Juan Guijarro, Gustavo Riccio, Lizardo Zía y Armando
Cascella, nombres a los que eventualmente se sumarían los de Roberto Mariani, Aristóbulo
Echegaray y José Salas Subirat y el del crítico de arte Leonardo Estarico. Como vemos,
el núcleo inicial era el mismo que había llevado adelante la primer Campana; en aquél
entonces se habían sumado Luis E. Soto, César Tiempo –firmando “I.Z.”, por Israel
Zeitlin– y Raúl González Tuñón.
En apariencia no hubo fractura entre las dos épocas de La Campana de Palo,
percepción que es abonada por los nombres coincidentes y por la adopción de la
numeración corrida. Sin embargo y como veremos luego, las diferencias se manifestaron
más allá de los cambios producidos en la propia materialidad, visualidad y contenido de
la segunda Campana.
PRIMER TIEMPO
4
Los ejemplares correspondientes a ambas Campanas se encuentran localizados en la Fundación
Bartolomé Hidalgo para la Literatura Rioplatense. En la Serie Complementaria de Ediciones
facsimilares de Capítulo. La historia de la literatura argentina del CEAL (1982), bajo la dirección
de Carlos Altamirano y Beatriz Sarlo, se publicaron los números 1 y 4 de la primera época de La
Campana de Palo. Agradezco a Albino Fernández haberme facilitado el volumen encuadernado de
la segunda época.
776 PATRICIA M. ARTUNDO
se afirmaba: “El antiguo grupo editor de Acción de Arte –papelucho de grata memoria,
pasto para el historiador futuro– se hizo cargo del activo y pasivo de esta empresa con
bienes raíces en la tierra de Utopía. Sólo se intenta enlazar el recuerdo de la pasada labor,
con la presente. Somos y hemos sido siempre los mismos. Unos cuantos artistas plásticos
y algunos escritores” (1).
Con estas palabras se establecía no sólo su propia genealogía sino que, al mismo
tiempo y conscientes del valor de su obra, se daban las pistas para escribir su historia. Pero
además la mención de Acción de Arte (1920-1922)5 permite establecer una nueva cadena
de asociaciones y en este punto es importante saber que en 1925 La Campana de Palo
retomó el “estribillo” que había servido para autodefinir al grupo inicial reemplazando su
título, Acción de Arte, por el de la nueva publicación, La Campana de Palo.
ACCIÓN DE ARTE
no es el vocero de una capilla literaria o artística.
ACCIÓN DE ARTE
tampoco es el portavoz de una camarilla de desocupados, entregados a la invención de
nuevas teorías o fumisterías de arte; enfermos de notoriedad.
ACCIÓN DE ARTE
es la tribuna de todos aquellos escritores y artistas que desean expresar sin recato su
pensamiento; que no tienen intereses creados, y creen que intentar decir la verdad no
puede constituir una ofensa para nadie. No pretenden tampoco ser “ORIGINALES”, ni
inventar nada nuevo; sólo anhelan depurarse y depurar el ambiente artístico. A nuestros
camaradas sólo le pedimos un poco de talento, mucha sinceridad y una gran honestidad.
(Acción de Arte 4)
En Acción de Arte aparecieron reunidos por primera vez los nombres de Atalaya,
Falcini, Giambiagi, Paz, Cascella, agregándose los de los escultores Antonio Sibellino y
Nicolás Lamanna, el del pintor Domingo Viau y otros pocos escritores como Álvaro
Yunque, Pablo Rojas Paz y Pílades Orestes Dezeo.
Los elementos señalados hasta aquí permiten pensar la segunda época de La
Campana de Palo como un tercer tiempo que encuentra su origen en ese “papelucho”,
significativamente denominado Acción de Arte. Primer tiempo de definiciones, de
encuentro entre los principales actores que se continuó en las dos Campanas y que, sin
lugar a dudas, complejiza aun más nuestra aproximación al periódico de Bellas Artes y
Polémica.
Luego de establecida la línea de análisis falta responder a otro punto: ¿quiénes fueron
los actores aludidos en cada momento? Y si la respuesta es más o menos certera en tanto
es claro que Atalaya y Carlos Giambiagi fueron quienes absorbieron las mayores
responsabilidades, sin embargo, es necesario aclarar algunos puntos al respecto. En el
5
Hasta donde sabemos hoy resulta imposible hallar una colección completa de Acción de Arte (abril
de 1920-1922). Los números que hemos localizado –4, 8, 15, 16, 17, 19, 20 y 22– se encuentran en
la Biblioteca del Círculo de Bellas Artes de Montevideo, institución a la que estuvo ligado el escultor
argentino Luis Falcini, otro de los participantes de las empresas aquí estudiadas. En Buenos Aires,
la Fundación Bartolomé Hidalgo para la Literatura Rioplatense conserva el n. 18.
UNA ACCIÓN EN TRES TIEMPOS 777
estudio dedicado a La Campana de Palo en su primera época por Nilda Díaz (358-68), si
bien la autora reconoce los nombres mencionados, no se detiene en ellos. Asimismo, la
cantidad de seudónimos e iniciales que aparecen, tampoco llaman su atención: “B.
Encina” debe leerse “bencina”, C.G. es Carlos Giambiagi, Tristán de Kareol es Atalaya y,
probablemente, las restantes iniciales empleadas oculten a los mismo actores. Por otra
parte, Juan Antonio Ballester Peña (1895-1978), ilustrador de la mayoría de sus números
e integrante del grupo editor, tampoco es mencionado. Esto tal vez se deba al hecho que
los tres actores parecen pertenecer en primera instancia a un ámbito ajeno al de las letras,
lugar desde donde es abordada la revista.
En realidad lo que hace Díaz es poner especial énfasis en la situación de la revista en
relación con los dos grupos claramente identificados a mediados de los años ‘20: el Grupo
de Boedo y aquél nucleado en torno al periódico Martín Fierro y aunque esta
contextualización pueda resultar incompleta, sin embargo ella acierta al intuir el espacio
en el que se ubica esta primer Campana dentro del “modelo anarquista, teñido con una
buena dosis de utopía social-humanitaria” (366).
Por otra parte, en el trabajo dedicado al Suplemento Semanal de La Protesta, aun
cuando Lidia Maroziuk escribe desde el ámbito específico de la historia del arte, no
manifiesta la intención de identificar a quienes llevaron adelante ese emprendimiento
(205-16). Y en este punto el saber que “At.” es Atalaya, que es Giambiagi quien se oculta
bajo el seudómino de “Zero” –en la Campana será “el hombre de la selva”– o que “R.S.”
es Ret Sellawaj, seudónimo de Ballester Peña no parecen ser datos menores.
Pero lo que es más importante de destacar aquí, es que detrás del problema de
identificación enunciado se esconde en realidad otra cuestión no menos importante que
hace a la ideología política misma de estos intelectuales. Si en el caso de Arístides Gandolfi
Herrero, uno de los escritores más estrechamente ligados a la Campana en sus dos épocas,
su seudónimo “Álvaro Yunque” es aquel por el que tanto entonces como hoy en día se lo
reconoce sin ofrecer ningún inconveniente, en el caso particular de los otros actores
mencionados la situación parece ser otra.
El uso y aun el abuso –como en el caso de Atalaya– de seudónimos, lleva necesariamente
al efectivo ocultamiento de la identidad. Es en el optar por ese nuevo tipo de anonimato
donde reside la concepción del propio trabajo. No se trata de ser crítico de arte, escritor
o artista en los términos que estas profesiones se encuentran claramente diferenciadas en
el campo cultural argentino de los años veinte y proporcionan un determinado estatus en
la sociedad a quien los ostenta, sino de ser “obreros de arte”. La máxima de Atalaya “un
artista no vale más que un picapedrero” (AA. Textos programáticos, 5) encuentra su
explicación en la plena convicción de que:
somos simples artesanos que lograremos con constancia, trabajo, y afán, a realizar obras
que tendrán su encanto por la honestidad que pongamos en ellas. Pero no somos artistas,
ni tenemos derecho a escribir y pintar en artistas. Rebajemos nuestras pretensiones,
limitemos nuestra visión, apliquémonos a cosas humildes y confesemos que aún no
podemos aspirar a ser artistas. Basta de obras pedantes, de pretensiones desmesuradas y
de pobre realización. (AA. Textos programáticos, 2)
778 PATRICIA M. ARTUNDO
Estos actores carecían de una educación formal y trabajaban para poder alcanzarla,
pero no para ubicarse por encima de los demás sino todo lo contrario, para contar con las
herramientas necesarias para educar al proletariado. Como lo afirma Lily Litvak: “en la
síntesis estética-política-social que los anarquistas llevan a cabo pretenden destruir el
status de la obra de arte como goce privativo de las clases pudientes y como producto
exclusivo de artistas profesionales. Intentan otorgar el derecho de gozar y de crear obras
artísticas a todo individuo, volviendo al arte a sus raíces populares” (10).
Fue en Acción de Arte donde estos objetivos aparecieron formulados con mayor
claridad. El mismo título elegido para la revista remitía al principio anarquista de la acción
directa y, en uno de los momentos más difíciles de la historia del anarquismo en la
Argentina,6 el grupo de jóvenes que la constituían estaban plenamente convencidos de que
sólo del actuar por sí mismos se alcanzaría la liberación de los trabajadores del yugo
esclavizante del Estado. Desde los años de los anarquistas organizadores (1890-1905), el
principio táctico de la acción directa estimuló, como lo afirma Golluscio de Montoya “la
aparición de la variada serie de manifestaciones constructivas, tan característica de las
formaciones libertarias (fundación de grupos anarquistas, actividades docentes, culturales,
literarias, periodísticas, etc.)” (49-50) y al iniciarse la nueva década estaba lejos de
agotarse.
En el caso de Acción de Arte, el actuar desde el arte llevó a propiciar actividades que
fueron promocionadas como las conferencias pedagógicas (“El placer estético” o “El arte
y la moral”), la inserción en sus mismas páginas de los denominados folletines que podían
enseñar el procedimiento para hacer inalterable la acuarela, los rudimentos básicos de la
pintura o sobre la cualidad y el comportamiento del color. Otro punto recurrente fue la
crítica a las instituciones oficiales –Museo, Academia, Comisión y Salón Nacional de
Bellas Artes– en tanto representaban los mecanismos del Estado en pleno funcionamiento
al iniciarse la década del veinte. Era el llamado “gobierno de las Bellas Artes” que con su
dirigismo marcaba los rumbos a seguir, dictaminaba qué era bueno y qué malo, premiaba
y castigaba y ejercía acciones coercitivas que iban en contra de la libertad individual.
Frente a la necesidad de reformas, el grupo de Acción de Arte promovió un Salón
Independiente y la creación de una Asociación Independiente de Artistas Plásticos,
propició encuestas sobre los salones que debían “ser libres como plazas” y acerca de la
necesidad o no de reorganización de la Academia.7
6
No hemos podido consultar el artículo de Osvaldo Bayer “El anarquismo y la década del veinte”
(Cuadernos de historia. 1 Vertientes del nacionalismo revolucionario. Buenos Aires: Liberarte
ediciones, s.d., 51-68), que suponemos importante dado que la mayoría de los estudios dedicados
al anarquismo en Argentina cubren hasta mediados de los años ‘10. En el caso particular de La
Protesta, durante el período marcado por la Semana Trágica en 1919 y los sucesos del año 1921 en
Entre Ríos, Chaco y la Patagonia, el diario sufrió secuestros, clausuras y prisión de muchos de sus
redactores, apareciendo algunas de sus ediciones en la clandestinidad y en ciertos momentos siendo
suplantada por otros diarios comprometidos con el movimiento obrero. Cf. los trabajos citados en
nota 3.
7
Años antes el Grupo de Barracas, luego conocido como Artistas del Pueblo, también de filiación
anarquista, realizó las primeras acciones en contra del orden regulador oficial: en 1914 organizó el
Salón de Rechazados y en 1918 el Salón de Independientes. Sin Jurados y Sin Premios además de
crear la Sociedad Nacional de Artistas. Sobre este grupo, cf. Muñoz 116-30.
UNA ACCIÓN EN TRES TIEMPOS 779
Sin embargo, todos y cada uno de estos cuestionamientos aparecían filtrados por ese
tono de humor que habría de distinguir luego a las dos Campanas; la consigna era castigat
ridendo mores: “corrige las costumbres riendo”.
SEGUNDO TIEMPO
8
Gravemente enfermo, desde mediados de 1923 a julio del año siguiente, Atalaya debió internarse
en una clínica en La Punta (Perú). Durante ese tiempo, fue Giambiagi quien ocupó su lugar en el
Suplemento. No obstante, algunos de sus artículos sobre la situación política peruana fueron
conocidos en el cuerpo del diario durante el año 1924.
780 PATRICIA M. ARTUNDO
la vetusta experiencia de un hombre viejo quien nos da consejos para quedar bien con el
juez, y tener siempre a mano un palenque, donde podamos rascarnos y apoyarnos en los
casos de apuro. Moral de viejo, moral retrógrada y nefasta para la juventud; moral
acomodaticia que no dejamos de practicar un solo día, que encaja tan admirablemente
con nuestra vieja haraganería sentimental. Como se ve, hasta uno de los protagonistas de
nuestro mejor poema del terruño, hubo de ser un viejo con argucias y razones de viejo.
(AA. Reflexiones, 1)
Izadas en la magnitud del cielo, unas campanas cantarinas y alegres, como hechas de
plata; otras gravemente profundas y broncas, como forjadas en maleable hierro, colgaban
de la torre [sic] de las más altas torres del villorrio, de la ciudad o de la metrópoli, y eran
todas ellas, con la lengua de sus badajos, las múltiples lenguas y el verdadero idioma del
pueblo, de la multitud, de la prole metropolitana elegante o astrosa. Ellas doblaban,
oraban, cantaban o furiosamente como Gorgonas desmelenadas tañían a rebato, llamando
a somatén. Esto era en el antiguo tiempo. No aparecida aún la babélica invención del
cotidiano papel impreso insumían en sí las funciones de un periodismo rudimentario,
sonoro y vibrante, eucarístico y regocijado. (Atalaya “Las Campanas” 3)
Pero ¿dónde sonaba la Campana? Una de las litografías empleadas a modo de viñeta
la muestra de dimensiones colosales pendiendo de una grúa frente a fábricas humeantes;
otro linóleo empleado como bandeau la representa “alada” sobrevolando la gran urbe y
multiplicando su sonido en cientos de aves que cubren su cielo; ellas llaman a un despertar
de la conciencia. El búho en la noche, sobre una rama de la que cuelga la campana, con
un fondo de luna que ha de identificar el sello editor, marca tanto la soledad en que ellos
se encontraban como su capacidad para ver incluso en tiempos “oscuros”.
UNA ACCIÓN EN TRES TIEMPOS 781
Fue en sus números 4, 5 y 6 donde la revalorización del grabado alcanzó gran fuerza
y coherencia en tanto el discurso visual remitía directamente a los postulados que dieron
vida a la revista. Desde la cubierta la figura del hombre adquiere tamaño monumental,
destacándose el esfuerzo del trabajo que implica sea cargar o tañer la campana, hasta que
finalmente el objeto en sí desaparece. Anónimos, en su mayoría los grabados empleados
como ornamentación de página fueron realizados por Ballester Peña y otros pocos por
Giambiagi. Su inclusión en la revista no sólo tiene que ver con la facilidad que la técnica
del grabado ofrecía a los efectos de su reproducción sino también con el denominado
renacimiento del gravure sur bois originale que tuvo lugar a fines del siglo XIX proyectándose
al siguiente y que ocupó a artistas como Gauguin, Félix Valloton, los expresionistas
alemanes, Käthe Kollwitz, el grupo Les Cinq y Frans Masereel, entre muchos otros.
Pero además, dentro de la estética anarquista al grabado se le asignó históricamente
una misión social en tanto “la imagen difundida masivamente perdía su calidad aristocrática
de ejemplar único a tirada limitada, y venía a disputar su lugar al texto como instrumento
único de propaganda ideológica y cultural” (Litvak 61).
Al mismo tiempo y en lo que hace a los artistas y al crítico de arte que integraban el
grupo editor de la Campana, el carácter anónimo, tenía que ver con la propia concepción
del trabajo que hemos explicado antes. En parte era respuesta a esa pregunta acuciante:
¿cómo vivir honradamente del arte? En carta a Atalaya, fechada el 22 de septiembre de
1921, Giambiagi fijaba su posición:
[...] el cuadro de caballete y otras sonceras, son arte chic –para burgueses–. La decoración
solamente daría –quizás– un medio de vida. Pero la decoración se hace para la burguesía
y ésta exige un arte falaz y mentido. Cabe sin embargo decorar libros y ensayar una
decoración escultórica honrada. Está el grabado –módico y difusible– las viñetas, los
affiches... Todo es posible si a pesar de todo, trabajáramos arte, como jornaleros. [...] No
más exposición de cuadros, sino de trabajos. Una fuente, un pilar, una reja, un
almohadón, una tapa de libro, etc., anónimo[...] (212-13)
Se trataba de romper con todas las jerarquías aceptadas, esto es, la división entre artes
mayores y artes menores. En septiembre de 1924, en un artículo titulado “La decoración
del libro”, At. afirmaba: “Debemos, pues, pensar que no hay tarea ruin, ni pequeña, ni
desmedrada, cuando se la ejecuta con amor y pujanza. Por infinidad de caminos se va a la
meca del arte y éste, el de la decoración del libro, de la revista o del periódico, no es de
los menores. Talentos menores serán los que lo ejercen hoy, profesionalmente, ya que
todos los aspectos de la actividad humana son susceptibles de lograr la sublimidad” (AA.
Álbum Recortes, 5).
En relación con su contenido, esta primera Campana dio un espacio significativo a
la labor doctrinal y pedagógica que se filtraba de diversas maneras en sus páginas, no sólo
en las voces de Rafael Barret o Max Nextlau, sino también en cada una de las secciones
fijas de la revista: “Cuentos exóticos”, “Música y musicantes”, “Arte plástico y anexo”,
“Miscelánea de expositores y salones”, “Las máscaras teatrales”, “Escaparate literario”,
“Retratos de ayer y de hoy”.
Pero volviendo al punto que nos interesa remarcar, existen varias pistas que nos
llevan a afirmar la estrecha relación entre La Campana de Palo y La Protesta que exceden
782 PATRICIA M. ARTUNDO
el temprano encuentro de Atalaya con algunos de los principales actores del movimiento
anarquista en torno a los años ’10.9 La dirección de la revista era Perú 1533, mientras que
la del diario Perú 1537; Mariano Torrente –administrador del diario entre 1917-19 y luego
regente de la imprenta– era mencionado por Atalaya en su correspondencia al momento
de tomar decisiones clave relativas a la vida de la revista10 y lo que no es menos importante,
los dos primeros libros de la Biblioteca de la Editorial La Campana de Palo –Zancadillas
de Yunque y Un poeta en la ciudad de Gustavo Riccio– fueron impresos en los Talleres
Gráficos del diario. Es precisamente la labor editorial de la revista la que aporta mayores
datos. Atalaya, él mismo escritor, le confiaba –en carta fechada el 17 de diciembre de
1924– a su amigo Falcini:
También Carlo, me incita a componer un libro de cuentos, decorados por él.- Por qué no
confesarlo, es una gran tentación, todas estas incitaciones; pero temo que después me
haya de arrepentir amargamente. Mas supongamos, que estuviera satisfecho, se presenta
la dificultad del editor.- Hablas de la editorial de la Campana, sin pensar que a Yunque,
si le publican es por ser una firma cotizada en el mercado literario.- Discutido o no, es
un valor innegable, y yo que conozco personalmente, declaro que es el único muchacho
con un gran porvenir literario. [énfasis agregado] (MNBA/32)
¿Cuál pudo ser el interés del diario en financiar este tipo de ediciones? En la nota de
El Grupo Editor de La Campana que acompañó la aparición de Zancadillas se afirmaba
que la selección de autores debía ser rigurosa en tanto las obras a publicar debían adecuarse
a la “modalidad social” del propio trabajo, esto es “Usar la pluma a modo de arado”.11 Y
todavía, al presentar el libro de Riccio se aclaraba: “creemos que contribuimos a colaborar
en la obra realista y renovadora que está realizando entre nosotros un grupo de poetas
jóvenes, al hallar motivos para sus poemas en la afiebrada multaneidad de la urbe y en la
dolorosa tragedia cotidiana de sus semejantes” (“Nota”, Riccio 95).
En lo que concierne a la Editorial, sabemos que entre 1904 y 1932 publicó por lo
menos 40 títulos, la mayoría de ellos lanzados durante los años veinte a veces a través de
distintas series que no siempre tuvieron continuidad en el tiempo: Biblioteca de “La
Huelga General”, Biblioteca Tierra y Libertad, Tiempos Nuevos, Biblioteca La Protesta,
Biblioteca de El Productor, Propaganda emancipadora entre las mujeres, Pensadores y
9
Conviene tener presente aquí que la actividad literaria de Atalaya en Buenos Aires, luego de sus
primeros trabajos publicados en la ciudad de Rosario, tuvo lugar en Ideas y Figuras de Alberto
Ghiraldo. Allí apareció su primera nota de arte dedicada al Salón Nacional de Bellas Artes de 1912
y se publicó también uno de sus cuentos bajo el seudónimo Alfredo Valenti, en 1913. En el Archivo
Atalaya existe, asimismo, una carta dirigida a Eduardo G. Gilimón –sucesor de Ghiraldo al frente
de La Protesta– probablemente de mediados de los años 10.
10
En carta datada el 17 de diciembre d 1925, At. le informaba a Falcini acerca de los atrasos de la
revista y le decía: “Hace próximamente un mes que está armada y impresa la tapa y los pliegos de
adentro. Y así estamos. En una reunión que tuvimos ayer, es decir yo, Ballester, y Torrente, quedó
decidido, que aparecido el sexto número, se escribiera una noticia, expresando que por el escaso
apoyo, saldríamos cuando pudiéramos” (MNBA/30).
11
El Grupo Editor de La Campana de Palo. S/t. (Yunque, 1926 s/p).
UNA ACCIÓN EN TRES TIEMPOS 783
propagandistas del anarquismo. Ellas reunieron las principales obras del anarquismo
doctrinario, con ensayos históricos y reivindicadores del movimiento obrero a nivel
internacional y nacional: Miguel Bakunin, Errico Malatesta, Rudolf Rocker, Eliseo
Reclus, Luigi Fabbri, Max Nextlau, Sébastien Faure, William Morris, Petr Kropotkin,
Johann Most, Pierre Quiroule y el mismo Abad de Santillán, entre muchos otros.12
Uno puede pensar que así como el Suplemento Semanal vino a completar la labor del
diario, el apoyo financiero para el emprendimiento de La Campana de Palo debe haber
estado relacionado con la misma necesidad: la revista y su Biblioteca vendrían a ampliar
el espectro pedagógico de su obra, tal como contemporáneamente lo hacía con gran éxito
la Cooperativa Editorial Claridad al transformar Los Pensadores (1924-1926) en revista
y lanzar en 1924 la serie Los Nuevos –con Gustavo Riccio, Elías Castelnuovo y Antonio
Zamora como directores– colección en la que se conoció Versos de la calle de Álvaro
Yunque.
Fue precisamente Yunque quien por primera vez estableció el vínculo que venimos
estudiando; muchos años después, él recordaba que: “La Campana de Palo, siempre
teniendo por animador a Atalaya y Giambiagi coincide también con la presencia del
Suplemento Semanal de La Protesta, donde uno y otro yugan con denuedo [...] La
Campana de Palo y el Suplemento, continuaron la línea de agresividad, ansias de hacer
justicia y descabezar falsos ídolos que tuvo Acción de Arte.” (“Carlos Giambiagi” 110).
Testimonio ampliado posteriormente al afirmar abiertamente que la Campana era publicada
por La Protesta (Pelletieri “El peor libro de 1926” 2).
De esta manera, los grabados de Ballester Peña y, en menor medida, los de Giambiagi
no sólo ilustraron la Campana sino que construyeron la visualidad del Suplemento. Al
mismo tiempo, las notas de arte de At. pueden ser leídas en un tandem: a veces en la revista
sólo aparecía la noticia de una exposición y el artículo en el semanario o viceversa, se
trataba de una doble tribuna que buscaba aprovecharse al máximo.13
Sin embargo existieron algunas problemáticas que marcaron seguramente un punto
de roce con los compañeros anarquistas. En particular, las frecuentes objeciones del crítico
a los artistas más conservadores y probablemente su interés en aquellos representantes de
la vanguardia porteña –como por ej. Xul Solar, Emilio Pettoruti y Norah Borges– y por
las tendencias internacionales más modernas como el grupo Novecento Italiano.
De hecho, en la Campana el rechazo a la vanguardia se propuso desde las letras
mientras que las expresiones de renovación plástica estuvieron ausentes de sus páginas.
¿Por qué poner en riesgo el apoyo económico que podía tener la revista si de todas maneras
en el Suplemento tenía margen para expresar sus opiniones personales que generalmente
se filtraban en las extensas notas dedicadas al Salón oficial o a las exposiciones colectivas?
12
Esta información ha sido elaborada a partir del catálogo online de las colecciones del International
Institute of Social History (IISH), Amsterdam. (http://www.iisg.nl/index.html)
13
Refiriéndose al Salón Nacional, en carta fechada el 24 de septiembre de 1925, Atalaya le decía al
escultor: “Tú me sugieres formular una encuesta. Poseo, tan poca autoridad, que temo poco o nadie
contesten. De todos modos he de probar. En la Campana y el Suplemento, he de continuar la crítica.
En el primer número de la Campana fue imposible, por hallarse listo el material” (MNBA/16). En
la misma Correspondencia aparecen varios comentarios de tono similar.
784 PATRICIA M. ARTUNDO
Para él estaban mucho más cerca de alcanzar una verdad de tipo colectivo
del manifiesto fundacional en La Nación, sino que en la misma revista Filippo T. Marinetti
apareció como colaborador.14
El interés que reviste la obra crítica de Atalaya reside precisamente en este punto:
lejos de haberse visto limitado por las consignas estéticas del anarquismo, eligió el actuar
libre de todo prejuicio o convención, por lo menos en lo que se refiere a artes plásticas.
Esto se manifestó ya en Acción de Arte donde se incluyeron notas sobre “El expresionismo:
la joven poesía” de Pol Michel (2) y sobre los ballets rusos, esta última de Jacques Liptchiz
(4) y, entre los folletines de difusión, un “Estudio sobre el dadaísmo” firmado por Albert
Gleizes (4).
Era su postura respecto de lo que el arte debía ser para alcanzar un carácter colectivo
y anónimo que, en el contexto anarquista de los años veinte, provocó el rechazo en sus
compañeros ácratas. Y en algún punto esto debe haberlo obligado a cierto tipo de
adecuación a sus requerimientos. En un texto sin datar, pero que debe situarse a mediados
de los años veinte, Atalaya explicaba cuál era su concepción de la novela. Él aclaraba allí
su posición y, al intentar abordar la problemática de la prostitución, reflexionaba
consciente de su propia contradicción:
Una novela corta con el fin de presentar el carácter altamente grotesco y repugnante de
la actual prostitución, organizada en casas de lenocinio. Para mostrarle en toda su vil
crudeza he de servirme de alguna especie animal, a los que les haré animar la existencia
de los prostitutos y prostitutas.
¿Cuál animales elegir? Allí se halla el punto más difícil. No me inclino ni por los perros,
ni por los gatos, ni ningún otro animal que se avecina a la especie humana en algunos de
sus aspectos más vitales. No sé si me decido por las vacas y los toros. El contraste debe
ser lo más grotesco, lo más monstruoso.
En fin, poseo una nebulosa idea que busca demostrar cuán lejos, cuán lejos se halla
especialmente la presente prostitución que sostiene a todos los estados del mundo, de lo
que podría ser el amor libre entre los dos sexos.
Yo como Giambiagi, que disentía con el impresionismo, fui de la escuela realista y
racionalista a pesar mío. Siento mejor la novela fantástica y hasta simbólica que la novela
realista de una apariencia puramente física. Soy un pésimo observador y aun más pésimo
memorista. Mis reflexiones se alimentan de subjetivismo que extraigo de [mí] mismo,
con una absoluta prescindencia de la realidad cotidiana.
Sin embargo, tan encallecido estoy de un realismo chiquito, que quizás me haga cultivar
los dos géneros, a pesar mío. (AA. Reflexiones, 57)
14
Cf. F. T. Marinetti. “Gabriel D’Annunzio”. Ideas y Figuras. Buenos Aires, 2. 27 (2 marzo 1910),
s.p. En la nota editorial que acompañó este artículo, luego de ser presentado con palabras laudatorias
referidas a su obra literaria, Ghiraldo explicaba que el “Futurismo, tendencia de arte por él planeada
y que ha merecido ya la más unánime discusión en todo el mundo civilizado, proclama una
renovación de todas las ideas, y, sobre todo, la afirmación de que si cada época debe tener una
característica en el arte como en la vida, la nuestra debe producirla cuanto antes, siendo necesario,
para ello, que olvide las enseñanzas de las generaciones pasadas y que se cree su ética y su
estética.” [Alberto Ghiraldo]. “F. T. Marinetti”, loc. cit. Sobre la recepción del Manifiesto
Fundacional del Futurismo, véase Artundo: “El futurismo en Buenos Aires: 1909-1914”.
786 PATRICIA M. ARTUNDO
Uno puede pensar que es esto lo que determinó su ubicación particular en el campo
intelectual de mediados de la década del veinte, imposibilitado como lo estaba por su
propia ideología de alinearse junto a cualesquiera de los grupos que radicalizaban sus
posiciones. Por un lado, hacia mediados de 1925 los martinfierristas habían alcanzado una
imagen pública coherente con sus objetivos de renovación, mientras que el Grupo de
Boedo, reunido ahora en Los Pensadores pugnaba por conformar un “frente único de la
mentalidad izquierdista” que sólo se concretaría a fines de ese mismo año.
Resulta evidente, además, que los movimientos de los actores en el campo y los
deslizamientos que se producían entre la Campana y Los Pensadores lo tenían a Yunque
como pivote. En este sentido, el caso de Luis E. Soto es ejemplar: comenzó su actividad
en Inicial. Revista de la nueva generación, escindido ese grupo pasó rápidamente por Proa
con una nota sobre Versos de la calle para luego incorporarse a Renovación y a Los
Pensadores llegando durante 1925 a cumplir un papel rector en la orientación de esta
última revista, al tiempo que colaboraba con la Campana.
Sin embargo, al considerar esta publicación en su conjunto no es la problemática
Boedo-Florida la que ocupa el lugar central aunque esté presente. Lo que se observa en
La Campana de Palo es la voluntad de alcanzar un vehículo de expresión propio; sus seis
números manifiestan unidad y coherencia y sus intereses –política, literatura, arte,
música– comparten equilibradamente su espacio. Las causas que determinaron su
desaparición en diciembre de 1925 fueron principalmente las económicas –y éstas
claramente relacionadas con el escaso número de lectores con el que contó–15 y la
imposibilidad material de sus redactores para dedicarle el tiempo necesario. No obstante
ello, la labor siguió con su Biblioteca que editó los libros de Yunque y Riccio entre marzo
y julio de 1926. Este fue el mes en el que At. publicó su última nota original en el
Suplemento Semanal previo su quiebre definitivo con La Protesta.
TERCER TIEMPO
Uno de los aspectos que más llama la atención durante la década del veinte es la
proliferación de revistas que se constata y esto es más notorio si comparamos su número
en relación con las aparecidas durante el decenio anterior.16 Los títulos se suceden unos
a otros y lo que no es menos importante, dentro de cada revista, la propia dinámica imprime
cambios notables. Al tiempo que Los Pensadores se transforma en Claridad, Nosotros
adopta nuevas estrategias que le aseguran su permanencia en el tiempo.
En el caso de la Campana los cambios son profundos. No sólo se trata del alejamiento
traumático de At. del diario anarquista y su ruptura con el movimiento que le habría de
15
El 5 de agosto de 1925, a dos meses de su aparición, Atalaya le confiaba a su amigo Falcini: “Sin
desmentir, los cálculos, que yo había hecho sobre esta publicación, hasta ahora la aceptación ha sido
casi nula. Es algo previsto por mí, aunque la realidad supere lo que pude imaginarme. No disimulo,
que esto me duele profundamente. Da también el caso que La Protesta se halla en una malísima
situación financiera, lo que contribuye a agravarlo todo. Giambiagi, me escribió que en San Ignacio,
no encontró La Campana, ni un lector” (MNBA/26).
16
Al respecto, véase Pereyra, La prensa literaria argentina (1995). Es el registro más importante y
actualizado dedicado a revistas argentinas.
UNA ACCIÓN EN TRES TIEMPOS 787
permitir una libertad mayor de expresión, sino que además la experiencia editorial que
sumaba el grupo editor se sintió en la introducción de cambios sustanciales. En primer
lugar, su formato. En el abandono del cuadernillo y la elección de otro muy próximo al del
mismo Suplemento lo que se buscaba a través de sus ocho páginas era una mayor agilidad
e inmediatez en el contacto con sus lectores, objetivo al que no era ajena la propia
experiencia de Martín Fierro. Las letras de su título siguieron con ese desaliño que
caracterizó a Acción de Arte y la primera época de la Campana y su propio movimiento
en el plano volvía a subrayar su espíritu cantarín y el castigat ridendo mores que también
las había distinguido
Algunos elementos iconográficos reaparecieron –como la campana entre las fábricas–
pero también se emplearon otros nuevos más sintéticos; ahora es una viñeta la que se
mueve en las páginas sin ocupar un lugar definido: una mesa de trabajo iluminada por una
lámpara y sobre ella la campana y a su lado un martillo, casi la misma imagen que años
después y con algunas variaciones identificaría a la revista Conducta (1938-1943) de
Leonidas Barletta.
Su subtítulo –Periódico mensual. Bellas Artes y Polémica– marca el reconocimiento
de los tiempos necesarios para concretar un número. Subraya también el lugar que ha de
ocupar el arte en sus páginas aunque el agregado del término general “polémica” indica
que este periódico no se lanza a sí mismo desde la especifidad de una publicación de arte,
sino que desde su punto de partida elige una posición combativa que ha de expresarse en
varios campos.
En la construcción de su propia imagen visual, esta Campana continuó con su opción
por el grabado y las xilografías de Giambiagi cobraron una presencia mayor a la par que
indican su compromiso más activo con el periódico. Él construyó una pequeña galería de
personajes y paisajes; se trata sobre todo del paisaje interior del hombre, en su trabajo
cotidiano en el campo o aquél otro que sin posibilidad alguna de salir de esa condición a
la que lo condena la sociedad, toca su acordeón y a sus pies tiene el vaso y la botella; unos
y otros son dignificados por la mirada afectuosa de otro trabajador.
El grabado mismo se convierte en un valor. Ballester Peña fue el encargado de definir
una nueva imagen para el tiraje de 100 acciones cuyo valor nominal era de $5: en ella
reaparece esa campana alada que ocupa dos cuartas partes de la superficie y sobre la que
se monta la figura grotesca y amenazante de un hombre que sostiene una antorcha, que
contrasta claramente con la tranquilidad del paisaje en el que se inserta. El objetivo del
grupo era crear un fondo de reserva para las nuevas publicaciones de la Editorial de La
Campana de Palo y esa acción daba derecho a dos folletos “y de yapa le regala un grabado
de nuestro insigne grabador que cubre su retirada con el pseudónimo bárbaro Ret
Sellawaj[...]”. (“Correo del piccolo navío” 8).
En el nuevo proyecto editorial, anunciado en su número 10 (diciembre 1926) se
explicita su “agresividad, nuestra desembozada acometividad, nuestra pasión contra todo
lo que nosotros consideramos injusticia, ignominia, venalidad y literario proxenetismo.”
(“Una aventura editorial” 3) . Con medios económicos ahora más reducidos, los folletos
a publicar –literarios y artísticos– sin embargo, no perderían en calidad mientras que su
precio –30c– pondría al alcance de todos pensadores, artistas y críticos de orden
internacional –Tolstoi, Bernard Shaw, Adolfo Wildt, Emile Bernard–, escritores argentinos
788 PATRICIA M. ARTUNDO
–Soto y Yunque– y artistas de la talla de los desaparecidos Martín Malharro, Ramón Silva,
Nicolás Lamanna y Walter de Navazio.
En el único folleto aparecido –Zogoibi: novela humorística de Luis E. Soto– se
concretaron los ideales expuestos tanto porque se trataba de una violenta crítica a la novela
de Enrique Larreta a la que el título aludía –éxito editorial del año junto a Don Segundo
Sombra de Ricardo Güiraldes– como por sus cuidados detalles. Los grabados de Ret
Sellawaj y un tiraje especial: 1.000 ejemplares comunes, 100 para accionistas y 50 para
el comercio, numerados de 1 a 100 y de 1 a 150, indicando el número de cada ejemplar en
el ex-libris. Esa misma intención de superar los escollos que la falta de medios podría
producir sobre la calidad del objeto fueron también tratados con el periódico mismo,
anunciando un tiraje especial de 50 ejemplares numerados, de la misma manera que lo
hacía contemporáneamente el periódico Martín Fierro con el que compartía el mismo
precio (10c).
Sin lugar a dudas, las coincidencias y diferencias con este grupo son muchas, en
particular en lo que se refiere a las Bellas Artes; no sólo se trata de que la permanencia de
Falcini en Montevideo y que sus relaciones personales con los martinfierristas permitan
que las notas sobre el arte uruguayo aparezcan alternativamente en uno y otro periódico.
Martín Fierro y la Campana comparten las extensas notas dedicadas al Salón Nacional y
los artistas seleccionados son muchas veces coincidentes: Raquel Forner, Juan B. Tapia,
Alfredo Travascio, Horacio Butler, Héctor Basaldúa. En ambos casos se trata de la
valorización de aquellas obras que rompen decididamente con el canon del arte nacional
que se afirma sobre la representación de un paisaje “propio”el del interior del país con su
descripción de tipos y costumbres. Y en este punto, la reproducción de los dibujos de
Ramón Gómez Cornet, con su equilibrio entre elementos formales que valorizan algunas
de las conquistas post-cézannianas y su detenimiento en los “seres humildes”, fuera de
todo anecdotismo, subrayan una vez más la postura estética de la Campana que es
abiertamente rechazada por algunos sectores.17
Este fue también el momento del acercamiento entre Atalaya y Emilio Pettoruti –uno
de los principales protagonistas de la vanguardia argentina– que coincidió con el
alejamiento del pintor platense de Martín Fierro, dato este poco conocido. La Campana
anunció y luego dio a conocer una carta de Pettoruti donde hacía público el distanciamiento
mencionado. Pero si esto resulta claro, la aparición de otros nombres –Leonardo Estarico
y Carlos Astrada– también se deben a su mediación.18
17
En carta a Falcini, el 3 de marzo de 1927, At. le informaba: “Un dato. Nos vino de vuelta una
Campana, con los dibujos de Cornet corregidos, y con los siguientes comentarios: Manos y pies
atrofiados,– cabeza enormes. En los dibujos de la primera página. En la tercera, el croquis de arriba:
brazos finos y manos desformes. En el de abajo: Manos y pies desformes, pata “burro”. En la cuarta:
Brazos, manos y piernas desformes. Al pie de la página: Al señor Yambi tan severo en sus
juicios,–hasta para Miguel Ángel en sus dibujos hay que felicitarlo por la publicación de estas
incomparables e incomprensibles dibujos: hay que desformar las maravillas de la naturaleza para
hacer arte–” (MNBA/42 ) [el énfasis en el original].
18
Leonardo Estarico, amigo de Pettoruti, era crítico de arte y en 1927 había fundado el Boliche de
Arte que organizó durante ese año y el siguiente varias exposiciones. Con Carlos Astrada, el pintor
platense estuvo muy ligado en ese momento: el joven filósofo era el director de Clarín. De síntesis
UNA ACCIÓN EN TRES TIEMPOS 789
BIBLIOGRAFÍA
Abad de Santillán, Diego. “La Protesta: su historia, sus diversas fases y su significación
en el movimiento anarquista de América del Sur”. Certamen Internacional de La
Protesta en ocasión del 30 aniversario de su fundación: 1897 –13 de junio– 1927.
Buenos Aires: Editorial La Protesta, 1927.
“Acción de Arte”. [Nota de la Redacción]. Acción de Arte 2/20 (Buenos Aires, noviembre-
diciembre 1921): 4.
Atalaya. [Alfredo Chiabra Acosta]. Archivo Atalaya (AA). Propiedad Albino Fernández.
Buenos Aires. Argentina.
_____ Epistolario Atalaya-Falcini. Donación Falcini. Archivo Documental. Museo
Nacional de Bellas Artes (MNBA). Buenos Aires. Argentina.
UNA ACCIÓN EN TRES TIEMPOS 791
POR
PABLO ROCCA
Universidad de la República
La fluidez de las relaciones literarias entre las dos orillas del Plata o, mejor, entre las
dos capitales rioplatenses, desde la formación misma de los Estados no se detuvo. Buenos
Aires, es cierto, con una industria cultural poderosa –expansiva y centrípeta a la vez–,
hacia comienzos del siglo XX pesó con firmeza sobre su vecina Montevideo. El diálogo,
que igual existió pese a las asimetrías, se fortaleció en los años veinte. Por entonces, una
hermandad poética tramó proyectos vanguardistas comunes, en particular alrededor de la
estética ultraísta que, en 1921, Jorge Luis Borges importó a Buenos Aires, cuando ya en
Montevideo Ildefonso Pereda Valdés daba a conocer algunos confusos principios del ultra
en su revista Los Nuevos (1920, 4 números).
Las publicaciones culturales argentinas de 1920-1930, que se dedicaron con un tono
más fuerte a lo canónicamente admitido como “literatura” (Proa, Martín Fierro, Síntesis),
ostentan numerosas colaboraciones de uruguayos.1 En sus homólogas montevideanas
(sobre todo en La Cruz del Sur) Borges comparece junto con otros del grupo martinfierrista,
como Oliverio Girondo o, incluso, Carlos Mastronardi y Victoria Ocampo. Pero, por
cierto, los textos y las palabras de Borges pronunciadas en charlas y banquetes gravitaron
en la orilla oriental del Plata mucho más que las de cualquier otro argentino.2 Borges pasó
a ser, desde ese momento, el enlace con la nueva literatura uruguaya, primero que nada,
quizá, porque a él correspondió escribir el epílogo para la Antología de la moderna poesía
uruguaya, compilada por Pereda Valdés (Buenos Aires: El Ateneo, 1927). No interesó
tanto como poeta sino como un crítico literario dueño de una cultura ecuménica y una prosa
desacartonada. Con todo, su obra se examinó poco, los volúmenes Evaristo Carriego
(1930), Discusión (1932), Historia universal de la infamia (1935) e Historia de la
eternidad (1936), fueron pasados por alto en Uruguay, mientras que sobre los iniciales
libros de poemas hay dos reseñas (una del enigmático A.M.C. en La Cruz del Sur, otra de
Santiago Vitureira en Alfar más próximas a la rutinaria notificación de una novedad
1
Ildefonso Pereda Valdés, Nicolás Fusco Sansone, Pedro Leandro Ipuche, Fernán Silva Valdés, etc.
2
Es un hecho notable, también, que la aparente contrafigura de Borges, Roberto Arlt, fue
absolutamente ignorado por las revistas literarias uruguayas de la época y aun por muchos años más.
Véase, al respecto, Rocca, Pablo. “Roberto Arlt en Montevideo: Itinerario de un ausente”.
812 PABLO ROCCA
bibliográfica que al acto empático, al debate que valida o legitima y, en suma, “digiere”
al interlocutor en los procesos internos de una literatura nacional de fronteras bastante
borrosas.
La situación de contacto intelectual cambia radicalmente unos años después. Pensando
en estos términos de diálogo, hacia el interior del campo literario uruguayo, hay cuatro
episodios (locales y exteriores) que articulan ese viraje: Primero, la presencia de una
nueva generación de escritores que operaron en el semanario Marcha (fundado en 1939)
y en revistas literarias que ellos mismos crearon. Segundo, la creciente difusión de Sur, que
si bien había sido fundada mucho atrás (1931), de su incidencia en Uruguay no existen
señas ostensibles hasta mediados de los cuarentas cuando la revista dirigida por Victoria
Ocampo pasa a ser un factor inevitable para la literatura y la crítica que se hace en este país.
Tercero, la publicación de El jardín de los senderos que se bifurcan (1942), con la
consiguiente afirmación de la imagen del narrador de historias fantásticas, una línea poco
o nada transitada en Uruguay. Cuarto, una aplaudida visita de Borges a Montevideo en
1945, en los albores del peronismo y en medio del renacimiento de la democracia liberal
uruguaya, oportunidad en que Borges dictó una charla sobre literatura gauchesca, que
Marcha dio a conocer en tres entregas.3
Los intelectuales que irrumpen en la década del cuarenta, más que sus predecesores,
pertenecían en bloque a la ilustrada clase media uruguaya. Ya se hayan inclinado –o no–
a favor de las líneas estéticas de Sur o de Borges (su escritor ejemplar), está claro que no
los animó una práctica de elitismo liberal y oligárquico ni una interpretación maniquea de
la historia, como las que exhibió Victoria Ocampo en su revista, conducta que la vincula
en un proceso de continuidad irrestricto con las generaciones argentinas de 1837 y 1880.
Si acaso, entre los uruguayos ese elitismo se cumple de otra forma. Hasta mediados de los
cincuenta todos están al margen de los debates históricos y políticos, viviendo casi
exclusivamente en una “República de las letras”, con una defensa de los quehaceres de la
alta cultura para su difusión entre las capas medias democratizadas por la educación, las
que prosperaban al amparo de una sociedad de bajas tensiones aunque no muy penetradas
por el pensamiento contemporáneo o por la literatura. Por más que el público al que
llegaron estas revistas literarias (a excepción parcial de Marcha), en lo inmediato fue
limitado, sin su esfuerzo no se podría haber producido el posterior y explosivo crecimiento
del territorio de la lectura y de la amplia participación en el mercado de los bienes
culturales. Tal situación es claramente distinta a la de la otra orilla, donde las altas
tensiones han regido no sólo los comportamientos sociales. Según el balance de Jaime
Rest, en la Argentina de mediados del siglo XX se marcó de modo tajante la distancia entre
lo “culto” y lo “popular”, y en esa disyuntiva Sur pudo ser apreciada como la quintaesencia
del refinamiento para minorías. Teniendo en cuenta que “entre Sur y el nivel cultural
medio de la Argentina hubo un enorme vacío; ello no fue deficiencia de la revista sino de
cuantos tenían en sus manos la responsabilidad directa de nuestra educación; ese vacío no
3
“La literatura gauchesca (aspectos)”. Marcha 306 (2 nov. 1945): 14-15. [Conferencia de Arte y
Cultura Popular, 29 de octubre de 1945]. [1ª parte, con foto de JLB adjunta]. “La literatura gauchesca
(aspectos)”. Marcha 307 (9 nov. 1945): 14. [2ª parte]. “La literatura gauchesca (aspectos)”. Marcha
308 (16 nov. 1945): 14. [3ª parte y final]. [Recogido en folleto por Ediciones Número, 1950].
SUR Y LAS REVISTAS URUGUAYAS 813
es síntoma de que Sur no haya cumplido su misión sino de que no la cumplió la política
negligente y demagógica que ni siquiera fue capaz de otorgar un lugar significativo y digno
a las manifestaciones culturales de origen popular”. (VII)
Sur y Borges son dos factores ineludibles para la “generación del 45” uruguaya.
Algunos los estiman como ejemplos a venerar o a seguir, otros los expulsan de sus
preferencias. Alcanza con verificar, en principio, que entre 1945 y 1961 se publican
inéditos borgianos en Marcha, Número (1ª época, 1949-1955, 27 entregas; 2ª época, 1962-
1964, 4 entregas) Escritura (1947-1950, 10 entregas) y las dos épocas de Entregas de La
Licorne (París, 1947-49, 3 números; Montevideo, 1953-1961, 11 números). Por su lado,
Asir (1948-1959, 39 números) otra revista clave del período, desconoce a Borges y a todo
el grupo Sur, ni siquiera menciona a la revista, sus libros, sus autores, asumiendo la defensa
de la estética posgauchesca. Clinamen (1947-1948, 5 números), en la que colaboraban,
entre otros, tres de los hacedores de Número, no llegó a publicar a Borges pero sí incluyó
un artículo elogioso sobre dos libros escritos en colaboración con Bioy Casares (Rodríguez
Monegal, “Dos cuentistas argentinos 9). Son esos los tiempos del “reinado de Sur en el
campo literario argentino [que] se extiende, en rigor, hasta bien entrados los años ‘50"
(Gramuglio 250). Como se tratará de probar, ese reinado colonizó el otro lado del Río de
la Plata y tuvo, pronto, sus enemigos y su mayor punto de articulación en la literatura de
Borges, el “escritor faro”.
II
Ninguna muestra más clara del deslumbramiento por Borges y por Sur que la de
Rodríguez Monegal. En 1945 conoció personalmente a su “guía” en la disertación sobre
la gauchesca: “Muy respetuosamente, me acerqué a Borges después de la conferencia y le
pedí autorización para transcribir el texto completo de la charla en una edición inmediata
de Marcha [...] me dio el original del texto y me autorizó a transcribirlo en Marcha” (Una
biografía literaria 347). Pocos años después Borges se encontraría en reuniones con él y
los demás integrantes de Número: Manuel A. Claps, Idea Vilariño, Mario Benedetti y
Sarandy Cabrera. La página literaria de Marcha, con algunas intermitencias, dirigida por
Rodríguez Monegal entre 1945 y 1958, así como Número, se ubican en el primer plano de
la discusión, sobre todo de la promoción y la defensa de Borges y de los autores predilectos
de Sur (Rocca). Pero no todos o no tan monolíticamente. La mayoría de los directores de
Número se negaron a publicar “La fiesta del monstruo”, de Borges y Bioy Casares, por
considerarlo sin un nivel de calidad suficiente (Rocca 17). Ni Vilariño ni Claps ni Sarandy
Cabrera reseñan o se pronuncian sobre la literatura de Borges, tampoco ésta parece haber
marcado sus opciones críticas o filosóficas de manera ostensible. Si es que esto último es
posible. El primer Benedetti, en cambio, cita respetuosamente notas y comentarios de
Borges en sus ensayos de Peripecia y novela (1949), lo cual quiere decir que tanto para
él como para otros la obra del argentino representaba, en primera instancia, la sorprendente
renovación a fondo de la lengua, la depuración del castellano ampuloso, la ironía como
método y eficacísima coartada de estilo, una nueva manera de entender el ejercicio crítico,
la posibilidad de un creador de ficciones transhistóricas. Sólo en la década del sesenta,
cuando Borges se aleje de la marea socialista que empujaba desde Cuba, cuando Benedetti,
814 PABLO ROCCA
Vilariño y tantos otros se sumerjan en ella, el escritor argentino pasará a integrar el círculo
de los traidores, por sus actitudes políticas y también por una obra que se entendía
esclerosada, coherente, en suma, con su conservadurismo.
En Emir Rodríguez Monegal coincide el hecho de ser el más influyente de todos los
críticos del período con el más prolífico lector de Borges y uno de sus más empecinados
estudiosos. Redactó una abrumadora cantidad de ensayos y reseñas, publicó y reprodujo
textos borgianos donde tuvo poder y, por si fuera poco, al final de su vida reconoció que
había descubierto a Borges siendo niño, leyendo El Hogar, que llegaba a su casa para
consumo de las señoras de la familia. Insiste en el “acontecimiento” en sus memorias (Las
formas de la memoria)), y lo admite en varias entrevistas: “ese encuentro me transformó
la vida. Me llevó a leer a un nivel muy alto, a una sofisticación crítica que yo desconocía.
[...] Me dio una gran sensación de libertad, de que la literatura era una pasión muy
personal, un juego, una alegría, una epifanía, como ningún otro autor me había dado”
(Caparrós 29).4 Con tan adicta labor fortaleció la conexión Borges que se insinuaba desde
los veinte. De 1944 es su primera nota borgiana (“Jorge Luis Borges, poeta”), y a lo largo
de años escogió nuevos y viejos textos de su maestro de algunos libros para volverlos a
divulgar en Marcha. Tomó tantos otros de La Nación, Los Anales de Buenos Aires, Latitud
y, en especial, de Sur.5
En el campo intelectual uruguayo de las décadas del cuarenta y el cincuenta se
produce, como un poco antes en Buenos Aires, la modernización y el recambio de los
referentes y las fuentes literarias, con las lecturas de libros en inglés y francés que
circulaban con bastante proximidad a su fecha de aparición, y con la consulta, la traducción
y la reproducción subsiguiente de artículos de La Nouvelle Revue Française, de Les Temps
Modernes, de Horizon, de Cuadernos Americanos y, sobre todo, de las traducciones y
comentarios de escritores anglosajones y franceses efectuadas por Sur. Tanto en Marcha
como en Número –más que en otras páginas de la época– la política de recensión de
novedades del mundo metropolitano y la traducción, se asume como estrategia renovadora
de los viejos paradigmas, al tiempo que se revisa –con similares parámetros de lectura
sobre las letras del mundo central– la producción del pasado propio. Muchas piezas
narrativas, ensayísticas o poéticas son trasladadas por los uruguayos del “45”,6 pero
4
Testimonios semejantes pueden encontrarse en otras entrevistas: Bella Josef, Gastão de Hollanda,
Luís Costa Lima, Klauss Müller-Bergh, Sebastião Uchoa Leite, Silviano Santiago, “Emir Rodríguez
Monegal”. Revista José 10, Rio de Janeiro (julho 1978): 14:23; Cotelo, Ruben, “Emir Rodríguez
Monegal: el olvido es una forma de la memoria”. Jaque 99, Montevideo (7 nov. 1985): 35-37; Cobo
Borda, Juan Gustavo. “Diálogo de ultratumba con Emir Rodríguez Monegal”. Revista Universidad
de Antioquía, Antioquía, Vol. LVI (julio-setiembre 1988): 71-82.
5
Los textos tomados de Sur y republicados por Rodríguez Monegal en Marcha son: “Nuestras
limitaciones” (artículo) 357 (1946). [Reproducido de Sur, 4]; “La ruinas circulares” (cuento) 381
(30 mayo 1947): 15. [Se anuncia que ha sido publicado en volumen y, antes, en la revista
Sur, 1940]; “Los laberintos policiales y Chesterton” (artículo) 484 (1 julio 1949). [Reproducido de
Sur, 10]; “Palabras para Macedonio Fernández”, 624 (30 mayo 1952). [Reproducido de Sur 209-
210].
6
Rodríguez Monegal traslada textos de André Gide, George Orwell, William Faulkner, Ernest
Hemingway, entre tantos más; Benedetti hace lo mismo con las parábolas de Kafka, en la revista
SUR Y LAS REVISTAS URUGUAYAS 815
muchas otras son tomados de versiones ya publicadas por Sur.7 Lo anglosajón penetró la
cultura rioplatense, primero por el esfuerzo de las editoriales españolas como Cenit y
Espasa Calpe, luego por el impulso de Sur, en la revista y en su sello editorial que publicó
libros de Virginia Woolf, D.H. Lawrence, Aldous Huxley, James Joyce. “La
norteamericanización (más que la anglificación) de la cultura hispanoamericana [...] fue
un hecho. [...] a partir de 1939 [...] No desapareció [...] el vínculo profundo que nos une
a España y Francia. Pero cada nuevo día, el papel que asumían Inglaterra y los Estados
Unidos en nuestra mitología era más decisivo” (Veinte años 148). En ese plan, Sur fue el
principal cuaderno de lecturas, el contacto privilegiado con el mundo de las letras, el
persistente surtidor de los textos de Borges y de otros escritores vinculados a la revista,
a los que Número abrió sus páginas: Bioy Casares, Ernesto Sábato, Juan Rodolfo Wilcock,
Enrique Anderson Imbert, José Bianco.8 Sur aportó casi todas las escasísimas colaboraciones
americanas de la primera época de Número y dio hospitalidad a cuatro artículos de
Rodríguez Monegal,9 y sólo a uno de su rival Ángel Rama, aunque éste fue una revisión
del aporte de Marcha a la cultura (“La cultura uruguaya en Marcha”).
A propósito de la política de la revista de Ocampo y de su tarea de traductora en
particular, Beatriz Sarlo señaló: “Quien monta y maneja la máquina de traducir nunca está
en condiciones de percibir lo extranjero como amenaza a la identidad. [...] Pero el concepto
mismo de literatura europea sería imposible sin la traducción o quedaría limitado al círculo
estrecho de una elite políglota” (La máquina cultural 186). Visto de este modo, podría
pensarse que leyendo (y traduciendo) la literatura de la nueva vanguardia metropolitana,
ciertos escritores de estas orillas –y también el público que se iba ganando progresivamente–
pudieron redescubrir la literatura americana y contribuyeron a la formación de un
programa de literatura nacional, la del pasado “útil” y la que ellos mismos estaban
edificando. Acevedo Díaz, Herrera y Reissig o Rodó, para tomar tres casos muy abordados
por los críticos uruguayos de entonces, no podían ser leídos sino a la luz del cotejo y la
confrontación con los modelos europeos, en el vasto territorio de la literatura del mundo.
Es posible, como también piensa Sarlo, que Sur haya percibido en los primeros años que
Marginalia y en Marcha; Idea Vilariño traduce a Raymond Queneau (hasta donde sabemos, las
primeras traducciones al castellano), a Simone de Beauvoir, y –junto a Rodríguez Monegal– la pieza
Murder in the Cathedral, de T.S. Eliot, de quien Carlos Ramela y Carlos Real de Azúa dan a conocer
en nuestra lengua algunos poemas.
7
Una mínima muestra de textos de Sur republicados en Marcha: “Setiembre ardido”, de William
Faulkner, Marcha 296 (24 ago 1945), tomado del Nº 59 de Sur; “Fragmentos de Kafka”, traducidos
por Eduardo Mallea, Marcha 300 (21 junio 1945), tomado del Nº 18 de Sur; “Epistolario de Ricardo
Güiraldes con Victoria Ocampo y Valery Larbaud”, Marcha 383 (3 junio 1947), tomado de los Nºs.
1 y 2 de Sur.
8
El fichaje electrónico de las colecciones de Número, Entregas de La Licorne, Asir, Escritura y
Clinamen se encuentra en el Programa de Documentación en Literaturas Uruguaya y Latinoamericana,
de la Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación (Universidad de la República), del que
soy Responsable. Este trabajo se efectuó dentro de mi proyecto de investigación sobre “Revistas
literarias rioplatenses, 1945-1973”, con un equipo de colaboradores, al que en la actualidad integran
Alejandro Gortázar, Nicolás Gropp y Luis Volonté.
9
Véase Índice. Sur, 1931-1966. Sur, 303- 304- 305, Buenos Aires, (noviembre 1966-abril 1967).
816 PABLO ROCCA
10
“Esto son los cuentos de Borges, jeux de l’esprit, ejercitaciones del intelecto y la imaginación,
combustión aristocrática de ocio”, dirá Adolfo Prieto en un libro fundamental de esta reacción nueva
(Borges y la nueva generación 76).
11
En 1956 César Fernández Moreno le escribió a Enrique Amorim: “Estuvo por aquí el gran Emir;
copiosa racha de conferencias, banquetes y reuniones. Es el escritor uruguayo del momento: lo
respetan los viejos y los jóvenes; su serie sobre los parricidas me asombró por su información y
penetración; ahora me asombra que haya sido aquí apreciada: saldrá editada por Deucalión” (Carta
de César Fernández Moreno a Enrique Amorim, datada en [Buenos Aires] el 15 de agosto de [195]6.
Colección Enrique Amorim, Archivo Literario, Biblioteca Nacional, Montevideo, Carpeta 3, doc.
704).
818 PABLO ROCCA
historia literaria” (Rodríguez Monegal El juicio 83). Es cierto, también, que la postura de
Rodríguez Monegal no dejaba de seguir la honda tradición montevideana abierta a lo
europeo, donde era casi nula la atención de los sistemas educativos a la cultura producida
en el país (diferencia firme con Argentina), donde era –y todavía es– muy difícil estudiar
la literatura propia fuera de los paradigmas porteños y de la “vocación” europea. En todo
caso, Carlos Quijano y los redactores políticos del semanario estaban contra la corriente
general del país, reclamando con más fuerza que la de Rodó en el novecientos un destino
latinoamericano, una independencia económica y una participación en la cultura americana
y sin fronteras. Eso era lo que quería Contorno, eso era lo que Monegal veía como dos
campos incomunicados, pese a que estuvieran separados por unas pocas páginas en el
mismo periódico en el que escribía.
Por todo esto, en realidad, en el Montevideo de los cincuenta –tan cómodamente
apoltronado en la democracia liberal y en una prosperidad que pasaría como una
ilusión–, no podía ocurrir nada parecido a la tarea y los dichos de Contorno. Aunque como
se verá, Ángel Rama pronto va a expresar reproches semejantes o convergentes. Pero hay
una lectura radical, una lectura muy próxima a la de Masotta en su artículo sobre las
actitudes “suristas” ante el peronismo (“Sur y el anti-peronismo colonialista”), que circula
en las notas polémicas firmadas por Pablo Doudchitzky, quien reacciona desde Gaceta de
Cultura ante la publicación de “La fiesta del monstruo”. Desde sus simultáneos
antiperonismo y antiliberalismo oligárquico, este crítico desconocido –originario de
Argentina y radicado en Montevideo– afirma que el texto publicado en Marcha manifiesta
“la visión que tienen [del pueblo] las clases conservadoras y que es producto de una
intelectualidad aislada del mundo de los hombres, que no mira hacia adelante, que no cree
en las fuerzas creadoras del pueblo” (18).12 Rodríguez Monegal trata de ridiculizar esta
lectura emanada de un tabloide vinculado al Partido Comunista Uruguayo, afirmando la
legitimidad del escarnio de la chusma movida por la voluntad de un tirano (“Diálogo de
sordos”).
Hubo, sí, otras reacciones contra Borges (y contra la revista de Victoria Ocampo) en
algunos sectores preocupados por la crisis uruguaya y –como se dijo–, vinculados
estrechamente al revisionismo argentino, o entre quienes no admitían su interpretación de
la literatura rioplatense, o entre quienes desechaban sus producciones por el desapego de
la realidad. Para la literatura que se hizo en Uruguay, promediando el siglo XX, Borges y
varios de los escritores del grupo Sur, lo que representaban su obra y su conducta
ideológica (o lo que se creía que sintetizaba), se había convertido en un verdadero cruce
de caminos en tanto intertexto polémico y fertilizador. Si antes había sido complicado
establecer el deslinde, hacia 1955, obra, persona y declaraciones públicas fue una tríada
12
Con alguna pequeña imprecisión de su memoria, Mauricio Müller indicó: “[...] una vez yo leí un
cuento de Borges en una rueda del Tupí. Era el año 54, con Perón en la Argentina, y estábamos en
una mesa de Candeau y yo con Orestes Caviglia y Juan José Castro [...] Yo tenía encima los originales
de un cuento que, un par de años antes, Borges, que no podía publicar, me había confiado. Ya medio
tarde, extraje de entre mis ropas, como dice la crónica policial, ese cuento de Borges y lo leí en el
Tupí. Al año siguiente, cuando cayó Perón, Emir publicó el cuento en Marcha y, en un acápite,
recordó esa velada en el Tupí”. (Alfaro, Milita, “Últimas tardes con Mauricio” (entrevista).
Brecha 118 (12 feb. 1988): 25).
SUR Y LAS REVISTAS URUGUAYAS 819
difícil de separar. Cuatro fueron las posiciones básicas que tomó la crítica que, recuérdese,
la hacían escritores o periodistas culturales activísimos quienes, a su vez, solían dictar
clases de literatura en la enseñanza media.
Uno. Las ficciones de Borges son una prodigiosa invención, en particular en el
terreno de la literatura fantástica; una revolución para la lengua castellana más cerca o más
lejos del tema elegido, sea o no latinoamericano; la posibilidad de saltar los géneros
tradicionales y aun de fundir literatura y metafísica. En esta línea el principal defensor fue,
como se dijo, Rodríguez Monegal,13 pero habría que agregar en la lista a Carlos Ramela
y Einar Barford. Las argumentaciones de Monegal en una polémica radiofónica sostenida
con Rama y Real de Azúa acerca del compromiso y la evasión en Borges y Neruda, dan
cuenta suficiente de esa línea (Rama et al., “Evasión y arraigo”). Un resumen atractivo de
esta posición corresponde a Carlos Ramela en su refutación a un artículo de Sábato,
aparecido en Sur:
“En primer lugar, padecen de miopía intelectual quienes afirman que Borges es un
escritor sin temas. Esta afirmación no pretende ser agresiva, pero no puedo olvidar mi
asombro, cuando, a través de una mesa del Tupí viejo [café de Montevideo] , Guillermo
de Torre me comunicó esa convicción. Afirmo que una visión del mundo, total, cerrada,
dramática, se encuentra ínsita en la obra de Borges. [...] esa visión es de índole metafísica,
o ideológica y que le corresponde a Borges, precisamente, como lo ha dicho Bioy Casares
[...] haber descubierto las posibilidades literarias de la metafísica [...] Borges es un
fenómeno insólito en la literatura hispanoamericana; aparte su actitud intelectual, su
postura filosófica y estética, Borges es una conciencia literaria única en las letras
rioplatenses, un símbolo, una época” (18-21).
