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RESENHAS BOOK REVIEWS


Pagnoncelli de Souza R. Filhos sadios, pais dades neuropsicomotoras, psicológicas e sociais da
felizes. Porto Alegre: L± 2006. 152 p. criança. Dessa forma, o autor possibilita que a
mãe, o pai e a família aprendam a apreciar e a li-
Elisabeth Meyer da Silva dar com as capacidades e limites próprios de cada
Terapeuta Ocupacional, Mestre e doutoranda faixa etária. Assim, a primeira parte do livro apre-
em Psiquiatria pela Universidade Federal do senta um panorama geral da criança quanto aos
Rio Grande do Sul aspectos sociais. O autor expõe como o bebê e,
mais tarde, a criança interage com os outros, tan-
Ronald Pagnoncelli de Souza, um dos pioneiros to no meio familiar como na creche e na escola. A
da medicina de adolescentes no Brasil, foi por segunda parte é composta por vários capítulos que
muitos anos professor do Departamento de Pe- discutem aspectos detalhados de como a criança
diatria e Puericultura da Faculdade de Medicina se desenvolve, com questões próprias das diferen-
- Universidade Federal do Rio Grande do Sul. tes idades. Mais adiante, encontramos capítulos
Valendo-se da sua rica experiência como profes- específicos, em uma discussão atualizada, para
sor e pediatra, escreveu vários livros de orienta- cada uma das áreas que merecem atenção especi-
ção aos pais, como “Nossos filhos, a eterna preo- al: a criança hiperativa, a agressiva, a diabética, a
cupação”, “A educação sexual de nossos filhos”, superdotada, a mal-humorada, a asmática.
“Nossos adolescentes”, “Os filhos no contexto fa- De acordo com o autor, saber o que se pode
miliar e social”, entre outros. Sua mais recente esperar de uma criança nas diferentes fases de seu
obra foi lançada no segundo semestre de 2006 e desenvolvimento é fundamental para entender a
permite ao leitor conhecer, de forma agradável e sua realidade. A obra é rica em exemplos práticos
eminentemente prática, o desenvolvimento da de como lidar com situações específicas de cada
criança de zero a dez anos. etapa do desenvolvimento infantil. O lançamento
“Filhos sadios, pais felizes” reúne num só li- de um livro que não apenas trata dos aspectos do
vro, de fácil manuseio e em linguagem acessível, desenvolvimento infantil, mas que proporciona ao
diversos capítulos que seguem uma ordem lógica leitor leigo boas idéias sobre o que fazer com a
baseada no ciclo do desenvolvimento das capaci- criança na prática diária, é muito bem-vindo.

Postman N. O desaparecimento da infância. social da infância, retomando a linha dos estudos


