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Introdução
Muitas comunidades cristãs vivem com dificuldade porque, em vez de levar adiante a
proclamação do Reino de Deus, gastam seu precioso tempo resolvendo problemas
que as acompanham há anos.
Geralmente, é a dona Maria que se zanga com a dona Ana, só porque a dona Ana não
aceitou que o lanche da Departamental fosse bolo e não rocambole. Ou é o seu
Manoel que queria colocar janela de madeira na Igreja, em vez da janela alumínio,
proposta pelo seu Geraldo.
Situações banais que levam vinte ou trinta anos para ser resolvidas. Enquanto isso, a
missão da Igreja fica de lado. Tudo seria mais fácil se o perdão fosse devidamente
utilizado por todos nós.
1 - ENTENDENDO A PARÁBOLA
Jesus trata aqui com seus discípulos acerca de como lidar como aqueles que pecam
(Mt 18.15-20). Ele deu os parâmetros para que a disciplina fosse aplicada dentro do
contexto da Igreja (v.17).
Nesse contexto, Pedro faz uma pergunta: "Senhor, até quantas vezes meu irmão
pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes?" (Mt 18.21). Aparentemente, o
desejo de Pedro era conquistar um elogio da parte de Jesus.
Afinal, o discípulo foi além do que os rabinos ensinavam. Segundo as tradições, uma
pessoa tinha que perdoar seu próximo até três vezes. Pedro vai além e pergunta se o
perdão deveria ser até sete vezes.
Jesus usa a linguagem matemática de Pedro para apresentar essa verdade. O Senhor
afirmou: "Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete" (Mt 18.22). "Ele
faz isto para mostrar que o espírito genuíno do perdão não conhece fronteiras.
[Perdão] É um estado do coração, e não uma matéria de cálculo. Perguntar isso seria
tão mesquinho quanto perguntar até que ponto devo amar minha esposa, ou esposo,
ou filhos."2
1
William Hendriksen. Comentário do Novo Testamento - Mateus. Vol. 2. São Paulo. Editora
Cultura Cristã. 2001. p. 285.
2
Ibid. p. 285
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Jesus comparou o Reino dos Céus a um rei que resolveu ajustar contas com os seus
servos (Mt 18.23). Durante o acerto de contas, foi trazido à sua presença um servo
que lhe devia a impressionante cifra de dez mil talentos. O talento era o maior valor
monetário da época.
O tamanho da dívida
Um talento era o equivalente a seis mil denários. Um denário era o que um trabalhador
braçal ganhava por dia trabalhado (Mt 20.2). Em denários, a dívida do servo era de
sessenta milhões.
Para termos uma ideia de como era absurda essa dívida, basta dizer que Herodes, o
Grande, recebia anualmente novecentos talentos de impostos de todo o reino3.
Para um trabalhador comum juntar seis mil denários, teria que trabalhar dezesseis
anos, sem gastar absolutamente nada do que ganhou. Imagine então, juntar os
sessenta milhões de denários. Era uma dívida impagável.
Por isso, "ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto
possuía e que a dívida fosse paga" (v.25). Diante daquela ordenança terrível, o servo
clamou por clemência, prometendo pagar toda a sua dívida (v.26). O rei sabia que
aquela dívida não poderia ser paga jamais. Então, movido por compaixão, ele perdoou
toda a dívida daquele servo (v.27). O rei assumiu o prejuízo.
A atitude do servo perdoado para com o seu conservo, não refletiu em nenhum
momento a atitude do rei para com ele. Antes, o agarrou e o sufocava com raiva e
intransigência. Isso porque seu conservo lhe devia apenas cem denários, nada
comparável aos sessenta milhões que devia ao rei.
O servo perdoado não deu ouvidos ao pedido de clemência de seu conservo. Aliás, o
mesmo pedido que ele próprio havia feito ao rei (v.29 cf. v.26). Mas, o lançou no
cárcere sob a condição de ser libertado somente após o pagamento da dívida (v.30).
Tal acontecimento chega ao conhecimento do rei (v.31). Ele manda chamar o servo
que fora perdoado.
Tratando-o com a maior rigidez possível, o rei afirma: "Servo malvado, perdoei-te
aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do
teu conservo, como também eu me compadeci de ti?" (v. 32,33).
3
Simon Kistemaker. As parábolas de Jesus. São Paulo. Editora Cultura Cristã. 1992. p. 87
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O texto informa que o servo foi entregue aos verdugos (v.34). Este termo aparece
somente neste texto. Os verdugos eram oficiais responsáveis por torturar os
criminosos que cometeram atrocidades.
Não era algo comum entregar inadimplentes aos verdugos, e sim, assassinos. Isso
mostra o rigor com o qual aquele homem foi tratado, por ter feito o que fez com seu
conservo, não lhe perdoando a dívida.
Desde a queda, com a exceção de Jesus, nenhum homem ou mulher nascido nesse
mundo deixou de trazer sobre os seus ombros o peso dessa dívida com Deus. O
pecado é uma realidade. O pecado afasta o homem de Deus e de sua glória (Is 59.2).
