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Um Coração Escocês

(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Jennifer Haymore
Sinopse

A última vez que Lady Claire Campbell vira seu marido


disse-lhe que o odiava, e não gostaria de colocar os olhos
nele, novamente. Mas agora, ele fora embora para lutar
contra Napoleão e, portanto, pode ser tarde demais para lhe
dizer que sente muito.
Major Sir Robert Campbell não esperava ver sua linda
esposa inglesa, outra vez. Então, quando ela aparece no
campo de batalha, após um conflito sangrento em Waterloo,
ele está certo de ter avistado um anjo.
Após a batalha, ordenam que Rob retorne a Londres a
serviço da Coroa. Claire o segue, desesperada, para encontrar
uma maneira de consertar seu casamento desfeito. Mas,
algumas feridas são mais profundas do que as contusões que
Rob sofreu no campo de batalha. E, algumas, feridas nunca
podem ser curadas.
Para Lawrence
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Capítulo 1

19 de junho de 1815
Campo de Batalha de Waterloo

A luz do sol atravessava as pálpebras de Robert


Campbell. Ele abriu os olhos e lutou para focalizar através do
cascalho. O ar espesso e enevoado cheirava a sangue e
fumaça, pólvora e carne. De morte.
Reinava o silêncio, ao contrário do barulhento quartel
ou da jovial atmosfera do baile da Duquesa de Richmond,
algumas noites atrás. Os únicos sons eram suave farfalhar e
arrastos de pés, como ratos em um porão.
Seu corpo doía, cada polegada gritava de dor com o
menor movimento, suas pernas pareciam como se um cavalo
as tivesse espezinhado, parecia ter amarrado um nó em suas
entranhas, seu peito estava tão apertado que não conseguia
respirar fundo, seus braços pareciam ter sido injetados com
uma tonelada de chumbo e o conteúdo de sua cabeça parecia
muito grande para seu crânio, a pressão quase insuportável.
Algo pesava em suas pernas. Ele se esforçou em seus
cotovelos para ver o que era.

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Um homem, um homem, morto, encontrava-se envolto


em suas coxas. Um francês morto, a julgar pelo azul do
casaco.
A respiração de Rob ficou presa em sua garganta
enquanto encarava o corpo. Pairava de bruços, na terra, o
peito sobre as coxas de Rob. Havia tanto sangue… e uma
rigidez total, que fez o sangue de Rob correr frio.
Ele piscou, olhando em volta. Parecia ser, só de manhã,
cedo. A névoa molhou seu rosto e misturou-se com a fumaça
de pólvora e canhão criando um ar espesso que 0 pressionava
por todos os lados. Ele só podia enxergar alguns metros ao
redor.
Oh Deus…
Um mar de corpos, tanto de homens, como de cavalos, o
rodeava até onde seus olhos podiam ver. Estavam tão
imóveis… tão rígidos, envoltos uns sobre os outros em
ondulantes casacos, vermelho brilhante, e casacos franceses,
azuis… misturados a profunda cor vinho, de sangue seco,
pincelados de lama marrom. Figuras erguidas salpicavam a
cena, pessoas de roupas escuras escolhendo seu caminho
através da destruição, com os ombros encurvados. Um cavalo
levantava aturdido, não muito longe.
Ele ofegou, sentindo sua garganta se fechando. Levou
vários minutos para recuperar o controle e, durante esse
tempo, as memórias voltaram a inundar sua mente.
A Batalha… Espadas balançando, o barulho do canhão,
a rajada de tiros, e o grito que rasgou de sua garganta:
— Noventa segundos, agora é seu tempo! Carregar!
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Os gritos: — Escócia para sempre! — estourando ao


redor dele. Andando para a frente a lama o cuspia como
dardos e sugava os cascos de seu cavalo, como se estivesse
cavalgando por um espesso xarope.
E a luta… Ele lutara sem parar, por sua vida, consciente
de homens caindo ao seu redor, mas incapaz de deter o fluxo
de franceses determinados a matá-los.
A lembrança dos seus homens: avistara um “comedor de
rãs” chegando no Sargento Mackenzie, por trás, e o tinha
cortado antes que Mackenzie soubesse que estava em perigo.
Ele lutara, com seu cavalo, ao lado de Camden McLeod por
um tempo, ambos lutando com o inimigo como um só, até
que foram separados por uma onda da infantaria francesa.
Rob não vira seu amigo desde então. E só Deus sabia como
Stirling, no flanco direito do regimento das Highlands, se
encontrava.
Enquanto recuperava o fôlego, Rob, concentrou-se nas
pessoas que se agarravam no mar de corpos. Saqueadores
certamente, pelo menos alguns deles. Nenhum deles se
aproximou, o suficiente, para reconhecê-los, mas alguns
deles, pareciam aliados, soldados vestidos de casacos
vermelho e várias mulheres, espalhadas por toda parte. Não
havia nenhum homem de casaco azul de pé, para ser visto.
Isso significava que Wellington vencera?
Ele precisava fazer um balanço da situação, assumir o
controle e garantir a segurança de seus homens. Se forçou a
ficar de pé, mas não conseguiu se mover por um longo

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minuto, enquanto sua cabeça girava de tontura e seu peso


vacilava sobre as pernas, que pareciam de borracha.
Finalmente, ganhou poder sobre seu corpo e forçou-se
para a frente, com cuidado, para colocar seus pés sobre as
manchas, raras, de lama e não em algum corpo desavisado,
estendido.
O fedor penetrante assaltou seus sentidos e pareceu
afundar em seus poros, então, mais profundo, em seus ossos.
Olhou desesperadamente para o tartan de Gordon, para
qualquer homem do 92º Regimento de Pé — os Gordon
Highlanders. Seus escoceses.
Ele procurou pelo que parecia ser uma eternidade,
movendo-se apenas alguns metros, enquanto estudava,
cuidadosamente, os corpos para assegurar que nenhum de
seus homens estivesse deitado neste banho de sangue. Então
viu, um kilt verde e azul, com listras amarelas, caiu de
joelhos ao lado da forma imóvel. O rosto do rapaz estava tão
cheio de lama e sangue que encontrava-se irreconhecível.
Ele estava, aparentemente, morto e seu peito aberto. Só
Deus poderia salvar este rapaz agora.
Mesmo assim, Rob precisava saber quem era ele. Cavou
no esporão do soldado e não encontrou nada além de um
pouco de pólvora, algum tabaco e um tostão. Suavemente,
enxugou as bochechas do rapaz, afastando a lama para ter
uma melhor visão da pele e da estrutura óssea.
Pressionou o polegar sobre os lábios rígidos, e quando
afastou a crosta de lama seca, o reconhecimento acertou-o

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como um golpe. Os lábios pertenciam a Archie MacNab, um


carregador de bandeira, de dezesseis anos.
Rob segurou a respiração e fechou os olhos, enviando
uma oração rápida implorando a Deus para cuidar de Archie,
que fora tão amigável e ansioso em agradar.
A batalha de Quatre Bras1, há três dias, deixou os
Gordon Highlanders furiosos depois que uma bala francesa
matou seu coronel, Cameron. Ontem, antes da batalha, Rob
ouvira o rapaz, clamando por vingança.
— Isto é pelo nosso coronel, bastardos “comedores de
rãs”! — gritou Archie.
Quando olhou para o mar de mortos, mais uma vez, sua
mão segurando o braço duro, lamacento de Archie, Rob
nunca se sentira mais solitário.
E então ele a viu. O anjo. Movendo-se entre os mortos,
lentamente, sua expressão sombria, mas sua postura, reta.
Esbelta e pequena, ela usava um vestido e um capote do mais
puro branco, tão brilhante que feria seus olhos ao olhá-la, e
que contrastava entre as cores mais terrosas, de lama, carne
e sangue.
Ela viera, para ele. Para ele e Archie, para levar os
espíritos deles para o céu.
Uma vertigem passou através dele, mas se levantou de
qualquer maneira, querendo cumprimentá-la, para dizer-lhe,

1 A Batalha de Quatre Bras (16 de junho de 1815) pôs frente a frente aos
contingentes anglo-aliados com a ala esquerda do exército francês próximo do
cruzamento de Quatre Bras, na atual Bélgica, poucos dias antes da decisiva Batalha
de Waterloo

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que não iria a nenhum lugar, a menos que Archie pudesse ir


com eles.
Ela o viu. Levantando o queixo e apressando seus
passos, ela pegou suas saias e se aproximou cada vez mais,
suas feições se tornando cada vez mais nítidas.
E então o Major Sir Robert Campbell a reconheceu e
soube, sem dúvida, que havia morrido, porque o rosto era
aquele que, ele, nunca esperaria ver, novamente.
Era o belo rosto, intocável, de sua esposa.

***

Dois meses antes


Londres

Quando o lacaio estendeu a salva de prata, Claire


Campbell agarrou a carta com avidez. Finalmente. Uma carta
de seu marido. Havia meses que não se ouvia falar dele. Para
ser justa, fazia meses desde que ele ouvira falar dela,
também. O silêncio era, igualmente, ensurdecedor em ambos
os sentidos.
— Pode ir, Thomas.
— Minha senhora. — Thomas curvou-se e saiu do
quarto, fechando a porta com um sorriso suave atrás dele.
Ela olhou cautelosamente a folha dobrada, virando-a em
suas mãos. Não era pesada, claramente não eram páginas e
páginas proclamando seu verdadeiro amor. Não tanto quanto

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ela poderia esperar e sonhar em ouvir. Essas declarações não


viriam, dele.
Ela engoliu em seco, quebrou o selo, e desdobrou o
único pedaço de papel.

15 de abril de 1815
Minha querida esposa,
Gostaria de informar que o regimento recebeu ordens
ontem para partir para a enseada de Cork, onde navios para
Ostende nos esperam. Nosso coronel pretende nos transportar
para o primeiro dia de Maio, e em breve iremos nos juntar ao
exército de Wellington, no continente.
Vou enviar-lhe uma carta de lá, se for capaz. Por favor,
envie meus afetuosos cumprimentos a seu pai e irmã.
Na esperança de que te veja em breve, acredite,
Robert Campbell

Claire estudou a carta com força. Ela leu novamente… e


novamente.
Além das informações básicas transmitidas, ela não
fazia ideia do que significava. Era sucinta, direto ao ponto, e
escrita em uma mão que não revelava, nenhum, dos sons
escoceses da voz falante de seu marido, aquela voz que ela
achara tão intrigante e sedutora no início de seu contato.

Minha querida esposa.

Deveria existir algum significado, mais profundo, por


trás da saudação? Talvez não, pois de que outra forma um

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homem poderia dirigir uma carta à sua esposa?


Provavelmente, não significava que ele realmente pensava
nela como sua querida.
Mas e a linha de fechamento? … Espero que eu te veja
em breve, acredite em mim…
Deveria acreditar nele? Será que ele realmente esperava
vê-la em breve? Isso poderia ser verdade?
Mas, novamente, isso foi um término tradicional, para
uma carta. De que outra forma ele poderia ter finalizado?
Deus! Isso iria deixá-la louca. Ela desejou poder afundar
sua mão na mente de Rob, arrancar seus pensamentos e
emoções, e estudá-los sob um vidro interrogativo. Ele
mostrava-se tão fechado, tão firme e inflexível. Tão masculino
e terreno, tão escocês em comparação com sua delicada e
elegante educação inglesa. Seus traços grosseiros e
masculinos a haviam intrigado e cativado, no começo, mas
acabaram por confundi-la. E quebraram seu coração.
Ela afundou de volta em sua cadeira, a carta apertada
em sua mão, inclinando a cabeça para o afresco2, pintado no
teto, de uma batalha romana.
Rob entraria em batalha. Ela sabia, como sabia cada
outra alma britânica com mais de três anos de idade, que
Napoleão se encontrava livre e em fúria por todo o
Continente. O regimento de Rob só poderia ir, ali, para
enfrentá-lo. Haveria uma batalha, enorme, onde muitos
homens morreriam.

2 Afresco (português brasileiro) ou Fresco (português europeu) é o nome dado a uma obra pictórica
feita sobre umaparede, com base de gesso ou argamassa. Assume frequentemente a
forma de mural.

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Rob pode morrer. E ela nunca teria a chance de dizer


que estava arrependida.
Claire fechou os olhos e prendeu as lágrimas por trás
das pálpebras, mas ela não as libertou, nunca fazia.
Ela suportaria, como sempre, sozinha e despojada,
sentindo falta do homem que estava tão longe de seu alcance,
não tinha certeza se veria, a ele, outra vez, mesmo se
sobrevivesse a essa guerra.
Um ruído na porta anunciou a entrada de sua irmã,
mais velha, Grace. Um ano distante na idade, as faces das
irmãs eram de uma forma oval, similar. Ambas tinham
maxilar elevado, narizes retos e lábios cheios. Seus cabelos
possuíam um mesmo tom de loiro, e seus olhos, o mesmo
tom de azul, escuro. Depois de um único olhar, as pessoas
sempre souberam que eram irmãs, e muitas vezes pensavam
que eram gêmeas, quando eram mais novas. Sua única
diferença física, notável, era que, enquanto Grace era alta e
robusta, Claire sempre foi pequena.
Suas personalidades eram, completamente, um
contraste, entretanto, Claire sempre fora espirituosa, e
quando era mais jovem, mais de um adulto a chamara de
desavergonhada, espevitada. Ela aprendeu, desde então,
como lidar com sua natureza, com charme feminino, em
situações sociais.
Grace, por outro lado, era tímida e retraída. Em
situações sociais, era reservada e pensativa, naturalmente
equilibrada de uma maneira tranquila, despretensiosa.

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Sempre fora a voz da razão de Claire, quando sua própria


cabeça exigia que corresse selvagemente.
— Oh, querida. — Grace precisou apenas de um olhar
para o rosto de Claire para saber que algo estava errado. — O
que aconteceu?
Sem uma palavra, Claire entregou a carta. Sentando-se,
na cadeira, ao lado de Claire, Grace a leu com um sulco se
aprofundando entre suas sobrancelhas. Finalmente, ela
olhou para cima.
— Eu sei que você não gosta de ninguém falando mal
dele, Claire, mas meu Deus! Isso está além do pálido.
— Isto é?
— Esta carta é totalmente rude. E não contém
quaisquer garantias. Ele poderia ter mandado isto para o seu
advogado.
— Não menos do que mereço — Claire murmurou.
— Venha agora. Eu o desprezo quando você é tão dura
com você.
— Eu fui dura com ele, você não vê? Eu gritei para ele
por último e meu orgulho me impediu de escrever a ele. E
agora… — ela engoliu em uma respiração trêmula. — Ele está
voltando para a guerra.
Grace colocou sua mão sobre a de Claire.
— Então o perdoa?
Ela perdoara? Estava tão irritada e ferida por tanto
tempo…
— Eu… eu não sei.

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— Ele te deixou quando você mais precisava dele, Claire.


— era um lembrete gentil, mas significativo.
— Eu sei. E… eu realmente, não sei se vou perdoá-lo. Se
posso perdoá-lo. Mas eu sei que quero que ele me perdoe. Eu
não deveria ter dito aquelas coisas. Não importa o que
aconteceu, ele é meu marido, e se algo acontecer com ele… —
as palavras travaram.
Grace apertou sua mão, e as irmãs ficaram em silêncio
por vários minutos. Claire nunca se sentira tão desamparada
em sua vida.

***

Claire passou os dias seguintes lembrando como fora


estar apaixonada por seu marido. Imaginando seus breves e
intermitentes sorrisos, seus olhos azuis enchendo-se de
brilho e sua alegria derramando sobre ela. Recordando
dormir com ele, de como ele a mantivera, junto, durante a
noite e como sua pele era tão quente contra a dela. Eles se
encaixavam perfeitamente, apesar da diferença de tamanho.
Rob era um homem gigante com mais de dois metros de
altura, e Claire nunca tinha medido um fio de cabelo a mais
que um metro e sessenta.
Existira uma faísca, entre eles, que desencadeara um
furioso calor que iniciara em sua noite de núpcias e durara,
quase, um ano. Eles não podiam manter as mãos longes um
do outro. Ela era fascinada por sua masculinidade dura, seu
tamanho e seus músculos. Sentia-se tão feminina quando
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estava com ele, o qual, muitas das vezes, tocava-a com uma
espécie de reverência, olhando-a com olhos suaves, cheios de
espanto que fizeram seu coração derreter.
E não havia nada que se comparasse ao modo como
haviam feito amor. Era igualmente áspero e terno, às vezes
chegava a uma fina linha tênue entre prazer e dor que
revelava-lhe, quase sempre, a chegada do seu auge. Ele era
um amante exigente, mas também um homem atencioso,
sempre se certificando de que ela atingira, o prazer, antes que
ele atingisse o dele.
Ela trancou a carta em sua escrivaninha e percorreu as
rotinas de sua vida diária, em Londres. Seu pai, o conde de
Norsey, estava ocupado, como sempre, com seus deveres no
parlamento. Claire e Grace dirigiam a casa como faziam
desde que sua mãe morrera, quando Grace contava quinze
anos e Claire, quatorze anos. Seu pai receberia vários
convidados nas próximas semanas e, normalmente, o
trabalho de servir, como anfitriã, mantinha a mente de Claire
desligada de tudo, do casamento quebrado, da dor, do marido
em perigo…
Dessa vez não funcionara. Ela ia para seu quarto todas
as noites e destrancava a gaveta, tirava a carta. Lia uma e
outra vez, até que memorizava cada palavra e as bordas do
pergaminho ficaram desgastadas.
Então, ela ficava acordada, olhando para o teto, e pela
manhã, acordava com círculos escuros e pesados sob os
olhos.

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Grace a olhava, desesperadamente, mas no final, não


havia nada que sua irmã pudesse fazer para ajudar.
Mas cada dia que passava, tornava mais claro para
Claire o que ela deveria fazer: a única coisa que ela poderia
fazer, a única coisa que poderia purificar sua alma, seria
rever Rob, antes da batalha. Pedir desculpas e dizer a ele que,
apesar de tudo o que acontecera, ela, ainda, se importava
com ele, não desejava que ele morresse e realmente queria vê-
lo novamente.
Ela sabia que pensar em tudo isso era muito mais fácil
do que dizer em voz alta. A última vez que vira seu marido,
ele a olhara com olhos duros como pedacinhos de gelo azul,
seus lábios haviam sido comprimidos em uma linha lisa e
seus ombros e costas ficaram rígidos. Como poderia ter dito a
alguém, que a olhava com tanta indiferença, que estava
arrependida e queria tentar de novo? Simplesmente fora um
risco muito grande. E acima de tudo, ela fora muito
orgulhosa.
Ela fechou os olhos e imaginou como seria, se ela o
perseguisse ao continente e lhe contasse essas coisas. Ele
ficaria furioso com ela por ter ido lá, pois deixara claro, mais
de uma vez, que queria que ela não tivesse nada a ver, com
sua vida militar ou com os Gordon Highlanders.
Ele olharia para ela, eriçado, com a raiva de sua
presença agravada, sem dúvida, pelo que ela incitara com
suas palavras cáusticas, que dissera a ele, na última vez que
viera a Norsey House.

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Mas não permitiria que nada disso a inibisse. Não, ela


deixaria seu orgulho, contaria tudo e imploraria seu perdão e
que ele vivesse. Ele poderia rejeitá-la e jogá-la no próximo
navio de volta para a Inglaterra.
Ela precisava decidir, se limpar sua alma valia o preço
da rejeição.
Dias passaram, depois semanas, enquanto a mente de
Claire lutava com a necessidade de perdão que precisava do
seu marido, do seu medo de ele afastá-la e do olhar de
absoluta indiferença em seu rosto quando ele colocasse os
olhos nela.
Com junho veio um verão hesitante, as nuvens
recolhendo e despejando chuva, depois limpando, as
temperaturas frígidas, que sangraram em calor. E na manhã
tempestuosa do quinto dia de junho, Claire, finalmente,
tomou uma decisão.
Não havia outra opção. Ela precisava correr o risco. Seu
coração nunca a perdoaria se não o fizesse.
Ela bateu à porta, de Grace. E quando entrou no quarto,
Grace olhou por cima de sua mesa, onde escrevia, uma carta.
— Grace! — disse calmamente — Você virá comigo para
o continente?

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Capítulo 2

19 de junho de 1815
O Campo de Batalha de Waterloo

Ela não hesitaria.


Claire nunca imaginara que seria assim. A ideia, de que
tais coisas fossem possíveis neste mundo, nunca lhe haviam
passado pela cabeça. Seu estômago se agitou, ameaçando
arremessar de volta seu café da manhã. Seus joelhos
tremularam e seus dentes começaram a bater, mas ela
fechou bem apertada sua mandíbula para que parassem.
Esses homens haviam resistido a isso, e estavam no
meio, disso. Suas vidas estavam em risco, não a dela. Tantos
estavam feridos e com dor. Se eles pudessem suportar, então
ela, também, poderia.
Graças aos atrasos de seu pai, que precisara se
acostumar e se acomodar antes de pensar em permitir que
fossem para o continente. Depois de um tempo difícil, ela e
Grace não haviam chegado à Flandres até o dia dezessete de
junho. Ela soube que já houvera uma batalha em Quatre
Bras e como o Coronel Cameron dos Gordon Highlanders fora
morto, a liderança do 92 recaíra sobre o seu marido.
Ele, ainda, estava vivo. Mas a campanha não terminara.

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Ela e Grace dormiram uma noite ansiosa em uma


pousada na cidade portuária de Ostende e na manhã
seguinte contrataram uma carruagem para levá-las a
Bruxelas, na esperança de encontrar Rob e seus escoceses,
lá. Mas, nesse momento, o exército já estava no meio de outra
batalha perto da aldeia de Waterloo. Agitada, Claire pedira a
seu motorista para sair, rumo a Waterloo, antes do
amanhecer, nesta manhã.
Acabavam de chegar ao acampamento, a viagem foi
extremamente lenta devido ao número de soldados, cavalos e
carrinhos na estrada. A manhã estava turva e o ar com uma
grossa névoa. Claire, sua irmã e sua criada, Mary, saíram da
carruagem ao serem abordadas por um oficial inglês que não
sabia, nada, do destino dos Gordon Highlanders. Ocupado,
tratando dos seus próprios feridos e mortos, indicou-as para
uma clareira onde o 92º se reunira.
Claire caminhou em direção aos homens, a maioria dos
quais estavam sentados em pequenos grupos, no chão
lamacento, enlameados e em choque da guerra, aguardando
ordens. Enquanto aproximava-se, todos olhavam-na com os
olhos arregalados como se fosse uma espécie de aparição.
— O major Campbell está aqui? — perguntou ela,
examinando o grupo, tentando não permitir que sua
compostura se desmoronasse ao ver tantas bandagens
ensanguentadas e rostos pálidos. Tentando não permitir que
as lágrimas se rompessem de seus olhos ao perceber que Rob
não se encontrava, entre eles.

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Houve várias respostas negativas e um homem ruivo


franzira a testa e perguntara:
— O que quer com ele?
— Ele é meu marido.
Várias sobrancelhas se arquearam e o coração de Claire
se torceu. Bem então, Rob nunca dissera aos seus escoceses,
muito, sobre ela, se ele tivesse falado, sobre ela, não estariam
tão chocados. Isso doeu mais do que deveria.
Após o choque inicial de ouvir sua identidade, cada um
dos homens levantara e removera seu chapéu, em respeito.
Um homem deu um passo à frente, era mais velho e mais
firme que a maioria dos outros e era muito bonito, com um
rosto angular, cabelos muito escuros e olhos verdes
brilhantes. Ele tirara a jaqueta esfarrapada e curvara-se em
cumprimento.
— Capitão Sir Colin Stirling, milady. — levantara a
cabeça, estudando-a atentamente. Ela pensara que este
homem, talvez, soubesse de sua existência. Ele não a olhara
com a surpresa dos outros homens, mas sim, com
curiosidade.
— Sinto dizer que ainda não o encontramos — dissera o
capitão em voz baixa. — Estivemos procurando no campo,
mas há tantos…
A mão de Claire voou para seu peito.
— Ele está morto? — ela ofegou.
A tensão em torno dos lábios do capitão Stirling revelou
sua preocupação.
— Não podemos ter certeza. Não até que o encontremos.
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— Você vai me levar para o campo de batalha? Posso


ajudar na busca?
Ele hesitou, depois assentiu.
— Sim, milady, se é isso que você deseja. Vamos embora
agora.
Ladeados por soldados para se proteger da multidão,
eles caminharam por uma estrada desnorteada até o local da
batalha, Grace e Claire, lado a lado, seguindo o major,
enquanto sua empregada doméstica seguia atrás. Seu sapato
afundava na lama, a névoa passou em suas bochechas, e o
frio parecia rastejar em seus ossos.
Passaram por uma estreita linha de árvores, e o Capitão
Stirling parou abruptamente. Claire olhou para ele e respirou
fundo.
— Oh Deus! — ela sussurrou.
Um campo pisoteado, cheio de corpos de cavalos e
homens. Mortos em todos os lugares. A fumaça ainda
aumentando dos fogos espalhados. Pessoas soluçando e
chamando, outros parados, como ela estava apenas vendo na
destruição um mar da desolação e de morte.
Mas era impossível aceitar tudo, era tão opressivo que
tornava insuportável.
— Ele estava lá — disse o capitão Stirling, com a voz
cheia de cascalho. Ele gesticulou para a esquerda — Minhas
tropas estavam ali, mas eu não podia vê-lo, a fumaça dos
canhões e mosquetes era tão grossa. Eu não sabia… — as
palavras diminuíram.