Dos. Como en otra escala había ocurrido en toda América Latina hacia mediados del
siglo XIX ante la obra de Domingo F. Sarmiento, o en el novecientos ante la de Rubén Darío
y contemporáneamente sucedía con Alfonso Reyes y Neruda, algunos estimaron en la
literatura de Borges sus asombrosas posibilidades de integración, y aun de hibridación, de
las culturas hegemónicas con las autóctonas, como una invención que supera lo meramente
nacional. Otros manejaron la perspectiva inversa. Bajo estas premisas, como en Argentina,
también en el estable Uruguay del medio siglo prosperó la apoteosis y el combate de
Borges en forma bastante pareja a la de Argentina. De ese crudo debate dan suficiente
testimonio la polémica entre Rodríguez Monegal y Doudchitzky o el mencionado diálogo
entre el primero con Ángel Rama y Real de Azúa.
Tres. Reconociéndole jerarquía verbal, el arte de Borges y el de otros “suristas”
(Bioy, Bianco, Silvina Ocampo) no llega a asir cabalmente la naturaleza humana y, por otra
parte, responde a ciertos esquemas, a ciertas iteraciones que atentan contra el principio de
novedad y de inventiva en el arte. Además, su literatura es proclive a transformarse en fácil
objeto de culto, a generar epígonos, quienes a contrapelo cimentan un rígido “sistema”,
desgajado de los asuntos americanos. En esa postura, la poesía de Borges y los ensayos de
tema americano (sobre todo los que dedica a la gauchesca) son los más atacados, pero
también los cuentos fantásticos. Ángel Rama lidera esta hipótesis pero, aun en modalidades
y registros diferentes, lo acompaña Carlos Maggi quien en el Nº 1 de Escritura divide entre
13
Cf. “Jorge Luis Borges y la literatura fantástica” y “Borges: teoría y práctica”.
820 PABLO ROCCA
Borges es, pues, el único ejemplo admirable de nuestro inconsciente solipsismo, de allí
que sus caracteres más pegadizos como alguna forma del estilo o su perenne crueldad
intelectual se hayan adherido fuertemente a nosotros y se hayan transformado en nuestras
formas batallonas de satisfacción. Por otra parte, nuestra literatura no se ha arriesgado por
ese camino difícil y que exige por lo menos inteligencia sino que su ayuno de realidad se
refleja en su origen estrictamente literario” (152-54).
III
En 1959, el arribo de Ángel Rama a “Literarias” del semanario dirigido por Quijano,
marca la fractura de la conexión Borges en las letras rioplatenses y el divorcio con la
poética y la política de Sur. En ese período se combate al escritor argentino por sus ideas
reaccionarias, hasta por algún acto de “macarthysmo” que, en 1961, bloquea una
conferencia del propio Rama en la Biblioteca Nacional de Buenos Aires por creer
–erróneamente, claro– que era comunista (Rama, “Borges y la política” 14). No queda ni
la sombra de la anterior y continua exaltación borgesiana. La tesis que le es adversa se
sintetiza en lecturas iracundas, más acorde con las exigencias del calendario de socialismo
revolucionario y nacionalista. Un solo ejemplo: hay un violento artículo de Arturo
Jaureche sobre “Historia del guerrero y de la cautiva”, en el que explica que Borges es
antiperonista por “cipayo”, antinacional y antipopular.14
El Borges poeta clásico de los sesenta, el cultor del soneto y el verso prolijamente
medido, no podía ser reivindicado por quienes veían de cerca el nacimiento de una nueva
literatura latinoamericana, más próxima a los fenómenos sociales, pero también más
cercana a otras formas de la vanguardia. El modelo Sur, la ética política y la estética
borgiana, poco antes convalecientes, habían entrado en irremediable crisis. La constante
preocupación de la revista por ocupar “un lugar en la corriente central de la literatura
contemporánea”, su búsqueda de una posición “a la vez, innovadora y tradicional” (King,
Sur 173), no podía concitar interés para quienes querían reflexionar sobre las perentorias
y profundas vicisitudes económicas y sociales, sobre las relaciones entre literatura y
política, sobre las responsabilidades del intelectual engagé, según el modelo sartreano tan
en boga. Sintomáticamente, cuando Marcha celebra su cuarto de siglo salen dos generosos
suplementos extraordinarios, aparecidos el 25 de julio y el 1º de agosto de 1964, en los que
hay colaboraciones inéditas de cuarenta y cinco escritores latinoamericanos no uruguayos:
desde Octavio Paz hasta José María Arguedas, desde Gonzalo Rojas a Josefina Plá. Para
festejar el cumpleaños, dice Rama, la elección de textos de literatura latinoamericana no
se ha hecho “por exclusivas razones estéticas [...] sino por razones morales, sociales,
metafísicas, por razones de entendimiento de nosotros mismos, de quiénes somos dónde
estamos –y qué necesitamos” (“ Literatura vigente en Hispano-américa” 2). Por supuesto,
Borges y cualquier miembro activo de Sur están ausentes de la antología contemporánea.
14
“Borges es así, prolijamente erudito, se supone que para lucimiento de sus personajes; además le
es útil para su moraleja, que es justificar al que se da vuelta de su nación para pasarse a la otra,
explicándolo por la cultura” (“Moraleja de Borges” 30).
822 PABLO ROCCA
BIBLIOGRAFÍA
A.M.C. (Abreviatura o seudónimo sin identificar). “Luna de enfrente, Jorge Luis Borges”.
La Cruz del Sur 19-20 (Montevideo, febrero 1926).
Benedetti, Mario. Peripecia y novela. Montevideo: Prometeo, 1949.
Barford, Einar. “Postulación de Jorge Luis Borges”. Marcha 867 (21 junio1957): 21.
[Reseña de Discusión, Buenos Aires, Emecé, 1957, 2ª ed. corregida y aumentada].
Borges, Jorge Luis. Borges en Sur, 1931-1980. Buenos Aires: Emecé, 1999.
_____ Ficciones. Madrid: Alianza Editorial, 1996.
_____ Evaristo Carriego. Buenos Aires: M.Gleizer, 1930.
Caparrós, Martín. “Hace diez años: Con Rodríguez Monegal” (entrevista). Relaciones 130
(marzo 1995): 29.
Cotelo, Ruben. “La edad de la razón”. El País (Montevideo, 27-02-1961): 11.
Doudchitzky, Pablo. “Una monstruosa deformación y una calificación equivocada”.
Gaceta de Cultura 3 (Montevideo, octubre de 1955): 18.
_____ “Respuesta a E.R.M.”. Gaceta de Cultura 4/5, Montevideo (nov.-dic. 1955): 18.
Firpo, Arturo R. “Proyección de la revista Contorno en la cultura argentina”. Le discours
culturel dans les revues latino-américaines de 1940 à 1970. América, Cahiers du
CRICCAL 9-10 (Toulouse 1992): 411-419.
Fló, Juan. “Problemas de la juventud en nuestro país”, en Autores varios. Problemas de
la juventud uruguaya. Montevideo: Ed. de Marcha, 1954. 143-156. Introducción de
SUR Y LAS REVISTAS URUGUAYAS 823
Carlos Real de Azúa. [Un fragmento se había adelantado en Marcha 661 (6 mar
1953): 15].
González, César Blás (seudónimo de Mario César Fernández). “Borges y el Martín
Fierro”. Nexo1 (Montevideo, abril-mayo 1955): 56-62.
Gramuglio, María Teresa. “Hacia una antología de Sur. Materiales para el debate”. La
cultura de un siglo. América Latina en sus revistas. Saúl Sosnowski, ed. Buenos
Aires: Alianza, 1999. 249-60.
Jaureche, Arturo. “Moraleja de Borges, su ‘guerrero’ y su ‘cautiva’”. Marcha 1259 (18-
06-1965): 30-31 .
King, John. Sur. Estudio de la revista argentina y de su papel en el desarrollo de una
cultura, 1931-1970. [1986]. México: Fondo de Cultura Económica, 1990.
Maggi, Carlos. “Nueva Literatura Uruguaya”. Escritura1 (Montevideo, oct. 1947): 32.
Magnone, Carlos y Jorge A. Warley. La modernización de la crítica. La revista Contorno.
Buenos Aires: CEDAL, 1981 (La historia de la literatura argentina 122: 433- 456).
Martínez Moreno, Carlos. “Notas al pie”. Número 13-14 (Montevideo, marzo-junio
1951): 156-164 [Recogido en Literatura uruguaya. Tomo I. Montevideo: Cámara de
Senadores, 1994: 44-45]
Masotta, Óscar. “Sur y el anti-peronismo colonialista”. Contorno 7-8 (Buenos Aires, julio
1956): s/p.
Murena, H.A. El pecado original de América. [1953]. Buenos Aires: Sudamericana,
1965.
Pereda Valdés, Idelfonso (Comp.). Antología de la moderna poesía uruguaya, 1900-
1927. Buenos Aires: El Ateneo, 1927.
Prieto, Adolfo. Borges y la nueva generación. Buenos Aires: Letras Universitarias, 1954.
Rama, Ángel. “La cultura uruguaya en Marcha”. Sur 293 (Buenos Aires, 1965): 92-101.
______ “Literatura vigente en Hispano-américa”. Marcha 1210 (Segunda Sección,
Montevideo, 21-08-1964): 2.
_____ “Borges y la política”. El Universal, Caracas, (25 junio 1978): 14.
Rama, Ángel, Carlos Real de Azúa y Emir Rodríguez Monegal. “Evasión y arraigo en
Borges y Neruda”. Revista Nacional IV/202 (Montevideo, octubre-diciembre 1959):
514-530. [Diálogo radiofónico emitido en 1957. Publicado luego en separata y
recogido en AntiBorges. Buenos Aires: Vergara, 1999. Martín Lafforgue (comp.)]
Ramela, Carlos. “Escritura y enigmas de Jorge Luis Borges”. Marcha 532 (Segunda
Sección, Montevideo, 23-06-1950): 18-21.
Ramos, Jorge Abelardo. Crisis y resurrección de la literatura argentina. [1954]. Buenos
Aires: Coyoacán, 1961.
Real de Azúa, Carlos. “Una carrera literaria”. Entregas de la Licorne 5-6 (Montevideo,
setiembre 1955): 107-134. [Recogido en Escritos, Carlos Real de Azúa. Montevideo:
Arca, 1987: 95-144. Selección y prólogo de Tulio Halperín Donghi].
Rest, Jaime. “Una misión lúcida y generosa”. La Opinión Cultural (4 marzo 1979): VI-
VII.
Rocca, Pablo. 35 años en Marcha (Crítica y literatura en “Marcha” y en el Uruguay).
Montevideo: División Cultura de la I.M.M., 1992.
824 PABLO ROCCA
UN TALLER MEXICANO
POR
Girondo, a Martín Adán, a Neruda... para sólo citar a escritores nacidos entre 1890 y 1908.
¿Será por eso que posteriormente Octavio Paz valorara con mayor entusiasmo a Oquendo
de Amat que a Vallejo y que lamentara, al comentar la antología Laurel, la ausencia de
Westphalen y nunca hiciera una mención siquiera de Martín Adán?
Sus juicios de esa generación anterior, de esa vanguardia ya moribunda, según él, a
fines de la década de los treinta, no dejan de ser paradigmáticos: en efecto, revelaban las
tensiones de la nueva generación, revelaban los sitios desde donde querían ver su entorno
geográfico y cronológico, revelaban los criterios de evaluación que serían determinantes
en la crítica literaria, y específicamente poética, en la segunda mitad del siglo XX. Allí están
todos los temas afines y contradictorios: poesía de transición, poesía “pura” (intelectual),
poesía de la intrascendencia, poesía de la superficie, etc.
Tenía razón Paz de distinguirse de todos los poetas de su propia generación que se
volvieron meramente versificadores de propaganda política o “sacristanes universitarios”
o “fariseos intelectualistas” (“Vigilias” 10); pero confió demasiado en que esa razón de su
diferencia le daba ipso facto validez a lo que él sostenía, como si sus ideas fuera lo único
que podía quedar como auténtico después de oponerse al dogmatismo de la literatura
“comprometida”.
De cualquier manera, para 1938, a Octavio Paz todavía no le inquietaba aún su
función de antecedente, ni de modelo, y sí, y mucho, la dirección que tomaría su
pensamiento y, paralelamente, su obra poética. Esta inquietud estaba ampliamente
expuesta en dos textos, las dos primeras partes de “Vigilias”, subtituladas “Fragmentos
del diario de un Soñador” y aparecidas en los números 1 y 7 de Taller. Eran unas cuantas
páginas, pero ellas solas bastaban para justificar el nombre de la revista, más allá, o más
acá de su alusión social y política. Lo cual no quiere decir que las inquietudes de Paz
estuvieran alejadas de los problemas de su época. Todo lo contrario, justamente su
reflexión era un caso ejemplar de las encrucijadas ideológicas, filosóficas, estéticas que
fueron decisivas en esos momentos.
Años después, Paz afirmó que “Entre 1935 y 1938 el observador más distraído podía
advertir que una nueva generación literaria aparecía en México” (“Antevíspera” 95) y que,
saltando unos cuantos años, “Hacia 1945, la poesía de nuestra lengua se repartía en dos
academias: la del ‘realismo socialista’ y la de los vanguardistas arrepentidos. Unos pocos
libros de unos cuantos poetas dispersos iniciaron el cambio. Aquí se quiebra toda
pretensión de objetividad: aunque quisiera no podría disociarme de este período /.../ En
cierto sentido, fue un regreso a la vanguardia. Pero una vanguardia silenciosa, secreta,
desengañada. Una vanguardia otra, crítica de sí misma y en rebelión solitaria contra la
academia en que se había convertido la primera vanguardia. No se trataba, como en 1920,
de inventar, sino de explorar. El territorio que atraía a estos poetas no estaba afuera ni
tampoco adentro. Era esa zona donde confluyen lo interior y lo exterior: la zona del
lenguaje” (Los hijos del limo 192). Este recuerdo agregaba otros elementos a los que había
incluido en su “Razón de ser”, porque en esta última cita ya no se pensaba sólo un poeta
mexicano, sino un escritor de una generación latinoamericana.
La memoria de Paz pudo equivocarse; pero no su deseo de presentar una imagen
bien definida de las posiciones de la época. En su recuerdo, la poesía pura en todas sus
vertientes e interpretaciones había caducado; la poesía de Juan Ramón Jiménez ya no era
UN TALLER MEXICANO 827
José Gorostiza, Vicente Huidobro y César Vallejo, como ejemplos, son reflexiones de una
complejidad asombrosa sobre el tema de la identidad a partir de la división declarada por
Rimbaud: “Yo es otro”; y continuando con las afirmaciones de Nietzsche sobre la
existencia perspectivista del mundo, de la vida, de la individualidad. Tenía razón
Rimbaud: la poesía de su futuro iba a ser materialista y en una de sus vertientes más
admirables lo fue.
Huidobro, sin renunciar a la fuerza que le daba el naturalismo que había encontrado
en los románticos alemanes, y sobre todo en la Filosofia de la Naturaleza de Schelling,
escribió en Altazor la superación de la poesía idealista y la asunción más gozosa de la
materialidad de este mundo: de las alturas metafísicas, su personaje cae en esta tierra,
combate a su “otro”, lo derrota, y se entrega al proceso insustituible de esa muerte sin fin
que Gorostiza, en un poema del mismo nombre, describió también magistralmente en
1939. Y al mismo tiempo, Vallejo, con la dialéctica más positiva posible, poniendo su
“persona” como objeto experimental de la transformación, indagaba todas las consecuencias
posibles de la destrucción del yo y de la intensificación de las facultades convocada por
Rimbaud. Su proyecto era vital en el sentido más materialista del término: no sólo afirmaba
la dialéctica casi insoportable del azar, sino también la tragedia y la alegría de la voluntad
de poder y del eterno retorno. Y ninguno de los tres mostró la menor tentación por el
materialismo mecanicista, ninguno consideró la condición del mundo como un hecho
dogmático; para todos ellos, la muerte sin fin de la creación, del lenguaje, del cuerpo, de
la cotidianidad era esencialmente un problema, y en ese sentido eran verdaderos
continuadores de la última línea del poema final de Mallarmé: todo pensamiento emite un
tiro de dados porque afirma constantemente el azar, porque justamente en el azar es donde
se puede concebir el sentido interminable de este mundo, el único mundo. Para ellos, como
para las insuperadas, hasta ahora, descripciones de Nietzsche, la vida es sólo una
perspectiva más, y esa perspectiva no niega a la razón, como afirmaron lecturas apresuradas
y tendenciosas de pensadores como Lukacs; ni a la verdad, como lo proclaman lecturas
débiles e impotentes de algunos pensadores posmodernistas como Rorty y Vattimo; ni a
la ciencia; y mucho menos al pensamiento mismo, al que estos tres poetas no dejaron de
ver como un ejercicio irrecuperable de la libertad. En los tres hay un antiplatonismo y un
anticristianismo radicales en el que, paradójica e irónicamente, se conservan los términos
de ambas doctrinas para tenerlos como punto de referencia histórico. Muerte sin fin no es
por casualidad un recuento crítico de las diferentes visiones sobre la relación entre
sustancia y forma desde la escolástica hasta las teorías más modernas. La conciencia
histórica está también profundamente actuante en la obra de Huidobro desde Adán hasta
sus últimos poemas, y esta misma conciencia es uno de los objetos en los que Vallejo
reflexionó con mayor insistencia y lucidez.
Aunque en muchos sentidos las que parecían las obras culminantes de estos tres
poetas representaran desenlaces del simbolismo iniciado por el romanticismo alemán y de
manera más inmediata constituyeran la solución a lo que parecía una clausura insuperable
en la obra final de Mallarmé, los tres dieron indicios de que no habían llegado a ningún
callejón sin salida, ni se habían agotado en ese camino que habían recorrido con tanta
radicalidad (más que radicalismo). En España, aparta de mí este cáliz, Vallejo demostró
sin ambigüedad que su indagación de un nuevo sistema de valores, de un territorio donde
UN TALLER MEXICANO 829
ya no existían identidades y de una perspectiva más allá del sentido común temporal, se
podía prolongar, por encima de los “compromisos ideológicos”, con acontecimientos
históricos específicos y masivos y violentos. Por otro lado, José Gorostiza continuó su
Muerte sin fin con un poema nunca terminado y titulado El semejante a sí mismo; y
Huidobro reconstruyó magníficamente el lenguaje en ruinas del canto VII de Altazor: en
efecto, lo amplificó hasta darle la respiración de un cielo luminoso y despejado en esos
poemas de sabiduría desmedida de Ciudadano del olvido. No, no había una vanguardia
cansada, pero sí hubo el final de proyectos creativos: para 1941, la obra de estos poetas
estaba prácticamente terminada, o por la muerte o por la posposición infinita.
Y justamente en 1941 aparecía El jardín de senderos que se bifurcan, donde los
temas de la vanguardia aparecían transformados en narraciones magistrales: la vida del
pensamiento, el perspectivismo del mundo, la ilusión de la individualidad... Nietzsche y
Mallarmé se volvían narradores de suspenso y lograban darle a los conceptos un transcurso
cotidiano de una fuerza inigualada.
¿Y no era cierto que, como el mismo Paz lo reconocería unos años después de Los
hijos del limo, al recordar las vicisitudes de la antología Laurel, había varias excepciones
notables de escritores vanguardistas que en 1940 no habían publicado algunas de las que
serían sus obras maestras? El dice que “las excepciones son pocas y se cuentan con los
dedos de una mano” (Sombras de obras 84) y menciona cinco poetas. ¿Cuántos se
necesitan para ser significativos? Y sobre todo ¿cuántos de la dimensión de Juan Ramón
Jiménez, Jorge Guillén, Dámaso Alonso, Pablo Neruda y Jorge Luis Borges?
De cualquier manera, Vallejo es un buen ejemplo de que los epígonos escogen
arbitrariamente lo que quieren continuar de su modelo. En este caso, fueron los giros
inconfundibles de su prosodia, fue un talante siempre mortal de las metáforas. Se
reprodujo hasta la saciedad el gesto lingüístico de Vallejo y se perpetuó la imagen de un
mártir de la derrota republicana y de la miseria poética. Lo demás fue ignorado y su
búsqueda de nuevas entidades morales, sensibles, pensables, que le hizo recorrer los
vericuetos más recónditos de la realidad se confundió con una vocación de sufrido casi
cristiano. Paz llegó incluso a hablar de “sus devociones y flagelaciones”: toda su ironía,
toda su creación de nuevas facultades, toda su percepción profunda de las ilusiones del
tiempo, toda su inmersión en el mundo más allá del bien y del mal, toda su asunción de
esta vida como la única válida de ser vivida... se redujeron, con los juicios paradigmáticos
de “Razón de ser”, a una retórica y unas cuantas “devociones y flagelaciones”.
Es justamente este juicio sobre Vallejo el que puede indicar el camino que siguió Paz
a partir de aquellas “Vigilias” publicadas en Taller en los años 1937 y 1938. En su
recuerdo, Paz agregaba al juicio de las “flagelaciones” lo siguiente: “Pero el logro de
Vallejo me parecía paradójico pues había conseguido exactamente lo contrario de lo que
él se proponía: había hecho, con la política, poesía religiosa” (“Antevíspera” 109).
Este señalamiento de paradojas, y sobre todo de esta paradoja suprema de llegar por
el ateísmo o por el materialismo a la religión, fue uno de los gestos ideológicos preferidos
de Paz en sus últimos años para subrayar la ironía del destino en aquellos poetas o
personajes históricos que no apreciaba.
Paz siempre mantuvo una extraña ambigüedad en su uso del término “religión”, así
como de otros igualmente importantes: “mito”, “historia”, “otredad”. En varias ocasiones
830 JORGE AGUILAR MORA
entre la vanguardia y una crítica que no quería renunciar al simbolismo representada por
Albert Thibaudet.
Pero Maulnier no se andaba por las ramas, él proponía –y Villaurrutia entusiasmado
lo secundaba en su reseña titulada “Introducción al rigor”– que el verdadero linaje de la
poesía moderna francesa (a la que identificaba precisamente con la poesía pura, la poesía
de lo inefable) partía de Nerval, seguía con Baudelaire, pasaba por Rimbaud, Verlaine y
Mallarmé, y culminaba en Valéry; y agregaba lo siguiente: “El lugar de Lamartine, de
Hugo, de Vigny, de Musset en la historia de la poesía francesa no tardará, cabe esperar,
en aparecer como lo que realmente fue, es decir, extremadamente pequeño. Estos no
aportaron nada a la poesía, aparte de lo que siempre había faltado...” (Maulnier,
Introduction 97).
Esto era lo que necesitaba Villaurrutia, y lo que Paz luego heredaría sin darse cuenta
de quién: la identificación de una tradición que explicara coherentemente el desarrollo
histórico de un compromiso con la poesía que los Contemporáneos y en especial
Villaurrutia consideraban esencial: el compromiso de la forma poética. Además, era muy
importante que de esa manera se pudiera eliminar de la tradición latinoamericana y
mexicana a todos aquellos que habían imitado a Victor Hugo, primero, y luego a los
parnasianos. Los Contemporáneos –algunos de ellos, como Villaurrutia y Cuesta– y luego
Octavio Paz estaban decididos a comenzar desde cero, pues ni el romanticismo y ni
siquiera el Modernismo en su conjunto habían logrado ofrecer una tradición sólida, un
cimiento clásico. Si Thibaudet y luego Maulnier y en general la crítica francesa (sobre todo
la asociada con la Nouvelle Revue Francaise) aceptaban ahora sólo la línea de Nerval-
Baudelaire-Mallarmé-Valéry, los mexicanos tenían la justificación y el argumento
adecuados para deshacerse de un pasado molesto e inútil donde los románticos habían
ignorado cualquier problema formal y los modernistas los habían exagerado hasta
volverlos paródicos. Y entre esos dos extremos, los Contemporáneos y luego la generación
de Paz no encontraban a nadie que hubiera tratado los problemas que a ellos les
interesaban. Excepto en los franceses, y específicamente en Valéry.
Para éste, el simbolismo había sido fundamentalmente la intención de darle al
lenguaje una musicalidad similar o superior a la música misma. Y con ello se dejaba abierta
la puerta para que el pensamiento abstracto abandonara la poesía, dejando sólo las
emociones más inmediatas, las percepciones más instantáneas, los objetos en su simplicidad
pura de estar. En términos de Valéry, el simbolismo había llegado, de manera esencial, a
la verdad última del arte. Y esta constatación parecía llevar a una paradoja insuperable:
¿cómo era posible que caducara ese movimiento que había logrado ver la naturaleza
intrínseca de la poesía y con ella la sustancia del ser?
Valéry encontraba la solución de esta paradoja señalando que las iluminaciones
poéticas del simbolismo eran, por definición, excepcionales: “Nada tan puro puede
coexistir con las condiciones de la vida /.../ toda esa dedicación demasiado lúcida tal vez
conducía a un estado casi inhumano. Es un hecho común: también los metafísicos, los
moralistas y hasta los científicos lo han experimentado” (“Prefacio a El conocimiento de
la diosa”, Oeuvres I 1275) . (Como se ve, Valéry salió de la paradoja del simbolismo para
entrar en otras paradojas, pues relativizó los hallazgos de éste semejándolos con los de la
filosofía y de la ciencia; pero, como en muchos otros casos, ya no se detuvo a resolver esta
proliferación de obstáculos).
832 JORGE AGUILAR MORA
naturaleza puede ser también una representación poblada con formas de sentido ideal y con
metáforas que “detienen” la eterna transformación. Su pensamiento seguía claramente el
sendero de Nietzsche, el único autor citado y mencionado en la primera “vigilia” y de quien
se diría en la tercera: “Sólo Nietzsche es capaz de reconfortar”.1 Justamente, la cita de
Nietzsche sobre la relación desequilibrada del pensamiento con la realidad le permitía a
Paz recurrir a la dicotomía de Valéry: la experiencia poética de éste era para el poeta
mexicano la inmersión en “la profundidad turbulenta de la tierra”, la aceptación del
infinito azar del universo, de su absoluta presencia anti-representativa; y la poesía era, por
otro lado, el rescate de esa experiencia, el uso y la penetración en los secretos del universo.
La primera “vigilia” terminaba entonces de una manera que, ahora, resulta inquietante:
“Mas ¿la Poesía no es una apasionada, heroica disolución del hombre en el mundo? ¿acaso
la Poesía no es la más profunda manera de ignorar?” (“Vigilias” 5). El contexto de los dos
párrafos anteriores establecía claramente la distinción entre la “poesía” como experiencia
y la “poesía” como expresión. En la contigüidad de las preguntas, ¿Paz veía una relación
de consecuencia entre la experiencia y la expresión, o estaba de pronto, y deliberadamente,
confundiendo los dos sentidos del término que él mismo acababa de distinguir?
La primera pregunta sigue más de cerca las imágenes de Nietzsche que las fórmulas
de Valéry; la segunda, en cambio, con una prosodia nietzscheana, expresa un desconcierto
más valeryano. Por supuesto, cualquier evaluación de la dirección seguida por Paz
depende críticamente del sentido que éste le quería dar a “ignorar”. Si con la poesía nos
ocultamos la calidad esencialmente irrepresentable de la realidad, atribuyéndole a ésta
imágenes o metáforas que no tiene, entonces la ignorancia es un recurso moral que nos
permite vivir cotidianamente y con “seguridad” en este mundo. Pero si la ignorancia es la
manifestación más pura y gozosa de vivir en la confusión y en el azar del mundo donde
es imposible “saber” o “entender” nada, la experiencia y la expresión terminan
confundiéndose.
Octavio Paz no daba ni dio ninguna pista para distinguir sus conceptos en este final
de su primera “vigilia”. Con la distancia de 63 años y cuatro de la muerte de Paz, resulta
inquietante percibir esta indefinición porque no se sabe si una lógica interna del texto o
un deslizamiento inconsciente o una inevitable confusión o una lucidez premonitoria lo
puso frente a una disyuntiva que sería decisiva (por la decisión que exigiría) en la
continuación de su obra y de su pensamiento.
Si su obra constituyó un lugar decisivo de la poesía y el pensamiento literario, se
debió a la persistente, sinuosa y duradera ambigüedad con la que usó términos como
“soledad”, “mito”, “historia”, “otredad”, e incluso “poesía”. La herencia de la poesía
“pura” al estilo de Valéry fue un disfrazado desconcierto conceptual, que se volvió
característico de la segunda mitad y sobre todo del último cuarto del siglo XX. Y es en una
revista como Taller donde se pueden ver los inicios de ese disfraz, de ese recorrido hacia
el mundo como lenguaje o hacia el lenguaje como única medida de valor.
Las reflexiones filosóficas de Valéry expresaron claramente esa convicción de que
todo nuevo sistema conceptual sólo podía fundarse en la coherencia y solidez de su
1
Paz, Octavio. “Vigilias III”, Tierra nueva, Año 2, 7-8 (enero-abril 1941), cit. en Paz, Primeras
letras 87.
UN TALLER MEXICANO 835
retórica, y nada más; a menos que pudiera adelantarse a todos los descubrimientos
científicos que pudieran invalidarlo. Valéry, sin embargo, nunca fue más allá, científicamente
hablando, de una confesión de impotencia ante esta última posibilidad; de tal manera que
sólo quedaba la salida de la fundación retórica del mundo.
Por ello, en la con-fusión de las preguntas de Paz sobre la poesía en su primera
“vigilia”, resulta imposible distinguir si se trataba de una imposición textual, de una trama
inconsciente, de una confusión insoluble del momento o de una premonición. Todo esto
y más operaba en conjunto, porque también estaba en funcionamiento una lectura
paradigmática de las ideas: la lectura de Nietzsche a través de Valéry y la lectura de Valéry
a través de Gorostiza.
El segundo párrafo de las “Vigilias” empezaba así: “Las formas que hacen visible al
dios extraño que alimenta la tierra, se me presentan nada más como formas solitarias, y mi
alma no goza en ellas; pretendo sumergirme en su dulce y frío torbellino; pero quedo,
irreparablemente extraño, como el aceite del agua. Esta es la verdadera soledad; sin
palabras, estrangulado por un mundo fríamente enemigo...”
¿No era ésta una lectura de los primeros versos de Muerte sin fin de Gorostiza?
Todos los términos y las relaciones conceptuales del párrafo de Paz están presentes
en estos versos; aún más, está presente justamente el problema de la relación del individuo
con el mundo, de la forma con la sustancia, de la soledad ante la naturaleza “muda e
indiferente”, como Paz había dicho en la primera línea.
Sabemos que antes de marzo de 1939 Gorostiza leyó públicamente partes de su
poema, pero no sabemos cuáles, ni cuándo, ni si Paz estuvo presente. Pero sí sabemos que
la lectura tuvo repercusiones enormes en los medios literarios más cercanos a Paz: de
hecho, dos de los responsables de Taller, Efraín Huerta y Alberto Quintero Alvarez, fueron
de los primeros en publicar reseñas del poema de Gorostiza, y uno de ellos hablaba de la
lectura pública del poema. No es tan atrevido afirmar que el párrafo de “Vigilias” era una
reformulación de las metáforas de Gorostiza, así como “Soledad de la fisiología”, un
poema de Luis Cardoza y Aragón aparecido en la misma revista, en su número 5, era a su
vez y claramente una réplica, casi una acusación violenta contra Muerte sin fin, al cual
parece considerarse como la apología de una perspectiva puramente “fisiológica”, de
materia bastarda.
Más allá de la anécdota cronológica, la enorme cercanía de los conceptos y de las
imágenes en ambos textos indicaba la presencia clara de un problema al que Muerte sin
fin le daba una solución aparentemente insuperable. La coherencia de la estructura
836 JORGE AGUILAR MORA
ideológica y metafórica de esta obra era impenetrable: o se aceptaban sus premisas y sus
conclusiones en conjunto, o se rechazaba todo; precisamente porque lograba unir
inconfundiblemente el desarrollo del argumento perspectivista con la manifestación
sensible-metafórica del mundo. ¿Había pues, si no un agotamiento de la vanguardia, un
callejón sin salida? En todo caso, los vanguardistas no eran los que estaban en ese callejón
sin salida, pues de hecho ellos habían encontrado la salida del simbolismo. A quienes había
dejado tal vez en el callejón era a sus herederos o a sus seguidores. ¿La única posibilidad
de ir más allá era identificar la poesía con el lenguaje como mundo y como sistema?
El párrafo de “Vigilias” es una corrección de Muerte sin fin; y esa corrección de la
vanguardia previa, ese borrón de los senderos que ésta estaba recorriendo, provocó a su
vez que Paz se condenara a corregir su propia obra. Por al borrar aquellos senderos,
también Paz eliminó esa naturaleza “muda e indiferente”, olvidó la presencia pura de la
naturaleza, se desentendió del “fluir de las cosas”, del “sueño de las raíces”, del “clamor
oprimido de las aguas” (“Vigilias” 4). Se alejó, en suma, del perspectivismo del mundo
y de toda indagación de las paradojas entre libertad y destino, entre moral y vida. Aquellas
dos preguntas –confusas, inquietantes– sobre la Poesía se resolvieron casi sin querer en
una dicotomía tranquilizadora: el azar del mundo o, en los términos muy genéricos e
inofensivos de Valéry, “los modos de nuestra sensibilidad general” se convirtieron en la
“Poesía” como una entidad conceptual inefable. En este extremo, se puede decir que Paz
regresó al romanticismo y que fue más allá de Baudelaire, que fue a las fuentes idealistas
de lo Sublime (quitándoles justamente todo su contenido “categórico”, es decir, su
relación con la moral y la libertad).
La otra “poesía” se convirtió en la expresión de la primera. Sin embargo, como la
primera no tenía prácticamente ningún contenido, como era una entidad trascendental sin
imperativo categórico, su expresión tenía que volverse cada vez más independiente, cada
vez más autónoma, cada vez más “lingüística”. Al punto final de esa tensión entre la
“Poesía” como entidad trascendental e inefable y la expresión poética concreta se dio en
Piedra de sol. A partir de allí, la poesía de Paz se liberó de las posibles contradicciones
de mantener como unidad una Poesía como entidad trascendental-inefable y una poesía
como expresión autosuficiente de sus deslumbramientos.
Y así, a la visión del poema en El arco y la lira como “hecho de palabras necesarias
e insustituibles” le seguirá la necesidad de justificar las correcciones múltiples de los
poemas con una concepción completamente distinta: “Los poemas son objetos verbales
inacabados e inacabables. No existe lo que se llama ´versión definitiva´: cada poema es el
borrador de otro, que nunca escribiremos...”2
La corrección se volvió, pues, una necesidad y una libertad: la necesidad de evitar
el destino y la libertad de alterar el pasado.
2
Ambas citas en Rubén Medina, Autor, autoridad y autorización 205 y 223 (Este, aunque con
insuficiencias muy notables, es el mejor libro sobre las “correcciones” de Paz).
UN TALLER MEXICANO 837
BIBLIOGRAFÍA
Borges, Jorge Luis. El jardín de senderos que se bifurcan. Buenos Aires: Sur, 1942.
Echeverría, Esteban. La cautiva; seguido de El matadero, La guitarra, Elvira, Rimas.
Textos íntegro. Buenos Aires: Sopena, séptima edición, 1962.
Girondo, Oliverio. En la masmédula. Buenos Aires: Losada, 1956.
Gorostiza, José. Muerte sin fin, y otros poemas. [1964] México: Fondo de Cultura
Económica-Secretaria de Educación Pública, 1983.
Huidobro, Vicente. El ciudadano del olvido (1924-1934). Santiago de Chile: Ediciones
Ercilla, 1941.
Medina, Rubén. Autor, autoridad y autorización. México: El Colegio de México, 1999.
Maulnier, Thierry. Introduction a la poésie francaise. París: Gallimard, 1939.
Paz, Octavio, “Vigilias”. Taller 1 (diciembre 1938): 3-13.
_____ “Razón de ser”. Taller 2 (abril 1939): 30-34.
_____ Los hijos del limo. Barcelona: Seix-Barral,1974.
_____ Sombras de obras. Barcelona: Seix-Barral, 1983.
_____ Primeras letras. Barcelona: Seix-Barral, 1988.
Valéry, Paul. Oeuvres I. París: Gallimard, 1957 (Bibliotheque de la Pléiade, 127).
_____ El cementerio marino. Madrid: Agrupación de amigos del libro de arte, 1930.
Vallejo, César. poemas en prosa; Poemas humanos; España, aparta de mí este cáliz.
Madrid: Cátedra, 1988.
Revista Iberoamericana, Vol. LXX, Núms. 208-209, Julio-Diciembre 2004, 839-855
POR
ADRIANA KANZEPOLSKY
¿EL HECHIZADO?
Habana del centro de Fina García Marruz (1997) cuenta con una sección, fechada en
1954, que se llama “Los amigos”. La serie se inicia con un poema titulado “Eliseo” y se
cierra con “Samuel (Feijoó)”. Los otros títulos son –en orden de aparición– “Lezama”,
“Julián”, “Agustín”, “Octavio” y “Roberto”. Nombres insistentes en las evocaciones de
la poeta habanera pero también muchos de los que ese año de 1954 –luego de la ruptura
entre Lezama y Rodríguez Feo– quedaron junto al primero formando el Consejo de
colaboración de Orígenes. García Marruz parece esbozar con estos poemas una suerte de
“círculo protector” en la amistad. Es como si anunciara que son ellos –los poetas incluidos
en este apartado– los verdaderos origenistas, reforzando una vez más la alianza entre
amistad y proyecto intelectual que, en buena medida, definió a Orígenes.
Casi treinta años después, hacia el final del mismo libro, el círculo se rompe, no solo
porque Lezama –quien reaparece en “A nuestro Lezama” y en “Casa de Lezama”– ya está
muerto, sino porque también la muerte es la causa de los dos poemas que Marruz dedica
a Virgilio Piñera, excomulgado desde siempre del círculo de amistades de esta escritora.
Dispuestos entre los que homenajean al “primogénito verdadero”, los breves “Virgilio”
y “El escéptico” aparentemente están allí para engrandecer la figura del que aglutinó al
grupo Orígenes durantes doce años. Creo que es apropiado detenernos por un momento
en estos textos –construidos sobre un conjunto de “biografemas literarios”– porque, al
mismo tiempo que muestran en una apretada síntesis las relaciones de un sector del grupo
Orígenes, pueden leerse como una metáfora de los proyectos intelectuales de José Lezama
840 ADRIANA KANZEPOLSKY
Lima y Virgilio Piñera, entre los que nos interesa la publicación de Orígenes (La Habana,
1944-1956) y de Ciclón (La Habana, 1955-1957).1
“Oro de ley”, “ciega roca”, “ámbar” es la primera secuencia de atributos que connotan
a Lezama en los poemas que lo retratan; los demás predicados aluden a “primogénito
verdadero”, “rey que a todos manda”, “Él necesitaba del coro”, “se ríe como un mandarín”,
“cabeza de rey-niño”, “cabeza majestuosa/ que tuvo altivos, deslumbrantes sueños”. El
poeta que estos textos proyectan surge asociado a la piedra preciosa, noble y resistente y,
metonímicamente, a la majestad. La piedra es lo durable, lo que soporta el tiempo, aquello
que exige el paciente rasguño, calidades estas que José Lezama Lima quiso para su revista
y que, podemos aventurar, la definieron.
Ya “Virgilio” se abre con un epígrafe del propio autor que no se limita a relegarlo del
grupo sino que lo muestra solo: “Anoche estaba solito/ en la Avenida del Puerto”. La
soledad y diminutivos como “solito”, “sentadito”, “buchito”, “no te vi nunca tan clarito
yo” permean el poema dedicado al que, después de muerto, se trata con palabras que lo
sitúan en el lugar de un niño; un poco malcriado, un poco rebelde e inmaduro. Si Lezama
necesitaba del coro, Virgilio “decía siempre que no”, su sino fue “la interrupción”, su
hábito “herirnos” –nos dice García Marruz–. Y en “Muerte del escéptico” la poeta le
pregunta: “¿Cómo habrás acabado por aceptar/ tu muerte, tú/que no creías en las cosas
absolutas?”. Decirles que no, herirlos, ser escéptico frente a la creencia origenista en lo
absoluto fueron, sin duda, algunas de las marcas y de los objetivos que caracterizaron el
proyecto de Ciclón.
Cuando la revista aparece en enero de 1955, en páginas amarillas y bajo el título de
“Borrón y cuenta nueva”, Ciclón le declara la guerra a Orígenes. Más bien anuncia que
Orígenes ha muerto, que ellos –José Rodríguez Feo y Virgilio Piñera, director y jefe de
redacción respectivamente– la han borrado de un golpe; sin mucho esfuerzo, además,
porque el grupo Orígenes, “no hay que repetirlo, hace tiempo que, al igual de los hijos de
Saturno, fue devorado por su propio padre” (s/n). Con un lenguaje nítidamente vanguardista,
que recuerda el de “Terribilia meditans” de 1942 –el editorial de Poeta, la revista dirigida
a comienzos de los cuarenta por Virgilio Piñera2– la flamante publicación se inscribe en
las “huestes del futuro” y sitúa a la revista de Lezama en el “ejército del pasado”. No hay
en este texto inaugural una declaración de principios, ni una enumeración de proyectos,
solo el anuncio de que se irá en contra de la publicación de la cual se desmembra. Un
1
Ciclón se edita regularmente entre el 55 y el 57. En 1959 saca un único número, conmemorativo
de la Revolución. En “La neutralidad de los escritores”, el editorial del número 1 de enero de 1959,
Rodríguez Feo explica por qué la revista había dejado de editarse a mediados de 1957. “En el mes
de junio de 1957 se suspendió la publicación de esta revista porque en los momentos en que se
acrecentaba la lucha contra la tiranía de Batista y moría en las calles de La Habana y en los montes
de Oriente nuestra juventud más valerosa, nos pareció una falta de pudor ofrecer a nuestros lectores
‘simple literatura’” (s/n).
2
“Terribilia meditans” concluye con la siguiente declaración: “Poeta no está o va contra nadie. Poeta
es parte de la herencia de Espuela; familiar de Clavileño y Nadie parecía. Sólo que en este consejo
poético de familia poética la salvación vendrá por el desentendimiento, por la enemistad, por las
contradicciones, por la patada de elefante. Por eso Poeta disiente, y, aguarda, a su vez, el bautismo
de fuego” (énfasis mío).
ACERCA DE ALGUNOS EXTRANJEROS 841
editorial de estas características encierra a la revista en una trampa porque, al situarse como
el reverso del espejo origenista, manifiesta una absoluta dependencia de su antecesora.
“Borrón y cuenta nueva” se dirige al mismo lector que Orígenes y no se ofrece como una
alternativa sino, más bien, como una publicación que viene a ocupar el lugar que la otra
ha dejado vacío al ser borrada; una publicación que la substituirá, eclipsándola.
Once años antes del surgimiento de Ciclón, en la primavera de 1944, José Rodríguez
Feo y José Lezama Lima habían lanzado el primer número de Orígenes, cuyo texto
inaugural, aunque se presentaba expresamente como un no programa, ya que la revista
quería “ir lanzando las flechas de su propia estela”, trazaba algunos de los lineamientos
que los editores pretendían llevar adelante. Allí declaran, como condición para que una
obra ingrese a sus páginas, que “se manifieste dentro de la creación humanista”, y agregan
“y [de] la libertad que se deriva de esa tradición que ha sido el orgullo y la apetencia del
americano” (8). Se manifiestan contrarios al dualismo arte-vida, sitúan en el pasado la
discusión arte puro frente a arte comprometido y afirman que la pureza del artista estará
“en la absorción depurada de sus raíces” (8). Pasados tres años, las “Señales” del número
15 de 1947 corroboran y amplían las afirmaciones del primer editorial. En ese artículo
Lezama escribe:
Ambos textos dejan entrever un programa bastante nítido que, si bien tiene distintas
formulaciones, se intensifica en un punto: Orígenes se presenta como una revista
americana, prácticamente carente de tradición propia, lo que por un lado la impulsa a
construir una tradición por futuridad y, por otro le impone como condición la absorción
depurada de sus raíces. Es también la precariedad de su condición americana lo que la salva
de furias momentáneas y la posiciona en un lugar diferente al de una publicación europea
ya que, como dirá años más tarde en el número dedicado a Martí (13, 1947), el americano
no puede desconocer lo bien hecho por otros.
A partir de estos presupuestos, que pocas veces serán traicionados, Orígenes se
organiza sobre dos pilares: la difusión de la poesía del grupo3 –responsable por una
tradición futura– y la publicación de colaboraciones extranjeras, que constituyen un
elemento primordial en el proceso de hacer de la publicación una revista cosmopolita
(universalista es el término elegido) y de modernizar el medio cultural habanero. Con el
3
El grupo de poetas estuvo conformado por José Lezama Lima, Cintio Vitier, Eliseo Diego, Fina
García Marruz, Ángel Gaztelu, Lorenzo García Vega y Octavio Smith.
842 ADRIANA KANZEPOLSKY
4
Entre ellos: de Rodríguez Feo, “La obra de Mariano y su nueva estética” y “Frente a Tamayo” ; de
Lezama, “Las imágenes posibles”, “Lozano y Mariano” y “Alrededores de una antología” de “los
editores”: “Cuatro años”.
5
No es irrelevante recordar que a la concreción de este carácter cosmopolita contribuyen, en gran
medida, la relación de Lezama con los españoles María Zambrano y Juan Ramón Jiménez y, sobre
todo, la de Rodríguez Feo con el poeta norteamericano Wallace Stevens, con quien el cubano se
corresponde durante toda la trayectoria de la revista. He desarrollado extensamente estos dos
aspectos en el capítulo 1 y 3, respectivamente, de Un dibujo del mundo: la revista Orígenes.
ACERCA DE ALGUNOS EXTRANJEROS 843
Veamos ahora cuáles son, en definitiva, los materiales que componen el primer
número de Ciclón. La revista se abre con “A un río le llamaban Carlos”, un poema del
español Dámaso Alonso, fechado en febrero de 1954. El ejemplar cuenta también con la
colaboración de otros dos españoles. Francisco Ayala firma “La última cena” –un cuento
sobre el exilio español en Estados Unidos– y Julián Marías es el autor del ensayo “La
imagen intelectual del mundo”. La presencia española no se limita a los nombres
mencionados sino que “El lirismo ontológico de Jorge Guillén” es el tema del ensayo del
francés Jean Cassou, traducido por Manuel Durán. Las otras colaboraciones que conforman
el ejemplar son: “Sobre el arte abstracto de nuestro tiempo”, un ensayo del argentino
Ernesto Sábato; “Eurídice”, un poema de la inglesa Edith Sitwell, en traducción de
Rodríguez Feo y “A Osiris” un texto en prosa poética de Tiggie Ghika, traducido por Sara
Sluger. El plato fuerte de la flamante revista se publica en una sección titulada “Textos
futuros” –que aparece solo dos veces– y es un fragmento de Las ciento veinte jornadas de
Sodoma del Marqués de Sade, traducido por Humberto Rodríguez Tomeu. Las
colaboraciones cubanas se limitan a “El gran Baro” de Virgilio Piñera; “Fuente interior”,
un poema de Emilio Prados; “Un día de fiesta”, cuento de Luis Lastra. En la sección
“Barómetro”, Rodríguez Feo escribe un comentario sobre La carne de René de Virgilio
Piñera, Humberto Rodríguez Tomeu hace una crítica a la puesta en escena de Las criadas
de Jean Genet y Fayad Jamis escribe “Breve nota sobre la escultura de Agustín Cárdenas”.
De alguna manera, este primer número es representativo de los lineamientos de
Ciclón y del vínculo que establecerá con Orígenes. Observamos un interés significativo
y manifiesto por la literatura española. ¿Estamos, por lo tanto, frente a una prolongación
de Orígenes, que tuvo en la publicación de esta literatura uno de sus centros? Sí y no, ya
que si bien el interés por la literatura española persiste, Ciclón se circunscribe en el número
1 a nombres más jóvenes que los que publicaban periódicamente en Orígenes; inclusive
Julián Marías y Dámaso Alonso nunca habían publicado6 en sus páginas. La difusión en
el primer número de la revista del ensayo de Cassou sobre Guillén –editado muchas veces
en Orígenes y uno de los “protagonistas” de la desavenencia entre sus directores– no hace
más que confirmar la opción de Feo por el grupo de poetas de la generación del 27 en
detrimento de la primacía que Juan Ramón Jiménez había tenido en la publicación que
codirigiera con Lezama.
Por su parte, la publicación del argentino Ernesto Sábato se inscribe en la lógica de
las colaboraciones argentinas en Orígenes, cuyo propósito fue difundir en Cuba a
escritores que estuvieran próximos a Sur. A tal punto que su aparición en el primer número
de Ciclón sorprendió al propio autor, quien pensó que saldría en la revista del grupo
Orígenes.Tampoco se presenta como un enfrentamiento con la revista de Lezama la
traducción hecha por Feo de un poema de la inglesa Edith Sitwell, ya que la pequeña
selección de literatura inglesa aparecida en Orígenes estuvo compuesta por poetas
estrictamente contemporáneos, lo que el nombre de Sitwell corrobora. Y con su versión
al castellano, Rodríguez Feo da secuencia a una tarea comenzada allí, la traducción de
materiales en inglés.
6
Los otros españoles publicados en Ciclón fueron: Luis Cernuda, Serrano Poncela, María Zambrano,
José Ferrater Mora, Guillermo de Torre, Juan Marichal, Vicente Aleixandre, Bernardo Clariana,
Aquilino Duque y Carlos Barral.
844 ADRIANA KANZEPOLSKY
Hasta aquí tenemos un panorama que nos habla más de continuidades que de
rupturas. La brecha, sin embargo, existe y no se fundamenta tanto en la publicación de un
texto como “A Osiris”, enviado seguramente por Piñera desde Buenos Aires y ajeno a la
política de traducciones origenista, ni en la crítica a la puesta de Las criadas de Genet, sino
en la publicación del fragmento de Las ciento veinte jornadas de Sodoma del Marqués de
Sade, cuya apuesta, ahora sí, es la de operar como un borrón. La traducción de Humberto
Rodríguez Tomeu está precedida por una nota de Virgilio Piñera, en la que aclara que ésa
es la primera versión al español de “la obra capital del Marqués de Sade”. Ciclón publica
dos “entregas” de Las ciento veinte jornadas, en el primero y segundo número
respectivamente. En una carta de febrero de 1955, recién llegado a la Argentina, Virgilio
Piñera le envía a Feo el segundo fragmento y le sugiere publicarlo con la siguiente nota:
“Con estos fragmentos damos fin a nuestra publicación de Las Ciento Veinte Jornadas.
La revista publicará en breve la edición íntegra de esta obra en una cuidada traducción al
español” (Pérez León 163). La edición no se lleva a cabo porque tampoco se concreta el
proyecto editorial. Pero que existiera, y que entre sus títulos pensaran incluir a Sade, es
ilustrativo de la relación que Ciclón postuló con Orígenes. Se sabe que ésta contó con una
editorial –del mismo nombre– que se circunscribió a publicar la producción del grupo y
editó una única traducción, La joven parca de Paul Valéry en versión de Mariano Brull.
A pesar de que desconocemos cuáles habrían sido los títulos de la editorial de Ciclón, es
relevante destacar que su director consideró importante que la revista contase con una.
Ciclón no fue el órgano de un grupo poético o literario por lo que podemos conjeturar que
su editorial difundiría nuevos nombres de la narrativa cubana y una serie de traducciones
que hubieran sido impensables bajo el sello de Orígenes.
El primer ejemplar de Ciclón sorprende al lector hispanohablante con una gran
traducción, un inédito en todos los sentidos del término, ya que se trata de un autor
desconocido, no solamente en Cuba sino en la lengua de la revista. Orígenes también
abogaba por primeras traducciones, sobre todo por hacerlas antes que Sur, pero entre sus
máximos logros, podemos señalar la publicación de un fragmento inédito de las memorias
de George Santayana (21, 1949). Publicar a Sade era enfrentarse a Orígenes, situarse en
el reverso del espejo de una revista que, con la salida de Feo, había acentuado su nota
católica y su clasicismo y que, durante esos años, editó El canje (38, 1955, y 39, 1955) de
Paul Claudel y “De intuiciones pre-cristianas” (37, 1955) de Simone Weil, títulos a los
que se les podría agregar la traducción –llevada a cabo por Vitier– de Las iluminaciones
de Rimbaud (35, 1954), un autor al que habían leído desde la perspectiva claudeliana.
¿Qué quiere decir exactamente enfrentarse a Orígenes? Por un lado, desplazarse de
la sobriedad y oblicuidad origenistas e iniciar una revista con la difusión de un texto que
–como declaran– tenía entre sus propósitos producir escándalo y polémica, yendo en
contra de la “hipocresía de los hombres y los Índices de todas las instituciones”, objetivos
ajenos a la revista de Lezama; por otro, introducir el tópico de la sexualidad, “ignorado”
y omitido por los origenistas –a excepción de un ensayo de Rodríguez Feo sobre el español
Francisco Delicado– (29, 1951). Frente a la abstención origenista, la sexualidad va a
ocupar un lugar destacado en Ciclón al ser el eje de tres de los cinco ensayos que se
publicaron en la sección “Revaluaciones”. Son ellos “Oscar Wilde en prisión” de Robert
Merle (3, 1955), fragmento de Oscar Wilde ou la destinée de l’homosexuel, “Walt
ACERCA DE ALGUNOS EXTRANJEROS 845
Whitman” de Leslie Fielder (4, 1955) y “Ballagas en persona” (5, 1955) de Virgilio Piñera.
En el último el cubano lee la poesía del coterráneo desde la perspectiva de su homosexualidad
y es, sin duda, el más importante de los tres, porque se enfrenta de modo directo a la
interpretación que Cintio Vitier había hecho de la poesía de Emilio Ballagas en el prólogo
a la Obra poética del autor.
La revisión de este primer número nos permite llegar a algunas conclusiones
provisorias, a partir de las cuales avanzaremos en el análisis puntual de ciertos “nudos”
que articulan la relación de Orígenes y Ciclón y del posicionamiento de ambas en lo que
concierne fundamentalmente a la política que implementaron con respecto a la publicación
de literatura argentina. En principio podría decirse que los dos años en que estas revistas
se editaron simultáneamente constituyen un momento de excepción de la literatura
cubana; si el término puede aplicarse a la literatura, tal vez, podríamos aventurar que se
trató de un momento pleno, en el sentido de que Ciclón parece completar a Orígenes, ser
lo que a ésta le falta –en lo que concierne a autores y géneros– y avanzar en el tiempo. De
alguna manera, la nueva revista puede ser vista como uno de los frutos de la “tradición por
futuridad” que Orígenes tuvo como meta. Como vimos, Ciclón, a pesar de lo que declara,
no borra a Orígenes sino que le sirve de contracara y complemento. Aunque, muchas
veces, las zonas por las que transitan se intersectan, incorporando a las revistas fragmentos
de las mismas literaturas, los escritores y los géneros elegidos suelen ser otros. Por
momentos, Ciclón se desvía de Orígenes y, en otros, profundiza sus opciones,
radicalizándolas.
Hasta su número 35, con la salida de Rodríguez Feo, Orígenes fue una revista hecha,
en buena medida, en la correspondencia que intercambiaban sus editores. Las cartas, entre
La Habana –ciudad que como se sabe Lezama no solía abandonar– y Nueva York,
Baltimore o Vermont –las ciudades por las que en esos años transitaba el incansable Feo–
proyectan colaboraciones, narran el regocijo ante su obtención o cuentan, frustradas, la
imposibilidad de acercarse a algunos de los escritores que deseaban incluir en sus páginas.
En ese intercambio de casi una década, en el que se lee un registro y una crítica de la cultura
contemporánea, Lezama y Feo dan forma a la política de traducción y publicación de
literatura extranjera.7
De la literatura norteamericana eligen una zona importante de poetas contemporáneos,
pertenecientes al alto modernismo de lengua inglesa, entre los que sobresalen los nombres
de Wallace Stevens y T. S. Eliot, además de una serie de ensayistas ligados a universidades
como Harvard e inscriptos en la corriente del new criticism. En la capital cubana Lezama
selecciona y organiza los materiales de los poetas del grupo, obtiene las contribuciones de
María Zambrano durante su estadía en el país y desde allí también trabaja para la
consecución de los siempre anhelados textos de Juan Ramón Jiménez, quien transita en
la época por diferentes capitales americanas. Es decir que en La Habana se hace la parte
7
La correspondencia entre Lezama y Rodríguez Feo está reunida en Mi correspondencia con Lezama
Lima.
846 ADRIANA KANZEPOLSKY
cubana de Orígenes y también la cara más representativa del aporte español. Desde
Estados Unidos, Rodríguez Feo remite, junto a las traducciones del inglés, las colaboraciones
de los escritores de la generación española del 27 y de algunos europeos de paso por aquél
país, convertido a esa altura en un indiscutible centro de cultura. En consecuencia, el
intercambio epistolar entre los dos editores y los viajes de Rodríguez Feo van a ser una
pieza fundamental para el desenvolvimiento del proyecto origenista.
Pero el cuadro no estaría completo si no mencionáramos que en los primeros años de
Orígenes hubo, por breve tiempo es cierto, un tercer pero insoslayable corresponsal.
Hablamos de Virgilio Piñera, quien en 1946 llega por primera vez a Buenos Aires donde
permanecerá hasta diciembre de 1947 y donde recibe el encargo de Lezama de contactarse
con escritores afines a los origenistas, en particular, los pertenecientes a la revista Sur.
Apostando, en primer lugar, a los escritores de Sur y, en segundo, a los de Papeles de
Buenos Aires (revista dirigida por Adolfo de Obieta), finalmente, y con tono cómplice,
Lezama le dice a Piñera que busque a jóvenes escritores, no descubiertos aún pero que
sobrevivirán al paso del tiempo. Su demanda tiende a captar para Orígenes los nombres
centrales de la literatura argentina del momento o, por lo menos, a conectarse con aquellos
que hacían una revista con la que compartían algunas líneas estéticas y que contaba entre
sus integrantes con escritores que los cubanos leían desde hacía tiempo; entre otros,
Borges, Mallea, Bioy Casares y Silvina Ocampo. A pesar de todo, no son esos los
argentinos que publican en Orígenes. Las colaboraciones que Virgilio obtiene son de
autores que escriben en Sur, pero que no eran sus nombres centrales. Incluso, muchos de
los textos que llegan a Cuba pertenecían a autores de segunda línea o que no perdurarían
con el transcurso de los años.
En 1946 la situación bastante marginal que el cubano ocupa en Buenos Aires lo aleja
de Sur y lo acerca, en cambio, al escritor polaco Witold Gombrowicz, quien residía desde
hacía algunos años en la capital argentina. Es bien conocido el anecdotario en torno a la
traducción argentino-cubana de Ferdydurke (1947), la novela del polaco, cuyo comité de
traducción presidía Piñera, por lo que no me voy a detener en ello. Quiero sólo mencionar
que, desbordante de entusiasmo, Virgilio le envía a Lezama un capítulo de dicha
traducción y que “Filimor forrado de niño” se publica en Orígenes 11 (1946).8 Aún
valiéndose de una especie de finta, Virgilio cumple el encargo de Lezama y lleva a “los
balcones de Orígenes” a un “escritor desconocido”, al menos en el ámbito del español.
Gombrowicz es el “escritor joven” que Piñera encuentra en Buenos Aires y que, tal como
pedía Lezama, sobrevivirá al paso de los años.
El “desvío” llevado a cabo por el autor de Muecas para escribientes es capital en
varios sentidos, no únicamente porque fue capaz de ver en la figura y la obra de
8
La carta que acompaña el envío se inicia del siguiente modo: “Querido Lezama, te incluyo estos
textos para Orígenes. Puedes publicarlos en el orden que quieras. De todas maneras aquí estamos
de acuerdo que el primero y más urgente de aparición es el relato titulado ‘Filimor forrado de niño’,
del escritor polaco Witoldo de Gombrowicz (sic). Como verás por la nota adjunta al cuento (y la que
deberá aparecer conjuntamente con éste cuando sea publicado por Orígenes) se trata de un episodio
dentro de la obra titulada Ferdydurke, que va a ser publicada aquí [...]. Gombrowicz, como un gesto
de aprecio intelectual hacia los escritores cubanos (a los que distingue mucho) quiere expresamente
que el ‘avance’ de su obra lo sea en la revista de nosotros”. Lezama Lima, Fascinación 274.
ACERCA DE ALGUNOS EXTRANJEROS 847
9
“‘Filimor Forrado de niño’ forma parte –junto con ‘Filimor Forrado de niño’ (sic), aparecido en la
Revista Papeles de Buenos Aires– de la novela titulada Ferdydurke escrita por el conde Witold de
Gombrowicz, autor polaco. Dicha obra fue publicada por primera vez en Varsovia el año 38. Ahora,
su editor (sic), que reside en Buenos Aires, la ha vertido él mismo al español. Muy próxima su
aparición, Gombrowicz ha cedido a Orígenes, por intermedio del poeta cubano Virgilio Piñera, el
manuscrito de ‘Filimor Forrado de Niño’, a fin de que nuestra revista lo ofrezca como avance de la
obra total al público culto de habla española” (Lezama Lima, Fascinación 275).
848 ADRIANA KANZEPOLSKY
este texto no fue ni el mejor, ni el más importante que Orígenes publicó sobre literatura
argentina, pero me detengo en él porque entiendo que es uno de los lugares en los que
mansamente se construye la disidencia entre los editores, que posteriormente desencadenará
la ruptura. También porque anticipa a Ciclón en ese dejo de irreverencia frente a la cultura,
una de sus diferencias reales con Orígenes.
Macedonio Fernández reaparece en Ciclón, en la sección “Revaluaciones” como
objeto de un ensayo del peruano Luis Alberto Sánchez, quien recupera varios de los
tópicos de la reseña que Rodríguez Feo hiciera para Orígenes. El texto comienza en el
punto en que Feo termina, el desconocimiento de Macedonio por parte del gran público,
y profundiza en la idea del humor como una marca continental. Escribe Luis Alberto
Sánchez:
Cuando uno, ahora, en 1955, se refiere a Cantinflas y juzga el modo de éste como peculiar
a todos los indoamericanos, no comete un error ni incurre en una exageración: hablar por
entretener el tiempo y adormecer las ideas, es algo característico de un ser que vive a la
defensiva, fingiéndose agresor y díscolo justamente cuando se ve más agobiado de
riesgos. Macedonio (y no hay agravio en ello) pudiera considerarse como el creador de
un cantinflismo trascendental, lo que demostraría que México y Argentina, en apariencia
tan remotos, se juntan en ciertos caminos comunes. (68)
persistente Piñera que, en constante agitación, crea y recrea estrategias para obtener las
colaboraciones. Como parte de estos desvelos, y provisto de una carta de Rodríguez Feo,
en abril de 1956 conoce a José Bianco en la redacción de Sur y, por su intermedio,
comienza a publicar en la revista de Victoria Ocampo con cierta periodicidad.
Sus esfuerzos son recompensados y es así que entre 1955 y 1957 Ciclón publica a
Borges, Victoria Ocampo, José Bianco, Adolfo Bioy Casares y Silvina Ocampo,10 una
nómina que se sobreimprime casi exactamente a la de los escritores leídos por los
origenistas y a los que Lezama quería editar en su revista pero que quedaron fuera.11 De
Argentina llegan también las colaboraciones de Graziella Peyrou, Vicente Barbieri, José
Luis Romero, Salvador María Lozada, Julio E. Payró, Carlos Mastronardi, Witold
Gombrowicz, César Fernández Moreno, Manuel Peyrou, Carlos Gorlier y Julio Cortázar;
y de Europa, J. R. Wilcock remite “La noche de Aix”.
Estos nombres no deparan grandes sorpresas, ya que se inscriben en una lógica
bastante previsible. Ciclón vuelve a publicar a los amigos de Piñera en Buenos Aires
–muchas veces como un gesto de agradecimiento por las gestiones hechas para obtener
textos de importantes escritores; otras, solo como una muestra de amistad e incluso, como
en el caso de Mastronardi porque a través de él Virgilio conseguía publicar en El
hogar–,12 republica a algunos autores que habían aparecido en Orígenes como Wilcock (al
que José Rodríguez Feo había conocido durante su viaje a Europa) y Vicente Barbieri –
considerado por Piñera el mejor poeta del momento– y concretiza la publicación de otros
que estaban previstos para Orígenes y no llegaron a publicar allí como José Luis Romero
y el ya mencionado Sabato.
¿Significa esto que, en lo que a literatura argentina se refiere, Ciclón continuó con la
misma política de Orígenes, solo que con más éxito? ¿Y que, en buena medida, el éxito
se debió a que pagaba las colaboraciones y aquélla no? Afirmar que sí es una verdad parcial
e injusta. Dije al comienzo de este trabajo que Ciclón da como presupuesto el universalismo,
un valor que Orígenes había construido pacientemente a lo largo de sus cuarenta entregas.