Tradução: Suzana M. de Alencar Carvalho e sobre os costumes, uma senda traçada por Nor-
José Laurentino de Melo. Rio de Janeiro: bert Elias, Ariès Philippe e outros, e a segunda ex-
Graphia; 2005. 190 p. põe a tese do desaparecimento da infância. No
prefácio à nova edição, o autor reafirma a mesma
Ceci Vilar Noronha tese e se declara impotente em apontar saídas para
Socióloga, Doutora em Saúde Pública, interromper a tendência por ele identificada. Sen-
Universidade Federal da Bahia do reconhecida a veracidade do prognóstico, va-
mos aos seus argumentos. Neste sentido, o termo
O crítico social Neil Postman, professor titular do desaparecimento deve ser colocado entre aspas
Departamento de Comunicação, da Universida- porque expressa que as crianças estão se tornan-
de de Nova York, escreveu vários livros focalizan- do seres adultos precoces ou pseudo-adultos. O
do as relações entre os meios de comunicação e a fio condutor da argumentação recupera as seme-
educação. A obra que vamos comentar foi lança- lhanças e distinções entre crianças e adultos no
da nos Estados Unidos, em 1982, e reeditada em que tange ao vestuário, a linguagem, as atitudes e
1994. No Brasil, a publicação teve o mesmo desti- os desejos, em diferentes contextos históricos.
no, após ser lançada em 1999, foi reimpressa em No esforço de demonstração da sua tese, o
2005. Concluímos que esta obra é um sucesso edi- autor nos dá exemplos da transformação da in-
torial porque nos instiga a pensar nos deslocamen- fância na contemporaneidade, entre os quais, o
tos que a idéia de infância vem passando e, ao início aos 12 anos da carreira de modelo. Ocupa-
mesmo tempo, nos paralelismos que o autor esta- ção ligada indissoluvelmente à venda de merca-
belece entre tecnologia de comunicação, consci- dorias, ao exercer esse papel, a criança torna-se
ência, valores culturais e sentimentos. Composto um símbolo erótico, tal como as mulheres adul-
em duas partes, a primeira trata da construção tas que se dedicam à mesma atividade. No en-
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tanto, esse limite etário pode ser menor, como no por publicação similar na Itália em 1498. Tais
caso da modelo estadunidense JonBenet Ramsey, acontecimentos expressam a instituição da idéia
assassinada, no auge da fama, aos seis anos. Ou- de que as crianças são seres frágeis que necessitam
tro exemplo é o aumento dos crimes cometidos de proteção por parte dos adultos. O autor asse-
por adolescentes menores de 15 anos, cuja puni- gura que a construção social da infância levou
ção se faz com penas idênticas às que são atribuí- aproximadamente duzentos anos para se firmar
das aos adultos. Ainda podemos acrescentar os como um valor socialmente compartilhado.
atos violentos ocorridos com freqüência no am- Entrelaçada com estas mudanças, o autor nos
biente escolar, seja nos países ricos ou pobres do trás uma reflexão sobre os limites temporais da
hemisfério ocidental. Os jogos infantis também infância: como estabelecer os limites de passagem
mudaram substancialmente, tornando-se mais do mundo infantil ao adulto? Para Rousseau, um
semelhantes ao gosto dos adultos. Com a habili- filósofo dedicado ao tema da educação, o desen-
dade de quem articula vários fios dispersos e de volvimento do hábito da leitura, que se consegue
natureza distinta para compor um único tecido, por volta dos sete anos, significa o fim da infân-
o autor enfatiza a queda das barreiras ou dos li- cia e o ingresso na idade adulta. Para a Igreja Ca-
mites entre o mundo dos adultos e das crianças. tólica, o marco dos sete anos vale como a idade
O percurso argumentativo inclui a recupera- da razão, o saber discernir entre o certo e errado,
ção dos sentidos atribuídos à infância nos gran- ou a virtude e o pecado. O Estado brasileiro tam-
des períodos históricos. Deste modo, o lugar da bém utilizou a idade dos sete anos para o ingres-
criança na sociedade da Antiguidade clássica pou- so no sistema educacional público.
co se sabe, mas assinala-se que entre os gregos e Para além da idade, o que mais diferencia a
os romanos se desenvolveu uma concepção de criança do adulto? O conhecimento de certas fa-
educação. Nesta época, surgiram interditos na cetas trágicas da vida como as guerras faz parte da
convivência entre adultos e crianças, ou seja, res- experiência dos adultos, mas não do universo in-
trições do que falar e como proceder na presença fantil. Aí cabe fazer um lembrete sobre a partici-
das crianças, indicando a existência do sentimen- pação dos meninos soldados em guerras civis nos
to de vergonha. Este descortinar de uma atenção países africanos. Seria esta uma distinção válida
diferenciada dos adultos para com os imaturos, apenas para os países ricos e industrializados?
no entanto, se perdeu durante a Idade Média. E, Quanto a isso, o autor reafirma que os signifi-
após as invasões bárbaras, houve também uma cados da infância, longe de expressar apenas uma
retração do hábito da leitura, dos propósitos da fase biológica do desenvolvimento humano, são
educação e mudanças de postura dos adultos em moldados na esfera da cultura. A infância com suas
relação às crianças. distinções face à vida adulta é um produto cultu-
Deste modo, no período medieval, as crian- ral, histórico e passível de transformações radi-
ças eram adultos pequenos; estes só não estavam cais. Nesta linha de argumentação, a base materi-
prontos para a guerra e para manter relações se- al para o surgimento da infância e também para o
xuais. Predominava no ambiente doméstico uma seu declínio está articulada às mudanças nas tec-
intimidade considerada hoje como promíscua nologias de comunicação, uma vez que esses mei-
entre os adultos e entre eles e as crianças. Neste os tecnológicos disponíveis passam a modificar a
ambiente, era praticado sem censura o hábito dos nossa própria estrutura de interesses, a esfera sim-
adultos brincarem com os órgãos genitais das cri- bólica e o contexto no qual pensamos. Ou seja, à
anças. A mudança deste hábito só veio a ocorrer medida que nós consumimos livros, jornais, rá-
na Modernidade por força do avanço do proces- dio e televisão (a Internet não entrou nas referên-
so civilizatório, que compreende o exercício do cias do autor), estamos nos adequando às possi-
autocontrole da pulsão sexual por parte dos adul- bilidades dadas pela comunicação e, simultanea-
tos e atitudes discretas em relação ao sexo na pre- mente, transformando a nossa consciência.
sença dos jovens. No início da Idade Moderna, a tipografia
Ao longo da Idade Média, o autor assinala que auxiliou na expansão do conhecimento e insti-
só a partir do século XVI começaram a ser im- tuiu o hábito individual da leitura e esse fato rom-
pressos livros relativos à criação de filhos e orien- peu com a longa tradição de transmissão oral do
tações dirigidas às mães. E vale lembrar as altas saber. Essa mudança veio a fundar uma outra eta-
taxas de mortalidade infantil do período em que pa no desenvolvimento infantil, significando que
se combinava analfabetismo e falta de um concei- após o domínio da linguagem oral, a criança ti-
to de educação. O primeiro livro pediátrico em nha que desenvolver as habilidades para domi-
língua inglesa foi publicado em 1544, antecedido nar a escrita. Só desta forma ela poderia ter aces-
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Ciência & Saúde Coletiva, 12(5):1397-1402, 2007