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Grace colocou a mão no ombro do capitão e Claire viu


que o homem estava tremendo. O horror, de ontem, não
deixaria esses homens tão cedo.
Claire engoliu por sua garganta seca.
— Você devia voltar, capitão. Vou procurá-lo e aviso-o se
o encontrarmos.
— O Major Campbell nunca me perdoaria se eu deixasse
você sozinha neste lugar. Eu vou ficar.
— Obrigado — Grace disse suavemente.
Ela e Claire concordaram em se separar para que
pudessem cobrir uma distância maior. Claire foi para a
direita, onde o capitão Stirling dissera que Rob iniciara a
batalha e Grace foi mais para a esquerda, na outra
extremidade da linha dos Gordon Highlanders.
E então começou a trilha, sem fim, pela destruição e
miséria. A morte se sentia como uma coisa viva, brilhando no
ar em ondas fedorentas de sangue, carne e fumaça.
Rob não podia estar morto, Claire pensou firmemente
enquanto caminhava através do pesadelo. Ela não queria que
estivesse, ainda não se desculpara e a Providência não
permitiria que ela viajasse para o continente se não fosse
capaz de chegar a tempo para pedir desculpas.
Ela escolheu seu caminho sobre o campo de batalha,
instantaneamente descartando aqueles de casacos azuis e
olhando, mais de perto, aqueles de vermelho. Ela encontrou
dois Gordon Highlanders, um homem que perdera ambos os
braços e que olhava fixamente para o céu com os olhos azuis
nebulosos, e um que estava ferido e gemia, suavemente,
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aparentemente sofreu um golpe terrível em sua perna.


Chamou um dos cirurgiões para atendê-lo e continuou a
procurar seu marido.
Era impossível. Seu estômago estava tão retorcido e
estava ficando tonta. Era demais. Só… demais. Como se
processar tudo o que estava vendo? Era simplesmente
impossível.
Na frente, um homem de cabelos castanhos, de ombros
largos, agachado sobre um joelho, olhando para um de seus
companheiros caídos. A julgar pelo ajuste de sua jaqueta, ele
poderia ser um dos Gordon Highlanders. Mas, ela não podia
dizer se ele usava o tartan Gordon pela forma como ele estava
posicionado atrás do corpo.
Claire deu um passo em sua direção e ele olhou para
cima. Ele a estudou por um momento do outro lado do campo
de batalha, então se levantou inseguro, sua mão se movendo
para tirar um chapéu que não estava lá.
O jeito que ele se mantinha… Deus, poderia ser Rob?
Claire mastigou seu lábio, tentando jogar para trás sua
esperança. Ela levantou as saias e caminhou em direção a
ele.
Não seja uma tola assustada, não irrompa em lágrimas,
não é, em hipótese alguma, permitido. Você deve parecer
calma e composta.
Ela, cuidadosamente, pisou sobre os escombros e
quando se aproximou, o vento revirou seu cabelo e sua
mandíbula quadrada entrou em foco. E ela sabia, sem
dúvida, que este era seu marido.
LRTHistóricos 25
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Rob, — ela sussurrou. Por mais que ela tentasse


derrotá-la, a emoção que tentara suprimir vinha borbulhando
livremente e ela deu uma pequena risada selvagem.
Graças ao Senhor, ele estava vivo. Seu marido estava
vivo!
A alegria explodiu através dela de uma forma que nunca
conhecera. E pela primeira vez ela percebeu a verdadeira
extensão do medo que sentia por sua vida.
Seu rosto comprimido em uma máscara apertada de
cautela, mas ela não se importava. Que ele fique bravo com
ela. Ele estava vivo e isso era tudo que importava.
— Claire? — ele perguntou em seu familiar eco escocês.
Ela perdera tanto.
Ele a olhou desconfiado, então para baixo, para o
homem que estava por seus pés, e finalmente, de volta para
ela.
— O que você está fazendo neste lugar maldito?
— Eu vim por você — disse ela, dando os últimos passos
na direção dele. Cada célula em seu corpo exigia que ela se
jogasse em seus braços, mas algo a segurou de volta. Suas
mãos haviam permanecido fechadas a seus lados, ele estava
tão pálido e a maneira como, ele, a estava olhando… Era
quase como se ele estivesse com medo.
— Você não pode me ter — ele disse bruscamente. —
Não sem o jovem Archie. — ele apoiou os pés em uma postura
defensiva enquanto gesticulava para o garoto deitado a seus
pés.

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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Ela franziu o cenho para o marido, confusa. Ele ainda


deve estar atordoado da batalha.
— Claro — ela murmurou, estendendo a mão. — Venha
comigo, Rob.
Ele deu um passo para trás, olhando para sua mão
como se fosse uma arma letal. E então caiu de joelhos, seus
olhos se reviraram e caiu para frente.
Ele tinha desmaiado.
Claire correu até ele. Deve estar ferido depois de tudo,
ela pensou com um nó no estômago, para ter caído assim.
Tentou virá-lo, então finalmente conseguiu mover sua
cabeça para que ele pudesse tomar ar, sem impedimentos.
Quando sua mão deslizou sobre a parte de trás de seu crânio,
seus dedos deslizaram sobre uma protuberância do tamanho
de seu punho. Ela, rapidamente, afastou a mão da área, para
não perturbá-la e gentilmente virou a cabeça para tirar o peso
da lesão.
Ela embalou suas bochechas em suas palmas e olhou
para ele. Lama e sangue cobriam seu rosto e sua pele sem
barba era áspera em suas mãos. Seus olhos estavam
fechados, apesar da sujeira, ele parecia pacificamente
adormecido, as sobrancelhas castanho avermelhadas e
longas em exuberante arco sobre seus olhos, seu peito
subindo e caindo em intervalos lentos e profundos.
— Me desculpe, — ela sussurrou para ele, porque estava
seguro agora que ele não podia ouvi-la. — Gostaria de nunca
ter lhe dito uma palavra maldosa.

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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Apertou um beijo em sua sobrancelha suja, então


levantou a cabeça. A névoa tinha aclarado um pouco,
revelando Stirling tentando caminhar na borda do campo de
batalha.
— Capitão Stirling! Encontrei-o.
Stirling reuniu alguns homens, uma carruagem
suspensa e uma maca para transportar Rob ao hospital de
campo em Mont-St-Jean. Mas quando chegaram, um
cirurgião lhe disse que não havia espaço para ele lá,
especialmente devido às suas lesões relativamente pequenas.
Mesmo inconsciente, evidentemente, seu marido era
considerado um dos feridos ambulantes.
Afinal, era um alívio. Claire não o queria naquele lugar
fétido de qualquer maneira. Em vez disso, eles o devolveram
ao 92º acampamento e o colocaram em uma tenda.
O que não foi um alívio, foi que, quando chegaram ao
acampamento, ela soube que o regimento recebera ordens
para marchar, naquela tarde. Wellington conduziria seu
exército para Paris.
Certamente não esperavam que seu marido,
inconsciente, marchasse com eles!
Aparentemente, no entanto, eles o fizeram.
Claire tentou freneticamente encontrar um oficial com o
poder de dar licença ao marido para ficar para trás e se
recuperar. Mas o coronel de Rob morrera em Quatre Bras. O
comandante da brigada ficara ferido e o líder da Quinta
Divisão, o general Picton, fora morto. A cadeia de comando
havia se despedaçado e enquanto o exército estava,
LRTHistóricos 28
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

rapidamente, se esforçando para se reorganizar, cuidados


atenciosos e arranjos para os feridos pareciam cair no
esquecimento.
Quando Claire estava prestes a puxar o cabelo em
frustração, o duque de Wellington, em pessoa, entrou no
acampamento. Ele tirou o capitão Stirling de lado e falou,
com ele, por vários momentos, lançando vários olhares,
longos, para Claire. Então ele deu um pequeno arco em sua
direção, virou-se e se afastou.
Stirling demorou um momento, aparentemente para se
compor, então se aproximou de Claire, de olhos arregalados.
— O duque arranjou uma casa para o major na aldeia.
— Sério?
— Sim. Sua Graça disse que o Major Campbell e eu,
assim como alguns outros, não vamos marchar com o
regimento, esta tarde. Devemos ficar em Waterloo e aguardar
mais ordens. Ele parecia completamente confuso.
— Isso é… incomum? — perguntou.
— Sim, é. Eu nunca tinha visto o duque antes, salvo à
distância. Embora ele deva ao Major Campbell sua vida. Você
sabe que seu marido salvou Wellington da morte, certa uma
vez?
Claire se encheu de orgulho como sempre fazia quando
pensava em como Rob, um capitão da época, arriscou sua
própria vida na Batalha de Salamanca para resgatar
Wellington de uma ponte em colapso. Depois da batalha,
concederam-lhe uma baronete, e o promoveram a major…
que foi o ponto principal na aprovaçã0 do seu pai.
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Sim, eu sei.
Stirling franziu a testa.
— Então… o major foi dispensado de suas obrigações
enquanto se recupera… Mas por que eu devo permanecer
também? Não tenho ferimentos. Deveria marchar com o
regimento, porém tenho ordem para ficar. Não faz sentido
nenhum.
— Parece um pouco estranho — Claire concordou que
era um mistério, mas se recusou a questionar um presente.
— Podemos levá-lo para a aldeia imediatamente? Quero que
ele se sinta confortável.
Eles empregaram alguns soldados para colocar Rob na
carruagem, então passaram pelo trânsito e pela lama até a
vila de Waterloo, que estava cheia de brânquias com homens
e soldados feridos em negócios importantes correndo de um
lado a outro. A consciência de Rob ia e vinha, sempre que
acordava, parecia desorientado e confuso.
A casa que Wellington conseguira para eles era muito
melhor do que a maioria das barracas na aldeia, com seis
quartos modernos. Sua proprietária, Madame Lucien, abriu
gentilmente a porta para Rob, Claire, Grace e sua empregada.
Quando passaram pela entrada, dois homens segurando
em cada lado da maca, Rob acordou e tentou levantar-se,
resmungou que não era onde deveria estar e empurrou um
dos soldados que fora encarregado de levá-lo.
— Não, você vai me escutar uma vez, Major — disse
Stirling com bom humor, embora aquele olhar assombrado
ainda não tivesse deixado seus olhos. Ele gesticulou para
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Claire. — Você ficará aqui até que identifique a bela moça que
veio buscá-lo.
Claire não tinha dúvida de que seu marido a
reconhecera. Ele soube quem ela era no momento em que a
viu. A reação que teve a ela é que era confusa. Tinha
esperado raiva, mas a cautela e o medo que rondava seu
marido quando a olhou, era tão estranho para ela, como
olhando para os olhos de um chimpanzé.
O olhar azul de Rob deslizou em sua direção. Ele a
olhou por um segundo, então caiu de volta na maca e deixou
de lutar.
Colocaram-no no quarto e Stirling pôs a mão no ombro
dela.
— Eu vou voltar para os rapazes. Preciso vê-los.
— É claro — disse Claire. — Vá em frente. Eu vou sentar
com ele.
Percebendo que ela estava tão concentrada em Rob que
não tinha visto Grace, em pelo menos, meia hora,
acrescentou:
— Você já viu minha irmã?
Stirling acenou com a cabeça.
— A última vez que vi, ajudava o cirurgião com os
feridos.
Claire suspirou.
— Já vejo. — é com Grace mesmo se tornar útil, não
importa a situação.
— Vais ficar bem, moça?

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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Sim — disse com firmeza. — Vá senhor! Seus homens


precisam de você.
— Haverá dois guardas na porta. Não hesite em pedir-
lhes que me enviem uma mensagem se precisarem de alguma
coisa.
— Obrigado.
Stirling despediu-se e Claire puxou uma cadeira para
perto da cama do marido e observou-o dormir. Ele não havia
se movido desde o momento em que acordou quando o
levaram até a casa, nem mesmo quando preferiram,
desajeitadamente, jogá-lo na cama.
Ela deveria tentar acordá-lo? Não… ela ouvira, em
algum lugar, que a cura era melhor realizada no sono.
Apenas sentaria com ele até que seu corpo lhe dissesse que
era hora de acordar. Mas ela poderia tentar limpá-lo um
pouco.
Desabotoou seu casaco, que estava apertado em seus
ombros largos, porém ele era pesado demais para ela
conseguir removê-lo, completamente. Pelo menos abrir, isso
daria a ele um pouco mais de espaço para respirar.
Havia um jarro de água limpa sobre uma mesa
quadrada no canto e uma gaveta contendo toalhas dobradas,
embaixo. Uma vez que a toalha estava úmida, ela começou a
tarefa cuidadosa de limpar a pele exposta do marido. Havia
tanta lama e sangue, que levou quase uma hora, além que
ficou sem água antes que pudesse até mesmo dizer que
estava, perto de limpo. Durante todo esse tempo ele não se

LRTHistóricos 32
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

moveu, mas sua respiração se tornou pesada, como se


estivesse em um sono profundo.
Terminou suas tarefas, sentou-se e ficou observando-o.
O meio-dia se transformava na tarde e o barulho de
carrinhos, a ascensão e queda de vozes na rua fora da janela
do quarto nunca diminuíam.
Stirling parou para vê-la no final da tarde e, uma hora
mais tarde, chegou uma suada e suja Grace.
Seus olhos críticos, o mesmo azul safira de Claire,
varreu Rob.
— Como ele está?
— Nenhuma mudança.
Grace voltou seu foco para Claire.
— E você?
— Sem mudança — ela repetiu, sem sentir vontade de
mergulhar em seu estado emocional atual. — E você? O que
você tem feito?
Grace cruzou os braços sobre o peito.
— Eles estão sem transporte para os hospitais. Cada
carruagem pode levar oito homens, mas há tantos… —
desviou o olhar, engolindo. — De qualquer forma, no começo
eu estava sentada com alguns dos homens, aqueles que
ainda estavam no campo, tentando dar-lhes um pouco de
conforto enquanto esperavam o transporte. Esta tarde eu
tenho trabalhado no hospital. Não há cirurgiões suficientes
para tantos feridos.
— Você é tão gentil por ajudá-los, Grace.
Grace encolheu os ombros.
LRTHistóricos 33
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— É tudo que eu posso fazer. Queria poder fazer mais,


aliviar sua dor de alguma forma, ou curá-los. Deus, eu
gostaria de poder curá-los.
— Mas tenho certeza que você faz algo que nenhum
cirurgião pode — Claire argumentou suavemente. — Você
alivia seu espírito.
— Eu espero que você esteja certa.
— Sei que tenho razão.
Grace fez um gesto desajeitado em direção à porta.
— Eu deveria voltar.
— Claro! — sua irmã poderia ajudar muito mais lá fora
do que poderia fazer aqui.
Grace hesitou.
— Vamos voltar para Bruxelas?
— Você e Mary deveriam. Vou ficar com Rob até que ele
se recupere.
Grace apertou os lábios.
— Se ele acordar, pode não concordar.
Isso era verdade, mas Claire tinha chegado até aqui, e
não iria embora até que tivesse dito sua parte. Ela estendeu a
mão e apertou a mão de Grace.
— Volte lá fora, Grace. Eles precisam de você.
— Você sabe que eu não vou deixar você sozinha. Mary e
eu vamos ficar aqui.
Claire assentiu, sem se surpreender.
Mais uma vez, Grace olhou para Rob.
— Me envie uma mensagem se houver alguma
mudança.
LRTHistóricos 34
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Eu mandarei.
Grace saiu e Claire se virou para o marido, pegando
uma borda de seu kilt3 e esfregando a lã entre seus dedos.
A tarde arrastava-se para o entardecer e ainda o marido
não acordava. O cirurgião entrou e declarou que Rob tinha
sido golpeado na parte de trás da cabeça e que deveria deixá-
lo dormir, como se tivesse bebido muito uísque e precisasse
de uma noite para se recuperar. Depois que ele saiu, Claire
olhou em sua direção com lábios franzidos. O homem não lhe
contara nada além do que já sabia.
O desejo de acordar Rob e falar com ele era quase
irresistível, mas ela não o fez.
Sentou-se ao seu lado até tarde da noite. Quando Grace
voltou e disse boa noite, antes de se retirar para a pequena
sala que Madame Lucien reservara para ela e Mary,
finalmente, Claire apoiou a cabeça nos braços e adormeceu
ao lado do marido.

3 O kilt é uma saia masculina, pregueado na parte de trás, trespassado na parte da


frente, de comprimento da cintura até aos joelhos e sem o uso da cueca. Na Escócia, é
feito tradicionalmente de tecido de lã e com padrões de tartã, sendo utilizado por
guerreiros e batedores dos clãs, cada clã possuindo o seu próprio tartã. Era o traje
típico de homens e jovens das montanhas escocesas do Século XVI. Desde o Século
XIX, está associado a toda a cultura escocesa e com a herança da cultura céltica.

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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Capítulo 3

A dor em sua cabeça não fora embora. Sentia-a mais


nítida, agora, mais penetrante. Como uma seta, apontada,
cavando através de seu crânio.
Ele forçou suas pálpebras rebeldes a se abrirem. Não
havia muita luz, mas, havia o suficiente para ver bem, o
ambiente. Era um lugar desconhecido, uma sala muito
simples, com uma mesa de um lado e uma pequena
escrivaninha, do outro. Uma lâmpada cintilava sobre a mesa.
A cama em que se deitava era surpreendentemente
confortável, dada a rigidez dos móveis.
Havia um peso em seu braço, e ele olhou para a borda
da cama a fim de investigar. Reflexos de ouro saindo de
tranças loiras enquadravam um rosto bonito que se
encontrava virado, em sua direção.
Claire, completamente, vestida, sentava em uma cadeira
à sua cabeceira e, evidentemente, adormeceu. O que ela
estava fazendo aqui? Ele não poderia estar de volta à
Inglaterra, não é?
Apaziguou o instinto de acordá-la e exigir que lhe
contasse imediatamente o que estava acontecendo. Em vez

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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

disso, voltou seu foco para o teto e sacudiu seu cérebro,


tentando se lembrar.
Acordara no campo de batalha, lembrou-se. Não fora
capaz de encontrar nenhum dos Gordon Highlanders.
Exceto… Archie MacNab… Archie MacNab estava morto. Rob
fechou os olhos, brevemente, enquanto a tristeza o
atravessava.
Quando estivera ajoelhado sobre Archie, levantara os
olhos e… Deus! Claire tinha estado lá. Ele pensou que ela era
um anjo, franziu o cenho. Dissera algo a ela, mas não
conseguia se lembrar: o quê?
Voltou-se à mulher. Droga, mas ela era linda. Mostrava-
se radiante, mesmo sob aquela fraca luz. Quando a vira pela
primeira vez, há quatro anos em um salão de baile, ficara
paralisado. Ela era tão adorável, pequena e delgada, com
cabelos dourados e delicados, aristocráticos.
O coronel Cameron fora um conhecido de seu pai, o
conde de Norsey, e Rob pediu que os apresentassem. O
coronel ficara mais do que feliz em cumprir, o pedido, quando
Rob tomou a mão de Claire na sua e pressionou os lábios na
parte de trás, um prazer erótico havia explodido através dele.
E ele pensou: Meu Deus! Esta mulher pode me matar, da
melhor maneira.
Ele fora alvejado daquele momento em diante. Claire era
tudo o que ele não era: pequena e delicada, refinada e
educada nos caminhos da sociedade, alegre e atrevida, ao
mesmo tempo, transbordava doçura e inocência.

LRTHistóricos 37
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Ele a queria, mas era realista o suficiente para perceber


que realmente tê-la era sonhar alto. A filha de um conde
estava muito acima dele. Seu pai nunca concordaria com
uma união entre sua filha e um humilde escocês.
Mais tarde, soube que Claire fora obstinada em suas
tentativas de persuasão para que seu pai permitisse que ele
pudesse cortejá-la. E quando Claire estabelecia que queria
algo, era uma verdadeira força da natureza.
Estivera perto de convencer o conde, mas seu destino foi
selado quando o destino deu uma reviravolta e Rob salvou a
vida de Wellington na batalha de Salamanca. Depois,
louvaram-no como o Herói das Highlanders, promoveram-no
e concederam-lhe um baronete. E o conde, sempre pensando
em avanço político, começou a ver uma certa vantagem de se
conectar com Rob.
Quando lhe foi concedido o título, Rob se viu jogado em
um mundo estranho, para ele, o mundo da aristocracia
inglesa. Sua vida até aquele ponto tinha pouco a ver com o
mundo inglês e suas expectativas sociais. No meio de toda a
confusão, Claire sempre estivera ali, um vivaz farol de luz que
o atraía invariavelmente. Uma e outra vez.
O dia do seu casamento foi o melhor de sua vida.
Ele olhou para ela, agora, alcançando seu braço para
tocar, com os dedos, seus cabelos sedosos. Mesmo agora,
onde quer que estivessem, depois do horror que Rob vivera
nos últimos dois dias, seu cabelo era a coisa mais suave que
ele já havia tocado.

LRTHistóricos 38
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Gentilmente, ele puxou uma onda brilhante para longe


de seu rosto.
Ela ainda era a moça mais bonita que ele já vira. Os
cílios eram longos e quase translúcidos. Seus lábios se
separaram e, quando ele moveu sua mão para baixo, as
suaves baforadas de sua respiração passaram sobre seus
dedos.
Ele acariciou sua bochecha com o dorso da mão. Sua
pele era morna e suave. Seu corpo estava esquentando, seu
membro duro. Mesmo estando confuso e desorientado, e a
dor em sua cabeça fosse tão aguda que não pudesse ver em
linha reta, ele a queria.
Fechou os olhos contra uma súbita onda de emoção.
Que diabos ela estava fazendo aqui? Viera torturá-lo? Ela o
odiava. Deixara bem claro a última vez que se encontraram.
Sua palma pressionava contra a bochecha, dela. Ela
começou a se mexer. Um momento depois ergueu a cabeça.
Seus olhos se encontraram e a sugestão de um sorriso cruzou
seus lábios.
— Você está acordado?
— Sim — ele disse bruscamente. Sua boca encontrava-
se muito seca. — Onde estamos?
— Em uma casa na vila de Waterloo.
— Por quê?
— Para você se curar — ela disse simplesmente. — Vou
pegar um pouco de água. — Ela ficou de pé, espantando o
sono, depois foi até a mesa e despejou a água, de um jarro,
num copo. — Consegue sentar?
LRTHistóricos 39
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Sim. — esforçou-se para sentar, um feito mais


desafiador do que ele esperava.
A dor lhe feriu o crânio, mas ele não era de mostrar
fraqueza, então cerrou os dentes e ficou estático. E foi tudo o
que pode fazer para não cobrir a cabeça, com as mãos.
Claire voltou e levou o copo aos seus lábios. Tomou um
gole e ela se afastou. Ele a olhou com curiosidade, não era o
tipo de mulher que servia a um homem. Em seu mundo
havia serventes para isso.
— O que está fazendo aqui moça?
Ela afundou na cadeira ao lado dele. — Já lhe falei mais
cedo — disse ela suavemente — vim atrás de você.
Ele franziu o cenho.
— Por quê?
— Porque você é meu marido.
Então, ela sentira a necessidade de vir por algum
sentido extravagante do dever? Ele franziu os lábios.
— Você não deveria estar aqui. É perigoso.
Ela suspirou.
— A batalha acabou.
— Aquela batalha, sim. Mas…
— Não, Rob. A batalha acabou. A guerra acabou.
Napoleão se foi de uma vez por todas.
Rob demorou, um momento, para digerir isso.
— Mesmo que a batalha e a guerra não terminassem —
sussurrou Claire — ainda estaria aqui.
Ele balançou as pernas sobre a borda da cama. —
Preciso cuidar dos meus homens.
LRTHistóricos 40
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Espere — ela disse calmamente. Sua mão aplicou


pressão firme na perna, dele. Por que isso acelerou seu
coração? Deus, fazia muito tempo que não tinha mulher. Não
desde que esteve a sua esposa pela última vez. Mais de um
ano atrás.
— O duque queria que você se recuperasse, aqui, por
um dia ou dois, — ela disse em sua voz inglesa, suave e
aristocrática. — Sua cabeça…
— O duque? — ele interrompeu, inseguro de ter ouvido
direito.
— Sim, o duque de Wellington.
Rob franziu o cenho.
— O duque de Wellington queria que eu descansasse
aqui?
— Sim, está certo. Um de seus ajudantes do campo
pediu a Madame Lucien que lhe desse um quarto, e ela foi,
gentilmente, obrigada.
O homem do duque de Wellington pediu a uma senhora
belga que cedesse a Rob um quarto de sua casa? Claramente,
sua esposa não tinha ideia de como isso era estranho. Apesar
de seu breve encontro na Batalha de Salamanca, Wellington
estava tão longe de seu alcance quanto… bem, como Claire
estava.
— De qualquer maneira — continuou ela, como se tudo
isso fosse inconsequente — sua cabeça ficou ferida na
batalha. Você precisa descansar. Você precisa… estar comigo.
Ele a olhou com dureza. Sua presença aqui ainda
desafiava a compreensão.
LRTHistóricos 41
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— O que você quer, Claire?