El universalismo que toma cuerpo en la revista de Lezama tiene su simiente inicial en 1938
en el “Coloquio con Juan Ramón Jiménez”. Como se sabe, en este “diálogo” Lezama se
afana en la búsqueda de una “teleología insular”, un concepto que asocia el hallazgo de
un mito cubano a la construcción de una expresión artística singular. Tarea que, una vez
cumplida, haría de Cuba el tercer polo de expresión continental junto a México y
Argentina. Con la elección de Buenos Aires como ciudad donde enviar un corresponsal,
10
Jorge Luis Borges, “Inferno, I, 32” y “Nota de un mal lector”, este último en el ejemplar dedicado
a Ortega y Gasset; Victoria Ocampo, “Una visita a Clodus Hill”; José Bianco, “El colegio” y
“Trelles”; Adolfo Bioy Casares, “De cada lado”; Silvina Ocampo, “El verdugo invisible”.
11
Aunque Piñera anuncia colaboración de Mallea, este autor no llega a ser publicado en Ciclón.
Diversas circunstancias habían impedido también su publicación en Orígenes, a pesar de la
importancia que revestía para una zona de sus colaboradores. Para ampliar este aspecto véase mi
artículo “Orígenes/Sur, o el murmullo de una conversación americana”.
12
En abril de 1955 el corresponsal cubano le pide a Rodríguez Feo: “Por favor, Pepe, publica si
puedes en el próximo número un poema de Carlos Gorlier; es gran amigo mío y está loco por publicar
por primera vez. También te agradeceré publiques uno de los cuentos de Graziella Peyrou” (Pérez
León 169).
850 ADRIANA KANZEPOLSKY
Ciclón da un paso adelante en ese sentido y esta capital jugará para la reciente publicación
un rol similar al que Nueva York cumplió para Orígenes. Es decir que Buenos Aires se
convierte para Ciclón en un espacio que no solo provee colaboraciones argentinas, sino
en el cual es posible acceder con mayor facilidad a textos escritos en otras lenguas y
difundir la labor de los cubanos. Esta mudanza de ciudad mediadora reúne razones
culturales, afectivas y de orden práctico. Como Rodríguez Feo debía cumplir en La
Habana el rol que años antes le cupo a Lezama, Buenos Aires, que a lo largo de la década
había afianzado su significación de metrópolis cultural, era una ciudad propicia para
mantener a un secretario de redacción con largos años de experiencia allí. Por otra parte,
con la muerte Wallace Stevens durante la década del cincuenta, se rompe el principal nexo
del ex director de Orígenes con la cultura/literatura norteamericana. Un nexo que venía
debilitándose a medida que la relación entre el cubano y el norteamericano se desgastaba.
La presencia de Piñera en el sur del continente va a traer algunas consecuencias
importantes. La primera y más obvia, una enorme cantidad de textos de autores argentinos,
una considerable disminución de las producciones mexicanas,13 cuyos nombres centrales
sí habían publicado en Orígenes, una reducción de las colaboraciones norteamericanas14
y un considerable aumento de traducciones del francés.15
Por otra parte, si los nombres argentinos son bastante previsibles, Ciclón imprime su
marca al privilegiar textos en prosa, ya se trate de ensayos o de cuentos. Entre los primeros,
pienso que “Algunos rasgos argentinos” de Carlos Mastronardi, “Nota de un mal lector”
de Jorge Luis Borges, y “Contra los poetas” de Witold Gombrowicz son nodales porque
cada uno de ellos ilustra un ángulo de Ciclón y de la política literario/cultural que se
propuso llevar adelante.
El leve texto de Carlos Mastronardi, editado en el número 2 de marzo de 1956, cruza,
divertido, la contención que observa en la sociedad argentina –temerosa del ridículo y
preocupada por no “desentonar”– con la tendencia al realismo que verifica en la literatura
del país desde los primeros escritores gauchescos. “Parece regirla [a la literatura argentina]
13
Éstas se reducen a “Los caballos”, poema de Alfonso Reyes y “Repaso nocturno”, poema de
Octavio Paz. Además de tratarse de un número insignificante, sobre todo comparado con la
importancia que la literatura mexicana tuvo en Orígenes, Ciclón continúa exactamente en la misma
línea que ésta, ya que Reyes y Octavio Paz fueron los autores mexicanos a los que la revista de
Lezama concedió primacía. El resto de América Latina no está representado en Ciclón, a excepción
de “Cadáveres para la publicidad”, un adelanto de la novela Week-end en Guatemala de Miguel
Ángel Asturias, que sería editada en Buenos Aires y, valga señalar, de un cuento del brasileño Afonso
Schmidt.
14
Publican en Ciclón los viejos conocidos de Orígenes: Harry Levin, el ensayo “La puerta de marfil”,
y Lionel Thrilling, “Arte y neurosis” y “Freud y la literatura”, el último en el ejemplar dedicado al
creador del sicoanálisis. En la sección “Revaluaciones”, Leslie Fielder, su ensayo sobre Whitman
que –como dijimos en el cuerpo del trabajo– debe ser leído desde la perspectiva del interés que Ciclón
tuvo en la homosexualidad. Por último, Guillermo Cabrera Infante escribe una divertida crónica
titulada “El viejo y la marca” sobre la entrega de un premio a Ernest Hemingway en la Cervecería
Modelo de La Habana. Se trata, es cierto, de una crónica habanera pero que cabe mencionar porque
el novelista había sido absolutamente ignorado por Orígenes.
15
De Buenos Aires llegan entre otras, traducciones de Queneau, Cassou, Jarry, Pierre Bettencourt,
Marcel Bisiaux, Blanchot y Malcolm de Chazal.
ACERCA DE ALGUNOS EXTRANJEROS 851
una fuerte apetencia de fidelidad; se diría que su fin último es una adecuación verificable”
(7), escribe Mastronardi. La “corrección” y el “pudor” son vistos como dos trazos que
definen en gran medida a esta sociedad y a su literatura. “Algunos rasgos argentinos” es
un conjunto de observaciones bienhumoradas que hablan con cierta distancia de un medio
y una literatura en las que su autor está inserto, pero si lo acercamos a “Nota sobre la
literatura argentina de hoy” de Virgilio Piñera, escrito diez años antes y editado en
Orígenes, vemos que, con menor acritud, Mastronardi insiste en las mismas críticas que
el cubano le hiciera a los escritores del país, tildados allí de tantálicos e indecisos. La
publicación de este texto refuerza, en boca de un autor perteneciente al campo intelectual
argentino, la imagen de esta literatura que Piñera había diseñado y, por elevación, puede
leerse como una crítica a la rigidez que el cubano encontraba en la producción y el
“ceremonial” origenistas.
“La filosofía de Ortega y Gasset” de María Zambrano, “Ortega y el concepto de razón
vital” de José Ferrater Mora, “Ortega y su experiencia americana” de Guillermo de Torre
y “La singularidad estilística de Ortega y Gasset” de Juan Marichal son los ensayos que,
junto con “Nota de un mal lector” de Jorge Luis Borges, conforman una especie de dossier
dedicado a la memoria del filósofo español y editado en el número 1 de enero de 1956. El
texto del argentino, el último de la serie, disloca desde el título la preocupación por Ortega
para poner el foco en el propio Borges, el mal lector al que irónicamente hace referencia.
Casi la totalidad de la nota gira en torno al desencuentro entre Borges y Ortega, incluso,
podría decirse, entre el primero y la cultura española. Ortega tiene mal gusto, no se ha
privado de las metáforas, tampoco de hablar de literatura –un tema que desconoce– y
Borges “confiesa” que no ha conseguido sentir por él ni siquiera la “imperfecta simpatía”
que experimentó hacia Unamuno. Esta segunda colaboración del autor de Ficciones fue
largamente esperada y su consecución sumamente trabajosa. Pero la ansiedad que su
entrega despertó en Virgilio no se origina en las posiciones de Borges en relación a Ortega
sino en que esta nota colma “espontáneamente” varias de las expectativas del escritor con
respecto a Ciclón. En palabras de Virgilio, el “trabajito” impacta, causa sensación,
produce revuelo, incomoda a los incondicionales de Ortega y su brevedad vuelve más
efectiva su “furia”, efectos a los que –desde la perspectiva del secretario de redacción–
Ciclón debía apuntar.16
“Contra los poetas” es la primera y más importante colaboración de Witold Gombrowicz
en Ciclón.17 El ensayo, la transcripción de una conferencia que el autor de Transatlántico
había pronunciado algunos años antes en la sala Fray Mocho de Buenos Aires, es
publicado en el número 5 de setiembre de 1955. Se trata de un texto que, al proponerse
desacralizar el culto a los poetas y el de estos al arte, condensa varios de los postulados
del autor. Encontramos allí su defensa de la inmadurez en el arte y un ataque al “monstruo
de la ficticia madurez”, representado aquí por Valéry, “el sacerdote de la poesía pura”, a
16
“La muerte de José Ortega y Gasset” es, por su parte el texto con el que Orígenes cierra su
trayectoria. Firmada por Lezama, la última frase de la necrológica dice: “A su espíritu de fineza, a
la noble voracidad de su fervor humanístico, a la rectitud de su señorío, a la sobriedad de su muerte,
el homenaje, un angustioso detenernos en la marcha, de los que trabajamos en Orígenes”(490).
17
Las otras dos fueron “El banquete”, publicado en julio de 1956 y “Carne y cuervo”, aparecido en
la sección “Barómetro” en mayo de ese año.
852 ADRIANA KANZEPOLSKY
El sudamericano no sabe casi nada de la vida cultural polaca y en tanto un escritor del
occidente europeo, aun de tercera categoría, se ve apoyado por todos los esnobismos, sólo
a duras penas la voz de un eslavo logra vencer la indiferencia general. Pero me encanta
que la suerte me prive de privilegios tan baratos. Nosotros, las naciones menores debemos
dejar la tutela de París y tratar de comprendernos directamente. (255)
Ésta es una de sus tesis que me parecen más valiosas para Sudamérica. Ferdydurke nos
abre el camino para conseguir la independencia, la soberanía espiritual, frente a las
culturas mayores que nos convierten en eternos alumnos. Mi trabajo literario persigue el
mismo fin y creo que aquí nos encontramos –Polonia, la Argentina y Cuba– unidos por
la misma necesidad del espíritu. (256)
“Contra los poetas” puede ser leído como una declaración de principios de Ciclón;
y como un ataque a los escritores de Orígenes, ya que cada una de sus frases parece
cuestionar un aspecto de lo que Piñera creía era la poética origenista: el hermetismo, el
artepurismo y un humanismo que cree que la palabra arte lleva mayúsculas.
Mucho mejor articulado que “Borrón y cuenta nueva” –porque sintetiza un ideario
estético de larga data y porque el “enemigo” es difuso: un genérico “los poetas”– el ensayo
de Gombrowicz resume la idea de literatura sobre la que Ciclón se articula y adelanta las
críticas que años más tarde Piñera hace a la generación de Orígenes en “Notas sobre la vieja
y la nueva generación” publicado en Lunes de Revolución, donde usando un nosotros,
acusa a la vieja generación de haber depositado su fe en realidades tales como “[...] la
literatura, lo Bello, lo Noble, lo Bueno, que por una rara paradoja eran, al mismo tiempo,
tan solo abstracciones” (s/d).
Alguna vez Piñera se refirió a Buenos Aires como una ciudad habitada por tres
“divinidades”: Macedonio Fernández, Jorge Luis Borges y Xul Solar. Las cartas que le
envía a Feo entre 1955 y 1958 confirman parcialmente esa imagen. Buenos Aires continúa
siendo una ciudad habitada por tres divinidades: ahora Borges, Gombrowicz y, en el
centro, ese universo más o menos difuso que se llama Sur. Y es en ese pequeño Olimpo
de vanidades encontradas que los cubanos están interesados.
Contar con el beneplácito de Sur era imprescindible para la obtención de colaboraciones
argentinas pero, sobre todo, porque la revista se había convertido en un posible espacio
de publicación para los cubanos. Orígenes se posicionó de forma ambigua ante Sur; se
ACERCA DE ALGUNOS EXTRANJEROS 853
imaginó como una revista nueva frente a una Sur que veía envejecida. Sur se equivocaba,
iba cada vez peor, mientras ellos eran “la mejor juventud de América” y, al mismo tiempo,
la publicación argentina era tenida como una paradigma frente al cual medir sus logros,
especialmente en lo que se refiere a la selección y traducción de autores extranjeros. Ésta,
por su parte, hizo caso omiso de Orígenes; ocasionalmente publicaba sus anuncios y en
una oportunidad la citó fragmentariamente. Se trató de un párrafo de “América, Murena,
Borges”, en el que Retamar aludía a este último. La posición de Ciclón ante Sur es heredera
de la de Orígenes, pero el hecho de haber obtenido un cierto reconocimiento en esa
formación medular de la cultura argentina condiciona, en buena medida, sus criterios de
publicación. Y será fundamental a la hora de decidir la inclusión de un fragmento del
Diario de Gombrowicz, en el cual critica ácidamente a la cotterie de Sur. En una carta de
marzo de 1956 Virgilio le escribe a Rodríguez Feo
No conviene en estos momentos ponernos a mal con Borges, Victoria y Sur, etc. Está a
punto de salir lo tuyo en Sur, también mi novela. Además, ese artículo hace gran elogio
de mi persona en detrimento de los escritores argentinos. Podría tomarse como que Ciclón
aprovecha la coyuntura para destacar a un escritor cubano. Por supuesto que deberá ser
publicado, pero esperemos a que las cosas hayan ido apareciendo. No vamos ahora a
echar por tierra el edificio levantado con tanto trabajo. (Tiempo de Ciclón 178, énfasis
mío)
Sin embargo, el deseo de “no ofender al círculo celeste de Sur” pesa más que las
“verdades” de Gombrowicz y el texto no aparece. Son las mismas circunstancias que un
año antes los habían decidido a no publicar “Contra los poetas” en el mismo ejemplar en
que apareció el poema de Borges, aunque lo publicaron algunos números después y a
continuación de un texto de Victoria Ocampo.
Hecha esta somera revisión, podemos afirmar que Ciclón concreta y, hasta cierto
punto, profundiza el proyecto de Orígenes en relación a la literatura argentina. Sin
embargo, el lugar que Gombrowicz ocupa en la revista pone en entredicho esta afirmación
y esta continuidad. A pesar del manifiesto deseo de Piñera, el polaco entra a Orígenes
silenciosamente; en Ciclón, en cambio, ocupará un primer plano. Es el escritor extranjero
con mayor cantidad de colaboraciones y –como vimos– publica allí un texto corrosivo
como “Contra los poetas”. Es como si la revista se balanceara entre dos opuestos que se
excluían: Sur y Gombrowicz, el deseo de escandalizar, de “poner unas cositas en claro”,
que Piñera compartía con el polaco, y la conciencia de que no podían darse el lujo de
prescindir del apoyo de Sur porque si lo hacían la empresa quedaba trunca a nivel
continental. Rodríguez Feo conocía de cerca las desatrosas consecuencias que podía
acarrearle a una revista el prestarse a que autores del mismo campo intelectual usasen sus
páginas para dirimir diferencias. En consecuencia, Ciclón despliega una serie de estrategias
para no repetir el error. En este sentido el ciclón prometido se lee, por momentos, como
una ligera tormenta.
Los vínculos que Orígenes y Ciclón postulan con la literatura y el campo intelectual
argentinos, lugar al que ambas consideraron de importancia, nos permiten ver la línea
sinuosa que se trama entre las dos revistas. Ambas intentaron establecer un diálogo
854 ADRIANA KANZEPOLSKY
intelectual con la Argentina y con Sur, la publicación señera de la década. Ambas optaron
por un país continental y eludieron la opción caribeña. Tanto una como otra quiso
intervenir y ser conocida en uno de los polos culturales más relevantes del continente.
Llevaron a cabo una tarea pionera en la tentativa de salir del aislamiento cubano antes de
que la Revolución –al menos en los primeros años– hiciese de la Isla un polo de interés
al que buena parte de la intelectualidad latinoamericana le dedicó su atención. Por último,
considero que demorarse en el análisis de la vinculación de Ciclón y Orígenes con la
Argentina es una oportunidad especialmente rica para atisbar los modos de articulación
de una historia literario/cultural cubana e hispanoamericana.
BIBLIOGRAFÍA*
Arcos, Jorge Luis. Orígenes: la pobreza irradiante. La Habana: Letras Cubanas, 1994.
Arrufat, Antón. “Barómetro de Ciclón”. Unión 25 (La Habana, 1996): 2-5.
_____ “Freud y la literatura”. Ciclón 6 (La Habana, 1956): 6-19.
Asturias, Miguel Ángel. “Cadáveres para la publicidad”. Ciclón 4 (La Habana, 1956): 3-
16.
Bianco, José. “Trelles”. Ciclón 3 (La Habana, 1957): 8-17.
_____ “El colegio”. Ciclón 6 (La Habana, 1955): 3-8.
Bioy Casares, Adolfo. “De cada lado”. Ciclón 5 (La Habana, 1956): 7-13.
Borges, Jorge Luis. “Inferno, I, 32”. Ciclón 3 (La Habana, 1955): 3.
_____ “Nota de un mal lector”. Ciclón 1 (La Habana, 1956): 28.
Bradford, Lisa, comp. Traducción como cultura. Rosario: Beatriz Viterbo, 1997.
Cabrera Infante, Guillermo. “El viejo y la marca”. Ciclón 5 (La Habana, 1956): 51-55.
Carrera, Arturo y Teresa Arijón. Teoría del cielo. Buenos Aires: Planeta, 1992.
Claudel, Paul. El canje. Orígenes 38 (1955): 245-67 y 39 (1955): 334-56.
Cruz-Malavé, Arnaldo. El primitivo implorante. El “sistema poético del mundo” de José
Lezama Lima. Amsterdam-Atlanta: Rodopi, 1994.
Fiedler, Leslie A. “Walt Whitman”. Ciclón 4 (La Habana, 1955): 46-54.
García Marruz, Fina. Habana del centro. La Habana: Unión, 1997.
_____ La familia de Orígenes. La Habana: Unión, 1997.
Gombrowicz, Witold. “Contra los poetas”. Ciclón 5 (La Habana, 1955): 9-16.
Kanzepolsky, Adriana. “Orígenes/Sur, o el murmullo de una conversación americana”.
Javier Lasarte, org. Territorios intelectuales. Caracas: La nave va, 2001. 383-99.
_____ “Un dibujo del mundo: la revista Orígenes”. Tesis doctoral, Universidad de San
Pablo, 2001.
King, John. Sur. Estudio de la revista argentina y de su papel en el desarrollo de una
cultura 1931-1970. México: F.C.E., 1990.
Levin, Harry. “La puerta de marfil”. Cilón 4 (La Habana, 1955): 15-23.
Lezama Lima, José. Fascinación de la memoria. La Habana: Letras cubanas, 1993. [“Los
Editores]. “Cuatro años”. Orígenes 16 (La Habana, 1947): 210.
* Todas las citas de Orígenes provienen de Orígenes: revista de arte y literatura. Edición facsimilar.
México: El Equilibrista; Madrid: Turner, 1992. En adelante indico número de ejemplar, año y página.
ACERCA DE ALGUNOS EXTRANJEROS 855
POR
vazio e em romantismo convencional. Este poder conservador lança seus tentáculos até
sobre Dalton Trevisan que, em seus textos matinais, paga pedágio a ele com uma plaquete
de poemas provincianos, Sonetos tristes, escritos sob a influência de um mestre
absolutamente medíocre, Rodrigo Júnior, remanescente da segunda geração simbolista,
ligado à revista Stellario, a quem Trevisan dedica o seu “Soneto ao soneto”, uma glosa
sobre a falta de novidade desta forma poética:
criando a folha Tingüi (março de 1940 a dezembro de 1943), veículo ainda indeciso e
bairrista, como revela o próprio nome: Tingüi é uma árvore e um povo indígena local,
funcionando como sinônimo do Paraná. Se a sua preocupação é localista, seu ideário
inicial é de uma ingenuidade dolorosa. No texto de abertura de cada número, intitulado
“Lutemos”, Trevisan nega todas as formas de vulgaridade realista. No número 4, fica dito:
“Os nossos literatos, entenebrecidos pelo tinir metálico do dinheiro e imbuídos de falso
realismo, preocupam-se somente em publicar imoralidades obscenas, deturpando a moral
do povo influenciável” (1). Nesta mesma linha moralizante, o jovem defende a reforma do
ensino secundário, rebelando-se contra a língua estrangeira, os sambas imorais, a gíria e
a linguagem popular. E defende uma arte sã, marcada pelo espírito escoteirista. Estas
posições revelam uma orientação puritana e altamente patriótica, de um ufanismo que fica
visível não apenas em suas posições sobre arte, mas até nos reclames de um produto
curitibano, estampado em seu jornal: “Ferro brasileiro, mão de obra brasileira e técnicos
brasileiros confazem a balança FILIZOLA”. O equivalente, em termos literários, a esta
afirmação nacionalista está em um texto convencional, escrito por Trevisan no número 5
da revista. Já encontramos aqui a gramática da repetição, que será a marca registrada deste
escritor: “Eu amo, eu amo com todas as forças do meu ser, este meu Brasil colono. Eu
choro, choro na penumbra de minha cela, temendo pelo seu futuro. Sei que ele não é, em
nada, superior aos outros; não é pela extensão de seu território que avaliamos sua
grandeza. Eu amo-o, amo-o porque é o meu Brasil” (“Brasil”, 1). É dentro deste discurso
padronizado que Trevisan se insere, fazendo ecoar a mediocridade lírica de Curitiba. Ele
é aluno de uma escola literária local, não transcendendo o seu papel de aprendiz, embora
se perceba no tom enfático o desmitificador que surgirá em breve.
Se não existe maior valor textual na contribuição do jovem Trevisan, que está com
15 anos de idade, é inegável a importância desta estréia, pois ela terá que ser negada.
Espírito inquieto, Dalton se encontra em uma encruzilhada juvenil, sentindo ferver em si
uma pequena multidão de seres contraditórios, o que o leva a criar heterônimos, povoando
com eles as páginas de Tingüi e testando assim formas de expressão diferentes. Com o
próprio nome, Dalton assina os editoriais da publicação (sempre no tom exaltado de
cruzado), poemas, sonetos, contos e crônicas. Mas há outras personagens a quem ele dá
voz, como o poeta lírico/sentimental significativamente batizado como De Alencar, numa
referência ao autor de Iracema. Os poemas deste pseudônimo são geralmente quadras,
chamadas de “Cantos”, numa poesia tipo “para álbum de adolescente”. Este conteúdo
juvenil é denunciado pela vinheta representando um cupido a ler uma carta (obviamente
de amor), que ilustra alguns dos poemas deste autor, a quem são creditados ainda os
“Contos inacabados”.
No mesmo diapasão romântico, mas dentro de uma lógica mais nacionalista, que tem
a ver com o próprio José de Alencar, pela referência ao título de um de seus livros, aparece
um certo Guarani, que escreve sonetos no estilo de marcha bélica de Gonçalves Dias, como
em “O gigante morto”, que canta um dos ícones mais gastos das artes no Paraná: “O arrebol
surpreendeu o velho pinheiro, / em sua tão impressionante e crua postura. / Eleva-se só,
bravo guerreiro, / aos ares, desafiando a terra, a altura...” (Tingüi 8-91: 3). A referência a
1
A revista era tão amadora que, em uma mesma edição, com o mesmo número de página das
anteriores, aparecem dois números –no caso, o oitavo e o nono. Isso acontecerá mais vezes.
JOAQUIM: MODERNIDADE PERIFERICA E DUPLA RUPTURA 861
Gonçalves Dias fica escancarada no soneto “A morte do sabiá” (Tingüi 10-11:2), em que
ele transporta este tópico do nacionalismo para os galhos do pinheiro do Paraná.
Fiel à mesma retórica romântica, mas tendendo mais para uma filosofia barata do que
para o lirismo, Dalton criou um outro personagem, Tupinambá, que assina uns poucos
textos que se propõem a definir o homem. É esta prosa de reflexão, mas em forma de
aforismos, que encontramos em Notlad, um espelhamento do nome Dalton. É interessante
esta inversão, pois revela um autor querendo ser o que ele era e também o seu inverso. Os
pensamentos são singelos, não passando de diluição de leituras, e preenchem os cantos das
páginas de Tingüi. Entre eles, figura esta crença na evolução, revelando que o jovem não
se via fixo numa identidade: “Compenetremo-nos da maior verdade de todos os tempos:
o ser humano é fruto da evolução, para a evolução continua a ascender. Será Deus. Não
se compreende o estacionamento, o repouso...” (“Pensamentos”, Tingüi 7:1).
O não haver repouso pode ser percebido nesta atomização do autor, que assume
outros papéis. Como o do niilista Dom Nada, um ser que sofre mais acentuadamente os
reveses do mundo e que veste o dominó da vida pelo avesso, vendo-se como um errado
que não devia ter nascido: “Mas tudo isso é nada perto do que eu vou revelar. Vocês não
hão-de ver que... que agora me meti a escritor! e... a poeta!!! Eu, o ilustre D. Nada –
ESCRITOR E POETA: era o que faltava. De-ci-di-da-men-te sou um perfeito errado” (Tingüi
2/3:4). Levando a discussão num tom de blague, D. Nada tende também para a filosofice,
brincando com esta visão negativa da existência.
Mais vinculado à questão social, floresceu o personagem Faminto, que assina textos
críticos, chamando a atenção, por seu codinome, para a condição desafortunada do
escritor. Mas ele encontra seu inverso num outro personagem, Senfome, criado a partir de
um espelhamento agora semântico. O fato é que Tingüi funciona como uma festa de
fantasias, em que o diretor experimenta identidades, estilos e idéias, compondo um painel
contrapontístico em que vozes diversas configuram um grupo. O uso do pseudônimo em
publicações juvenis é muito comum, pois possibilita uma ampliação da presença dos
jovens autores que sentem a necessidade de ocupar mais espaço, pressionados pelo desejo
de dar ao campo literário a sua cara. Com esta multiplicidade, Dalton Trevisan não estava
apenas experimentando formas literárias, mas fabricando um grupo fictício que era bem
maior do que o real congregado em torno da Tingüi. Ele aumentava o exército literário para
amplificar o poder bélico dos jovens ginasianos. Nos últimos números, diminui a presença
destes personagens e aumentam os colaboradores.
Mas Dalton Trevisan continua sendo o centro da revista, devido à participação
econômica de sua família no empreendimento. Desde o primeiro número, há anúncios da
empresa paterna, a Fábrica de Louças e Vidro Trevisan, cujo endereço se confunde com
o do próprio jornal, sendo aquela localizada à rua Emiliano Perneta, 466, e a outra na
mesma rua, número 476. Os pseudônimos servem também para camuflar a onipresença do
diretor da revista, um diretor que é a própria revista, uma vez que esta está a serviço de sua
promoção. Isso fica visível na edição de número 17/18, em que circula, no lugar do jornal,
a plaquete Sonetos tristes, de autoria do poeta. No lugar da publicação coletiva, a
individual. E neste livreto aparecem os anúncios que deveriam circular na Tingüi, entre
eles o da Fábrica Trevisan. Os sonetos são dedicados aos pais e irmãos, o que deixa patente
a força da renda familiar na invenção da carreira literária do autor.
862 MIGUEL SANCHES NETO
Filho de burgueses que se impõem pela força do trabalho, Dalton Trevisan fará com
que Tingüi seja, apesar de todo o seu amadorismo jornalístico e literário, uma publicação
de caráter profissional. Os diretores buscam patrocínio, utilizam-se de estratégias de
venda de assinaturas, publicando apenas os associados, e exercem, do primeiro ao último
número, uma gramática do reclame. Embora os assuntos fossem líricos e um tanto
contemplativos, a revista veiculava publicidade de médicos, advogados, de um calista, de
um doutor de hemorróidas e outro de doenças venéreas como gonorréia e cancro mole e
duro, mostrando que o realismo, combatido literariamente, era muito forte nesta concepção
empresarial da folha. Esta sua característica cria um choque com os credos dos moços,
dispostos a viver o ideal e vocacionados para um tempo burguês.
Como contraponto ao mundo real, temos uma figura que era o centro da poesia
paranaense: Rodrigo Júnior. Além de ser homenageado em soneto de Dalton, este
remanescente das revistas simbolistas aparece em vários momentos da Tingüi, direta ou
indiretamente. Para o número 7, ele envia “A canção do homem que despertou”, alistando-
se entre os protetores dos moços, como é declarado no editorial do número seguinte: “Tem
sido compreendida a nossa luta pelos vultos mais destacados de nossa literatura. Raul
Gomez, Rodrigo Junior, J. Cadilhe, e outros mais, vêm nos esclarecendo os passos. É a eles
ainda que deveremos o julgamento de nosso concurso de contos” (1). O livro de Rodrigo
Junior, Flâmulas ao vento, será elogiado no número 14, num texto provavelmente de
Trevisan: “Rodrigo Jr, o grande vate paranaense, primou sempre pela beleza e ritmo suave
de seus versos tristes que nos forçam a meditar”(5). Os Sonetos tristes, portanto,
denunciam a influência deste poeta a quem Trevisan chama, no número 21, o maior vate
paranaense (6), transcrevendo, na edição seguinte, um comentário de Rodrigo sobre os
seus Sonetos tristes. Estamos, dessa forma, dentro de um mecanismo de troca de bens
simbólicos, em que o moço reconhece o mestre para ser reconhecido por ele. Mestre do
passado, como já sabemos.
Tingüi é a primeira estação de um caminho que levará Dalton Trevisan ao
reconhecimento público e dá a medida do projeto de afirmação do autor, que se vale de
estratégicas mercadológicas para promover-se. As páginas da publicação dos ginasistas é
utilizada como um espaço promocional que vai consolidar o seu nome, neste primeiro
momento, com um estudante rigoroso e dedicado, que se inicia no mundo das letras. São
dezenas as referências tanto ao trabalho da Tingüi quanto ao de seu diretor, notas
espalhadas nos quatro cantos da publicação que recomendam o livro de Dalton, que fazem
elogio ao autor e que estimulam a compra do volume. O reclame é utilizado também para
divulgar o produto cultural do diretor. Há anúncios dos textos escritos por Dalton na
Tingüi, projetos de livros, elogios para os Sonetos tristes e pedidos para que os leitores
enviem apreciações sobre a produção do jovem poeta e contista. É uma prática comum a
transcrição de cartas e resenhas sobre o trabalho de Trevisan que, dessa forma, se utiliza,
na esfera literária, da mesma lógica publicitária que serve para a empresa paterna. A
citação não se dá apenas em textos avulsos, mas no corpo de sua própria produção. Assim,
num dos capítulos de sua novela Um tipo curioso, Dalton coloca o personagem lendo o
seu livro de sonetos (Tingüi 21). Mas o fato mais escandaloso é o do concurso de contos
do jornal, vencido por De Alencar, com o texto “Trapo”. Ou seja, é o próprio diretor que
conquista o primeiro lugar do certame instituído por sua revista.
JOAQUIM: MODERNIDADE PERIFERICA E DUPLA RUPTURA 863
Neste primeiro estágio de seu projeto literário, Dalton Trevisan consegue ganhar
visibilidade em seu estado, inserindo-se no centro do campo literário provinciano, não
como uma voz nova, apenas com uma voz competente, que está na mesma altura de seus
pares, produzindo uma literatura pacificada com os lugares comuns sentimentais, literários
e urbanos que imperavam naquela Curitiba ainda presa ao seu passado de esplendor
romântico/simbolista. Ele se faz parte da bibliografia paranaense, referendando uma
tradição que recusa o Modernismo, como bem percebe José Zanlute, que comentou os
Sonetos tristes no número 23: “Dizem os modernos seres incompreensíveis ser a poesia,
na nossa época, morta. Pensam eles ser a máquina, o movimento diário do moderno
mundo, os contínuos afazeres da humanidade, as causas do definhamento da lira. Não, a
poesia não morre e não expirará enquanto o homem for homem...” (4), e segue um rosário
de lugares comuns, que leva ao elogio da lira antimoderna de Trevisan.
Em nome de sua aderência aos valores da cidade, com a qual a visão poética de
Trevisan está de bem, ele recusa o realismo em arte, achando ruim, por exemplo, um
romance de Rachel de Queiroz, detratado em crítica de Dom Nada. Mas com ele se sente
um eu cindido, em seus contos cultiva a flor realista, criticada por Quirino Silva, que
ironiza as pretensões do autor de Contos inacabados: “Neste conto, o senhor Gênio
demonstra-se propenso à tendência literária realista. Estou, senhor Gênio, que não é genial
ser escritor realista... Aconselho-o a abandonar esta tendência, para não envenenar a
mocidade. Nos escritores realistas, ensina Silveira Bueno, não há primor pela arte. A
encenação da pornografia é o que lhes preocupa. Por isso que não aconselho ninguém a
ler o [José] Lins do Rego, o [Jorge] Amado et caterva...” (Tingüi 23: 6). A recusa a seus
versos, tidos também como imorais, será comentada em “As parcas estão comigo”(Tingüi
39), em que Trevisan se opõe a um pudico leitor, exigindo ser lido sem preconceitos. Esta
duplicidade de recepção mostra o jovem numa fase de definições, em que duas posturas
antagônicas convivem em conflito em sua personalidade.
A passagem de uma para outra se inicia ainda na Tingüi, mas é bastante acanhada. No
início da revista, Dalton cita Coelho Neto, elevando-o à condição de modelo dos jovens
escoteiros. No número 41, julho/agosto de 1943, na crítica a Catulo da Paixão Cearense,
intitulada “O maior cabotino da literatura brasileira”, discurso polêmico que marcará, no
futuro, a atuação de Joaquim, Dalton chama Coelho Neto de “desproporcionado fraseador
e mestre de verborragia”, denunciando uma evolução. Mas a entrada de uma postura mais
moderna pode ser melhor vista no crescimento da influência do pintor italiano Guido
Viaro, que passa de anunciante da revista para mestre dos jovens. Dalton faz uma longa
entrevista com ele na Tingüi 37 e o cita em vários momentos de suas “Idéias soltas”,
reflexões sobre vida e arte que substituem a seção “Pensamentos” de Notlad. Viaro será
um dos responsáveis pelo aprofundamento das tensões dos ginasianos e umas das
referências de Joaquim.
No último número, em “Adeus Tingüi”, Trevisan conclui que esta publicação é um
momento de consciência do moço do Paraná e se despede lembrando que ela foi uma
“barricada nas fronteiras do ideal”. Apesar deste seu vínculo com um idealismo passadista,
Dalton vive nesta encruzilhada de duas solicitações, a do mundo ideal em que ele se nutriu
e o da vida cotidiana que o convoca cada vez mais, numa quadra em que o romantismo
juvenil vai cedendo espaço para a urgência de ser um homem no mundo. O que se dá é a
864 MIGUEL SANCHES NETO
luta entre o filósofo e o burguês, relatada em Um tipo curioso (Tingüi 22:5), ficção realista
que desbanca o lirismo ingênuo:
A questão é esta: todos os atos de um indivíduo são reflexos da luta entre os seus dois egos.
Cada Eu compõe-se de dois egos, que habitam o subconsciente.
Ora triunfa um e ora triunfa outro... O Bem e o Mal...
No meu caso, os dois egos interiores eram: o filósofo (o bem) e o burguês (o mal).
O filósofo parecia ter dominado a minha mente. Porém, o burguês, auxiliado
involuntariamente por causas diversas, substituiu-o por sua vez.
O filósofo era puro, seus pensamentos eram sublimes.
O burguês era fraco. A carne – oh! aquelas empregadinhas bonitas – oh! aquela Augusta...
– despertou-o. E o filósofo horrorizado deu-lhe lugar.
CORTE ABRUPTO
Perneta tem que ser compreendida. O poeta aparece não como sujeito de um provincianismo,
mas como objeto. O texto começa com uma frase que denuncia a mediocridade do
ambiente social que produziu e entronizou o autor de Ilusões: “Emiliano Perneta foi uma
vítima da província, em vida e na morte. Em vida, a província não permitiu que ele fosse
o grande poeta que podia ser, e, na morte, o cultua como o poeta que ele não foi” (Joaquim
2:16). Perneta representa para os jovens um exemplo dos riscos de se entregar a uma
cultura ensimesmada que, além de reduzir a estatura do artista, ainda se apropria de seu
nome.
O contista se levanta contra a mitificação de Emiliano Perneta pelo fato de sua obra
não ter continuidade no mundo contemporâneo, marcado por grandes dramas, como o da
guerra. A nova mentalidade, formada em experiências dolorosas, não consegue encontrar
em um poeta que produziu obra desligada do real nenhum ponto de contato. Ele sequer
representou o homem da província, escrevendo uma poesia reprodutivista, calcada em
clichês. Para Dalton, o seu único mérito foi transportar, de forma precária, um figurino de
escola, não passando de um parisiense desterrado na colônia. Mesmo em sua terra natal,
viveu no exílio. Por tudo isso, Trevisan concebe o seu exemplo como um caminho fechado,
pouco recomendável para os jovens que queriam ter acesso ao universal: “Ilusão é, por
ventura, o melhor livro de poesia escrito no Paraná, grato ao nosso coração por um laço
afetivo, mas nem por isso é livro que ultrapasse as fronteiras da Rua 15, e, para nós, neste
instante, são as fronteiras do mundo, e não as da rua 15, que procuramos atingir”
(“Emiliano, poeta medíocre”, Joaquim 2:16). Logo, esta nova geração não pode se
entregar às certezas dos valores locais.
O que se delineia aqui é um conceito diferente de literatura que não perdoa aqueles
que ficaram presos à glória apertada da casa natal. Esta glória será motivo de chacotas
numa pequena coluna escrita por Dalton, mas não assinada, que tinha o irreverente título
de “Oh, as idéias da província”, na qual ele transcrevia os conceitos retrógrados que
imperavam em Curitiba, numa verdadeira amostragem das tolices que paralisavam a arte
local.
Contra esta pasmaceira, os jovens propõem a prática da importação, tema da
entrevista que Poty Lazarotto concede a Joaquim (já no número 1), numa espécie de
manifesto do grupo. Morando no Rio de Janeiro e viajando com freqüência a Curitiba, Poty
fazia as vezes de ponte entre a província e a metrópole. Entrevistá-lo era uma forma de
valorizar uma visão extra-muro. O entrevistador, Erasmo Pilotto, começa perguntando o
sentido que a Exposição de Arte Degenerada do III Reich e da Arte Francesa Contemporânea
tiveram para o Brasil. Poty vê na primeira a relevância dos temas de revolta. Na outra,
percebe o atraso do Brasil em relação às novas tendências mundiais. Nesta exposição,
Picasso, Matisse e Braque, que aqui serviam como parâmetros revolucionários, figuram
na sala dedicada aos antigos. Isso chama a atenção do artista curitibano para a defasagem
de nossas conquistas estéticas. Se os artistas metropolitanos estavam distanciados das
novas tendências, no Paraná as artes eram “novidades de mais de 40 anos! Não chegamos
nem a começar a experimentar o que já foi talvez superado” (“Poty e a prata da casa”, 7).
Tamanho atraso das manifestações artísticas paranaenses foi responsável pelo fato
de, em 1946, o estado ainda viver à sombra dos simbolistas, diluídos por escritores
irrelevantes. Poty vê como única saída a importação artística: “Falta-nos importação.
JOAQUIM: MODERNIDADE PERIFERICA E DUPLA RUPTURA 867
Parece que nos contentamos sempre com a prata da casa, sem nos preocupar em saber se
ela é mesmo boa. Além disso, os capitains do atual selecionado cultural paranaense
teimam em confundir conservantismo com tradição. Acredito que a tradição é uma coisa
que ajuda a caminhar para a frente e não a adoração e a repetição do que já foi feito [...].
Não creio que mandar vir de fora diminua o valor de nossos artistas. Ou diminua nossa
cidade” (idem).
Poty propõe uma arte nova que nasça da conjunção da tradição e do progresso,
pensando a renovação não a partir do zero, mas da importação de um referencial mais
sofisticado. Sabe ele que a importação, para a periferia, é a oportunidade de participar da
história contemporânea, superando as limitações impostas pelo isolamento geográfico.
Importar não significa matar o local, mas injetar em suas veias um sangue diferente que
lhe dará novo alento. Esta abertura para o outro é a pedra de toque do ideário de Joaquim,
uma revista que quer que o mundo passe por Curitiba –o que é conseguido mediante a
justaposição do fora e do dentro, que atualiza as artes paranaenses pelo contato com os
melhores textos do país e do mundo.
Não é de estranhar que Dalton Trevisan se empenhe na limpeza do campo literário
local: ele está recusando todo o seu passado e iniciando uma nova carreira, agora defensora
da atualidade a todo custo. As idéias de Poty são as do grupo e, já no primeiro número,
surge um poema de Vinicius de Moraes. Nas edições subseqüentes, foram publicadas
contribuições de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade,
Murilo Mendes, Aníbal Machado, José Lins de Rego (criticado na Tingüi) e Oscar
Niemeyer. Criou-se ainda um espaço fixo para as traduções de autores inéditos e/ou pouco
conhecidos no país, o que fez com que passasse pela revista gente como Proust, James
Joyce, T. S. Eliot, Tristan Tzara, Federico García Lorca, André Gide, Jean Paul Sartre e
Virginia Woolf. Todos estes autores eram editados com um certo alarde, pois figuravam
como novidade numa tradição literária absolutamente refratária ao novo. Cada nome
moderno representava, no índice da revista, a decapitação de algum talento local, por isso
a sua divulgação tinha, por si só, um tom iconoclasta, que era a tônica geral da revista e
principalmente a de seu diretor.
Antonio Candido percebe com agudeza esta necessidade de irreverência, num artigo
republicado no n.º 3: “Joaquim vem de onde tudo parece estar por fazer, devendo os
rapazes despender a maior parte de sua energia em derrubar os fósseis e educar o gosto dos
leitores” (“Joaquim, a irreverente e a heróica”, 9). Entre as revistas de moços surgidas
naquele momento em outros pontos do país, Joaquim é tida como a mais combativa. E isso
dá a oportunidade, segundo Antonio Candido, de se restaurar a credibilidade do Paraná,
comprometida pela estandardização artística dos simbolistas. Do Paraná “partiu um dos
movimentos mais medíocres que tem infestado [a literatura brasileira], apadrinhado por
Nestor Vítor, Rocha Pombo, Emiliano Perneta e logo acolitado por uma série de jovens
poetas e escritores, tornados paranaenses honorários quando não o eram de nascimento”
(idem). A tradição simbolista teve que ser posta a baixo pelos rapazes da Joaquim, o que
faz dos anos 40 um momento de mudança não só de um padrão literário como também da
própria identidade do estado.
É como uma certidão de nascimento do Paraná moderno que temos que compreender
o surgimento desta revista. E isso fica explícito num dos textos de Trevisan. Firme em sua
868 MIGUEL SANCHES NETO
deflagrando o surgimento de dezenas de revistas jovens por todo o país. Joaquim deixa de
ser uma revista apenas paranaense, conseguindo leitores e colaboradores em várias
latitudes e assumindo assim seu papel no processo de ressemantização da província, agora
vertida numa linguagem que é moderna sem deixar de ser local. Isto ficava visível até
externamente, nas capas da publicação, no início feitas por Poty mas depois assinadas
pelos mais importantes artistas do momento, como um Di Cavalcanti e um Portinari.
É preciso entender como se deu este alargamento da ação da revista.
ESPAÇO FRONTEIRIÇO
Talvez um dos equívocos mais comuns sobre Joaquim seja a sua filiação simplista à
Geração de 45, por haver uma coincidência histórica e a presença de alguns colaboradores
deste movimento na publicação paranaense, como Ledo Ivo, Paulo Mendes Campos,
Fernando Ferreira de Loanda e José Paulo Paes. A geração de 45 marcava-se pela ligação
à tradição poética. Diz João Cabral de Melo Neto: “O fato de constituírem uma geração
de extensão de conquistas, muito mais do que uma geração de invenção de caminhos, é o
que melhor me parece definir os poetas de 45. [...] A diferença entre os problemas que
enfrentaram os poetas de 45 e os poetas que, em livros publicados em 30 ou imediações,
fixaram os caminhos que a poesia brasileira até hoje vem seguindo, parece-me radical.
Somente tendo-se essa diferença em mente é possível compreender o processo da obra
desses poetas mais jovens: a dependência em que eles estão de uma tradição, curta porém
viva e atuante no momento em que penetraram na vida literária, e os esforços no sentido
de alargamento dessa tradição de vinte anos” (“A Geração de 45”, Prosa, 75). Os poetas
jovens incorporavam a obra de seus antecessores, como Carlos Drummond de Andrade,
Manuel Bandeira e Cecília Meireles, buscando não mais a ruptura, mas o alargamento das
conquistas, um alargamento que descambava para uma prática mais convencional, menos
agressiva do discurso poético. Nada mais natural, portanto, do que a reverência aos nomes
consagrados de nossa literatura e que estes fossem lidos pelo que havia de permanência
em sua produção. Houve, com isso, um retorno às fontes e formas líricas e um certo
afastamento da vida que desencadeou uma produção mais intimista e menos moderna tanto
em sua fatura quanto em sua temática. É o momento de retorno, por exemplo, do soneto.
Os escritores dos grandes centros não tinham que conquistar coletivamente mais
nada, podendo se dedicar à sua arte poética, ao seu canteiro de rosas imarcescíveis. Isso,
logicamente, não se aplicava ao Paraná e a algumas outras províncias, presas a modelos
artísticos do século XIX, para as quais ainda era necessária uma revivescência de uma
postura iconoclasta. É graças a esta temporalidade emperrada que os jovens da Joaquim
vão se dedicar a uma revolução estética, propondo a província como centro cultural.
Carlos Drummond de Andrade, numa carta transcrita no n.º 2 da Joaquim, chama a atenção
para este diferencial da publicação paranaense. Vivia-se um momento restaurador, onde
não cabia mais o espírito destrutivo. Numa geração do pós-guerra, não existia clima para
a contestação, pois urgia reconstruir o mundo em ruínas. Os próprios representantes de
nossas vanguardas, numa crise em que abundavam explicações e justificativas, silenciaram
sua revolta contra os passadismos. Esta circunstância vivida num plano macroestrutural
faz com que o poeta mineiro se entusiasme com os moços do Paraná: “Nosso poder de
870 MIGUEL SANCHES NETO
admiração vai se tornando tão familiar e nosso poder de destruição tão débil, que a
insubordinação dos moços, neste ano de 46, é quase um espanto” (17). O poeta transmite
neste mesmo texto a sua surpresa diante da ironia do endereço da Joaquim: “Que delícia
uma revista cuja redação é na rua Emiliano Perneta, 476, e que promete publicar em seu
segundo número um artigo sob o título Emiliano, poeta medíocre” (idem). Note-se que se
trata de uma insubordinação destrutiva contra um nome mais distante, e não contra os
modernistas, que vinham sofrendo revisão negativa nos grandes centros, mas que eram
extremamente atuais no panorama literário do Paraná. Joaquim, dessa forma, estava na
contramão e sua atuação foi aos poucos se desprendendo da situação paranaense. Isso é
visível, por exemplo, no abandono do didatismo dos primeiros números, em que os jovens
se dirigiam a um público pouco afeito às artes modernas, e na diferenciação da natureza
das polêmicas. No início elas ficam restritas aos nomes estaduais, mas depois começam
a atingir autores nacionais, empreendendo uma revisão mais extensa.
A mais importante polêmica de repercussão nacional é a de Dalton contra Monteiro
Lobato, intitulada “O terceiro indianismo” (Joaquim, n.º 12). Como nas outras polêmicas,
o que comanda o articulista é sua condição jovem, que o faz intolerante com as posturas
reacionárias de escritores que negam os valores modernos. Para Trevisan, Monteiro
Lobato traiu a si mesmo e a seu tempo não só por não compreender a renovação artística
de 1922, mas também por não querer enxergar a mocidade. No fim do artigo, escrito
quando saía a obra completa de Lobato, Dalton revela a razão desta fúria contra o autor
de Urupês: “Quando um repórter lhe disse que os moços viam nele, por causa de sua prisão
na ditadura, um exemplo de resistência, reponde com tais palavras: –Não acredito nesses
moços” (12). É bom lembrar que o próprio Dalton escreveu um artigo na Tingüi 23 (julho
de 1941), reconhecendo nele o “devoto pai das letras”. Agora não existe mais lugar para
devoção e sim para a crítica herética, com a qual Dalton rompe com sua própria prática de
uma poesia com pretensões indianistas –como vimos ao analisar a Tingüi. A polêmica é
uma resposta à traição aos moços e pretende deixar claro que os jovens também não
acreditam em Lobato. Dalton centra suas restrições em Urupês, decretado “livro ilegível”.
Ao contrário do que anuncia a editora, o livro não inauguraria nada, tratando de obra que,
não conseguindo fazer uma pesquisa moderna da vida cabocla, opta por uma linguagem
artificialmente estilizada, valendo-se de uma sintaxe lusitana e tendo a vida brasileira
apenas como assunto. O passadismo de Lobato se funda em sua incapacidade de sentir
simpatia humana pelo caboclo retratado em seus contos. Retirando sua atenção do
elemento humano, ele a coloca nos aspectos exteriores, no aformoseamento gongórico da
natureza, o que faz com que o livro seja regional apenas pela referência estilizada a
algumas “árvores do mato”. Ou seja, assim como José de Alencar e Gonçalves Dias
fecharam os olhos para o índio, preferindo sonhá-lo de acordo com moldes europeus,
Lobato teria visto vesgamente o caboclo –daí o livro ter o único mérito de ser continuador
do indianismo romântico.
As polêmicas e as resenhas críticas, mesmo quando não assinadas por Dalton, vão
passando em revista autores e obras do momento, dando uma penetração maior para
Joaquim. Nestas posturas ásperas, o que conta não é o erro ou o acerto dos argumentos,
mas o princípio que as guiou. Elas revelam o poder de insubordinação dos jovens que não
aceitam ascendências paralisadoras. Os moços se viam como soldados de um novo
JOAQUIM: MODERNIDADE PERIFERICA E DUPLA RUPTURA 871
entre Oswald de Andrade e Domingos Carvalho da Silva. Os novíssimos, diante das brigas
entre modernistas históricos e representantes da Geração de 45, se viam em uma
encruzilhada, recusando-se a seguir qualquer um dos dois caminhos. Queriam se estabelecer
resistindo aos estereótipos de 22 e de 45 e aceitando do passado somente aquilo que fosse
conquista. Num certo sentido, Joaquim se identifica com esta posição, pois também não
reconhece um rótulo que a prenda a um grupo, a uma arte ou a um centro de cultura.
Tal procedimento pode dar a chave de leitura do periódico paranaense, mostrando
que ele estava antes interessado em tornar-se o delta de confluência das mais variadas
expressões artísticas. Aceitando colaboradores da Geração de 45, do Modernismo e dos
novíssimos, Joaquim buscava ser este ponto de encontro dos contrários.
Uma seção que saiu em quase todos os números (“História Contemporânea”) também
era produzida segundo a técnica da colagem. O mapa literário que ia se desenhando era
composto por retalhos, onde os opostos se tocavam: ao mesmo tempo que havia, por
exemplo, um nítido anseio de universalização, manifestava-se a valorização do local, o
que fez com que a província se abrisse para valores externos no momento em que tomava
consciência de si mesma.
Logo, o que caracteriza esta revista, em todos os sentidos, é uma mecânica de dupla
ruptura. Ela rompe a um só tempo com a idéia de autonomia do regional, como culto da
identidade, como movimento de contra-colonização, e com a concepção de uma arte
totalmente desenraizada da vivência do cotidiano. Assume o lugar geométrico dos
contrários, refletindo uma necessidade de habitar o fronteiriço como forma de resolver
uma condição dilemática, visível nos vários contos de Trevisan estampados na revista, em
que jovens vivem o conflito de pertencer à província acanhada e ao mundo vasto mundo
drummondiano.
O que este novo conceito de província reflete é uma combinação de internacionalismo
e localismo. Gilberto Freyre, nesta mesma época, em Interpretação do Brasil, defendia
que o regionalismo e o internacionalismo não podem ser pensados como conceitos
excludentes, mas interpenetráveis: “Não importa que nos seus apegos transnacionais, o
homem vá tão longe quanto se possa imaginar e torne-se um verdadeiro cidadão do mundo.
Sua condição de membro do grupo primário local parece, ainda assim, necessária para a
sua saúde pessoal e social” (175). Suas análises definem a posição assumida por Joaquim
de partir para uma conquista do universal sem perder o local. O conceito de tradução, tão
caro aos jovens, também tem que ser estendido para o projeto de recuperação das
trajetórias periféricas. Ao retratar um universo afastado, estava sendo empreendido um
movimento tradutório que completava a tradução de outras literaturas para a província.
Podemos definir todo este projeto, distinguindo-o da era provinciana, a partir do uso
de um conceito diferenciador: Joaquim era uma revista provincial. Ou seja, não buscava
simplesmente uma valorização localista, mas a sua superação. O termo provincial cifra
uma ruptura com o provincianismo, embora marque com precisão o lugar a partir do qual
se está fazendo a revolução literária. Joaquim demarca uma posição geográfica sem se
restringir a este espaço. É provincial por sua localização e não por sua ideologia. As
revistas jovens dos centros periféricos de cultura caracterizam-se então por um
provincialismo que transcende o provincianismo, fazendo esta passagem de um conceito
para outro e, conseqüentemente, a reinvenção da periferia.
JOAQUIM: MODERNIDADE PERIFERICA E DUPLA RUPTURA 873
Rompendo com os extremos, a revista se fixa nesta região estratégica que lhe permite
manter uma certa distância das ortodoxias artísticas. Se ela não era nem só local e nem só
universal, também não era nem modernista nem da Geração de 45. Enquanto espaço
agregativo, funcionava como elo de posições contraditórias, fazendo com que fossem
estabelecidas ações em frente dupla ou múltipla, fundando uma lógica de alternativas, em
que prevalece um desejo de habitar o tumultuado coração do agora.
Se Joaquim, sensível ao espírito destrutivo dos modernistas, também acolhia os
jovens menos iconoclastas, é inquestionável que o que a distinguia era seu poder crítico.
Segundo Walter Benjamim, o caráter destrutivo tem como objetivo primordial abrir
espaço e está ligado a uma idéia de rejuvenescimento, na medida em que quer garantir ar
fresco e terreno livre, opondo-se à lógica conservacionista: “o caráter destrutivo está no
fronte dos tradicionalistas. Alguns transmitem as coisas, tornando-as intocáveis,
conservando-as; outros transmitem as situações, tornando-as manejáveis e liquidando-as.
Estes são os chamados destrutivos” (237).
A necessidade de manejo é própria dos jovens que buscam desobstruir o campo
literário, criando espaço para suas edificações. Desejar a destruição daquilo que impede
o seu desenvolvimento é visto como uma tarefa positiva: “O caráter destrutivo não vê nada
de duradouro. Mas eis precisamente porque vê caminhos por toda parte. Onde outros
esbarram em muros e montanhas, também aí ele vê um caminho. Nem sempre com
brutalidade, às vezes com refinamento. Já que vê caminhos por toda a parte, está sempre
na encruzilhada” (Joaquim 237).
É com este caráter destrutivo que Joaquim investe contra os monumentos da
província classicizante, descobrindo os caminhos que levam ao mundo e ao subúrbio. A
ação liquidatória dos valores suspeitos define o seu parentesco com a geração modernista
enquanto o desejo de participar de seu tempo leva-a ao encontro dos coetâneos que estão
liquidando os próprios modernistas. Daí a posição fronteiriça da revista, embora seja
inegável a sua modernidade. A restauração do espírito combativo, nascido do excessivo
academicismo no Paraná, é sua face mais saudável. A província funciona, naquele período,
como uma reserva de revolta que, retomando 1922, dota a literatura dos anos 40 de uma
inquietação perdida.
BIBLIOGRAFIA
POR
son los principales puntos de análisis que conforman, en general, la agenda de intelectuales
y escritores venezolanos cuando piensan sobre la literatura de su país.
A riesgo de convertir estas páginas en una prueba que confirme el planteamiento de
Barrera Linares, cuya validez no discutiremos aquí, pienso que aún no se ha reflexionado
lo suficiente en Venezuela sobre esos tres problemas que he destacado en la cita anterior.
Y creo que la insuficiencia parte de que la mayoría de las veces dichos problemas han sido
planteados de forma aislada, sin relación unos con otros, lo que ciertamente no ha
resultado productivo. Si detallamos el fragmento de Barrera Linares, notamos que no se
establece entre los puntos que menciona ningún tipo de jerarquización ni articulación:
¿tienen todos el mismo peso o valor?, ¿podemos deslindar, por ejemplo, “la dicotomía
regionalismo/universalismo” de “el aislamiento nacional?” y éstos de “la escasa necesidad
de trascender las fronteras?” ¿No será, más bien, que si se acepta que los venezolanos
hemos ido construyendo una cierta identidad literaria a base de cuestionamientos y
negaciones, debemos poner en relación esos cuestionamientos y negaciones para
lograr –o al menos hacer el intento de– comprender por qué nos cuestionamos de esta
manera, por qué es que nos percibimos como nos percibimos?
En este sentido, creo que sería pertinente preguntar si no tendrá algo que ver el
perpetuo lamento acerca de lo poco reconocida que es la literatura venezolana en el
exterior con la queja constante sobre lo localistas de nuestros escritores –con contadas
excepciones. Creo que sería pertinente preguntar si no será que esa concepción dicotómica
876 MARÍA DEL CARMEN PORRAS
con la que al parecer percibimos la relación entre un espacio que nos pertenece (nacional)
y uno que nos sería ajeno (universal) nos impide ver que ese afuera que no es Venezuela
puede y quizás debería comprenderse a partir de categorías que dieran cuenta de su
complejidad y que, por lo mismo, permitiera establecer las conexiones necesarias entre el
proceso cultural nacional y el de otros espacios, tanto nacionales (otros países de América
Latina, por ejemplo), o supranacionales (la propia América Latina). Creo, así, que hay que
preguntarse si la dicotomía nacionalismo/universalismo ha sido la causa de que en muchas
ocasiones el debate en torno a la cultura y la literatura venezolana se mantenga dentro de
los estrechos límites que esta construcción establece. Y también creo que habría que
pensar por qué, aun generaciones intelectuales que hacen explícito su deseo de ruptura y
cambio con respecto al discurso establecido sobre la cultura nacional no rompen esta
dicotomía y, más bien, la mantienen en sus reflexiones.
Un caso que nos parece importante destacar en este sentido, es el de la generación de
los años sesenta, conocida en Venezuela como “la izquierda cultural”. El derrocamiento
de una dictadura militar de derecha en 1958 había determinado el inicio en el país de un
período democrático que se auguraba –por primera vez en toda la historia de vida
republicana– como medianamente duradero. Los jóvenes escritores e intelectuales que
prácticamente1 estaban empezando a tomar parte activa en la vida nacional durante esta
década encontraron en la estructura del grupo literario un medio por el cual hacer sentir
una voz de disidencia en un ambiente cultural que sentían dominado por la institucionalidad.
Los sesenta son, por ello, los años por excelencia de los grupos literarios en Venezuela y,
sobre todo, de sus revistas, pues la publicación periódica fue considerada por la izquierda
cultural como un efectivo instrumento de comunicación, que permitía establecer y
participar en discusiones del momento y, más importante aún, provocar el diálogo y la
polémica.
Sardio (1958-1961), Tabla Redonda (1959-1965), y Rayado sobre el techo (1961-
1964), las dos primeras, revistas de grupos literarios homónimos y la última vocera de “El
techo de la ballena”, son las tres principales publicaciones periódicas de estos años. Las
tres aparecen en Caracas y entre sus redactores y colaboradores se encuentran los nombres
de quienes durante varias décadas han constituido el establishment cultural nacional; así,
entre los integrantes del grupo “Sardio” (1955-1961) tenemos a Guillermo Sucre (1933),
Ramón Palomares (1935), Elisa Lerner (1932), Salvador Garmendia (1928-2001) y
Adriano González León (1931); los dos últimos serán miembros también de “El techo de
la ballena” (1961-1968) junto con Carlos Contramaestre (1933-1996), Caupolicán Ovalles
(1936-2001), Edmundo Aray (1936) y Juan Calzadilla (1931); finalmente Manuel
Caballero (1932), Rafael Cadenas (1932), Arnaldo Acosta Bello (1927) y Jesús Sanoja
Hernández (1930) componen el comité editorial de “Tabla Redonda” (1959-1965).
La relevancia, pues, de estas publicaciones en la construcción de ese “rostro propio
[...] imagen que nos permita reconocernos como espacio literario en el conjunto de países
1
Decimos prácticamente, pues algunos de ellos habían comenzado su labor en el campo de la
política, la literatura y el arte durante la dictadura de Marcos Pérez Jiménez. Guillermo Sucre y Jesús
Sanoja Hernández, por ejemplo, habían participado en Cantaclaro, revista del grupo homónimo, de
escasa duración –una sola entrega– publicada en 1950.
TRES REVISTAS LITERARIAS VENEZOLANAS 877
Por su situación política particular, Venezuela presentaba un cierto desfase con relación
a los demás países del continente. Los regímenes caudillescos o dictatoriales que la
habían oprimido desde su independencia habían obstaculizado el proceso intelectual,
impidiendo un desarrollo cultural orgánico como el que se había dado en otras
naciones latinoamericanas [...] Recién en ese año [1958], Venezuela nacía a la
democracia y se abría a un amplio debate ideológico, tanto tiempo reprimido. El
sentimiento de entrar en una nueva era, en ruptura total con el pasado, agitaba a la
mayor parte de la población, deseosa de grandes cambios (Vandorpe 78, énfasis mío).
¿Cómo reciben esta idea del retraso cultural nacional y se construyen como generación
ante ella los intelectuales y escritores venezolanos de los sesenta? La respuesta no es del
todo simple, aunque desde un comienzo en este trabajo hemos afirmado que esta
generación no resulta, en este sentido, tan cuestionadora como se esperaría de un
movimiento cultural surgido en esa década.
Así, una revisión detallada de Sardio, Tabla Redonda y Rayado sobre el techo daría
cuenta de cómo los puntos de contacto y de distanciamiento entre las propuestas estéticas
e ideológicas de cada grupo se articulan, en ocasiones, de forma contradictoria, de manera
tal que no siempre resulta fácil señalar con precisión las tendencias afines y las diferencias
que mantenían entre ellos.
Sardio, primera revista que aparece cronológicamente, está afiliada al proyecto
político socialdemócrata (representado por el partido Acción Democrática) que va a
2
En 1935 muere Juan Vicente Gómez, quien había gobernado al país desde 1908. Nelson Osorio
afirma que la expresión de Mariano Picón Salas “es una de esas frases que en cierto modo más que
de la realidad a la que apunta, dice de la perspectiva desde la cual se esta mirando la realidad. Para
toda una falange de intelectuales que vivieron su período de formación y adolescencia durante la
dictadura de Juan Vicente Gómez, se hacía necesario denunciar las ominosas condiciones de
castrados aislamiento que un régimen oprobioso hizo vivir al país” (17).
878 MARÍA DEL CARMEN PORRAS
dominar en el país una vez ganadas las elecciones realizadas a finales de 1958. Tabla
Redonda, que surge poco después de ella, se presenta como la respuesta que, en el plano
de lo cultural, lanza la izquierda más radical, específicamente, el Partido Comunista. Por
su parte, Rayado sobre el techo resulta una escisión de Sardio, escisión que hacen pública
en 1961 aquellos escritores e intelectuales que sentirán la necesidad de corresponder en
el medio literario y artístico con el movimiento de guerrillas que surge en el país por
entonces. Estas diferencias en la afiliación política son importantes para comprender las
ciertas tensiones que caracterizarán más de una vez el debate cultural entre los grupos,
aunque en el fondo no signifiquen profundas diferencias teóricas entre ellos; por ejemplo,
el problema del compromiso del intelectual, propio de esos años, provocará un continuo
enfrentamiento entre los grupos, y en diversas ocasiones cada uno fijará su posición frente
a la de los demás, intentando marcar la particularidad de su propuesta. En realidad, una
lectura de manifiestos y artículos con respecto a este tema muestra que el asunto del
compromiso era tratado de forma semejante por todos: así, los integrantes de Sardio
–supuestamente críticos (aunque no opositores) de la idea del compromiso– se muestran
tan irreductibles en su defensa de los postulados reformistas de la democracia naciente
como los de Rayado sobre el techo en su apoyo a las ideas revolucionarias de las guerrillas
–supuestamente paradigmas del compromiso.
Entonces, volviendo al problema del retraso cultural, deberíamos afirmar que, pese
al afán de independencia y distancia con que cada grupo se presenta frente a los otros, pese
a sus posturas políticas, todos ellos siguen, más apegados unos, más críticos y cuestionadores
otros, el camino de una modernización y puesta al día de la cultura nacional que desde su
primer manifiesto esbozan los integrantes de Sardio y que tiene como base la ya
mencionada dicotomía nacionalismo-universalismo.