so às informações que os adultos dominavam. guagem difícil e tradicional. Os jovens, por vezes,
Neste particular, o autor reconhece que a infân- se sentem “perdendo tempo” ao freqüentar a es-
cia é análoga ao aprendizado da linguagem, con- cola, ainda que ela demande poucas horas diári-
ta com uma base biológica, mas não só. Ou seja, as, no nosso país.
aprender uma língua depende de habilidades para Sobretudo, os mistérios em torno do sexo fo-
partilhar de um universo simbólico. ram sendo desvendados pela televisão e, com as
Como sabemos, a introdução da linguagem informações acessíveis e fora do controle dos pais,
escrita veio a demandar longos anos de educação a “adultificação” das crianças tomou impulso ace-
formal das crianças, implicando isso no compro- lerado. Um fenômeno correlato ao desvendamen-
misso dos seus pais. Para o autor, a nova concep- to precoce do sexo é o aumento das estatísticas
ção de infância também instituiu a família mo- sobre gravidez na adolescência, o que vem ocor-
derna, com preocupações de apoiar seus filhos por rendo na maior parte dos países ocidentais.
longos anos, sustentá-los e educá-los. Aprender os Por fim, o autor conclui que há um duplo
códigos da leitura e da escrita exige tempo e in- movimento em que as crianças tendem a se tor-
vestimentos afetivos e financeiros. Contudo, mu- nar adultos precocemente e os adultos tornarem-
danças ocorreram na família em todo o século XX, se mais frágeis em sua estrutura psicológica e
assinalando-se uma crise da família conjugal que moral, infantilizando-se. Os adultos-crianças po-
passa por dificuldades, inclusive de ordem finan- dem ser vistos em programas reality show, tão
ceira, resultando em mais horas de trabalho dos apreciados em nossa sociedade e copiados de es-
pais e na falta de supervisão sobre a prole. tações de televisão estrangeiras. Do mesmo modo,
Por conseguinte, uma nova perspectiva de o noticiário “sério” da tevê contribui para abalar
relações entre adultos e crianças começou a se na criança a crença na racionalidade dos adultos
delinear com o alargamento dos meios de comu- e faz com que ela coloque em suspeição se conse-
nicação de massa, sobretudo a televisão, cuja lin- guirá, ao crescer, ter controle sobre a sua própria
guagem é pictórica, facilmente compreensível, agressividade.
dispensando qualquer aprendizado específico. E Evidentemente que a velocidade dessas ten-
são os efeitos não previstos das novas formas co- dências não será a mesma em todas as sociedades
municacionais que estão fazendo ruir as barrei- ou grupos sociais, mas estão colocadas como de-
ras entre adultos e crianças. A escola continua safios atuais. Resta-nos indagar: a quem interes-
existindo, mas perde espaço por utilizar uma lin- sa salvar a infância?

Costa MCO, Souza RP, editores. Semiologia e mais do que conceitos básicos, apesar de seu for-
atenção primária à criança e ao adolescente. 2ª mato conciso; e – sobretudo – ensina de modo
edição. Rio de Janeiro: Revinter; 2005. 534 p. abrangente e operacional o que é e por que é tão
importante a interdisciplinaridade.
Danilo Blank Por um lado, perpassa por todos os capítulos
Professor do Departamento de Pediatria e de “Semiologia e atenção primária à criança e ao
Puericultura da Faculdade de Medicina da adolescente” um olhar que é a síntese do que
UFRGS, Editor Associado do Jornal de Eduardo Marcondes definiu como aquelas per-
Pediatria, Sociedade Brasileira de Pediatria. cepções de caráter formativo sem as quais não se
é um verdadeiro pediatra2. (Entenda-se aqui pe-
No prefácio desta segunda edição de uma obra diatria como a área da medicina especializada no
cuja antecessora já extravasara do campo de in- ser humano em fase de desenvolvimento, da con-
teresse exclusivamente médico1, Maria Conceição cepção até o fim da adolescência, conforme pres-
Oliveira Costa e Ronald Pagnoncelli de Souza rei- creve a Sociedade Brasileira de Pediatria3.) De
teram que o seu objetivo principal é apresentar a acordo com a aplicação do modelo das sete per-
estudantes e recém-formados de diferentes cur- cepções no ensino da pediatria, vale muito pou-
sos na grande área da saúde uma coletânea mul- co transmitir simplesmente informações – ainda
tiprofissional dos conteúdos básicos de atenção à mais hoje em dia, que com dois cliques se enfia
saúde da criança e do adolescente. Trata-se de tudo num palmtop. É imprescindível à formação
uma concepção muito modesta, pois o livro é completa do médico de crianças e jovens assimi-
mais do que uma coletânea de artigos; aborda lar as noções de que os seus pacientes têm um

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