Ela parecia assustada, seus grandes olhos azuis
luminosos à luz da manhã e, tão profundos, como o
Atlântico. Ele sempre sentiu como se pudesse mergulhar
diretamente em seus olhos.
— Eu quero que você fique melhor — ela disse
calmamente. — E então eu quero ir para casa.
Se, só queria que ele se curasse para que pudesse deixá-
lo, era, exatamente, o que ele faria, mas ela não precisava
esperar. Ele precisava se levantar e chegar até seus homens.
Seguramente lhes seriam dadas ordens para marchar em
breve, se eles, já, não o tinham feito.
— Estou bem o suficiente — disse ele. — É uma
pequena ferida. Se quiserem ir…
— Não.
Se olharam por um momento. E lhe doeu, pois era tão
linda.
Tudo o que acontecera entre os dois parecia estar, bem
entre eles, um mar de dor e rejeição que estava certo de não
poder atravessar.
Por que ela viera, então? Para causar-lhe tanto mais
dor? Era melhor quando ficavam separados. Muito melhor.
Ele franziu o cenho.
— Onde está seu pai?
— Ele está em casa, em Londres.
— Quem a trouxe aqui, então?
— Eu me trouxe.
Ele franziu o cenho.
LRTHistóricos 42
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— E você não tem acompanhante?


— Claro que sim. Graça e a minha empregada.
Três mulheres sozinhas no continente, quando o mundo
estava tão perturbado? Ele gemeu.
— Meu Deus, mulher, você está louca?
— Talvez. — Ela deu de ombros.
Era Claire: impetuosa e tenaz. Sempre parecia encontrar
uma maneira de conseguir o que queria. Não podia imaginar
seu pai permitindo que ela e Grace viessem ao Continente em
um momento de tumulto, e ainda assim, aqui estava ela.
— Você não me perguntou se poderia vir.
— Você teria dito, não — ela disse, simplesmente.
Claro que ele faria isso.
— Este não é lugar para uma mulher.
— Por acaso, sei que várias mulheres de oficiais
seguiram seus maridos para o continente.
— Essas são apenas mulheres. Não são você.
— O que você quer dizer com isso?
Ele fechou os olhos, tentando controlar todas essas
emoções. Geralmente suas emoções eram mais fáceis de
administrar.
Talvez tivesse algo a ver com sua lesão. Isso faria
sentido, a dor em si era suficiente para fazê-lo querer fechar
os olhos.
O fato era que Claire estava aqui. Não devia estar, mas
estava.
— Onde está Grace? — resmungou.
Ela gesticulou para a porta.
LRTHistóricos 43
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— No quarto ao lado.
— Sozinha?
— Com nossa empregada — disse ela pacientemente.
Broon
Ele rangeu os dentes.
— Vocês sabem que tipo de homens inundaram este
lugar? Você está louca?
— De jeito nenhum — Claire disse suavemente. — Há
dois guardas de seu regimento afixado lá fora. Um deles é o
sargento Fraser. Você o conhece?
Sargento Fraser, no regimento, eles o chamavam de
Brave, braw e brown. Brave devido ao seu heroísmo em salvar
vidas dos homens na Península. Braw, porque as senhoras
desmaiaram com sua aparência elegante. E brown… Bem,
porque ele tinha cabelo e olhos castanhos.
— Sim. Ele é um bom rapaz.
— Entende? Estamos a salvo aqui.
Apenas ligeiramente aliviado, Rob caiu de volta nos
travesseiros. A ação fez seu crânio ser apunhalado pela dor,
novamente.
— Inferno — ele resmungou em sua respiração. Ele não
gostava de Claire entre todos esses homens, rudes. Ela não
pertencia e não estava segura neste lugar. Ele queria que ela
fosse embora e ficasse fechada em seu castelo, onde nada de
ruim poderia alcançá-la.
Não… ele não queria.

LRTHistóricos 44
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Ele não sabia o que queria. Mas Claire está aqui… Era
simplesmente errado. Tão errado que não tinha a menor ideia
do que fazer a respeito.
— Você vai voltar no próximo navio de volta para a
Inglaterra.
— Oh Rob. — ela riu suavemente. — E você também.
Ele franziu o cenho.
— O que você quer dizer com isso?
— O capitão Stirling recebeu ordens do duque de
Wellington há apenas algumas horas. Você vai levar alguns
homens e voltar para Londres.
— Por quê?
— Não tenho certeza. É tudo um mistério, estou com
medo. Mas essas são suas ordens e o capitão Stirling diz que
elas devem ser seguidas.
Havia algo muito errado em toda essa situação. Sua
esposa flutuando de volta para sua vida como uma espécie de
espectro angélico. O duque de Wellington, o comandante,
chefe, de todo o exército britânico, interessando-se pela sua
recuperação e ainda lhe ordenando que regressasse à
Inglaterra.
Era demais para sua cabeça dolorida aguentar.
— Quando?
— Eles concordaram que você deveria estar apto o
suficiente para viajar depois de outro dia de descanso. Então,
amanhã, iremos para Ostend e de lá de volta à Inglaterra. —
Ela apertou sua coxa. — Grace e eu iremos com você. Você
será capaz de se recuperar na casa do meu pai.
LRTHistóricos 45
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Ele acenou com a mão.


— Eu não preciso de recuperação.
Pensou em Londres, na elegante casa da cidade do
Conde de Norsey, com seus ornamentos. Ele estaria longe de
seus homens. Essas ordens… Londres? Por que não
Edimburgo?
— Meus homens — disse ele com voz rouca. Tentou sair
da cama outra vez, mas sua mão, pressionada tão
suavemente em sua coxa, parecia pesar uma tonelada.
— A maioria dos seus homens se foram, Rob. Eles
marcharam com o resto do exército ontem à tarde.
Ele olhou para ela. Seu regimento era como uma parte
dele, um membro. Descobrir que o tinham deixado sem que
ele soubesse… Bom Deus!
— Eles receberam ordens de marcha ontem de manhã,
enquanto você estava inconsciente — ela disse, calmamente,
obviamente tomando nota do pânico que devia demonstrar
em seu rosto. — O médico disse que não seria sensato tentar
acordá-lo, naquele momento. Mas o capitão Stirling
permanece, assim como o capitão McLeod. Você retornará a
Londres, com eles, mais alguns outros.
— E os mortos? — Rob pensou em Archie, imóvel no
campo de batalha. Se perderam Archie, perderam mais.
Eles já haviam perdido, tantos, na batalha de Quatre
Bras. Será que foram completamente dizimados?
Ela moveu sua mão em seu braço e apertou
suavemente.

LRTHistóricos 46
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Não foi tão ruim quanto Quatre Bras, disse-me o


capitão Stirling. Disse-me que o regimento não perdeu mais
de trinta.
Trinta. Deus! Isso foi cerca de trinta e muitos. Ele
fechou os olhos com força. A palma dela acariciava sua coxa
e o conforto parecia fluir de sua mão, sob sua pele.
— Que horas são? — perguntou ele.
— Eu acho que estamos por volta das cinco e meia, da
manhã.
Tinha a cabeça tão grande e pesada. Ele esfregou a
têmpora, tentando pensar além, da tontura e dor.
— Talvez eu deva dormir, então. Por pouco tempo,
quando acordar conversarei com Stirling.
— Você se importaria, se eu me deitasse ao seu lado? —
Claire perguntou calmamente.
Cada músculo em seu corpo ficou apertado. Por que
estava perguntando isso a ele? A última vez que ele fora até
ela… ela dissera que o desprezava e não queria vê-lo
novamente.
Não estava seguro de poder suportar tê-la a seu lado
novamente, resistir a dor dessa atração, a necessidade, o
medo e…
— Não há outra cama? — perguntou ele com dureza.
Ela se encolheu.
Que inferno! Ele era um idiota.
A última coisa que ele poderia querer, desde a primeira
noite em que conheceu Claire, foi causar-lhe dor, mas ele não

LRTHistóricos 47
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

sabia como parar. Sempre que ele a vira, no ano passado,


toda vez que ele abrira a maldita boca, a magoara.
— Não — ela sussurrou. — Não há outra cama. Grace…
— ela hesitou e continuou. — É em apenas um berço que ela
está dormindo, destinado para uma pessoa. E Maria está no
chão.
Isso explicava, então. Estava cansada e não havia outro
lugar onde pudesse dormir. E, a cama onde ele estava,
embora simples, era bem grande. Havia muito espaço para
sua esposa.
Ela era sua esposa. Tinha todo o direito de querer
dormir com ele. Ele tinha todo o direito de querer dormir com
ela. Então por que se sentia tão.... Nem sequer sabia
expressar como se sentia. Tão errado, e tão certo ao mesmo
tempo.
Ele fez um breve aceno de cabeça.
— Sim, então.
Se moveu para o outro lado da cama, deixando um
grande espaço para ela e virou-se, de costas. Ele ouviu o
farfalhar de tecido e tentou não ranger os dentes,
audivelmente, quando pensou em seu vestido e anáguas
escorregando até que ela não usasse nada, só sua camisa.
Seu membro latejava, insistindo que ele exigisse dela a
consumação de seus deveres de esposa, e a dor em sua
cabeça lhe matando.
Mas isso nunca aconteceria. Até, porque, ele era
cavalheiro para isso, ou talvez, tivesse orgulho demais para
ceder as exigências de seu corpo rebelde.
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

O colchão se moveu quando ela escorregou sob as


cobertas, atrás dele. Mesmo não o tocando, ele podia senti-la,
lá, tão perto. Fazia muito tempo que não ficavam juntos na
mesma cama. Não desde o dia em que…
Rob serrou os olhos e apertou os punhos em frente do
corpo. Ele não conseguia pensar nisso. Agora não, nunca. Ele
precisava empurrá-lo para o lado, como sempre fez. A uma
distância segura.
Ficaram deitados por muito tempo, muito quietos. Claire
não estava dormindo. Ele sempre sabia dizer quando ela
estava adormecida pela cadência de sua respiração. Do lado
de fora, o céu ficava cada vez mais leve, e ainda não
dormiam.
E então Claire suspirou, um longo e baixo sopro. E
então, lentamente, ela se aproximou dele. Enquanto ele
ficava, praticamente, imóvel, ela deslizou os braços delicados
em torno de seu corpo grande e volumoso, e se pressionou
contra ele.
Rob caiu no sono. E pouco antes de mergulhar no
esquecimento, ele pensou que isso estava certo. Era assim
que deveria ser entre os dois. Eles deveriam estar juntos.
Eles eram casados. Eram, marido e mulher. Mas mais
do que isso, eles foram feitos para estar, juntos.

LRTHistóricos 49
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Capítulo 4

Quando Claire finalmente acordou, os raios de sol do


verão brilhavam através das cortinas surradas. O ar estava
imóvel, quase dolorosamente quente, e uma mosca zumbia
perto de sua orelha.
Gemendo suavemente, ela se esticou e abriu os olhos.
Não havia ninguém no lado oposto da cama, apenas um
travesseiro, com um recorte onde o marido recostara a
cabeça.
Ele já tinha saído, o que não era surpresa. Certamente,
foi falar com o capitão Stirling e depois ver os outros homens
que o regimento deixara para trás. Durante muitos anos, ele
viveu com os Gordon Highlanders, os treinava, os
comandava. Provavelmente conhecia aqueles soldados melhor
do que a conhecia.
Rob tinha um dever para com seus homens. E nunca
esqueceria isso. Se o tivesse esquecido, seria um homem
diferente e não teria se apaixonado por ele.
Levantou-se e, notando que havia água nova no jarro,
bem como numa bacia na mesa, lavou o rosto e limpou os
dentes antes de abrir a valise, onde guardara os dois vestidos

LRTHistóricos 50
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

extras. Chamou sua empregada e, com a ajuda de Mary,


vestiu uma musselina branca, resistente, com uma modesta
guarnição azul. Mary amarrou o cinto de fita azul, penteou o
cabelo de Claire e o enrolou numa rede usando os grampos
que tirara quando estava sentada à cabeceira de Rob ontem à
noite.
Quando estava pronta, saiu para a sala de estar
principal da casa, passando pelo quarto onde Grace dormira,
na noite anterior, e olhou para o berço bem feito. Mary
dissera que Grace saiu cedo para ajudar com os feridos.
A casa estava quieta, então Claire se deixou levar por
uma manhã ensolarada. Os dois homens postados à porta
chamaram a sua atenção.
— Bom dia — cumprimentou-os, reconhecendo-os desde
a noite passada, e se perguntando se os soldados realmente
dormiram.
— Bom dia, milady — responderam em uníssono.
Claire fez um balanço da estrada principal de
paralelepípedos que atravessava a aldeia de Waterloo. A área
estava repleta de homens, de fato, a barulhenta via de
carrinhos, carruagens e cavalos indo em todas as direções
não havia diminuído durante a noite.
— Vocês tem alguma ideia de onde eu possa encontrar
meu marido? — Perguntou aos soldados.
O sargento Fraser, um escocês muito corajoso, com
cabelos castanhos e olhos castanhos, disse:
— Eu não poderia dizer, milady.

LRTHistóricos 51
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Claire suspirou. Ela tentaria o campo de batalha,


embora Deus soubesse que ela não gostava da ideia de ter
que pisar naquele chão maldito novamente.
Profundamente pensativa, ela estava no meio da rua
antes de perceber que os dois guardas a seguiam. Parou e se
virou, com as mãos nos quadris e as sobrancelhas levantadas
em questão. O sargento Fraser parecia mortificado.
— Ordens do major, senhora. Devemos ficar perto e
garantir a sua segurança.
— Bem, você está preparado para andar? Porque eu vou
para o campo de batalha.
O sargento Fraser acenou com a cabeça, depois apontou
para a estrada.
— Depois de você, milady.
As áreas periféricas de Waterloo estavam bonitas esta
manhã. O ar , finalmente, se esvaziara, enquanto a folhagem,
nas bordas da estrada, fora pisoteada na lama, à distância,
as flores do verão floresceram e as chuvas recentes deram ao
verde uma aparência de jóias brilhantes. Mas quando Claire
se aproximou do campo de batalha e os carros cheios de
mortos começaram a se juntar ao fluxo interminável do
tráfego, seu estômago começou a torcer.
Ela encontrou o capitão Stirling perto de um edifício
comprido e baixo, meio em ruínas por causa do fogo de
canhão. Ele estava conversando com vários homens que
pareciam ser de outros regimentos de Highland. Não ouviu
muito, mas estava claro que eles falavam da retirada final das
tropas restantes da área. Quando a viu, Stirling chamou-a.
LRTHistóricos 52
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Bom dia, milady.


— Bom dia, capitão. Você já viu o meu marido?
— Ahh… bem, o Major Campbell voltou para o campo.
— ele não a encarou nos olhos. — Ele é… er… — e deu de
ombros. — Bem, ele disse que precisava voltar mais uma vez,
antes de partirmos, amanhã.
Ela assentiu, com a garganta apertada.
— Claro.
— E vi Lady Grace mais cedo. Está trabalhando no
hospital de campo, em Mont-St-Jean. Tem sido de grande
ajuda, e… — ele interrompeu de repente, tentando não dizer
nada.
Claire franziu o cenho.
— E o quê?
Stirling estremeceu, depois suspirou.
— Bem, ela parece ter desenvolvido uma afinidade para
com um Highlander, em particular.
— Realmente? — bem, isso era novo. Grace não era
conhecida por prestar muita atenção à população masculina.
Sempre tinha parecido a Claire estar acima dos sentimentos
humanos básicos de atração e desejo.
Claire sempre fora exatamente o oposto, no momento
em que viu o Rob pela primeira vez, quis tocá-lo, por toda
parte. Mesmo sendo tão inocente, seu corpo soube muito bem
o que queria.
Um rubor aqueceu suas bochechas enquanto se
afastava de Stirling.

LRTHistóricos 53
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Ela escolheu seu caminho através dos Highlanders,


parecia que eles sabiam sobre ela agora, pelo menos, e
retiravam seus chapéus educadamente quando ela passava.
Em seu tempo limitado com os escoceses, particularmente, os
escoceses das montanhas, descobrira que suas maneiras,
embora por vezes, ásperas e indomadas, eram mais genuínas
e, portanto, mais impecáveis do que as de qualquer
aristocrata britânico.
O chão na área onde ela encontrara Rob, ontem, já não
estava coberto de corpos, mas a morte era uma presença
escura e penetrante. Era impossível que toda a morte se
apagasse desse lugar.
Ela vagou ao redor, procurando por seu marido.
Algumas pessoas, tanto homens como mulheres, salpicavam
o campo, algumas se moviam, outras pareciam vaguear sem
rumo. Mas enquanto a destruição ainda cobria o campo,
sentiu alívio ao ver que os corpos, de ontem, já não estavam
mais lá. Ela esperava que os feridos fossem bem cuidados e
os mortos recebessem um enterro apropriado.
Pedindo que seus guardas descansassem no fundo,
Claire subiu um morro baixo e íngreme na borda do campo,
na maior parte plano, ramos ásperos enroscando em suas
meias. No topo, ela se virou para olhar para trás. O enorme
campo de batalha estava esparramado diante dela, manchado
e enlameado, toda a vegetação e restos de carros e fogos
esmagados na terra como se cascos de cavalos gigantes
tivessem esmagado a vasta área.

LRTHistóricos 54
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Enquanto rodeava um espesso tronco de árvore, viu


Rob. Ele teve a mesma ideia de vir até aqui.
Encontrava-se sob um galho baixo, olhando para o
campo, tensão irradiando de cada músculo. Não a notou,
imediatamente, e ela aproveitou o momento para estudá-lo.
Parecia tão alto e orgulhoso, tão bonito em sua manta xadrez
Gordon e casaco vermelho. Ele tirou o chapéu e colocou no
chão ao lado dele. A brisa revirou seu cabelo grosso e
avermelhado e a vontade de passar por ele, como tinha feito
tantas vezes antes fizeram seus dedos formigaram. Parecia
que fora há uma vida.
Sua expressão era sombria e pedregosa, seus olhos
gelados e duros enquanto olhava para a cena de desolação.
Ela se perguntou como seria para ele, a batalha. Ele
matara muitos homens?
Fechou os olhos por um momento, endireitou seus
ombros e foi até ele, encurralando-se entre ele e a árvore.
Ele não notara sua presença até ela estar ao seu lado.
Ele olhou para ela, depois voltou o olhar para o campo.
O silêncio reinou por longos momentos. Finalmente, ela
murmurou
— Como está sua cabeça?
— Melhor. — uma palavra, reprimida, como se
aborrecesse ter de responder.
Ela respirou profundamente e calmamente.
— Bom.
Silêncio novamente.
Finalmente, Rob virou a cabeça para olhar para ela.
LRTHistóricos 55
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Por que você está aqui?


— Esta é a terceira vez que me faz essa pergunta.
— Mas você não respondeu.
— Não de um modo que te satisfez.
— Sim.
Ela colocou a mão em seu braço. Seus músculos
ficaram tensos sob sua palma, mas continuou.
— Eu disse que estava aqui por você. Isso é verdade.
Mas também, eu queria estar aqui com você.
— Por quê? — ele fez uma careta. — Não consigo
entender porque você gostaria de estar neste lugar
abandonado por Deus.
Ele estava certo, ela não tinha lhe dera uma resposta
satisfatória. Palavras como “para você” e “eu queria estar
aqui” eram banais e insuficientes. Mesmo enquanto viajava
pelo Canal da Mancha, com um propósito singular, seu
orgulho ainda lutava contra lhe dizer toda a verdade. Seu
orgulho, isso era, e seu medo de rejeição.
Agora que sabia do fim da guerra e ele estava vivo, não
era o suficiente?
Não, não era.
Ela deveria fazer isso. Já esperara o suficiente. Agora,
simplesmente precisava ser corajosa e dizer a ele.
— Vim aqui para me desculpar.
— Pelo quê?
Ela olhou para baixo, enrolando a faixa azul em torno de
seu dedo, de um lado a outro.

LRTHistóricos 56
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Pelo modo como me comportei quando você foi pela


última vez a Norsey House.
Ele estava quieto e ela arriscou um olhar para o lado por
baixo de suas pestanas, para ver se o cenho franzido tinha se
aprofundado mais.
— Você cruzou um oceano e arriscou-se em uma
sangrenta batalha para se desculpar por algumas palavras
ditas com raiva, um ano atrás?
Seus olhos se deslizaram sobre ela enquanto trincava os
dentes.
— Agora será minha vez de me desculpar. Perdoe-me. —
ele incitou as palavras.
— Por… maldição?
— Não. Por te tocar como um maldito camponês a céu
aberto, onde as pessoas podiam nos ver. Por esquecer que
você é uma dama.
— E você um cavalheiro.
Ele bufou.
— Só no papel. Nunca serei de verdade.
— Eu te beijei — ela disse com firmeza. — Eu o
provoquei.
— Eu não deveria ter permitido.
Foi sua vez de moer os dentes.
— Você sempre me tratou como se eu fosse feita de
porcelana. Como se fosse quebrar se você não lembrasse,
constantemente, de como eu sou delicada.
Seus olhos se estreitaram.
— Você é delicada!
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Pare com isso, apenas pare. — ela se voltou para


olhar para o campo de batalha novamente, cruzando os
braços sobre o peito. — Andei por este lugar ontem, vi uma
cena de horror e destruição que nunca pensei possível, estava
até meus tornozelos de sangue e aqui estou eu. Eu passei por
isso para te encontrar. No entanto, você diz que sou feito de
porcelana. — ela bufou. — Eu não desisti, nem enrolei, nem
morri, nem quebrei. Procurei por você, enquanto homens
mortos olhavam para mim, e enquanto pisava em seus
membros rígidos. Não sou fraca, Rob.
Ele a olhou com cautela e estava certo em fazê-lo. Ela
mostrara ser fraca, um ano atrás, quando caíra em um poço
de desespero. Mas isso foi diferente. Isso foi um pedaço de
sua alma arrancada dela, não teve escolha. Qualquer pessoa
seria fraca, naquela situação.
Exceto Rob.
A amargura familiar brotou dentro dela, mas ela lutou
para deixar de lado. Não, não haveria nada disso. Ela estava
deixando tudo para atrás, a culpa e a raiva.
— Eu não sou fraca — ela repetiu em um sussurro
raspado. — Eu estou aqui e eu sou forte.
Ele inclinou a cabeça.
— Sim. Talvez você seja. — ele parecia cansado, ainda
estava ferido e provavelmente estava sofrendo. — Eu não
queria você aqui, Claire. Isso é um negócio feio.
— É exatamente por isso que eu queria estar aqui. Para
compartilhar essa carga com você, como sua esposa.

LRTHistóricos 58
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Você me disse que já não tinha interesse em ser


minha esposa.
— Ser sua esposa nunca foi fácil — ela admitiu, falando
com cuidado. — Mas não é esse o caso com todas as esposas
do exército? Você se foi tão… e eu senti tanto a sua falta… e
então quando… — Ela hesitou. Ela não podia falar sobre isso
com ele. Foi o que causou a desagradável explosão da última
vez. — Eu sempre serei sua esposa — ela terminou
desajeitadamente.
— Por lei.
— E por escolha — murmurou ela.
Seus olhos se encontraram e prendeu-os. Ela se sentiu
exposta, como se seu olhar pudesse mergulhar nela e ver
todos os seus mais profundos desejos e esperanças. Mas ela
não estava pronta para isso, tentou manter alguma
impassibilidade em sua expressão. Era muito cedo para
desnudá-la completamente, sua ligação com ele ainda era
muito frágil, muito incerta.
As coisas nem sequer estavam perto de ser resolvidas
entre eles. Mas, ela se lembrou, eram os pequenos passos. O
beijo… mesmo que ele se arrependesse, era um começo.
O que ele viu, evidentemente, o apaziguou, porque ele
tocou sua mão, apenas um toque pequeno e leve, e disse:
— Bem, então. Estou feliz por estares aqui.

LRTHistóricos 59
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Capítulo 5

Saíram de Waterloo no dia seguinte para Ostend.