Así califica Ángel Rama, uno de los primeros en trabajar sobre el proceso político-
cultural venezolano de los años sesenta, el proyecto que representa Sardio. El término
parece adecuado pues una revisión de los índices de las seis entregas que componen la
colección (dos de ellas números dobles)3 da cuenta de cómo en sus páginas se reúnen, en
una suerte de compilación antológica dirigida a un lector poco informado o escasamente
conocedor de las tendencias literarias mundiales desde comienzos de siglo, textos de y
sobre las vanguardias literarias europeas, relatos de autores norteamericanos y europeos
de la posguerra, así como reseñas sobre cine y música que comentan propuestas consideradas
novedosas para el ambiente cultural venezolano. En este sentido, uno de los principios
3
En realidad esta revisión no incluye la última entrega de la publicación, el Nº 8, que aparece en 1961.
Este número constituye, desde nuestro punto de vista, no el último de la colección de Sardio, sino
la presentación oficial del grupo “El techo de la ballena”. Varios indicios apunta hacia esta lectura:
a lo largo de toda la colección, la revista Sardio había seguido una numeración de página continua
que se rompe en esta ocasión; cambia el diseño de portada y de página; del comité de redacción
original, sólo se mantiene un nombre y en la lista de colaboradores aparecen la totalidad de los
integrantes del nuevo grupo, quienes aprovechan y publican en esta entrega sus primeros manifiestos.
TRES REVISTAS LITERARIAS VENEZOLANAS 879
[Para los sardianos] Como el primer paso consistía ponerse al día, romper con el pasado
insertando corrientes universalistas que lo cancelaran bruscamente, y como al mismo
tiempo su formación cultural todavía se hizo en la órbita de la influencia francesa con muy
escasos atisbos de la aportación renovadora norteamericana se remontaron a las vanguardias
de la primera posguerra en París: es el largo estudio sobre Dadá, de Georges Ribbemont-
Dessaignes que traducen, es la incorporación al español de textos de Antonin Artaud o
de Tristan Tzara; luego, de la segunda posguerra, también francesa: Adamov, Samuel
Beckett, etc. Tardíamente aparecerán Thomas Wolfe o Dylan Thomas, asimilados por su
impetuoso frenesí. (Rama, “Salvador Garmendia” 105)4
El índice de Sardio nos habla, por ello, de cómo los integrantes de este grupo
percibían al país y su cultura: provinciana, aislada y atrasada. Tal percepción se reafirma
en sus manifiestos; de esta manera, leemos en el primero de ellos: “Nuestra cultura parece
ayuna de ideas y problemas, como si aún viviéramos en una Arcadia de imperturbables
regocijos. Hay que poner de relieve una conciencia más dramática de la realidad y del
hombre” (Anónimo “Testimonio”, 3) y, con una expresión más radical, en el segundo:
Que las pasadas generaciones como tales y no como tránsito en ellas de grandes
individualidades, abandonaron el mundo de nuestra cultura a un dudoso juego de
intereses personales, de caprichos y de mistificaciones y que no supieron recrear a
plenitud la avasallante y siempre desasosegada realidad de nuestra existencia, lo viene
a mostrar el mismo desarrollo de la vida venezolana en todas sus manifestaciones [...]
Antes que seres requeridos por una vocación o por las determinantes de la inteligencia,
hemos tenido a todo lo largo de nuestra cultura pequeños aprendices de ‘mandarines’ [...]
Con una irresistible seducción por el prestigio superficial o por una gloria aldeana, se
embriagaron con elogios mutuos y acomodativos [sic], hasta el punto de que hicieron arte
e institución de esa despreciable y ya proverbial “política literaria”. (Anónimo “Constantes”
279)
4
Si revisamos más detenidamente no sólo encontraremos estos textos que señala Rama. También
podremos hallar un ensayo sobre Albert Camus (Nº 1), una reseña sobre la escritora Carson
McCullers (Nº 2), un ensayo de Claude Roy sobre André Malraux (Nº 2), una nota sobre Federico
Dürrenmatt, otra sobre John Osborne (ambas en el Nº 5-6), y la reproducción parcial de una
entrevista a Jean-Paul Sartre tomada del semanario L’Express (Nº 7).
880 MARÍA DEL CARMEN PORRAS
Para Rama, a pesar de que “hubo deformación, tristemente frivolona a veces, del afán
de modernización [en Sardio], respondía éste sin embargo, a una exigencia real y auténtica
del momento” (“Salvador Garmendia” 104). De allí que considere bastante fiel el retrato
que en la publicación se llevó a cabo de la realidad cultural venezolana: “[...] debe
reconocerse la imperiosa necesidad de élites rigurosas que tenía la cultura venezolana, no
para educar a las masas solamente, sino para modernizar al país y ponerlo al día” (104),
afirma, y añade con respecto a la literatura: “Las remanencias folklóricas resultaban
agobiantes, así como la literatura moralizadora a la que sigue adherida una clase burguesa
[...] el agobiante modelo de Rómulo Gallegos o Andrés Eloy Blanco [...] válidos en su
tiempo y respetables en su honrada invención artística, ya no servían a los jóvenes
creadores” (104). Sin embargo, es curioso, en este sentido, que Rama considere como
“distingo correcto” el que Sardio planteara que “‘No confundimos universalidad con
cosmopolitismo’” (Anónimo “Testimonio” 1) y no analice con mayor detenimiento de qué
forma la expresión de sus manifiestos, sus artículos, y hasta sus reseñas, negaban esta
afirmación y esta distinción que él encuentra tan clara. Lo que Sardio identifica con
universal es, por supuesto, lo occidental, entendido como una categoría atemporal, fija en
el tiempo. Por ello, el retrato que se ofrece de la cultura nacional, está cruzado y marcado
por ella.
De allí que para los sardianos, la educación sea asumida como un medio por el cual
“[incorporar] a nuestro pueblo al goce profundo de los grandes valores del espíritu”
(Anónimo “Testimonio” 2). Los sectores populares, por tanto, desde la perspectiva de
Sardio, parecerían carecer de valores culturales; sin embargo, lo que quieren resaltar los
sardianos no es que el pueblo carezca de dichos valores –“Respetamos en el folklore y en
nuestras mejores tradiciones el alma esclarecida del pueblo [...]” (3)– sino que ellos, en
el estado en que se encontraban, no eran suficientes para insertarse a lo universal: “Para
asumir la gravedad de nuestro destino histórico requerimos la presencia de un pueblo
luminoso y creador, sensible al imperio de las ideas y de la verdad” (2).
Notemos cómo, desde este primer manifiesto, y a lo largo de su colección, es marcada
la tendencia de Sardio a preferir hablar “del hombre”, “de la patria”, en general y un tanto
grandilocuentemente que a expresar sus propuestas con respecto a la cultura nacional de
manera más directa y concreta. Si su segundo manifiesto comienza con la siguiente
afirmación: “Acaso esta nueva entrega requiera una definición más radical y exigente de
nuestra revista; pero no una altisonante y pretenciosa formulación de principios” (Anónimo
“Constantes” 227), tal propósito parece perderse unas líneas más abajo:
Esta forma de enunciar sus postulados está estrechamente vinculada con la perspectiva
desde la que veían al país –desde afuera y desde arriba– y con el proyecto de futuro que
planteaban:
TRES REVISTAS LITERARIAS VENEZOLANAS 881
El hombre de hoy está volcado hacia una experiencia más vasta y compleja, que sería
inútil simplificar con limitaciones regionales o partidistas, y está urgido por anhelos
profundos de universalidad. Orientados hacia esa gran experiencia es como debemos
tratar los problemas nacionales. Es imperioso elevar a perspectivas más universales los
alucinantes temas de nuestra tierra. (Anónimo “Testimonio” 3, énfasis mío)
En cierta forma, lo que afirma Rafael Cadenas desde una entrevista en Tabla Redonda
con respecto a la poesía nacional puede aplicarse a la retórica de los manifiestos de Sardio:
Siento [que] le falta frescura, desnudez, audacia. Tenemos miedo a llamar las cosas por
su nombre, miedo a las palabras, miedo a decir lo que sentimos, miedo a la claridad, al
claroscuro y la oscuridad, miedo a apartar prejuicios, miedo a ser nosotros mismos, miedo
a que sea social o individual, miedo a que se desmande, miedo a que no guste, miedo a
que penetre las grutas del ser, miedo a la elocuencia, miedo a todo lo que pueda nutrirla.
(2)
Interesa sobre todo destacar la última palabra de las declaraciones de Cadenas: nutrir.
Y es que lo que más necesitaba ser nutrido durante esta época era justamente el debate
sobre la cultura nacional y sus problemas. Quienes escriben en Tabla Redonda consideran
que es esto lo que hacían al publicar su revista. Y, por ello, a manera de crítica, este grupo
será parco a la hora de establecer posiciones de conjunto, y preferirá la opción de los
882 MARÍA DEL CARMEN PORRAS
Existe (siempre ha sido así) la posibilidad de que una generación joven se enfrente con
sentido crítico, de examen de análisis, a otro de curso casi andado y cuya actitud suele
ser en esta hora, la de inventario, la de resumen [...] Los jóvenes no rechazamos tal
herencia, conscientes como estamos de que con ella podría elaborarse un pensamiento
más tradicional, tomando esta palabra, desde luego, como algo que concede un sentido
de solidez, de estructuración por un proceso de rupturas y acomodamientos y no como
simples ensambles y eslabonamientos, que no constituirían otra cosa sino un crecimiento
por yustaposición [sic] y una pérdida de criterio. (4)
procedentes de una militancia partidista de izquierda y con una formación teórica más
desarrollada, renovaron las tesis de la responsabilidad del intelectual peculiares del
comunismo, poniendo en evidencia el fenómeno que escapaba a Sardio: la lucha de clases
[...] Los “sardianos” se circunscribían a sus orígenes medioburgueses, a su rebeldía de
tipo individualista y a su devorante preocupación por los niveles de capacitación
intelectual y artística. (“Salvador Garmendia” 103-104)
Rama aquí parece darle demasiada importancia (o única importancia) a las diferencias
ideológicas entre los grupos, que, por supuesto, hay que señalar. Ahora bien, si tomar en
cuenta la lucha de clases quiere decir que desde Tabla Redonda se trató de reflexionar de
manera más directa y concreta (quizás ésta última sea la palabra clave) sobre el país, si se
trata de que Tabla Redonda presenta una agenda más realista con respecto a la problemática
de la cultura, pues el planteamiento de Rama resulta acertado. En este sentido, si revisamos
el índice de Tabla Redonda, ciertamente no tendremos esa imagen antológica característica
de Sardio: más artículos que textos narrativos o poéticos; más crítica, diálogo y polémica
con el entorno cultural nacional.5
La polémica, hay que reconocerlo, se centró en Sardio. De hecho, el primer número
de Tabla Redonda abre con un artículo crítico de Arnaldo Acosta Bello que responde a un
comentario un tanto negativo sobre Pablo Neruda que Guillermo Sucre había publicado
en Sardio. En el segundo número, Jesús Sanoja Hernández y Acosta Bello contestan la
réplica que Sucre escribe en un suplemento literario de El Nacional, periódico caraqueño
de circulación nacional. Esta polémica, con ser una de las más conocidas de entonces,
interesa no tanto por el problema en sí que se discute (el valor de la poesía “más
5
La definición que de ella ofrece Guillermo Sucre a raíz de la publicación de su primer número hace
evidente la distancia entre Sardio y Tabla; así, Sucre la denomina “suerte de gaceta literaria,
polémica y decidida en sus planteamientos” (“Sobre Tabla Redonda” 3).
TRES REVISTAS LITERARIAS VENEZOLANAS 883
comprometida” de Neruda) sino porque señala la posición que los integrantes de Tabla
Redonda escogerán –o se verán obligados a hacerlo– para participar en el debate cultural
de entonces. Sanoja Hernández nos lo muestra claramente en su contestación a Sucre: tras
cuestionar la debilidad conceptual del artículo, el autor apunta hacia la perspectiva de
análisis que él considera más productiva:
Al arte lo juzgamos más que como un club de magnates, más que como un monopolio
contra el cual nada o poco se hace en el terreno creador, como una actividad donde hay
obra, tendencia, crisis, doctrina, clase social, actitud generacional, defensa y ofensa
políticas, genio, pobreza, servicio y servidumbre” y como conclusión afirma: “es la
trinidad de posibilidades que presento a Guillermo Sucre –que ‘Tabla Redonda’ presenta
a ‘Sardio’–, en espera de que el diálogo florezca y produzca y de que no se reduzca una
vez más al monólogo que tras de sí ha arrastrado cada generación o cada prestigio
intelectual (“Notas” 2).
Presentar una respuesta a Sardio, ofrecer opciones para el diálogo y esperar que éste
acontezca: éste será el papel de Tabla Redonda. Es, en gran medida, un papel secundario,
como si el hecho de haber aparecido meses antes los limitara a una constante posición de
contestación y cuestionamiento de Sardio.
En ese sentido, las precisiones que Tabla Redonda hacía eran necesarias y acertadas,
pues señalaban las ambigüedades y vacíos de un discurso sobre la cultura que, como hemos
afirmado antes, parecía abstraerse de su entorno concreto:
6
Parte de esta polémica puede leerse en: Juan Liscano. Tiempo desandado.
884 MARÍA DEL CARMEN PORRAS
Para Sanoja Hernández, la posición asumida por González León se caracterizaba por
su extremismo: su repudio a los valores de la narrativa criollista se percibía tan exagerado
y simplificador como su exaltación de la obra de Kafka. La estrategia principal utilizada
por González León,
daría cuenta de cómo este autor, “manejando, pues, verdades evidentes, como el
estancamiento más o menos general a partir de Gallegos y la falta de un enfoque creador
diferente, [...] nos pone en el disparadero de elegir una u otra cosa, aunque previamente
nos haya orientado hacia la suya” (3). Sanoja Hernández descubre el funcionamiento de
la dicotomía nacionalismo-universalismo que compara con otras:
revela sagacidad oponer términos como apolíneo y faústico, reducir estilos a clásicos y
románticos, pedir arte urbano una vez que el rural caduca, hablar de comunicación
cuando el hermetismo ahoga, sostener behaviorismo al momento en que la instrospección
quiebra, abrazar el realismo si el abstraccionismo no rinde, hacer esto o lo otro aunque
siempre apoyándose en antagonismos de contrarios [...] revela sagacidad, pero no es, a
mi modo de ver, un signo de lealtad ante los problemas reales que necesitan un examen
interno más profundo, menos mecánico. (3)
Recordemos una cita anterior, en la que también Sanoja Hernández lanza una
propuesta a Sardio, representada aquella vez por Guillermo Sucre. Igual que en esa
ocasión, la alternativa frente a los planteamientos sardianos aparece simplemente esbozada;
de esta manera, si buscamos un mayor desarrollo de la propuesta en el texto, no lo
encontraremos, lamentablemente. Encontraremos aproximaciones a lo que necesita la
novelística nacional: “la búsqueda de la realidad, [...] los sucesos comunes y la agitación
social, la historia y el fenómeno circundante” (4), “Y si queremos transformar el lenguaje
TRES REVISTAS LITERARIAS VENEZOLANAS 885
aldeano y la sensiblería patriotera para buscar una nueva narrativa, ¿no tomaremos en
cuenta el mundo, la realidad novelística tal como se presenta, el sistema de la
contemporaneidad?” (4 destacado en el original), pero no mucho más. De hecho, la
conclusión de este artículo no se corresponde con el nivel de discusión con que se venía
desarrollando el mismo: “Tal vez por eso urge mayor reflexión, una mejor disciplina, más
conciencia. Como fuera, la circunstancia de que discuta ahora sobre novelística [...] es hoy
motivo de aliento” (5).
De esta manera, marginados, más que nada por ellos mismos, a una posición
secundaria con respecto a Sardio, los integrantes de Tabla Redonda en realidad no
lograrán articular propuestas que constituyan opciones diferentes, de cambio, frente al
discurso modernizador de Sardio.
Las estrategias para llevar a cabo eso que señalan en el fragmento citado serán varias
y, algunas de ellas, únicas del grupo durante la década; por ejemplo, el humor, que se
encuentra presente en la mayor parte de las publicaciones, exposiciones y actos del grupo.
Ellos mismos así lo reconocen cuando se sienten obligados a señalar que “no queremos
proclamarnos sacerdotes del absurdo y menos aún de la burla, categorías que todos ya
hemos superado. El absurdo y la burla serán tan sólo medios de expresión y nada más”.
(Anónimo “Pre-manifiesto” 136).
Quizás más sinceros o más directos que los sardianos, los balleneros reconocen su
deuda con las vanguardias europeas: “pareciera que todo intento de renovación, más bien
de búsqueda o de experimentación, en el arte, tendiera, quiérase o no, a la mención de
grupos que prosperaron a comienzos de este siglo, tales Dadá o el Surrealismo” (3),
aunque enseguida maticen tal filiación:
886 MARÍA DEL CARMEN PORRAS
Si bien es cierto que tenemos muy en cuenta esas experiencias, al fundar el Techo de la
Ballena, no pretendemos revivir actos ni resucitar gestos a los que el tiempo ha colocado
en el justo sitio que les corresponde en la historia [...] No pretendemos situarnos bajo
ningún signo protector; queremos, eso sí, insuflar vitalidad al plácido ambiente de lo que
se llama cultura nacional. (136)
Es ya un lugar común hacer alusión a la radicalidad con que este grupo asumió tal
tarea y la conmoción que en ocasiones causó: una exposición como el “Homenaje a la
necrofilia”, donde fueron exhibidos, entre otras cosas, cuerpos de reses sacrificadas,
escandalizó al país en 1962 y ese mismo año la publicación en las ediciones del grupo del
libro de Caupolicán Ovalles, ¿Duerme usted, señor presidente?, largo poema especialmente
crítico y duro contra Rómulo Betancourt obligó a su autor a abandonar el país debido a
las represalias del gobierno, de las que no escapó su prologuista, González León, quien fue
detenido. En ese sentido, Rama asegura que “El Techo de la Ballena propuso una revisión
drástica de los valores culturales vigentes y una transmutación de la literatura y el arte que
se ejercían en el país, todo ello al servicio de un proyecto militante, contemporáneo, de
apoyo a la insurgencia revolucionaria” (Rama, “Salvador Garmendia” 122). La afiliación
política que señala Rama es fundamental: como los mismos balleneros lo expresarán en
su segundo manifiesto:
Si [los balleneros] fueron menos cultos que los escritores de la “mafia” mexicana [...] o
que los “jefes” de la poesía concreta de Sao Paulo [...] y por consiguiente su esfuerzo de
modernización se situó preferentemente en la adopción de la contribuciones ya consolidadas
del surrealismo francés, con el agregado del descubrimiento de la poesía beatnik
norteamericana [...] en cambio fueron capaces de un planteo político y social [...] de un
esfuerzo sistemático para integrar los distintos orbes de la vida humana –social, político,
estético, vital– en un solo movimiento urgido. (Rama, “Salvador Garmendia” 123)
Más apegados a la realidad y a la acción que los sardianos y más decididos en sus
propuestas que los integrantes de Tabla Redonda, los balleneros parecieran haber
superado las limitaciones de esos dos grupos anteriores. Hay que reconocer sin embargo
que de su herencia sardiana les quedó la afición por el manifiesto y los textos programáticos,
como también su estrecha vinculación con las literaturas europeas y norteamericanas.
¿Encontraron ellos la posición alternativa a la dicotomía universalismo-nacionalismo?
Al menos, son los que más se acercan. De esta manera, González León diferencia,
en el mundo externo a Venezuela, un espacio con el que, considera, el país tiene
particulares conexiones de pertenencia:
TRES REVISTAS LITERARIAS VENEZOLANAS 887
Quizás empujados por el momento histórico que vivieron y que determinó en gran
medida su aparición como grupo y las actividades más importantes y recordadas,7 las
guerrillas), los balleneros lograron eludirse de la discusión sobre el retraso de la cultura
nacional y, por tanto, de la dicotomía nacionalismo-universalismo, pues se concentraron
únicamente en el ambiente nacional y así descubrieron lo que éste les ofrecía para trabajar
y que parecía haber sido despreciado hasta entonces: “las barriadas miserables, los
basurales, la violencia legalizada, la brutalidad y la concupiscencia del poder” (Rama,
“Salvador Garmendia” 137).
Por otro lado, y dadas las características y lo “productivo” de los “diálogos” entre
Sardio y Tabla Redonda, los balleneros dejan de lado la discusión y plantean la necesidad
de asumir la escritura y el arte como acción: “vivir es urgente / de ahí que la ballena para
vivir no necesita saber de Zoología [...] pocas realidades son tan emocionantes como un
hombre que rompe con todas las liturgias del lenguaje” (Anónimo “El gran magma”).
La discusión, pues, sobre las relaciones entre la cultura nacional y una supuesta
cultura universal, les pareció superflua y así, a través del humor, se burlan de ella: “¿Por
qué la ballena?, preguntó alguien [...] ¿por qué la ballena, elemento austral o boreal, y no
un caimán, tan vivo y bien criadito en nuestros paraísos tropicales [...] porque hubiera sido
fácil elegir el caimán. O porque hubiera sido de señoritos estetas elegir el hipocampo”
(González León, “¿Por qué la ballena?” 3-4).
Sin embargo, y a pesar del tono irónico, la escogencia de la ballena como símbolo del
grupo quizás pueda resultar una vía para comprender de qué manera, aunque sin hacer de
ello tema de artículos o polémicas, los balleneros afrontaron las relaciones entre una
cultura nacional y otra diferente, externa, ya sea universal o latinoamericana. Fue Carlos
Contramaeste, el principal artista plástico del grupo quien había leído en Antiguas
literaturas germánicas (1951) de Jorge Luis Borges una definición del mar que había
llamado su atención: “techo de la ballena”. La decisión de colocar bajo este nombre al
grupo quizás pueda considerarse producto del azar, pero si pensamos que para los
balleneros, la consideración de la escritura y arte como acción es uno de sus lemas, es
probable que ese gesto no sea gratuito. De esta manera, González León afirma en el texto
de su autoría que hemos venido citando:
7
Entre 1961 y 1963 el movimiento guerrillero venezolano realiza sus más sonadas acciones: en 1962,
levantamientos militares en las ciudades de Carúpano (Estado Sucre) y Puerto Cabello (Estado
Carabobo), conocidos como el “Carupanazo” y el “Porteñazo”, respectivamente, y en 1963 el asalto
al Tren del Encanto en el Estado Aragua.
888 MARÍA DEL CARMEN PORRAS
la ballena está en el medio de la bondad y el horror, sujeta a todas las solicitaciones del
mundo y el cielo, con su vientre dignísimo que se ríe de Jonás y engulle un tanquero de
petróleo, toda extendida de uno a otro extremo de la tierra, que casi es la tierra misma o
es pájaro minúsculo que picotea su diente careado [sic] en el cual nadan los peces. Esa
amplitud natatoria, ese deslizarse frenético [...] Ese empuje hacia lo desconocido que
puede acrecentarnos la razón de vivir y contaminar los instrumentos de una substancia
corrosiva que cambie la vida y transforme la sociedad. (González León, “¿Por qué la
ballena?” 4)
La ballena es la totalidad: es aquello que desborda fronteras, que cruza territorios, que
avanza en el mar, al fin de cuentas, más fácil de atravesar que la tierra. La modernización
propuesta por Sardio distinguía cultura nacional de cultura universal; quienes escribían
en Tabla Redonda avistaron, pero no definieron, un territorio alternativo que rompiera con
tal dicotomía; los balleneros sueñan con un espacio donde lo nacional, lo latinoamericano,
lo universal se entremezclen. ¿Fue suficiente el sueño? Ciertamente que no. Los balleneros
marcaron sus acciones con un fuerte tinte de utopía, lo que habla de cómo ellos mismos
percibían la cierta irrealidad de sus propuestas. De esta manera, la herencia idealista de
los sardianos pesaba en ellos más de lo que se atrevían a admitir.
V. A MODO DE CONCLUSIÓN
8
Doña Inés contra el olvido ganó el Premio de Novela de la I Bienal Mariano Picón Salas (1991),
realizada en Mérida (Venezuela). Con esa misma novela, la autora ganó en 1998 el Premio
“Pegasus”, otorgado por la Mobil Corporation. En este año, otra novela de Torres, Los últimos
espectadores del acorazado Potemkin quedó finalista del Premio de Novela “Rómulo Gallegos” de
este año.
TRES REVISTAS LITERARIAS VENEZOLANAS 889
ellos, que los llevaría a “sabotearse” el trabajo, la bien intencionada pero no siempre
efectiva política editorial por parte del Estado. No menciona algo que parece más evidente:
que esta idea del aislamiento nacional es una percepción que los propios escritores
venezolanos alimentan y nutren. Ese sentirse no pertenecer a nada más sino a un país, sin
conexiones aparentes con nada más en el mundo ha marcado gran parte de la propia
reflexión sobre la literatura nacional.
BIBLIOGRAFÍA
_____ “Alejo Carpentier: Guerra del tiempo”. Sardio 2 (julio-agosto 1958): 164-66.
Torres, Ana Teresa. “De un cierto malestar en la literatura venezolana”. A beneficio de
inventario. Caracas: Editorial Memorias de Altagracia, 2000: 7-11.
Vandorpe, Yasmine-Sigrid. “Los testimonios de Sardio”. Revista Nacional de Cultura
292-293 (1994): 77-87.
Revista Iberoamericana, Vol. LXX, Núms. 208-209, Julio-Diciembre 2004, 891-913
RESISTÊNCIA E CRÍTICA
REVISTAS CULTURAIS BRASILEIRAS NOS TEMPOS DA DITADURA
POR
A resistência tem sido uma das principais chaves explicativas para se tratar da
literatura e da cultura no Brasil durante a ditadura militar. Nesse período, a palavra
“resistir” tem seu sentido potencializado, inclusive pelas metáforas bélicas que transformam
editores em partisans, livrarias e revistas em trincheiras, ou poemas em armas, incorporando
aos atos culturais plus de sentidos, imersão na historicidade e forma de validação. Resistir
culturalmente constituía ato único e legítimo a ser empreendido pela intelectualidade
brasileira “progressista” diante do inimigo comum, o regime militar.
Neste cenário dicotomizado, não resistir significava aderir; não ser “progressista”, ou
“de esquerda”, significava ser “conservador”, ou “de direita”. Reconhecida como valor
dentre as faixas de população mais escolarizadas e politizadas, a resistência irá caracterizar,
fomentar e distinguir a produção cultural, cujos produtos passam a desfrutar de um público
crescente ou seja, passam a contar, ironicamente, com um mercado em expansão, que dará
forte acolhida e prestígio à chamada “imprensa alternativa”1 e às revistas culturais
publicadas sob o signo da resistência, partícipes, assim, do processo de modernização
capitalista em curso.
Esse periodismo de resistência surge, se fortalece, entra em declínio e desaparece no
mesmo compasso de sua eliciadora contra-face, a ditadura militar, que, ao tentar coibi-la,
acabou fomendo a melhor parte da produção cultural do período. E por isso mesmo talvez
não seja fora de propósito pensar aqueles anos também como “anos eufóricos”, apesar (ou
por causa) do “manto negro” da ditadura. Tal paradoxo se explicita na voz do editor Ênio
Silveira que, ao rememorar suas atividades à frente da Editora Civilização Brasileira,
destaca, com indisfarçável orgulho, sua reação às perseguições sofridas durante a ditadura
militar e a legitimação daí decorrente:
1
Kucinski prefere o termo “imprensa alternativa” a “imprensa nanica” (ambos usados à época) como
o mais apropriado para designar os cerca de 150 periódicos surgidos e desaparecidos entre 1964 e
1980, “que tinham como traço comum a oposição intransigente ao regime militar”. (XIII) Restringe
sua análise aos jornais e seus jornalistas, à questão da imprensa propriamente dita, deixando de
abordar revistas como a Civilização Brasileira ou Teoria e Prática, embora mencione Argumento.
Tratarei desses periódicos mais adiante.
892 MARIA LUCIA DE BARROS CAMARGO
Além da atuação pessoal de Ênio Silveira, que fizera de sua editora a mais ativa e
prestigiada da época, não há dúvida quanto ao principal elemento simbólico dessa
“resistência cultural e democrática”: foi o lançamento, em março de 1965, da Revista
Civilização Brasileira, marco inaugural da resistência ao golpe militar exercida nas e pelas
revistas culturais.3 A mesma voz retrospectiva de Ênio Silveira, sem falsas modéstias, diz:
Marco refulgente dessa fase foi a edição da Revista Civilização Brasileira, que teve curso
de maio de 1965 a dezembro de 1968, sendo interrompida com a promulgação do Ato
Institucional no 5 (...), e ressurgiu, teimosamente, sob o nome Encontros com a
Civilização Brasileira, de julho de 1978 a julho de 19804 (sic). Considerada nos meios
culturais e universitários do Brasil e do mundo inteiro como um padrão de dignidade da
intelligentsia brasileira diante das forças do obscurantismo, essa publicação, em suas
duas fases, constitui um dos maiores galardões de minha carreira e marcará para todo o
sempre a presença da editora na história cultural do país. (Félix 77-78)
2
Trata-se do discurso de posse como membro titular do Pen Club do Brasil, pronunciado em 20 de
agosto de 1991.
3
Kucinski considera que o “ciclo alternativo”, ou de resistência, se inicia com o lançamento do
tablóide humorístico Pif-paf, em junho de 1964, o que é verdadeiro se tomarmos como objeto de
análise todo o periodismo cultural. Neste artigo, contudo, tento restringir-me às “revistas literárias
e culturais”, mesmo que, muitas vezes, as diferenças entre os jornais alternativos e as revistas
culturais sejam tênues. Como não há espaço aqui para discutir tais nuances, assumo a auto-
denominação do periódico como critério classificatório.
4
A Encontros com a Civilização Brasileira, publicada até 1981, foi definida por Ênio Silveira, no
editorial do no 1, como “uma coleção de livros aberta a todas aquelas tendências que a evolução do
pensamento social e científico vem configurando como a atual e plurificada face do humanismo
contemporâneo. [...] amplia a linha de conduta intelectual que, de 1964 a 1968, cercou de tanto
apreço a Revista Civilização Brasileira(...).” (7-8) Comparando as duas séries, é difícil dizer o que
faria da segunda uma coleção de livros e não uma revista, e vice-versa.
5
O no 1 sai com 303 páginas; o no 7, de maio de 1966, chega a ter 478 páginas, que são reduzidas
a cerca de 260 a partir do no 13. À época de seu lançamento, a revista terá como “diretor responsável”
Ênio Silveira e como secretário Roland Corbusier.
RESISTÊNCIA E CRÍTICA 893
6
Sem assinatura na revista, o editorial é oficialmente creditado ao Conselho de Redação; Moacyr
Félix, no entanto, atribui ao editor o crédito dos editoriais dos nos 1 e 13, ou seja, o de lançamento
e o de comemoração dos dois anos da publicação. (Félix 383)
7
A revista marca sua posição de resistência ao regime desde o ato de nomeá-lo: enquanto nos textos
oficiais usam-se as denominações “Movimento de março de 1964”, “Revolução de março”, ou ainda
“a redentora”, tais termos aparecem, quando enunciados para o mesmo evento na Revista Civilização
Brasileira, sempre repetidos entre aspas, em chave irônica, contrapondo-se como denominação
“golpe militar”, “golpe de abril”, ou ainda o predileto “o golpe de 1o de abril”, acentuando o sentido
de fraude que a data comporta.
8
Estou falando de intelectuais como Antonio Callado, Astrojildo Pereira, Barbosa Lima Sobrinho,
Caio Prado Jr., Carlos Heitor Cony, Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Fernando de Azevedo, Fernando
Henrique Cardoso, Florestan Fernandes, Francisco Weffort, Francisco de Oliveira, Glauber Rocha,
894 MARIA LUCIA DE BARROS CAMARGO
Não se deve inferir (...) que a Revista será ecumênica ao ponto de abranger todas as
correntes de pensamento. É preciso deixar bem claro que não somente repudiará, como
abertamente combaterá tudo aquilo que admitir como válida ou moralmente correta a
presente estrutura sócio-econômica do Brasil ou entender como inevitável e até mesmo
necessária a submissão dos interesses nacionais aos das grandes potências, sejam elas
quais forem. (1:4)
Gustavo Dahl, Jânio de Freitas, Jean-Claude Bernadet, José Arthur Giannotti, Leandro Konder,
Osny Duarte Ferreira, Otto Maria Carpeaux, Paul Singer, Rogério Duarte, Roberto Schwarz,
Sebastião Uchoa Leite, além dos integrantes do Conselho de Redação, composto por Alex Viany,
Álvaro Lins, Antonio Houaiss, Cid Silveira, Dias Gomes, Edison Carneiro, Ferreira Gullar, Haiti
Moussatché, M. Cavalcanti Proença, Moacyr Félix, Moacyr Werneck de Castro, Nelson Lins e
Barros, Nelson Werneck Sodré, Octavio Ianni, Paulo Francis, Oswaldo Gusmão. A explicitação dos
nomes que integram o Conselho desaparece da revista a partir do n.5/6, de março de 1966.
9
Essa “militância em prol do Brasil” marcará o discurso de algumas gerações, legitimando posturas
igualmente autoritárias à direita e à esquerda e nos vários campos culturais, como o debate gerado,
ainda nos anos 60, em torno da “pureza” da música popular brasileira diante das guitarras elétricas
incorporadas pelo tropicalismo, mas não pela Revista Civilização Brasileira, ou, na década
seguinte, as discussões sobre as “patrulhas ideológicas”.
10
O no 1 apresenta-se dividido nas seguintes seções: Política Nacional, Política Internacional,
Economia, Literatura, Cinema, Teatro, Artes Plásticas, Música, Documentário. Tal estrutura se
mantém, com alguns acréscimos ou supressões até o no 11/12, mantendo-se daí em diante apenas o
rol dos artigos sem divisão em rubricas. Seções acrescidas em alguns números: Problemas Culturais
e Filosóficos, Problemas Sociais e Políticos, Ciência e Tecnologia, Cultura Popular, Direito.
RESISTÊNCIA E CRÍTICA 895
11
Discutem-se, por exemplo, inflação, dívida externa (e as pressões do FMI), pobreza, desigualdade,
reivindicações trabalhistas, saúde, alfabetização, ciência e tecnologia, universidades (incluindo-se
a denúncia do acordo MEC-USAID), industrialização, a questão agrária (com análises do “estatuto
da terra” e da reforma agrária), questões raciais e de gênero (sim, a revista já publica textos sobre
a posição da mulher na sociedade), e por mais que pareça estarmos nos referindo a temas do fim
do século XX e início do século XXI, eles já estavam lá, na segunda metade da década de 60, na Revista
Civilização Brasileira.
12
Exemplos desse discurso de oposição explícita ao governo militar, muitas vezes militante e
panfletário, são as duas irônicas e duras cartas abertas que Ênio Silveira dirige ao Marechal Castelo
Branco, inspirado nas cartas de Norman Mailer a John Kennedy. Na primeira delas, “Sobre o delito
de opinião” (3: 3-11), o autor explicita sua defesa das liberdades individuais, seu nacionalismo, sua
oposição ao regime imposto pelos militares, sua luta histórica, suas recentes prisões por “delito de
opinião”, defendendo as posições que o tornaram “subversivo” aos olhos do governo do Marechal,
não sem antes ironizar: “O Senhor poderia argumentar que eu não sou Norman Mailer; mas o Senhor
também não é John Fitzgerald Kennedy.” (4) E para conclui, reitera: “O ‘delito de opinião’, Senhor
Marechal, é o crime que devemos todos praticar diariamente, sejam quais forem os riscos. Se
deixarmos de ser ‘criminosos’, nesse campo, seremos inocentes... e carneiros.” (p.11) Não é preciso
lembrar que a censura prévia ainda não estava instalada no país.
13
A título de exemplo, vale citar o dossiê-documentário “O ‘IPM DA FEIJOADA’: a prisão de Ênio
Silveira”, cuja irônica apresentação transcrevo aqui: “Tendo oferecido uma feijoada ao governador
Miguel Arraes de Alencar e a outros amigos, o editor Ênio Silveira foi acusado de lhe haver dado
guarida em sua residência, antes que aquele político se asilasse na embaixada da Argélia. A
acusação, infundada, lhe valeu prisão de 9 dias, determinada pelo Coronel-Intendente Gerson de
Pina. O objetivo verdadeiro dessa violência, no entanto, era o de intimidar o editor, a fim de que ele
não continuasse a exercer sua atividade como o vinha fazendo. Esse novo atentado à liberdade de
opinião causou generalizada repulsa em todo o país; reunimos nesse documentário alguns artigos
e editoriais da imprensa, o Manifesto de 600 intelectuais brasileiros e o texto completo do habeas-
corpus impetrado ao STM pelo advogado do editor, Professor Heleno Cláudio Fragoso. Entre os
editoriais figura, como exceção lastimável, pelo que tem de inoportuno e tendencioso, o do Jornal
do Brasil, de 28.5.1965.” (3: 341). Sobre este caso, ver ainda Gaspari (230-232).
14
Também como exemplo cito “Terrorismo cultural” (1:239-297), relato “cujo título tomamos
emprestado” (239) de artigo de Alceu Amoroso Lima. Nele a Revista faz um balanço / denúncia da
896 MARIA LUCIA DE BARROS CAMARGO
situação dos intelectuais e da cultura no Brasil, tomando como uma das considerações preliminares
que “o golpe de abril não foi manso; muito ao contrário, foi sangrento, terrorista, brutal” (1:240),
para, denunciando as arbitrariedades e violências cometidas desde abril de 1964, com farta
exemplificação do ataque a intelectuais, universidades, religiosos, artistas, cientistas, estudantes e
escritores, concluir: “o que existe, hoje, neste país, é um imenso, gigantesco e ignominioso IPM
contra a cultura.” (1:297). À página 278, denuncia-se que Gilberto Freyre “dedodurara mestres” da
Universidade do Recife, segundo o ex-reitor da instituição.
15
“A Revista Civilização Brasileira não ignorará as experiências estrangeiras, naquilo que possam
conter de colaboração útil ao processo nacional. (...) Não será tolhida por um nacionalismo
sentimentalóide e estreito, mas por certo não cairá nos esquemas geopolíticos, nos planejamentos
estratégicos continentais que o State Department e o Pentágono idealizam e que certas figuras da
política nacional executam.” (1:3-4)
16
Como se sabe, o Partido Comunista Brasileiro era alinhado ao Partido Comunista Soviético da era
Khrushchev (ver Brasil: nunca mais 91). A Revista dedicou seu Caderno Especial 3 ao tema,
criticando veementemente as ações soviéticas através de textos de origens distintas, nacionais e
internacionais, que analisam a situação e defendem a liberdade para o país invadido.
17
Por exemplo, registre-se a publicação de um manifesto pacifista do ganhador de dois prêmios
Nobel, Linus Pauling, bem como a da carta a ele dirigida por Ho Chi Minh, na qual o presidente do
Vietnã do Norte agradece cópia do documento em que oito ganhadores do Nobel da Paz, liderados
por Pauling, apelam aos governos e partes interessadas na guerra para que dêem início imediato à
negociação da paz.
RESISTÊNCIA E CRÍTICA 897
exemplo da plêiade que circula na Revista e, muitas vezes, no catálogo da editora de Ênio
Silveira, dando ao leitor brasileiro a oportunidade de acompanhar o pensamento marxista
internacional (e nacional) inclusive em seus próprios antagonismos. Aliás, os debates
entre distintas posições dentro do marxismo são saudavelmente freqüentes nas páginas da
Revista Civilização Brasileira e adquirem maior visibilidade nas seções dedicadas à
cultura, especialmente no plano teórico e estético.18
Dentre as seções culturais, a que contém o maior número de matérias é a de literatura:
antecede as demais na ordem de apresentação, conta com variedade de colaboradores e
colaborações (comentários, críticas, ensaios, poemas, traduções, entrevistas) e é a única
das rubricas na área cultural presente em todos os números da Revista, sem exceções,
marcando a tradicional predominância do literário na vida cultural e intelectual do país e,
sintomaticamente, na própria direção da Revista.19 Mas é curioso, e também sintomático,
que no panorama cultural traçado pela Revista Civilização Brasileira o teatro e o cinema
sejam as áreas consideradas de grande desenvolvimento na cultura brasileira, seguidas
pelas artes plásticas, concentrando-se nas seções respectivas os pontos fortes da discussão
estética e cultural, inclusive pelo espaço de debate que nelas se abre. Tais discussões
envolvem profundamente não apenas a problemática do realismo x anti-realismo, mas
também e especialmente as questões da indústria cultural, do investimento estatal, da
nacionalização, da formação de público, da mercadoria e do estatuto da obra de arte, além
da função política articulada ou em contraposição à problemática estética, que trazem à
tona e antecipam boa parte dos debates que se travarão nas décadas seguintes.
A seção “Cinema”, sob a responsabilidade de Alex Vianny, inaugura-se pondo em
cena sua grande estrela, o Cinema Novo,20 protagonista das discussões sobre as
18
Os profundos antagonismos na esquerda brasileira, acentuados após 1964, que se sucedem na
análise da “derrota” sofrida e no debate sobre as táticas de ação e resistência a serem adotadas
produzem os conhecidos “rachas” que dividiam os partidos e os militantes de esquerda no Brasil,
especialmente quanto à opção pela “luta armada no campo” ou pela “guerrilha urbana”, nenhuma
delas aceita pelo Partido Comunista Brasileiro. Acrescentado-se ainda os alinhamentos aos distintos
partidos de esquerda no plano internacional, tudo isso, que desmonta a propalada “coesão das
esquerdas” diante do inimigo comum, é uma luta de bastidores, clandestina, sem visibilidade na
Revista Civilização Brasileira.
19
À época de seu lançamento, a revista terá como “diretor responsável” Ênio Silveira e como
secretário Roland Corbusier. A partir do no 5/6, de março de 1966, M. Cavalcanti Proença, crítico,
“homem de letras”, assume a direção, tendo o poeta Moacyr Félix como secretário; com o
falecimento de Cavalcanti Proença, Moacyr Félix assume a direção a partir do no 9/10, tendo Dias
Gomes como secretário, configuração que se mantém até o no 21/22 (setembro-dezembro 1968),
último a ser publicado. A seção “literatura” é coordenada por Nelson Werneck Sodré, militar
reformado, historiador (inclusive da literatura), também um “homem de letras”, essa espécie em
extinção, assim como vários outros membros do Conselho da Revista.
20
A apresentação de Alex Vianny para “Cinema Novo: ambições e perspectivas” fala por si: “Para
inaugurar essa seção, achei oportuno gravar uma conversa com Nelson Pereira dos Santos e Glauber
Rocha, autores, respectivamente, de Vidas Secas e Deus e o Diabo na Terra do Sol, que são, em minha
opinião –e certamente na opinião da maioria dos críticos– , os dois melhores filmes até agora
produzidos pelo movimento a que chamamos Cinema Novo. Além disso (...), Nelson Pereira dos
Santos é praticamente o mentor, o papa ou papai do movimento. Por isso, propus a eles todo um
898 MARIA LUCIA DE BARROS CAMARGO
elenco de perguntas, no sentido de obter seus depoimentos pessoais sobre as origens e os propósitos
desse Cinema Novo. O que se segue é um resumo da conversa, que transcrevi e coordenei,
procurando conservar o máximo possível da espontaneidade da gravação” (1:185).
21
Nesta seção, colaboram críticos e cineastas ligados ao Cinema Novo como Gustavo Dahl, um dos
mais freqüentes, além de Jean-Claude Bernadet, Octavio Ianni e Roberto Schwarz que, em se
tratando de cinema, poderíamos denominá-lo “bissexto”. A seção publica ainda textos programáticos
de cineastas como Fritz Lang e Pasolini; destaca-se também o manifesto hoje antológico “Uma
estética da fome”, de Glauber Rocha. A partir do no 15, e com exceção do no 18, desaparecem da
Revista os textos sobre cinema.
22
O caso da proibição da peça O berço do herói, de Dias Gomes, no dia da estréia e por ordem do
governador Carlos Lacerda, é relatado detalhadamente pelo próprio autor na Revista Civilização
Brasileira (4:257-268). Ganham destaque, ainda, as montagens do Arena, do Oficina, dos grupos
Opinião e Decisão.
23
A Revista transcreve, do jornal Última Hora (10/05/65) , diálogos entre atrizes e agentes da
repressão que seriam hilariantes se não fossem trágicos: em dois interrogatórios distintos porém
iguais, os agentes perguntaram às atrizes Isolda Cresta e Glauce Rocha se esse tal de Sófocles, autor
de Electra (então em cartaz pelo grupo Decisão), era subversivo ou soviético.... (Caderno Especial
2: 254)
24
Além de Dias Gomes, a seção tem como colaboradores freqüentes Paulo Francis e Luiz Carlos
Maciel, incluindo, dentre outros, Anatol Rosenfeld, Yan Michalski, Fernando Peixoto e traduções
de ensaios de Brecht e de Susan Sontag.
RESISTÊNCIA E CRÍTICA 899
classe teatral e da crítica marxista como à crise anunciada e vivida plenamente pelo teatro
brasileiro nas décadas seguintes.
Embora menos efervescente que a seção “Teatro”, “Artes Plásticas” se destaca pela
forte colaboração crítica de Ferreira Gullar, analisando e discutindo, dentre outros
aspectos, as tensões entre o figurativo e a abstração, a vanguarda e a internacionalização
da arte, debate permeado pelas implicações, na obra de arte, da tensão entre o fenômeno
estético, que implica o papel do crítico de arte, e o conceito de mercadoria, que implica
o papel dos marchands. O poeta exercita a crítica de obras concretas, tratando ora da
produção de artistas individuais, ora de exposições coletivas, faz entrevistas com diversos
artistas e produz o que talvez seja a mais importante reflexão estética da Revista,
discutindo a arte em tempos regidos pela lógica da mercadoria e refletindo criticamente
sobre os meios de comunicação, a cultura de massas e seu papel na sociedade, como o faz
na série “Problemas estéticos na sociedade de massas”.25
Se a Revista propicia boas discussões ao tratar do cinema, do teatro e das artes
plásticas, o mesmo não se pode dizer das seções “música” e “literatura”, fragilizadas pelo
reduzido espaço de controvérsias e pela rigidez ideológica que acabaria por levá-las tanto
à impossibilidade de perceber o que efetivamente acontecia de importante nestas áreas
como a grandes equívocos críticos. Apesar da forte movimentação na área musical durante
o período de publicação da Revista,26 a seção “Música” ocupa um espaço relativamente
pequeno, chegando a praticamente desaparecer da Revista após o no 9/10.27 Dedicando-se
prioritariamente a recusar as influências estrangeiras, especialmente a norte-americana, a
cobrar a valorização do samba popular em oposição à bossa-nova (condenada pela
influência do jazz , e por seus “vínculos burgueses” de “samba zona sul”), e valorizando
compositores e intérpretes pelo grau de preocupação social revelado em suas letras, a
seção “Música” revela-se conservadora e até saudosista, esteticamente, apesar de
“progressista” politicamente. Em 1966, no entanto, a seção promove um debate (7: 375-
385) que de algum modo a redime: reunindo os críticos Flávio Macedo Soares e Nelson
Lins e Barros, o cineasta Gustavo Dahl, a cantora Nara Leão, o poeta e crítico Ferreira
25
Dividido em 3 partes, o ensaio de Ferreira Gullar saiu nos números 5/6, 7 e 8 da Revista Civilização
Brasileira , e posteriormente em livro. Nestes ensaios, o crítico e poeta toma como um dos suportes
teóricos de sua argumentação o ensaio de Benjamin sobre a obra de arte a partir de uma edição
francesa (não citada no livro), e menciona, via Ernst Fischer, o ensaio sobre Baudelaire, o que nos
permite inferir que Gullar, como membro do conselho de Redação, tenha sido um dos responsáveis
pela pioneira inclusão de Benjamin no número 19/20 da Revista. Sobre os ensaios de Gullar e a
importância da Revista Civilização Brasileira ver Carlos Guilherme Mota (1977) e, ainda, sobre o
pioneirismo de Gullar e da Revista Civilização Brasileira na discussão sobre sociedade e a cultura
de massas, ver Renato Ortiz (1988).
26
É o período de realização dos grandes festivais de MPB, de espetáculos musicais importantes, do
surgimento de novos compositores e do Tropicalismo, e, inclusive, das tensões e conflitos entre os
músicos ligados à MPB e aqueles ligados à “música jovem” influenciada pelo “rock-and-roll”.
27
O falecimento de Nelson Lins e Barros, responsável pela seção e membro do conselho, pode ter
sido decisivo para a ausência da seção música. Sérgio Cabral escreve o necrológio para Nélson Lins
e Barros (9/10: 265-268). A seção “Música”, tratando quase exclusivamente da música popular
brasileira, contou ainda com as colaborações de José Ramos Tinhorão, João Antonio, Airton Lima
Barbosa, Flávio de Macedo Soares Regis e Sidney Miller.
900 MARIA LUCIA DE BARROS CAMARGO
28
Apresentação do debate: “Em virtude da crise atual da música popular brasileira, a Revista
Civilização Brasileira reuniu músicos, compositores, intelectuais e estudiosos de música popular
para um debate sobre os caminhos da música popular brasileira, que foi organizado e coordenado
por Airton Lima Barbosa, do Quinteto Villa-Lobos.” (7:375) (grifo meu)
29
Caetano ganha, com essa participação, o reconhecimento dos grupos intelectuais que se
consideravam de vanguarda, como os poetas concretos paulistas, especialmente Augusto de
Campos, desafetos públicos de Ferreira Gullar. Sobre a participação de Caetano neste debate ver
Celso Favaretto e Augusto de Campos.
30
Membro do Conselho de Redação e responsável pela seção “Literatura”; a rubrica surge com o
título “Notas de crítica” no segundo número da Revista e passa a chamar-se, a partir do no 3, “O
Momento Literário”, coluna que se publica até o último número (22), com exceção apenas dos nos
11/12 e 13.
31
Ver, a propósito, o importante estudo de Raúl Antelo (1985) sobre três revistas brasileiras em suas
relações com o Estado Novo e com o Partido Comunista.
RESISTÊNCIA E CRÍTICA 901
São [Antonio Candido e Rolando Morel Pinto] típicos representantes da crítica velha.
[...] Nos críticos mais pretensiosos, a estria destacada é a sociológica, lidando com
elementos fornecidos pela sociologia empírica norte-americana. Por trás dessa parafernália
supostamente profunda está a cátedra universitária, que reveste de autoridade dogmática
o que dela provém, como sagrado. [...] Só agora, com a nova crítica – e não se mistura,
pelo título, a autêntica com a contrafação – essa escala de valores começa a ser revista.
[...] velhos conceitos e velhos processos estão desmoralizados, e continuam a vigorar,
entretanto, nas cátedras universitárias, nas revistas especializadas, nos rodapés de
jornais, enquanto novos conceitos e processos começam a surgir, mas não se generalizaram
ainda. Como a crise do ensino universitário força a juventude, hoje, a procurar o caminho
do autodidatismo, a crítica nova começa a firmar-se em trabalhos como o de Carlos
Nelson Coutinho. É, realmente, [...] aquilo que se firmará sem contestação quando for
removido o entulho da velha crítica, ainda obstruindo algumas passagens, e particularmente
as universitárias. (17:195-196)
32
Dentre os críticos brasileiros em atividade e além de Carlos Nelson Coutinho, Sodré elege / elogia
Roberto Schwarz como “um dos melhores valores, realmente, da atual crítica brasileira” (4:178); faz
ressalvas a José Guilherme Merquior –“uma das grandes revelações da crítica brasileira atual”
(4:177)– cobrando-lhe uma posição política: “terá de escolher [...] o Brasil não dispõe de muitos
valores de seu nível para aceitar que um escritor desse porte acabe conformando-se em ser
simplesmente o que aceitou ser, por exemplo, o Sr. Gilberto Freyre” (4:177-178).
902 MARIA LUCIA DE BARROS CAMARGO
Temos poucas revistas de cultura, e as que temos não se distinguem pelo alto nível. Há
motivos para isso, evidentemente. Não é aqui o momento e o lugar de expô-los e discuti-
los. O aparecimento desta Revista, aliás, pretende ser uma resposta à situação. (2:166)
Evidentemente, a lógica de exclusões e inclusões opera aqui também, e faz com que
sejam saudados os lançamentos das revistas Teoria e Prática e Paz e Terra, ambas situadas
no mesmo campo da resistência de esquerda ao governo militar.34 Também nesse campo,
Sodré faz elogios à longeva revista Leitura, publicada desde 1942 (apesar da interrupção
entre 1948 e 1954), e que compartilha vários colaboradores com a Civilização Brasileira,
como Otto Maria Carpeaux e Alex Viany, embora não compartilhe da mesma ortodoxia,
especialmente no campo literário.35 Será preciso dizer que todas sucumbem diante do AI-
5?
Muitas outras revistas são criticadas, desde, e pour cause, as institucionais, como a
Revista do IEB, da USP, e a Revista do Livro, do INL, ou as estritamente literárias, como
Praxis, revista do movimento homônimo, liderado por Mario Chamie, que procura
33
A mais dura crítica ao estruturalismo nas páginas da Revista é feita por Otto Maria Carpeaux no
ensaio “Estruturalismo, o ópio dos literatos” (8: 245-250), completado por uma charge de Jaguar,
“Estruturalismo”, em que vemos uma jovem perguntar a um homem barbudo, careca e de óculos:
“O Sr. faz poemas a régua ou a mão livre?” (8:250)
34
A primeira surgiu em São Paulo, em 1967, e teve apenas 4 números publicados; era dirigida por
Sérgio Ferro e tinha entre seus idealizadores e colaboradores Roberto Schwarz e Rui Fausto, além
de Jean-Claude Bernadet; mesmo assim, não escapa à acidez de Sodré: “a matéria é bastante
heterogênea, o que revela, de um lado, tolerância com valores e pretensos valores, um pouco de
cerimônia, e particularmente com titulares universitários [...].” (18:135) A revista Paz e Terra, assim
como a editora de mesmo nome, também foi idealizada por Ênio Silveira e dirigida por Moacyr Felix
como o exercício da resistência no campo das religiões e numa perspectiva ecumênica. Ver relato
de Waldo Cesar sobre a criação de ambas –editora e revista ( Felix 413-417).
35
apenas como exemplo, o número 83/84, de junho-julho de 1964, homenageia Cecília Meireles,
“poeta maior”, com direito a foto e chamada na capa.
RESISTÊNCIA E CRÍTICA 903
...um sr. José Francisco Coelho pergunta por que os intelectuais brasileiros são quase
todos de esquerda. Isso o perturba. Tenta explicar, e escreve que isso acontece porque os
intelectuais, em países como o nosso têm ‘um papel importante no movimento de
libertação das classes oprimidas e em sua integração na comunidade em condições
humanas.’ Parece uma razão. Ou não parece? ( 7: 166)
Não cabe aqui citar a grande quantidade de pequenas revistas mencionadas por
Werneck Sodré, que incluem muitos periódicos estudantis, de grêmios universitários e
diretórios acadêmicos, o que é sintoma claro da forte atuação experimentada pelo
movimento estudantil entre 1964 e 1968, ou algumas outras revistas literárias “engajadas”
politicamente como Serial, publicada na Bahia pelo poeta Antonio Brasileiro. Isto é
matéria para outra pesquisa. Quero registrar aqui apenas duas exclusões bastante
significativas: Sodré seque menciona as revistas Invenção e Tempo Brasileiro.
A primeira, do grupo paulista de poetas concretos, talvez uma das últimas “revistas
literárias” em sentido estrito,36 fica fora de Civilização Brasileira recusada por um
sectarismo ideológico que não aceita a militância formalista e estetizante, o elogio a Ezra
Pound, o desejo da internacionalização. Talvez se possa dizer que Invenção tenha sido o
veículo da última formação literária do século XX no Brasil.37 E, neste sentido, a vida curta
de Invenção, nos anos 60, pode ser pensada como sintoma das grandes mudanças em curso.
Já a Tempo Brasileiro, criada dois anos antes do golpe militar, atravessou incólume
todo o período da ditadura, com apenas uma leve interrupção no ano de 1964,e continuou
a ser publicada até fins dos anos 90. Dirigida por Eduardo Portela, seu perfil acadêmico,
que prioriza a publicação de ensaios críticos e analíticos, e sua “cara de livro” aproximam-
na da revista de Ênio Silveira. Mas as opções políticas, ideológicas, e, conseqüentemente,
teóricas e críticas afastam-nas irreversivelmente. Apenas Tempo Brasileiro sobreviveu.
mesmo tempo, em que sai de cena o discurso explícito da resistência para dar lugar ao
subentendido, ao alegórico, ao condicional, ao alusivo, enfim, a outras táticas discursivas.39
Percebido pela intelectualidade como um momento de forte vazio cultural,40 aquele
início de década, ao mesmo tempo tão cheio de temores e das últimas utopias revolucionárias,
era de fato repleto de produtos culturais de ordens bastante distintas. E talvez o sentimento
e o discurso do vazio advenham muito mais da sensação de perda, de fim de um certo modo
de estar no mundo, de a arte e a literatura estarem no mundo, do que propriamente de uma
ausência de produção cultural decorrente da repressão política e da censura. A década de
70 trará para a cena cultural, de forma mais acirrada, mesmo que silenciosa, as tensões
entre as várias formas de resistência ao autoritarismo, bem como as questões que emergem
da consolidação da indústria cultural. O humor, a contracultura, o “desbunde”
comportamental passam a aflorar num outro discurso de resistência, mais sutil (mais
eficiente?) do que o registro sério, “elevado”, que encontrávamos na Revista Civilização
Brasileira,e que será reencontrado, com variações, em Opinião e Argumento.
É no vigor da imprensa alternativa que melhor podemos perceber novas mesclas
culturais, especialmente nas tensões que a relação com a comunicação de massas, através
das redes de televisão, vão provocar. A TV se imiscui nas publicações, primeiramente
através dos que dela participam, com uma presença bastante forte dos representantes da
música popular brasileira, e também com ares de resistência política, porém não mais
explícita nem panfletária, e sim atingindo o campo do comportamento. Compositores,
cantores, atores, autores de novelas, apresentadores de programas de auditório, todos
passam pelas páginas desses periódicos, assim como escritores e figuras de importância
intelectual reconhecida. Um bom exemplo dessa presença é o conjunto das entrevistas d’O
Pasquim, em que temos desde uma entrevista virtual com o poeta Carlos Drummond de
Andrade,41 entrevistas com o crítico Alceu de Amoroso Lima, com o filólogo Antonio
Houaiss, passando por entrevistas com Caetano Veloso, com Chico Buarque, com
apresentadores de TV como Chacrinha (o “comunicador” popular tropicalista, protótipo
de um certo kitsch com potencial crítico) e Silvio Santos, com a atriz Leila Dinis, enfim,
com uma galeria variada e absolutamente desierarquizada de personagens da cena cultural,
perturbadora da dicotomia entre cultura elevada e baixa cultura.
Se, como já vimos, a crítica frankfurtiana da indústria cultural era absolutamente
incipiente no Brasil dos 50 anos de modernismo,42 e as idéias hegemônicas na imprensa
cultural de esquerda eram as gramscianas, especialmente no que diz respeito ao “jornalismo
total” e ao papel do intelectual na cultura, é preciso fazer duas ressalvas: a) a aparente
desierarquização se dá preferentemente em alguns periódicos (por motivos cuja análise
não cabe aqui); b) os lugares de onde determinados intelectuais falam estão problematizados.
A relação entre TV e a cultura de extração erudita não é tão simplesmente dicotômica.
Paradoxalmente, esse veículo de anestesia do povo abriga ao mesmo tempo defensores da
aldeia global e do governo militar, e dramaturgos como Dias Gomes, ligado ao proscrito
Partido Comunista, a periódicos culturais proibidos, ao teatro censurado. Dias Gomes
continua enfrentando problemas com a censura ao longo dos anos 70, mas encontra na TV,
através do sucesso de público, um certo espaço de sobrevivência e crítica. Como ele,
muitos outros egressos do campo teatral e da esquerda terão acolhida na TV. Cooptação
pelo mercado? Neutralização pelo capital? Pode ser, mas seria uma explicação muito
simplista, já que não necessariamente abdicaram de militância político-artística, nem de
um certo conjunto de valores que pressupõem hierarquização entre os bens culturais e
estéticos, mas também a utilização dos meios de comunicação de massa como veículo de
conscientização e resistência. Apesar dessas concepções, os discursos pró e contra a TV
não tardam. Emergem de forma muitas vezes maniqueísta e mal ocultam os impasses que
a década traz ao campo literário e acadêmico, que denunciam o “vazio” destes anos. No
entanto, pode-se dizer que se tratava de um discurso sobre algo diferido, ou de um vazio
que se configurará na década seguinte, quando se fará necessário constatar o inocultável.
Num outro diapasão, o lacônico editorial43 de lançamento, em 1973, da sucessora da
Revista Civilização Brasileira, ou de Paz e Terra, ou de Teoria e Prática –resistência em
41
Um dos últimos modernistas ainda vivo àquela altura, surge como fantasma na entrevista
inventada Como o poeta enviou uma carta se recusando a conceder a entrevista por “não ter nada
mais a dizer”, o jornal montou uma entrevista apócrifa a partir de trechos das obras e de declarações
anteriores do poeta. Cf. O Pasquim 106 (15 jul. 1971): 3-6.
42
1972 foi o ano de publicação, pela Editora Tempo Brasileiro, de um conjunto de ensaios de Adorno,
dentre os quais “Engagement”, uma crítica ao conceito de arte engajada de Sartre e Brecht. Sem
dúvida é possível ler, na escolha deste ensaio pelos editores, uma crítica a boa parte da esquerda
brasileira e às defesas do engajamento vigentes entre nós desde os anos 60.
43
Transcrevo-o, integralmente: “A natureza social tem horror ao vácuo cultural e tende a preenchê-
lo de uma forma ou de outra. Uma das formas de fazê-lo é utilizando a dependência, a acomodação,
o arrivismo. /A nossa pretende ser a outra forma, a que se definirá no percurso de nosso grupo. Este
906 MARIA LUCIA DE BARROS CAMARGO
“registro sério”– demonstra a nova e necessária prática: usar meias palavras, abusar da
elipse e da alusão. Misto de editorial e manifesto, ou declaração de princípios, o texto de
abertura de Argumento define a revista, de um lado, como o espaço de atuação para
intelectuais expurgados pela ditadura de seus espaços institucionais, algo como um espaço
compensatório, mas também um ato de resistência ao próprio expurgo; de outro lado, a
revista se define como um “outro” modo de preencher o “vácuo cultural”, o que supõe
preenchimento, não vácuo; contra dependência, arrivismo, subordinação, propõe-se a
independência, o inconformismo. Argumento surge como forma de resistência num
momento de forte repressão política, publicada pela editora Paz e Terra, e tendo como
Diretor o conhecido jornalista Barbosa Lima Sobrinho.44 O ensaio de abertura do primeiro
número, o hoje antológico “Literatura e subdesenvolvimento”, de Antonio Candido,
evidencia as diferenças de perspectiva teórico-crítica em relação ao que encontrávamos na
seção de Literatura da Revista Civilização Brasileira. Nos 4 únicos números publicados
–sendo que o quarto foi recolhido pela censura– cumpriu-se a função de marcar um lugar
de resistência sem ataques diretos, de prática do inconformismo com a situação política
vigente, e, especialmente, de colocar em circulação importantes ensaios de interpretação
da cultura, que incluem colaborações estrangeiras como as de Angel Rama, John Kenneth
Galbraith, e Thomas Skidmore. Além dos membros dos Conselho de Redação e Consultivo
–intelectuais da maior importância–, colaboram ainda em Argumento Roberto Schwarz,
Celso Lafer, Antonio Callado, Gilda de Mello e Souza, Jean-Claude Bernadet, Davi
Arrigucci Jr., Hélio Jaguaribe, Otto Maria Carpeaux, Flávio de Carvalho, João Luiz
Lafetá, Ismail Xavier, Arnaldo Pedroso d’Horta, Heloísa Buarque de Hollanda, Antonio
Carlos de Brito (o poeta Cacaso), dentre outros. Sem dúvida, trata-se da revista mais
é vário na idade e na preocupação, mas se unifica no entendimento em criar um veículo novo para
o que há de vivo, válido e independente na circunstância cultural brasileira; e um ponto de encontro
com o pensamento de outras terras, notadamente as do continente. / Os obstáculos que eventualmente
encontrarmos e os estímulos que recebermos serão igualmente indicativos da utilidade de nossa
função. Muito intelectual brasileiro foi arrancado de seu mundo e é preciso que encontre um terreno
onde possa novamente se enraizar. A limitação de nosso campo poderá ainda ser restringida, mas
sempre haverá um papel a ser cumprido pelo intelectual que resolva sair da perplexidade e se recuse
a cair no desespero. / Nascemos sem ilusões e não está em nosso programa nutri-las. A independência
custa caro e não encoraja as subvenções. Não temos propriamente o que vender mas nos achamos
em condições de propor um esforço de lucidez. Este não é artigo de luxo ou de consumo fácil mas
em qualquer tempo é alimento indispensável para pelo menos alguns. Sua raridade é, aliás, sempre
provisória; tudo que a lucidez revela tende a se transformar em óbvio. / Contra fato há argumento.”