O pior dessa dívida é que ela é impagável. Ela não pode ser contabilizada em cifrões,
mas é caríssima (SI 49.7,8). Nada que o homem fizer poderá justificá-lo diante de
Deus (Rm 3.20). Como credor Deus decidiu não executar a nossa dívida, mas perdoá-
la em Jesus Cristo (Rm 5.6-8).
Paulo descreve esse ato, quando escreve aos colossenses: "... a vós outros, que
estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos
deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o
escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era
prejudicial, removeu- o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os
principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na
cruz" (Cl 2.13-15).
A ideia de Paulo é que havia uma nota promissória em nosso nome. Mas, Deus
preferiu não executá-la, oferecendo ele próprio o pagamento na pessoa de seu Filho
Amado4.
Assim, "justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso
Senhor Jesus Cristo" (Rm 5.1). Da mesma maneira que o rei perdoou o servo
endividado, Deus também nos perdoa uma dívida impagável.
Ainda que não haja um paralelo na parábola quanto à morte expiatória de Cristo, há o
elemento implícito do assumir as consequências do perdão. O rei da parábola deixou
de receber uma fortuna. Deus entregou seu Unigênito. Isso é graça.
4
Ver o capítulo “Justificação” em : Anthony Hoekema. Salvos pela Graça. São Paulo. Editora
Cultura Cristã. 1997. p. 169-197.
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Para Simon Kistemaker a máxima da parábola "é que todo aquele que recebeu perdão
deve estar pronto a perdoar quem quer que esteja em débito com ele, e deve fazê-lo
de todo o coração".5
Nas palavras de Martyn Lloyd-Jones, "o verdadeiro perdão quebranta ao homem, e ele
se sente impelido a perdoar".
Na oração dominical, Jesus ensinou que o cristão deve buscar o perdão de Deus,
entendendo que deverá da mesma forma perdoar seu ofensor (Mt 6.12). Hendriksen
afirma que a disposição em perdoar "é a condição indispensável para recebermos o
perdão dos pecados".6
Jesus explicou essa condição, dizendo: "... se perdoardes aos homens as suas
ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos
homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas" (Mt
6.14,15).
O perdão é algo que se recebe e que se dá. E a ação graciosa de Deus ao longo da
nossa vida, a fim de nos tornar mais parecidos com o Senhor Jesus. Portanto, ainda
que sejamos ofendidos, devemos estar prontos a perdoar, mesmo que aquele que nos
ofendeu não reconheça seu erro.
Somos orientados a procurar aquele que pecou contra nós, a fim de argui-lo para a
reconciliação (Mt 18.15). Infelizmente, poucos procuram seus ofensores para a
5
Simon Kistemaker. As Parábolas de Jesus. p. 88.
6
Wiliam Hendriksen. Comentário do Novo Testamento. Mateus Vol 1. São Paulo. Editora
Cultura Cristã. 2001. p. 471.
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reconciliação. Alguns quando o fazem, é para provar que o seu ofensor está errado e
lhe deve desculpas. Quase sempre não há reconciliação.
Cristãos devem exercer o perdão, como prática comum em suas vidas e como uma
demonstração da sua redenção em Cristo Jesus. A salvação não é por obras, mas
aquilo que fazemos é importante para o testemunho do que Cristo fez por nós.
CONCLUSÃO
E lamentável haver crentes que se comportam como verdadeiros inimigos. Onde o
comportamento de todos nutre uma cultura de inimizade e falta de perdão, coisas
pequenas se tornam gigantescas. E a possibilidade de se viver o evangelho de Cristo
é quase impensável.
Que o Senhor do perdão encha sua igreja com sua graça, para que a cultura de falta
de perdão dê espaço para um tempo em que o perdão seja ministrado naturalmente
entre os seus filhos.
Aplicação
• Alguém na igreja que têm algo contra você?
• Como você poderá mudar isso?
• Suas atitudes em relação ao perdão têm contribuído para estabelecer uma
cultura de falta de perdão ou uma cultura de graça?
• Você pode fazer a Oração do Senhor, declarando com sinceridade: "perdoa as
minhas dívidas, assim como eu tenho perdoado aos meus devedores?"
CONCLUSÃO
Percebemos em nós mesmos uma atitude bem diferente daquela observada nos
crentes da igreja apostólica. Parece que perdemos nossa visão evangelizadora. O
objetivo de resgatar os perdidos deu lugar à manutenção daqueles que já foram
salvos.
Podemos nos contentar em fazer da igreja um clube social. A preocupação pode estar
direcionada a fornecer aos membros um serviço de qualidade. Eles têm de estar
confortáveis na igreja. Seus filhos têm de ter um ambiente agradável. Cada vez mais,
nos especializamos em atender os "sãos" e somos incapaz de cuidar dos "doentes",
ao contrário do que fez e ensinou Jesus.
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