Segundo as instruções do duque de Wellington, Rob ia
juntar-se aos amigos Capitães Stirling e McLeod, juntamente,
com dois tenentes, Andrew Innes e Ewan Ross, e dois
sargentos, de sua escolha. Para os sargentos, Rob foi
instruído a escolher homens leais e inteligentes com potencial
de oficiais. Os sete deviam se apresentar ao Escritório de
Guerra quando chegassem a Londres para receber suas
ordens.
Era tudo muito misterioso, dado que os Gordon
Highlanders estavam marchando para Paris e, por enquanto,
deixavam o restante dos homens feridos em Waterloo. E a
associação com o duque de Wellington continuou a confundi-
lo.
Mas Rob não questionou as ordens de seus superiores.
Ele as seguiu, assim como contou com os que estavam abaixo
dele para seguir seu comando. O primeiro-sargento que ele
escolheu foi Duncan Mackenzie. Aos vinte e três anos,
Mackenzie era muito jovem comparado ao resto deles, mas
era um verdadeiro guerreiro Mackenzie. Ficou ferido na

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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

batalha, um sério ferimento no braço, mas ele havia se


mostrado não apenas como um lutador, mas como um líder
leal e inteligente nos quatro anos que Rob o conhecia.
O segundo sargento era George Fraser, aquele conhecido
como Brave, braw e broon. Mas não era só corajoso, bonito e
de cabelos escuros, ele era leal. Stirling escolhera Fraser para
proteger a esposa de Rob e se tivesse sido uma escolha de
Rob, ele teria feito a mesma escolha.
Os, únicos, dois em sua variada tripulação que não
foram feridos eram: Stirling e sargento Fraser. Além da ferida
por facada de Mackenzie, McLeod sofrera um golpe na perna
que exigiu quarenta pontos e andar era um sofrimento para
ele. Os dois tenentes foram alvejados por tiros, um no braço e
outro no quadril.
De Ostend, os sete, junto com Claire, Grace e sua
empregada, subiram a bordo de um navio para Dover,
chegando tarde no dia seguinte, encharcados e cansados.
Rob estava surpreendentemente grato pela presença de
Claire. Ela cuidou incansavelmente dos ferimentos dos
homens, cuidando de seu bem-estar e proporcionara uma
sensação de calma que parecia estranha, a todos, depois dos
acontecimentos do mês passado.
Naqueles longos dois dias, Rob começou a ver sua
esposa sob uma luz diferente. Ele só a conhecia na casa de
seu pai, na cidade de Londres e na casa do conde, Norsey
House, em Kent, onde residiam sempre que ele não estava a
serviço de seu regimento. Estes tempos, nos últimos anos,
não foram, muitas vezes, concedidos.
LRTHistóricos 61
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Mas, na Inglaterra, Claire era filha de um conde e,


portanto, tratada com o maior respeito e deferência.
Raramente tinha a necessidade de fazer algo por si mesma.
Ela lhe disse uma vez que, quando era uma criança e estava
com um resfriado, não tinha permissão para limpar seu
próprio nariz, havia um servo para fazer esse trabalho para
ela. Mas descobriu que isso era muito irritante e
secretamente começou a limpar o nariz, tão frequentemente,
quanto podia, por puro desafio.
Mas nas carruagens que iam para Ostend e no navio,
ela havia provado ser independente e engenhosa. Limpou e
amarrou as feridas, voltou a mente do Tenente Ross, para
assuntos mais leves, quando ele começou a ficar escuro e
distante por causa das memórias das batalhas, confortou
McLeod quando ele foi dominado por um enjoo violento e
ainda ajudou sua empregada a limpar seu vômito.
No navio, quando ela verificava sua ferida na cabeça,
Rob disse:
— Eu não sabia que você tinha habilidades de cura,
moça.
— Não? — Ela perguntou provocando. — Eu nunca te
falei sobre meu treinamento médico?
Rob ergueu as sobrancelhas.
— Não — ele disse lentamente — você não falou.
Ela sorriu.
— Eu costumava me esgueirar pela aldeia vestida como
uma empregada doméstica para assistir os jogos de boxe na
praça. Uma vez, um dos homens caiu, seu rosto sangrando, e
LRTHistóricos 62
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

fiquei tão surpresa, pois ele era o meu favorito, que corri para
seu lado e cheguei até ele antes do médico. O médico me
permitiu ajudá-lo e considerou-me digna o suficiente para
que, a partir daquele, toda vez que eu estivesse presente e um
dos pugilistas precisasse de atenção médica, me foi permitido
ajudar.
— E o que seu pai pensou sobre isso?
— Oh, ele não sabia! Ele teria me estrangulado! — Ela
riu.
Rob balançou a cabeça, perplexo. Ele sabia que ela fora
uma moça desafiadora e aventureira, mas era difícil de
conectar aquelas histórias audaciosas com a mulher
distintamente feminina, pequena e bem-criada que tinha se
tornara.
Apesar das histórias, quase inacreditáveis, de sua
juventude selvagem, Rob não acreditava, realmente, que sua
esposa veio pelo papel da esposa do exército que seguia
tenazmente seu marido no calor da batalha. Claire era muito
delicada e estava certa quando disse que ele pensava que ela
era feita de vidro. Mas, pela primeira vez, ele não estava
apenas ouvindo sobre sua resistência e ousadia, ele estava
testemunhando-as, em ação.
Claire inclinou-se para sussurrar em seu ouvido
— Olhe para Grace.
Ele olhou para a irmã de Claire, que estava com
Mackenzie, como de costume. Suas cabeças estavam juntas e
conversavam animadamente em voz baixa. Desde o momento
em que deixaram Waterloo, Grace concentrou suas atenções
LRTHistóricos 63
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

em Duncan Mackenzie e seu braço ferido. Mackenzie era o


homem que ela passara a maior parte do tempo cuidando,
depois da batalha. Estava tão apaixonada pelo sargento que,
provavelmente, nem percebeu que deixou a maior parte do
trabalho para Claire, esta suportou sem reclamar. Na
verdade, Claire parecia apreciar seu papel na recuperação de
todos eles, oferecendo conforto e companheirismo.
Claire também parecia aprovar a crescente familiaridade
de sua irmã com Mackenzie, embora mesmo Rob achasse que
era um jogo perigoso, que os dois estavam jogando.
Mackenzie era um plebeu e um escocês. O pai de Grace
nunca permitiria que sua família estivesse conectada com
alguém de status tão baixo.
Eles chegaram, tarde, em Londres e foram
transportados diretamente para uma casa em Westminster.
As carruagens, finalmente, pararam e Rob ajudou sua esposa
a sair, então a chamou de lado.
Quando se encontraram, sozinhos, ele se virou para ela,
curvando-se para que pudesse falar suavemente.
— Quero dizer adeus, sem os outros estarem próximos
— disse ele. — E gostaria de agradecer por tudo que você fez
nos últimos dias.
Sua boca se abriu.
— Adeus? Por quê?
— Você e Grace vão voltar para o seu pai agora.
Ela endireitou os ombros.
— Não. Devo ficar com o meu marido. Grace precisa
voltar para o meu pai. — seus lábios se torceram. — Embora
LRTHistóricos 64
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

eu tenho certeza que vá preferir ficar com o sargento


Mackenzie.
Ele suspirou.
— Claire, você não pode ficar aqui.
— Por que não? — desafiou ela.
E… ele não tinha resposta além disso.
— Provavelmente não é uma boa ideia.
Ela riu.
— Acho que já estabelecemos que minhas decisões
ultimamente têm pouco a ver com boas ideias. — ela nivelou
seu olhar para ele. — Eu vou seguir meu coração, Rob. Eu
quero ficar com você. Não me faça ir. Por favor.
A maneira como ela o estava olhando… Deus, quem
poderia recusar aqueles grandes olhos azuis? Suas ações já
provaram que ninguém poderia. E não havia dúvida de que
mandá-la embora, agora, aprofundaria esse buraco entre
eles.
Isso, era algo que ele não queria que acontecesse. Nos
últimos dias, a esperança de que podia curar seu casamento
começou a florescer dentro dele. Alguma coisa estava
acontecendo entre ele e Claire, um renascimento cauteloso,
do que tiveram uma vez.
A maneira como ela o olhou nos últimos dois dias, o
desejo ardendo em seus olhos. E também algo mais profundo
que desejo…
Talvez ela não estivesse inacessível. Talvez o amor por
ele ainda se mexesse dentro dela. Mesmo depois…
Ele interrompeu esse pensamento. Como sempre fez.
LRTHistóricos 65
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Seu aceno de cabeça era brusco.


— Muito bem. Você pode ficar.
— Obrigada. — Ela sorriu e se levantou na ponta dos
pés para beijar sua bochecha, então foi com Grace e a
empregada, e ele, prometendo chamá-las se fossem
necessárias, amanhã. Rob juntou-se a seus homens nos
degraus da entrada da casa da cidade. Ele não tinha certeza
do que encontraria, lá dentro, mas todas as luzes estavam
acesas e quando chegaram na porta, ela pareceu se abrir
magicamente.
Um homem estava parado no limiar, seus olhos frios e
impassíveis olhando-os. Fizeram uma pausa na soleira por
um momento e depois seguiram em frente.
— Major Sir Robert Campbell? — ele perguntou.
Rob deu um passo à frente.
— Sou eu.
O homem inclinou-se.
— Sou Bailey, senhor. A seu serviço. — ele se afastou. —
Entre, por favor.
Eles entraram. O lugar estava lindamente decorado, um
lustre de cristal brilhava sobre o hall de entrada, iluminando
mesas de mogno cobertas por artefatos gregos.
Essa exibição de riqueza e elegância já não
impressionava Rob, mas era surpreendente que uma tropa de
Gordon Highlanders, feridos e cansados de batalha, fosse
recebida em Londres com tal estilo.
Olhou de relance para Stirling, que se encontrava
paralisado, depois olhou para Mackenzie e Fraser, que
LRTHistóricos 66
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

provavelmente nunca viram esse tipo de luxo. Suas


expressões eram cuidadosamente vazias, o que fazia parte da
razão pela qual, ele, os escolhera. Ambos, os homens eram
inteligentes, mas pensativos. Eles se encarregaram de seus
homens com uma confiança raramente encontrada entre
suas fileiras.
Por que lhes seria dado tanta pompa como esta? A
inquietação se agitou dentro de Rob, mas ele acenou com a
cabeça para o par de lacaios que chegou para levar sua
bagagem, então seguiu com Bailey, que guiou-os para suas
câmaras separadas, cada um elegantemente nomeado. O
quarto de Rob foi deixado para o final.
Bailey abriu a porta de um quarto de dormir no segundo
andar, na parte de trás, da casa da cidade.
— Aqui estão os aposentos do patrão, senhor. — Seu
olhar voltou-se para Claire. — Peço desculpas, minha
senhora, mas não estávamos esperando-a e não há quartos
separados para a esposa.
Ela deu a ele um sorriso sereno. Como ela poderia
parecer tão bela e fresca depois de dois dias e meio de
viagem, Rob nunca compreenderia.
— Vamos nos acomodar, Bailey. Obrigado.
Ele curvou-se.
— Vai precisar de mais alguma coisa, Sir Robert?
Rob estava piscando, não acostumado a ser tratado por
qualquer título, a não ser o de major. Mas estava de volta a
Londres agora, onde seu status de baronete, um título
aleatório, concedido por uma única ação, ofuscou sua
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

condição de major no exército de Wellington. Posição e título


pela qual passara anos trabalhando e dedicara sua vida.
Escolhera isso, sobrepujando a felicidade de sua esposa.
A culpa o apunhalou, mas ele a empurrou para longe.
Ela estava aqui com ele agora, por sua própria escolha.
— Não, isso é tudo. Obrigado.
Bailey se afastou, e Claire e Rob se entreolharam. Eles
não dormiam em uma cama real já fazia muito tempo, e esta
era grande, de pelúcia, e acolhedora. Alguém, transportara o
baú e os lençóis, de cama, eram impecáveis.
Rob soltou um suspiro.
— Eu não vejo uma cama dessas faz um ano.
Ela franziu o cenho para ele.
— E na casa do meu pai? Você não acha camas assim,
lá?
— Oh, sim. Essa é a cama que eu estava falando.
— Dez meses, então — lembrou-lhe. — Não faz nem um
ano. Você dormiu na cama há dez meses.
— Sim…
— Dez meses, uma semana e quatro dias — disse ela —
para ser exata.
Sua garganta ficou seca. Ela não esquecera
completamente dele, como ele pensara que tinha. Contara os
dias, desde a última vez em que dormiram na mesma cama.
Deus. Ele fora tão estúpido? Que cego? Tomara suas
palavras como fatos crus: Que ela o odiava, que nunca mais
queria vê-lo novamente e que ele era um bastardo frio e
insensível.
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Ela havia se virado para a bacia de água que estava em


uma mesa longa e escura, ele a observou: como primeiro
removia os grampos de seu cabelo, deixando-o cair em ondas
loiras até a cintura, em seguida usava uma toalha para lavar
o rosto. Afagando suas bochechas secas, ela olhou por cima
do ombro direto.
— Você vai me ajudar com meus laços?
Ele respirou profundamente, estremecendo, de repente,
sentindo-se como um adolescente quando lhe é dado licença
para tocar uma moça pela primeira vez. Ele limpou a
garganta.
— Sim, claro.
Ele se posicionou atrás, dela, e olhou para a visão das
costas de sua esposa antes de afastar suavemente seu cabelo
sedoso de lado e começar a desfazer seus laços. A musselina
abriu lentamente, expondo a pele mais cremosa e curvas
flexíveis a cada renda. Ele acariciou sua pele morna,
luminosa, moveu suas mãos para o laço seguinte. Sua
respiração se tornou mais profunda e ele ficou certo de uma
coisa, seu toque ainda a afetava.
Finalmente, o vestido deslizou para baixo, franzido em
seus quadris, mas ele ajudou empurrando-o sobre as curvas
suaves para que se juntasse a seus pés, expondo os
apertados laços de seu espartilho.
Quando ela permaneceu na frente dele, assim, quase
nua, expondo a curva do seu pescoço, confiando-lhe de
costas, ele se esqueceu da guerra, da perda e da tristeza.

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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Esqueceu-se desta casa estranha e das razões para estar


aqui.
Havia apenas ele e Claire. Um homem e uma mulher
que se queriam.
Ele trabalhou em seu espartilho, puxando a corda até
que abriu e a ergueu sobre sua cabeça enquanto ela,
obedientemente, elevava seus braços. Então ela afastou-se do
vestido e se virou para ele, a cor vermelha instalada, em suas
bochechas.
— Obrigada. — sua garganta se moveu enquanto ela
engoliu, atraindo seu olhar de suas bochechas coradas para
seu pescoço e mais baixo. Seus mamilos se apertaram em
contas afiadas, empurrando contra o material de sua fina
camisola.
Ele arrastou seu olhar de volta a seu rosto.
— Eu… er… tem sido uma separação muito longa,
Claire. Minha lesão está na maior parte curada… e se nós
fossemos para cama, juntos, esta noite… — ele respirou
fundo. — Mentir para você… Eu não tenho certeza que se sou
ser capaz de me controlar.
Seu olhar se suavizou, e ela tocou sua bochecha, uma
carícia de suave.
— Então não se controle.

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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Capítulo 6

Rob não se lembrava de já ter se despido tão rápido,


alguma vez. Sua jaqueta, colete e Kilt estavam fora do corpo,
em questão de segundos. Descendo a camisa até o joelho, ele
rapidamente se lavou usando a água na bacia, depois se
virou para Claire, jogando a toalha.
O humor em seus olhos era inconfundível.
— Eu esqueci como você é refrescante — ela murmurou.
— Refrescante? Você me acha refrescante?
— Eu acho — ela disse com um sorriso florescendo em
seu rosto. — Vocês, escoceses, não são tão frescos como seus
colegas britânicos. Você é bravo e corajoso. Você é
apaixonado. Você vai atrás do que quer.
— Eu não sei de nada disso — ele resmungou. — Salve
a parte “vá atrás do que você quer”.
— Sério?
— Sim, porque eu sei o que quero. E vou atrás disso.
Agora.
Ele se aproximou dela e puxou-a para seus braços. Ela
gritou e agarrou sua camisa.
— Acho que você deveria tirar isso, marido.

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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Em troca, juntou a cintura de sua camisa em um


punho.
— Oh, sim? Então isso também vai sair, esposa.
— Deve?
— Sim, eu devo. Ele puxou, a camisa, para cima,
deixando-a vestida apenas em seus sapatos e meias, expondo
suas partes mais íntimas. Seu membro passou de semiduro
para granito, no espaço de um único segundo.
Ele se sentia tão dominado pela visão dela que se
esquecera de terminar a tarefa de remover sua camisa, então
ela fez isso por ele, puxando-a sobre a cabeça, ficando nua,
para ele.
— Meu Deus — ele sussurrou, tão assustado que se viu
incapaz de dizer qualquer outra coisa. Desde a primeira vez
que estiveram juntos, ela fora descarada e ousada, no quarto.
Ele, nunca, conhecera uma mulher como ela.
Suas mãos agarraram os ombros opostos, e um sulco
apareceu entre suas sobrancelhas.
— Devo parar? É muito rápido?
— Deus, não. É só… você é tão linda. Lembro-me de
meu primeiro pensamento ao vê-la em Waterloo. — Tão linda
que feriu meus olhos. Você é um anjo, Claire.
Ela olhou para ele, piscando.
— Ninguém, nunca, me chamou de anjo antes. Eu fiz
muitas coisas ruins.
Ele a puxou para seus braços e beijou seus lábios.
— Você é um anjo. Meu anjo — ele murmurou,
pensando em como ela aparecera no campo de batalha, de
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

como, mais tarde, acordara para vê-la dormindo ao seu lado.


Trouxera uma paz, com ela, que não sentia há um ano e
precisava, mais do que imaginava.
— Não — ela sussurrou.
— Sim — ele disse, movendo seus lábios para sua
mandíbula e chupando suavemente. — Sim — ele murmurou,
subindo da mandíbula até a orelha.
— Vem para a cama comigo. — ele enlaçou seus dedos,
andou com ela para a cama e apertou sua cintura, levantou-a
para que ela sentasse na borda.
Deslizou suas mãos pela curva de sua cintura e pelas
coxas até chegar a suas ligas de fita, desatando as duas, ao
mesmo tempo, em seguida, rolando suas meias, uma perna
de cada vez, e deslizando seus sapatos.
Ela se sentou muito quieta, suas respirações curtas,
enquanto observava-o trabalhar.
— Tão bela — ele murmurou, deslizando suas mãos de
seus calcanhares, acima de suas pernas e sua cintura e mais
alto até que agarrou seu rosto em suas palmas, inclinando-a
para cima. Ele se inclinou e a beijou, saboreando sua doçura,
lambendo-a como se fosse ambrosia.
Demandou enorme força de vontade para puxar seus
lábios, dos dela.
— Deite-se, moça.
Ela o fez e ele rastejou até a cama, depois dela,
removendo a camisa rapidamente.
Agora estavam ambos nus. Ele a olhou nos olhos e viu a
súplica lá. Fazia tanto tempo, para ambos. Havia uma
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

urgência que não estava presente desde a noite de núpcias,


mas ele não pretendia alcançar o prazer, sem garantir que,
antes, ela obtivesse a própria. Em qualquer caso, ele sabia,
por experiência, que era sempre melhor quando ela atingia
seu auge, antes dele.
Ele baixou os lábios para a pele pálida sobre sua
clavícula, arrastando sua língua ao longo dela, então
mergulhando mais baixo, até que beijou a inclinação
feminina de seu seio.
Ele gemeu. Ela era tão doce, tão amável, tinha um gosto
tão bom e a maneira como movia as mãos sobre a pele dele,
acabava com cada terminação nervosa que ele possuía.
Ele foi até seu mamilo e fechou os lábios ao redor. Ela
arqueou em sua boca, ofegante, enquanto ele tocava com o
nó tenso, rolando em torno de sua língua, sugando,
degustando. Segurou os seios em suas mãos, pressionando
as bochechas contra a carne, incrivelmente macia, enquanto
se movia de um para a outro.
Ela se contorcia e ofegava, enquanto ele continuava a
lamber, chupar, provocar.
— Eu poderia fazer isso a noite toda — ele sussurrou
contra sua pele.
— Deus, não — ela murmurou.
— Por que não?
Ela não respondeu.
— Eu te excitei, amor?
— Eu… Sim — ela disse. Então, fez um suave som
agudo quando ele fechou os lábios sobre um mamilo. Ele
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

passou um tempo ali, esfregando seus lábios, passando seus


dentes e quando finalmente parou, para respirar, ela estava
ofegante.
— Você é um homem terrível — ela gemeu.
Não era para ser um insulto, ou mesmo uma acusação.
Rob sabia disso. Mas as palavras trouxeram de volta aquela
manhã quando a deixara para se juntar ao regimento de
Edimburgo, quando ela arrancara seu coração e atirara-o,
aos pássaros.
Ela poderia fazer isso, de novo, era capaz de fazê-lo,
novamente. Ele não fora capaz de proteger seu coração
contra ela.
— Por favor, Rob — ela choramingou.
Ele fechou os olhos, lutando contra a onda de medo.
Então, pressionou seus lábios na parte inferior do seu seio,
descendo por suas costelas, passando sobre seu estômago,
então para os pelos na junção entre suas pernas. Ele afastou-
lhe os joelhos, depois abriu as dobras com os dedos, olhando
para a sua carne rosada antes de mover a boca até ela.
Ela quase saltou da cama quando sentiu a boca
passando sobre ela. Ela se contorceu, mas ele segurou o topo
de suas coxas para mantê-la parada. E festejara em seu
centro, como se estivesse se fartando. Lambendo, chupando,
provando.
Ele soltou uma mão da sua coxa e tocou o polegar
naquela área que sempre trazia tanto prazer. Pressionou
suavemente, movendo o polegar em círculos minúsculos
sobre o pequeno botão, enquanto continuou a lambê-la.
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Seus dedos aprofundaram em seu cabelo, segurando-o


firmemente contra seu corpo. Suas coxas começaram a
tremer e então, veio, seu corpo arqueou e sentiu fortes
espasmos sob suas mãos e boca.
Ele ficou admirando-a e quando seus espasmos se
reduziram a tremores intermitentes, puxou a mão e beijou
sua carne quente, suavemente. Então se moveu para cima de
seu corpo, olhando para ela.
Ela parecia despenteada e sonolenta, um sorriso suave
que ele não via a tanto tempo curvava em seus lábios.
— Melhor? — ele murmurou.
Ela deslizou seus braços ao redor dele e enterrou seu
rosto em seu peito.
— Ah sim.
— Bom. — ele se instalou ao lado dela e a puxou contra
ele. — Vá dormir, amor.
— Mmm… mas e você?
— Não esta noite, Claire. — talvez nunca. — Esta noite
foi para você.
Ela deu um murmúrio de queixa, mas um momento
depois, enquanto deslizava os dedos sobre a suave pele de
seu braço, ela já estava dormindo, sua respiração profunda e
uniforme. Ele não ficou surpreso. Ambos estavam exaustos,
depois de quase dois dias sem dormir.
Mas, ele, apesar de sua exaustão, ficou acordado por
horas.

***
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Agora, sensível ao hábito de seu marido de se levantar


cedo, Claire levantou-se, de repente, ao movimento suave do
colchão. Virou a cabeça, piscando para espantar o sono de
seus olhos e olhar para Rob que sentara na beira da cama, de
costas para ela.
Ela olhou para os planos e ângulos de seu contorno
muscular. Ela nunca vira nenhum outro homem nu, mas não
achava que muitos homens poderiam se comparar a forma
espetacular de seu marido. Ele era largo e musculoso,
ombros largos afilando-se no quadril, a luz da manhã
brincando sobre as dobras dos músculos.
Por que ele não levara as coisas mais longe na noite
passada? Ela queria que ele estivesse dentro dela, mas ele
murmurou que a noite era para ela, que ela devia dormir.
Ela não entendeu, ele nunca fizera isso antes. E o
motivo de sua abstinência? Só podia pensar em uma
possibilidade: Ele não queria engravidá-la, de novo.
Enquanto lutava contra a emoção crescente em sua
garganta, ele se levantou, revelando suas nádegas e pernas,
os músculos flexionaram quando atravessou o quarto até
uma mesa, onde se encontrava sua bagagem. Ele a abriu com
cuidado, evidentemente tentando evitar fazer barulho para
não acordá-la, o que era um gesto bastante doce que aquecia
seu coração, apesar de todas as inseguranças girando em
torno dela.
Terminou de se vestir, esticou-se e sentou-se. Quando
ela puxou o lençol para cobrir os seios, ele olhou por cima do
LRTHistóricos 77
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

ombro e sorriu, mas havia uma reserva em seus olhos azuis


claro.
— Bom Dia.
— Bom dia — disse ela.
Ele a olhou, por um momento mais, então voltou sua
atenção para as valises. Abriu a dela e tirou uma camisola
nova, que trouxe até a cama.
— Pensei em descermos e atacarmos um pouco do café
da manhã. Você está com fome?
Ela pegou a camisola.
— Sim.
Ele beijou o topo de sua cabeça.
— Eu estarei de volta, em um minuto.
Ela assentiu, com a cabeça e, assim que ele saiu,
colocou a camisola. Um momento depois, uma batida soou na
porta.
— Sim?
— Meu nome é Bess, milady. Vim para ver se você
precisaria de alguma ajuda com sua higiene, esta manhã.
Claire saiu da cama e abriu a porta. Uma empregada de
rosto redondo estava do outro lado. Ela fez uma reverência.
— Milady.
— Bess, não é? Bem, obrigado. Eu poderia usar alguma
ajuda.
Bess entrou e Claire manteve a porta aberta até que seu
marido apareceu, no topo da escada.