Analisei este editorial bem como outros aspectos desta revista em outro artigo (1:1)
44
O Conselho de Redação é composto por: Anatol Rosenfeld, Antonio Candido, Celso Furtado,
Fernando Henrique Cardoso, Francisco Weffort, Leôncio Martins Rodrigues, Luciano Martins e
Paulo Emílio Salles Gomes. Do Conselho Consultivo participam Érico Veríssimo, Florestan
Fernandes, Paulo Duarte, Sérgio Buarque de Holanda, Simão Mathias (Brasil), Anibal Pinto,
Octavio Paz, Torcuato de Tella (América Latina), Albert Hirschman, Brian Van Arkadie e Dudley
Sears (Europa e EUA). Argumento mantém um diálogo, para não dizer parceria, de colaboradores
e textos com o semanário alternativo Opinião, que faz a resistência cultural “séria”, para não dizer
sizuda, distanciando-se portanto do Pasquim
RESISTÊNCIA E CRÍTICA 907
importante da primeira metade dos anos 70, mesmo sendo uma das únicas.45 Sem dúvida
aqui nos mantemos ainda no campo da cultura “elevada”, da arte, sem misturas com a
indústria cultural de massa, cumprindo, de certo modo, o programa da Civilização
Brasileira,sem os sectarismos ideológicos. Por outro lado, Argumento não dialoga com
a irreverente Bondinho, sustentada e distribuída pela rede de supermercados Pão de
Açúcar, nem com a única e exclusiva pós-tropicalista e pós-concretista Navilouca. Os
desbundes comportamentais e as coisas do corpo revalorizado passam ao largo da
racionalista Argumento.
E AGORA, JOSÉ?
45
Além de Tempo Brasileiro e, Convivium, oriundas da década anterior, e dos jornais alternativos,
cabe registrar o Boletim de Ariel (título de uma revista da década de 30), lançado provavelmente em
1973 por Afrânio Coutinho e que, longe de exercer qualquer resistência ao governo militar presta-
se a fazer elogios ao presidente Médici. Sobre esta revista, Argumento publica em seu último número
uma notinha mordaz e irônica, assinada P.E. (Paulo Emílio Salles Gomes), que, entre outras ironias,
diz: “O novo boletim tem pouco de Ariel e ficaria melhor denominado Boletim de Afrânio Coutinho”
(4:159).
46
Um estudo sobre José pode ser lido na dissertação de mestrado de Simone Dias, agora publicada
em livro (Dias, 2001).
908 MARIA LUCIA DE BARROS CAMARGO
47
Publicado com o título “Debate: poesia hoje” (2: 2-9), tem por mote a antologia 26 Poetas Hoje,
organizada por Heloísa Buarque de Hollanda, que deu maior visibilidade ao que se convencionou
chamar “poesia marginal dos anos 70”. Deste debate participaram, além de Heloísa, poetas incluídos
na antologia (Eudoro Augusto, Geraldo Carneiro e Ana Cristina Cesar) e representantes da redação
da Revista (Luiz Costa Lima, Jorge Wanderley e Sebastião Uchoa Leite).
RESISTÊNCIA E CRÍTICA 909
promovia ainda grandes concursos literários, divididos por gêneros, mantinha forte seção
de correspondência dos leitores, publicava poemas e contos, especialmente de novos
autores, além de resenhas e muitas, muitas entrevistas. O ensaio crítico não tem lugar na
revista; ou melhor, ocupa um espaço à parte, uma espécie de “suplemento”: Escrita-
Ensaio.
Dentre as bandeiras de luta de Escrita destacam-se a busca da ampliação do mercado
editorial para o escritor brasileiro, através de uma desejada ampliação do público leitor,
o que leva a revista a eleger a televisão como o principal inimigo, o entrave maior para a
consecução de seus objetivos. Importava, portanto, divulgar “a” literatura, divulgando os
escritores e seus livros, sem defender, no entanto, uma ou outra corrente literária
específica, ou valores pré-determinados. Assim, Escrita não traz em suas páginas grandes
polêmicas estéticas, e as discussões são travadas muito mais entre diferentes colaboradores,
ou como reação de leitores a eventuais matérias publicadas. A discussão sobre o valor
literário, ou sobre a qualidade estética de novas obras, ou ainda sobre o lugar e o sentido
da nova poesia dos 70, não é matéria em que se engaje a revista. O importante era mostrar,
divulgar, entrevistar, agitar. E assim Escrita sobreviveu por 39 números, adentrando os
anos 80.
Embora não possa ser estritamente classificada como um periódico acadêmico,
Almanaque-cadernos de literatura e ensaio, que teve 14 números editados pela então
poderosa Editora Brasiliense, que também publicava o tablóide Leia Livros. Era o veículo
para um grupo bem definido de intelectuais das áreas de letras e filosofia da USP, ligados
a Antonio Candido, e cujos nomes falam por si: Walnice Nogueira Galvão e Bento Prado
Jr a dirigiam, com a colaboração estreita de Lígia Chiappini Moraes Leite e Roberto
Schwarz. Diferentemente de Escrita, não tinha pretensões de fazer divulgação literária.
Mas publicou também textos híbridos, paródicos, satirizando especialmente o que
considerava as “modas teóricas”, ou, em outras palavras, a voga estruturalista. Uma
questão acadêmica, é certo, mas em outro diapasão. Reencontramos aqui, mais uma vez,
a discussão política e o debate sobre o lugar do intelectual e do artista: como massificar
sem degradar? Como preservar valores elevados e qualidade estética sem elitizar?
É possível afirmar que Almanaque compartilhava com José o apreço pelos valores
estéticos herdados do modernismo e com Argumento uma certa retórica de resistência e
de engajamento político; no entanto, as duas primeiras distinguiam-se entre si pelos
grupos que as constituíam, pelas cidades em que se localizavam, pelas posições crítico-
teóricas que defendiam. Afinal, dentre os que faziam a revista carioca estavam os
criticados pela revista paulista. Na falta de outro, um bom motivo para José desejar
distinguir-se de Almanaque, que mais ironizava do que discutia as divergências.
Embora não se explicite em “José no espelho”, cabe ainda marcar as diferenças entre
José, Escrita e Almanaque, de outros dois grupos de revistas da época, que marcavam duas
tendências culturais opostas: de um lado, revistas como Código, Corpo Extranho (ou
Qorpo Estranho), que se completariam ainda em Através e Polímica, todas nitidamente
engajadas no experimentalismo concretista, assumindo o papel de divulgadoras,
legitimadoras e, por que não, de conservadoras daquela tendência estética e de seus
idealizadores; de outro lado, revistas como Pólem, Muda e Nuvem Cigana, ou ainda o
jornal-revista Beijo, dentre outras, afinadas às modas contraculturais e centradas na
910 MARIA LUCIA DE BARROS CAMARGO
produção de alguns dos novos poetas dos anos 70. Um cenário plural, sem dúvida, em que
todos sucumbiram.
SEDUÇÃO DA MEMÓRIA
De algum modo, os anos 70, no Brasil, não foram apenas anos de ascensões e quedas
rápidas. Foram anos de passagens, de fechamento de ciclos, foram os anos do fim do
moderno como “futuro presente”. Esta categoria, utilizada por Andreas Huyssen para
caracterizar a cultura modernista nos países do hemisfério norte ocidental, se aplica
perfeitamente bem não apenas à cultura construída pelo modernismo brasileiro, mas
também e especialmente às suas últimas manifestações (variantes epigonais?), como é o
caso da auto-intitulada vanguarda brasileira, isto é, o concretismo. Esta idéia de um
“futuro presente”descreve perfeitamente bem auto-imagem recorrente, o amplo imaginário
nacional que se vê potencialidade ainda não realizada: Brasil, o país do futuro. E,
certamente, é a impossibilidade de manter tal representação diante das novas circunstâncias
vividas e escritas que o ciclo se fecha. E, ainda me valendo de Huyssen, o “passado
presente” precisa ser construído como forma de ocupar a verdadeira lacuna: a do futuro.
Seduzidos pela memória, oscilando entre o sentido de raridade e a documentação
histórica, o hoje se confronta com o passado. Vejamos um sintoma.Em março de 1979 era
lançada em são Paulo, pelo Centro de Estudos da arte Contemporânea, uma nova revista
cultural: Arte em Revista, coordenada por dois professore da USP, Otília Beatriz Fiori
Arantes e Celso Favaretto, e pelo jornalista cultural Matinas Susuzki Júnior, da Folha de
S.Paulo. Em geral, o que se espera de uma nova revista cultural é que apresente o novo,
o que está efetivamente ocorrendo no campo das artes: novos artistas, novas tendências,
novas perspectivas que se avizinham, ou ainda as maiores preocupações da sua
contemporaneidade, do seu momento. Curiosamente, o que essa nova revista traz,
inclusive na capa de seus dois primeiros números, vestida de cor única, verde-escuro, é
apenas um título: “anos 60”.48 Seu propósito?
O que ficou da resistência de outros tempos? Por que voltam Glauber e sua estética
da fome? Os “manifestos” do Teatro de Arena, do Opinião, do Oficina, do CPC? Antonio
48
O mesmo título e a mesma diagramação se repetem no número 2, variando apenas a cor do fundo,
agora em azul-marinho.
RESISTÊNCIA E CRÍTICA 911
Candido, Haroldo de Campos, Anatol Rosenfeld, Paulo Emílio Salles Gomes, Poesia
concreta; Música Nova, Tropicália, canção de protesto; Rex Time. Tudo volta, agora
como documento, resistência sem objeto, peça de museu exposta na galeria, mercadoria
revalorizada. No final dos 70, de volta aos 60, em busca de um tempo perdido, de uma
utopia impossível. Chegamos ao limiar da “década perdida”.
BIBLIOGRAFÍA
PERIÓDICOS CITADOS
POR
JORGE H. WOLFF
Universidade Federal de Santa Catarina1
1
Agradeço à Capes e ao CNPq pelo apoio à pesquisa.
916 JORGE H. WOLFF
2
O antropólogo e escritor, morto no dia 17 de fevereiro de 1997, escreveu este texto, intitulado
“Venutopias 2003”, em 1973 por encomenda do jornal El Nacional, de Caracas, durante as
comemorações de seus trinta anos, aparecendo depois em Postdata, de Lima, Ciencia Nueva, de
Buenos Aires, e Opinião (7 março 1975), do Rio de Janeiro.
3
Os anos 60 segundo, respectivamente, Caetano Veloso em Verdade tropical (ver nota 3) e P.
Sempere e A. Corazón, autores de La década prodigiosa, 60, 70 (Madrid: Felmar, 1976), citado
por Claudia Gilman (Entre el fusil y la palabra, cap. I).
4
Verdade tropical é o memorial do ideólogo-mor do movimento tropicalista, desencadeado em 1967
e interrompido oficialmente dois anos depois, com o exílio londrino dos baianos. Os depoimentos
autobiográficos sobre o período, como se sabe, jorram rios de tinta desde então. Em mais de 500
páginas, o poeta-cantor veste-se e desveste-se para dar sua versão da história da Tropicália, ou seja,
do Brasil no período. Uma de suas principais conclusões sobre a nova ordem mundial é a que segue:
“Hoje são tantas as evidências de que, por um lado, qualquer tentativa de não-alinhamento com os
interesses do Ocidente capitalista resultaria em monstruosas agressões às liberdades fundamentais,
e de que, por outro lado, todo projeto nacionalista de independência econômica levaria a um
fechamento do país à modernidade” (52).
SOU MARGINAL! SOU HERÓI! 917
5
A expressão se insinua em diferentes textos de Silviano Santiago, mas aparece efetivamente em sua
“aula” de 1974 sobre a vanguarda (“Vanguarda: um conceito” 117).
6
Ver a respeito em Los Libros nº 18 (abril 1971): “La guerra química. Efecto de la defoliación sobre
la vida humana” (9).
7
Refiro-me a “Situación del teatro brasileño”, de Augusto Boal, em Los Libros nº 15-16 (jan.-fev.
1971), e “O entrelugar do discurso latino-americano”, de Santiago, apresentado no Canadá em
março do mesmo ano e publicado pela primeira vez, salvo engano, na versão inglesa (“Latin
American Literature” 1-19), da qual me utilizo na conclusão deste trabalho.
8
Para este breve panorama, devo noventa e nove por cento dos dados relativos ao Brasil a Maria Lúcia
de Barros Camargo, autora de “Atividade crítica e periodismo cultural no Brasil contemporâneo”,
ainda inédito. Quanto às informações sobre a Argentina, concentram-se particularmente em 30 años
de revistas literarias argentinas (1960-1989), de José M. Otero.
918 JORGE H. WOLFF
9
Referência indireta do A. ao termo utilizado por Oswald de Andrade, na Revista de Antropofagia,
de “primeira” e “segunda” dentições, para indicar a primeira época da revista Crisis. [N.E.]
SOU MARGINAL! SOU HERÓI! 919
Se nos anos 60 muitas revistas culturais argentinas importantes abriram e cerraram suas
portas, a exemplo de Hoy en la Cultura (1961-66), La Rosa Blindada (1964-66) e Primera
Plana (1962-69), El Escarabajo de Oro, dirigida por Alberto Castillo desde 61 (como
sucessora de El Grillo de Papel), sobreviveria até 1974. Seguia uma linhagem de
existencialistas tardios, permanecendo portanto até o fim como uma revista típica dos anos
60. El Escarabajo de Oro, no entanto, ainda daria novas mostras do fôlego sartreano, ao
ganhar uma sobrevida a partir de 77 com El Ornitorrinco, dirigida por Liliana Heker ao
lado do mesmo Castillo (até 86). De fatura oposta –quer dizer, igualmente militante, mas
lacaniana–, surge em 73, como dissidência de Los Libros, a revista Literal, o periódico
não-periódico de Germán García, Luis Gusmán e Osvaldo Lamborghini, posicionado, de
forma deliberadamente perversa e marginal (como destacaremos adiante), no lugar
indecidível de uma certa vanguarda literária portenha. Já Nuevos Aires, que publicou onze
números entre 1970 e 73, teve direção de Gerardo Mario Goloboff, que também colaborou
em Los Libros, sendo-lhe ideologicamente bastante próxima em sua perspectiva esquerdista
revolucionária. Um de seus colaboradores foi Piglia –que em 1965 editara, aliás, o único
número da revista Literatura y Sociedad, também tributária do existencialismo. E, no
campo da cultura pop –não menos significativa para a noção de entrelugar do discurso
latino-americano em discussão–, a Argentina tampouco ficaria atrás: Contracultura
(1970-71), dirigida por Miguel Grinberg (que fora editor, entre 1961 e 69, dos treze
números da revista “interamericana” Eco Contemporáneo, assumidamente beat e hippie),
se propunha como “foro de alternativas”, mas acabou conhecendo apenas quatro edições.
10
Idealizado por Antonio Candido como um misto de suplemento com revista, sua equipe eclética
de colaboradores, dirigida por Décio de Almeida Prado desde o início, em 1956, até 67, contava com,
entre outros, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campos, Otto Maria Carpeaux, Anatol
Rosenfeld, Sábato Magaldi, Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Bóris Schnaiderman,
Fábio Lucas, Benedito Nunes e Vilém Flusser.
920 JORGE H. WOLFF
11
Em entrevista colhida em Buenos Aires, em 1998, diz Piglia: “Yo conocía un artículo de Rosa sobre
Cabrera Infante que me había gustado mucho, en una revista de Rosario, y cuando empezamos a ver
con qué gente podíamos hacer, pensamos también en Nicolás Rosa. Lo cierto es que la hacíamos al
principio Schmucler y yo, porque yo estaba contratado por la gente que hacía la revista [Editorial
Galerna, de Guillermo Schavelzon] pero yo no quise aparecer porque la revista me parecía muy
ecléctica. Entonces le dije a Schmucler: yo trabajo contigo pero yo no voy a aparecer ahí, porque la
revista en ese momento era una revista digamos que no tenía una línea definida, era una revista más
bien para crear un clima de discusión. Basicamente el objectivo era discutir con la cultura de masas,
centralmente era hacer una revista alternativa a los suplementos de los diarios, a los suplementos
culturales de los diarios, atacar el modo en que los diarios estaban ocupándose de la literatura, ¿no?
Eso fue lo que la revista hizo en todos sus primeros años, tres o cuatro primeros años, ayudada por
la aparición del estructuralismo y por lo tanto con la renovación de la crítica literaria, que nos
permitió a nosotros criticar el tipo de crítica impresionista y comercial que se hacía” (1-2).
12
A revista do editor Maurice Nadeau havia recém-estreado, em 1966; em 2001 completou 35 anos
em plena atividade. Leyla Perrone-Moisés resgatou recentemente a longa trajetória de Nadeau, de
90 anos, para a Folha de S. Paulo (“Guardião do templo” 12-15): “Ter uma longa existência não é
um mérito–diz a crítica paulistana–, mas uma sorte. Entretanto atingir uma idade avançada tendo
participado ativamente da vida intelectual e política de seu país, durante mais de meio século, e ter
conservado tal integridade, é um feito merecedor da maior admiração. De fato, não houve
acontecimento político ou literário do século 20 francês em que Nadeau não estivesse, de alguma
forma, presente” (12).
SOU MARGINAL! SOU HERÓI! 921
13
O escritor, psicanalista e “inventor” de Literal discorre derramadamente sobre o período em “El
exilio de escribir”, texto publicado na revista Hispamérica nº 59 (1991), lançada por Saúl Sosnowski
nos Estados Unidos em 1973 e, a exemplo de La Quinzaine Littéraire, ainda hoje em plena atividade.
14
Perrone-Moisés estudou pintura com o artista húngaro Samsor Flexor na São Paulo de fins da dos
50, exercitou-se no abstracionismo geométrico e chegou a participar de exposições coletivas e a
ilustrar textos para o Suplemento Literário (Entrevista 1).
15
Ver Santiago: “Lenha na fogueira” (61-2).
16
Em 1970 o escritor publica os poemas de Salto (Belo Horizonte: Imprensa Publicações), além dos
“textos” de O banquete (Rio de Janeiro: Saga).
17
Um de seus textos ensaísticos mais importantes e reveladores (desde o título), escrito em inglês
em 1970 e incluído em Uma literatura nos trópicos. Está em franco diálogo com o ensaio sobre o
entrelugar, que deve ser lido como um seu desdobramento.
922 JORGE H. WOLFF
18
O neologismo aparece no início de um de seus romances, ambientado nos Estados Unidos em 1969,
mas situado entre as Américas do Sul e do Norte: Stella Manhattan (20). G. Yúdice verteu-o ao
inglês (Durham: Duke University Press, 1994); G. Leibrich ao francês (Paris: Metaillié, 1993). Paulo
Leminski – em outra ponta da “tropicália” – também transformou em verbo certos conhecidos nomes
próprios na introdução de um poema sem título de Caprichos & Relaxos: “pariso/ novayorquizo/
moscoviteio/ sem sair do bar// só não levanto e vou embora/ porque tem países/ que eu nem chego
a madagascar” (90)...
19
Graciliano, como se sabe, é o autor de Em liberdade (1981), escrito por Santiago. A frase aparece
em entrevista de Vale quanto pesa (199), sua segunda coleção de ensaios.
SOU MARGINAL! SOU HERÓI! 923
(...) um brasileiro, professor de francês, numa universidade americana. Que foi uma das
razões pelas quais eu voltei ao Brasil, porque minha esquizofrenia tinha chegado a um
ponto que não agüentava mais... Eu não falava mais português, não é? Quer dizer, o
português deixou de ser uma língua, para mim, de utilidade. E eu tenho a impressão que
deve ter surgido desse caos, entende?... Foi um conjunto de conferências que Donato
organizou, que foi como [professor]-visitante para Montreal... E ele me convida –e
realmente foi um luxo para mim na época, porque foi [René] Girard, [Michel] Foucault
e eu [risos]... Eu acho que era um pouco o enfrentamento da minha própria condição...
de não ter um lugar– eu não tinha literalmente um lugar... (Entrevista 6-7)
20
Entrevista (7). Se diria que Santiago inventou o termo em 71 assim como o crítico de artes Mário
Pedrosa “inventou” a arte “pós-moderna” em 1965 –a propósito, aliás, de Hélio Oiticica, principal
referência artística do primeiro à época.
924 JORGE H. WOLFF
21
Em tradução bárbara do termo francês “folie”, a partir do enigma da “participation sans
appartenance”, própria dos gêneros literários, segundo Derrida (“La loi du genre” 256).
22
Em outro desdobramento da mesma reflexão, o texto “Apesar de dependente, universal”, de 1980
(em tom fortemente crítico diante da “lenta” abertura no Brasil), é posta em epígrafe uma frase de
Paulo Emílio Salles Gomes: “Não somos europeus nem americanos do norte, mas destituídos de
cultura original, nada nos é estrangeiro, pois tudo o é. A penosa construção de nós mesmos se
desenvolve na dialética entre o não ser e o ser outro” (13).
23
No entanto, o próprio Santiago demonstraria o contrário, desde o primeiro manifesto, de 1924, em
um prefácio (“Fazendo perguntas com o martelo”) a um livro de Gilberto Vasconcellos (Música
popular: de olho na fresta, 1977), no qual define o tropicalismo como a soma de Dadá com Oswald:
“É mais do que curioso notar que não existe a conjunção ou no Manifesto Pau-Brasil; encontra-se
ela esmagada pela conjunção e. O problema para Oswald é o de manter relações críticas entre todos
os elementos, relações estas que acabam por exprimir a contradição inevitável entre os diversos
componentes desse insustentável todo. O elemento já não se exprime em sua pureza (por exemplo:
quando se o julga em separado), mas pelo que nele se deixou contaminar pelo seu oposto e pelo que
nele contamina o seu oposto” (6).
24
Sobre a mulatização alemã, ver “Sol da meia-noite”. Em prefácio a Ponta de lança, reunião de
crônicas jornalísticas oswaldianas de 1943 e 44, Santiago reatualizaria suas idéias no sentido do
pluralismo, oferecendo uma versão politicamente correta do incorreto e iconoclasta Oswald de
Andrade (ver “Sobre plataformas e testamentos”).
25
Como em toda parte, nos grandes centros urbanos e universitários, naquele momento. A marca
distintiva do evento canadense é que De Gaulle havia acabado de passar pelo país, pregando “Vive
le Québec libre”.
SOU MARGINAL! SOU HERÓI! 925
Tristes tropiques, vale dizer, era antes o antropólogo de Le cru et le cuit que o filósofo da
Grammatologie a ser interpelado-homenageado então. O próprio escritor afirmaria em seu
depoimento não ter ainda uma leitura suficientemente atenta de Derrida (Entrevista 6).
Distância que seria reduzida em breve.
O texto é introduzido –lembro– com um exemplo famoso de uma pretensa barbárie
aos olhos ocidentais: os Essais de Montaigne e o conhecido capítulo sobre os canibais do
Novo Mundo, que não são, segundo um rei antigo, de nenhuma maneira bárbaros.26
Estimulado pois pelo “canibal letrado”, ao mesmo tempo que empregando algo do tom
entusiasta típico dos libelos vanguardistas, Santiago vislumbrava então a possibilidade de
inversão (senão de tresvaloração) dos valores. Anos depois, através de uma nota de pé de
página no início do texto, superpõe para a edição em livro uma passagem de L’écriture et
la différence (uma vez transposta aquela distância), que faz menção à contribuição da
etnologia para o descentramento da cultura européia hegemônica. Obviamente a “etnologia”
é Lévi-Strauss nos anos 60, e Tristes trópicos espécie de bíblia sagrada da consciência
culpada de uma pequena-burguesia ecologicamente correta, então nascente e em franca
expansão. O ensaísta brasileiro irá se apoiar sobre a pesada nostalgia lévi-straussiana sem
se colocar qualquer tipo de problema, a companhia Derrida-Lévi-Strauss era ponto
pacífico –algo à maneira do que costuma ocorrer com o sobredeterminado lugar em
questão. E, no entanto, neste mesmo livro seminal, Derrida livrava seu combate contra a
tristeza de fato pouco tropical do eminente etnólogo –combate o qual, no entanto, Santiago
tampouco deixará de exercitar.
Confrontados o primeiro ensaio de Uma literatura nos trópicos e o último, antes
mencionado, o estudo “Análise e interpretação” (1975) –pensado a partir de teorias de
Barthes e Derrida, em primeiro plano, além de Deleuze e Althusser, de passagem–,
verifica-se que o autor leu em detalhe e absorveu à sua maneira o debate, propondo uma
interpretação pessoal do que denominaria, em outro lugar, “o labirinto da différance”.27
O paradoxo consiste no fato de que aquela que pode ser vista como a peça teoricamente
mais vulnerável do volume, extremamente interessante enquanto manifestação
“manifestária” de um lado e evento après coup de outro (dados os seus diversos
desdobramentos), reflexão precursora ainda que dê sinais de uma espécie de “esquecimento
passivo”, aquela peça mais frágil se tornaria exatamente a mais fértil, no sentido de sua
disseminação. Trata-se, sem dúvida, dos passos decisivos em direção à sua própria
“abertura gramatológica”, que atinge as melhores performances literárias cerca de uma
década depois, em torno de 1980, com os romances (questionadores do gênero romance)
26
Note-se, de passagem, que antes de começar o autor põe em epígrafe um pequeno trecho de
L’Archéologie du savoir em que Foucault critica a noção de influência, ao lado de uma frase
antropofágica de um romance de Antonio Callado (Quarup), e que, no mesmo Ponta de lança,
Oswald denomina a posição de Montaigne como aquela de um “canibal letrado” (78).
27
Este é, por sinal, um dos lugares privilegiados da experiência desconstrutiva no Brasil: o Glossário
de Derrida, com 62 verbetes, resultado de estudo coletivo dos alunos de pós-graduação da PUC-RJ,
idealizado e coordenado por Santiago. Entre os participantes encontravam-se intelectuais hoje
conhecidos no meio universitário brasileiro, como Evelina Hoisel, Maria Consuelo Cunha Campos
e Roberto Correa dos Santos.
926 JORGE H. WOLFF
Em liberdade e Stella Manhattan.28 Frise-se, de resto, que estas observações são feitas não
pelo prazer da descoberta de uma contradição em um texto famoso de um autor reputado,
e também não a partir do que se poderia chamar uma falta insuperável –porque ela é
superada no interior de um mesmo livro–, mas enquanto constatação das metamorfoses de
um sistema de pensamento fortemente tributário da nova crítica, assim como da nova
literatura, seja ela ou não latino-americana –a literatura de qualquer lugar entre Borges e
Desnos, Cortázar e Leiris (escolhidos como exemplos no ensaio), de qualquer lugar entre
Europa e América, culturas em choque cujas políticas mais ou menos discricionárias
igualmente alimentam o entrelugar do discurso latino-americano.
O autor expõe claramente as razões práticas para a reivindicação de seu entrelugar
descolonizante: “O neocolonialismo, a nova máscara que aterroriza o Terceiro Mundo”,
propondo, como se disse, a mestiçagem de linhagem oswaldiana e ironizando, com Lévi-
Strauss, a situação bizarra do novo como démodé que era aquela da Europa colonial na
América (“O entrelugar” 17).29 É aqui, a partir do que chama de “pequenas metamorfoses”,
“estranhas corrupções”, onde “o elemento híbrido reina”, que se encontra, segundo ele,
a grande contribuição da América Latina à cultura ocidental, postulada acima, em belo
desvio da norma, “ativo e destruidor” (18). Com respeito à função do intelectual, em
citação silenciosa da carta de Ezra Pound a propósito do mercado literário e de Wall Street,
exclama agressivamente: –Falar, escrever é falar contra, escrever contra (19). Lembre-se,
a propósito, que o grupo da revista Los Libros poderia inscrever o seu lema, de forma talvez
menos retórica porque cada vez mais colada ao “real”, sobre idêntico papel.
Se a condição do etnólogo como herói antiimperialista –os “verdadeiros responsáveis
pela desmistificação do discurso da história” (19)– é retomada diversas vezes no ensaio,
ela é utilizada enquanto apoio para a questão proposta: seguir o modelo ou marcar sua
diferença. Sabe-se, no entanto, que era questão sobretudo de realizar os dois movimentos
simultaneamente, e questão também de outro pequeno esquecimento, já que o autor os
conhece bem. Seu objetivo nesse caso são os modelos reacionários empregados nas
universidade brasileiras –meio ao qual se integrou em definitivo, como professor, a partir
de 1974–, aqueles dos estudos de fontes e de influências, próprios do pensamento
colonizado, do “saber introjetado” (“Apesar de dependente” 21), recaciltrantes e falidos
por completo. A noção de dependência está na ordem do dia e por aí se deveria entender
sua investida, a qual não deseja mais que esvaziar, diz ele, a memória enciclopédica do
crítico razoável. Irá até mesmo sugerir a necessidade de um estudo psicanalítico sobre o
prazer de certos professores universitários no instante do descobrimento de uma influência
e de toda sua verdade. Mas ele antes terá descoberto sua própria verdade, uma verdade de
vanguarda contra aquela outra, vista como retrógrada: “um novo discurso crítico cujo
único valor será a diferença” (20).
Ignorando, ou tendo optado por ignorar, como se viu, a discussão de Derrida sobre
o aspecto metafísico da obra de Lévi-Strauss, não deixará de destacar, contudo, o passo
28
Segundo Idelber Avelar, Em liberdade (1981) é “a grande atualização” do programa estabelecido
no ensaio do entrelugar (The Untimely Present 140).
29
Cito a partir da primeira edição do volume, de 1978. A segunda saiu pela editora Rocco (RJ) em
2000.
SOU MARGINAL! SOU HERÓI! 927
além ensaiado por Barthes em relação ao estruturalismo tout court através de S/Z, por
exemplo. Trata-se, nos termos do autor, de um convite à práxis, à prática da escritura (22)
e à transformação do leitor em produtor de textos. Daí um compromisso incondicional com
o “já-dito”, que menciona a partir de Michel Foucault (a seu lado, à mesa),30 ou ainda com
o que chama de “já-escrito”, a obra segunda, onde o leitor-autor trataria de surpreender o
modelo original em suas limitações e lacunas, destruindo-o e rearticulando-o à vontade,
sempre de forma agressiva. “O escritor latino-americano [moi] brinca com os signos de um
outro escritor” (23), diz, depois de explicar, também de passagem mas de modo sintomático,
por que latino e por que americano –na verdade simplesmente “porque é necessário limitar
finalmente nosso sujeito de discussão” (21).
Existe um conhecido termo carioca –quer dizer, do Rio de Janeiro, onde se radica
Santiago (nascido em Minas Gerais em 1936), lugar ao qual se atribui uma difusa porém
afamada tipicidade– de difícil tradução: “desbunde”. É assim, entre o desbunde tropicalista
e um certo tipo alegre de seriedade, característico do professor universitário, que
descreveria, por exemplo, a escritura do texto segundo no ensaio sobre o “entrelugar”: em
parte, trata-se da história de uma experiência sensual com o signo estrangeiro (23). E neste
lugar, visto como foco de subversão dos costumes, tudo deve ser possível, exceção feita,
claro, à tradução automática: os recursos iriam, então, da paródia ao pastiche à digressão
e àquilo que chamaria de “tradução global”, em nome da ótima configuração dos devidos
“antídotos” –que é como refere, no ensaio de 1980 (que vem a ser, sabemos, o momento
de Em liberdade), as idéias-chave dos personagens escolhidos a dedo para sua “fábula”.31
Nas entrelinhas do texto, este desbunde acha sua tradução em uma espécie muito nova
e ao mesmo tempo muito velha de romantismo: “O signo estrangeiro reflete no espelho do
dicionário e na imaginação criadora do escritor latino-americano e se dissemina sobre a
página branca com a graça e o dengue do movimento da mão que traça linhas e curvas.
Durante o processo de tradução, o imaginário do escritor está sempre em cena” (23). Aí,
não à toa, o exemplo é cortazariano, isto é, entre canônico e desbundante: 62, modelo para
armar é festejado então por Santiago, que responderia assim, de modo lateral, ao próprio
fenômeno do boom, com o que se creditaria, quem sabe, a membro honorário da famiglia
da intelectualidade latino-americana com sede em La Habana –ainda que para ser
excomungado.32 Afinal, o ensaio sobre o entrelugar desse discurso ideal, bem como
fundamental e fundador, é também um documento de época.
30
A propósito, como Foucault terá “lido” a leitura deste texto ao mesmo tempo lévi-straussiano e
derridiano justo no momento provavelmente mais hostil de sua relação com Derrida? Gayatri Spivak
(“Translator’s Preface” lx-lxii) narra a trajetória deste debate, que vai da primeira (1961) à segunda
edição (1972) da Histoire de la folie, na qual Foucault decide incluir uma extensa e feroz refutação
às críticas de Derrida, o qual o julga ainda preso ao estruturalismo.
31
Os três antídotos apresentados em “Apesar de dependente, universal” são: a antropofagia cultural
“brilhantemente inventada por Oswald de Andrade”; a noção de traição da memória, “eruditamente
formulada por Mário de Andrade”; e, em profissão-de-fé vanguardista, a noção “bem pensante e
possivelmente ideológica” de corte radical, “recentemente defendido e daquela forma cognominado
pelo grupo concreto paulista (a noção é uma apropriação do ‘paideuma’ poundiano, revista pelo
‘parêntese’ isebiano)” (22).
32
Vale notar que coincide neste ponto outra vez com Los Libros, cujo diretor, Héctor Schmucler,
em uma rara aparição no corpo da revista, dedica uma resenha a 62 (“Notas” 11); nela apresenta o
928 JORGE H. WOLFF
Um ensaio por definição não tem fim, já se disse, e não seria necessário repetir.
Bastaria por exemplo ler outra nota agregada a posteriori em um pé de página: “Seguimos
de perto –o autor esclarece– o ensinamento de Derrida em relação ao problema da tradução
em seus pressupostos gramatológicos” (24). E vai citar um trecho de Positions sobre a
tradução como prática da diferença entre significante e significado, ou seja, como
transformação antes que tradução (31). É o momento de ensaiar o passo mais importante
desta leitura na companhia borgesiana de “Pierre Menard, autor del Quijote”. É, segundo
Santiago, a metáfora ideal para “precisar a situação e o papel do escritor latino-americano,
que vive entre a assimilação do modelo original, quer dizer, entre o amor e o respeito pelo
já-escrito, e a necessidade de produzir um novo texto que afronte o primeiro e muitas vezes
o negue” (25). Menard representaria, assim, o semblante dos escritores latino-americanos,
isto é, a sua linguagem em forma de máscara, em sua recusa do espontâneo e em sua escolha
consciente do conhecimento enquanto forma de produção. Afinal, “a assimilação do livro
pela leitura já implica a organização de uma práxis da escritura”. O “outro” autor do
Quixote resume, a seu ver, o mito da liberdade total da criação, “típica da cultura
neocolonialista ocidental” (26), uma vez que se instala na transgressão ao modelo, “no
movimento imperceptível e sutil da conversão, da perversão, da viravolta” (26-7).
Questão de revoluções antes que de revolução, diria um marxista em pleno uso de sua
ortodoxia: Santiago enquanto um pensador pós-marxista –com ênfase, naturalmente, em
ambos termos do composto, como o quer Laclau33–, à diferença do funcionalismo das
leituras de um Roberto Schwarz.34 Por isso, ao fim de seu elogio de Menard, fazendo
menção à idéia de “formas-prisão” devida ao poeta Robert Desnos –e afirmando que “o
artista latino-americano aceita a prisão como forma de comportamento” e “a transgride
romance como modelar para suas propostas de “nova crítica”, já que se trata de uma narrativa não-
representativa. Quanto à famiglia de intelectuais, é um dos temas da constelação de períodicos
culturais armada por Gilman (cap. III).
33
Ernesto Laclau, que colaborou em Los Libros antes de deixar a Argentina, ainda em 1969, expõe
esta noção em diferentes pontos de sua obra, um dos quais é a entrevista “Del Post-Marxismo al
radicalismo democrático” (11).
34
Como em “Nacional por subtração”, intervenção no Simpósio “Tradição/Contradição”, realizado
no Rio de Janeiro em 1985, na qual cita o ensaio “Da razão antropofágica: diálogo e diferença na
cultura brasileira” de Haroldo de Campos ao lado do ensaio-chave de Santiago como exemplos da
entrada da teoria crítica francesa no Brasil. Schwarz voltaria a mencionar o texto sobre o entrelugar,
diante de seu autor, no Colóquio de 1994 em Yale, de maneira redutora (mesmo em castelhano):
“Entre paréntesis”, diz ele, “no cuesta observar que las ideas de Derrida llegaron al Brasil antes de
que se instalara este clima [ie, no decorrer da década de 70, sob os militares, em que “la burguesía
ansiaba la asociación con el capital extranjero, que le parecía más natural que una alianza con los
trabajadores de su país, los cuales a su vez también preferían a las empresas de afuera”]. Recuerdo
un ensayo del amigo Silviano Santiago, aquí presente, que data de 1971, cuyo horizonte aún era otro,
anterior al desbarajuste, y por lo demás bastante peor. Entonces la deconstrucción servía para criticar
al absolutismo autoritario de la dictadura, así como a la rigidez de la izquierda involucrada en la lucha
armada, además de incluir un ligero toque de reivindicación latinoamericanista, cuando cuestiona
el primado del centro sobre la periferia, lo que quizás fuera un modo paradójico de dar continuidad
al nacionalismo del período anterior. Silviano me corregirá si cabe” (“Referencia nacional” 30-1).
Ignoramos se foi dada resposta cabível ao caso.
SOU MARGINAL! SOU HERÓI! 929
V. TROPI(CALI)SMOS
35
Derrida, em recente entrevista concedida a Evando Nascimento, reafirma a idéia de uma
democracia baseada na “solidariedade dos seres vivos”, mais além da cidadania e do Estado-nação
(“A solidariedade” 12-16).
36
“A um poeta bem vestido”. Revista USP (126). Originalmente em Don Goyo. Buenos Aires, 18
de maio de 1926.
930 JORGE H. WOLFF
37
O texto sobre Caetano é uma verdadeira ode ao desbunde, palavra que merece ali explicação: “O
desbunde não pode ser definido como se fosse um conceito e muito menos como se tratasse de uma
regra de comportamento. É antes um espetáculo em que se irmanam uma atitude artística de vida
e uma atitude existencial de arte, confundindo-se” (147). Já o “Rock...” é um texto híbrido e datado,
como o demonstra a nota final: “os dois poemas de Drummond são de Sentimento do Mundo (1940).
O contraponto sonoro é de Sá, Rodrix e Guarabira, de 1972, entrecortado pela voz de Caetano em
67” (11).
38
Cujo miolo merece um deslinde, dedicado aos não-iniciados: Chacrinha foi um personagem mítico
do imaginário popular brasileiro, um humorista a um tempo grotesco e carismático oriundo de
Pernambuco, que se tornaria o primeiro grande apresentador de programa de auditório –“A Buzina
do Chacrinha”– da TV Globo na década de 70; já “dercinesco” faz referência a Dercy Gonçalves,
centenária atriz e humorista da televisão, do cinema e do teatro brasileiros, igualmente identificada
com programas e projetos extremamente populares, e ainda na ativa.
39
Seu primeiro texto em Los Libros, criticando precisamente uma revista, Nueva Crítica, foi
publicado na edição de nº 10, de agosto de 1970 (27).
SOU MARGINAL! SOU HERÓI! 931
Do mesmo modo ligado, mas à política do teatro e ao teatro da política, Augusto Boal
mereceria real posição de destaque no corpo da edição de janeiro-fevereiro de 1971 de Los
Libros, sucedendo a feroz invectiva de Nicolás Rosa contra Victoria Ocampo e o grupo
da recém-finada revista Sur, na abertura deste número doble especial, ocasionado pela
euforia devida à ascensão de Salvador Allende ao poder no Chile. Já o primeiro parágrafo
do artigo, traduzido por René Palacios More, é todo um receituário guerrilheiro para
esquerdistas “festivos, serios o sesudos”, ou seja, um chamado à união de uma então vasta
legião, em um tom entre voluntarioso e primitivesco:
Los reaccionarios buscan siempre con cualquier pretexto, dividir a la izquierda. La lucha
que hay que emprender contra ellos a veces es emprendida por ellos en el seno de la propia
izquierda. Debido a esto, nosotros –Festivos40 serios o sesudos– tenemos que precavernos.
Nosotros, los que en distinto grado deseamos modificaciones radicales en el arte y en la
sociedad, debemos evitar que diferencias tácticas de cada grupo artístico se conviertan
en una estrategia global suicida. Lo que los reaccionarios desean es ver a la izquierda
convertida en una bolsa de gatos; desean que la izquierda se derrote a sí misma. Y contra
esto tenemos que reaccionar: tenemos el deber de impedirlo. (8)
Como se vê, o Brasil entra na oficina de Los Libros, em plena fase de latino-
americanização, ainda que pela janela: o estentor do teatrólogo carioca antidesbunde trata
de escancará-la à base da estridência própria dos discursos panfletários. Detentor da
verdade maiúscula, Boal desafia as ditaduras militares, portanto, através de um libelo
dedicado às três tendências majoritárias do teatro brasileiro, segundo sua opinião: o “neo-
realismo”, mais documental que combativo, de, por exemplo, Plínio Marcos; a “exortação”
ao povo do Teatro de Arena, de Gianfrancesco Guarnieri, simplificadora, maniqueísta mas
“absolutamente indispensável”; e, last and least, conclui com aquilo que identifica de
modo bizarro como –vale repetir– “tropicalismo chacriniano-dercinesco-neorromântico”.
Este monstro cômico-grotesco “pretende ser tudo e não é nada”, segundo ele –e “tudo”
porque abraçava de maneira “festiva”, de Beatles a João Gilberto, para um exemplo claro
e musical. Mas concede à criatura –naquele que é um dos textos mais arbitrários da revista
nesse período– certas virtudes, entre as quais a de ter inventado o portunhol.41 No entanto,
seria para ele a tendência politicamente mais próxima das versões de direita, ao mesclar
40
Nota do original: “En el lenguaje popular se denomina esquerda festiva (izquierda festiva) a la que
reúne a los intelectuales con escasa capacidad de agresión. El término surgió, seguramente, pocos
años atrás en oportunidad del enfrentamiento de las líneas maoísta y moscovita; tiene, por cierto,
connotaciones peyorativas”.
41
Como exemplo extremo –embora o portunhol já apareça em Serafim Ponte Grande (1933)–,
lembro a canção “El justiciero”, do grupo tropicalista Mutantes, em que Rita Lee Jones clama
oswaldianamente por “socuerro” e diz, em portunhol mesclado com italiano, após introdução em
inglês: “Io tengo treinta hijos con hambre!/ La guerra me ha estrupato tanto!/ Socuerro, Justiciero,
aiútame!” A canção aparece em um disco de 1970, Tecnicolor, gravado em Paris e redescoberto
somente em 97. Observo também, en passant, que as primeiras canções da Tropicália foram
interpretadas por Caetano Veloso ao lado de um quinteto de (então) escandalosos cabeludos from
Buenos Aires, The Beat Boys, depois rebatizados como Os Bichos (o que gostaria de interpretar
como uma homenagem a Lygia Clark, conforme o faz o narrador mutante em Stella Manhattan).
932 JORGE H. WOLFF
Roberto Carlos com Jack [sic] Lennon, por ser importada e “antipueblo” –em uma palavra,
são criminosos na concepção de Boal, que conclui pobre e melancolicamente seu artigo,
ao afirmar com as letras todas que “a Verdade” estaria exposta na 1a Feira Paulista do
Opinião, isto é, do seu próprio teatro.42 Importa, ainda, mencionar –a partir daquilo que
se julgava a tendência politicamente correta à esquerda, embalada para um periódico não
menos razoável na Argentina– uma das notas de rodapé, referência a um ponto central do
Rio de Janeiro, a Cinelândia, de conteúdo tão fascistóide quanto pôde ser o regime de Fidel
Castro em tempos de violenta caça aos “marginais”: o local seria freqüentado
“característicamente, por cuanto travesti anda suelto” (grifo meu).
Diria-se que, entre a imposição da ordem e o grito de apelo, tal análise exemplar
concentra, antecipa e revela, em um pequeno texto brasileiro em versão castelhana, o forte
dogmatismo característico sobretudo dos últimos anos de Los Libros, quando a efervescência
política atingiu um auge na Argentina. E é certamente naquele ponto demarcado em
tonalidades bizarras pelo dramaturgo brasileiro que se situaria o discurso de Santiago
enquanto alvo da veia revolucionária do grupo de dissidentes do comunismo soviético –
ao qual, seguindo o chamado à união do artigo, todos se somavam, ou deveriam se somar.
Ocorre que, sabidamente, a estridência transformava a voz alheia, fosse qual fosse, em
direitista, desenvolvimentista, entreguista, progressista ou fascista –e o texto de Boal cai
como luva em posse do grupúsculo de intelectuales (cada vez menos) independientes que
mantinha a revista portenha. O autor de Em liberdade seria imediatamente transformado,
ou melhor, travestido em escritor-crítico-professor irremediavelmente festivo, membro
atuante da cultura brasileira do desbunde –vale dizer, da gente que andava solta–, que se
insurge contra o idéario nacional-popular de direita ou esquerda (e que posteriormente se
tornaria hegemônica, em outra volta do parafuso). No período mais sectário, posterior à
cisão de 1972, o conceito de entrelugar seria taxado de mera abstração “declaracionista”,
resultante de mente forjada na fina flor do idealismo, em sua versão burguesa modernizante,
estruturalista. Como problema conexo, poderíamos perguntar onde se situariam os atuais
subalternistas neste debate, e até arriscar uma resposta, diante da gritante institucionalização
da barbárie tropical: com Boal, contra a videopolítica, por uma teoria “antiglobal”,
conforme, por exemplo, Alberto Moreiras, ou o mesmo Avelar.43
A edição inaugural de 1971 apresenta um espectro heterogêneo de preocupações em
uma revista em plena metamorfose. O semiólogo Nicolás Rosa, “cientificista” e
“estruturaloso”, conforme a opinião corrente, abre-a no campo da crítica literária,
mantendo o verniz teórico barthesiano-althusseriano-lévi-straussiano (ainda não derridiano)
que funda a empresa dois anos antes. Logo Boal faz a sua pregação histericamente
nacionalista e antiimperialista, sendo sucedido por sociólogos, entre os quais James
42
Note-se também que a tarefa de animação cultural ao mesmo tempo paradoxal e aberta de
Santiago nos Estados Unidos, durante 1971, incluiria apresentações de “Arena conta Zumbi”, maior
sucesso do Teatro de Arena, ao lado de exposição de Hélio Oiticica e de retrospectiva de filmes de
Glauber Rocha, com a presença do cineasta, na State University of New York at Buffalo.
43
Evidentemente que ambos a anos-luz do panfletarismo de Boal. Ver A exaustão da diferença, de
Moreiras, e The Untimely Present, de Avelar, que é outro intelectual oriundo de Minas Gerais em
carreira universitária americana.
SOU MARGINAL! SOU HERÓI! 933
Petras, Alain Joxe e José Nun, que abordam a política no Chile, por um escritor, Ariel
Dorfman, com um texto trôpego e interessado sobre a “actual narrativa chilena”, e por um
comunicólogo, Armand Mattelart, sobre a questão da comunicação de massas no país.44
Há espaço ainda –lemos número duplo e especial– para uma longa entrevista com líderes
do “campamento de pobladores Che Guevara”, de gente sem-terra, além de um texto sobre
a economia do país (setor de que os editores não descuidaram); encerradas as páginas
chilenas, surge uma homenagem ao filósofo Carlos Astrada, recém-falecido,45 assinado
pelo discípulo Raúl Sciarreta, e finalmente a continuidade da polêmica sobre as
“comunidades terapéuticas”, já que não poderia faltar um pouco de saúde mental –outro
setor de permanente consideração na trajetória da revista, da primeira à última edição.
Em abril de 1971, Los Libros, almejando fazer história, concederia novo espaço
especial ao teatrólogo brasileiro, sob a forma de uma nota em protesto justamente pela
prisão de “Agustín” Boal no Brasil –após ter passado por Buenos Aires com sua
companhia teatral em dezembro de 70–, a qual remete a seu panfleto publicado dois
números antes.46 Há um vasto elogio de sua intensa atividade artística e política, e uma
longa citação de uma resposta a um “circunstancial discípulo” sobre o teatro como arte
popular e sobre a possibilidade de qualquer artista ou cidadão brasileiro enfrentar o
cárcere, como uma premonição: não se trata aí de “forma-prisão”, lembraria um crítico
terra-a-terra de Santiago, mas de prisão tout court, com direito a sessões de tortura –que
Boal relembra em recente entrevista (“Exilado” 28-33).
Mas, a partir de seu discurso em Los Libros, além da própria presença na revista,
pode-se indagar a quem concederia o papel de intelectuais festivos entre os mesmos
integrantes de seu núcleo principal. Servindo melhor ou pior, a carapuça recairia bastante
provavelmente sobre a dissidência “psicanalítica”, representada depois pelo grupo de
Literal, precursor da vertente lacaniana “de combate” em Buenos Aires, sob o influxo de
Oscar Masotta, que colabora com Schmucler, divulgando a obra de Freud e Lacan, desde
a primeira fase da revista. Quando os pratos se quebram, em 72, o grupo encabeçado por
Germán García arremete com decisão contra as “políticas de la felicidad”, características
de Los Libros –assim como de Crisis, de Nuevos Aires ou de El Escarabajo de Oro–, em
maior ou menor grau, mas de fato cada vez mais intensamente com o novo comitê de
redação formado por Sarlo, Altamirano e Piglia. Literal, denominação telqueliana também
em sentido literal, investe nas políticas do corpo e da escritura através de uma publicação
efêmera que redunda em marginalidade e aversão deliberadas, diante da legibilidade dos
textos em geral e da escritura selvagem em particular de Osvaldo Lamborghini –a quem
Literal deve grande parte de seu interesse. É de sua lavra, apesar de não existir assinatura47
44
A vertente sociológica brasileira era a única que dialogava mais efetivamente com a intelectualidade
hispano-americana, o que pode ser verificado nas páginas de Los Libros, assim como na Revista
Civilização Brasileira. E Mattelart se tornaria sócio de Schmucler, que se exila no Chile, após deixar
a revista que havia fundado em Buenos Aires – ou após ser expulso dela, segundo depoimento de
Sarlo (13-4).
45
Astrada, considerado em Respiración artificial “o único filósofo verdadeiro que este país já
produziu em toda a sua história”, único ou não, foi o introdutor do existencialismo na Argentina.
46
A nota, não assinada, saiu em Los Libros nº 18 (29).
47
Germán García “delata” o autor em “La intriga de Osvaldo Lamborghini” (54-7). Em dezembro
de 1980, uma nova publicação argentina, Lecturas Críticas, começa a romper o isolamento.
934 JORGE H. WOLFF
(como em toda primeira metade do primeiro número), o breve texto programático final,
“La intriga”, que junta Nietzsche com Sade a partir de Deleuze com Guattari –todos, de
um ou de outro modo, na raiz do olhar tropical de Santiago:
São de fato políticas similares –a literatura, o Mal– em que, à sua maneira, o autor de
Uma literatura nos trópicos e Em liberdade investe, com o destemor típico dos festivos
mais temidos, embora também devamos assinalar os limites desse parentesco: sua
atividade críptica se situaria, de modo consciente e inconsciente, ainda uma vez, entre.
Ou seja, nesse caso em um lugar que o vincula, de um lado, ao “lacanismo de combate”49
de Literal, no sentido de sua política de vanguarda, que era a da dispersão e a da “festa”,
e, de outro, à perspectiva histórica e ao formalismo de um Ricardo Piglia, no sentido de
seu vanguardismo estético. Algo parecido com o que se dá com o próprio diretor (e
mantenedor) de Literal, Germán García, cujo diálogo com Piglia permanece constante,
talvez (também) porque este não resistirá ao apoio declarado pela dupla Sarlo-Altamirano
ao governo isabel-peronista, tornando-se, já nos estertores de Los Libros, um novo tipo
de dissidente, situado entre Mao, Brecht, Arlt e, algo incomodamente naquele momento
(embora o nome soe melhor, como o de Mao), Borges.
Agregaria, por fim, que na única vez em que a voz de Osvaldo Lamborghini se faz
ouvir em Los Libros, respondendo a uma enquete, é para, justamente, criticá-la de forma
bárbara.50
Formado por Nora Domínguez, Alan Pauls, Silvia Prati, Renata Rocco-Cuzzi, Adriana Rodríguez
Pérsico, Alfredo Rubione e Mónica Tamborenea, seu grupo de novos críticos é tributário daquele
de Punto de Vista, que surge em 78 com, outra vez, Sarlo, Altamirano e Piglia. Um de seus
entrevistados é Osvaldo Lamborghini (além de Rosa, Sarduy e o mesmo Piglia), quem, a propósito
da “flexión literal”, trata de pôr lenha na fogueira: “yo no estaba en Literal, yo hacía junto con
Germán García, Literal” (“El lugar del artista. Entrevista a Osvaldo Lamborghini” 49) – e isto
provavelmente porque soubesse que García o tinha como um “populista oligárquico” ou um
“aristócrata popular” (conforme o texto citado).
48
Ao abordar “el régimen de la locura” neste texto, O. Lamborghini refere-se explicitamente à noção
derridiana ativada por Santiago anos antes: “ ‘Había’, en estilo patético, llegado el momento de
aceptar que ‘entre’ la fábrica occidental y los métodos, gráficos y organigramas de la esquizofrenia
reina un estado de semejanza; y que esta institución monárquica se ríe sosegadamente de otros
supuestos poderes. Porque un texto es un juego ‘entre’ un texto y un juego” (120-1).
49
A expressão é de Néstor Perlongher.
50
Transcrevo sua resposta para a questão “¿Existe crítica literaria en la Argentina?”: “No hay crítica
literaria en la Argentina; pero creo que la pregunta debe contestarla quien la formula: Los Libros,
que pide a un autor que en sesenta líneas (autor que por su parte no se niega a responder) conteste
SOU MARGINAL! SOU HERÓI! 935
sobre la literatura, la crítica, sus proyectos y el papel de los medios de información. Como parte del
fenómeno, la opinión de Los Libros es más importante que la mía. Podría informar a los lectores a
respecto de su propia ‘tendencia crítica’. Tengo unas enormes ganas de enterarme a qué se debe
semejante hibridaje entre estruturalismo y esa otra cosa que ha invadido sus páginas, especialmente
las dedicadas a la crítica de libros. En el número 5 se nos informa, por ejemplo, que un autor posee,
según la afirmación de Roa Bastos que firma la reseña, ‘un innato talento narrativo’, mientras otro
(es Carmen Sgrosso quien lo dice) propone a sus lectores un juego ‘diabólicamente infantil’, en tanto
un tercero ha escrito una ‘sugerente novela’ (Alberto Perrone firma en ese caso). En suma, que la
pregunta planea en el vacío. Formularla o contestarla implica cierta dosis de humor siniestro y
muchas ganas de jugar a las escondidas” (“La literatura argentina 1969” 12).
51
A citação aparece em García, Germán Leopoldo. “Música Beat: los jóvenes en el espejo”, no
mesmo número (18) de Los Libros em que é noticiada a prisão de Augusto Boal.
52
Ver editorial de Los Libros nº 35, mayo-junio de 1974 (3).
936 JORGE H. WOLFF
53
Baseio-me na versão em inglês (“Latin American Literature” 18-9) que diz: “The Latin American
writer teaches us that, if the Revolution occurs, it will be under difficult, laborious circumstances.
Latin America must be freed from its smiling, touristic image of the ‘carnaval’ and the ‘fiesta’”. As
duas sentenças viram uma só, portanto, em português.
54
A tradução da versão inglesa – concluída com data e local: “Buffalo-Montreal, 1971” – é minha.
SOU MARGINAL! SOU HERÓI! 937
povoado de marginais mas já sem heróis, sob as etiquetas (também muito genéricas) de
estudos culturais ou de estudos subalternos, com o seu universo de problemas específicos.
Ou, no limite, sob nenhuma etiqueta existente no mercado: uma nomenclatura à venir, em
algum lugar entre estas vertentes, varadas pelas verdades sociais manifestadas de modo
único, ou seja, infinito e indecidível pela literatura.
Não obstante, as lutas continuam: a ver qué pasa.
BIBLIOGRAFIA
Andrade, Oswald de. “Sol da meia-noite”. Ponta de lança. Obras completas de Oswald
de Andrade. São Paulo: Globo, 1991.
Arlt, Roberto. “A um poeta bem vestido”. Revista USP 47 (São Paulo, set.-nov. 2000).
Trad. Maria Paula Gurgel Ribeiro.
Avelar, Idelber. The Untimely Present. Postdictatorial Latin American Fiction and the
Task of Mourning. Durham/London: Duke University Press, 1999.
Barros Camargo, Maria Lúcia de. “Atividade crítica e periodismo cultural no Brasil
contemporâneo” (inédito).
Boal, Augusto. “Situación del teatro brasileño”. Los Libros 15-16 (Buenos Aires, jan.-fev.
1971).
_____ “Exilado. Entrevista”. Revista Caros Amigos (São Paulo, abril 2001).
Bosteels, Wouter. “Los Libros: desacralización o resacralización”. América. Cahiers du
CRICCAL 15/16. Paris: Presses de la Sorbonne Nouvelle, 1996.
Derrida, Jacques. L’écriture et la différence. Paris: Seuil, 1967.
_____ Positions. Paris: Minuit, 1972.
_____ “La loi du genre”. Parages. Paris: Galilée, 1986.
García, Germán L. “Música Beat: los jóvenes en el espejo”. Los Libros 18 (Buenos Aires,
abril 1971).
_____ “La intriga de Osvaldo Lamborghini”. Innombrable 2 (Buenos Aires, 1985).
_____ “El exilio de escribir”. Hispamérica XX/59 (Gaithersburg, 1991).
Gilman, Claudia. Entre el fusil y la palabra: dilemas de la literatura revolucionaria.
Buenos Aires: Sudamericana (no prelo).
Laclau, Ernesto. “Del Post-Marxismo al radicalismo democrático”. Materiales de Krítica.
Santiago do Chile, agosto 1986.
Lamborghini, Osvaldo. “La literatura argentina 1969” (enquete). Los Libros 7 (Buenos
Aires, jan.-fev. 1970).
_____ “La intriga”. Literal 1 (Buenos Aires: Noé, novembro 1973).
Leminski, Paulo. Caprichos & Relaxos. São Paulo: Brasiliense, 1983.
Moreiras, Alberto. A exaustão da diferença. A política dos estudos culturais latino-
americanos. Trad. Eliana Reis e Gláucia Gonçalves. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2001.
Nascimento, Evando. “A solidariedade dos seres vivos. Entrevista com Jacques Derrida”.
Suplemento Mais!, Folha de S. Paulo (27 maio 2001).
Panesi, Jorge. “La crítica argentina y el discurso de la dependencia”. Críticas. Buenos
Aires: Norma, 2000.
938 JORGE H. WOLFF
POR
1
Punto de Vista aparece en Buenos Aires en el contexto de una sociedad totalmente controlada por
un Estado autoritario lo que la lleva a omitir cualquier declaración de intenciones y a apelar a
estrategias de enmascaramiento discursivo durante los primeros números. Recién en el número 12
de la publicación, de julio-octubre de 1981, se presenta el primer editorial y el Consejo de Dirección
comprendido por Beatriz Sarlo como Directora y el grupo de intelectuales que dio inicio a la revista:
María Teresa Gramuglio, Carlos Altamirano, Hugo Vezzetti y Ricardo Piglia.
2
El Cebrap (Centro brasileiro de análise e planejamento) fue organizado en São Paulo por un grupo
de intelectuales que había sido expulsado de la universidad por las medidas impuestas por el Acto
Institucional n.5 de la dictadura militar. A partir de 1969, este centro se suma al conjunto de institutos
privados que en América latina funcionaron como espacios alternativos de producción y difusión
del conocimiento en el área de las ciencias sociales. Entre las publicaciones del Cebrap se encuentran
las series de Cadernos (1967-1984) y Estudos (1971-1980). En 1981, en un clima de relativa
distensión política, el centro presenta el primer número de Novos Estudos con un editorial firmado
por Roberto Schwarz en el que se explicita la intención de trabajar por una democratización
exhaustiva de la sociedad brasileña. Es importante señalar que el consejo directivo del Centro no
coincide con el consejo editorial de la revista que está integrado por Juárez Rubens Brandão Lopes
(presidente, que en 1986 va a ser reemplazado por Francisco de Oliveira), Antônio Flávio de Oliveira
Pierucci, Carlos Estevam Martins, Danielle Ardaillon, Francisco de Oliveira (secretario), Pedro
Paulo Poppovic, Perseu Abramo, Roberto Schwarz y Vinícius Caldeira Brant. En ese año el director
del Cebrap es Fernando Henrique Cardoso.
940 ANA CECILIA OLMOS
3
Para el desarrollo de esta problemática en ambas revistas remitimos a los siguientes textos
(indicamos autor, título, número de la publicación y año). De Punto de Vista: PEHESA, “¿Dónde
anida la democracia?” 15 (1982); Carlos Altamirano, “La oposición en el socialismo real” 14
(1982); Osvaldo Guariglia, “¿Qué democracia?” 18 (1983); Beatriz Sarlo, “La izquierda ante la
cultura: del dogmatismo al populismo” 20 (1984); “Una alucinación dispersa en agonía” 21 (1984);
Carlos Altamirano,“Imágenes de la izquierda” 21 (1984); Juan Carlos Portantiero, “Socialismo y
Democracia. Una relación difícil” 20 (1984); Emilio de Ipola y Juan Carlos Portantiero, “Crisis
Social y pacto democrático” 21 (1984); Fernando Henrique Cardoso, “La democracia en América
Latina” 23 (1985); Pietro Ingrao, “Contra la reducción de la política a la guerra” 20 (1984); José Nun,
“La rebelión del coro” 20 (1984); “Democracia y Socialismo: ¿etapas o niveles?” 22 (1984);
“Intelectuales: ¿Escisión o mímesis?” 25 (1985); “Elementos para una teoría de la democracia.
Gramsci y el sentido común” 27 (1986); Carlos Altamirano,“El intelectual en la represión y en la
democracia” 28 (1986); “La legitimidad democrática y los parecidos de familia” 31 (1987); Albert
Hirschman, “Opiniones obstinadas y democracia” 35 (1989). Entre los editoriales de Novos
Estudos, ver: Francisco de Oliveira, “O compromisso dos intelectuais” 3 (1982); Maria da
PRÁCTICA INTELECTUAL Y DISCURSO CRÍTICO EN LA TRANSICIÓN 941
En este punto, sin embargo, no podemos dejar de señalar que fue la ostensiva
insistencia en ese discurso institucionalista lo que marcó el gesto pedagógico de ambos
proyectos. La pedagogía, sabemos, habitualmente no alimenta posiciones críticas y ahí
residió la paradoja de estas dos revistas en el contexto de la transición: trabajar por la
constitución de un ciudadano libre al mismo tiempo que sus prédicas homogeneizaban
líneas de acción, al punto de asumir, incluso, el riesgo de hacer del campo político un
ámbito indiferenciado. Si distinguimos –como lo hacen Heller y Feher (113-14)– las tres
esferas típicas de las sociedades modernas: la de lo cotidiano, la de las instituciones
políticas y económicas y la de las ideas y prácticas culturales, podemos postular que la
intención de ambas revistas fue proyectar, desde el ámbito cultural hacia las dos primeras
esferas, visiones del mundo articuladas con exclusividad sobre la base de relatos
democráticos. Es decir: en estas publicaciones la visión crítica de la sociedad no dejó de
investirse del gesto pedagógico de la lúcida conciencia del ciudadano de izquierda en cuyo
discurso parecían repercutir, aún, los resabios de una elocuencia que aspiraba a revelar una
verdad que no podía ser percibida o enunciada por otros.4
Aunque la insistente prédica institucionalista de Punto de Vista y Novos Estudos nos
remita al gesto pedagógico de una izquierda que, por esos años, se presentaba como una
suerte de vanguardia de la virtud cívica, no podemos dejar de considerar que, al trabajar
por la constitución de un espacio público democratizado, estas publicaciones dejaron la
marca de la indignación frente a lo existente y revelaron, en la emocionalidad de sus
proyectos, un movimiento dispuesto no sólo a superar el estado de las cosas sino, también,
a escapar del fantasma de las izquierdas totalitarias. Este fantasma, que amenazaba el
horizonte de estos proyectos, exigía que su intervención política y cultural pusiese en
escena una práctica ética pensada en términos de autoexamen y redefinición crítica para
5
Consideramos que este doble movimiento que Pécaut reconoce en los intelectuales de izquierda
brasileños que actuaron durante la transición puede ser pensado, en los mismos términos, con
relación a los intelectuales argentinos del período. Cfr. Daniel Pécaut (250).