LRTHistóricos 78
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— O café da manhã será servido em breve — disse ele.


— Falei com os outros homens e vamos nos encontrar na sala
de jantar, dentro de quinze minutos.
— Posso me juntar a você?
Inclinou a cabeça.
— Claro.
Enquanto Bess a ajudava a vestir-se e a pentear os
cabelos, Claire se perguntou por que seu marido e seus
homens haviam recebido uma casa tão bem equipada. Ela
sabia o suficiente, sobre o exército, para entender que isso
era incomum. O que poderia significar?
Quinze minutos depois, vestida com sua musselina
branca manchada de lama, ela realmente precisava ir ao pai
buscar alguma roupa, desceu as escadas para encontrar os
homens na sala de jantar. Todos estavam de pé, as cadeiras
raspando o chão de madeira, quando entrou.
— Bom Dia senhores.
— Bom dia, milady — eles falaram em coro, alguns
inclinando a cabeça em deferência. Os homens pareciam
bonitos em seus uniformes frescos e nítidos, todos eles
pareciam: mais descansados, mais limpos e melhor
arrumados do que os vira, até agora.
Todos pareciam bastante confusos, também, esta
manhã, talvez, tão confusos quanto ela, sobre a opulência
que os rodeia. Ela olhou para os dois sargentos, adivinhando
que era a primeira vez que jantavam formalmente com
oficiais, para não mencionar a filha de um conde. Ambos, os
homens, estavam calmos e contidos, educados e alertas. Não
LRTHistóricos 79
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

era nenhuma surpresa que seu marido tivesse escolhido


aqueles dois.
Rob apontou para o assento em frente a ele e sentou-se
ao lado do capitão McLeod. Como filho e herdeiro de um
conde, McLeod, ali, era o homem do mais alto status
aristocrático. Ele, também, era a versão Highland mais
perigosa. Bonito e confiante, com um brilho perverso nos
olhos escuros. Ele, nunca, ousaria mexer com ela, claro, por
deferência para com seu major, mas já o vira, mais do que
algumas vezes, virar a cabeça das mulheres durante a viagem
de Waterloo.
Quando um lacaio colocou ovos no prato, ela perguntou
a McLeod sobre a perna machucada.
— Está curado o suficiente para me irritar — disse ele
com um sorriso.
— É um bom sinal.
— Vai ser bom o suficiente no devido tempo.
— Vou verificar mais tarde e vamos ver se está pronto
para tirar os pontos.
— Sim, milady. Obrigado!
Em poucos minutos, os lacaios haviam concluído a
distribuição dos salmões, bacons, frutas frescas e ovos,
juntamente, com uma cesta contendo vários pães para
escolher. A comida foi excelente, fresca e bem preparada e os
homens comeram como se não tivessem experimentado,
essas iguarias, a anos. O que provavelmente era correto, ela
refletiu.

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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Depois de alguns minutos, após todos terem comido,


Stirling, que se sentou ao lado de Rob, perguntou:
— Então, o que você acha disso, major?
— Não posso dizer — disse Rob.
— É estranho — disse McLeod. — Mas você parou um
momento para pensar sobre isso? O major é um baronete.
Stirling e Ross são ambos cavaleiros. Meu pai é o conde de
Sutton. O tio de Innes é o marquês de Lochleid.
— Sim, eu notei essa coincidência — disse Rob,
colocando ênfase especial na coincidência, como se ele
estivesse certo, de que realmente, não era uma.
Stirling franziu o cenho.
— Então… nós estamos todos ligados à nobreza de
alguma forma.
— Exceto nós — disse o sargento Mackenzie, apontando
para o sargento Fraser. Mackenzie era um homem de cabelos
castanhos poderosamente construído, com traços bonitos e
olhos azuis brilhantes. Não era de surpreender que a irmã de
Claire gostasse dele. — Fraser e eu não temos nenhuma
ligação com ninguém — ele deu um sorriso irônico — se você
não contar a criação de ovelhas e a criação de gado.
— Sim, mas eu escolhi você — Rob apontou. — O resto
de nós foram ordenados juntos, por Wellington.
— E nós, somos os únicos no 92º regimento com
ligações aristocráticas ou cavalheirescas. — McLeod bateu o
queixo.
— Eles devem ter nos escolhido para realizar alguma
tarefa — disse Stirling, movendo os ovos em seu prato com o
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

garfo. — Mas o quê? Que tarefa exigiria um grupo de homens


que tenha ligações com a aristocracia?
— Sim… Que tarefa, de fato? — Rob olhou para o relógio
acima da lareira. — Suponho que teremos a resposta dentro
de algumas horas. Não vamos nos preocupar com o
desconhecido. Teremos o que precisamos em breve.
Terminaram o café da manhã e depois se retiraram para
a opulenta sala de estar, com seus móveis de seda, paredes
douradas, palmeiras e teto com afrescos.
Os homens fingiam ler jornais, mas em vez disso
olhavam para o relógio, parecendo um grupo de touros
nervosos em uma loja de porcelana, o que Claire achava
atraente.
Claire verificou os ferimentos dos homens, enrolou um
curativo limpo no braço do tenente Innis e em torno da
cintura do tenente Ross, determinou que os pontos de
McLeod não estavam prontos para tirar, apesar de seus
protestos. Ela deu uma batidinha e acariciou gentilmente sua
perna, em seguida, voltou-se para o marido.
— Posso verificar sua cabeça?
— Vai bem — ele suspirou.
— Quero ver se o inchaço diminuiu.
Ele se virou como se fosse uma grande prova fazer isso e
ela gentilmente esfregou os dedos sobre o galo, do tamanho
de um ovo de ganso, na parte de trás da cabeça.
Ainda estava do tamanho de um ovo, mas tinha
diminuído. Agora, parecia mais como um ovo de pássaro do

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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

que um ovo de ganso e, certamente, já não era do tamanho


de seu punho.
— Está curando, graças a Deus — disse ela.
Seu marido virou-se e seus olhos, azul gelo, fixaram-se
nos dela por um segundo, aquecendo-a, antes de sacudir o
papel à sua frente e voltar seu foco à página.
Ela sorriu para o Sargento Mackenzie.
— Como está a sua tipóia? — Com a orientação de
Claire, Grace fizera uma para ele, ontem, quando o passeio de
carruagem agitara sua lesão, dolorosamente.
— Eu não acho que poderia haver uma posição de
descanso mais confortável para o meu braço, milady.
— Minha irmã está se tornando uma médica competente
— brincou ela.
— Na verdade, ela é. — Sua voz repleta de admiração.
Ela o observou cuidadosamente. Sua expressão parecia
genuína e honesta. Embora pudesse interessar-se por Grace
somente pela sua herança e título, o instinto disse a Claire
que ele não era o tipo de homem interessado em arruinar
uma moça, com o único propósito de elevar seu status social.
— Gostaria que ela estivesse aqui — murmurou ela.
— Assim como eu.
— Hmmm. Pretendo visitá-la esta tarde. Talvez, se você
estiver livre… você gostaria de vir?
— Ah, sim, milady. Eu gostaria muitíssimo. — seus
olhos piscaram para Rob. — Se eu for capaz e o major
concordar.
Rob apenas grunhiu.
LRTHistóricos 83
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— É claro que ele concorda — ela disse calorosamente.


Claire passou o tempo restante, antes deles deixarem de
vigiá-los, com um tipo estranho de sentimento maternal, por
todo o grupo, caindo sobre ela. Esperava que quaisquer
ordens recebidas, hoje, no Escritório de Guerra não
implicassem que Rob, ou qualquer um deles, tivessem que
deixar a Inglaterra novamente.

LRTHistóricos 84
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Capítulo 7

Poucas horas depois, as duas carruagens com cinco


oficiais e dois sargentos dos Gordon Highlanders pararam.
Rob olhou pela janela da carruagem e franziu a testa.
— Este não é o Escritório de Guerra.
Stirling ergueu as sobrancelhas.
— Então o que é?
— O Ministério do Interior — disse Rob.
— O Ministério do Interior? — repetiu Stirling, confuso.
— Sim. Vou dizer ao motorista que ele nos trouxe para o
lugar errado.
O motorista abriu a porta e gesticulou para fora.
— Você cometeu um erro. Este é o Ministério do Interior,
não o Escritório de Guerra.
O homem deu a Rob um sorriso apertado.
— Essas foram minhas ordens, senhor. Trazer vocês
para o Ministério do Interior.
Rob e Stirling trocaram um olhar. Então saíram da
carruagem, os outros homens juntaram-se a eles e
aproximaram-se do edifício. Quando chegaram à porta, um

LRTHistóricos 85
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

homem alto e magro com óculos abriu-a. Ele deu uma olhada
nos Highlanders reunidos no patamar e disse:
— Major Sir Robert Campbell?
— Sim.
O homem de óculos deu um aceno brusco.
— Siga me por favor.
Eles foram levados por um longo corredor, por um lance
de escadas, através de uma passagem semelhante a um
labirinto e outro lance de escadas. Finalmente, o homem
parou em uma porta, nada imponente, mas, exatamente
igual a várias outras, as quais, haviam avistado.
— Só o Major Campbell, por favor. O resto de vocês
serão obrigados a esperar um momento.
Rob olhou para os homens e fez um leve aceno de
cabeça.
O homem abriu a porta e fez um gesto para Rob entrar.
Quando ele entrou no pequeno escritório, a porta foi fechada
atrás dele, deixando-o sozinho na sala com um homem baixo,
com sobrancelhas cinzentas e espessas, que se ergueu, atrás
de uma mesa, para cumprimentá-lo.
— Major Campbell, suponho.
— Sim.
— Muito bom conhecê-lo, senhor. — o homem estendeu
a mão. — Sou Henry Adams.
Rob apertou a mão de Adams, notando o aperto firme e
seguro.

LRTHistóricos 86
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Por favor, sente-se. — Adams fez um gesto indicando


as várias cadeiras, colocadas do outro lado de sua mesa. Rob
tomou a do centro do grupo.
Adams abriu uma pasta em sua mesa.
— Eu acabei de ler sobre seu registro de serviço e o de
seus homens. É muito impressionante.
Fez uma pausa, como se esperasse uma resposta.
Quando Rob não forneceu uma, ele continuou:
— Você e seu 92º Regimento tiveram um desempenho
admirável em Waterloo na semana passada, o que deve ter
sido um desafio, tendo em vista a perda de seu coronel em
Quatre Bras.
— Nossos homens foram bem treinados. E o coronel me
preparou para a possibilidade de eu ter que tomar seu lugar
um dia — Rob disse rigidamente.
— Seu regimento também foi instrumental na
Península. E o seu serviço, é claro, foi exemplar. Escreveram,
muito, sobre o resgate de Wellington, bem como sua destreza
na batalha. Você se casou com uma filha do conde Inglês e se
tornou, um pouco, um herói nacional nos últimos anos.
Rob olhou para Adams, desejando que o homem
chegasse a seu ponto.
— Você provavelmente está se perguntando por que nós
te chamamos aqui — Adams disse, com seu sorriso
vergonhoso. — Provavelmente?
— Sim — Rob disse bruscamente.
— Então vou direto ao ponto crucial, Major. Você provou
ser um grande patriota e este país precisa de você.
LRTHistóricos 87
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

As sobrancelhas de Rob levantaram-se.


— Em que capacidade?
— Ah, bem, deixe-me explicar. Eu sou o líder de uma
agência no governo desconhecida do público. Trabalhamos
dentro do país para proteger os interesses da monarquia.
Temos interceptado espiões franceses, parado parcelas contra
o rei e a família real e servimos o nosso país de inúmeras
maneiras desde a nossa criação, há vinte anos.
Rob inclinou-se para a frente, escutando com interesse,
sua mente agitada.
— Agora que a batalha com Napoleão parece estar atrás
de nós, devemos voltar a nossa atenção para os problemas
em casa. Você vê, Major, tem havido agitação civil,
especialmente no norte. Essa turbulência é desconhecida
para a maior parte da população, mas não é controlada e a
situação pode se tornar séria.
— É isso?
Adams assentiu sobriamente.
— Um certo nível de insatisfação com o governo é de se
esperar, é claro, mas isso parece ser mais grave, parece estar
perto da traição. Por nossas contas, há células de rebeldes na
Escócia, a maioria centrando-se nas áreas escassamente
povoadas das Highlands.
Rob recostou-se. As peças deste quebra cabeça estavam
se encaixando, no lugar.
— E desejas que os detenhamos.
— Não só eles, Major. Quero que você considere fazer
disso o trabalho de sua vida. Aqueles de vocês que são
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

oficiais vão se aposentar e os sargentos serão dispensados.


Você e seus homens se unirão como civis, com o único
objetivo de manter o país, que amamos, seguro de danos.
Você não será mais enviado para terras estrangeiras com o
exército, mas permanecerá na Inglaterra e Escócia,
trabalhando unicamente no interesse da monarquia. Você vai
acabar com atos traidores e rebeldes, protegerá a coroa a
todo custo.
— E o que vou receber em troca de possivelmente
sacrificar minha vida por esta causa?
— Uma vida generosa. Terra e casas na Inglaterra e na
Escócia. E a paz de espírito que você está protegendo seu
país daqueles que tentariam destruí-lo.
— E porque você nos escolheu? — perguntou Rob. —
Não nos esquecemos de que, todos, temos elos com a
nobreza.
— Todos vocês salvam os sargentos.
— Que foram escolhidos por mim — disse Rob.
Adams olhou para Rob com apreensão.
— É porque muitas de suas tarefas exigirão que você
esteja em posição de poder. Sua conexão com a aristocracia
vai abrir portas, que ao contrário, seriam fechadas seu rosto.
Alguns dos atos mais atrozes neste país são cometidos por
pessoas no poder e nas formas mais insidiosas. Precisávamos
escolher homens inteligentes e tempestuosos que tivessem o
poder e as conexões para deter tais ações.
— Quanto aos sargentos — continuou ele. — Nós
raciocinamos, que eles poderiam dar-lhe perspectiva quando
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

você for chamado a exercer suas funções em círculos menos


exaltados.
Os lábios de Rob apertaram-se. O homem falou como se
Rob não tivesse ideia do que poderia significar: menos
exaltado.
— Vocês lembram-se que concederam meu título apenas
alguns anos atrás. Eu venho de uma longa linhagem de
pescadores e comerciantes. — Foi só por esquivar e salvar
que seu pai conseguira acumular dinheiro suficiente para
comprar a primeira comissão de Rob.
— Eu me lembro disso. Que é outra razão pela qual você
foi escolhido para isso — disse Adams. — E eu também
espero que você recrute mais homens conforme o tempo
passar, dependendo de suas necessidades.
Rob suspirou.
— E você espera minha decisão agora?
— Sim. — Adams deu de ombros, então deu um
pequeno sorriso. — Ou talvez amanhã.
— Eu posso informar os meus homens sobre isso?
— Claro. Aqueles que não desejem participar serão
devolvidos ao seu regimento na França. Eu lhe darei todas as
informações que puder, mas você deve entender que eu não
vou ser capaz de oferecer qualquer material sensível até que
você concorde em entrar nesta vida e prestar o seu juramento
de serviço.
Rob passou as duas horas seguintes, enquanto seus
homens esperavam, questionando Adams, aprendendo os

LRTHistóricos 90
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

detalhes sobre o que se esperaria dele e o que ele deveria


esperar em troca.
Finalmente, ele assentiu, satisfeito.
— Você falaria com meus homens como falou a mim?
— Absolutamente. É por isso que eu chamei todos vocês
hoje.
Rob levantou-se.
— Vou trazê-los, então.
O homem com óculos aguardava Rob, fora da porta do
escritório. Rob ficou contente por saber que os homens foram
levados para uma sala de jantar, onde foi servido um almoço.
É certo que não podia culpar essas pessoas do Ministério do
Interior pela maneira como os tratavam até agora.
Poucos minutos depois, os seis homens entraram. Os
capitães Stirling e McLeod, seguidos pelos tenentes Innes e
Ross, os sargentos Mackenzie e Fraser, todos vestindo seus
casacos de regimento e os galões de tartan de Gordon.
Faziam um belo grupo, pensou Rob.
Rob sentou-se em uma cadeira ao lado e observou as
expressões de seus homens quando ouviram o discurso de
Adams. Todos, todos os últimos, estavam claramente
intrigados.
Quando Adams terminou de falar e de responder a
perguntas que podia, Rob se levantou e se dirigiu a ele.
— Meus homens e eu temos muito a discutir. Como
prometido, teremos uma resposta para você amanhã.
— Boa.

LRTHistóricos 91
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Adams apertou as mãos um a um. E eles foram


dispensados.
Rob sentou-se com Stirling e McLeod na viagem de
regresso à casa da cidade. Enquanto a carruagem se movia
para a frente, Stirling deu uma risada baixa.
— Suponha que isso explique os servos e a casa. Estão
tentando nos seduzir para uma vida a serviço deles.
— Sim, é verdade. Mas eu acho que é genuíno, pelo
menos aqui em Londres. Adams me disse que a casa seria
reservada para nosso uso, enquanto estivermos na cidade, e
eles pagarão para mantê-lo pessoal e nomeado.
— E a nossa sede na Escócia?
Rob o olhou com ironia.
— Ele disse que seria o castelo Beauly.
McLeod, que estava sentado em frente deles, engasgou
uma gargalhada.
— Cristo. Nunca pensei que eu seria seduzido por um
esquema Inglês, mas o Castelo Beauly?
— Sim. Não há nenhum castelo mais formoso nas
montanhas. — Rob concordou. — Adams disse que o
escolheu devido à sua posição estratégica. E que eles dirão
que foi concedido a mim, junto com a baronete.
— Não sou susceptível de ser seduzido por uma casa —
comentou Stirling.
— Bem, meu pai é o conde de Sutton, Stirling, e eu vi
algumas casas notáveis no meu tempo. Mas o Castelo
Beauly? É… — McLeod sacudiu a cabeça, evidentemente sem
palavras.
LRTHistóricos 92
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Stirling estava certo, Rob também não seria seduzido


por uma casa. No entanto, havia muitos outros aspectos da
oferta que estavam começando a seduzi-lo: a oportunidade de
ganhar uma vida firme; a chance de permanecer, ativamente,
envolvido em manter a paz da nação; ser um membro útil e
produtivo da sociedade; não ter que participar de mais
batalhas, sangrentas, em campos abertos; a capacidade de
permanecer na Grã-Bretanha.
Ele nunca precisaria ficar muito longe de sua esposa.
O que ela pensaria de tudo isso? Adams havia dito que a
informação deveria permanecer entre os sete, mas Claire
estava esperando por ele, na casa da cidade, e ela queria
detalhes.
Ele estava preparado para dar a ela. Porque, maldição, a
queria com ele. Estava cansado de deixar sua esposa, uma e
outra vez, de passar mais tempo longe dela, do que com ela.
Envolvê-la, ele percebeu, estaria se preparando para
mais dor, porque se ela rejeitasse isso, significaria que estava
rejeitando-o de novo.
Ele precisava decidir se valia a pena correr o risco.

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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Capítulo 8

Claire se levantou quando ouviu a porta da frente se


abrir. Eram quatro horas, da tarde, e sua mente estava
girando com teorias do que o exército poderia, possivelmente,
querer com seu marido e seus seis Gordon Highlanders.
Eles estavam sendo convidados a uma bolada especial
comemorando os heróis de Waterloo?
Eles estavam sendo enviados em uma missão secreta
para a França?
Eles estavam todos sendo promovidos?
Eles estavam sendo comandados para formar um novo
regimento de Highlanders?
Ela não tinha ideia, realmente. Todas essas
possibilidades pareciam tão exageradas.
Pegando sua saia, correu para o hall de entrada. Seu
marido entrou primeiro e ela segurou as saias mais
apertadas, forçando-se a não correr para seus braços e exigir
cada detalhe. Ele chegou até ela, passou o braço por cima do
ombro e apertou-a antes de soltá-la quando os outros
homens entraram atrás dele.
— Você visitou Grace? — perguntou ele.

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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Ainda não. — Ela prometera a Mackenzie que ele


poderia ir, então esperara, seu retorno.
— Receio que você não possa vê-la hoje, moça. Temos
muito que discutir.
Assentindo, ela disse:
— Claro. Vou enviar uma nota. Podemos nos ver em
outro momento. Mas… — ela olhou para os outros homens —
Temo que o Sargento Mackenzie esteja, completamente,
desanimado.
— Sim, abatido de fato — disse o sargento, com a
expressão sóbria. — Mas o major fala a verdade. Há muito
para discutir. Talvez eu possa me juntar a você no dia
seguinte?
— Se eu puder ir amanhã, você será meu companheiro
— prometeu-lhe.
Rob pediu a Bailey que trouxessem chá e todos se
retiraram para a sala. Claire sentou-se na borda da sofá de
seda azul e quando Rob se abaixou ao lado dela, ela sorriu
um pouco. Ele tinha escolhido sentar ao lado dela, quando
poderia ter tomado qualquer um dos vários assentos ao
redor.
Embora ele não fosse um homem que derramasse suas
emoções aos montes, Claire estava começando a perceber que
ele mostrava seus sentimentos em ações minúsculas, mas
significativas.
O fato de que ele nunca demonstrara, abertamente, uma
profundidade de sentimento irritara Claire, além da razão,

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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

antigamente. Mas depois de vê-lo em Waterloo e observá-lo,


agora, a direção de seus pensamentos mudara.
Se ele tivesse desmoronado sob a tensão de tudo o que
aconteceu em Waterloo, como poderia ser o líder que seus
homens admiravam e reverenciavam? Como poderia ter
executado todos aqueles atos heróicos em batalha que levou
a sua promoção para o major e seu baronete?
Ele não poderia ser uma tromba de água, não poderia
ser esmagado sob um fluxo de desespero, não poderia ser um
fraco. Precisava resolver problemas, precisava ser um líder,
precisava ser forte. Tudo isso, era quem ele era.
E isso não significava que não se importasse. Desde que
ela chegara em Waterloo, ele demonstrou em tantos pequenos
gestos que se importava com ela: pequenos toques, sorrisos
roubados, a maneira como se colocava protetor ao seu lado e
exigia que todos a tratassem com o mesmo respeito que ele.
Ela fora cega para todas essas coisas, antes.
Ele se virou para ela enquanto os outros se
acomodavam em seus assentos.
— Os rapazes e eu temos que decidir o caminho do
nosso futuro, esta noite. Não posso compartilhar em detalhes
o que nos apresentaram hoje, mas queria que você estivesse
aqui. Se algum dos outros rapazes estivesse casado, eu
pediria que trouxessem suas esposas também. Isso afeta a
nós todos.
— Eu entendo.
Rob examinou seus homens, então seu olhar voltou,
para se concentrar, nela.
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Nos foi oferecido uma chance de desistir de nossas


comissões para trabalhar no interesse da Coroa.
Ela franziu o cenho.
— Como?
— Removendo planos traidores e insurgentes, detendo-
os antes que sejam promulgados.
O ar saiu dela. — Entendo.
Sua expressão se suavizou e ele ergueu a mão e passou
um nó suave sobre sua bochecha antes de voltar para os
outros.
— Bem, rapazes. O que vocês acham?
Eles entraram em discussão, a maioria dos homens
achando que era uma ideia brilhante. Acontece que Stirling
era o mais cauteloso e pessimista.
— Por que nós? — perguntou. — Um bando de
Highlanders áspero de guerra? Não faz sentido.
Eles discutiram esse ponto, por uns bons quinze
minutos, chegando finalmente ao acordo que fazia sentido
por várias razões, sendo a principal, as suas ligações com a
nobreza. Ninguém suspeitaria que trabalhassem de forma
disfarçada para a Coroa e os insurgentes pareciam estar no
norte da Inglaterra e na Escócia.
— Poderíamos todos ser mortos — argumentou Stirling.
— Adams fez parecer que seria mais seguro do que os campos
de batalha do Continente, mas será? Eu não penso assim.
Haverá violência. Traidores são violentos por natureza.
Os homens argumentaram que sua linha de trabalho
era violenta por natureza, mas na escolha deste curso, eles
LRTHistóricos 97
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

poderiam ajudar a pôr fim à ameaça de violência, em casa.