PRÁCTICA INTELECTUAL Y DISCURSO CRÍTICO EN LA TRANSICIÓN 943
postulados que orienten sus actos.6 Es decir, estos intelectuales configuraron una ética en
la que la decisión individual asume una relevancia significativa y pasa a ser el fundamento
que explica y justifica los desplazamientos políticos e ideológicos que la relación entre la
reflexión teórica, la producción textual y la intervención pública, en algunos casos, llegaba
a poner en evidencia.7 No resulta extraña esta posición si se piensa que junto con el ideario
marxista revolucionario habían caído, también, todas las coacciones del compromiso que
de él dependían y, sobre todo, si se tiene en cuenta que la complejidad y la movilidad del
juego político de la transición eran sentidas como una amenaza permanente a cualquier
aspiración de congruencia.
Pero más allá de los desplazamientos estratégicos que imponen períodos de alta
inestabilidad política como son los de las transiciones, no se puede desconocer que la
condición de elite de estas formaciones intelectuales también pone en alerta la radical
determinación democrática que sostenían sus intervenciones en la esfera pública. Se trata
de una condición de elite fundada en la posesión de un saber letrado que –como señala
Chauí (Entrevista)– determina una localización social de privilegio que otorga un sesgo
profundamente autoritario a la presencia pública del intelectual. Una intervención pública
que Rama, varios años antes, no dudó en referirse a ella como un “flexible despotismo
ilustrado” (3-10) que define la práctica del intelectual latinoamericano como un trabajo de
intermediación entre el saber letrado y el campo político donde se procesan las demandas
sociales. Trabajo de intermediación que hizo que Francisco de Oliveira, por ejemplo,
hablara de los intelectuales de izquierda como los “ventrílocuos tecnocientíficos” de la
clase media brasileña que, al hegemonizar el campo político de la transición, definía sus
rumbos y condenaba al silencio a las fracciones sociales dominadas y totalmente excluídas
por el sistema represivo de la dictadura.8
6
Nos referimos a una ética de la autonomía en los términos en que la define Castoriadis (65-66):
articulada a la institución de un régimen verdaderamente democrático. “Una autonomía de esta guisa
–afirma el autor– sea en el plano individual como en el colectivo, no nos garantiza, evidentemente,
una respuesta automática a todos los asuntos que la existencia humana plantea; aún tendremos que
afrontar las condiciones trágicas que caracterizan la vida, el no siempre saber distinguir, ni
individual ni colectivamente, dónde campea el bien y dónde el mal. Pero no estamos condenados al
mal, como tampoco al bien, porque podremos volver atrás, individual y colectivamente, reflexionar
sobre nuestros actos, retomarlos, corregirlos, repararlos”.
7
En este sentido pueden interpretarse los discursos de autorepresentación intelectual que ambas
publicaciones exponen en el trazado de linajes intelectuales a los que se afiliarían históricamente.
Las referencias de Punto de Vista a Echeverría, Hernández, Martínez Estrada, FORJA o la revista
Contorno, así como las de Novos Estudos a Sérgio Buarque de Hollanda, Caio Prado Júnior o
Antonio Candido funcionan a la manera de conjuros ante los riesgos de un ejercicio intelectual que,
a la intemperie de resguardos teóricos, ideológicos y/o académicos, debía asumir en la esfera pública
desempeños pragmáticos que amenazaban, permanentemente, el deber ser de su práctica. Para un
desarrollo más detenido de esta cuestión, ver Ana Cecilia Olmos (75-100).
8
Dice Francisco de Oliveira no seu artigo “Além da transição, aquem da imaginação”: “Assim, os
temas da controversia do discurso político nos últimos dez anos testemunham que foram físicos
contra o Estado no debate sobre as centrais nucleares; economistas contra o Estado no debate sobre
o modelo econômico; cientistas políticos contra o Estado no debate sobre o Estado de exceção;
sociólogos contra o Estado no debate sobre o caráter concentracionista e excludente da sociedade
afluente que o crescimento criou; ecologistas contra o Estado no debate sobre a depredação do meio
ambiente; antropólogos contra o estado no debate sobre a questão indígena” (10).
944 ANA CECILIA OLMOS
culturalista inglés como una tentativa de recuperar una dimensión histórica para la
reflexión sobre la literatura que había sido abandonada a cambio del estructuralismo que,
enclaustrado en las aulas universitarias, postulaba la autonomía de su objeto y multiplicaba
hasta la exasperación sus relaciones internas (Panesi 10). Como señala Sarlo, se trataba
de un discurso objetivante que tuvo un efecto profundo en las disciplinas literarias al
“desprestigiar las perspectivas históricas que sufrieron la misma suerte de los sujetos: ser
convenientemente amontonados con los desperdicios y restos del humanismo, el
biografismo, las mentalidades, las intenciones y las influencias” (“Clío revisitada” 24).
Sabemos que el estructuralismo en su propósito radical de “desnaturalizar” presupuestos
literarios tradicionales llegó a los límites extremos de eliminar, drástica y definitivamente,
al sujeto, la experiencia y la historia de su horizonte de reflexión y de centrarse en una
hermenéutica cuya clave interpretativa era, con exclusividad, el propio lenguaje. Por
cierto, esta hegemonía del estructuralismo en el campo de la crítica literaria no dejaba de
tener sus implicaciones ideológicas y es Raymond Williams quien, en la entrevista que
Punto de Vista le realizara, las explicita al afirmar que:
9
Este pasaje se registra en los siguientes textos: Crítica y ficción (1970) y Los fulgores del simulacro
(1987) de Nicolás Rosa; El fuego de la especie (1971), La memoria compartida (1982) y Los ejes
de la cruz (1983) de Noé Jitrik; Nueva novela latinoamericana (1969-1974) de Jorge Lafforgue y
Cien años de soledad. Una interpretación (1970) y Onetti, los procesos del relato (1977) de
Josefina Ludmer.
PRÁCTICA INTELECTUAL Y DISCURSO CRÍTICO EN LA TRANSICIÓN 947
Es en este sentido que Sarlo interviene en el debate sobre la crítica literaria de esos
años: denunciando la imposibilidad de pensar en una textualidad absolutamente
autorreferida. En una reseña de 1982, del libro de David Viñas, Literatura argentina y
realidad política, Sarlo destaca la pertinencia de una perspectiva crítica que inserta el
discurso literario en la trama social y lo atraviesa con los discursos “de la ideología y,
eventualmente, con las formas más explícitas de lo político” ( “La moral de la crítica” 21).
Al leer el texto literario dentro del texto social, Viñas construye un nuevo objeto,
“contaminado”, que, contra la asepsia estructuralista, exige un abordaje crítico que opera
por la “mezcla”. Para Sarlo, Viñas lee desde una perspectiva histórica, sociológica y
política, pero no en el sentido de un método suplementario sino como horizonte absoluto
de toda lectura interpretativa. Viñas “habla de lo que importa”, afirma taxativamente la
autora y, recuperando el Barthes de las Mitologías, define en la crítica de Viñas el deber
ser de esta práctica: develar la supuesta naturalidad de las significaciones tradicionales,
desenmascarar su sentido histórico, su carácter de código social.
Un año después, en 1983, Altamirano y Sarlo publicaban su libro Literatura/
Sociedad en el que postulaban la necesidad de abrir la reflexión a zonas menos especializadas
del saber que pensasen a la literatura como una práctica discursiva inserta en un juego de
interrelaciones sociales y al discurso teórico y crítico como una práctica significativa de
carácter multidisciplinario. Precisamente a esta diversidad de abordajes apunta la
conceptualización de “sociología de la literatura” que Punto de Vista usa en una época en
que los estudios culturales aún no habían dominado la escena disciplinaria. Entendida
como un “lenguaje inestable” (Gramuglio 12), heterogéneo y fragmentado, de límites
difusos y zonas superpuestas, esta “sociología de la literatura” se cruzaba con disciplinas
diversas (desde la filosofía a las ciencias sociales), se apropiaba de autores y reformulaba
tendencias no siempre convergentes, componiendo un marco teórico heterodoxo que
intentaba dar cuenta del carácter heterogéneo de la trama textual, de su historicidad y de
la existencia del autor y del lector en tanto sujetos sociales imprescindibles al proceso de
producción literaria.
Lejos de configurar un sistema, la propuesta de Altamirano y Sarlo trazaba recorridos
teóricos y metodológicos diversificados que desbordaban los límites específicos de la
crítica literaria. Resistir a modelos epistemológicos rígidos significaba, en los ochenta,
construir objetos “contaminados” y asumir abordajes críticos de “mezcla” que, desde
perspectivas históricas, sociológicas y políticas, cuestionasen el enclaustramiento de lo
literario. Al respecto, Sarlo se preguntaba “si la fetichización del texto no ha producido
discursos objetivantes más indiferentes a la especificidad artística que algunas incursiones
históricas y sociológicas”, y agregaba:
No todo lo que interesa saber sobre la literatura o el arte puede encontrarse de manera
exclusiva en las obras. Frente a ello sólo se me ocurren dos posibilidades: o declarar ese
interés ilegítimo o buscar también en otra parte. No es completamente ilusorio que restos
deleznables para una mirada puedan rendir su significación frente a otra. (“El saber del
texto” 26)
948 ANA CECILIA OLMOS
10
Ver: Roberto Schwarz. “Complexo, moderno, nacional e negativo”, 1.1 (1981); “A velha pobre
e o retratista”, 1.2 (1982); “Uma desfaçatez de classe”, 11 (1985); “O sentido histórico da crueldade
em Machado de Assis”, 17 (1987).
PRÁCTICA INTELECTUAL Y DISCURSO CRÍTICO EN LA TRANSICIÓN 949
frase, la mezcla de estilos, en fin, controla –a la manera de una lógica implacable– todos
los niveles de la composición narrativa. Dice Schwarz:
En efecto, un paso más allá del momento analítico formal de la lectura, Schwarz
demuestra que la ambivalencia del narrador funciona como una transposición de los
dilemas ideológicos de una oligarquía que a fines del siglo XIX se debatía entre la
arbitrariedad de una sociedad esclavista y la norma liberal europea (referente cultural
hegemónico de la época). Pero no se trata de una mera transposición: la dualidad de
criterio, constitutiva de la forma de la novela machadiana, configuraría la denuncia tácita
de esa incongruencia alarmante entre el modelo civilizador y el inculto paisaje local que,
históricamente, alimentó el sentimiento brasileño de los contrastes culturales. Un juego de
contrastes que, con matices, atraviesa el pensamiento brasileño y encuentra en Schwarz
su formulación en términos de una dialéctica entre lo local y lo cosmopolita (Arantes 20).
Este desajuste ya había sido expuesto por Schwarz en su conocido ensayo de 1973
“As idéias fora do lugar”; un análisis que, articulado a las teorías dependentistas de la hora,
leía en el plano estético la disparidad producida por la extraña coexistencia del régimen
esclavista y el ideario liberal europeo. Disparidad que colocaba a la esfera de la cultura en
una “posición alterada” que denunciaba no sólo su carácter ornamental sino, y sobre todo,
los aspectos disonantes de una modernidad periférica.
Este desconcierto entre la esfera de la cultura y la sociedad, así como los peculiares
mecanismos elaborados para su articulación (la servidumbre y el clientelismo) es la
materia inmediata y natural del novelista quien deberá formular, en una determinada
construcción narrativa, las mediaciones apropiadas para la estilización de la dinámica
social. Es en este sentido de traducción estética de una determinada dinámica social que
Schwarz lee la volubilidad del narrador de la novela de Machado de Assis. En el reverso
de esa aparente inconsistencia de la composición narrativa se identifica la denuncia de un
comportamiento de clase ambiguo, suspendido entre la arbitrariedad del propietario
abastecido y el discurso esclarecido del liberalismo europeo.11
A diferencia de la novela realista analizada por Lúckacs que contraponía el individuo
fuerte a la sociedad para exponer las contradicciones e injusticias del orden burgués,
Machado de Assis expone la vida bien provista de las clases dirigentes brasileñas que
sostenían un ideario liberal en el contexto de una sociedad esclavista con el propósito de
acentuar la denuncia de esta incongruencia. Sin embargo, señala Schwarz, este gesto de
censura del autor supera el ámbito local y adopta una posición de crítica negativa frente
11
Dice Schwarz en su artículo “Complexo, moderno, nacional e negativo”: “...a lei da prosa
machadiana seria algo como a miniaturización ou diagrama do vaivém ideológico da classe dirigente
brasileira, articulada com o mercado e o progresso internacionais, bem como com a escravidão e o
clientelismo locais. Um vaivém que resume o vexame pátrio, mas não se esgota nele, pois diz respeito
também à história global de que o mesmo Brasil é parte efetiva, ainda que moralmente condenada:
a norma burguesa no seu todo não se pauta pela norma burguesa” (50).
950 ANA CECILIA OLMOS
Por lo expuesto hasta aquí, creemos haber dejado claro que para Sarlo y para Schwarz
la literatura, en tanto discursividad social, no carece de un contenido de verdad, no
escamotea un saber sobre lo real y tampoco niega una carga experiencial, sino que –lejos
de explicitarlo todo en los modos de una representación de la transparencia– lo hace
presente bajo la condición velada de la forma estética.
Al respecto, Schwarz dice que “se de fato a insistência na forma, na primazia da
organização sobre os elementos de conteúdo serviu para distinguir a linguagem artística
das demais, ela também permite o confronto e algo como uma competição entre as
linguagens, devolvendo à literatura a dimensão de conhecimento que ela evidentemente
tem” (Os pobres 7). Por su parte, Sarlo sostiene que “no hay muchos otros discursos que
puedan trabajar como el arte, en un mundo laico y abandonado por los dioses, sobre los
límites extremos, rodeando ese núcleo resistente y terrible que podría denominarse lo real”
y, recordando a Benjamin, especifica que la forma figurada que asume la verdad en la
literatura “no restaura una totalidad a partir de fragmentos dispersos (empresa quizá
imposible) pero sí construye tramas y constelaciones de sentido, que plantean lecturas
diferentes y alternativas del orden de lo real, según una pluralidad de regímenes
discursivos y de estrategias de desciframiento” (“El saber del texto” 7).
Según esta idea de literatura –como discurso que se abre a la interpretación en el
espacio de la figuración de la verdad– nuestros autores no pueden dejar de concordar en
el principio de una crítica alegórica para el análisis de la forma estética. Si, como señala
Jameson (O método Brecht 171-79), la alegoría es una herida en el texto por la que circula
PRÁCTICA INTELECTUAL Y DISCURSO CRÍTICO EN LA TRANSICIÓN 951
una pluralidad de significaciones posibles, es evidente que tanto Sarlo como Schwarz
conciben la práctica crítica como un movimiento de lectura que abre una distancia sutil en
el interior de la obra para hacer emerger lo indecible. Sin embargo, tal vez sea precisamente
a partir de este punto que los caminos críticos de Sarlo y Schwarz toman rumbos diferentes.
Las lecturas frankfurtianas de Sarlo la llevan a adoptar una fuerte posición que privilegia
la mediación y que hace de la fragmentación, el distanciamiento y lo incompleto las claves
fundamentales para interpretar el vínculo entre la esfera estética y el dominio político;
claves que abren la lectura crítica a una infinidad de posibilidades interpretativas. Por su
parte, Schwarz no desconoce esa tradición del marxismo crítico ni las instancias mediadoras
inherentes a toda representación pero, al centrar su referencia exclusivamente en una
estructura de clase, hace pesar en sus análisis de objetos estéticos una voluntad totalizadora
que, por momentos, suspende la noción de fragmentación y autonomía.
Por ejemplo, al abordar una serie de textos que, en la Argentina de la década del
ochenta, tematizaban la aún punzante experiencia del exilio, Sarlo se detiene en algunos
autores contraponiendo sus estéticas (“Una alucinación” 1-4). Por un lado, la poética
transparente de Juan Gelman que, a través de “un yo nada elusivo, fechado, vinculado a
nombres, a personas, a lugares”, explicitaba el dolor del desarraigo, agigantaba la memoria
de lo abandonado y, bajo la consigna de no olvidar nada, intentaba, obsesivamente, dejar
el registro afirmativo de un pasado irrecuperable. En el otro extremo, la narrativa de Héctor
Tizón proponía una poética del fragmento y de lo elusivo para reconstruir una memoria
que garantizase la superviviencia en el destierro. Sarlo no duda: contra el rigor de una
memoria que detalla infernalmente lo perdido, opta por “un texto que decía algo nuevo
sobre el exilio”, quizá porque –como aclara la autora– prefirió no hablar de él y apenas
atinó a la producción fragmentaria de un recuerdo.
No es arbitraria esta opción estética de Sarlo y no responde exclusivamente a
parámetros del gusto personal. Desde la “iluminación profana” de Benjamin, ella propone
adoptar una “mirada política” que focalice “las disidencias, el rasgo oposicional del arte
frente a los discursos (la ideología, la moral, la estética) establecidos” (“Una mirada
política” 1-4). Esta mirada política, en su labor desagregadora, se niega a establecer
cánones y, “suspensa en la trama de las excepciones”, reconoce en la ruptura y lo nuevo,
su valor. Sin olvidar a Adorno, Sarlo afirma que “un intelectual (quizá debería agregar: de
izquierda) presta sus ojos y sus oídos y se empeña en escuchar los rumores diferenciados
de la sociedad, en el espacio del arte”. Al optar por la estética elusiva de la narrativa de
Tizón en contraposición a “las páginas ensopadas de melancolía y de una reafirmación
dura de las experiencias” de la poética de Gelman, Sarlo busca, en esos años, cuestionar
las certidumbres estéticas y críticas en las que la intelectualidad de izquierda corría el
riesgo de anquilosarse. En otras palabras, apuesta a opciones estéticas que desmantelen las
lecturas cristalizadas y totalizadoras de una izquierda que había aspirado a hacer del campo
cultural un espacio estético e ideológico homogéneo. “Intervenir en contra de la unificación,
exhibiendo, frente a ella, el escándalo de otras perspectivas” es el horizonte de la “mirada
política” que propone Sarlo como estrategia de una práctica crítica (y de una estética) en
el ámbito cultural de la transición.
Es precisamente en un movimiento de lectura unificador y totalizador que parecen
caer las lecturas que Schwarz realiza de la obra de Machado de Assis. Según lo expuesto,
952 ANA CECILIA OLMOS
12
Dice Jameson: “as mediações constituem um instrumento do analista, por meio do qual a
fragmentação e autonomização, a compartimentalização e a especialização das várias regiões da
vida social (a separação, em outras palavras, entre forma ideológica e política, entre a religiosa e a
econômica, o hiato entre a vida diária e a prática das disciplinas acadêmicas) ficam pelo menos
localizadamente superadas quando de uma análise peculiar” (O inconsciente 36).
13
Nos referimos al artículo de Bento Prado Jr. “A sereia desmitificada” y al debate que Novos
Estudos organiza con motivo de la publicaicón del libro de Schwarz Um mestre na periferia del
capitalismo. En este debate participaron, además del propio Roberto Schwarz, Davi Arrigucci, José
Arthur Gianotti, Luis Pasta, entre otros críticos brasileños y llama la atención los puntos de
coincidencia con las críticas realizadas anteriormente por Prado Júnior. Cfr. “Machado de Assis :
um debate”. Novos Estudos 29 (1991): 59-84
PRÁCTICA INTELECTUAL Y DISCURSO CRÍTICO EN LA TRANSICIÓN 953
ya señaló Neil Larsen, aunque Schwarz concuerda con la escuela de Frankfurt en las
posiciones críticas frente a los valores degradados de la industria cultural, no comparte la
postura esteticista radicalizada de esta vertiente marxista (155-64). Influenciado por las
teorías económicas dependentistas que en los setenta denunciaron el avance desigual y
combinado del capitalismo, para el crítico brasileño la desalienación sólo es posible a
través de una revolución social. En otras palabras, la idea de práctica crítica en Schwarz
pretende reunir rigor metodológico y militancia esclarecedora, la de Sarlo, en cambio,
sostiene en primera instancia el principio de autonomía estética. Ambos buscaron ejercer,
durante las transiciones de sus países, una misma crítica política de la cultura.
Si, como señala Nicolás Casullo (64-65), la noción de peligro e incluso de catástrofe
es la que da relieve a la noción de cultura, podríamos afirmar que Punto de Vista y Novos
Estudos trabajaron en el corazón de la catástrofe, en un momento histórico en el que la
noción de cultura como “hora crítica” exigía una apuesta en la intervención. En este
sentido, la crítica política de la cultura que estas revistas intentaron ejercer durante la
transición buscó romper las barreras disciplinarias y cuestionar la legitimidad institucional
de los saberes. No obstante, es preciso aclarar que si bien los abordajes culturales de ambas
revistas fueron mixtos, diluyendo las fronteras disciplinarias, no llegaron a un radical
cuestionamiento de la legalidad institucional en la que los saberes se sostienen. Las
páginas de estas revistas no dejaron de privilegiar un concepto de cultura restringido
–limitado al ámbito de lo letrado– en el que la experimentación estética era uno de los
criterios centrales de selección de los objetos. Esto significa que en estas revistas no hubo
lugar para la experiencia popular que fue desplazada, en alguna medida, por la condición
universitaria de estos intelectuales insertos en un ámbito institucional con el que están en
tensión pero que a la postre los legitima.
De todos modos, lo que nos interesa subrayar es que la transdisciplinariedad
sostenida por Punto de Vista y Novos Estudos durante los años ochenta se fundaba en
opciones epistemológicas ligadas a un materialismo crítico. Al respecto, Sarlo señala que
su referencia fue la vertiente culturalista inglesa habiendo permanecido al margen de la
versión americana y, junto con Schwarz, deja claro que estas perspectivas críticas de
mezcla reconocen en América latina una práctica precedente que tiene en Candido y Rama
sus más significativos representantes (Sarlo y Schwartz “Literatura y valor” 287).
En síntesis, durante la década del ochenta, estas publicaciones se mantuvieron ajenas
a la disolución de un paradigmo crítico y la intervención cultural que ejercieron tuvo por
objetivo irreductible hacer presente lo irracional del proyecto iluminista, sin desconocer
que la razón crítica supone, en términos humanos, la única salida a la devastación, la
injusticia y las víctimas que las dictaduras habían dejado como saldo.
BIBLIOGRAFÍA
Adorno, Theodor. “La crítica de la cultura y la sociedad”. Prismas. Barcelona: Ariel, 1962.
Arantes, Paulo. Sentimento da dialética na experiência intelectual brasileira. Dialética
e dualidade segundo Antonio Candido e Roberto Schwarz. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1992.
954 ANA CECILIA OLMOS
POR
MIGUEL DALMARONI
Universidad Nacional de La Plata-CONICET
1. Hacia mediados de los años de 1990 y por una serie de circunstancias más o menos
coincidentes, las revistas de que nos ocupamos en este trabajo –varias de Argentina, una
de Chile– proponen y debaten (o además ponen en ejercicio), explícita o implícitamente,
en la argumentación o mediante el ejercicio del relato, una implicación entre orientación
crítica (o efecto político de construcción crítica de “memoria”) y poética o modo de narrar
los hechos y los efectos del terrorismo de Estado de las últimas dictaduras argentina o
chilena (incluidos casi siempre los períodos de agitación política que las precedieron); por
otra parte, en cada una de estas revistas se describe o se debate cuál sería esa poética o modo
de narrar. Se puede decir, además, que todas las publicaciones que estudiamos encaran el
problema como definitorio de las condiciones históricas de las culturas en que intervienen.
Se trata en todos los casos de publicaciones periódicas en las que la literatura, el arte
y, más en general, las prácticas culturales, o la reflexión crítica acerca de esos tópicos, se
cuentan entre las preocupaciones principales y recurrentes. Todas, a su vez, tienen un
vínculo importante con la cultura política e intelectual de las izquierdas de las décadas de
1960 y 1970, y con el campo universitario. Tres de ellas –las argentinas Confines y Punto
de vista, la chilena Revista de Crítica Cultural– responden a proyectos de grupos de
intelectuales que, a partir de la llamada “transición democrática”, revisaron críticamente
esas tradiciones de la izquierda y, casi en todos los casos, se vincularon estrechamente a
1
El interés que pueda presentar este ensayo debe mucho al diálogo que en torno de algunos de sus
temas he podido mantener con Margarita Merbilhaá, Teresa Basile, Graciela Goldchluk, José Luis
De Diego y Mónica Gordillo; no hubiera reunido materiales y datos sin la colaboración generosa de
Andrea Suárez Córica, Mariana Tello, Emiliano Fessia, Laura Lenci y Verónica Delgado. El
apartado referido a Punto de vista retoma algunos tramos de un trabajo anterior (Dalmaroni , “El
deseo...”).
958 MIGUEL DALMARONI
2. La revista Confines de Buenos Aires publicó cuatro números entre abril de 1995
y julio de 1997, y continuó, con algunos cambios en el encuadre editorial, bajo el nombre
de Pensamiento de los confines desde el segundo semestre de 1998.3 El núcleo principal
de redactores es un grupo de investigadores de la Facultad de Ciencias Sociales de la
Universidad de Buenos Aires de formación predominantemente filosófica, vinculados en
torno del propósito de “quebrar esa apuesta combinada entre mercado e inteligentsia
fetichizante del tema cultura” como modo de ejercer una crítica cultural “genuina” que
discuta “la homologación entre las cosas y el pensarlas” (Casullo 1995, 7). Ese programa
se asocia con la construcción de un registro ensayístico particular y tiene un fuerte sesgo
filosófico, con cierta preferencia no excluyente por algunos textos y tradiciones de la
filosofía alemana: aunque están presentes textos de y sobre autores como Lyotard,
Jameson, Blanchot o Deleuze, las referencias y lecturas más reiteradas pasan por
Heidegger, Gadamer, Adorno, Benjamin, Steiner, P. Bürger, y clásicos como Herder,
Lessing, Nietzche, entre otros. La revista se ocupa del problema de los intelectuales, de
cuestiones de estética y literatura, del debate modernidad-posmodernidad, pero encuentra
uno de sus tópicos más recurrentes en los problemas de construcción de memoria en torno
del exterminio de los judíos por el nazismo y, a la vez, del debate sobre el terror dictatorial
y los miles de desaparecidos por la última dictadura argentina.
En septiembre de 1996 Confines publicó su tercer número, encabezado con siete
ensayos sobre “Memoria y terror en la Argentina 1976-1996”.4 En el segundo, firmado por
2
Por razones relativas al curso de la argumentación y a la extensión del trabajo, hemos limitado el
análisis de las revistas –especialmente el de Confines y Punto de vista, que sin duda podría
ampliarse– a algunas de sus intervenciones más significativas sobre el problema, y hemos reducido
a lo esencial la caracterización general de cada una de las publicaciones.
3
Pensamiento de los confines retomó la numeración de entregas de Confines: el segundo se
renumeró como 6; publicó su novena entrega (la quinta de la segunda etapa) el segundo semestre de
2000. Hemos concentrado aquí el análisis especialmente en las primeras cuatro entregas.
4
El 24 de marzo de 1996 se había cumplido el vigésimo aniversario del golpe militar con que se inició
la dictadura, lo que dio lugar a actos multitudinarios y numerosas actividades políticas y culturales
públicas.
DICTADURAS, MEMORIA Y MODOS DE NARRAR 959
el director de la revista, Nicolás Casullo, se elabora una noción de “escritura” como una
narración “para la memoria de la Argentina de los miles de muertos”, escritura que sea a
un tiempo pensamiento crítico o “lenguaje reflexivo”; para Casullo, esta “escritura que nos
resta” no puede tener lugar sin constatar la desintegración de las “constelaciones
discursivas” de los años sesenta y setenta, pero también debe distinguirse claramente de
otras memorias: tanto de “la historiografía consagrada por los poderes y contrapoderes en
pugna”, es decir las retóricas, culturales y políticas, de circulación y consumo, que
muestran todo lo que pueda ser visto y oído; como del relato de las Madres de Plaza de
Mayo que, si es “la memoria del genocidio”, no obstante “cancela la historia en la memoria
del dolor” (Casullo, “Una temporada...” 28, 17, 19, 16, 20, 28, 29). La noción de Casullo
parece retomada con variaciones en dos ensayos de Ricardo Forster. En el primero, Forster
señala los riesgos del rechazo del pasado tanto como los de su mitificación, representada
especialmente en el discurso de la presidenta de la Asociación Madres de Plaza de Mayo,
Hebe de Bonafini: negando que “el mito deba ser rechazado apelando a la discursividad
racional”, Forster lo identifica sin embargo como clausura de la crítica (“Hebe de Bonafini
nos impide preguntar [...] Cree que es posible volver a hablar el lenguaje de sus hijos”).
En el número siguiente de Confines Forster propone reemplazar esa “imposible
identificación con los ausentes” por una “narración” en el sentido benjaminiano de
“historia memorable”, que escape a la “transparencia” de “lo mostrable” con que el
mercado o la “estetización de la política” y de la muerte saturan todo espacio posible. En
el texto de Forster, esa “narración” tiene, por una parte, sus modelos –la trilogía de Primo
Levi sobre sus años en un campo de exterminio nazi, el film Noche y niebla de Resnais–
; por otra, sus contrastes, en los procedimientos con que “la tecnología unida a la belleza
estética” espectaculariza el horror: películas como Kapo de Pontecorvo o La lista de
Schindler de Spielberg (Forster, “Los usos de la memoria” 58, 59, 60; Forster, “Las
almas...” 35, 36-43).
En los trabajos de Casullo y de Forster, entre otros, Confines propone una narrativa
del horror de los setenta que –trabajando con lo que no puede ser dicho ni mostrado, con
los espacios en blanco y con la opacidad de los restos– escape a la tentación de completar
y fijar el sentido de un pasado imposible que precisa ser constantemente rememorado. Una
narrativa como esa debe combatir, por lo tanto, la “estetización” massmediática de ese
pasado o cualquier conciliación retórica –mítica, heroica, catártica o complaciente–, es
decir toda fijación que lo mercantilice, o que lo clausure y lo expulse así del presente.
No obstante, se puede notar que esa “escritura” o esa “narración” mantienen algún
vínculo (inevitable, podríamos agregar) con cierta noción de belleza o de dimensión
estética no siempre precisa. Para Casullo –que inicia su ensayo con un relato autobiográfico
que mostraría narrativamente el resquebrajamiento de los lenguajes de los setenta– la
“escritura” que propone debe dar cuenta de ese quiebre también “a escala estética”
(Casullo, “Una temporada...” 16). Forster destaca que el film de Resnais no podría ser
calificado de “bello” sino de “justo”, pero anota más adelante que en “sus extraordinarios
y bellos libros” Primo Levi “hizo posible, y eso resulta difícil de creer y de asimilar, que
una prosa diáfana recorriera los laberintos del infierno concentracionario” (Forster, “Las
almas...” 37, 43). Estas observaciones deben vincularse con el hecho de que se tejen en el
espesor de una prosa ensayística que –por más que se interese en establecer sus tesis–
960 MIGUEL DALMARONI
5
Son muchos los trabajos que han estudiado Punto de vista, la revista que dirige Beatriz Sarlo y que
publicó 70 números entre marzo de 1978 y agosto de 2001. Entre sus redactores y colaboradores se
cuentan Carlos Altamirano, Oscar Terán, María Teresa Gramuglio, Hugo Vezzetti, por nombrar sólo
algunos de los más importantes. Roxana Patiño ha señalado que “La revista lleva a cabo durante el
período 1978-1983 –que abarca la dictadura y la transición– dos operaciones: una puesta al día de
la crítica y una redefinición de las líneas de la tradición literaria argentina” (Patiño). María Celia
Vázquez señala por su parte que “en sus páginas se registran las líneas de discusión y la agenda de
temas y problemáticas que tensionan el pensamiento de la izquierda local” y que “así como la franca
oposición fue la línea que cohesionó a los miembros colaboradores y le diseñó un perfil nítido
durante la dictadura, la asunción de la problemática de la redefinición de los lugares y funciones del
intelectual en la democracia es el sello de Punto de vista en los años de la transición democrática”
(Vázquez). Véanse también Pagni, Sarlo y Dalmaroni (“La moda...”).
6
Al respecto véase Patiño.
DICTADURAS, MEMORIA Y MODOS DE NARRAR 961
régimen político tendría su estética o su retórica de la narración. Y allí traza una oposición
entre políticas estéticas (novelescas, épicas, vanguardistas) y políticas prosaicas. Según
ese modo de razonar la relación entre ética de la política y ética de la literatura, no habría
lugar para el arte en la política del presente. Pero Sarlo agrega que, “por otra parte”, “hay
necesidad de historia (...) y el atractivo o la repulsa del pasado [de los setenta] no pueden
ejercerse sino contra un horizonte de discursos” (Sarlo, “Cuando la política...” 17, 19). En
la sintaxis distributiva del último tramo de su artículo –por una parte la política prosaica,
estéticamente plana de la democracia, por otra la necesidad de relatos del pasado– Sarlo
señala con franca precisión una contradicción problemática y no resuelta, pues son los
sujetos de esa política sin literatura quienes desean las narraciones de un pasado político
bello. El registro de la contradicción como fenómeno contemporáneo hablaría entonces de
una imposibilidad de la política presente, que ha abandonado o por lo menos suspendido
las pretensiones armonizantes de cierta versión del proyecto moderno por alcanzar un
intercambio no alienante entre las esferas autónomas del arte y la praxis.
Pero, como adelantábamos, lo que Punto de vista plantea en el curso de sus
intervenciones es menos una separación en general entre las razones de la política y los
sueños de la literatura, que una separación específica entre política presente acerca del
pasado y ciertos modos de narrarlo, los de las vanguardias políticas de los 70, anacrónicos
y acríticos a la luz de un análisis de lo sucedido. En este sentido, es claro que para Punto
de vista la relación crítica con la historia puede construirse no sólo a través del ejercicio
de la razón, del juicio o del pensar, sino también en la capacidad que se atribuye a cierta
poética no retórica para construir hoy los sentidos del pasado. Aquí, la poética de la
narración que defiende Punto de vista muestra una zona de confluencia con el tipo de
“narrativa” que buscaba Confines, como puede verse en la oposición que trazan Raúl
Beceyro y Beatriz Sarlo entre La lista de Schindler de Spielberg y otros filmes como
Noche y Niebla de Resnais o Shoa de Claude Lanzmann (Beceyro). Una de las claves de
esa forma allí ejemplificada está, otra vez, en su resistencia a la totalización y en la
interrogación de los restos: para Sarlo, por ejemplo, “impulsado por una furia racional”,
Lanzmann “presenta la materialidad de una operación de muerte como problema histórico
y también como problema narrativo de su película, construida sobre la persecución de los
rastros materiales de los campos de concentración, la lectura de los indicios proporcionados
por las ruinas” (Sarlo, “No olvidar...” 11, 15). Una síntesis de esa poética de la narración,
representativa de la orientación más recurrente de la revista al respecto, puede leerse en
uno de los varios ensayos de Hugo Vezzetti sobre el problema. En un análisis crítico de
la práctica del “escrache” (a la que nos referimos más abajo), Vezzetti distingue entre la
“recaída en la repetición” (en la que incurrirían los organismos de parientes de las víctimas
del terrorismo dictatorial) y la “rememoración del pasado”; para esta última es necesaria
una “distancia pensada”, en las antípodas de cierto “sentido común izquierdista”; la
“rememoración” –que se diferencia de la “acumulación de testimonios” y de los “esquemas
de significación ya armados”–, precisa en cambio de una estética “con silencios y con
huecos que mantienen, en contra de lo ya sabido, interrogantes que no tienen respuesta”,
estética que Vezzetti también ejemplifica con el modo de narrar el horror de Lanzmann
en Shoa (Vezzetti 7, 1, 6, 4).
DICTADURAS, MEMORIA Y MODOS DE NARRAR 963
7
Son muchas las colaboraciones de Beatriz Sarlo en la RCC desde sus primeros números, con
artículos casi siempre publicados previamente en Punto de vista; por su parte, Nelly Richard, la
directora de la RCC, colaboró en varias oportunidades en Punto de vista; la RCC también publicó
en su n° 17 de noviembre de 1998 un trabajo de Hugo Vezzetti , “Variaciones sobre la memoria
social”, que Punto de vista había incluido en su n° 56 de diciembre de 1996. Por otra parte, también
merecen señalarse, aunque sean menos frecuentes, los intercambios con firmas importantes de
Confines, especialmente en los primeros números de RCC: Nicolás Casullo colaboró en los números
1 y 4; Ricardo Forster, en el n° 2.
964 MIGUEL DALMARONI
tanto en su realización gráfica como en el grupo que gestiona el proyecto, del trabajo de
escritores y artistas plásticos.
En los primeros números de la RCC, sucesivos textos de Nelly Richard, su directora,
trazan un programa de escritura crítica que, con variaciones y sin excluir orientaciones
divergentes, puede reconocerse como el itinerario principal de la publicación. En la
“Editorial” que encabeza la primera entrega, un breve texto firmado por “N.R.” comenta
una fotografía que lo precede ocupando casi media página:
8
No podemos desplegar aquí un análisis de la construcción de la poética de RCC en estos niveles,
pero hay que señalar que se trata de una dimensión muy importante del proyecto de la publicación.
966 MIGUEL DALMARONI
como objeto de la mirada crítica sino sobre todo como forma de la escritura crítica y
modelo de composición o de sintaxis –textual y plástica– de la propia revista.8
Esta poética, que dejaría atrás la cárcel binaria de los discursos de “las ortodoxias”
y sus lugares comunes, se propone como modo no conciliatorio de narrar o, mejor,
desnarrar, los restos del pasado dictatorial. En el número de mayo de 1993, Richard analiza
Lumpérica, Por la Patria y El Cuarto Mundo de Diamela Eltit, ficciones “escritas en la
fase más severa del autoritarismo”, y en las que la experiencia de la dictadura se lee
deconstruida por una combinación de quiebre fragmentador y exceso suntuario que
permite además escapar de “los modos y las modas dictadas por el mercado” cultural: “el
texto se desdobla entre la violencia desfigurativa del quiebre escritural (la puesta en página
del trozo y del destrozo) y el retoque transfigurativo del signo enmascarado por la cita
libresca” (Richard, “Duelo a muerte...” 26-27). La RCC señala en muchas ocasiones
configuraciones estéticas semejantes a las que atribuye los mismos efectos, especialmente
cuando se ocupa de artes plásticas, como en el número de noviembre de 1994 que dedica
un extenso dossier a la polémica de alcances periodísticos provocada por “el caso Simón
Bolívar”, una pintura de Juan Domingo Dávila que componía un Bolívar mestizo y
transexual. “Se alzó –escribe Richard al respecto– la polémica diferencia entre un arte
mayoritariamente ilustrativo (de las convenciones de mercado, del realismo político, del
lugar común institucional, etc.) y un arte [...] deconstructor de las representaciones
culturales y de sus estereotipos” (Richard, “Ropa usada...” 25). Es interesante para nuestro
enfoque que en esa misma entrega se incluya uno de los trabajos de Idelber Avelar sobre
narrativa latinoamericana de la posdictadura. Analizando novelas del brasileño Joao
Gilberto Noll o del chileno Gonzalo Contreras, contrapuestas a otras como la del argentino
Ricardo Piglia, Avelar distingue entre una poética de la “saturación”, de efectos restitutivo-
simbólicos, y una poética “de la rarefacción” a la que, en registro benjaminiano, Avelar
atribuye un efecto destitutivo-alegórico. Esta última, que visiblemente hace sistema con
la desconfianza de la RCC hacia la fijación totalizante del sentido y hacia la saturación
consensualista del mercado cultural posmoderno, narraría “la experiencia [como] algo ya
no posible de ser firmado” (Avelar, “Bares desiertos...” 42):
Avelar insistirá más tarde en que las ficciones de la posdictadura que le interesan no
pueden reencuadrarse ni en “la utopía epifánica moderna” ni en “la rendición al olvido en
tiempos de mercado telemático”, sino en la “ruina alegórica”, es decir en la narración de
los restos de un pasado resistente, no incorporado ni asimilado a las formas del intercambio
(Avelar, “Alegoría...” 22-27].
DICTADURAS, MEMORIA Y MODOS DE NARRAR 967
9
El general Manuel Contreras, jefe de la espeluznante central de inteligencia DINA de la dictadura
chilena, fue detenido en 1994 y luego condenado a siete años de prisión por el asesinato de Orlando
Letelier. El ex dictador Augusto Pinochet, “senador vitalicio” en democracia, fue arrestado en
Londres, a donde había viajado para someterse a una intervención médica, el 16 de octubre de 1998;
un año y medio después fue liberado y volvió a Chile.
968 MIGUEL DALMARONI
Pero una vez trazada la juntura en la que se acopla lo que el orden binario del sentido
común de la memoria tenía diametralmente separado, el texto de Eltit gira al argumento
correctivo para evitar el escándalo ético o ideológico que el montaje podría activar:
Desde luego, no es comparable la situación de Pinochet operado de la columna vertebral
[...], “prisionero” en una lujosa clínica de Londres, con los tratos infrahumanos que
recibieron los presos políticos o el destino trágico de los ejecutados o el enigma
infatigablemente angustioso de los desaparecidos. Simplemente quiero señalar que, a
nivel simbólico, es el cuerpo quien le juega ahora una mala pasada. (Eltit, “Por donde
pecas...” 31; énfasis nuestro)
RESTITUCIÓN E INSTALACIÓN
10
Véanse al respecto: “Editorial”.H.I.J.O.S. [La Plata] 1/1 (La Plata, setiembre-octubre 1996): 1;
“Editorial. Carta abierta a la sociedad argentina”. H.I.J.O.S, [Córdoba] 1/1 (Córdoba, noviembre1996):
2.
11
Junto con esto, algunas de las revistas incluyen la restitución de la memoria de las organizaciones
revolucionarias también desaparecidas, mediante breves informes o cronologías que intentan
recuperar su historia.
970 MIGUEL DALMARONI
padres o la familia– ha sido destituida en tanto pública o colectiva).11 Por otra parte, se trata
de construir la identidad ajena –la del ex represor– también en esa doble dimensión: la
biografía del otro se restituye y se publica como prontuario, es decir en tanto biografía del
genocida.
Las operaciones de institución de identidad se trazan, por su parte, en una línea que
procura establecer continuidades con el futuro. Se trata de instituir la identidad del
genocida como la del culpable de determinados delitos, para derivar de ello identidades
colectivas que realicen y demanden formas de sanción social: la de los vecinos del
genocida, identificados, por oposición a él, como víctimas más o menos indirectas y, por
tanto, como una extensión inmediata de un colectivo, la “ciudadanía” o “el pueblo”,
identificable como tal en tanto que se constituya en la demanda de justicia legal al Estado
y en el ejercicio compensatorio de formas de sanción directa. Esa sanción se discursiviza
como “condena social” y se condensa en la noción de “escrache”: insistir de un modo
presencial, físicamente inmediato y directo, en la denuncia identificatoria del genocida en
el espacio público hasta el umbral de su intimidad, su casa.
Ahora bien: sobre esas dos direcciones, como se ve en las revistas, se combinan, se
mezclan o se alternan operaciones retóricas, genéricas y estéticas de procedencia diversa.
12
Pedro Rojas. Publicación periódica de H.I.J.O.S. [Rosario] 1/1 (Rosario, marzo 1998): tapa. La
revista transcribe el texto completo del poema de Vallejo en pág. 1.
DICTADURAS, MEMORIA Y MODOS DE NARRAR 971
muchas otras firmas, citas y presencias repetidas en las revistas, que permitirían afinar una
caracterización de esas herencias. En el primer número de la revista de los H.I.J.O.S. de
Córdoba se transcribe una cita de Rodolfo Walsh, a modo de pie de página, bajo la
“Editorial”.13 En la primera entrega de la filial de Rosario ya citada, se incluyen
ilustraciones y hasta una entrevista al artista plástico Ricardo Carpani, a quien se presenta
en la volanta como “Militante consecuente de la Izquierda Nacional” y “artista
comprometido”.14 Tampoco faltan las citas o transcripciones de poemas y prosas de Julio
Cortázar. En una entrega reciente, la revista de H.I.J.O.S. de Córdoba presenta una
entrevista a un grupo de jóvenes poetas autodenominado “Pan comido” por alusión al
grupo de poetas “El pan duro” en el que se iniciara Juan Gelman, junto con otros jóvenes
más o menos ligados a la Juventud Comunista, a mediados de los años 50; en otros números
de la publicación, también se transcribían poemas del propio Gelman.15 Bajo el título “La
cultura es un instrumento de los cuerpos en lucha”, la segunda entrega de la filial de
Córdoba presentaba una entrevista con Vicente Zito Lema, una figura central en la historia
de la revista Crisis de Buenos Aires; la contratapa de ese mismo número lo cerraba con
una frase de Eduardo Galeano.16 En la primavera de 1998, la revista de la filial cordobesa
concluía con una nota en ocasión de la muerte de Envar “Cacho” El Kadri, el ex dirigente
guerrillero de las Fuerzas Armadas Peronistas, escrita en segunda persona bajo la forma
de la evocación y la despedida (Arroyo).
Sería por lo menos simplista suponer que la recurrencia a esas significaciones del
pasado consiste meramente en reactualizar sentidos ideológicos o cristalizados y que
produce de modo dominante y directo un efecto de mera repetición o regresión. Pero
también se parcializaría la comprensión del problema si se lo conceptualiza sólo como
efecto del deseo juvenilista de historias heroicas o bellas que el ejercicio real de la política
ya no proporciona. Para evitarlo, es preciso advertir qué subjetividad se hace cargo de esos
materiales y valores, una subjetividad cultural y etaria o generacionalmente diferente de
la que produjo la primera versión de esas significaciones o su corpus textual más canónico,
subjetividad que se define además por un conflicto identitario producido precisamente por
el corte violento de la continuidad temporal de las herencias (históricas, culturales,
familiares e íntimas). El malentendido no deja de producirse por más obvio que parezca:
este sujeto está lisa y llanamente imposibilitado de repetir porque no se cuenta entre
quienes vuelven, es decir, no ha estado allí; y ha quedado a la vez obligado a restituir como
ejercicio inevitable de su propia constitución como sujeto. La lectura de las revistas
muestra, en este sentido, el modo en que ese repertorio anacrónico, junto con otras
significaciones a que nos referimos más abajo, ingresa en un trabajo de construcción de
sentidos que no es mera re-construcción retórica ni ideológica de significaciones por parte
del sujeto que las produjo, sino rescate, relectura y apropiación por parte de un sujeto
posterior que se ubica ahora en el lugar del heredero despojado. Resultaría por lo menos
discutible la idea de que la operación de apropiación deje de ser tal y se reduzca a una
13
H.I.J.O.S, [Córdoba] 1/1 (Córdoba, noviembre 1996): 2.
14
Pedro Rojas. Publicación periódica de H.I.J.O.S,[Rosario] 1/1 (Rosario, marzo 1998): 7.
15
H.I.J.O.S. [Córdoba] 3/4 (Córdoba, primavera 1998b): 2 y 4/5 (Córdoba, otoño 2000): 2.
16
H.I.J.O.S. [Córdoba] 1/2 (Córdoba, invierno 1997): 9-12 y contratapa.
972 MIGUEL DALMARONI
repetición imposibilitada de elegir intencionalmente los sentidos, por el solo hecho de que
acuerde con algunas orientaciones ideológicas o estéticas básicas de aquellas significaciones
y pretenda reactualizarlas en su contexto político presente. En una nota a propósito de la
obra de Cortázar y la censura dictatorial sobre la literatura, Mariana Tello escribe:
Los que nacimos en la década del setenta quizá no advertimos su existencia [la de
Cortázar] hasta después de su muerte, perdiendo la oportunidad de conocerlo más allá de
sus libros, como nos pasó con Rodolfo Walsh, Haroldo Conti, y otros tantos que hacemos
volver siempre en el discurso, no con la solemnidad de un homenaje sino haciéndonos
parte de aquellas palabras que necesitamos por su contenido y su belleza; por ser parte
de una lucha contra la alineación y la injusticia; lucha que elegimos continuar. (Tello 5)
Como se ve, los “libros” se imaginan no sólo como proveedores de ideas, sino, antes
que eso, como sustitutos de presencias con las que ya es imposible el encuentro (es decir,
en la misma lógica de la imposibilidad del encuentro físico con los padres o familiares
desaparecidos), y luego como motores de iniciativas de provisión de identidad para un
sujeto colectivo (“hacemos volver”, que obviamente no puede ser reducido a volvemos;
o “haciéndonos parte”). No parece necesario abandonar los desacuerdos ideológicos o
políticos que fueren con los H.I.J.O.S. o con otros organismos de parientes de las víctimas
del genocidio para advertir y analizar estas diferencias de la enunciación.17
17
No podemos detenernos aquí en otras diferencias que desaconsejan pensar las prácticas de HIJOS
como repetición. Mencionamos sólo una, relativa a sus formas de organización: los HIJOS no se
definen como “agrupación” u “organismo”, sino como “red”; en el resumen de las resoluciones del
V Congreso Nacional de la Red publicado por la revista de la filial Córdoba se reivindican “la
horizontalidad”, el “respeto por la diversidad” y “un modo de construcción política sin jefes ni
jerarquías” (H.I.J.O.S. [Córdoba] 4/6 (Córdoba, primavera 2000): 15). Esa inorganicidad se
corresponde con el carácter discontinuo de las revistas, que en pocos casos se sostienen como
proyectos durante más de dos o tres años, y en ciertos hábitos de lo que podríamos llamar (según las
entrevistas informales mantenidas con miembros de H.I.J.O.S para esta investigación) su indisciplina
organizativa.
DICTADURAS, MEMORIA Y MODOS DE NARRAR 973
¿Qué es aquello que tapa el enigma de tu falta? [...] En aquellos momentos [...] que
generalmente surgen por la ausencia de alguien a quien le suponíamos la virtud de
colmarnos, creo hacer de esa ausencia mi ausencia. Tú no estás más ausente de lo que
mi falta está presente para ti. [...] ¡Que hice entonces con esa ausencia de la que hago
presencia? ¿la habré escondido? ¿dónde?... (Archetti 9)
Página por medio, un poema de Andrea Suárez Córica vuelve, también en segunda
persona, sobre la confusión de identidades-imágenes mediante el tópico del espejo (“Me
miro al espejo / Me pregunto / de quién es ese rostro [...] Y me pregunto / de quién es / esa
muerte?”) (Suárez Córica 2).
Creo que estos y otros procedimientos similares o de efectos semejantes que aparecen
a veces en algunas de las revistas, pueden describirse en torno de la noción de “antidiscurso”
que, en un registro explícitamente foucaultiano, propusiera K. Stierle para caracterizar los
textos líricos: el orden social fija las palabras a estructuras discusivas, es decir a la
identidad de un rol protegido y sancionado mediante factores lingüísticos e institucionales
asociados; el discurso, así, obliga a la desposesión del sujeto, es decir de la individualidad
del mero acto de habla, y ordena o asimila el habla en alguno de esos roles, es decir la
proyecta sobre condiciones sociales de acción simbólica, esto es de intercambio. En
relación con eso, lo lírico o lo poético podría pensarse como “antidiscurso”: ciertas hablas
de autoafirmación que ponen a operar la fuga de esas restricciones de identidad (Stierle).
En este sentido, puede parecer paradojal la posibilidad de caracterizar de ese modo ciertos
momentos de la discursividad de las revistas de H.I.J.O.S., que hemos definido como
restitución de identidad. Sin embargo, creemos que la noción es adecuada para caracterizar
la construcción de una identidad no sólo perdida, ausente o fragmentada sino, sobre todo,
de dimensiones estrictamente íntimas, es decir individuales; en este sentido, los momentos
antidiscursivos de la escritura de H.I.J.O.S. procurarían la afirmación de una individualidad,
un habla que resultaría irrecuperable en los procesos de mera asimilación a los roles
identitarios disponibles, autorizados u obligados en/por el discurso social. Esta descripción
se corresponde, en términos de imaginario o sentido común cultural, con la creencia
moderna en una especial aptitud de la literatura, de los géneros confesionales, y sobre todo
de la poesía, para producir una indagación reveladora de la densidad de lo íntimo o del
974 MIGUEL DALMARONI
pozo más hondo y particular de la subjetividad; creencia que incluye a veces la idea de que
la plurisemia, la agramaticalidad, las rupturas de las expectativas retóricas e ideológicas
o la exorbitancia de la connotación que permite la poesía organizan una forma verbal
homóloga a las complejidades de la intimidad. Parece claro que una concepción de lo
literario como esa opera en las revistas de H.I.J.O.S.
Por otra parte, la antidiscursividad que el sujeto H.I.J.O.S. busca cuando escribe
poemas o cuentos, funciona como recurso (por lo menos en el nivel de la creencia o de las
competencias de lectura activadas) para proteger y sustraer esa restitución de habla al
intercambio obligado de los sistemas de acción simbólica, es decir la interlocución, que,
siguiendo los términos de Stierle, desposeería precisamente de la posibilidad de tal
restitución. En ese momento más bien inicial en que es preciso construirse a sí mismo, la
discursividad de H.I.J.O.S. tienta fugarse del intercambio confrontativo, sustraerse de la
interpelación del genocida, y prueba los límites de la despragmatización del lenguaje.
Sin embargo, estos textos con bordes antidiscursivos, que, en estado puro o de no
contaminación con los discursos heredados tienen un ejercicio muy restringido en las
revistas, no permiten siquiera conjeturar que el sujeto H.I.J.O.S. vaya a entregarse a un
ejercicio definitivo de desujeción de cualquier orden verbal, ni que pueda pensárselo
como sujeto definido por la mutación, por el tránsito o por alguna forma de
desterritorialización. Por el contrario, la poetización antidiscuriva de algunos momentos
de la discursividad, como hemos sugerido, ocurre en tanto estrategia funcional a la
restitución, lo que se confirma cuando se la considera en el conjunto de las otras estrategias
que describimos.
En el otro extremo de esa secuencia que va de la “memoria” a la “justicia” y que los
HIJOS narran en la revista como el recorrido o la historia de la agrupación, se ubica el
“escrache”. Se trata de una actuación o instalación colectiva, una variante de la manifestación
política callejera que suele comenzar como marcha cuyo destino es siempre el frente del
domicilio de un ex represor. Los H.I.J.O.S., además de recorrer la cuadra y el barrio
distribuyendo panfletos con una breve semblanza del acusado e instando a los vecinos a
“hacer del barrio su cárcel”, se manifiestan ante la casa del “escrachado” combinando
estéticas viejas y nuevas: consignas y pancartas, pintadas y grafitis, bombos o redoblantes,
pero también bombas de pinturas roja que lanzan contra la casa o en la vereda, murgas,
números de lanzallamas, marionetas o muñecos gigantes que caricaturizan al escrachado,
disfraces, mimos, malabarismos con clavas o bolos, zancos, y en no pocas oportunidades
el uso de recursos gráficos o visuales (tipografías, trazos, combinaciones de colores,
inscripciones en la vestimenta) que remiten claramente a la subcultura juvenil de los años
90, a veces más o menos asociada a la estética del rock-and-roll marginal, rupturista y más
o menos alejado de los principales circuitos del mercado mediático de la música.
El registro de mezcla de estéticas que el escrache pone en evidencia reemplaza los
tonos serios o heroicos de las épicas de la revolución (de las que nos obstante se siguen
utilizando no pocos elementos) por el estilo del carnaval o del circo, como ha subrayado
Ana Rosa Pratesi (Pratesi). Dicho registro de mezcla también tiene sus codificaciones en
las revistas de H.I.J.O.S. Si se toman las tres entregas que publicó la filial La Plata, es
visible una modificación del diseño gráfico de la revista entre el segundo y el tercer
número. Mientras los dos primeros presentan un diseño de composición más bien
DICTADURAS, MEMORIA Y MODOS DE NARRAR 975
También, entre los artículos de análisis o de opinión de las revistas, cuyos registros
los ubicarían junto a los del testimonio o la denuncia, y que resultan motivados a veces por
acontecimientos de cierta actualidad –por ejemplo, una huelga, o una citación judicial al
genocida Alfredo Astiz–, se utilizan formas no sólo provenientes de las poéticas de la
revolución sino también de las culturas urbanas juveniles de los años 90, esto es las que
más o menos se corresponden etariamente con la generación de los hijos.20 La intermitencia
de este tipo de elementos en las zonas más periodísticas de las revistas apuntan a dos tipos
de efectos: por una parte, depositan cierta confianza performativa de carácter rupturista en
el uso de discursividades sociales orientadas a la fractura de las formas sociales del
18
En relación con estos aspectos se puede notar también el uso del comic y de la caricatura en varias
entregas de Córdoba y Rosario.
19
H.I.J.O.S, [Córdoba] 1/1 (Córdoba, noviembre 1996): 5. La relación de la mezcla de retóricas de
los HIJOS con la cultura del rock tiene un momento de especial condensación en el nombre y las letras
de la banda musical “Actitud María Marta”, formada por hijas de detenidos-desaparecidos; la banda
participó, entre otros eventos sobresalientes, de los actos en la Plaza de Mayo de Buenos Aires en
marzo de 1996 por el vigésimo aniversario del golpe militar del 24 de marzo.
20
Véase, por ejemplo, la nota firmada por Rock Point (1998) en la revista de la filial de La Plata.
976 MIGUEL DALMARONI
Pretender encarar la problemática de los derechos humanos desde esta posición dentro
de los grandes medios de comunicación resulta hoy, poco más que imposible. Los diarios,
canales de TV y las radios con llegada masiva se encuentran indefectiblemente
comprometidas con la lógica del mercado, que determina quién puede hablar y sobre todo
de qué puede hablar.
La edición de esta revista es, entonces, un intento más por afirmarnos en el marco de un
tironeo constante por no ocupar el lugar que pretenden asignarnos los medios masivos de
comunicación.
Un aporte a la tarea diaria de la prensa alternativa [...] para la construcción de
representaciones colectivas. [...] en el ámbito de las comunicaciones un decisivo campo
de batalla.22
De tal modo, la poética del sentido de las revistas de H.I.J.O.S. ofrecería, entre las
prácticas sociales con que convive, no sólo un filo inasimilable para las políticas actuales
inaugural del Grupo Latinoamericano de Estudios Subalternos -incluido en Teorías sin disciplina
(latinoamericanismo, poscolonialidad y globalización en debate) (Santiago Castro-Gómez y
Eduardo Mendieta 1998). Contra esta hipótesis podría argüirse que los HIJOS, como otros
organismos de derechos humanos de parientes de las víctimas del terrorismo dictatorial, usan una
estrategia subalterna o intersticial cuando demandan la aplicación del derecho penal de un tipo de
Estado cuyas bases, por otra parte, discuten severamente desde concepciones revolucionarias. No
obstante, parece obvio que allí, nociones como “subalternidad” no producen un saber novedoso
acerca de ese sujeto sino que, más bien, reconceptualizan una circunstancia ya conocida y pensada,
mientras seguirían sin dar cuenta del espesor confrontativo (bélico y abierto antes que negociador)
que hemos señalado aquí. No obstante, sería posible analizar en qué medida el “escrache” y otras
prácticas de los grupos de H.I.J.O.S, en tanto acontecimientos de frecuencia irregular e intervención
intermitente, resultan susceptibles de una conceptualización que trabaje con nociones como las de
irrupción, emergencia eventual u ocurrencia.
22
“Editorial”, Pedro Rojas. Publicación Periódica de H.I.J.O.S. [Rosario] 1/1 (Rosario, marzo
1998): retiración de tapa. La cita alude directamente al modo en que, en efecto, los grandes medios
de comunicación, y especialmente algunos de los grandes grupos televisivos, intentaron en distintos
momentos y de muchas maneras incorporar la figura y el discurso de los HIJOS; y, probablemente,
también a cierto debate interno que esa mediatización pudo haber provocado en los grupos.
978 MIGUEL DALMARONI
BIBLIOGRAFÍA
REVISTAS CITADAS
Confines
Casullo, Nicolás. “Una crítica para reencontrar al hombre”. Confines 1/1 (Buenos Aires,
abril 1995): 7-16.
_____ “Una temporada en las palabras”. Confines 2/3 (Buenos Aires, setiembre 1996): 13-
31.
Forster, Ricardo. “Los usos de la memoria”. Confines 2/3 (Buenos Aires, setiembre 1996):
53-61.
_____ “Las almas de los muertos”. Confines 3/4 (Buenos Aires, julio 1997): 35-49.
Punto de vista
Beceyro, Raúl. “Los límites. Sobre ‘La lista de Schindler’”. Punto de vista 17/49 (Buenos
Aires, agosto 1994): 8-10.
Gramuglio, María Teresa. “La crítica de la literatura. Un desplazamiento”. Punto de vista
21/60 (Buenos Aires, abril 1998): 3-7.
Sarlo, Beatriz. “Una alucinación dispersa en agonía”. Punto de vista 7/21 (Buenos Aires,
agosto 1984): 1-4.
_____ “No olvidar la guerra de Malvinas. Sobre cine, literatura e historia”. Punto de vista
17/49 (Buenos Aires, agosto 1994): 11-15.
_____ “Cuando la política era joven”. Punto de vista 20/58 (Buenos Aires, agosto 1997):
15-19.
Terán, Oscar. “Pensar el pasado”. Punto de vista 20/58 (Buenos Aires, agosto 1997): 1-
2.
Vezzetti, Hugo. “Activismos de la memoria: el escrache”. Punto de vista 21/62 (Buenos
Aires, diciembre 1998): 1-7.
_____ “Las dos caras de la moneda”. Revista de crítica cultural 17 (Santiago de Chile,
noviembre 1998): 28-31.
_____ “Por donde pecas, pagas”. Revista de crítica cultural 17 (Santiago de Chile,
noviembre 1998): 31.
Richard, Nelly. “Editorial”. Revista de crítica cultural 1 (Santiago de Chile, mayo 1990):
1.
_____ “Estética de la oblicuidad”. Revista de crítica cultural 1 (Santiago de Chile, mayo
1990): 6-8.
_____ “De la rebeldía anarquizante al desmontaje ideológico (crítica y poder”). Revista
de crítica cultural 1/2 (Santiago de Chile, noviembre 1990): 6-8.
_____ “Duelo a muerte y jugada amorosa. La novela, el libro y la institución”. Revista de
crítica cultural 6 (Santiago de Chile, mayo 1993): 26-27.
_____ “Baudrillard. La estrategia fatal de la indiferencia” [entrevista de N.R. a J.
Baudrillard]. Revista de crítica cultural 7 (Santiago de Chile, noviembre 1993): 6-
12.
_____ “Ropa usada y estética de segunda mano”. Revista de crítica cultural 9 (Santiago
de Chile, noviembre 1994): 20-24.
_____ “Lo impúdico y lo público”. Revista de crítica cultural 11 (Santiago de Chile,
noviembre 1995): 29-34.
_____ “Con motivo del 11 de septiembre. Notas sobre “La Memoria Obstinada” (1996)
de Patricio Guzmán”. Revista de crítica cultural 15 (Santiago de Chile, noviembre
1997): 54-61.
_____ “Servidumbre, mercado y éxtasis”. Revista de crítica cultural 17 (Santiago de
Chile, noviembre 1998): 32-33.
H.I.J.O.S.
Archetti, Valeria. “Cartas a mi vida”. H.I.J.O.S [La Plata] 1/1 (La Plata, setiembre-octubre
1996): 9.
Arroyo, Carolina. “‘Cacho’ El Kadri. Militante y maestro”. H.I.J.O.S, [Córdoba] 3/4
(Córdoba, primavera 1998): 12.
Camilo. “El lagrimón”. H.I.J.O.S, [La Plata] 2/2 (La Plata, setiembre 1997): 4.
Rock Point. “¿Niño Gustavo o Astiz Alfredo?”. H.I.J.O.S. [La Plata] 3/3 (La Plata,
setiembre 1998): 7.
Suárez Córica, Andrea. “Hubieran sido cosas de mujeres”. H.I.J.O.S. [La Plata] 1/1 (La
Plata, setiembre-octubre 1996): 12-13.
Tello, Mariana. “Vida y muerte de las palabras”. H.I.J.O.S, [Córdoba] 4/5 (Córdoba,
otoño 2000): 5.
Revistas de H.I.J.O.S. de las que se citan textos sin autor o a las que se hace referencia:
H.I.J.O.S. [La Plata] 1/1 (La Plata, setiembre-octubre 1996).
H.I.J.O.S. [La Plata] 2/2 (La Plata, setiembre 1997).
H.I.J.O.S. [La Plata] 3/3 (La Plata, setiembre 1998).
H.I.J.O.S. [Córdoba] 1/1 (Córdoba, noviembre 1996).
DICTADURAS, MEMORIA Y MODOS DE NARRAR 981
POR
ROBERT HOWES
King’s College, Londres
Este artículo estudia las publicaciones periódicas dirigidas a los intereses de gays,
lesbianas, travestis y transexuales en el Brasil. Sitúa estas publicaciones en el contexto de
la prensa alternativa y del surgimiento de una comunidad gay, y considera su importancia
en el desarrollo de la cultura gay. Sugiere modos de clasificar las publicaciones periódicas
gay según tipo y fecha, y ofrece un análisis general de las principales publicaciones que
han sido editadas en los últimos cuarenta años. Luego analiza el modo en que algunas de
las publicaciones más influyentes y de mayor duración han tratado los temas de la
identidad, la comunidad y la cultura gay, y finaliza con algunas breves reflexiones sobre
la creciente influencia de la Internet.