Manter seu país seguro, era um esforço nobre.
Os argumentos continuaram até tarde da noite, muitas
questões levantadas por Stirling, mas algumas levantadas por
Rob e os outros oficiais, também. Os sargentos eram tão
pensativos quanto os demais, fazendo perguntas, fazendo
sugestões e ponderando.
Claire ficou em silêncio na maior parte, às vezes pedindo
esclarecimentos, mas principalmente apenas escutando e
observando as reações de seu marido. À medida que a noite
ia passando, ficou claro que queria o serviço. E se ele queria,
sabia que os outros seis homens, mesmo Stirling, o
seguiriam.
— Pense em quão perto poderíamos ficar das nossas
famílias — disse Rob em um ponto. — Nós não teríamos que
ficar separados por meses, como tantas vezes no passado.
Ela se lembrou daqueles longos meses de aborrecimento
quando ele fora embora, como sentiu sua falta. Ela nunca
teve tanta certeza se ele sentira a falta dela, não até agora.
Os outros homens olharam para ele sem entender,
claramente não se identificando com esse argumento
particular. Porque, é claro, nenhum deles era casado, não
faziam ideia do que era.
Quando o relógio, acima da lareira, mostrou que a meia-
noite estava se aproximando, Rob ergueu o copo. O chá fora
consumido há muito tempo, e os homens mudaram para o
uísque. Claire escolheu vinho, o whisky escocês era muito
cáustico em sua língua.
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Rob derrubou o resto do uísque em seu copo e colocou-o


sobre a mesa lateral com um baque.
— Bem, nós podemos discutir este tema até a morte,
mas agora é a hora da decisão. O que vocês, rapazes,
pensam?
— Acho que devemos fazê-lo — disse o capitão McLeod
instantaneamente.
Stirling sorriu maliciosamente.
— Sim, sempre o imprudente.
— Então isso me faz imprudente também, Stirling —
disse Rob. — Porque eu acredito que devemos fazer isso,
também.
Depois disso, o resto dos homens concordaram, um a
um, até que Stirling permaneceu. Ele deu um longo suspiro.
— Está bem, então. Eu também digo sim, mas vejam, é
só porque não vou ser enviado de volta para o Continente,
sozinho.
Era como se os homens exalassem um suspiro coletivo
de alívio. Houve silêncio por um momento enquanto todos
consideravam a enormidade da decisão que haviam acabado
de tomar. E então Rob sorriu.
Era tão raro ele sorrir que fez Claire sorrir, também.
— Vou servir mais uísque. — ele foi até o aparador e
pegou a garrafa de uísque, depois deu a volta e encheu o copo
de todos. Na vez da Claire, trouxe o vinho e despejou um
pouco. Depois de colocar a garrafa de volta, ele ergueu o
copo. — Para nosso novo grupo… — parou, franzindo a testa,
como se sentisse que a palavra grupo não se encaixava.
LRTHistóricos 99
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Nosso novo clube — disse McLeod.


— Nossa nova aventura? — sugeriu Stirling.
— Empreendimento? — perguntou o tenente Ross.
— Nosso compromisso! — disse o sargento Fraser.
A missão e o projeto foram sugeridos, assim como o
regimento pequenino, que fez com que todos rissem, em
silêncio.
Claire disse:
— Eu acho que devem chegar a um nome que combine
com vocês. E qualquer um desses, não acho que combine.
— Qual acha que combinaria então, milady? —
Mackenzie perguntou.
— Vocês são todos escoceses — ela apontou — então,
talvez, isso devesse fazer parte de seu nome oficial.
Todos concordaram cordialmente com essa ideia e
começaram a lançar ideias desde o básico The Highlanders,
que era considerado muito geral, até O Clube dos Gordon
Highlanders do 92º Regimento de Pé, que era considerado
demasiado prolixo.
Então o sargento Mackenzie fez um sinal:
— Os Cavaleiros das Highlands. — todos os olhos se
voltaram para ele e ele se endireitou em seu assento.
— Entretanto, só o capitão Stirling e Ross são cavaleiros
— disse o tenente Innes, com a testa escura franzida em
confusão.
—E também o Major Campbell é um baronete — disse
Mackenzie.
— Mas não é um cavaleiro — interrompeu Fraser.
LRTHistóricos 100
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Bem — disse McLeod — ele não é tecnicamente um


cavaleiro, mas um baronete é intitulado senhor e considerado
um cavaleiro hereditário, então eu me arriscaria a dizer que
ele se qualifica.
— E essa é uma porcentagem bastante grande de
cavaleiros a ter em um grupo tão pequeno — Claire apontou.
— Mas é também o espírito por trás da cavalaria.
Cavaleiros lutaram pela honra, prometeram ser leais e fiéis à
sua causa, ficaram de pé e lutaram ao lado de seus irmãos.
— Mackenzie sorriu e olhou para Claire. — E são
cavalheirescos para as moças.
— Onde você aprende tanto sobre cavaleiros ingleses,
Mackenzie? — perguntou o sargento Fraser.
Mackenzie coçou a cabeça.
— Bem, eu posso ter sonhado em ser um cavaleiro uma
vez. — vendo as expressões de alegria começando a se formar
nos rostos dos outros homens, ele rapidamente acrescentou:
— Quando eu era um rapaz jovem. E então, posso ter lido um
livro ou dois sobre eles na escola, em Inverness.
Vários dos homens lhe lançaram olhares vazios e ele
levantou as mãos.
— Vocês não leram as lendas do Graal? As histórias de
Sir Galahad e Sir Perceval e Sir Lancelot? Não. Ele franziu a
testa. — Sir Gawain? Todos ficaram em silêncio. Ele
suspirou. — Como vocês podem não ter ouvido falar de Sir
Galahad? Não posso acreditar que nenhum de vocês leu…
McLeod começou a rir e o resto do grupo logo o seguiu,
alguns dos homens rindo tanto que seus olhos brilharam.
LRTHistóricos 101
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Você viu o rosto dele? — Innes disse entre risos


profundos. Ele copiou a expressão de Mackenzie de choque
de boca aberta.
— Sir Galahad? Como você não pode ter ouvido falar de
Sir Galahad? — McLean imitou em uma voz alta e feminina.
Stirling, ainda rindo, disse:
— Claro que sabemos dos cavaleiros da Idade Média,
rapaz. Todos lemos esses livros.
Não pela primeira vez, Claire ficou impressionada com a
educação dos Highlanders. Ela duvidava que pudesse existir
uma sala cheia de ingleses que houvesse lido os contos do
Santo Graal.
Mackenzie ficou aliviado.
— Bem, pelo menos vocês não são um poço de
ignorância.
— Não — dessa maneira, pelo menos — disse McLeod,
ainda rindo.
— Os Cavaleiros das Highlands — disse Rob, falando as
palavras lentamente, como se as estivesse degustando qual
um uísque fino.
Stirling testou as palavras como Rob fizera, então disse:
— Eu digo que é um bom nome. Um que eu me sentiria
orgulhoso de suportar.
McLeod franziu o cenho para ele.
— Isso, só porque lhe foi concedido um verdadeiro
status de cavaleiro.
Stirling, que estava sentado ao lado de McLeod, deu-lhe
um tapinha no ombro.
LRTHistóricos 102
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Sim, eu tenho. E talvez, se você, for um bom rapaz e


matar todos os bastardos traidores, também lhe seja
concedido um dia, algum dia.
— Mete-te em cima ar… — McLeod se interrompeu,
olhando culpado para Claire.
— Cuidado com a sua língua na presença da minha
esposa — Rob advertiu. — Vocês dois.
— Sim, Major — disseram Stirling e McLeod em
uníssono. Claire lutou com um sorriso.
— McLeod, será que você terá problema com o grupo se
nomeado: Os Cavaleiros das Highlands? — Rob perguntou.
— Não. — Seus olhos brilharam perversamente. —
Talvez algum dia todos os meus desejos se tornem realidade e
o príncipe regente me conceda um título de cavaleiro.
— Você está dizendo que o título de cavaleiro seria
preferível ao condado que você vai herdar? — perguntou a
tenente Innes.
— Oh, sim. Eu entregaria aquele condado para você no
momento em que for meu, se eu pudesse, Innes, — McLeod
disse gravemente.
— Bem, se nós fizermos isso, faremos os sonhos de
Mackenzie, de se tornar um cavaleiro, uma realidade — disse
Rob.
— Eu não acho que isso conta, já que eles não teriam o
título na verdade — disse o tenente Ross, que tinha sido
concedido um título de cavaleiro para seu serviço ao lado de
Rob na Península.

LRTHistóricos 103
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Sim, mas todos seremos cavaleiros na verdade —


argumentou Rob. — Se todos nós prometermos defender os
princípios da cavalaria e nos unirmos como irmãos em busca
da honra e da justiça, então isso será o que seremos. Não é
pelo título que as pessoas chamam de você, mas pela moral
que você tem dentro. Rob apertou brevemente a mão sobre
seu peito e olhou ao redor da sala. — Bem, o que dizem,
rapazes? Alguém mais não gosta dos Cavaleiros das
Highlands? Por alguma razão? Porque uma vez que a decisão
for tomada, eu não vou mudar isso.
Os homens restantes balançaram a cabeça.
— É um nome brilhante, se me perguntar — disse o
tenente Innes.
Rob levantou o copo.
— Para Os Cavaleiros das Highlands, então.
Os outros homens seguiram o exemplo, assim como
Claire, e todos repetiram:
— Para Os Cavaleiros das Highlands!

LRTHistóricos 104
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Capítulo 9

Claire estava deitada na cama, pensando nas pequenas


coisas que seu marido fizera, naquela noite, sentado ao lado
dela: dizendo aos homens para falar educadamente em sua
presença, falando de como se ele aproveitasse essa
oportunidade, seria capaz de passar mais tempo com ela.
Ele se importava com ela, sabia disso agora. Só desejava
não ter sido tão cego, antes. Vestido com um pijama e com as
pontas do cabelo ainda úmidas de seu banho, Rob colocou a
vela sobre a mesa de apoio e se deitou na cama, depois virou
para seu lado para encará-la. Ele enfiou uma mecha de
cabelo atrás da orelha dela.
— Você está cansada?
— É muito tarde — ela disse — mas acho que estou
muito animada para estar cansada.
Uma sombra de sorriso se transformou em seus lábios.
— Você está satisfeita com a nossa decisão, então?
— Sim. Muito satisfeita.
— Estou feliz.
— Eu acho que você vai ficar muito feliz. Honestamente,
parece perfeito para você.

LRTHistóricos 105
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Por que você diz isso?


— Você é um homem que precisa se sentir útil, como se
estivesse fazendo algo importante. E isso… acho que é muito
importante.
Ele assentiu lentamente.
— Talvez você tenha razão.
Eles ficaram olhando um para o outro por longos
segundos, então ela deslizou sua mão ao redor de seu
pescoço e puxou-o para mais perto até que seus lábios se
encontraram. Ela o beijou, pensando em todos os pequenos
modos que ele a fizera sentir-se importante hoje à noite.
Ela poderia voltar a amá-lo e ele poderia amá-la
novamente, algum dia. Mas, por enquanto, começava a
sentir-se perto dele e ela, definitivamente, o queria. Da
mesma maneira que ele a desejava, se a ereção crescente
contra sua perna fosse qualquer indicação.
Ela se afastou do beijo e empurrou-o de costas. Ele foi
de bom grado, parecendo confuso, e ela sentou-se sobre ele.
Ele olhou para ela e suas mãos se moveram para sua cintura,
então deslizou para cima até que estava em seus seios, sobre
sua camisola.
— Você é tão bela, Claire. Eu poderia olhar para você o
dia todo e nunca me cansaria disso. — Ele enrolou uma
mecha de cabelo em torno de seu dedo. — Eu senti sua falta
no ano passado.
— Eu também senti sua falta — ela sussurrou. — Mas…
— ela suspirou — foram dez meses.

LRTHistóricos 106
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Faz um ano — corrigiu ele. — Um ano, quatro meses


e dezesseis dias.
Aquela era a quantidade de tempo, não desde que
dormiram, juntos, na mesma cama, mas desde que foram por
último, tão perto, como um marido e uma esposa poderiam
ser. Ela engoliu em seco e abaixou-se até se colocar
totalmente em cima dele, enterrando o rosto na curva de seu
pescoço.
— Ah, Rob.
Ela não choraria. Ela nunca chorava. Não mais.
Seus braços passaram ao redor dela e ele a segurou
apertado, murmurando palavras gaélicas em seu ouvido.
Isto… era o que ela precisara, tanto, no ano passado.
E então, ela estava beijando-o novamente, começando
com seu pescoço e se movendo até sua boca. Duros e
determinados beijos para afastar seus pensamentos da
escuridão e para o homem que ela tinha em seus braços,
naquele momento.
O sofrimento pareceu mais fácil de suportar quando ele
a abraçou, quando a beijou e a amou. A dor nunca iria
embora, às vezes era tão poderosa que parecia que estava
esmagando-a. Outras vezes, ela vivia em harmonia com ela,
não lutando contra ou destruindo-a, existindo, apenas,
dentro dela.
Agora, ela lutou contra a dor, esmagando-a. Ela o
segurou, estreitando seu foco nas sensações viscerais do
corpo muscular grande do seu marido, debaixo dela, de seu
perfume masculino, das suaves ondas avermelhadas de seu
LRTHistóricos 107
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

cabelo e da pele áspera de barba de sua bochecha: as


sensações físicas. Ela se deixou afogar nele.
Ainda beijando-o, ela moveu seu corpo para baixo,
pressionando seus lábios em seu torso, sobre sua camisa,
explorando os mergulhos e cumes de seus músculos de tórax
e seu abdômen. E mais baixo, onde sua camisa cobriu o
comprimento longo. Ela se afundou em seu pênis que jazia
em seu estômago, sua ponta encostando em seu umbigo.
Ela apertou seus lábios sobre o tecido e ele respirou
fundo. Ela olhou para ele sob seus cílios.
— Você também perdeu isso?
— Sim — ele murmurou.
Ele inclinou a pélvis, batendo o queixo dela e ela sorriu e
baixou a boca para pressioná-la sobre ele novamente. Ela
explorou cada centímetro dele, sentindo sua dureza através
do gramado de sua camisa.
— Meu Deus, mulher. Você vai me matar.
— Eu não quero fazer isso. — ela provocou.
— Preciso de mais — disse ele. — Me dê mais. — Ele
agarrou sua camisa, e, parcialmente, levantando-se para uma
posição sentada, ele arrancou sobre sua cabeça, os músculos
do seu estômago se agitando deliciosamente quando ele o fez.
Ela teria dificuldade em descrever algo mais intensamente,
erótico e masculino.
Ele se deitou de volta.
— Toque-me — ordenou.
— Sim, senhor. — Ela riu, deixando as pequenas
expulsões de ar se derramarem sobre seu comprimento.
LRTHistóricos 108
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Ele gemeu.
— Claire…
Ela pressionou um beijo em sua pele quente. Em
seguida, lambeu-a, movendo sua língua da base para a coroa.
Fez um barulho baixo, muito escocês.
— Sim, isso mesmo. Mais…
— Tão exigente — ela murmurou, deixando seus lábios
se moverem sobre ele.
Ele rosnou.
— Parece um leão irritado.
— Claire…
Ela o lambeu outra vez, desta vez por mais tempo,
viajando para cima e para baixo em longos e suaves golpes,
deixando sua língua cobrir tudo dele, saboreando cada
centímetro dele.
— Mmm — ela disse. — Delicioso.
Ela apertou um beijo para ele, então se moveu sobre ele,
arrastando beijos até a leve trilha de cabelo castanho
avermelhado, que levava ao seu umbigo.
— Claire, você percebe quanto tempo faz para mim?
Ela parou, mordendo seu lábio inferior, olhando para
ele, mas mantendo seu corpo inferior apertado contra o dele.
— Você ficou fiel a mim, Rob? — Ela perguntou
calmamente, a ansiedade apertando seu peito. Ficou
acordada muitas noites pensando nisso, pensando que
certamente ele devia ter procurado outras mulheres. Parecia
impossível que um homem tão viril como Rob pudesse
permanecer abstinente por algum tempo.
LRTHistóricos 109
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Ele fechou os olhos com força.


— Sim. Claro que sim.
Ela expeliu um suspiro.
— Eu fiz uma promessa quando nos casamos. Não
rompo minhas promessas.
— Você está celibatário há quase um ano e meio?
— Sim.
— Isso é muito tempo.
— Sim — ele disse bruscamente. — Você acha que não
sei disso? Estou sofrendo por você, Claire. Por muito tempo,
parece uma vida.
Ela acreditou, ele nunca lhe mentira antes, até onde ela
soube. E ela se lembrou do aviso que ele lhe fizera, na noite
passada, de que fora tão longo para ele que não tinha certeza
se seria capaz de controlar, a si mesmo.
— Também fui fiel a você — murmurou ela.
Ele fez outro daqueles grunhidos ruídos escoceses
adoráveis.
— Bom… Significa que não preciso matar ninguém.
— Matar alguém?
— Posso matar qualquer um que te tocasse.
Um estremecimento rolou através dela enquanto se
lembrava de como ele era possessivo quando estavam juntos.
Ela virara a cabeça de um ou dois cavalheiros, um dia, mas
quando aconteceu na presença do marido, sua raiva calma
era tão palpável que os agressores, invariavelmente, fingiam
que ela era outra pessoa.

LRTHistóricos 110
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Ela secretamente amava sua possessividade, adorava


saber que ele a considerava sua. Porque ela, certamente, o
considerava seu, o início, pelo menos. Até que ela aprendera
que, em primeiro lugar, ele pertencia ao exército.
— Não é fácil para um homem… abster-se por tanto
tempo — disse ele.
— Também não é fácil para uma mulher. — Ela riu
suavemente. — Embora eu imagine que é mais difícil para
um homem.
— Quando eu disse que você estava me matando há um
momento? Não era uma mentira.
— Meu pobre, pobre escocês — murmurou ela. — Você
precisa de mim para aliviar seu sofrimento?
— Por favor — ele gemeu.
— Sim meu amor. Eu vou te dar o que você precisa.
Ela beijou seu caminho de volta para baixo que a luz
trilha de cabelo até que seus lábios cobriram a coroa de sua
ereção.
Seu corpo inteiro se sacudiu sob ela.
— Doce Jesus. Sua boca… me faz sentir tão bem.
— Mmm — ela respondeu. Ela rodeou sua base com
seus dedos e moveu sua boca para baixo sobre ele até que
seus lábios colidiram com seu polegar e indicador.
Sua mão foi para a parte de trás de sua cabeça,
pressionando-a sobre ele até que ela o levou tão profundo
quanto foi possível. Ele soltou a pressão e ela arrastou a boca
até seu comprimento, até que ela estivesse dando pequenos
beijos na sua base novamente.
LRTHistóricos 111
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Mais — ele exigiu, empurrando-a para levá-lo


profundamente, novamente.
Ela fechou os olhos e facilitou o movimento, deixando
que ele a guiasse, relaxando sua garganta para que pudesse
tomar mais dele.
Seus sentidos se encheram dele. Ele cheirava tão
quente, tão familiar, provava o homem e o sexo. Era quente,
sólido e forte sob seu corpo, suas mãos e sua boca. Seus
baixos rumores de prazer rolaram através dela, satisfazendo-
a de uma forma mais primitiva. E quando ela abriu os olhos,
viu que ele estava observando cada movimento dela, seus
olhos azuis vidrados de desejo e algo mais profundo que ela
não conseguia interpretar naquele momento.
Ela apertou o punho sobre ele, movendo a mão e os
lábios juntos. Degustação, toque, cheiro, ouvindo. Sendo um
só com ele.
Ele se apertou sob ela, os músculos de suas coxas se
transformando em pedra, os músculos do abdômen tensos e
ondulados. Sua mão apertou em seu cabelo.
— Você deve parar — ele ofegou. — Pare, Claire.
Ela fez um som de desentendimento teimoso e
concentrou-se em sua dureza e seus movimentos.
— Eu vou… está vindo.
Deus, sim, ela pensou. Seu próprio núcleo estava
respondendo a ele, apertando e esquentando até que ela
estava se contorcendo, tão cheia de luxúria que mal podia
pensar direito.

LRTHistóricos 112
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

De repente, sua mão apertou sobre a parte de trás de


sua cabeça, pressionando-a profundamente sobre ele. E veio,
sua liberação bombeando em sua garganta em rajadas longas
e quentes.
Ela fechou os olhos e bebeu nele. Quando as pulsações
finalmente cessaram, ela escorregou dele e rastejou de volta
para cima seu corpo. Beijou sua bochecha e olhou em seus
olhos atordoados. Ele piscou para ela.
— Jesus, Claire.
— Você gostou? — ela sussurrou.
Ele fechou os olhos e afundou no travesseiro.
— Não há palavras para transmitir como estou me
sentindo agora — ele murmurou.
— Acho que é uma coisa boa.
— Isto é.
Ela se dobrou contra seu lado, sentindo-se feliz e
satisfeita. Havia dado prazer ao marido. Por um momento, o
controlou completamente. Tinha feito ela se sentir poderosa e
amou a cada segundo.
Claramente ainda em um estado enfraquecido de sua
liberação, ele empurrou seu braço.
— Você é o próximo.
— Não, meu amor — murmurou ela. — Não essa noite.
Esta noite foi para você.

***

LRTHistóricos 113
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Na manhã seguinte, Rob acordou sentindo-se mais


refrescado e contente do que há muito tempo. Não desde a
última vez que acordou ao lado de sua esposa, depois de uma
noite de amor.
A única coisa que faltou ontem à noite foi ela encontrar
seu êxtase. Isso mudaria em breve, pensou com um sorriso
interior, durante o café da manhã não conseguia tirar sua
mente de todas as coisas que queria fazer para trazê-la para
aquele doce lugar.
Tantas coisas.
Ele conhecia sua esposa. O primeiro ano juntos foi sobre
descoberta. Haviam aprendido a extrair o maior prazer dos
corpos um do outro.
Talvez pudessem encontrar essa felicidade de novo, à
medida que os dias passavam, parecia uma possibilidade
cada vez maior.
Depois do café da manhã, ele e os homens retornaram
ao Home Office, onde todos desistiram de suas ligações com
os militares, tornaram-se civis novamente e prometeram suas
vidas à Coroa. Organizaram uma compensação monetária e
discutiram as despesas, uma coisa que parecia não faltar,
para a agência, era dinheiro.
Em seguida, os Cavaleiros receberam várias caixas
cheias de arquivos, o que, segundo Adams, abrangia não
apenas a rede da aristocracia com a qual eles deveriam
interagir, mas também, a situação política e os principais
atores do Norte.

LRTHistóricos 114
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Eles foram instruídos a estudar os arquivos e, em


seguida, retornar ao Home Office em uma semana, para
treinamento de espionagem.
Nesse momento, Stirling ergueu as sobrancelhas.
— Treinamento de espionagem?
— Sim — disse Adams — a Agência, da qual você faz
parte, é formada por homens que são especialistas na arte de
espionar. Sabemos que vocês sete podem lutar, então isso
não vai ser um problema, mas também precisarão se tornar
proficientes nos aspectos mais sutis da guerra.
— O homem que estou trazendo para treinar vocês, Sam
Hawkins, já passou por tudo isso. Ele já foi um soldado,
como todos vocês foram. Ele é um dos membros originais da
Agência, e agora está aposentado, mas está disposto a voltar
e compartilhar o conhecimento com vocês.
Era tão estranho para Rob ouvir essa conversa de que
ele era um soldado no passado. Ele não estava em Waterloo
na semana passada, lutando pela vida dele? Lutando pela
vida do 92?
Tomaram as caixas e voltaram para a casa da cidade,
preparando-se para estudar durante os próximos dias. E
quando Claire correu para o salão de entrada para recebê-lo,
Rob decidiu que não poderia haver nada melhor no mundo do
que voltar para casa, para o sorriso de boas-vindas de sua
esposa.

LRTHistóricos 115
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Capítulo 10

Naquela tarde, quando Rob e os homens cavaram as


caixas que, agora, estavam espalhadas por toda a sala, Claire
perguntou se Mackenzie poderia acompanhá-la até a casa de
seu pai.
Rob a atraiu para o corredor.
— Você acha que é sábio?
— O que é sábio?
Rob suspirou.
— Se o seu pai não aprovar Mackenzie.
Ela olhou para baixo.
— Eu sei. Mas nunca vi Grace tão feliz como quando
está com ele, Rob. Quero que ela seja feliz. Mesmo que seja só
por um pouco de tempo.
Rob olhou para ela para um momento de apreciação,
depois assentiu. — Veja bem. — Ele abriu a porta para o
salão. — Mackenzie! Minha esposa exige um guarda e você foi
escolhido para preencher a posição. Estamos todos aptos a
invejar você agora. Você não precisa percorrer isso — ele
apontou para as pilhas de caixas — pelo menos não esta
tarde.