Se ha escrito mucho sobre los medios masivos y su papel en el discurso dominante
en la cultura y la sociedad de todo el mundo. Se ha prestado mucha atención a la
radiodifusión y a los principales medios gráficos, tales como periódicos y, en menor
medida, revistas de gran circulación. Ha habido asimismo un intento de hacer una teoría
sobre las revistas desde una perspectiva histórica, por ejemplo en relación con las
publicaciones de la época victoriana, vistas cada vez más como una de las manifestaciones
culturales más importantes del siglo XIX (Brake, Jones y Madden). Sobre los medios
alternativos se ha escrito menos, aunque hay un creciente interés en ellos, que son vistos
como sitios de resistencia que ofrecen un vehículo para transmitir posiciones opuestas al
discurso hegemónico. La prensa alternativa tiene una larga historia, y ha jugado un papel
decisivo en acontecimientos tales como la Reforma, la Guerra Civil Inglesa y la Revolución
Francesa. En la segunda mitad del siglo XX cobró nuevo vigor con el desarrollo de nuevas
tecnologías de comunicación e impresión que abarataron y facilitaron la publicación,
poniéndola al alcance de los grupos hasta entonces marginados.
En la actualidad, buena parte del interés de los investigadores se concentra en el
estudio del nuevo medio de la Internet, pero hay también una creciente conciencia sobre
el rol del periodismo impreso como comunicador y como espacio de puntos de vista
alternativos. Mientras algunos trabajos han intentado ofrecer una mirada general sobre
1
Agradezco a las siguientes personas e instituciones por la ayuda que me ofrecieron proveyéndome
de material para este artículo: Aquiles Brayner, James Green, el difunto João Antônio Mascarenhas,
Luiz Mott y el equipo del Arquivo Edgard Leuenroth, Universidad de Campinas, y la Associação
Brasileira Interdisciplinar de AIDS.
984 ROBERT HOWES
crecer de nuevo en forma gradual, ayudado por el activismo vinculado al SIDA y por la
financiación pública de la labor de prevención (Green, “Desire”, “Emergence”, “More
love”; Trevisan, Devassos). A mediados de 2001, se contaban aproximadamente unos
cincuenta grupos militantes gay y un total de aproximadamente noventa organizaciones
gay en el Brasil.2
El crecimiento del movimiento internacional lésbico y gay en los años setenta
acompañó el desarrollo de una comunidad gay autoconsciente y se reflejó en el crecimiento
de su prensa. Hacia el final de la primera década de la liberación gay, esta comunidad podía
sostener una cantidad de periódicos de aparición regular, frecuentemente en formato
tabloide, tales como The Advocate (Los Angeles, 1967-), Gay Community News (Boston,
1973-), The Body Politic (Toronto, 1971-1987), Gay News (London, 1972-1983) y Gai-
Pied (París, 1979-1992). Éstos transmitían noticias, comentarios políticos y los valores de
liberación gay de la comunidad, que a un tiempo reflejaban y contribuían a formular. En
el más conservador clima cultural norteamericano y europeo de los años ochenta, estas
publicaciones desaparecieron o se vieron obligadas a modificar su estilo. Hoy el mercado
está dominado por revistas en papel ilustración, de las cuales algunas todavía se ocupan
directamente de las preocupaciones culturales y políticas de la comunidad lésbica y gay,
tales como Gay Times (Londres, originalmente Him Monthly, 1974-) y Babilonia (Milán,
1982-), mientras otras se volcaron de modo creciente a la corriente general, adoptando un
estilo más consumista y concentrándose en la moda y el estilo de vida gay, tales como Out
(Nueva York, 1992-) y Attitude (Londres, 1994-).
Los investigadores de los tópicos lésbicos y gay han utilizado frecuentemente las
publicaciones periódicas y los periódicos de noticias como una fuente de material, pero
han estudiado relativamente poco las publicaciones mismas. Sanderson ha estudiado la
representación de lesbianas y gays en los medios convencionales en Gran Bretaña, y
muchas revistas gay traen un resumen regular sobre algún comentario reciente de un
periódico. De un modo detallado y abarcador, Streitmatter ha dado cuenta de la prensa gay
y lésbica en los Estados Unidos desde la Segunda Guerra Mundial. Han aparecido también
algunos estudios esporádicos sobre publicaciones periódicas individuales editadas por y
para la comunidad gay. Los investigadores han escrito sobre determinadas publicaciones,
tales como la antigua publicación periódica suiza Der Kreis y la taiwanesa G&L Magazine,
y periodistas gay han ofrecido desde el interior del movimiento informes sobre eventos
críticos, como por ejemplo el cierre del pionero periódico inglés, Gay News (Kennedy;
Erni & Spires; Hanscombe). Se ha realizado una serie de estudios y de reimpresiones
facsimilares de revistas de imágenes corporales publicadas en los Estados Unidos en los
años cincuenta y sesenta, que han jugado un papel clave en la formación de la identidad
sexual de los hombres de la generación de la Liberación Gay (Hooven III; Complete
Reprint). Asimismo, se pueden encontrar referencias dispersas a publicaciones gay en los
estudios históricos sobre la comunidad lésbica y gay, y de vez en cuando comentarios
individuales en periódicos sobre publicaciones aliadas y rivales.
2
Para ver listas de las organizaciones, consultar: http://www.ggb.org.br y http://
www.gentedobem.com.br
986 ROBERT HOWES
Ha habido pocos estudios generales sobre los periódicos gay en su conjunto. Sin
embargo, un artículo que ofrece algunos indicadores metodológicos útiles es “A Global
View of the Gay and Lesbian Press”, de Evert Van der Veen, basado en una investigación
llevada a cabo en el Departamento de Estudios Gay y Lésbicos de la Universidad de
Utrecht (Países Bajos) entre 1984 y 1987. Van der Veen divide la historia de la prensa
internacional gay en los siguientes periodos: 1) Antes de la Segunda Guerra Mundial,
1896-1933, cuando se desarrolló la primera ola de publicaciones abiertamente gay,
particularmente en Alemania; 2) Periodo de ocultamiento, 1933-1967, con la restricción
severa de las posibilidades para las publicaciones gay, primero por el nazismo y luego por
la censura de la posguerra; 3) Periodo de explosión, 1968-1979, caracterizado por el
advenimiento de la liberación gay y por las publicaciones políticas y comunitarias
inspiradas en ese movimiento, y 4) Los ochenta, en los que el entretenimiento y la cultura
se volvieron más importantes. A esta periodización podemos ahora agregar los noventa,
en los que se dio la expansión del consumismo en una economía globalizada.
Se ha escrito relativamente poco sobre la prensa lésbica y gay brasileña. Fausto Neto
estudia el modo en que la prensa convencional trató el asunto de las enfermedades
vinculadas al SIDA de dos personajes célebres, Lauro Corona y Cazuza. Aunque es apenas
mencionado en este trabajo, queda claro que hubo un fuerte ingrediente de homofobia
involucrado en ese tratamiento. Las publicaciones gay, particularmente el periódico
mensual Lampião da Esquina, son estudiadas en las historias más importantes que se han
escrito sobre la comunidad y el movimiento gay del Brasil (Green, Além; Macrae). Aquiles
Brayner ha realizado un análisis muy documentado de Lampião en su tesis doctoral para
la Universidad de Leiden, algunos de los artículos de Lampião han sido publicados en
forma de libro y varios seminarios y conferencias se han ocupado del periodismo gay
(Brayner; Moreira; Monteiro). Escritores de publicaciones periódicas gay comentan de
vez en cuando otras publicaciones, y ocasionalmente se ha informado sobre asuntos
vinculados a la prensa gay en los medios convencionales, especialmente, los intentos de
la policía federal para prohibir Lampião y los escándalos alrededor de algunas de las
celebridades que aparecieron en G Magazine.
Es posible señalar cuatro factores clave en el desarrollo de la prensa gay en el Brasil:
1. Los desarrollos en la propia comunidad lésbica y gay. Los últimos cuarenta años
han sido testigos de una visibilidad, una autoconfianza y una afirmación crecientes entre
lesbianas y gays en todo el mundo, y este proceso ha tenido su equivalente en el Brasil.
Ha habido una floreciente subcultura gay en las mayores ciudades, como Río de Janeiro
y São Paulo, al menos desde fines del siglo XIX. La rápida urbanización, los cambios en
las relaciones de género, la influencia del feminismo y las filosofías de vida alternativas,
y el impacto creciente de la cultura gay internacional a través de la globalización han
estimulado el crecimiento de una comunidad gay autoconsciente, mientras muchos
aspectos de la vida gay específica del Brasil han continuado prosperando (Green, Além).
En los últimos veinte años la epidemia del SIDA ha afectado particularmente a los hombres
gay, tanto en el Brasil como en otros lugares, causando muchas muertes trágicas pero
también dando lugar a una movilización de la militancia.
2. El contexto político y económico nacional. El crecimiento del movimiento
internacional de liberación gay a comienzos de los setenta coincidió con el periodo más
PUBLICACIONES PERIODICAS GAY, LESBICAS, TRAVESTIS Y TRANSEXUALES EN BRASIL 987
represivo del régimen militar en el Brasil. A pesar de que los homosexuales no fueron
blanco directo de la represión, la censura en la prensa y la atmósfera de miedo e
intimidación inhibieron efectivamente el desarrollo del movimiento gay o de la prensa gay
en ese periodo. La fundación de Lampião y el crecimiento explosivo del movimiento gay
brasileño a fines de los años setenta formaron parte de una liberalización política general
o “abertura” [apertura] producida a medida que los militares comenzaban a dejar el poder.
La declinación de la militancia gay coincidió con la decepción política y la crisis
económica de los años ochenta, mientras que la estabilización financiera y política y la
globalización en los años noventa fueron acompañadas de un resurgimiento del movimiento
y las publicaciones gay.
3. Los desarrollos en la tecnología de impresión. En el Brasil, como en otros lugares,
los desarrollos en esta tecnología, tales como el mimeógrafo, la fotocopia, el offset y la
autoedición digital han abaratado y facilitado las publicaciones. Esto ha permitido que
grupos y organizaciones relativamente pequeñas publicaran sus opiniones y ha ido
borrando crecientemente la distinción entre prensa alternativa y convencional. El
crecimiento de la Web significa un paso más en esta dirección.
4. Las preocupaciones prácticas que enfrentan todos los medios gráficos, como el
contenido, el público al que se dirigen, los costos de producción e impresión, la
distribución, la circulación, la publicidad y, en el caso de la prensa alternativa, la censura.
Siguiendo la metodología de Van der Veen, la historia de los periódicos gay
brasileños puede ser dividida en tres periodos principales: 1) los sesenta; 2) fines de los
setenta y los ochenta, y 3) los noventa. Éstos pueden ser agrupados, asimismo, en seis
grandes categorías según criterios de editor, público y contenido:
1. Boletines y pequeños periódicos publicados por grupos, constituidos formal o
informalmente, como medios de comunicación con sus miembros y con el círculo
inmediato de conocidos y contactos personales.
2. Periódicos imbuidos de las preocupaciones políticas y culturales del movimiento
gay, pero dirigidos tanto a los gays como a la comunidad en general.
3. Publicaciones lésbicas.
4. Revistas comerciales que fomentan el estilo de vida del consumidor gay.
5. Publicaciones eróticas, con desnudos masculinos pero que excluyen escenas
sexuales explícitas.
6. Publicaciones en serie sobre el SIDA, dirigidas tanto a profesionales de la salud
como a la población con HIV/SIDA.
Inevitablemente estas categorías se superponen. Muchos de los grupos que publican
boletines forman parte del movimiento gay más amplio, mientras que consejos para la
prevención del SIDA aparecen también en boletines gay y revistas de estilo de vida
consumista. Las revistas comerciales contienen noticias sobre la comunidad gay así como
notas de estilo de vida. Un factor importante son los medios de distribución. Las revistas
comerciales y las publicaciones eróticas se consiguen hoy en los puestos de venta de las
mayores ciudades y son así visibles y accesibles a un público amplio, tanto gay como no
gay. Las series sobre SIDA se benefician del apoyo oficial y los subsidios. Los boletines
y los periódicos de la comunidad tienen las fuentes de financiación y los sistemas de
distribución más precarios, aunque algunos de ellos sean los de vida pública más
988 ROBERT HOWES
3
Ver http://www-sul.stanford.edu/depts/hasrg/latinam/balder.html para una lista más completa de
estos periódicos. He ofrecido algunas fechas para las ediciones conocidas pero el periodo real de
publicación puede ser mayor.
PUBLICACIONES PERIODICAS GAY, LESBICAS, TRAVESTIS Y TRANSEXUALES EN BRASIL 989
del Brasil. Por ejemplo, una nota sobre una compañía de teatro experimental en Recife fue
titulada, usando el término del argot local para hombres gay, “Vivencial Diversiones
apresenta: frangos falando para o mundo” (II.18 (noviembre 1979): 15). El uso satírico del
lenguaje alejó a algunos lectores y provocó acusaciones de elitismo. Por ejemplo, un
informe serio sobre la vida gay en la Zona Norte, una zona pobre y poco elegante de Río,
fue titulada (en inglés): “Madureira by night” (I.8 (enero 1979): 16). A mediados de 1980
hubo una serie de ataques de grupos de derecha a los puestos que vendían la prensa
alternativa. Por primera vez Lampião apareció una semana más tarde, con su número 28
en septiembre de 1980, y desde entonces, con la violencia creciente en la sociedad, sumada
a la presión económica, un tono más pesimista se instaló en sus páginas. Muchos aspectos
de Lampião fueron cuestionados, pero considerada en su totalidad significó una divisoria
de aguas al ofrecer a la comunidad gay una nueva autoconfianza y una mayor visibilidad.
Los finales de la década de los ochenta y los comienzos de los noventa fueron un
periodo de desencanto político y caos financiero, con el ingrediente del inicio de la
epidemia del SIDA. El movimiento gay, que había surgido en los años 1978-1980, decayó
rápidamente después de 1982 y hacia mediados de los años ochenta sólo un puñado de
grupos continuó su existencia. Sin embargo, los periódicos gay siguieron apareciendo y
al menos dos de ellos tuvieron una vida relativamente prolongada. La revista Okzinho fue
publicada por el grupo Turma OK en Río, sostenida por Agildo Guimarães, quien venía
siendo muy activo en publicaciones desde los años sesenta. La revista parece haber sido
producida tanto por fotocopia como por mimeógrafo, y consistió en una mezcla de noticias
internas del grupo y recortes de periódicos, con el objeto de aumentar la conciencia gay.
Comenzó a salir en diciembre de 1984, continuó en 1985 y 1986 y todavía era publicada
en 1991 bajo el título de Jornal Okzinho.
En Salvador, el militante Grupo Gay da Bahia o GGB, fundado en 1980, comenzó
publicando el Boletim do Grupo Gay da Bahia en 1981, que se publicó regularmente hasta
1997 y luego en forma de informes ocasionales. El Boletim do GGB informaba sobre las
actividades del grupo y asumió una posición combativa en apoyo de las campañas
promovidas por éste. El GGB fue también una de las primeras organizaciones gay en
Brasil en reconocer el peligro del SIDA, refiriéndose a ello en el Boletim número 3, de abril
de 1982 (I.3 (abril 1982): 5), y luego en realizar campañas para que se llevaran adelante
más acciones que frenaran la dispersión de la enfermedad.
Otros grupos gay de todo el Brasil continuaron publicando boletines y pequeños
periódicos a lo largo de los años ochenta y noventa. En Río de Janeiro, el grupo Triângulo
Rosa cooperó con las campañas del GGB y coordinó en 1987 el fracasado intento de
persuadir al Congreso para que se penara en la Revisión de la Constitución Federal la
discriminación en el terreno de la orientación sexual. Este grupo produjo un pequeño
Boletim informativo (1986-1988), dactilografiado y reproducido por fotocopia, como
también una pequeña publicación de corta duración llamada Triângulo Rosa (1986). Otras
publicaciones eran la Folha de Parreira (1993-1997) del Grupo Dignidade y Turma da
Batalha (1994-1998) del Grupo Esperança, ambos de Curitiba; Journal des Amis (1994-
1995) de Les Amis Club en São Paulo y O Grito (1994) de la Comunidade Fratriarcal en
Natal. El Boletim GTPOS (Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual, 1995-
1996) en São Paulo y Sexualidade: gênero e sociedade (1995), del Programa de Estudos
PUBLICACIONES PERIODICAS GAY, LESBICAS, TRAVESTIS Y TRANSEXUALES EN BRASIL 991
y frontales, incluyendo una serie de muy conocidos actores, cantantes y bailarines. Desde
el cierre de Sui Generis, aquella publicación ha asumido crecientemente el rol de revista
de noticias de la comunidad, incluyendo notas, reseñas y artículos cortos. G Magazine
encabezó los titulares de los diarios nacionales cuando Vampeta, uno de los principales
jugadores del equipo de fútbol Corinthians, y más tarde su compañero de equipo Dinei
aparecieron desnudos en la revista. Se informó que le habían pagado 100.000 reales a
Vampeta por la sesión de fotos, una enorme suma que indica la fuerza del real rosa y
muestra cuán lejos han llegado las publicaciones gay desde los pequeños periódicos
mimeografiados de los años sesenta.
A lo largo de los años ha aparecido un gran número de revistas eróticas ofreciendo
desnudos masculinos. Se incluyen Pleiguei/Jornal do Homo, un revista de corta duración
que sucedió a Lampião en 1981, Coverboy, Alone, Gato y Sex Symbol. En la actualidad,
las publicaciones principales en esta área son Homens, Gold y Travestis, una revista de
gran trayectoria que se especializa en fotos de desnudos de travestis brasileños. Contienen
también una cierta cantidad de texto, información y avisos publicitarios. Se puede
encontrar información sobre el ambiente gay en Jornal Grito G, un periódico en formato
tabloide, gratuito, de frecuencia mensual, publicado en Niterói, y Babado, un periódico
similar publicado en Campinas. En la misma ciudad, hay una revista hecha por drag
queens, Zoom Mix Magazine, que tiene también su propio sitio en la Web.
Entre los grupos gay, el Grupo Gay da Bahia está muy consolidado y tiene su propio
edificio en el centro histórico de Salvador. El reconocimiento oficial a su labor en la
prevención del SIDA le ha permitido emprender un programa activo de publicaciones.
Habitualmente publica Homo Sapiens (1997-), un periódico gratuito en formato de diario
editado por Marcelo Cerqueira. Homo Sapiens, sucesora del Boletim do GGB, contiene
noticias, reseñas de libros, direcciones útiles y artículos sobre temas gay, con un énfasis
en la importancia del orgullo gay y los derechos humanos. Otros periódicos auspiciados
por el GGB son: Aláfia: Jornal do Povo do Axé (2000-), una pequeña publicación
trimestral dirigida a un público negro, y Princesa: Boletim da Associação de Travestis de
Salvador (2001-), destinada a travestis. Ambos ponen el énfasis en el mensaje de
prevención del SIDA. En Fortaleza, el grupo de prevención del SIDA GAPA-CE publica
IDentidade (1999-), una pequeña revista en papel ilustración dirigida a gays. La institución
principal que se ocupa de la prevención del SIDA es la Associação Brasileira Interdisciplinar
de AIDS o ABIA en Río de Janeiro. Ésta publica el Boletim ABIA (1988-) y el Boletim
Arayê (1995-), y traduce y distribuye la edición brasileña de Boletim Ação Anti-AIDS
(1988-), compilado en Londres. Tiene un importante centro de información, que ha
publicado una bibliografía de todo su material sobre homosexualidad (Associação
Brasileira Interdisciplinar de AIDS).
Los periódicos tienen características especiales, cuya significación cultural e histórica
se diferencia de los libros. Ellos son, en primer lugar, un emprendimiento colectivo y
generalmente presuponen la existencia de un grupo de gente con intereses compartidos,
tanto entre los productores que se encargan de escribirlos y publicarlos, como entre los que
forman parte de su público suscribiéndose a ellos, comprándolos o leyéndolos. Aun siendo
efímeros, ellos representan y crean una comunidad de intereses que se prolonga en el
tiempo. Ofrecen a sus lectores el acceso a la información sobre lugares físicos, estilos de
PUBLICACIONES PERIODICAS GAY, LESBICAS, TRAVESTIS Y TRANSEXUALES EN BRASIL 993
Brasil, marzo de 1978. Vientos favorables soplan en el sentido de una cierta liberalización
del cuadro nacional [...] Pero, un periódico homosexual, ¿para qué? [...] Lo que nos
interesa es destruir la imagen-patrón que se tiene del homosexual, según la cual éste es
un ser que vive en las sombras, que prefiere la noche, que enfrenta su preferencia sexual
como una especie de maldición, que es dado a los ademanes y que siempre tropieza, en
cualquier intento de realizarse más ampliamente como ser humano, con este factor
capital: su sexo no es aquel que él desearía tener. Para terminar con esa imagen-patrón,
Lampião no pretende sollozar por la opresión nuestra de cada día, ni presionar válvulas
de escape. Sólo recordará que una parte estadísticamente definible de la población
brasileña [...] debe ser caracterizada como una minoría oprimida. Y una minoría, es
elemental en los días de hoy, precisa una voz. [...] lo que Lampião reivindica en nombre
de esa minoría es no sólo el asumirse y ser aceptado, lo que nosotros queremos es rescatar
esa condición que todas las sociedades construidas sobre bases machistas les negaron: el
hecho de que los homosexuales son seres humanos y que, por lo tanto, tienen todo el
derecho de luchar por su plena realización, como tales. Para ello, estaremos mensualmente
en los puestos de venta del País, hablando de actualidad y buscando iluminar sobre la
4
Lampião da Esquina. Río de Janeiro: Lampião Editora. Nos. 0-año 3, nº 37, abril 1978-junio 1981;
Sui Generis. Río de Janeiro: SG Press Editora. Nº 0-año VI, nº 55, 1994-22 marzo 2000; Boletim
do Grupo Gay da Bahia. Año I, nº 1-año XVIII, nº 37, agosto 1981-enero/febrero 1998; G Magazine.
São Paulo: Fractal Edições. 1997-.
994 ROBERT HOWES
En verdad el propio periódico vive una situación muy contradictoria en relación con sus
lectores. La relatividad del ser homosexual y la propia realidad del homosexual en el
Brasil, ser inferior, impide a los lampiônicos compartir una identidad común con todos
los otros homosexuales. En este sentido se busca una identidad a partir de premisas
propias, muchas veces inaccesibles al homosexual prostituto, al travesti miserable, a la
marica loca alienada. Como intelectuales, sus editores y colaboradores intentan abrir el
gueto a la ventilación de ideas, volviendo más aireada la convivencia, o el confinamiento,
la mayor parte de las veces, de los homosexuales. Sin embargo, un prejuicio sensible
sobre ese homosexual lumpen, un deseo de reformarlo y no percibirlo como consecuencia
de causas anteriores es flagrante y muchos lectores han señalado eso en sus cartas.
(Ramos 4)
De cualquier modo, preferimos recibir una carta como la suya, llena de restricciones, que
las de habituales elogios” (III.30 (noviembre 1980): 19). La cobertura del travestismo, la
PUBLICACIONES PERIODICAS GAY, LESBICAS, TRAVESTIS Y TRANSEXUALES EN BRASIL 995
poder de compra.” (0 (1994): 4). Sui Generis se inspiró en la nueva generación de revistas
satinadas fomentadoras del estilo de vida del consumidor gay, que habían aparecido en los
Estados Unidos y en Europa, particularmente la estadounidense Out y la inglesa Attitude
(Monteiro). Estas revistas alcanzaron el éxito económico proveyendo a los anunciantes de
un vehículo esterilizado para llegar al lucrativo mercado gay de clase media, si bien han
sido acusadas de debilitar la cultura gay en el proceso de asimilación a los valores
tradicionales (Chasin Harris). La marca de fábrica de Sui Generis, particularmente en sus
primeros números, fue un cosmopolitismo entusiasta y juvenil, que abrazó la cultura
popular internacional y mezcló notas sobre el ambiente gay en Río, Nueva York, Londres
y São Paulo, reflejando la conmoción inicial de la apertura del Brasil al mercado global.
Usó los términos “gay”, “lésbica” y “bisexual”, que por entonces habían pasado a ser de
uso común en el Brasil, y un discurso compuesto por un argot gay contemporáneo (“bibi”,
“barbie”, “babado”) mezclado con palabras en inglés. Como señaló la revista en un
editorial sobre “Cultura gay”, en su tercer número, con Boy George en la tapa, “La cultura
gay se está manifestando en el Brasil de la misma forma que en todo el mundo: sumamente
cosmopolita en sus referencias. Como si gays de diferentes países hubiesen unido
esfuerzos para combatir las resistencias locales e inaugurar una cultura común sin
nacionalidad” (3 (mayo 1995): 7).
En una entrevista dada a otra publicación, el editor de Sui Generis, Nélson Feitosa,
fue bien claro sobre esta visión estratégica:
El mundo cambió y es necesario responder a ese mundo. [...] la vieja militancia no tiene
más opción. El mundo marcha hacia otro lado. [...] la cuestión homo tiene tres vías para
avanzar: la del movimiento organizado, la de la afirmación individual de cada uno y la
del poder económico. Para mí, las dos primeras, aun siendo importantes, son una
consecuencia del último. [...] Cuando los gays saben usar ese poder económico, hacen
que la gente descubra que no representan una amenaza, y que no tienen por qué
discriminarlos. (Feitosa)
Esta estrategia también demostró ser fugaz en la práctica. El mensaje general de Sui
Generis fue que “está bien ser gay” y esto trajo una respuesta entusiasta de sus lectores,
que llenaron la redacción con cartas de elogios y relatos de sus propias experiencias de
asunción pública de su sexualidad. Sin embargo, hubo algunas pocas voces disonantes: un
lector pidió más modelos masculinos, un lector negro pidió más modelos negros, las
mujeres reclamaban regularmente más material sobre mujeres y lesbianas, y muchos
lectores se quejaban del alto precio de tapa, sugiriendo que estaba más allá del alcance de
los gays más pobres. Muchos lectores se quejaron de que no entendían la terminología gay
o las palabras extranjeras utilizadas y la revista tuvo que explicarlas. El tono dominante
de la página de cartas de lectores fue el del elogio positivo, pero un par de editoriales
respondiendo a críticas indican que se recibieron algunas opiniones adversas, que no
fueron publicadas.
A pesar de su optimismo inicial, Sui Generis fracasó en su propósito de conseguir un
apoyo significativo de los anunciantes tradicionales. La impresión dada por la sección de
cartas y las entrevistas interminables a actores de telenovela en que la mayor parte de los
PUBLICACIONES PERIODICAS GAY, LESBICAS, TRAVESTIS Y TRANSEXUALES EN BRASIL 997
lectores eran lesbianas y gays jóvenes que vivían con sus familias. La revista le ofreció a
este sector vulnerable un invalorable lazo con la comunidad gay, pero, cualesquiera fueran
sus aspiraciones a un estilo de vida gay, ellos no tenían los recursos económicos para
interesar a esos anunciantes. El otro factor es el prejuicio homofóbico. Como explicó un
agente publicitario, las principales compañías todavía eran renuentes al riesgo de “manchar”
sus marcas anunciando en una publicación gay (VI.51 (10 enero 2000): 6-8, 10). Mientras
Attitude, al compartir el mercado inglés con Gay Times, una revista mensual de larga
trayectoria que todavía le da un lugar central a los intereses políticos y comunitarios, pudo
concentrarse en las notas de estilo de vida orientadas al consumidor gay, Sui Generis tuvo
que cumplir ambas funciones para conservar a sus lectores. En sus últimos números,
aumentó la cantidad de espacio dedicada a los temas de la comunidad gay, con una página
regular firmada por João Silvério Trevisan, un destacado historiador de la cultura y escritor
gay, quien también había escrito para Lampião; con otra página iniciada por Luiz Mott,
un antiguo militante gay, y con la cobertura de asuntos desagradables vinculados a la
discriminación y a la violencia.
Los dilemas involucrados y las estrategias alternativas posibles pueden apreciarse
prestando atención a otras dos publicaciones. Si bien posteriormente se hizo en imprenta,
el Boletim do Grupo Gay da Bahia al comienzo se produjo con mimeógrafo, con una
circulación muy limitada. El Boletim fue el órgano de un grupo gay militante liderado por
Luiz Mott, uno de los militantes gay brasileños más destacados y enérgicos en los últimos
veinte años, lo que le dio un rol claro: “nuestro Boletim es una de nuestras armas en la lucha
contra todas las expresiones de prejuicio y discriminación antihomosexual” (II, 4
(septiembre 1982): 2). El GGB concentró sus esfuerzos en objetivos definidos, alcanzables,
como el reconocimiento legal del GGB, la abolición del discriminatorio parágrafo 302.0
de la Clasificación Internacional de Enfermedades de la Organización Mundial de la
Salud, la oposición a comentarios homofóbicos en la prensa convencional, especialmente
el periódico local A Tarde, y la labor de prevención del SIDA. Desde su comienzo el
Boletim do GGB publicó una lista de hombres gay, lesbianas y travestis que habían sido
asesinados, confeccionada por miembros del grupo a partir de noticias de los periódicos.
Más tarde, Mott pudo producir una nota basada en un análisis estadístico de estos casos,
lo que condujo a un reconocimiento creciente en el Brasil y el exterior del prejuicio y la
violencia contra los gays como un asunto de los derechos humanos. (Mott) Aunque de
circulación limitada y aliado a muchos otros métodos de publicidad, el Boletim do GGB
(y su sucesor Homo Sapiens) mostró las posibilidades de un periódico centrado en la
promoción de la comunidad gay a través de la militancia gay.
Otra alternativa es la cultural. Las comunidades estigmatizadas toman fuerza de sus
propias culturas. Las entrevistas a conocidos escritores, cantantes, directores de teatro y
actores de TV, las reseñas de teatro, danza, música y literatura y los análisis en profundidad
de cuestiones sociales e intelectuales publicados en Lampião, Sui Generis y otros
periódicos ofrecen una amplia prueba de la contribución de lesbianas y gays a la cultura
del Brasil y del mundo. Como contrapunto a las culturas alta y popular, hay también una
subcultura transgresora, particularmente para hombres gays. En restrospectiva, algunas de
las notas más interesantes en los últimos números de Lampião fueron informes en
profundidad sobre aspectos de la subcultura gay, que por aquel entonces había sido tratada
998 ROBERT HOWES
sólo por la prensa sensacionalista, pero que ahora era objeto de una intensa investigación
académica. Algunos de estos temas fueron: áreas de búsqueda sexual (III.25 (junio 1980):
3), prostitución masculina (III.30 (noviembre 1980): 3-9), travestis (III.32 (enero 1981):
3-10) y hoteles para encuentros sexuales (III.34 (marzo 1981): 5-8). Estos temas fueron
tratados de modo sofisticado: por ejemplo, una nota especial sobre la Plaza Tiradentes en
el centro de Río de Janeiro, un área frecuentada por homosexuales pobres, describía la
historia de la plaza, quiénes eran los propietarios de varios teatros y cines, la vida nocturna
y los personajes bohemios, y la necesidad de preservar los edificios y el paisaje urbano sin
echar a la gente que le daba al área mucho de su color local (III.36 (mayo 1981): 12-15).
El rol de los elementos transgresores de la cultura gay ha sido frecuentemente
debatido. Los dilemas que enfrentan las publicaciones gay en la búsqueda del público de
lectores quedan ilustrados por la pregunta acerca de los desnudos masculinos. El sexo
vende, y donde la censura lo permite las publicaciones que muestran desnudos aparecen
enseguida como parte del mercado pornográfico. La cuestión que se plantea es si esos
desnudos deberían ser admitidos en las publicaciones gay que buscan una circulación
mayor y un público respetable. Aunque los desnudos masculinos pueden aumentar la
circulación, alejan a muchos lectores, particularmente a las lesbianas, y refuerzan los
estereotipos del hombre gay obsesionado con el sexo. La cuestión fue planteada en el
primer número de Lampião, que los rechazó sobre bases de principios: “no es nuestro
género: Lampião cree que nadie [...] debe ser tratado como objeto sexual” (0 (abril 1978):
14). Más tarde, como la circulación caía, se reprodujeron algunas fotos de calidad pobre,
en blanco y negro, y se ofreció un calendario con la publicación. El dilema fue notado por
João Silvério Trevisan (“Entrevista”), quien más tarde recordó que un número dedicado
a la situación de los gays en Cuba (III.33 (febrero 1981): 10-15), armado con gran
dificultad, fue el que vendió la menor cantidad de ejemplares, mientras que el número
siguiente, con un desnudo en la tapa, fue el de mayor venta de todos (Trevisan). A pesar
de los pedidos de algunos lectores, Sui Generis no incluyó desnudos, poniendo al frente
un consejo de un lector que había escrito: “Sería una pésima estrategia de marketing. Lo
bueno de Sui es que podemos leerla en cualquier lugar e infiltrarla en otros tantos sin
molestar a nadie, ni ser molestado por nadie” (22 (1997): 6). En lugar de ello, los editores
inauguraron Homens, una publicación dedicada a ese mercado.
Una respuesta diferente al problema fue ofrecida por G Magazine, que, mientras
cumplía crecientemente el papel de revista de cultura general para la comunidad gay,
inauguró una sección especial de fotografías en color de desnudos masculinos, habitualmente
posando con una erección completamente visible. Es difícil establecer el impacto de G
Magazine. Muchos de sus modelos son muy conocidos para el público general brasileño
en las áreas de entretenimiento y deportes. La revista logró obtener unos pocos y
ocasionales anuncios convencionales de productos como la bebida Red Devil o una
concesionaria de Chevrolet, aunque es muy temprano para decir si ha logrado el
entrecruzamiento entre pornografía y publicación convencional ejemplificado por la
revista Playboy de Hugh Heffner (Dines). G Magazine ha tomado efectivamente uno de
los íconos de la cultura de consumo, el culto a la celebridad, y lo ha subvertido con un
antiguo símbolo del deseo transgresor homosexual, el desnudo masculino. Ésta parece ser
una fórmula de marketing exitosa, pero queda por ver si esto va a asimilar a la cultura gay
PUBLICACIONES PERIODICAS GAY, LESBICAS, TRAVESTIS Y TRANSEXUALES EN BRASIL 999
a la cultura general o llevarla de vuelta al gueto. Mientras tanto, ya está teniendo algunas
consecuencias interesantes. Los simpatizantes del equipo de fútbol Corinthians han tenido
que aceptar que sus ídolos aparezcan en revistas gay y las mismas celebridades han
comenzado a pensar en las implicancias de su estatus como objetos sexuales (Huck).
Ya han pasado cuarenta años desde que aparecieron las primeras publicaciones
periódicas lésbicas y gay del Brasil. Con la excepción de los años oscuros del régimen
militar, se han venido produciendo publicaciones a lo largo de ese periodo. Han sido
sostenidos por la comunidad lésbica y gay y a la vez han contribuido en la formación de
esta comunidad y su cultura. Hoy son vendidos abiertamente en los puestos de venta,
donde son accesibles a todo el mundo, pero todavía deben ser completamente aceptados
por el público general, lo que se mide por la presencia de anuncios publicitarios. G
Magazine está a una gran distancia del idealismo político de Lampião aun cuando ambos
cumplen una función común. Su presencia visible ayuda a individuos gay y lesbianas a
participar en la cultura y la comunidad gay y, al mismo tiempo, sirve como un recordatorio
a la sociedad en su conjunto sobre la existencia de la comunidad lésbica y gay en su propio
seno.
Crecientemente, las publicaciones periódicas impresas tienen que coexistir con la
Web. La Web ofrece un acceso sin precedentes a la información, no sólo en el Brasil sino
también en el exterior. Actualmente, el acceso está limitado a aquellos que pueden
sostenerlo económicamente, una importante restricción para muchos brasileños, de modo
que mucho va a depender de que la Internet pueda volverse accesible a un público más
amplio. Algunas de las publicaciones han comenzado a hacer uso de la Web. G Magazine
tiene su propio sitio en ella y se puede acceder a versiones electrónicas del boletín del
GGB, Homo Sapiens, y la revista de drag queens, Zoomgls.5 Para aquellos que tienen
acceso a la red, la comunidad gay virtual está desarrollándose en la Internet. Habrá que ver
cuál es el futuro para las revistas impresas. En el presente, vale la pena observar que G
Magazine está reimprimiendo algunos de sus primeros números y algunos números
atrasados de Sui Generis están todavía en venta para los que tratan de completar sus
colecciones. Esto sugiere que algunos gays y lesbianas brasileñas ven las revistas como
parte de la memoria colectiva de su comunidad.
BIBLIOGRAFÍA
5
http://www.gmagazine.com.br; http://www.ggb.org.br; http://www.zoomgls.com.br
1000 ROBERT HOWES
Atton, Chris. Alternative Literature: A Practical Guide for Librarians. Aldershot: Gower,
1996.
Benjamin, Ionie. The Black Press in Britain. Stoke-on-Trent: Trentham, 1995.
Brake, Laurel, Aled Jones y Lionel Madden, eds. Investigating Victorian journalism.
Basingstoke: Macmillan, 1990.
Brayner, Aquiles Ratti Alencar. “‘Lampião’: um Bandido Social? Análise Discursiva da
Revista Lampião da Esquina”. Diss. University of Leiden, 1998.
Chasin, Alexandra. “The Gay and Lesbian Press and the ‘Business of Liberation’.” Selling
Out: the Gay and Lesbian Movement Goes to Market. Nueva York: Palgrave, 2000.
57-100.
Cohen, Ed. “Who are ‘We’? Gay ‘Identity’ as Political (E)motion (A Theoretical
Rumination)”. Inside/Out: Lesbian Theories, Gay Theories. Diana Fuss, ed. Nueva
York: Routledge, 1991. 71-92.
The Complete Reprint of Physique Pictorial. Köln: Taschen, 1997.
Dines, Gail. “‘I Buy it for the Articles’: Playboy Magazine and the Sexualization of
Consumerism”. Gender, Race and Class in Media: A Text-Reader. Gail Dines y Jean
M. Humez, ed. Thousand Oaks: Sage, 1995. 254-262.
Engel, Stephen M. The Unfinished Revolution. Social Movement Theory and the Gay and
Lesbian Movement. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.
Epstein, Steven. “Gay Politics, Ethnic Identity: the Limits of Social Constructionism”.
Socialist Review 17/3-4, 93-94 (1987): 9-54.
Erni, John Nguyet y Anthony J. Spires. “Glossy Subjects: ‘G&L Magazine’ and ‘Tonghzi’
Cultural Visibility in Taiwan”. Sexualities 4/1 (2001): 25-49.
Fausto Neto, Antônio. Mortes em Derrapagem: os Casos Corona e Cazuza no Discurso
da Comunicação de Massa. [Río de Janeiro]: Rio Fundo Editora, 1991.
Feitosa, Nélson. “Mostrando a cara”. Ent& I/05 (09 nov. a 01 dic. 1994): 13-15.
Fry, Peter. “História da Imprensa Baiana”. Lampião da Esquina I/4 (25 agosto-25
septiembre 1978): 4.
Gamson, Joshua. “Must Identity Movements Self-Destruct? A Queer Dilemma”. Social
Problems 42/3 (1995): 390-407.
Green, James N. Além do Carnaval: A Homossexualidade Masculina no Brasil do Século
XX. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
_____ “The Emergence of the Brazilian Gay Liberation Movement, 1977-1981”. Latin
American Perspectives 21/1 (Winter 1994): 38-55.
_____ “‘More Love and More Desire’: the Building of a Brazilian Movement”. The
Global Emergence of Gay and Lesbian Politics: National Imprints of a Worldwide
Movement. Barry D. Adam, Jan Willem Duyvendak y André Krouwel, ed. Philadelphia:
Temple University Press, 1999. 91-109.
_____ “Desire and Militancy: Lesbians, Gays and the Brazilian Workers Party”. Different
Rainbows. Peter Drucker, ed. Londres: Gay Men’s Press, 2000. 57-70.
Hanscombe, Gillian E. y Andrew Lumsden. Title Fight: the Battle for Gay News. Londres:
Brilliance, 1983.
Harris, Daniel. “The Invention of the Teflon Magazine: From After Dark to Out”. The Rise
and Fall of Gay Culture. By Harris. Nueva York: Ballantine, 1999. 64-85.
PUBLICACIONES PERIODICAS GAY, LESBICAS, TRAVESTIS Y TRANSEXUALES EN BRASIL 1001
Hooven III, F. Valentine. Beefcake: the Muscle Magazines of America, 1950-1970. Köln:
Taschen, 1995.
Huck, Luciano. Entrevista, Roger José Noronha Silva: http://lucianohuck.zip.net/SiteLH/
Antena/Entrevista/roger.htm
Kennedy, Hubert. The Ideal Gay Man: The Story of ‘Der Kreis’. Nueva York: Harrington
Park Press, 1999.
Kunoff, Hugo. The Alternative Movement, Press, and Literature of West Germany.
Wiesbaden: Otto Harrassowitz, 1988.
Leyland, Winston, ed. Now the Volcano: an Anthology of Latin American Gay Literature.
San Francisco: Gay Sunshine Press, 1979.
Macrae, Edward. A Construção da Igualdade: Identidade Sexual e Política no Brasil da
‘Abertura’. Campinas: Editora da UNICAMP, 1990.
Mascarenhas, João Antônio de. Entrevista personal, Río de Janeiro, 2 octubre 1997.
Míccolis, Leila. “‘Snob’, ‘Le Femme’… Os Bons Tempos da Imprensa Guei”. Lampião
da Esquina III/28 (septiembre 1980): 6-7.
Míccolis, Leila y Herbert Daniel. Jacarés e Lobishomens: Dois Ensaios sobre a
Homossexualidade. Río de Janeiro: Achiamé, 1983.
Minority Press Group. Here is the Other News: Challenges to the Local Commercial
Press. Londres: Minority Press Group, 1980.
Monteiro, Marko. O Homoerotismo nas Revistas Sui Generis e Homens. Trabajo presentado
en el Evento Literatura e Homoerotismo: II Encontro de Pesquisadores Universitários,
Universidade Federal Fluminense, Instituto de Letras, 24-26 de mayo de 2000: http:/
/www.artnet.com.br/%7Emarko/ohomoero.htm
Moreira, Antônio Carlos. Só para Cavalheiros: Crônicas Urbanas do Jornal Lampião.
Río de Janeiro, 1997.
Mott, Luiz Roberto. Homofobia: A Violação dos Direitos Humanos de Gays, Lésbicas &
Travestis no Brasil. Salvador: Grupo Gay da Bahia; San Francisco: International Gay
and Lesbian Human Rights Commission, 1997.
Plummer, Kenneth, ed. The Making of the Modern Homosexual. Londres: Hutchinson,
1981.
Ramos, Nando. “Enfim, um jornal-maravilha”. Artículo publicado en Singular & Plural,
março 1979, y reimpreso en Lampião I/12 (mayo 1979): 4.
Sanderson, Terry. Mediawatch: the Treatment of Male and Female Homosexuality in the
British Media. Londres: Cassell, 1995.
Streitmatter, Rodger. Unspeakable: The Rise of the Gay and Lesbian Press in America.
Boston: Faber & Faber, 1995.
Trevisan, João Silvério. Devassos no Paraíso: a Homossexualidade no Brasil, da Colônia
à Atualidade. 4ª ed. Río de Janeiro: Editora Record, 2000.
_____ “Entrevista a Sylvio de Oliveira, em 10/10/93, no Rio de Janeiro”. Nós por exemplo
II/11 (Nov./dic. 1993): 4-5.
Van der Veen, Evert. “A Global View of the Gay and Lesbian Press”. Second ILGA Pink
Book: A Global View of Lesbian and Gay Liberation and Oppression. Utrecht:
Interfacultaire Werkgroep Homostudies, Rijksuniversiteit Utrecht, 1988. 14-32.
Revista Iberoamericana, Vol. LXX, Núms. 208-209, Julio-Diciembre 2004, 1003-1013
CRÓNICAS DE LO EFÍMERO:
UN SIGLO DE REVISTAS CULTURALES Y LITERARIAS COSTARRICENSES
POR
FLORA OVARES
Universidad Nacional de Costa Rica
Al igual que otros productos culturales, las revistas literarias tienden a constituir una
comunidad de lectores que imagina y comparte ciertas nociones acerca de múltiples
aspectos de la identidad. Cumplen así una importante función en el permanente proceso
de construcción de diversos conceptos e imágenes de nación, literatura e historia. Logran
este cometido gracias a la persistencia de una estructura y unas reglas de funcionamiento,
que las convierte en un género discursivo particular. Las revistas poseen una estructura
reconocible que se mantiene relativamente constante: traducciones, críticas o comentarios,
artículos biográficos, reseñas de libros, notas y apuntes de actualidad, anécdotas, poesías,
agrupados en secciones heterogéneas. Comparten con el diario una concepción del tiempo
que incorpora la cotidianidad como elemento común con los lectores. No obstante,
invierten el orden de las prioridades del periódico al ofrecer un sitio preferencial a la
literatura, la ciencia y el arte frente a la narración de hechos y acontecimientos.
A partir del modelo constituido por las revistas de principios del siglo XX en Costa
Rica, en las líneas que siguen se indica la permanencia de una estructura genérica en
publicaciones aparecidas a lo largo de cien años; a la vez, se señalan los nexos de dicha
estructura con las diferentes concepciones del intelectual y su función, y con las sucesivas
transformaciones de la idea de nación en ese período.
En cada uno de los tipos de revistas estudiados, sean éstas culturales e ilustradas,
políticas o preferentemente literarias, se encuentra rasgos y procedimientos constructivos
semejantes. Sin embargo, la intención y el contenido ideológicos afectan algunos
elementos estructurales como el planteamiento de la relación entre los integrantes de la
situación comunicativa. Por lo anterior, para determinar las particularidades de las revistas
en los diversos momentos de la historia cultural del país, es preciso analizar tanto los
procedimentos de construcción y disposición que definen el tiempo y el lugar de la
enunciación como la figura del destinador y la imagen del lector destinatario.
Efectivamente, es posible visualizar relaciones y jerarquías entre los participantes de
la comunicación en la revista literaria. En este sentido, los textos en estudio suponen
figuras particulares del destinador y los destinatarios, que son mucho más que simples
1004 FLORA OVARES
de principios, las reflexiones acerca del arte, la crítica literaria, la selección del material
poético y en los juicios acerca de otros grupos sociales. En Minerva (1914), por ejemplo,
la imagen del público se construye mediante oposiciones que enfrentan al literato y al
comerciante, al hombre de ciencias y al del pueblo. Esta misma concepción del público,
unida a datos como el título de la revista y el titular del editorial (“Public, Salut!!!”), sitúa
al periodista en una posición de condescendiente superioridad con respecto al de sus
lectores.
Por otro lado, ambas figuras parecen desdoblarse en el enunciado, al identificarse
tanto el destinador como los destinatarios con los protagonistas de los acontecimientos
sociales relatados. Una crónica humorística titulada “El viaje a la frontera”, publicada en
Páginas Ilustradas (1904-1912) en febrero de 1908, ilustra el esquema básico de la
situación comunicativa descrita: se trata de un texto ficticio presentado al lector como la
crónica de un viaje, es decir, como un texto que responde a una situación real. Los
personajes son conocidos políticos y escritores, algunos de ellos colaboradores de la
revista. El narrador participa también como personaje en estas aventuras. De alguna
manera, el texto convierte en tema literario una situación social externa a él: la cercanía
y la identidad de clase entre los destinadores y los destinatarios, todos como personajes
del mundo dibujado en la revista.
Este mundo aceptado y común se despliega en muchas secciones. Las crónicas
cubren todo tipo de acontecimiento: desde concursos de belleza hasta homenajes a
personalidades distinguidas. Las noticias de sucesos culturales hablan de diversas
inquietudes y actividades: se invita a las conferencias, recitales, encuentros literarios,
homenajes a algún poeta extranjero. Así, la revista literaria se constituye en lugar de
circulación de la vida cultural de un grupo y una época. Los anuncios de conferencias, la
propaganda de las novedades bibliográficas, los certámenes, todo va esbozando un ámbito
cultural peculiar. Es decir, se imagina en estas publicaciones un espacio cultural,
segregado del espacio nacional más amplio, en un gesto análogo al que restringe la
imaginación del público destinatario.
Por otro lado, la proximidad con la estructura periodística supone en las revistas una
cercanía espacial y temporal entre ambos ejes de la situación de enunciación. Resulta así
una coincidencia entre el tiempo y el espacio de la enunciación, el aquí y el ahora de las
revistas y el tiempo y el espacio del mundo mostrado en ellas. Así como la figura del poeta
se repite en los niveles de la enunciación y el enunciado, mientras el lector se ve
incorporado como destinatario y cómplice en el “nosotros”, el presente de las revistas
remite a una identidad temporal entre ambas instancias: la enunciación y el mundo
mostrado. Se acercan así, especularmente, la escritura y la lectura.
Los procedimientos de construcción de un espacio de clase construyen paralelamente
un espacio que será percibido como nacional. Un mundo, el tiempo y el espacio de una
comunidad cultural y geográfica nacional que, más que conocerse, se reconoce como
propio. Así, los procedimientos de imaginación de una mitología nacional se enlazan con
mecanismos de fortalecimiento de una idea de cultura, como lo demuestran los certámenes
literarios y concursos cuyos temas se limitan a lo nacional. De esta manera, el proceso de
construcción de un espacio cultural restringido aparece ligado a una mitología y una
iconografía nacionales: las revistas crean la nación y se revelan como lugar de imaginación
y propagación de nociones de cultura e identidad nacional.
1006 FLORA OVARES
La invención del país tiene lugar también en un plano más general y alejado de la
temática patriótica. Al pensar un espacio y un tiempo nacionales, las revistas discuten
sobre el pasado y las tradiciones, buscan identificar el pasado rural como refugio de la
identidad, ofrecen una visión de la ciudad y una mirada sobre la aldea. Textos codificados
en diferentes sistemas, como son los escritos y los icónicos, dibujan un paisaje nacional,
rural y un ambiente citadino común e identificador. Páginas Ilustradas ofrece vistas de
los principales edificios, parques y monumentos de San José y otras capitales, así como
fotos de bellezas naturales. Pandemonium posee una sección “Rincones de San José”, en
la que aparecen vistas de barrios capitalinos y otra titulada “Costa Rica pintoresca”, con
fotos de paisajes de diversas regiones. El lector reconoce ese entorno común, cuya
visualización resulta fundamental en el proceso de consolidación de lo nacional.
Siguiendo a Benedict Anderson se podría decir que el escenario sociológico que
despliegan las revistas llena los rasgos del escenario nacional. La sucesión de plurales
delinea un espacio pleno de objetos comparables entre sí: escuelas, hospitales, parques,
es decir, objetos que existen separada y simultáneamente en el presente del lector. Pero,
en este caso, se remite muchas veces a un entorno tranquilizador, signado por la autoridad
paternal o por el prestigio: la habitación de algún político o un poeta, las mansiones de
caballeros acaudalados, la casa de un sacerdote conocido. O bien, los negocios e
industrias, aún marcados por los nombres de los propietarios, garantía, ante todo, de un
trato familiar.
En un plano temporal, la nación se constituye en el sujeto central del cambio
histórico, el pasado se relee en función del presente y la historia se interpreta como el
proceso del país hacia su madurez. En este sentido, es interesante el afán mostrado en
recuperar páginas de antaño por su importancia documental y su utilidad para constituir
un acervo, una memoria nacional. Athenea, Costa Rica Ilustrada, Pandemonium y
Páginas Ilustradas publican artículos de historia de Costa Rica o reproducen textos de los
viejos archivos coloniales.
De esta manera, los diversos niveles y secciones de la revista literaria apuntan a la
construcción de imágenes y lealtades nacionales. El juego de espejos entre los ejes de la
enunciación y las figuras del enunciado posibilita un efecto de familiaridad y cercanía. A
su vez, este efecto fortalece el proceso de reconocimiento del tiempo y el espacio del
enunciado como el tiempo y el espacio de la nación costarricense.
Las figuras del destinador y los destinatarios, así como las relaciones entre ellos, se
ciñen a un esquema semejante al descrito para revistas como Athenea o Páginas
Ilustradas. Se trata de borrar la distancia entre unos y otros y de identificar estas figuras
con los protagonistas de los hechos del enunciado. Tanto el destinador como los
destinatarios comparten su condición de trabajadores, aunque la cercanía entre ambas
figuras de la comunicación no es obstáculo para que se establezca entre ellas una relación
jerárquica, en el sentido de que uno es el maestro y otros los discípulos. La asimilación
de la figura del destinador a la del maestro, justifica y valida didácticamente el enunciado.
El tono de los ensayos y el estilo apelativo de los artículos y proclamas refuerzan la
inclinación didáctica, visible no sólo en la propia disposición del enunciado y sus
contenidos sino también en su carácter reiterativo en todos los niveles: en la relación entre
los ensayos y las ilustraciones alusivas, en la constancia de ciertos temas e inquietudes, en
la semejanza ideológica que sostiene y unifica las diferentes secciones. De esta manera,
se fortalece la conciencia de élite intelectual y se insiste en el papel rector del maestro, el
escritor, el pensador.
Mediante estos procedimientos, tanto los destinadores como los destinatarios se
sienten reflejados en las imágenes y los héroes de los enunciados, mientras todos forman
parte de una fuerza internacional mayor, de una comunidad más amplia, proyectada a un
utópico futuro de confraternidad humana.
En las décadas posteriores, las revistas se apartan del americanismo propio de los
veinte y los treinta, a favor de opciones más ceñidas a las aspiraciones de grupos medios
y profesionales en ascenso. En 1935 apareció Liberación, dirigida por el ensayista Vicente
Sáenz y, entre 1940 y 1945, Surco, tribuna del Centro para el Estudio de los Problemas
Nacionales, agrupación que daría origen al partido social demócrata. Estas revistas
continúan la discusión sobre los asuntos educativos y los problemas de la identidad
cultural. En los ensayos aparecidos en Surco, por ejemplo, se plantea la importancia de
la educación como lugar de perfeccionamiento de la democracia, entendida como una tarea
continuada generación tras generación: una nación ideal sería aquella “creada por
maestros”. Estas propuestas entrañan un enfrentamiento a defectos sociales como la
incapacidad de trascender el instante, el exagerado afán pragmático, el dogmatismo, las
posiciones elitistas y el olvido de las funciones sociales de la enseñanza.
Las publicaciones de la segunda mitad del siglo conservan el afán por preservar
ciertos valores culturales, como se nota en Brecha, que circuló entre 1956 y 1962, bajo
la dirección del poeta Arturo Echeverría Loría. En ella se dieron a conocer importantes
textos de la literatura costarricense, así como ensayos históricos. La intención manifiesta
es la de rescatar autores u obras que se consideraban injustamente amenazados por el
olvido. Una intención didáctica semejante orientaba Pórtico, revista de la Editorial Costa
Rica. Dirigida también por Echeverría Loría, junto a Lilia Ramos, José Manuel Sánchez
y Lolita Zeller en los años sesenta, ofrecía noticias del mundo cultural y se dedicaba a las
letras, las artes plásticas y la música.
La defensa de la identidad cultural dentro de un nuevo proyecto ideológico aparece
en las revistas publicadas por el Ministerio de Cultura, Juventud y Deportes en la década
de 1970. En esos años, las políticas de apoyo a las áreas educativas y culturales elaboradas
por algunos sectores del gobierno social demócrata se plasmaron en una serie de
publicaciones periódicas de amplia circulación y sin fines de lucro.
Entre otras, Papel Impreso, aparecida en 1971, revista de cultura popular, dirigida “a
todos los sectores de la sociedad”, se proponía divulgar las letras costarricenses y
extranjeras y recuperar a los escritores de antaño; Letras Nuevas quería ser espacio de
expresión de los más jóvenes; La Revista de Costa Rica. Historia, geografía, antropología,
sociología y arqueología costarricenses, se dedicaba a la investigación histórica y a la
recuperación de trabajos y documentos inéditos o poco conocidos por las nuevas
generaciones; Tertulia, subtitulada “Revista nacional de cultura”, aparecía trimestralmente
con el objetivo de dar a conocer al gran público los fundamentos de las principales
corrientes artísticas.
Circularon además Troquel, revista cultural del Banco Central de Costa Rica.
Economía, arte, literatura, ciencia, la Revista histórico crítica de literatura centroamericana,
publicación conjunta de la Universidad de Costa Rica y el Ministerio de Cultura; Artes y
Letras, auspiciada por la Dirección General de Artes y Letras del Ministerio de Educación
Pública y dedicada a la filosofía, el arte, la historiografía, el teatro y la música e ilustrada
con esculturas, pinturas y grabados.
1010 FLORA OVARES
revistas. En algunos casos, como en El Moño Azul, el mismo título es una parodia, en este
caso de El Mono Azul, que circuló en España en los años de la República y cuyo nombre
aludía a la vestimenta de los obreros.
La subversión recurre con frecuencia al aspecto sexual como sucede en Kasandra
(aparecida en 1989), y las fotografías, textos y grabados atrevidos impactan a los lectores
y llaman a la reflexión acerca de la sociedad puritana e hipócrita. El erotismo se convierte
en una forma de protesta y desafío frente a las convenciones sociales. Incluso, en
ocasiones, la publicación provoca al lector, como cuando en Kasandra se le recuerda “que
nosotros ponemos las imágenes y ustedes, los prejuicios” (10, 1997: 1). En “Historias de
un mirón” la escabrosa narración termina recordando al lector que él es también un voyeur
y que “habrá espiado con mucha curiosidad mi relato” (Kasandra 10, 1997: 35). En todo
caso, ya el destinatario no es “estimado”, “culto” ni “sensitivo”: más bien es el “mae”, un
joven corriente, como lo es el editor, o bien un universitario inconforme con la mediocridad
y los convencionalismos sociales.
La crítica se enfila, no hacia los productos de la cultura, sino hacia la comercialización
y la burocratización de ésta. Los festivales y actividades se anuncian, con un lenguaje
estridente y agresivo, como un desafío a la cultura oficial, las trasnacionales de la
comunicación y la industria del espectáculo. A veces, como pasa con El Tarro (1997), se
acude al humor para dar noticias de una cultura juvenil, alejada de la oficialidad. En estas
páginas, los escritores jóvenes, los marginales y los no consagrados, ven publicados sus
trabajos junto a anuncios y noticias del jazz nacional y el rock en español, o avisos sobre
nuevas librerías, discotecas y cafés. Destacan la informalidad, la mención política jocosa,
la parodia, la incredulidad ante la sociedad de los mayores, la búsqueda de la sinceridad
y la solidaridad.
Lo oculto, nocturno y marginal se unen para componer una propuesta urbana,
totalmente ajena al tono nostálgico hacia el campo perceptible en algunas de las revistas
de los años sesenta y setenta. Los titulares de varias ediciones de Kasandra insisten en este
asunto: “Voces urbanas marginales”, “Fruta urbana en mordisco colectivo”, “Códice
urbano”, “Boleta urbana”, “Expediente urbano”. La insistencia en lo urbano corre a la par
de la ausencia de idealización de un pasado nacional, una identidad latinoamericana o un
proyecto utópico que suavice la desconfianza en el futuro.
En muchos sentidos, estas publicaciones rompen con violencia con la imagen de lo
nacional que reitera el discurso oficial. Si bien ésta ha sido cuestionada a lo largo de su
existencia en el ensayo y otros textos literarios, así como en muchas de las revistas
analizadas, ahora se trata del juego irreverente con los símbolos patrios, la negativa a
participar en la vida civil y el llamado a renunciar de la nacionalidad. A diferencia de otras
revistas, en Kasandra existe una reflexión consciente acerca de estos asuntos. Junto a los
artículos y fotografías escandalosos o divertidos, se publican ensayos que analizan el papel
de la contracultura como respuesta a la fragmentación social y la globalización. Por
ejemplo, Alexander Jiménez diserta sobre la necesidad de “desimaginar los países” y Jorge
Jiménez, en “Las astucias de la disidencia”, estudia diversas facetas de las contraculturas
de los años noventa.
Así, las revistas literarias y culturales han evolucionado a lo largo de cien años. Ha
cambiado la caracterización del público lector, sea éste el intelectual, el artista o la clase
1012 FLORA OVARES
BIBLIOGRAFÍA
POR
LUZ RODRÍGUEZ-CARRANZA
Universidad de Leiden
1
Un buen ejemplo del tono alegre y desfachatado es la puerta de la hiper revista El fémur de tu padre,
“obra de nadie, como un ‘glitch’ binario, virus o ‘trojan’ computacional cuyo ‘gimmick’ es
configurarse en forma de revista cultural”. Carmen Centeno Añeses, en Cultura alternativa
puertorriqueña en la red, hiper revista El cuarto del Quenepón (arte; Biblioteca), http//
cuarto.quenepon.org/
2
Ver Rodríguez-Carranza, “Gaps and Bridges”.
3
Le agradezco a Kristian Van Haesendonck –quien prepara en Leiden su tesis doctoral sobre novelas
puertorriqueñas contemporáneas– que me haya dado a conocer y prestado generosamente los
números de Postdata.
4
Otro caso sugestivo es el de Luis Palés Matos, que sigue omnipresente aunque las interpretaciones
sobre su obra cambiaran: de hispanista y racista en los sesenta pasó a ser latinoamericanista en los
setenta, defensor de las minorities en los ochenta y pionero en los noventa del autoerotismo femenino
como tema poético. Se trata pues, de otro Palés Matos, aunque las nuevas lecturas incorporen
explícita o implícitamente las anteriores. Véase Rodríguez-Carranza,“La identidad...” y el análisis
de la masturbación femenina en López Baralt.
5
Para una publicación no subvencionada tan exigente con el lector esta permanencia es un éxito.
Me he limitado aquí a glosar solo algunos temas de los diez primeros números, por razones de
espacio. Sería necesario también, por supuesto, analizar comparativamente Postdata con Nómada
y Bordes, revistas paralelas que aparecieron en 1995.
6
Los números de página desaparecen a veces en las fotocopias, y me he visto obligada en esos casos
a citar con s.p. (sin paginación).
1016 LUZ RODRÍGUEZ-CARRANZA
7
El diseño gráfico fue realizado por los estudiantes de la clase de diseño Publicitario I del
Departamento Imagen y Diseño de la Escuela de Artes Plásticas de Puerto Rico, dirigidos por la
artista María de Mater O’Neill, quien firma también con una estudiante el diseño de la portada. El
apoyo continuado de O’Neill –a quien se le agradece en cada número de la revista a partir de 1995–
no se limita al diseño. La artista dirige también una hiper revista en la Internet, El cuarto del
Quenepón, que incluye en su Biblioteca una selección de artículos de Postdata, comentarios sobre
los libros editados por el Colectivo y otras actividades. Ver http//cuarto.quenepon.org/
8
El sistema de rúbricas pone de manifiesto el esfuerzo por transgredir las disciplinas universitarias,
pero establece simultáneamente un sistema de equivalencias que guía al lector. En la portada del
número 10-11, por ejemplo, que parece un “collage”, se aficha una clasificación con etiquetas
académicas reconocibles: “Barroco y Neobarroco”, “Semiótica”, “Arte”, “Género” y “Psicoanálisis”,
“Entrevista” y “Reseñas”. El índice interior es más original: “Cerrajeros” (colaboradores), “Llaves”
(artículos y ensayos) “Dossier” (nueva narrativa cubana y puertorriqueña) “Entre/vista” y “El ojo de
la cerradura” (reseñas). En el número 12 (1996) “Llaves” se subdivide: En el baúl y “Llaves”; el
índice se reproduce en la contraportada, sistema que permanece en los números siguientes con
rúbricas más tradicionales y genéricas.
LAS MÁSCARAS DE LO NACIONAL: POSTDATA (1991-) 1017
los setenta que las publicaciones actuales del continente ya ni se atreven a mencionar sin
la naftalina de las comillas: el del papel del intelectual. Post-data, sin embargo, es Post-
moderna: así la consideran sus redactores, admiradores y adversarios, y para sus editores
la primera tarea del intelectual –eje de la discusión inaugural entre Carlos Gil y Juan
Duchesne en el primer número de la revista– es precisamente tomar distancia con el
“Intelectual Mesiánico-Populista” que sigue produciendo esos relatos y desenmascararlo
deconstruyendo sus discursos. Ahora bien, deconstruir es solo el primer paso: lo más
interesante de Postdata, a mi juicio, es una propuesta creativa y literaria9 de re-utilización
política de lo simbólico.
MÁSCARAS
9
Si bien el análisis del discurso en la genealogía de las ciencias humanas y de las disciplinas en
general ha sido el centro de interés de la filosofía post-estructuralista francesa (Foucault), es con los
instrumentos metodológicos de los análisis de texto –filología, retórica, estilística, narratología– que
puede llevarse a cabo. (véase Rodríguez-Carranza, “Postoccidentalismo...”). Dicho de otro modo,
el análisis literario es la metodología ineludible para cualquier análisis discursivo sobre cultura o
humanismo.
1018 LUZ RODRÍGUEZ-CARRANZA
existencia depende de que exista un Estado que no necesite ser soberano o representativo,
sino un simple fantasma creado por el deseo. Gil no opina sobre lo que sucede en los otros
países latinoamericanos: expone una teoría del Estado y la ejemplifica con Puerto Rico,
pero “a buen entendedor, pocas palabras”. La eficacia de una teoría pertinente es que
funciona como espejo cuestionador, o como la mise-en-abîme borgeana de “Las ruinas
circulares”.
b) La nación (neo)populista
Entre los textos producidos por los Aparatos Culturales de Estado, el más eficaz ha
sido y es el texto de lo nacional; el número 3 de Postdata (1991) está íntegramente
dedicado a la genealogía y análisis de ese discurso. Gil lo define como “parte esencial de
la respuesta de los intelectuales puertorriqueños como réplica ante su propia crisis
estatutaria” (“Sobredeterminación...” 6), quienes extrapolaron su falta de legitimidad
como problema nacional y crearon un interlocutor (la patria enferma, el pueblo) para que
se convirtiera en sujeto agente de sus propios intereses.10 Como en el caso del Estado,
fueron –y son– las prácticas políticas las que crearon la “nación” y no a la inversa. El texto
de lo nacional afectó la producción teórica puertorriqueña de tres maneras:
En primer lugar por su supuesto ontológico según el cual no es posible ninguna práctica
regional productiva que no fuera la de la liberación y hasta ella. De modo que las prácticas
regionales (por ejemplo, la actividad académica) son contrarias, enajenantes de la
práctica liberatoria. En segundo lugar, por su supuesto epistemológico de acuerdo con el
cual existiría una diferencia fundamental entre teoría y práctica por lo que vale más la
práctica (cuando es liberatoria) que mil teorías. En tercer lugar, por su carácter ético
vinculante a partir del cual se afirmaba que la única manera de ser consecuente con el
ideal y la práctica liberatoria sería buscar en la región discursiva aquello en que
resplandeciera el ideal. (12)
Gil señala que la política cultural del gobierno de Rafael Hernández Colón11 favorece
“la instalación de un discurso neo-nacionalista potencialmente hegemónico” (15); Irma
10
Es muy interesante el uso que hace Gil de las personas gramaticales en este artículo. Véase el
párrafo siguiente: “Muchos de nuestros intelectuales pensaron su problema como problema de la
nación o nacional y, en cierto sentido, eso era cierto. Pero sólo en cierto sentido. Su necesidad de
legitimidad les hizo inventar un interlocutor ( la ‘patria enferma’, el pueblo, herencia hispana, india,
negra, los cuatro pisos, etc.) con el cual poder hablar y que les hablara. Entonces inventamos el
sujeto-nación” (11).
11
Rafael Hernández Colón, del Partido Popular Democrático (PPD), gobernó de 1973 a 1976 y de
1985 a 1992. El PPD fue fundado por Luis Muñoz Marín, quien instauró a partir de 1950 el Estado
Libre Asociado en Puerto Rico. El sistema, vigente hasta hoy, deja en manos de los Estados Unidos
la economía y las relaciones exteriores. Los puertorriqueños son ciudadanos norteamericanos, la
moneda de la isla es el dólar, pero tienen un gobierno propio. El PPD, de fuerte sello populista,
gobernó hasta 1968, cuando el cargo de gobernador recayó en Luis Ferré, candidato del Partido
Nuevo Progresista (PNP). El PNP defiende –pero no lleva a cabo– la estadidad o anexionismo, la
incorporación de la isla a los Estados Unidos como estado número cincuenta y uno. El Partido
LAS MÁSCARAS DE LO NACIONAL: POSTDATA (1991-) 1019
Rivera Nieves (“Poder...”) constata que se ha producido una mutación del discurso
político, una “transfiliación partidista”:
Desplazamiento de los partidos: los populares se han movido al espacio que ocuparon los
independentistas (mirada retrospectiva, orgullo nacional, hispanidad, moralidad). Los
anexionistas se pasarán al espacio de los populares. Los actantes son los mismos pero
están en lugares distintos. (13)
Para elaborar esos discursos independentistas light14 y volverlos operativos hace falta
el know-how de la inteligentsia. Quizás el artículo más claro al respecto sea el de Arturo
Independentista Puertorriqueño, tercera opción política de Puerto Rico, fue siempre minoritario: en
las últimas elecciones de 2000 los porcentajes fueron de 48,5% para el PPD, 46,1% para el PNP y
4,9% para el PIP. Véase Tulio Halperin Donghi, o, si se quiere un panorama de la historia de Puerto
Rico en tres páginas, consultar http: //www.guiadelmundo.org.uy/PAISES/Puerto_Rico/historia.htm
12
Rivera Nieves recuerda los comentarios de Paul Veyne sobre Nerón, quien propuso una nueva
imagen de sí mismo, la utopía del soberano que reina mediante la fascinación (4).
13
Las reflexiones de Rivera Nieves en 1991 resultan proféticas cuando se analiza el discurso de la
nueva gobernadora del PPD de Puerto Rico, Sila Calderón, tanto durante su campaña como después
de su investidura. Los ejes fueron la lucha contra la corrupción y el problema de Vieques, campo de
maniobras de la Armada estadounidense en una isla puertorriqueña. Ambos temas eran
independentistas: el candidato por el PIP, Rubén Berríos, acampó en el mismo terreno de tiro durante
un año para impedir los bombardeos. La recuperación de Calderón fue perfecta: rindió homenaje a
Berríos y a su “gesta patriótica” y transformó Vieques de tema antiimperialista en tema ecológico
y ético. Eso no impidió que pocos meses después de esas declaraciones –el 6 de agosto 2001– el
veterano y respetadísimo dirigente independentista Juan Mari Bras, de setenta y tres años, fuera
arrestado junto a su hijo Raúl Mari Pesquera, de cuarenta y tres años y su nieto Raúl Mari Fernández
de veinte por protestar contra las maniobras militares de la marina norteamericana.
14
La expresión es de Juan Duchesne (“Convalecencia...” s.p.) quien la utiliza con connotaciones
positivas en el primer número de Postdata. Carlos Gil, en cambio, en su respuesta a Duchesne
publicada en la misma entrega tiene una opinión muy diferente al respecto, y califica a su colega
editor de “independentista decaf” (“Poder y fascinación...” 8). Ver más abajo sobre las diferencias
entre ambos editores.
1020 LUZ RODRÍGUEZ-CARRANZA
15
“El intelectual épico se caracteriza por hacer solvente su discurso en relación con la recreación de
una narrativa que adquiere legitimidad mediante una meta historia fundante. Esta puede traducirse
ya sea en la liberación del espíritu, la emancipación del hombre a través del saber, la Razón como
arma prometeica. Inscrita esta narrativa dentro de un campo epistemológico positivista-humanista,
ella guarda su homólogo en el sujeto del discurso, en aquel que se reserva el privilegio de la emisión
de los enunciados. Genio en la maestría de las figuras del lenguaje [...] Quizás la figura más clásica
e identificable de este Homero lo sea el orador político patriota o su homólogo educador cuyo
referente es el saber humanista iluminista” (8).
16
Como consejeros mediáticos del PPD los “melones populistas” son excelentes, pero no puede
decirse lo mismo de sus adversarios. Cuando en las últimas elecciones la bandera electoral
indispensable era la ética, y Calderón, después de haber ganado, atacaba la corrupción y el
nepotismo, el candidato oficialista Carlos Pesquera del PNP declaraba: “estoy seguro de que yo era
el mejor candidato e iba a servirles bien junto con toda mi familia”. Véase http://www.bbc.co.ul/
spanish/especiales/eeuu/news001108puertorico.shtml
17
Rivera Nieves había caracterizado ya a este grupo intelectual dentro de la universidad en el primer
número de Postdata: “el populismo –pensamiento crítico, folclorismo, caribeñismo, cultura
popular, negritud, igualitarismo, latinoamericanismo, etc.– es quizás una respuesta. Generalmente
anti-ilustrado y anti-teórico convierte el trabajo académico y docente en socioterapia donde el
profesor como médium debe despertar una conciencia crítica, unos valores o una identidad” (“Como
Platón...” 2-3).
LAS MÁSCARAS DE LO NACIONAL: POSTDATA (1991-) 1021
RESISTENCIAS ALTERNATIVAS
18
El TQM se basa, según Colón Zayas, entre otros, en los supuestos teóricos de Edwards Deming,
Joseph Juran y Philip Crosby (“Archivos...” 24).
1022 LUZ RODRÍGUEZ-CARRANZA
19
“Desaparece el individuo en aras del molde uniforme de virtudes ejemplares comunitarias que se
potencian desde el gran aparato estatal del Bien. Obviamente el Estado es una ‘organización
racional’ que sirve para proteger a los individuos unos de otros; pero la cuestión importante para
Nietzsche en 1876 era: ¿Qué nos defenderá de la inclinación absolutista del Estado que lucha por
la nivelación de los individuos? […] de tanto dimitir del umbral del Instante acabamos dimitiendo
de nosotros mismos como individuos. Todo Fin Último se venga del presente, lo entierra en vida.
[…] El ‘yo’, el individuo aparece frente a la desindividualización programada de la época como una
tarea. Vitalismo es la filosofía que dice sí a la vida; pero en tanto individuo. (Ya en otro texto
recalqué la importancia decisiva, frente a lo que a primera lectura pudiera parecer, que posee lo
apolíneo, es decir, la unicidad productiva frente a lo dionisíaco-colectivo en donde desaparece el
individuo por completo). […] El heroísmo lleva consigo la soledad, y es fronterizo con el esfuerzo
inútil” (1-8, énfasis del autor).
20
Remite a Althusser 196, 215 (“Sobredeterminación...” 2).
LAS MÁSCARAS DE LO NACIONAL: POSTDATA (1991-) 1023
21
El énfasis es de Gil al citarlo (“Poder y fascinación...” 7).
1024 LUZ RODRÍGUEZ-CARRANZA
resistencia a las identidades impuestas.22 Así, casi todas las entrevistas son políticas, y en
su gran mayoría presentan militantes populistas o independentistas; pero todos ellos son
“perdedores” y han logrado (cierta) distancia crítica. Es el caso de dos comandantes
nicaragüenses (Dora María Téllez y Víctor Tirado López) y hasta del mismísimo Rafael
Hernández Colón, entrevistado por Silvia Álvarez Curbelo el 23 de enero de 1996, cuatro
años después de abandonar el liderazgo del PPD (1996). La figura emblemática de
Postdata es Elizam Escobar, artista, escritor y prisionero político independentista que
cumple una sentencia de sesenta y siete años de prisión en la cárcel federal de El Reno,
Oklahoma, en los Estados Unidos. Desde su encierro, Escobar –“uno de los presos
políticos del mundo que más tiempo ha estado encarcelado” (Gil, “Levitación...” 143)–
participa en foros de discusión, da a conocer sus ensayos en publicaciones de distintas
partes del mundo, y es además uno de los más importantes artistas plásticos puertorriqueños:
sus exposiciones son acontecimientos culturales. Entrevistado por Carlos Gil, Escobar
explica que en el encierro “lo que quedaba eran imágenes y efectos, y se comenzó a abrir
un mundo mental espacioso. Poco a poco me fui curando a medida que fui esclareciendo
cuáles eran mis posibilidades reales en cuanto a lo que se podía hacer y lo que valía la pena”
(153). La experiencia dolorosa y real de Escobar se vuelve metáfora de Puerto Rico.
Aunque siga considerando que no se puede escapar a la condición colonial sin independencia
efectiva, el artista defiende la libertad creadora:
DESPLAZAMIENTOS Y APROPIACIONES
22
Es por estas coincidencias que me resisto a considerar la separación del grupo Armagedón en 1995
como una ruptura. Las disensiones estaban presentes desde le principio, pero eso no impidió el
trabajo conjunto. Prefiero considerar por el momento que la fundación de Nómada obedeció a la
necesidad de ampliar las “polifonías” y el espacio discursivo. El número 10 de Postdata –el primero
sin Duchesne y Sotomayor– presenta muchos cambios, pero las modificaciones van precisamente
en el sentido de la seducción preconizada por Duchesne.
LAS MÁSCARAS DE LO NACIONAL: POSTDATA (1991-) 1025
23
“Es un texto útil para desmontar la relación modernismo-postmodernismo en nuestro ámbito,
precisamente por los modos cómo se resiste a descansar en ninguno de los polos de la proposición.
La gnosis barroca se convierte en un dispositivo previamente cargado que desestabiliza cualquier
intento de situar los textos de la latinoamericanidad en el contexto euro-norteamericanocéntrico de
la tardomodernidad industrial” (14).
1026 LUZ RODRÍGUEZ-CARRANZA
24
Entre esas reproducciones y los artículos de Postdata 10, que no me canso de ponderar, hay un
diálogo multifacético. El trabajo de contrapunto entre diversas manifestaciones artísticas es otro de
los juegos epistemológicos y estéticos favoritos de los editores, como lo prueba también el título de
su primera publicación de conjunto, Polifonía Salvaje, que se cierra con la partitura de una
composición musical.
25
Antonio Benítez Rojo presentó el 30 de noviembre de 1995 en la Biblioteca Carnegie, de San Juan,
el libro colectivo editado por Rivera Nieves y Gil. El texto de Benítez es incluido a su vez como reseña
en Postdata 12.
LAS MÁSCARAS DE LO NACIONAL: POSTDATA (1991-) 1027
BIBLIOGRAFÍA
_____ “Conversación en Ponce: una entrevista con Rafael Hernández Colón”. Postdata
12 (San Juan, 1996): 110-27.
Benítez Rojo, Antonio. “Polifonía Salvaje”. Postdata 12 (San Juan, 1996): 128-30.
Beverley, John. “¿Post-literatura? Sujeto subalterno e impase de las humanidades”.
Postdata 5 (San Juan, 1992): 1-19.
Chiampi, Irlemar. “Sarduy, Lautréamont y el barroco austral”. Postdata 10 (San Juan,
1995): 7-11.
Colón Zayas, Eliseo. “Archivos sobre el saber. Directorios de TQM”. Postdata 10 (San
Juan, 1995): 22-36.
_____ “Lo inacabado, las fronteras, los tránsitos: práctica teórica y crítica cultural”.
Postdata 14 (San Juan, 1999): 35-39.
Duchesne Winter, Juan. “Convalecencia del independentismo de izquierda”. Postdata 1
(San Juan, 1991): s.p.
_____ “Independencia, reclamo de justicia no subordinable a esquemas teóricos”.
Postdata 1 (San Juan, 1991): s.p.
_____ “Tres términos, tres fantasmas: cultura, popular y América Latina”. Postdata 2
(San Juan, 1991): 1-6.
_____ “Metafísica narrativa de la nación albizuísta”. Postdata 3 (San Juan, 1991): 1-22.
_____ “Notas sobre neopopulismo, literatura e intelectuales. (Respuesta a John Beverley)”.
Postdata 5 (San Juan, 1992): 1-15.
Gelpí, Juan. “Las tribulaciones de Jonás ante el paternalismo literario”. La Torre (nueva
época) 5/19 (Río Piedras, 1991): 297-313.
_____ “Otro modo de lectura. Respuesta a un artículo sobre las crónicas de Rodríguez
Juliá”. Postdata 6-7 (San Juan, 1992): 23-28.
Gil, Carlos. “Poder y fascinación: Respuesta amistosa al neo-independentismo”. Postdata
1 (San Juan, 1991): 1-15.
_____ “Poder y fascinación (II). El independentismo puertorriqueño: ¿Una ideología
finita?” Postdata 1 (San Juan, 1991): 1-5.
_____ “Universidad y simulacro: dificultades y recursos del trabajo teórico”. Postdata 2
(San Juan, 1991): 1-17.
_____ “Sobredeterminación y simulacro: el sujeto nación”. Postdata 3 (San Juan, 1991):
1-17.
_____ “Microtopología del Estado y subjetividad nacional”. Postdata 4 (San Juan, 1992):
1-18.
_____ “La muerte de Supermán y la crisis del estado hiper moderno”. Postdata 6-7 (San
Juan, 1993): 5-18.
_____ “Levitación en el tiempo: entrevista con Elizam Escobar”. Postdata 10-11 (San
Juan, 1995): 143- 157.
González, Rubén. “El patriarcado, un fantasma vencido. Las crónicas de Rodríguez
Juliá”. Cupey 9 (Río Piedras, 1992): 83-97.
Halperín Donghi, Tulio. Historia contemporánea de América Latina. 13ª ed. Madrid:
Alianza, 1990.
LAS MÁSCARAS DE LO NACIONAL: POSTDATA (1991-) 1029
Selser, Irene. “Entrevista con Dora María Téllez. La concepción de vanguardia está
agotada”. Postdata 2 (San Juan, 1991): s.p. (tomado del semanario El gallo
ilustrado, del periódico mexicano El Día).
Sotomayor, Áurea María. “La imaginería nacionalista: de la historia al relato”. Postdata
3 (San Juan, 1991): 1-32.
_____ “Imágenes para ser contadas (lectura de textos de E. Rodríguez Juliá)”. Postdata
4 (San Juan, 1992): 1-23.
Tirado López, Víctor. “Se acabó el ciclo de las revoluciones anti-imperialistas”. Postdata
2 (San Juan, 1991): s.p. (Tomado de Claridad, 20 al 26 de abril 1990).
Torrecilla, Arturo. “Cocumis melo intelligentsia: los intelectuales en el Estado de los
partidos”. Postdata 2 (San Juan, 1991): 1-23.
Vilches Norat, Vanessa. “Rigoberta Menchú y el nuevo indígena. A propósito del Premio
Nobel de la Paz”. Postdata 5 (San Juan, 1992): 1-16.
Revista Iberoamericana, Vol. LXX, Núms. 208-209, Julio-Diciembre 2004, 1031-1041
CONOCIMIENTO SUPLEMENTARIO:
QUEERING EL EJE NORTE/SUR
POR
FRANCINE MASIELLO
University of California, Berkeley
El género y la sexualidad han sido los hitos-guía de la crítica cultural; son tan
necesarios para el estudio del arte y la literatura como lo han sido para las revisiones
postmarxistas de la historia de la lucha de clases. Sin embargo, desde una perspectiva
latinoamericana, estas líneas de cuestionamiento cumplen también otra función en tanto
que son mediadoras de la circulación cultural que se desplaza de Norte a Sur. En particular,
género y sexualidad interrumpen la uniformidad del “flujo” Norte/Sur e introducen formas
desconocidas de ruptura en la lógica del “sentido común” de la globalización. Con razón
entonces, no hace mucho tiempo que hemos empezado a examinar de manera apropiada
las rutas a través de las cuales se desplazan estos debates; no sólo examinamos de qué
manera las teorías anglo europeas del género ingresan a Latinoamérica para estructurar los
debates locales, sino también, los modos en que América Latina responde a la teoría del
Norte.
Mi intención inicial fue idear una investigación acerca de los modos en que estas
preguntas sobre el género y la identidad sexual viajan de Norte a Sur a través de
importantes publicaciones culturales. Esto traza un camino a través del Feminaria de Lea
Fletcher en Argentina o del proyecto académico de Mora en la Universidad de Buenos
Aires; la Revista de crítica cultural de Nelly Richard, o Nomadías de la Universidad de
Chile; la revista de Estudos feministas en Brasil, o Fem y Debate Feminista en México.
Estas publicaciones son los puntos de partida lógicos para rastrear el impacto de las
intervenciones del género en la crítica cultural. No sólo introducen osados paradigmas
para la circulación del conocimiento, sino que también construyen modelos alternativos
para considerar la política y la cultura nacional.1 Pero aquí quiero tomar una dirección
diferente, un curso menos obvio en el eje Norte/Sur, moviéndome en un espacio que
presente un desafío tanto para las academias como para aquellos postulados establecidos
por la teoría universal. Mi foco de interés es el periodismo cultural para mujeres que surge
de la prensa popular.
Más específicamente aún, quiero referirme a los estilos de compromiso que propone
LAS/12, el suplemento feminista del diario argentino Página/12. Parte de la prensa
1
He consignado las amplias implicaciones del periodismo cultural hecho por mujeres en “El género
de la democracia”. La cultura de un siglo: América Latina en sus revistas. Comp. Saúl Sosnowski.
Buenos Aires: Alianza, 1999. 537-48.
1032 FRANCINE MASIELLO
2
Ver Horacio González: La realidad satírica: 12 hipótesis sobre Página12.
CONOCIMIENTO SUPLEMENTARIO 1033
la mano. Como espero demostrar aquí, LAS/12 y en particular el ojo inteligente de María
Moreno nos conmina a que miremos el modo en que la metrópolis modela el deseo del Sur
y las respuesta que el Sur ofrece al Norte.
Desde el comienzo, Moreno y sus colegas juegan con temas y objetos que
supuestamente constituyen “el interés de las mujeres”, para exponer las condiciones
opresivas que los mismos generan al crear una ilusión de libertad para las mujeres. La
moda y el cine, los dilemas de madres y esposas, la búsqueda continua de la tranquilidad
doméstica, aquellas pequeñas “ayudas” psicológicas que, como se sabe, pretenden otorgar
a la mujer un renovado impulso en la vida, se cuentan entre los temas de los suplementos
para mujeres en casi todas partes del mundo. Pero Moreno los invierte. Parece demostrar
que mientras algunas de estas cuestiones son obvias (y omnipresentes) en aquellas
secciones del suplemento que se ocupan del automejoramiento de las mujeres, las
respuestas que ofrecen son, también, predecibles: casi antes de leer el suplemento sabemos
cuál será el consejo que se dará a las mujeres. De hecho, ésta es una de las mayores críticas
que puede hacerse a los suplementos como forma cultural para las masas; incluso, muchos
de quienes los apoyan expresan esta reserva. Con respecto a esto, y citando a Dora
Codelesky, una activista en favor del aborto, las editoras finalmente advierten: “los
espacios dedicados a la mujer son importantes porque sirven para hacer ‘más ignominiosa
la ignominia’ conociéndola. Más opresiva la opresión, publicándola” (5 de marzo de
1999). Moreno habla desde dentro de la boca del monstruo: deconstruye los hábitos del
consumismo femenino desde el centro mismo de la escena de una publicación que debe
sobrevivir a través de la publicidad y las ventas.
Moreno también modifica la disposición de un público lector ansioso por encontrar
respuestas a las preguntas convencionales, expandiendo los límites de la imaginación
femenina y saboteando las ideas habituales acerca del lugar de las mujeres en el mundo.
LAS/12 se pone así a la altura del desafío de Moreno y presenta esta paradoja en letras de
molde. Las colaboradoras manipulan la construcción tradicional de género, así como el
estatuto de la columna convencional para mujeres que han facilitado estas representaciones.
“La mujer no es un suplemento” escriben juguetonamente, tomando las palabras de Magui
Bellotti, abogada y activista feminista (5 de marzo de 1999). Tampoco es el suplemento
LAS/12 nada suplementario en ninguno de los sentidos habituales. Esta inversión se
manifiesta en el alcance de los temas que, subrepticiamente, ingresan a las páginas de LAS/
12. Las descripciones de artefactos para el hogar y de productos de baño permiten a las
editoras referirse a las teorías de la sexualidad femenina, los derechos civiles y las
demandas feministas por la liberación del trabajo doméstico. Las entrevistas a celebridades
de Hollywood y las discusiones sobre el arte posmoderno les permiten estudiar el proceso
discursivo que “produce” una ilusión de mujer.
En un movimiento para globalizar los intereses del suplemento, Hollywood, París o
las galerías de arte de Nueva York aparecen con frecuencia en el horizonte de la
publicación. Pero las editoras también hacen observaciones sobre los fracasos de la cultura
estadounidense. Por ejemplo, LAS/12 se detiene en las violaciones a los derechos humanos
de las mujeres prisioneras en los Estados Unidos, denunciando la tortura física ejercida
sobre las internas; la representación de las mujeres de origen hispanoamericano en las
películas de Hollywood; la cultura del cocktail de los suburbios estadounidenses que se
1034 FRANCINE MASIELLO
hace evidente en las publicidades de los famosos y, más recientemente, el papel que juegan
las mujeres estadounidenses que se oponen a los esfuerzos bélicos de George W. Bush.
Estos ensayos nos recuerdan que la mirada del sur está siempre alerta a la cultura del norte,
pero no simplemente con el propósito de convertirse en una copia servil, sino para señalar
la injusticia mundial. En el proceso, la natural autoridad del Norte se torna desconocida
a la luz de los pormenores del género, limitando los circuitos del deseo que el suplemento
pretende sostener y vender.
Igualmente importante es el terreno de la teoría que subyace en la cobertura de
estrellas y celebridades. LAS/12 dedica una generosa atención a la construcción del
personaje femenino, a las normas que separan la vida pública y la privada, a los recursos
extraídos de la teoría psicoanalítica que ubican al sujeto femenino en el mundo y se arrogan
el derecho de explicar su intelecto y su psiquis. Con razón, entonces, las editoras de LAS/
12 revelan las limitaciones de la teoría lacaniana (la terapia de mayor consumo en
Argentina) y surcan las aguas de psicologías alternativas y populares que conectan la
atención de las mujeres norteamericanas y sudamericanas. Enfoques new age, fantasías
eróticas, debates sobre la capacidad orgásmica de las mujeres pueden parecer materia
editorial de las superficiales revistas tradicionales (en Estados Unidos, pensamos en
Cosmopolitan o, en una versión más tediosa y puritana, la Ladies’ Home Journal), pero
cuando LAS/12 se refiere a estos temas, aspira a algo más: a socavar las premisas mismas
de la cultura de masas que reclama para sí la autoridad interpretativa sobre las mujeres. No
se trata simplemente de introducir las teorías que concitan la atención femenina, sino de
mostrar el modo en que estas filosofías se las arreglan para mantener cautivas a las mujeres.
Por ejemplo, Moira Soto, una de las colaboradoras habituales de LAS/12, se pregunta por
el destino de las divas y vuelve al concepto de star system que hace estragos en la vida
personal de las mujeres célebres (su reciente interés por Marilyn Monroe, insiste, por
cierto, en este rasgo). La glamorosa estrella de cine de los años cuarenta y cincuenta, que
aunaba el personaje público y la vida privada, hoy está cuestionada. Soto indaga cómo es
creada y sostenida la aspirante a estrella, cómo la maquinaria cinematográfica crea el aura
del arquetipo. En síntesis, Soto advierte de qué modo los peinados, las poses, el fumar y
el estilo de vestir contribuyen a una ilusión de belleza sin tacha y construyen un vínculo
aparentemente indisoluble entre el trabajo y la vida privada de la diva.
La teoría ingresa al suplemento a hurtadillas, dispersa en entrevistas a figuras
célebres, a través de personalidades, incorporada por un nombre. Así, LAS/12 pone en
juego la voz contra el personaje público, la historia de vida contra la imagen congelada.
Moreno pasa de las instantáneas de vida al movimiento activo, separando la imagen
pública de la persona que piensa, para alcanzar el sentido subyacente de la perspectiva
feminista que puedan defender figuras prominentes. Una entrevista con María Elena
Walsh se refiere a las limitaciones de la mujer en la política argentina; otra con Griselda
Gambaro consigna los poderes del lazo homosocial que excluye a las mujeres del debate
público; un encuentro con Erica Jong es el pretexto para hablar sobre las identidades de
las minorías, sobre el holocausto y la supervivencia. Una nota sobre la biografía de Coco
Chanel y otra acerca de Carolina Herrera abren la reflexión sobre las imposiciones de la
moda sobre el cuerpo femenino de vanguardia. Y el estrafalario vestido de Martirio, la
cantante pop española, se explica como una iniciativa posmoderna de autoconstrucción
CONOCIMIENTO SUPLEMENTARIO 1035
3
Esta es una teoría que Henri Lefebvre ha hecho circular en The Production of Space. Oxford:
Blackwell, 1991.
1036 FRANCINE MASIELLO
del espacio público y privado del tipo de las que ensayaron teóricas feministas como Shelly
Rosaldo y Louise Lamphere y, más tarde, Nancy Fraser; en lugar de eso, la intersección
de planos, por lo general separados, sirve para reflejar los impulsos eróticos en constante
movimiento, los que coexisten más allá del estado y de la ley.
En todo esto observamos la traducción de los cuerpos a través de cambiantes estilos
de autorrepresentación: a través de la casa y la calle, a través de la mirada sobre las
celebridades internacionales, a través del examen de las estrategias de los medios que
crean a las mujeres como público lector. Esto, por supuesto, exige el cuestionamiento de
las relaciones entre género y traducción, y de las prácticas interpretativas que modifican
la representación de la mujer de una cultura a otra.
La traducción es un tema subyacente: cómo pasan de una lengua a otra los materiales
de la teoría cultural, cómo puede releerse el aura de las celebridades de la pantalla desde
los márgenes del sur, cómo se resemantiza la sexualidad al cruzar las fronteras de la casa
y el estado. En este contexto, la celebración del 50 aniversario de la publicación de El
Segundo Sexo, provocó no sólo una nueva revisión de Simone de Beauvoir, sino también
un llamado de atención para considerar las estrategias de traducción que, en todo el
mundo, han alterado su reconocido libro. Moreno advierte, citando a Sylvie Chaperon,
cómo fue truncado el texto al pasar a los sistemas de las distintas lenguas: en Japón, la
palabra “femineidad” fue sustituida por “maternidad”; en los Estados Unidos, la traducción
al inglés de El Segundo Sexo fue simplificada para eliminar lecturas complejas; en la Unión
Soviética, el texto estuvo prohibido hasta los tiempos de la Glasnost; en Argentina, el
ingreso de El Segundo Sexo no tuvo el propósito de crear una estallido público, sino el de
proporcionar el registro de una confesión única e individual, la autorrevelación de un
individuo destacado. Más allá de los abordajes más convencionales, la traducción
funciona como un marco de recepción de segundo grado de una fuente extranjera que
indica la conciencia política y el accionar colectivo de la comunidad locales. El objetivo
de las editoras de LAS/12 es recordarnos la pérdida de una narrativa emancipadora cuyas
iniciativas militantes han sido abandonadas o domesticadas, apaciguadas por el crecimiento
de las expresiones privadas de los deseos del consumidor. Las citas de activistas y
militantes (Belotti y Codelesky entre ellas) sembradas entre los nombres de artistas y
celebridades internacionalmente conocidas, nos transportan constantemente a mundos
contrastantes. Dan origen a nuevas traducciones que promueven la crítica cultural a
lugares en los que algunos sólo experimentan subordinación y pérdida. Por último, esta
nómada y cambiante vivencia de la lengua sirve para ampliar los términos de referencia
que marcan el cuerpo femenino.
Con respecto a esto, esta expansión de términos se nota con mayor fuerza en la
constante presencia lesbiana que ingresa en la mirada editorial. Esto organiza una lectura
de la cultura argentina, reconfigura el mapa Norte/Sur y obliga al lector a repensar los
términos de la transmisión cultural. Los derechos sexuales, los intereses legales y la
cotidianeidad compartida entre mujeres surgen como temas del suplemento, presentados
ocasionalmente entre escenas de escándalos mediáticos, pero que siempre ofrecen la
posibilidad de reflexiones alternativas acerca de la identidad femenina. Esta doble lectura
está siempre presente en el proyecto de Moreno: revela que la elección sexual sirve tanto
como cebo para una lectura escandalosa, como la oportunidad para afirmar la autonomía
CONOCIMIENTO SUPLEMENTARIO 1037
femenina. De este modo el suplemento se desliza hacia un campo sexual minado. Las
editoras recurren a la escritora italiana Dacia Maraini, cuya obra teatral representada en
Buenos Aires relata la atracción que experimenta la Condesa Bathory por seres de su
mismo sexo; la obra sirve como pretexto para investigar las fantasías del público sobre el
sexo lesbiano y el control del estado sobre la vida privada. Casos como éste muestran cómo
una estética contemporánea depende de una erótica del mismo sexo, del mismo modo que
la traducción al español del texto italiano de Maraini traslada el feminismo de una
plataforma a otra, reclamando así nuevos vehículos a través de los cuales efectivizar la
aparición pública de lo queer.
En este punto en nuestra historia intelectual es quizá un lugar común afirmar que lo
queer reestructura nuestras categorías de conocimiento. Pero lo queer en las páginas de
LAS/12 permite también a las escritoras libertad de movimiento; particularmente permite
a las escritoras que colaboran cambiar el modo “antropológico” de abordaje y recurrir a
los aspectos festivos de esta polémica cultural. En un significativo artículo sobre la marcha
de gays y lesbianas de 1999 en Buenos Aires, María Moreno pone el discurso de las
lesbianas en un lugar central como estrategia pública para cambiar el clima político de
Argentina. Según Moreno, además de alertar al mundo sobre la cuestión de los derechos
minoritarios, la marcha es profundamente festiva. De ahí nace su posibilidad de hacer
política de una manera nueva. De hecho, sus aspectos no planeados expanden las
posibilidades de inserción del sujeto en el espacio público. Desde una arqueología de los
encuentros clandestinos y miradas furtivas a través del tiempo, Moreno traza una historia
que tiene una resonancia pública más amplia, semejante al modo en que el relato de los
logros políticos está siempre ligado a un estatuto carnavalesco: “¿acaso la toma del Palacio
del Invierno, la entrada del Che en La Habana, la quema de corpiños de las militantes
feministas que en Francia y EE.UU. exigían la legalización del aborto no fueron también
fiestas?”, bromea con seriedad (“Lolas y besos”, 12 de noviembre, 1999). De lo que se trata
es de ampliar los aspectos moderados de los discursos cerrados, de enfatizar el viaje y el
movimiento, de hacer estallar la costura de lengua erudita y darle voz a los deseos
polimorfos que pertenecen al masivo público lector. Esta multiplicidad combina
conocimiento popular y de élite; más específicamente, nos obliga a pensar las formas en
que los intereses de las mujeres se cruzan con otros sectores, también en la franja social.
Teniendo esto en mente, no debe sorprendernos que LAS/12 celebre el cruce de fronteras
que realizan las mujeres en las procesiones carnavalescas o “murgas”. Diana Bellessi, la
poeta argentina que Moreno cita al final de su artículo, de manera concisa da voz al
proyecto:
Esta es, quizá, la clave de las estrategias que Moreno invoca en LAS/12 y es un punto
central para la demanda de la presencia lesbiana en la reorganización de las ideas en los
medios masivos de comunicación: dar visibilidad a los vínculos que han sido suprimidos,
conservar este enlace en el centro de atención del público, pero sobre todo, proclamar el
1038 FRANCINE MASIELLO
lazo que existe entre las mujeres y las otras culturas marginales. Si el mercado autoriza el
espectáculo, una presencia lesbiana, en el marco teórico de LAS/12, ofrece un espectáculo
en sí mismo, conectando los mundos Norte y Sur, enlazando el discurso masculino y
femenino, alineando las posibilidades de diálogo entre la heterosexualidad y lo queer (la
homosexualidad) en torno a la celebración común y la protesta pública. La presencia
lesbiana en Página/12 obliga a lectores y editores a repensar las teorías de la cultura
heteronormativa, amplía los términos de los escenarios de mercados masivos, pero
también introduce la duda en un proyecto globalizado que es capaz de acallar o absorber
las voces alternativas. Lo queer en estas páginas señala las deficiencias del periodismo en
conjunto; le pide al lector que vuelva a la sección principal del diario y que considere los
temas que no logran ingresar como “noticias”. ¿Por qué será que género y sexualidad
nunca logran la “primera plana” sino que, en vez de eso son relegados a la esfera menor
del escándalo y lo suplementario? Si Página/12 controla el poder del relato, proveyendo
historias para vender, el suplemento para mujeres nos dice de qué modo el género altera
la experiencia de la confabulación.
A este respecto, podría decirse que LAS/12 funciona por contradicción; desnaturaliza
las corrientes normativas de significado que, en nuestros días, pasan sin problemas; altera
aquellas estructuras de análisis establecidas por los medios y el mercado. Y, de hecho, si
existe una “teoría” del feminismo que pueda derivarse de este tipo de escenarios, ésta se
encuentra en el ataque que LAS/12 lanza sobre las costumbres embotadas por la silenciosa
sumisión de los consumidores. En este sentido, la venta de “autenticidad” o la representación
de belleza “naturalizada” es examinada por la mirada editorial. Una vez más, las
colaboradoras del suplemento para mujeres cubren temas que van desde la elección de una
tintura para el cabello hasta la puesta en escena de imitaciones femeninas realizadas por
travestis en los bares; pero los reclamos de autenticidad natural que Moreno y su equipo
desentrañan también revela las limitaciones de una teoría que busca situar un tema de
investigación y, finalmente, darle un nombre. Frente a esto, la máscara gana el interés de
las escritoras; lo performativo queda a salvo ya que las escritoras ridiculizan todos los
reclamos de un ser auténticamente femenino que haya sido traficado a través de la prensa
dominante.
Reflexionando sobre el primer año de publicación, Sandra Russo señala:
Después fueron llegando, cada semana, otros temas en los que siempre e indefectiblemente
la clave estuvo no sólo en diferenciar los intereses femeninos de los masculinos, sino
además en abrir debate entre las mujeres, dando por sentado que esa entelequia que
algunos llaman “la mujer” no existe. (30 de abril de 1999)
En los grupos de mujeres consultados por las empresas Entrepreneur antes de la salida
a la calle de LAS/12 fue evidente que las consultas no reconocían en ninguno de los
suplementos femeninos de los diarios nacionales rasgos de identificación o pertenencia
como lectoras. “Lo miro pero no lo leo”, “No trae nada que importe” o “Lo conozco pero
no me acuerdo cómo es”, eran las respuestas típicas. En este año de vida, LAS/12 generó,
CONOCIMIENTO SUPLEMENTARIO 1039
a juzgar por el rebote que cada semana llega a la redacción a través de e-mails, cartas,
llamados y comentarios, una complicidad que nos enorgullece, tanto de parte de mujeres
como de varones. Que a quienes hacemos este suplemento nos encante hacerlo debe
constituir, simple y cristalina, una clave de ésas que el marketing todavía no logró
reemplazar ni sustituir. La sintonía entre lectoras/es y periodistas sigue siendo una
alquimia bendita.
Es extraño que una comunidad pueda ser alcanzada y construida a través de los textos
de los medios masivos, pero después de todo, quizá podamos preguntar, ¿cuál es el
proyecto de la escritura política? Aquí, la cuestión de la subalternidad y de la alianza hace
su camino fuera del campo académico, ampliando los antiguos parámetros del concepto
de la amistad entre mujeres. Esto se observa en la celebración que LAS/12 hace de “Thelma
y Louise”, en el valor que las editoras le otorgan a ciertos libros que relacionan a unas
lectoras con otras; esto se demuestra en los análisis de las películas de Alfred Hitchcock
u observando el papel de las mujeres en las óperas de Mozart; se ve también en la defensa
de la militancia común o en la manera en que las mujeres se unen para desafiar la ley. Pero
la amistad entre mujeres es también el lugar para otro tipo de posibilidad erótica:
¿Qué significa hoy la amistad entre mujeres? ¿Qué pueden tener en común las amigas que
se encuentran a falta de algo mejor sin caer en la cuenta de que sus risas en común duran
más de veinte minutos con las militantes apasionadas que quieren hacer una de dos? No
se trata de “uniones homosexuales con instintos coartados en su fin”, como definía Freud
al vínculo civilizador entre varones y que dio madera a la Iglesia y al Ejército. No es la
pregunta por la propia femineidad la que lleva a las mujeres a las otras, tampoco la
homosexualidad. Es aún un sentimiento sin nombre, de ahí el escándalo que suscita. No
tiene aún historia como el de Fierro y Cruz, o el de Moreira y Julián. Es imposible
blanquear de erotismo por el mero hecho de que no hace jugar la genitalidad, ni de reducir
a un lesbianismo tasado por un heterosexualismo exhausto. A veces se parece a un amor
que da vida una y otra vez sin que haya nadie colmado ni nadie exangüe, que podría
asimilarse a una palabra también nueva: mismidad. Pero vale la pena recordar la frase de
Santa Teresa de Jesús: “Importa tanto este amor de unas con otras, que nunca querría que
se os olvidase”. (11 de junio de 1999)
Moreno exhibe los modos en que la ética masculina fija las categorías de la identidad
del consumidor y los patrones del intercambio de productos, a la vez que demuestra, a
pesar de sus reclamos liberales, la lógica autoritaria de las primeras décadas, que restringe
el grado de alianza y pasión posibles dentro de cualquier orden social. En otras palabras,
muestra cómo el poder de los medios masivos sirve a fines conservadores. La perspectiva
feminista ingresa, por contraste, a través de gestos triviales de filtración, a través de
conexiones establecidas en el movimiento Norte/Sur que sabotea los mercados establecidos,
a través de conexiones sociales peligrosas entre mujeres y grupos marginales.
Para concluir, permítanme volver al problema de la traducción. Es obvio que las
interrelaciones entre Norte/Sur, masculino y femenino, heterosexual y gay, suponen
diferentes valores a través de los registros de traducción. En el tránsito de imágenes y
textos, los problemas de traducción nos llevan a considerar los hábitos del coleccionista
benjaminiano que reúne detalles dispares para un público siempre ávido. Capitalizando las
1040 FRANCINE MASIELLO
demandas de los lectores que desean un abordaje bricolage de las ofertas globales de la
cultura, el periodista, como un coleccionista, reordena los bienes descartables, traduciendo
las imágenes a la lengua de los consumidores locales. Al tomar a las mujeres como objeto
de estudio, LAS/12 muestra cómo éstas son permeables a proyectos de consumo en todo
el mundo. También, LAS/12 hace emerger la voz de las mujeres en un lugar que en otra
parte de los medios ha sido silenciada. El trabajo de Moreno sobre las consecuencias del
11 de septiembre es ilustrativo. Su primer artículo después de esa fecha recuerda que el
horror del ataque terrorista coincidió con la fecha planeada para discutir en la legislatura
porteña la posible legalización de las uniones de gays y lesbianas en Argentina; un tema
que fue aplazado a causa de los acontecimientos ocurridos en los Estados Unidos. En los
números subsiguientes, Moreno continúa registrando cómo la solemnidad y el terror de los
días que siguieron al ataque quedaron anotados por los testimonios de mujeres. Las
respuestas de las mujeres en Nueva York consignan la importancia de los sentimientos
inmediatos sobre el 11 de septiembre; la defensa de Bárbara Lee lleva a reflexionar sobre
la posibilidad del disenso democrático; la pregunta acerca de los rostros velados por el
dominio fundamentalista delata la situación ambigua de las mujeres como portavoces del
cambio del orden mundial; las voces de los niños que hablan sobre el terror desmonta la
teoría masculina. Todo esto forma parte del gesto de apertura de un espacio público para
aquellas voces a menudo silenciadas.
Este continuo reconocimiento de otras voces y de estrategias alternativas de lectura
sobre los hechos y fenómenos culturales de nuestro tiempo, se encuentra en el corazón de
las lecturas ofrecidas en las páginas de LAS/12. El suplemento también plantea una serie
de problemas para futuros debates. En primer lugar, expone la tensión que existe entre la
prosa expositiva perteneciente al periodismo masivo que adscribe a los grandes
acontecimientos y la crítica de la sociedad basada en el género que cobra fuerza a través
de una lectura del detalle “menor”. A partir de esta doble lectura siempre presente en
Página12 y el suplemento para la mujer, LAS/12 desestabiliza todo aquello que avale un
singular tema canónico y perturba el poder de las imágenes de consumo que asignan a las
mujeres un papel social fijo. Esta experiencia sugiere un desplazamiento que una de las
colaboradoras de LAS/12 ha denominado “el arte de tentar y negar” (8 de octubre de 1999),
un rumbo zigzagueante entre oferta y demanda, entre la propia capacidad crítica y la
ceguera respecto de los efectos del mercado. En el proceso, LAS/12 crea un espacio para
su propia y peculiar versión de su lectora ideal, ésa que es conciente de las múltiples
identidades sexuales de que dispone el público femenino, ésa que conoce las contradicciones
del deseo gobernado por el mercado mundial. Así, mientras Página/12 se ocupa de
desmontar “el ser nacional”, el suplemento para mujeres da un paso más adelante al revelar
el falso vínculo atribuido a las identidades marcadas genéricamente, cuya base se asienta
en los funcionamientos del orden global y, finalmente, expone las imperfectas líneas que
surcan la uniforme superficie del mapa Norte/Sur. En segundo lugar, el periodismo
feminista del tipo que se produce en LAS/12 desordena las categorías teóricas. Cuestiona
el lugar de su propia invención y trata con descaro al régimen de mercado que defiende el
diario en general. Confunde las lecturas de lo público y lo privado y trastorna los recorridos
del discurso. Crea un lector que se erige entre la lógica institucional de la primera plana
y un diseño de lo secundario que se ubica en el margen. En este proceso, LAS/12 propone
CONOCIMIENTO SUPLEMENTARIO 1041
una conexión entre la cultura oficial y la popular que nos obliga a prestar atención a los
flujos e intersecciones del significado que puedan constituir sujetos genéricamente
marcados. Sobre todo, el suplemento produce caminos alternativos de discontinuidad y
convergencia; desbarata la ilusión de dominio propiciada por nuestra sensación de
plenitud intelectual. Finalmente, nos recuerda la necesidad permanente de revisar la idea
misma de suplementariedad, tanto en el cuerpo disponible para la escritura pública, como
en aquel cuerpo privado que exprese la máxima amplitud posible de su deseo.
BIBLIOGRAFÍA
Beauvoir, Simone de. El segundo sexo. Buenos Aires: Sudamericana, edición del 50
aniversario, 1999.
González Gaviola, Horacio y Marcelo Constantini. La realidad satírica: doce hipótesis
sobre Página 12. Buenos Aires: Paradiso, 1992.
Moreno, María. El Petiso Orejudo. Buenos Aires: Planeta, 1994.
_____ El affair Skeffington. Rosario: Bajo la luna, 1992.
Sosnowski, Saúl y Jorge Aguilar Mora (Comp.). La cultura de un siglo: América Latina
en sus revistas. Buenos Aires: Alianza Editorial, 1999.
Revista Iberoamericana, Vol. LXX, Núms. 208-209, Julio-Diciembre 2004, 1045-1053
MARÍA INÉS SAAVEDRA y PATRICIA M. ARTUNDO. Leer las artes. Las artes plásticas en ocho
revistas culturales argentinas. 1878-1951. Buenos Aires: Instituto de Teoría e
Historia de las Artes “Julio E. Payró”, Facultad de Filosofía y Letras, Universidad de
Buenos Aires, 2002.
El estudio de las revistas culturales desde el campo de las artes, o de las revistas de
arte insertadas en una esfera más amplia sin perder de vista su especificidad, se sitúa y sitúa
también a los lectores, en un espacio fronterizo entre la palabra y la imagen, la letra y la
plástica. Al mismo tiempo construye un espacio de encuentro pues allí se reúnen lo legible
y lo visible, las diversas temporalidades de las distintas revistas estudiadas, sus diferentes
tendencias y los múltiples abordajes que ellas mismas permiten.
Al abordar todas estas cuestiones, Leer las artes. Las artes plásticas en ocho revistas
culturales argentinas. 1878-1951, dirigido por Ma. Inés Saavedra y Patricia M. Artundo,
construye una estructura abarcadora: un libro sobre revistas en el cual se convoca al objeto
en su materialidad, y su discurso recupera con palabras imágenes que integran a las revistas
y también evoca las que por motivos diversos no se pudieron insertar en las publicaciones,
sólo nombradas. Si las revistas estudiadas traen a los lectores las imágenes de las artes
visuales –con trazos o palabras–, el libro trae a sus lectores las imágenes de las revistas.
En 8 textos de distintas autoras, además de dos textos introductorios de sus directoras,
tenemos un panorama de las revistas argentinas relacionadas con el campo de las artes de
1878 a 1951, presentadas en orden cronológico. Se trata de: El Arte en el Plata, Artes y
Letras, Pallas, Crónica de Arte, Contra, Boletín del Museo Nacional de Bellas Artes,
Orión y nueva visión. revista de cultura visual.
Hay que señalar que este trabajo se inserta en un proyecto más amplio “Las artes
plásticas en la prensa escrita argentina: 1850-1940” que cuenta con un subsidio de la
Universidad de Buenos Aires (UBACyT). Las 8 revistas de las cuales se ocupan en ese
libro se seleccionaron teniendo en cuenta, en primer término, su relevancia y luego su
relación directa con el área de trabajo de las investigadoras que integran el proyecto
mencionado, de acuerdo a las palabras de Artundo en su texto introductorio.
En una primera aproximación, se puede decir que el libro se asemeja a una revista:
diversos autores, varias miradas, muchos puntos de vista y algunas imágenes en blanco y
1046 RESEÑAS
negro. Pero el análisis detenido y la lectura nos muestran más bien que es un libro que no
aspira a mimetizar su objeto.
Mirando desde afuera, se ve que la obra cuenta con dos soportes: el papel y el CD-
ROM, el libro y la computadora. El libro reúne ensayos sobre cada una de las revistas y
el CD trae una base de datos, que incluye: fecha, periodicidad, cantidad de números
publicados, número de páginas, indicación de la inserción o no de imágenes, índice de
autores, índice de títulos, una breve síntesis del contenido de cada uno de los asientos, la
reproducción de los textos programáticos que acompañaron el lanzamiento de las revistas
y la localización actual de las colecciones completas de cada una de ellas.
De los títulos contemplados señalamos El Arte en el Plata (1878), órgano de la
Sociedad Estímulo de Bellas Artes, primera revista de arte publicada en la Argentina, al
que se dedica María Isabel Baldasarre, “proyecto fugaz” que contó con un solo número –
y nueva visión. revista de cultura visual (1951-57) cuya propuesta integradora analiza en
detalles María Amalia García. Extremos del libro, primer y último capítulo, polos
opuestos, la más antigua y la más reciente de las analizadas, respectivamente, la de más
corta y más larga existencia.
También institucionales son Crónica de Arte (1931), publicación del Museo Provincial
de Bellas Artes de La Plata, y Boletín del Museo – Museo Nacional de Bellas Artes – (1934-
5 y 42). La primera, dirigida por Emilio Pettoruti, contó entre sus colaboradores con
importantes artistas e intelectuales de izquierda, como Atalaya, María Rosa Oliver y León
Klimovsky. A ella nos acercamos de las manos y miradas de Patricia M. Artundo. De la
segunda, es Paula Casajús quien nos cuenta la historia.
No tan integradoras como nueva visión pero interdisciplinarias, El Arte en el Plata,
Pallas (1912-13) y Orión (1941) contemplan literatura y artes plásticas. A su vez Artes y
Letras (1892-93) y Contra. La revista de los francotiradores (1933) tienen como marca
principal el compromiso: una de filiación católica y la otra el compromiso político en cuyas
páginas quedó registrada la estancia de Siqueiros en la Argentina.1
Esta publicación deja al lector con deseos de hojear las revistas y al mismo tiempo
constituye un consuelo pues al traer informaciones tan completas en el CD, además de los
análisis, es como si las revistas vinieran a los lectores que no pueden acceder a los archivos
en donde ellas están materializadas.
1
De Pallas, se ocupa Cecilia Lebrero; de Orión, Valeria Semilla; de Artes y Letras, María Isabel
Baldasarre, y de Contra, Silvia Dolinko.
RESEÑAS 1047
SAÚL SOSNOWSKI (ed.). La cultura de un siglo. América Latina en sus revistas. Buenos
Aires: Alianza Editorial, 1999.
SAÚL SOSNOWSKI (ed.). La cultura de un siglo. América Latina en sus revistas. Buenos
Aires: Alianza Editorial, 1999.
proximidad que se estrecha con “El lugar de Hispamérica: letras, ciudad y migración”,
texto autobiográfico que inaugura el volumen y que se deja leer como una suerte de
editorial situado entre dos tiempos, ya que presenta brevemente la compilación pero
también expone las causas y razones de su revista, nacida en Buenos Aires y publicada en
los Estados Unidos. Si bien comparte el carácter testimonial con otros artículos que
conforman el volumen –“Casa de las Américas: entre la revolución y la utopía” de
Ambrosio Fornet, “Lucha armada, lucha escrita: Zona franca e Imagen en la Venezuela
de los ’60 de Julio Miranda, etc.–, no cabe duda de que se diferencia claramente de ellos
por el registro casi íntimo en que fue escrito. Y a pesar del tono personal o, tal vez
justamente por su causa, la pequeña presentación y, sobre todo su título, sintetizan buena
parte de la trayectoria y de las condiciones que rigieron la factura de las revistas
latinoamericanas durante el siglo XX, impensables sin la convergencia de ciudad,
literatura y viaje, dado que, como bien señala Belén Castro Morales en uno de los textos
más atractivos de la primera parte (“Favorables París Poema y Caballo verde para la
poesía: vitalismo e impureza en dos revistas de la vanguardia extraterritorial”), “Escribir
la historia de nuestras vanguardias exige trazar los rumbos cruzados de escritores y artistas
que viajan de América a Europa y de Europa a América con su bagaje de ideas nuevas,
formando núcleos de creación e intercambio” (115), una reflexión que podemos hacer
extensiva a otros momentos del devenir intelectual latinoamericano durante el siglo XX.
El volumen que se abre con un artículo de Horacio Salas sobre Martín Fierro y Proa,
las ya “clásicas” publicaciones de la vanguardia argentina, y que se cierra con un límpido
ensayo de Roxana Patiño sobre el vínculo entre la brasileña Clima y el suplemento cultural
del diario O Estado de São Paulo, está dividido en cinco secciones: “Modernidad y
vanguardia”, “Nacionalismo y cosmopolitismo”, “Revolución y crisis”, “Represión y
redemocratización” y “Construcción y límites: textualidades y otros rumbos”.
Resulta siempre complejo elegir una hipótesis de lectura para organizar un volumen
colectivo, cuyo objeto es múltiple, cuyo espesor temporal merodea los cien años y que ha
sido estudiado por muchos especialistas durante la década pasada; es decir, resulta difícil
encontrar un criterio que oriente la lectura al tiempo que no encorsete los textos. En La
cultura de un siglo. América latina en sus revistas el criterio elegido, no del todo ajeno
a la cronología, alía literatura y política y obedece al intento de dar cuenta de la
preocupación central de un período, de “los principales núcleos de los debates culturales”
(Sosnowski). Por su vastedad, este criterio pertinente pero abierto a múltiples y variadas
interpretaciones suele resultar difícil de ser atendido, por lo que si en algunos textos el
lector reconoce el núcleo del debate, en muchos otros éste se diluye.
La compilación está integrada por ponencias sumamente heterogéneas, tanto en su
aspecto formal –número de páginas, presencia o ausencia de referencias bibliográficas,
volumen de las notas de pie de página– como en el recorte operado y en el enfoque
utilizado. Algunos críticos se centran en la lectura de una o dos revistas de las que recortan
un problema específico, –Nicolás Shumway, “Nosotros y el “nosotros” de Nosotros”,
Guillermo Sheridan “El hijo pródigo (1943-1946) o Susana Zanetti, Amaru, una apertura
peruana al conocimiento del presente”, para nombrar tres trabajos de la segunda parte–,
una opción que tal vez sea la más pertinente teniendo en cuenta las dimensiones exigidas
en un congreso. Ya otros, se valen de las revistas como dispositivos para indagar un
1050 RESEÑAS
problema del campo o trazar un panorama del momento histórico político en que
circularon. Es el caso de Pablo Rocca en “Las revistas literarias uruguayas ante la irrupción
de las vanguardias” o de Javier Lasarte Valcárcel en “Proyectos de modernidad en las
revistas literarias venezolanas (1894-1936)”, una propuesta que se vuelve frustrante para
el lector no especializado en el tema, ya que la limitación del espacio obliga a una
condensación excesiva.
¿Cómo las revistas del período concibieron la vanguardia? y ¿qué vínculo postularon
entre vanguardia política y vanguardia artística? son dos preguntas insistentes en los
artículos de la primera sección, formuladas ya en varios de sus títulos, como es el caso de
“Revista de avance: vanguardia artística y vanguardia política” de Celina Manzoni,
“Amauta o vanguardia” de Jorge Aguilar Mora, “Mandrágora mía: del vanguardismo
estético-político al vanguardismo estético” de Bernardo Subercaseaux y “De lo estético a
lo ideológico: Klaxon y Revista de Antropofagia” de Jorge Schwartz. Si en este sentido
las respuestas son múltiples, la lectura conjunta de “Modernidad y vanguardia” pone en
evidencia que las revistas del período fueron, en su mayoría, más modernizantes que
propiamente vanguardistas, una observación que Schwartz hace a propósito de Klaxon
pero que la excede. Pienso que todavía hay un aspecto en esta primera parte digno de
mención, el sólido análisis que lleva a cabo Graciela Montaldo en “La disputa por el
pueblo: revistas de izquierda”, donde trabaja la categoría de cultura popular para pensar
la lucha por los bienes simbólicos en la época. Un texto que puede ser leído en relación
con el de Horacio Salas sobre Proa y Martín Fierro, vale decir como la contracara de esa
zona del campo y, en otro sentido, también en relación con el de Eduardo Romano, “La
irrupción rioplatense del semanario ilustrado y algunos de sus efectos sobre el campo
intelectual”, en el que analiza el impacto de estas publicaciones populares sobre los
regímenes de escritura y lectura literarios.
Uno de los aciertos de la segunda sección del volumen, cuyos trabajos abordan
revistas canónicas y otras menos conocidas, como es el caso de Atlântico y Travel in Brazil
analizadas por Raúl Antelo, es la disposición de tres textos sobre algunas de las revistas
“imprescindibles” a la hora de pensar la historia de la cultura y literatura latinoamericanas.
Me refiero a “Hacia una antología de Sur. Materiales para el debate” de María Teresa
Gramuglio, “La modernidad literaria mexicana y la revista Contemporáneos” de David
Huerta y “Orígenes: ecumenismo, polémica y trascendencia” de Jorge Luis Arcos. El
análisis comparativo entre Sur, Orígenes, Contemporáneos y Amauta es una de las vías
propuestas por Gramuglio como alternativa frente al lugar común que insiste en la
importancia de la revista argentina para la formación de gran número de escritores
hispanoamericanos. La distribución de los textos mencionados, que habla de continuidades
y diferencias entre dichas publicaciones, es un movimiento que invita a ese tipo de lectura,
a ese cambio de rumbo al que creo necesario a esta altura de los estudios sobre el tema.
Varios son los aspectos notables de su trabajo, pero me gustaría señalar particularmente
que la crítica parte del presupuesto de que Sur, por suficientemente conocida, no necesita
de presentaciones y se concentra efectivamente en “someter al debate” los criterios sobre
los que piensa organizar su antología. Un movimiento similar se lee en el elegante texto
de Huerta, quien señala que la idea de que con Contemporáneos México entra a la
modernidad artística y literaria “ha pasado a formar parte del paisaje de la cultura del país
RESEÑAS 1051
género y democracia y trabajar con un corpus de revistas surgidas entre finales de los
ochenta y comienzos de los noventa; el de Roxana Patiño, al reflexionar sobre los
suplementos literarios, a los que concibe como un sistema de textualidades que generan
un sentido inmediato de la literatura de un momento dado y el interesantísimo texto de
Avellaneda, al relatar la trayectoria de las revistas que piensan a América latina desde los
Estados Unidos, una trayectoria de la cual forman parte, tanto el libro reseñado como este
número de la revista Iberoamericana.
ADRIANA KANZEPOLSKY
Revistas em revista, de Ana Luiza Martins, é muitos livros ao mesmo tempo: é obra
de referência fundamental, completa, exaustiva, que cobre sem deixar lacunas todos os
campos da produção de revistas periódicas na cidade de São Paulo, entre 1890 e 1922. É
obra analítica densa que situa em seu contexto todas as publicações que apresenta,
procurando dimensionar seu significado no quadro mais amplo do impresso no Brasil. E
é também grande contribuição ao conhecimento do processo de construção da identidade
paulistana no âmbito de um de seus principais suportes documentais: a imprensa
periódica.
Ao apresentar as revistas paulistanas na Belle Époque em sua multiplicidade e na
variedade de temas e de públicos a que se destinou, o livro acaba produzindo uma
panorâmica da cultura paulista, acompanhando o processo de transformação da São Paulo
provinciana do século XIX na grande metrópole do progresso do século XX. Acreditando
no que dizia a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP), lançada
em 1895 –“a história de São Paulo é a própria história do Brasil”– as revistas paulistanas
investiram na celebração do progresso, na criação de seu próprio mito.
Tematizando suas séries, analisando títulos que espelharam as práticas culturais do
período, inferindo persistências e inovações daquela sociedade, Martins ressalta a
importância de aspectos laterais como o crescimento da indústria do papel; o aumento do
número das gráficas e os progressos técnicos do setor; além de nos dar uma idéia das
condições de trabalho dos operários do ramo e de seus primeiros movimentos
reivindicatórios. Ela também situa o progresso das revistas no contexto da economia
cafeeira e do processo de industrialização de São Paulo.
Cobrindo um amplíssimo espectro que vai das revistas institucionais, como a do
Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e a do Museu Paulista, até as revistas
esportivas, femininas e infantis, o livro esgota o assunto ao registrar até o papel de revistas
que tiveram menor importância naquele contexto como as religiosas, as educativas e as
teatrais. Mas joga luz sobre a importância, em um Estado cuja maior riqueza vinha da terra,
de revistas agrárias como O Fazendeiro e a que tinha o delicioso nome de Chácaras e
Quintais onde Júlia Lopes de Almeida chegou a escrever. Sem dúvida esta é uma marca
1052 RESEÑAS
género y democracia y trabajar con un corpus de revistas surgidas entre finales de los
ochenta y comienzos de los noventa; el de Roxana Patiño, al reflexionar sobre los
suplementos literarios, a los que concibe como un sistema de textualidades que generan
un sentido inmediato de la literatura de un momento dado y el interesantísimo texto de
Avellaneda, al relatar la trayectoria de las revistas que piensan a América latina desde los
Estados Unidos, una trayectoria de la cual forman parte, tanto el libro reseñado como este
número de la revista Iberoamericana.
ADRIANA KANZEPOLSKY
Revistas em revista, de Ana Luiza Martins, é muitos livros ao mesmo tempo: é obra
de referência fundamental, completa, exaustiva, que cobre sem deixar lacunas todos os
campos da produção de revistas periódicas na cidade de São Paulo, entre 1890 e 1922. É
obra analítica densa que situa em seu contexto todas as publicações que apresenta,
procurando dimensionar seu significado no quadro mais amplo do impresso no Brasil. E
é também grande contribuição ao conhecimento do processo de construção da identidade
paulistana no âmbito de um de seus principais suportes documentais: a imprensa
periódica.
Ao apresentar as revistas paulistanas na Belle Époque em sua multiplicidade e na
variedade de temas e de públicos a que se destinou, o livro acaba produzindo uma
panorâmica da cultura paulista, acompanhando o processo de transformação da São Paulo
provinciana do século XIX na grande metrópole do progresso do século XX. Acreditando
no que dizia a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP), lançada
em 1895 –“a história de São Paulo é a própria história do Brasil”– as revistas paulistanas
investiram na celebração do progresso, na criação de seu próprio mito.
Tematizando suas séries, analisando títulos que espelharam as práticas culturais do
período, inferindo persistências e inovações daquela sociedade, Martins ressalta a
importância de aspectos laterais como o crescimento da indústria do papel; o aumento do
número das gráficas e os progressos técnicos do setor; além de nos dar uma idéia das
condições de trabalho dos operários do ramo e de seus primeiros movimentos
reivindicatórios. Ela também situa o progresso das revistas no contexto da economia
cafeeira e do processo de industrialização de São Paulo.
Cobrindo um amplíssimo espectro que vai das revistas institucionais, como a do
Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e a do Museu Paulista, até as revistas
esportivas, femininas e infantis, o livro esgota o assunto ao registrar até o papel de revistas
que tiveram menor importância naquele contexto como as religiosas, as educativas e as
teatrais. Mas joga luz sobre a importância, em um Estado cuja maior riqueza vinha da terra,
de revistas agrárias como O Fazendeiro e a que tinha o delicioso nome de Chácaras e
Quintais onde Júlia Lopes de Almeida chegou a escrever. Sem dúvida esta é uma marca
RESEÑAS 1053
específica, pois em São Paulo as revistas agrárias cumpriam um papel que dificilmente
teriam no Rio de Janeiro.
Nas primeiras páginas do livro, a autora nos proporciona uma história geral das
revistas brasileiras, inclusive as que se publicavam no estrangeiro como a Revue de Brésil
que, entre 1896 e 1897, cumpriu papel esclarecedor produzindo informações sobre o país
então praticamente desconhecido no além-mar. Esta foi seguida depois pela Ilustração
Brasileira, que era impressa em Bordéus, de 1901 a 1902, procurando copiar o aspecto
luxuosíssimo das revistas francesas do gênero. Martins destaca como modelo de revista
feminina deste gênero A Estação, continuação brasileira da publicação francesa La
Saison. Aliás, os capítulos que tratam das revistas femininas e da presença da mulher no
contexto dessa imprensa são os melhores do livro.
Contrastada com a produção do Rio de Janeiro-Capital Federal, não se pode afirmar
que a produção paulistana daquele período tenha representando um papel transformador
ou revolucionário. Mas o que o trabalho de Martins nos revela, para além do que se
propunham essas revistas, é a riqueza, o progresso e a vontade de civilização que estiveram
presentes naquele intenso movimento de transformação que marcou a belle époque
paulistana e que, sem dúvida, possibilitou a eclosão ali do Modernismo e das arrojadas
revistas que o informaram.
ISABEL LUSTOSA