LRTHistóricos 116
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Não se preocupe — disse McLeod, com a cabeça


erguida por trás de uma caixa e um sorriso maligno no rosto
— você pagará por isso mais tarde, sargento. Vou me
certificar disso.
A ameaça não parecia incomodar Mackenzie. Em vez
disso, ele se juntou a Claire na porta, olhando por cima do
ombro quando entraram no corredor. — Adeus, rapazes.
Divirtam-se! Acho que vou… vou ver a moça mais bonita de
Londres.
Eles fecharam a porta para os resmungos dos outros
Cavaleiros e Claire virou-se para Mackenzie, com uma
sobrancelha levantada.
— Sente-se impertinente hoje, Sr. Mackenzie? — Ela
perguntou levemente.
— Eu sou um homem livre — disse ele. Ela percebeu
que ele queria dizer que estava livre do exército. — Estou me
sentindo impertinente agora.
— Não posso dizer que o culpo.
O passeio de carruagem até a casa da cidade de seu pai
em Mayfair levou cerca de vinte minutos e, durante esse
tempo, Mackenzie lhe contou sobre sua infância nas
Highlands.
— Meu Pai trabalhou em uma fazenda de ovelhas em
Inverness-shire, assim, como o pai dele e o pai do seu pai,
antes disso.
— Isso soa como trabalho duro, — disse ela.
— Sim. Eu comecei a pastorear e cortar, ao lado dele,
quando eu era apenas um rapaz pequenino. Então eu fui
LRTHistóricos 117
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

para a escola em Inverness e os outros rapazes disseram que


eu nunca lavaria o cheiro, de carne de carneiro, da minha
pele.
— Você tem irmãos e irmãs para ajudar?
— Oh, sim. Seis irmãs e todas vieram depois de mim.
Ela olhou para ele com os olhos arregalados.
— Seis? Seis irmãs?
Ele acenou com a cabeça e sua boca se torceu em um
sorriso irônico. Meu pai gritou quando eu saí, me disse:
— Duncan, eu imploro. Não saia. Como suportarei esta
vida cercada por sete mulheres?
— Pobre homem — Claire disse com simpatia.
Quando chegaram à casa do conde de Norsey,
Mackenzie acalmou-se, franzindo a testa e apertando os
lábios. Ele estava nervoso, pobre homem. Ela bateu no joelho
dele.
— Não se preocupe. Só vou dizer ao meu pai que Rob
não pode vir, então ele te enviou em seu lugar. Tudo vai ficar
bem.
Ele respirou fundo e assentiu.
O velho mordomo do pai de Claire os encontrou na
porta.
— Hugh! — exclamou ela. — É tão bom ver você.
Hugh inclinou a cabeça, seus olhos castanhos
cintilando.
— E você, milady. Fico feliz que suas viagens foram
seguras.

LRTHistóricos 118
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Elas foram — ela disse, sóbria — pelo menos para


mim.
— Espero que Sir Robert esteja bem.
— Sim, ele está quase, completamente, recuperado de
sua ferida na cabeça, obrigada por perguntar.
O olhar de Hugh se moveu para Mackenzie.
— Este é o Sr. Duncan Mackenzie, ultimamente dos
Gordon Highlanders.
— Bem-vindo, Sr. Mackenzie.
— Obrigado — disse Mackenzie educadamente.
— Lady Grace e Lorde Norsey esperam por você no
salão. Hugh os conduziu para dentro e pelo corredor. Abriu a
porta da sala de estar e se afastou, para permitir a entrada.
Claire olhou para Mackenzie e lhe deu um sorriso
encorajador. Então entrou. Grace saltou imediatamente e
correu para ela, envolvendo-a num enorme abraço e
espremendo o fôlego para fora dela.
Mas quando Grace, de repente, deixou cair suas mãos,
sua respiração falhando quando sussurrou:
— Duncan? — Claire sabia que ela avistara Mackenzie.
Afastou-se de sua irmã, deixando-os para se reunirem, o que
provavelmente consistiria em um breve olhar de saudade um
para com o outro, e se virou para o pai.
— Papai.
O pai levantou-se da cadeira quando ela entrou e ficou
rígido, com as mãos retas aos lados.
— Bem-vinda, filha — disse ele formalmente.

LRTHistóricos 119
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Obrigado. É bom estar em casa. Mas não vou ficar


muito tempo. Só por uma hora ou mais e devo pegar algumas
roupas além desses vestidos de viagem. — Gesticulou,
desgostosa, com o vestido de carroça esfarrapado. — Temo
ter arruinado todos eles.
— Vai morar com seu marido?
Ela hesitou, nunca vivera tecnicamente com seu marido
em qualquer lugar, além das casas de seu pai, aqui e em
Kent. O pensamento de fazê-lo era assustador e excitante ao
mesmo tempo.
— É muito cedo para dizer — disse ela calmamente. —
Mas por agora, sim, vou ficar com ele.
— Eu vejo — seu pai disse firmemente. Olhou para além
de seu ombro, suas sobrancelhas franziram quando viu
Mackenzie.
— Papai, posso apresentar Duncan Mackenzie. Ele era
um soldado no regimento de Rob. Sr. Mackenzie, este é meu
pai, o conde de Norsey.
— Milorde — disse Mackenzie com um ligeiro arco.
O pai deu um curto aceno de cabeça, os olhos azuis
examinando o jovem com desinteresse.
— Eu pedi chá — murmurou Grace nervosamente. —
Vamos todos sentar?
— Sim — Claire disse — essa é uma ideia maravilhosa.
Todos se sentaram, Claire e Grace no sofá, Mackenzie e
seu pai olharam-se inquietos, em suas poltronas. Uma
empregada entrou com o serviço de chá, e Grace serviu chá
para seu pai e Mackenzie.
LRTHistóricos 120
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Você gosta de açúcar no seu chá, Sr. Mackenzie?


— Não, obrigado. — Ele parecia rígido e formal, tão
diferente de quando estava entre os Cavaleiros.
Beberam chá em silêncio até que, desesperada, Claire
começou a discutir o tempo. Ela desprezava as discussões
meteorológicas, mas não sabia mais o que fazer.
Mas o tópico não era válido, todos concordaram que era
muito úmido para o conforto e só.
Assim, quando Claire estava prestes a falar da lâmpada
nova que vira no corredor, seu pai tomou um último gole e
depois firmemente pousou sua xícara de chá sobre a mesa.
— Bem… — disse desconfortavelmente — devo retornar
ao meu trabalho. É bom ver você, filha.
— E você também, papai — murmurou ela.
Mal olhou para Mackenzie, antes de sair da sala.
Quando a porta se fechou atrás dele, Claire e Grace
soltaram respirações simultâneas. Claire sorriu para
Mackenzie.
— Sinto muito pelo nosso pai. Ele não é o homem mais
amigável na melhor das circunstâncias. Mesmo os homens
que têm sido membros do mesmo clube há anos tendem a
rotulá-lo de frio e intransigente.
— Ele não é, no entanto — Grace colocou. — Ele é
apenas… Bem, ele pode ser um pouco difícil. Claire e eu
passamos nossas vidas em sua casa e sentimos que,
finalmente, poderemos compreendê-lo.
— Só levou cerca de vinte e dois anos — Claire disse
com uma pequena risada.
LRTHistóricos 121
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Ele é um homem formidável — disse Mackenzie em


voz baixa. Ele olhou para sua xícara de chá por um momento,
então olhou para Grace. — Talvez esta não tenha sido uma
boa ideia. Eu não deveria ter vindo.
Grace ofegou.
— Claro que você deveria! Você percebe o quanto eu…
Ela parou. Esta era definitivamente a pista de Claire,
então se levantou, seguida, menos de um segundo depois, por
Mackenzie. Ela deu-lhe um sorriso de desculpas.
— Você ficará bem sozinho por um tempo? Tenho tanto
que quero levar na volta para casa, provavelmente devo
começar a fazer as malas. Ela gesticulou para a irmã. —
Tenho a certeza de que Grace não se importará em fazer-lhe
companhia.
Ela olhou para a irmã. Grace acenou com a cabeça, seu
olhar dizendo: obrigada.
De nada, minha querida irmã.
Claire os deixou sozinhos. Ela chamou Mary e as duas
subiram as escadas para recolher roupas frescas e outros
itens que precisaria na casa da cidade. Claire se certificou de
demorar um bom tempo para fazer as malas, queria dar a
Grace e Mackenzie o máximo de tempo possível.
Uma hora mais tarde, chamou a carruagem, despediu-
se do pai e foi até o salão buscar Mackenzie. Bateu, na porta,
esperou, depois bateu de novo antes de entrar. Sua irmã
estava sentada de volta no sofá e Mackenzie na poltrona. Os
dois pareciam relaxados, mas Claire viu os cabelos
desalinhados da irmã e os lábios brilhantes.
LRTHistóricos 122
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— É hora de ir — disse a Mackenzie. Sentia-se feliz por


eles, mas triste ao mesmo tempo.
Rob tinha razão, qualquer tipo de correspondência entre
os dois era impossível.

***

Naquela noite, Rob foi acordado ao som de gritos. Olhou


para a esposa, que ainda dormia. No entanto, os gritos
continuaram, abafados por muitas portas, mas, ainda assim,
claros.
— Pare. Pare. Não! Eu vou matá-lo primeiro!
Rob se apressou a sair da cama, agarrando sua adaga e
jogou um xadrez ao redor dele enquanto saía do quarto de
dormir. Correu ao som da voz, na outra extremidade do
corredor, quando as portas se abriram ao seu redor,
revelando Innes, Mackenzie, McLeod, Fraser e Ross, que
saíram atrás dele. Quando Rob chegou à porta de Stirling, a
abriu.
Stirling estava em sua cama, cobertores e lençóis
enrolados em torno dele como uma prisão. Ele estava lutando
até a morte, com um travesseiro e estava ganhando. Penas e
tiras de pano voavam ao acaso.
— Não! Não! Seu bastardo — ele rosnou.
Rob voltou-se para os outros homens.
— Fiquem aqui — disse ele calmamente. Stirling não
precisava ficar envergonhado por um grupo de homens
olhando para ele. Os rapazes recuaram, e Rob fechou a porta.
LRTHistóricos 123
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Caminhou com passos firmes para Stirling, que ainda estava


no meio da batalha dos sonhos.
— Maldito seja você. Maldito seja!
— Capitão — disse Rob severamente. Stirling não
pareceu ouvi-lo.
— Capitão Stirling! Retirada. Retire-se agora! Isso é uma
ordem.
Stirling olhou ao redor, confuso, com os olhos selvagens.
— Olhe para mim, cara — ordenou Rob.
Stirling fez, piscando.
— É o major Campbell, capitão, e estou dando-lhe uma
ordem. Você deve recuar. Pare! Agora! Você me ouve?
— Sim — Stirling disse bruscamente. — Sim, eu ouço.
Mas… — Ele piscou novamente, seus olhos parecendo
lentamente recuperar o foco. Ele olhou para o quarto. — Eu
não sou… Onde estou?
— Em Londres.
— Em Londres — repetiu Stirling, como se as palavras
fossem estranhas.
— Sim. Na casa que nos foi concedida pelo Ministério do
Interior.
Stirling franziu a testa. — Onde estão os sapos?
— Eles se foram. Todos eles. Estamos seguros aqui em
Londres.
Lentamente, Stirling sacudiu a cabeça.
— Mas eles estavam atrás de mim. Eles estavam aqui e
estavam atrás de McLeod. — Ele se concentrou em Rob. — E

LRTHistóricos 124
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

de você, iam matá-lo. Depois iam me matar, eu não poderia


pará-los.
— Você os deteve. Olhe para o seu travesseiro.
Stirling piscou para ele.
— Eu não estava lutando?
— Você estava… mas apenas com o travesseiro. Você
sonhou o resto.
Stirling estremeceu.
— Parecia… tão real.
— Sim. — Rob sentou-se na beira da cama, quieto por
um momento. Então passou a mão pelo cabelo. — Ainda
parece real. É real. Não acho que poderemos nos afastar de
algo assim e esquecê-lo em um dia.
Stirling olhou em volta para a destruição que causara
em sua cama, então em seu colo, suas mãos se retorciam,
inquietas, juntas.
— Nunca esquecerei.
Ele estava certo. Rob nunca esqueceria, tampouco.
— Estou ficando louco, Major — sussurrou Stirling.
— Não. Nem todas as feridas da batalha estão na pele,
Capitão — disse Rob suavemente. — Você vai curar, só vai
demorar um pouco.
— Eu vou?
— Sim. — Embora Rob soubesse que havia algumas
feridas que nunca saravam, por dentro e por fora. Mas um
homem encontrava uma maneira de viver com elas, como
Stirling, eventualmente.
Stirling deu um suspiro trêmulo.
LRTHistóricos 125
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Rob sentou-se com ele por muito tempo e Stirling


começou a falar de sua experiência no campo. Pouco tempo
depois, as palavras foram se derramando dele.
Separado de Rob e McLean, ele perdera seu cavalo para
o fogo de artilharia, quase, imediatamente. A pé, ele avançara
pela fumaça grossa, incapaz de distinguir o sapo, de aliado.
Ele ouviu um grito e se virou para ver, logo atrás dele, um
dos 92º tenentes, apunhalado nas costas com uma baioneta
que cortava seu corpo. Enquanto Stirling permanecia em
estado de choque, o corpo havia caído, pulverizando-o com
sangue, que o cegou momentaneamente.
Continuou, o horror da batalha de Stirling.
Rob estava lá. Fora parte do horror, também, mas todos
tinham sua própria história e ele deixou Stirling dizer sua
parte. O homem precisava liberar esse veneno.
Finalmente, algumas horas depois, Stirling fechou os
olhos e inclinou a cabeça para trás.
— Quando a fumaça se aclarou um pouco, eu reuni
todos os rapazes que pude encontrar, não havia tantos
quanto deveria. Eu sabia que tínhamos sofrido terríveis
perdas, então vi McLeod, mais a baixo, com sua perna
cortada. Os homens e eu o levamos para cima e ajudamos a
voltar ao acampamento.
— Você fez bem, capitão.
— Não me sinto assim. A batalha é um negócio muito
feio para se sentir bem nela.
— Sim, é verdade. Mas lembre-se, você protegeu o seu
próprio país e ajudou Wellington a conquistar a vitória. E
LRTHistóricos 126
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

nós, paramos aquele bastardo do Napoleão, de uma vez por


todas.
— Sim, fizemos, não é?
— E se fizemos.
Pela primeira vez, uma sombra de sorriso apareceu no
rosto de Stirling.
— Obrigado, Major.
Rob assentiu com a cabeça.
— Eu sempre serei seu homem de confiança.
— E eu sempre serei o seu — disse Rob gravemente.
Afinal, eles não eram mais capitão e major. Eram iguais
agora, irmãos, Cavaleiros das Highlander. O que quer que
tivesse acontecido, estavam juntos nisso.

LRTHistóricos 127
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Capítulo 11

Na manhã seguinte, enquanto um amanhecer, cinzento,


tentava iluminar o céu, Claire já estava acordada, pensando
em Jamie. Sonhara com ele, e em seu sonho, em uma voz de
bebê, ele lhe disse:
— Eu te amo, mamãe.
Amanhã é dia 29 de junho. O primeiro aniversário de
seu filho.
Ela fechou os olhos com força e permaneceu em silêncio
por um tempo, tentando não deixar que tudo a dominasse,
como das outras vezes. Estava com Rob novamente e
precisava ser forte.
Eventualmente, seu marido começou a se mexer. Ele
passou um braço em volta dela e pressionou seus lábios
contra seu cabelo.
— Bom dia! — ele murmurou, sua voz áspera de sono.
— Bom dia! — ela se voltou. — Como você sabia que eu
estava acordada?
— A propósito, você estava respirando. Suas respirações
vêm mais e mais profundas quando você está dormindo.

LRTHistóricos 128
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Mmm — ela disse, tanto como uma resposta, como


para a maneira que ele estava acariciando sua bochecha. Sua
mão deslizou para baixo sobre sua camisola, mergulhando
abaixo de sua cintura então dirigiu-se para cima de seu
quadril e abaixo de sua coxa. Ele agarrou a bainha de sua
camisola com a curva de seu dedo e arrastou-a para cima
enquanto pressionava beijos em sua mandíbula.
Seu toque a acalmou, fazia com que se sentisse querida
e amada. E segura. Quando Rob a tocou, afastou seus
pensamentos mais sombrios para que não a dominassem.
Ela se virou para ele e apertou um beijo em sua camisa,
bem sobre seu coração.
Ele puxou sua camisola.
— Tire isso, amor.
Sentou-se e ajudou-o a erguê-la sobre a cabeça. Quando
ela voltou a se deitar, Rob apertou suas mãos sobre sua
cintura e se inclinou, tomando um seio na boca.
Sua cabeça arqueou para trás, um calor doce
atravessou-a, envolvendo em torno de seu centro e fazendo
seu corpo pulsar de desejo, com necessidade.
Ele se moveu para o outro seio, atendendo seu desejo.
Ela o queria dentro dela, não mais provocando, evitando.
— Eu preciso de você — ela sussurrou.
Colocando seus seios em, ambas, as mãos, brincou nos
seus mamilos com os polegares enquanto olhava para ela,
para seus olhos azuis claro que pareciam o céu refletido
através de um bloco de gelo.
— Você?
LRTHistóricos 129
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Sim.
Ele piscou, seus longos cílios se curvaram sobre seus
olhos e então se levantou para ela.
— Eu também quero você, Claire. — ele hesitou. — Mas
eu não quero te machucar. — Suas mãos deslizaram
suavemente para baixo de seus seios, então ele enrolou seus
dedos em punhos e os pressionou no colchão.
Emoções abafadas borbulharam em seu peito, mas ela
as desafiou em submissão.
— Você não vai me machucar. — ela engoliu em seco.
Rob não estava lá, então não saberia. — O médico disse que
eu estava muito saudável e o que aconteceu foi a vontade de
Deus, não resultado de alguma falha no meu corpo. Disse
também que, se eu gerar outra criança, não deverá acontecer
de novo.
Uma longa respiração veio de Rob. Dessa vez ele fechou
os olhos por vários segundos.
— Por que você não me disse isso?
— Não parecia o tipo de coisa para se escrever em uma
carta. E não o vi… até Waterloo. Nós fomos distraídos por
preocupações mais imediatas, mas estou dizendo agora.
Seus dedos passaram por seus cabelos e ele segurou a
parte de trás de sua cabeça em sua palma.
— Estou feliz. Quero que você queira ter seus próprios
filhos.
— Mas você não?
— Sim, eu quero. Porque você quer.

LRTHistóricos 130
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Mas você tem pensado que se perdi uma criança,


pode acontecer de novo?
— Sim. Quando saí de Norsey House, não estava certo…
— Ele balançou a cabeça. — Eu não teria arriscado.
Ela ficou quieta por um momento. Teria ele não só
permanecido fiel, mas também planejado abster-se de
relações, com ela, por medo de acontecer novamente?
— Você estava realmente pensando que nunca mais
poderia ir a cama de sua esposa novamente? — Ela
perguntou suavemente.
Seu olhar se tornou cauteloso.
— Sim.
— Você não é um homem que pode passar a vida como
celibatário, Rob. Como você conseguiu?
Seus olhos brilhavam.
— Havia muitas outras maneiras que nós poderíamos
dar prazer um ao outro. Duas das quais já praticamos nas
últimas noites.
— Isso teria sido suficiente? A maioria dos homens
tomaria uma amante ou um amante.
Ele tocou sua bochecha e balançou a cabeça.
— Eu sou um homem de uma só mulher. Aquela
mulher, para melhor ou pior e é você, amor.
Ela suspirou alegremente. Rob era um homem,
inerentemente, bom. Não havia realmente outro marido como
aquele que escolhera. Que a escolhera.
— Eu senti tanto sua falta — ela sussurrou.
— Me beije.
LRTHistóricos 131
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Ela fez. O beijou até que sua respiração tornou-se curta


e seu corpo , novamente, apertado de necessidade. O beijou
até que o tecido de sua camisa, entre eles, tornou-se muito
irritante, se afastou e tirou dele. Então, pele contra pele com
o marido, o beijou um pouco mais, empurrando suas mãos
em seu cabelo e puxando-o para ela enquanto esfregava seu
corpo, sem querer, contra o dele.
Suas mãos vagavam por todo o corpo dela, acariciando
seu pescoço, seu queixo, movendo-se sobre seus seios,
acariciando e provocando, então baixando, sobre sua barriga
e pernas. Ele apertou uma das mãos entre suas coxas, então
tocou seu sexo suavemente, beijando-a durante todo o tempo,
esfregando os dedos sobre sua carne sensível como havia
tocado seus seios, mais cedo.
Só levou alguns minutos disto antes que ela estivesse
ofegante, se contorcendo incontrolavelmente sob sua
habilidosa mão. De repente, ele se afastou e, ainda beijando-
a, rolou-a sobre suas costas e se acomodou sobre ela, o
comprimento de sua ereção pesado em sua perna.
Ele moveu seu corpo sensualmente sobre o dela, a pele
mais áspera de seu peito esfregando sobre seus seios,
fazendo-a gemer com os pequenos choques de prazer.
Ela o envolveu com seus braços.
— Agora, Rob. Eu quero você agora.
— Sim? — O ressoar de sua voz ressoou dentro dela.
— Sim — ela sussurrou.
Segurando seu olhar, um leve sorriso curvando seus
lábios, ele afastou os joelhos.
LRTHistóricos 132
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Seu pênis pressionou contra sua abertura, então


pairava lá, e ela soltou um sibilo de prazer impaciente.
— Agora! — ela exigiu.
Ele riu. Então, em um movimento suave, ele empurrou
todo o caminho dentro dela.
Seu corpo se curvou para cima quando respirou fundo.
Tinha passado mais de um ano, ela estava tão apertada que
ele a esticou até seus limites.
— Olhe para mim.
Ela lutou para abrir os olhos e se concentrar nele.
— É muito? — murmurou.
Seus dentes correram sobre seu lábio inferior enquanto
ela balançava a cabeça. Ao mesmo tempo, ela tentou mexer-
se contra ele para que fosse, ainda, mais fundo.
— Não — ela disse, olhando-o em um desafio de olhos
estreitos. — Mais.
Rob fechou os olhos.
— Jesus Cristo! Não há nenhuma mulher no mundo
como você, esposa.
A satisfação percorreu suas palavras, porque podia dizer
que, realmente, acreditava nelas. E ele adorava que ela fosse
sua, nunca se importara que ela fosse uma mocinha
descarada. E porque, antes de Waterloo, ele nunca falara o
nome do Senhor em vão, na sua presença. Agora, ele estava
revelando mais de si mesmo, tratando-a, cada vez menos,
como se ela fosse feita de vidro.
Antes que ela pudesse ter outro pensamento, ele se
afastou dela, quase saindo, então empurrou de novo, tão forte
LRTHistóricos 133
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

que enrolou os dedos dos pés. Ela soltou um pequeno


suspiro, então murmurou:
— Sim. Mais.
Desta vez, inclinou sua pélvis, encontrando-se com ele,
carne contra carne, quando entrou nela.
— Você se sente tão bem. Você sempre se sente tão bem
— ele sussurrou, soltando a cabeça para lamber o lóbulo da
orelha dela.
— Não existe em qualquer lugar, algo, perto que me faça
sentir tão bem, como quando você está dentro de mim — ela
retornou.
Depois disso, não havia mais palavras. Só prazer.
Unidade. Com fortes e duros golpes, Rob trouxe Claire ao seu
êxtase. E quando ela alcançou, agarrou seus ombros e jogou
a cabeça para trás, e deixou as doces pulsões fluírem através
de seu corpo.
Ela desmoronou, tremendo, quando acabou, mas Rob
não cedeu. Seu ritmo nunca vacilou até que ela voltasse.
Só então ele se deixou ir. Seu ritmo tornou-se errático e
Claire ofegou com cada empurrão quando ele cresceu, ainda
maior, dentro dela. E então ele deu um impulso final,
poderoso e ficou imóvel, seu corpo tremendo. Ela sentiu os
pulsos de sua libertação dentro dela e fechou os olhos, ainda
segurando-o dentro dela, com toda força que podia,
perguntando-se se ela ficaria grávida novamente.
E se ela ficasse, como suportaria? Da última vez foi tudo
alegria e expectativa. Se acontecesse de novo… seria o mais
assustador, de nove meses de sua vida.
LRTHistóricos 134
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Ela soltou uma exalação, trêmula, enquanto ele se


retirava, depois se deitou de lado, puxando-a contra ele para
que se deitasse, de costas, de frente a ele.
A mão dele vagou sobre a pele nua, então pressionou
seu estômago. Claire prendeu a respiração, desejando que ele
afastasse a mão rapidamente. Mas ele não o fez, se instalou
ali, sua mão pesada e confiante em sua pele.
Era onde ele a segurava durante a noite, nos meses em
que ela carregava Jamie, fascinado pela curvatura, pois
parecia crescer um pouco, mais, a cada dia. Ele costumava
adormecer assim, a seu lado, suas costas pressionadas
contra sua pélvis. Com a mão em seu estômago, como se
dissesse: agora, pequeno Jamie, deixe a sua mãe dormir.
Era demais. Havia muita tristeza, muitos
arrependimentos. Ela respirou fundo, e as lágrimas, as
primeiras em muitos meses, cresceram sobre suas pálpebras
e deslizaram pelo lado do rosto.
Ela tentou detê-las, tentou, no mínimo, esconder de seu
marido o fato de que estava chorando. Mas não podia. Fazia
quase um ano que não chorava, e agora que as lágrimas
começaram, não conseguia detê-las. Dez meses de sofrimento
reprimido estava saindo para fora.
Mesmo assim, demorou um pouco até que Rob
percebesse que estava chorando. Lentamente, seu braço, que
protetor, não estava cobrindo nenhum bebê Jamie… porque o
bebê Jamie se foi… afastou-se. E ela sabia o que viria a
seguir. Sua completa retirada.
— Claire?
LRTHistóricos 135
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Apenas vá embora — ela ofegou. Porque era assim


que ia acabar. Era como sempre terminava.
— Eu te machuquei?
— Não!
— Então o que há de errado? — Ele soou totalmente
confuso.
Ela abraçou seus joelhos contra seu peito. Ele não
entenderia, nunca tinha entendido seu pesar por Jamie e
ainda não entendia. Como ela poderia ter esquecido o pouco
que ele existira?
— Pare com isso agora — ele disse severamente.
Ela ofegou e apertou mais seus joelhos contra seu peito,
seus ombros agitando com soluços silenciosos.
— Não está ajudando — ele disse rudemente. — Calma e
me diga o que você precisa.
Ela não se acalmou, não lhe disse o que precisava. A
verdade era, ela precisava que ele se importasse. Mas se ele
não se importava, então como poderia ajudá-la? Não podia,
era impossível.
— Claire, você precisa parar com isso.
Ela apertou os olhos, os soluços ficando mais fortes do
que nunca.
— Claire! — Ele estalou. Então fez um barulho escocês,
revoltado, quando ela não se moveu.
Ele suspirou e a cama se moveu quando ele saiu.
— Bem… Se é isso que você quer, eu vou. Estou
atrasado, de qualquer maneira. Você sabe que temos a

LRTHistóricos 136
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

reunião com Sam Hawkins. Os rapazes provavelmente estão


prontos.
Isso mesmo, Rob. Vá para seus homens. Isso é o que
você sempre fez, agora não é exceção.
Ela teria dito tudo, isso se não estivesse chorando tanto.
Mas não podia falar, mal conseguia respirar.
Por favor, fique, Rob. Por favor, segure-me. Por favor, me
ajude a superar isso.
A porta se fechou silenciosamente quando saiu.

LRTHistóricos 137
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Capítulo 12

Claire chorou por uma boa hora. Então, quando os


homens foram embora e a casa estava quieto, lavou seu rosto
e chamou Bess.
Embora devesse ter visto os olhos vermelhos e a pele
pálida de Claire, Bess não comentou. Em seu modo eficiente,
vestiu e atou-a em questão de minutos, então embrulhou o
cabelo de Claire em uma torção e fixou-o no lugar.
Claire levantou-se duramente e pegou o capote, que
combinava com seu vestido verde.
— Preciso que me acompanhe numa caminhada, Bess.
Você poderia?
— Claro, milady.
— Eu quero ir para casa do meu pai — ela explicou. —
Mas eu não lhe escrevi uma nota solicitando que enviasse a
carruagem. Não está longe.
— Não é problema, milady.
Ela e Bess caminharam para Mayfair, em silêncio.
Quando chegaram, ela disse adeus a Bess, refletindo que,
provavelmente, nunca mais veria a mulher novamente.

LRTHistóricos 138
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Depois entrou pela entrada dos criados. Quando entrou


no corredor, a primeira pessoa que viu foi Hugh, o mordomo,
que quase deixou cair o serviço de prata o qual carregava,
quando a viu.
— Minha senhora! O que está…
— Sabe onde está Grace?
— Claro. Lady Grace está em seu quarto.
— Obrigado, Hugh. — Erguendo as saias, correu para as
escadas, abriu a porta do quarto. Grace escrevia uma carta e
se virou, sua mão indo contra o peito enquanto a porta batia
contra a parede.
— Meu Deus, Claire! O que está…
— Eu tenho que ir, você irá comigo?
Grace franziu o cenho.
— Ir? Onde?
— Para Norsey House.
As feições de Grace congelaram e houve um longo
momento de silêncio. Então ela se levantou e foi fechar a
porta atrás de Claire, tomou as mãos de Claire nas suas
próprias e as esfregou.
— Suas mãos estão tão frias. O que aconteceu querida?
O lábio inferior de Claire tremeu.
— Eu preciso ir vê-lo.
— Vamos ter que…
— Eu preciso vê-lo hoje.
Grace hesitou, então assentiu com a cabeça, seus olhos
estavam vidrados. Colocou os braços em volta de Claire e
puxou-a contra si, acariciando-a suavemente.
LRTHistóricos 139
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Sim, sim, claro. Iremos até ele hoje. Assim que


pudermos preparar a carruagem.
Claire fungou e apertou a irmã com força.
— Obrigado. Muito obrigado, Grace.
Grace sempre entendeu.

***

Rob ficou preocupado com Claire o dia todo. Estava tão


confuso, como as coisas podiam estar tão certas, então, em
questão de segundos, dar tão, horrivelmente, errado?
Seria bom para ele deixá-la nesse estado? Ela pediu que
ele se fosse, mas também lhe pedira isso no passado, e não
acabara bem. Ainda assim, se tivesse ficado, o que poderia
ter dito para melhorar as coisas?
Nunca se sentira tão desamparado, tão ineficaz, como
quando sua esposa chorava. Ele era um solucionador de
problemas por natureza, então, sua abordagem às lágrimas
era o mesmo que sua abordagem a qualquer outro problema.
Discernia a maneira de resolver o problema, então resolvia.
Mas com as lágrimas de Claire… nada do que fizera
resolvera o problema. Seus esforços só pareciam ter sucesso
em torná-lo pior.
E ele odiava… odiava vê-la sofrendo, odiava não saber
por que estava sofrendo, mas ela não diria a ele. Pior de tudo
era o fato de que não poderia corrigi-lo.
Então, enquanto Sam Hawkins falava com eles sobre
algumas de suas missões anteriores para a Agência, a mente
LRTHistóricos 140
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

de Rob pensava, se ficar longe de Claire era uma boa ideia ou


se era o pior erro de sua vida.
Talvez estivesse certo em aceitar o desejo dela, de que a
deixasse, pois dar-lhe-ia tempo para se acalmar, para
começar a pensar, racionalmente, novamente. E quando
voltasse para casa esta noite, ele poderia perguntar-lhe qual
era o problema e então ele seria capaz de resolvê-lo.
Esse pensamento o sustentava, mas a preocupação
ainda o apertava. O que poderia ser? Tudo estava indo tão
bem. O que ele tinha feito para arruinar… mais uma vez?
O dia foi longo. Sam Hawkins ensinou aos homens
algumas maneiras de serem discretos entre os membros de
sua classe. Entre os ingleses, comparativamente, sem
emoção.
Emoções.... Quando pensava em si e sua esposa, eles
possuíam uma maneira tão diferente de expressá-las.
Evidentemente, a regra dos ingleses, sem emoção, não se
estendia às mulheres.
Retornaram à casa da cidade no início da noite. Innes,
Ross, Fraser e McLeod pediram permissão para experimentar
os novos cavalos que Adams arranjara, para eles. Stirling,
que estava cansado depois de sua longa noite, na noite
passada, foi para seu quarto dormir. Mackenzie disse que
queria escrever algumas cartas.
Rob acenou para todos e foi à caça de sua esposa.
Ficara preocupado quando não viu seu rosto sorridente,
assim que abriram a porta. Deus! Talvez ela ainda estivesse
no quarto, chorando.
LRTHistóricos 141
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Não estava lá. A cama estava elegantemente feita e tudo


se encontrava em silêncio. Vagou pelo corredor chamando
seu nome e quase correu para a empregada, Bess.
— Oh, sinto muito, Sir Robert — disse a mulher com
uma reverência.
— Você viu minha esposa? — Ele disse.
Bess franziu o cenho.
— Sim, senhor. Ela foi para a casa do Lorde Norsey.
— Ela lhe disse quando voltaria para casa?
— Não senhor, não disse.
Rob girou e voltou para o quarto que partilhava com
Claire. Sentou-se na borda da cama, empurrando a mão no
cabelo. O que isso significava? O que poderia fazer?
Estava perdido. Não sabia se estava zangada, se ainda
estava triste, se voltaria para casa, se queria que a
encontrasse na casa de seu pai.
Em suma, não tinha ideia do que estava acontecendo e
nenhuma ideia de como consertá-lo. Ele precisava de ajuda.
Ele saiu da cama e caminhou até o fim do corredor, até
o quarto de Stirling. Hesitou, mas depois decidiu que uma
distração poderia ser boa para seu amigo. Bateu
bruscamente três vezes.
— Desculpe incomodá-lo, Stirling. Mas, você se importa
de vir ao salão por alguns minutos?
— Eu estarei lá. Dê-me um momento — veio a voz de
Stirling.
Rob caminhou três portas para baixo e bateu à porta de
Mackenzie. Mackenzie parecia ter feito grandes progressos
LRTHistóricos 142
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

com a irmã de Claire, poderia ter alguma ideia das mentes


complexa dessas mulheres. Rob fez o mesmo pedido, a
Mackenzie, que fizera a Stirling e desceu as escadas para
esperá-los.
Ele andava, pelo quarto, quando os dois outros homens
entraram.
— O que há de errado, Major? — Perguntou Stirling.
— Você precisa parar de me chamar de major, Stirling.
Eu não sou um major. Não mais.
Stirling encolheu os ombros, sem entusiasmo.
— Você sempre será um major para mim. Seja como for,
não vou chamá-lo Sir Robert, como nunca me chamará Sir
Colin.
Rob pousou em uma das poltronas.
— Você está certo. Não acho que me seja possível,
pensar em você como Sir Colin.
Stirling bufou.
— Eu não acho que vai ser familiar, mesmo para mim.
— Ele se sentou no sofá em frente a Rob e Mackenzie sentou
ao lado dele. — Por que você nos chamou aqui… Major?
Rob suspirou.
— É a minha mulher.
Ambas as sobrancelhas dos homens levantaram-se e
eles se entreolharam, surpresos.
— Onde está Lady Campbell? — perguntou Mackenzie.
— Ela foi à casa do pai.
— Para visitar Lady Grace? — perguntou Mackenzie.
— Eu não acho.
LRTHistóricos 143
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Então por quê? — Stirling perguntou.


— É por isso que preciso da ajuda de vocês, rapazes. —
Rob ergueu as mãos em confusão. — Não tenho a menor
ideia.
Disse-lhes sobre esta manhã, salvo os detalhes
confidenciais. Ele fechou os olhos, lembrando-se de sua pele
suave contra a ponta dos dedos. Ele disse que acordara para
descobrir que ela, já, se encontrava acordada e ele a abraçou.
— E então — ele disse — ela começou a chorar.
— Ela começou a chorar? — perguntou Mackenzie.
— Sim.
— Por quê?
— Não tenho a menor ideia. Eu… eu estou perplexo. —
Ele balançou a cabeça em confusão.
— E o que você fez? — Stirling inclinou-se para a frente,
interessado.
— Bem, eu disse a ela para parar.
— Você… disse-lhe para parar! — Stirling repetiu
lentamente.
— Sim. — Rob franziu o cenho para Stirling.
— Então o quê? — perguntou Mackenzie.
— Bem, eu disse a ela que deveria se acalmar porque
não poderia falar comigo naquele estado. Disse que deveria
parar, mas ela não me ouviu. Ela me disse para ir, então, eu
fui embora.
— Você saiu? — Stirling perguntou, horrorizado.
— Sim. — Seu cenho franzido se transformou em uma
carranca. Tanto Mackenzie como Stirling o olhavam como se
LRTHistóricos 144
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

acreditassem que a decisão fora muito ruim. — Vocês


estavam esperando por mim — ele disse para explicar. — E
ela me disse que queria que eu fosse embora. Então eu o fiz.
Stirling gemeu e Mackenzie tocou com a borda do tecido
em sua testa.
— O que eu fiz de errado? — Rob perguntou, confuso
como sempre.
— Você não pode se aproximar de todos como fez na
noite passada comigo — disse Stirling. — Eu sou um soldado
e você é meu oficial comandante. Quando você exige que eu
pare de fazer algo, tomo isso como uma ordem e paro… se
puder. As mulheres são diferentes, você não pode dar ordens
a elas.
— Especialmente quando estão exaustas — acrescentou
Mackenzie. Depois de um breve silêncio, ele perguntou. —
Tem alguma irmã, major?
— Só um irmão.
— Tenho seis irmãs.
Rob tossiu.
— Desculpe cara — ele disse em simpatia.
— Você se acostuma com elas.
— Ou você comete o pecado do suicídio — disse Stirling
alegremente — ou do assassinato.
— E quantas irmãs você tem, Stirling? — perguntou
Rob.
— Eu tenho duas. Mas elas são gêmeas, são dois anos
mais velhas do que eu e tiveram um prazer, especial, em fazer
dos meus primeiros anos, um inferno.
LRTHistóricos 145
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Rob esfregou as têmporas.


— Eu não sei o que fazer. Vocês estão me dizendo que
eu não deveria ter deixando-a esta manhã?
— A primeira regra — disse Stirling — nunca deixe uma
mulher chorando.
Rob gemeu.
— Por que não? Não posso falar com ela quando está
nessa condição.
— Muitas vezes, você não precisa falar — disse
Mackenzie.
— Então, o que você faria?
— Acaricie-a — disse Mackenzie. — Acaricie suas costas
e seus cabelos. — Ele demonstrou, fazendo pequenos
movimentos de afago no apoio do braço da sua cadeira.
— Bem, ela não é sua irmã — disse Stirling com um
sorriso irônico. — Você pode pegá-la em seus braços, beijá-la,
depois, acariciá-la.
— E limpe suas lágrimas.
— Certifique-se de fazê-lo suavemente — Stirling
admoestou.
— Não consigo ver como isso resolve o problema —
argumentou Rob.
— Quando uma mulher chora, é porque está ferida de
alguma forma. Pode ser uma mágoa do momento, ou do
passado — disse Mackenzie. — Geralmente não há como
dizer qual. Há pouca lógica nisso e, às vezes, não há maneira
de resolver o problema naquele momento, como você pode
querer.
LRTHistóricos 146
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Fez alguma coisa para aborrecê-la esta manhã? —


perguntou Stirling.
Rob balançou a cabeça, lembrando-se de como a fizera
alcançar o êxtase, duas vezes. Como estava perfeitamente
contente e relaxada, até que ele a puxou contra ele e segurou-
a.
— Não. Nada.
— Uma mágoa do passado então. Ela tem alguma coisa
que possa crescendo, dentro dela?
Rob apertou os lábios e balançou a cabeça. Mas, é claro,
uma coisa veio à mente, imediatamente.
Eles tinham se abstido, deliberadamente, de falar sobre
Jamie. As coisas pareciam se desintegrar sempre que o
faziam, e o que estava crescendo entre eles era tão frágil que
poderia ser arruinado com uma palavra irritada.
— E quanto a Waterloo? — perguntou Mackenzie. —
Algo aconteceu com ela lá?
— Talvez fosse demais para ela, uma inglesa de sua
criação, vendo toda aquela miséria e pestilência — comentou
Stirling.
— Não — disse Rob com dureza. — Ela é forte. Não foi
fácil para nenhum de nós, mas ela não foi prejudicada por
isso. Ela é uma mulher forte.
— Ela parece ser. — Mackenzie franziu o cenho. — E
então? Algo deve ter devastado ela.
Rob esfregou o dorso de sua mão sobre seus olhos,
tentando esconder qualquer emoção que pudesse demonstrar
neles.
LRTHistóricos 147
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Ela pensara em Jamie. Havia apenas uma outra vez que


ele vira Claire chorar assim, e, isso foi nos dias após a morte
do bebê.
Ele também se afastara. Como você resolve o problema
de seu filho estar morto? Não havia solução. Naqueles dias,
Rob não queria nada mais do que a capacidade de trazer seu
filho de volta, para ela e para si mesmo.
Tentara, desajeitadamente, consolá-la, mas Claire não
queria ser consolada, queria que ele fosse embora. Assim,
quando o regimento foi chamado, ele saiu, sentindo-se
impotente, inútil e, completamente, vazio.
Ele a deixara. Se o que Mackenzie e Stirling lhe diziam
fosse verdade, ele cometera um enorme erro.
— Você sabe o que foi — Stirling disse suavemente. — O
que a incomodou?
Rob deu a ele um olhar sombrio.
— Sim. Eu sei.
Mackenzie e Stirling olharam para ele por um momento.
Quando ele não falou nada mais, Mackenzie disse:
— Eu entendo por que ela saiu. Você se afastou dela,
primeiro. Ela sente que você não se importa.
Rob piscou para o homem mais novo, surpreso. Então
trincou os dentes.
— Não. Não é possível.
Nada… nada o havia destruído, mais, do que ver seu
filho dar o último suspiro. Nada.
Claire sabia disso. Ela devia saber.

LRTHistóricos 148
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Mas você foi embora — disse Stirling suavemente. —


Por que ela pensaria que você se importa? Você lhe deu
alguma indicação de que sim?
— É claro que eu… — Ele parou.
Ele a deixou uma semana depois que Jamie morrera.
Ela ainda estava acamada, recuperando-se e oprimida pela
dor. Ele voltou para Norsey House dois meses, depois, para
encontrá-la irritada, dizendo que o odiava e que nunca mais
queria vê-lo novamente. Desconcertava-o o seu
comportamento, ele, no entanto, tomou suas palavras
literalmente e a deixara, de novo.
Na próxima vez que a vira, fora no campo de batalha de
Waterloo.
Nunca entendera porque, de repente, ela o desprezava
tanto. Não até este momento. Porque a deixara, porque não
lhe deu nenhuma indicação de que se importava. Mantivera,
tudo, trancado dentro dele, tentando ser forte por causa dela.
E esta manhã, ele a deixara, de novo. Maldição! Ele era
um idiota.
Ele se levantou abruptamente.
— Eu preciso ir até ela.
— Sim, sim — disse Stirling, levantando-se.
— Vou com você, Major — disse Mackenzie. — Eu gosto
de Lady Campbell e reconheço que os outros rapazes
também. Todos nós a queremos de volta.
Stirling aplaudiu Rob no ombro.
— Não esqueça as carícias.

LRTHistóricos 149
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Sim — Mackenzie disse — o acariciar é importante.


Mas… — Deu a Rob um olhar afiado. — Seja o que for, você
deve deixá-la saber que você sente, tanto quanto ela.
Rob deu uma olhada dura para Mackenzie. Como diabos
o rapaz sabia disso?

LRTHistóricos 150
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Capítulo 13

Claire e sua irmã não estavam na casa do pai em


Mayfair e ninguém lhe dizia para onde foram. Seu pai não
estava em casa, mas Rob lembrou, de seus dias vivendo aqui,
que o conde passava as quartas-feiras à noite, no clube.
Ele e Mackenzie correram para Boodles e bateram à
porta. O servo que respondeu, um homem estreito, de rosto
apertado, deu-lhes um olhar altivo.
— Senhores.
— Preciso falar com o conde de Norsey.
— O conde de Norsey está ocupado, no momento. E uma
vez que vocês não são membros deste estabelecimento, não
posso permitir-lhes a entrada. Boa noite. — O homem
começou a fechar a porta, mas Rob enfiou o pé, para que não
se fechasse. O homem olhou para o pé de Rob, seu rosto
torcido de aborrecimento.
— Senhor, eu…
— Meu nome é Major Sir Robert Campbell — disse Rob,
dando um passo à frente e se inclinando sobre o homem,
fazendo-o se acovardar. — Acabo de regressar de Waterloo,
onde lutei no exército de Wellington, matei sete homens com

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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

meu claymore4, e ferido, Deus sabe quantos outros. Eu


poderia esmagá-lo como um inseto e andar sobre seu corpo
morto e encontrar Lorde Norsey sozinho. Mas prefiro que não
seja assim, não é?
O homem engoliu em seco.
— Eu prefiro que você corra e traga Lorde Norsey para
mim. Agora!
Não havia hesitação no rosto do homem, saiu correndo.
Mackenzie lançou lhe um olhar impressionado e soltou um
assobio, baixo.
Rob manteve as costas rígidas e segurando, o pé, na
porta. Em pouco mais de três minutos, o criado voltou com o
conde de Norsey. As sobrancelhas cinzentas do homem
levantaram-se quando viu Rob. Afastou o criado, abriu a
porta mais largamente e parou na soleira.
— Campbell — disse bruscamente. Seu olhar passou
por Mackenzie, mas não o cumprimentou.
— Onde está Claire? — Rob rosnou.
O conde endireitou-se.
— Você realmente deseja saber?
Rob bateu na parede ao lado da cabeça do conde com a
palma da mão, fazendo o homem mais velho saltar.
— Sim, eu quero.
O conde suspirou, desinflando. De repente, pareceu
velho, derrotado.

4 Claymore uma variante escocesa da espada medievalmontante utilizada durante os


séculos XV e XVI. Possui gume duplo e é manejada com as duas mãos, impedindo o
guerreiro de utilizar um escudo.

LRTHistóricos 152
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Ela passou por bastante coisa. Por que vocês dois não
se deixam em paz?
Rob apertou os dentes.
— Não, isso não vai acontecer. Agora não. Ela é minha
esposa, deveria estar comigo.
— Você está casado há, quase, três anos, está apenas
percebendo isso agora? Você é um tolo, garoto.
— Sim, eu sou. E eu estou tentando parar de ser um
tolo antes que seja tarde demais.
— Ela está em Kent — disse o conde, cansado — na
Norsey House. Queria estar com o filho.
Seu filho. Claire fora para Norsey House para estar com
seu filho. Emoções bateram em Rob como um soco no
intestino. Ele cambaleou para trás, incapaz de respirar.
— Obrigado — ele sufocou. Então se virou para
Mackenzie. — Vamos.

***

Claire e Grace chegaram a Norsey House no final da


tarde, foram recebidas pela governanta e vários criados, mas
Claire se afastou assim que saíram da carruagem.
— Claire, você não vai pelo menos comer, antes de sair?
— Não, obrigado.
Grace suspirou.
— Você quer que eu vá?
— Não. — Claire tentou sorrir para sua irmã, mas isso
não funcionou bem. — Eu só quero ficar sozinha, com ele,
LRTHistóricos 153
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

por um tempo — ela disse calmamente. — Estarei de volta à


casa antes de escurecer.
— Esteja em casa antes de escurecer — advertiu Grace
— ou vou atrás de você.
Claire podia sentir o olhar preocupado de sua irmã
enquanto caminhava pela grande casa no estilo Tudor:
pintada de branco, com madeiras negras, janelas de vidro e
enormes chaminés. Ela se virou e deu dois passos ao longo
do lado da casa antes de parar para recuperar o fôlego e
piscar, furiosamente. Era a primeira vez em horas que Grace
não se preocupava com ela, como uma mãe.
Ela olhou para o céu de verão. O ar estava um pouco
úmido depois de uma chuva matutina e o chão encharcado
sob seus sapatos, mas o céu era um azul brilhante e o ar
estava quente e, muito, mais limpo do que o de Londres.
Depois de um momento, começou a andar, novamente.
Flores dedaleira e respiração de bebê floresciam ao longo das
bordas do trajeto e Claire coletou as mais belas, até que seus
braços estivessem cheios.
Quando chegou à capela, cerca de meia milha da casa,
caminhou para os fundos, onde os condes de Norsey e suas
famílias foram enterrados durante centenas de anos. Entre as
pedras, encontrou facilmente o túmulo de seu filho.
Ajoelhou-se ao lado dele e começou a trabalhar
arrumando as flores ao lado da pedra, lágrimas escorrendo
pelo seu rosto.

***
LRTHistóricos 154
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

O ar estava ficando mais frio quando Rob se aproximou


da capela atrás de Norsey House. Estava quase no crepúsculo
quando ele e Mackenzie chegaram, ficou sabendo que Claire
tinha chegado horas antes, e não foi vista desde então.
A respiração de Rob ficou presa quando a viu. Era tão
linda! E ao mesmo tempo, a forma como se ajoelhara ao lado
do túmulo do filho era tão devastadora, seu estômago apertou
tão forte, que quase se dobrou.
O túmulo estava coberto de flores brancas e azuis. Não
podia ler a lápide dali, mas sabia o que dizia:

James Robert Campbell


Morreu em 12 de julho de 1814
2 semanas
Uma Vida curta, mas uma Eternidade longa.

Rob segurara Jamie, envolto firmemente em um xadrez,


pela primeira vez momentos depois que ele nasceu. Olhando
para baixo em seu rosto minúsculo, Rob estava certo de que
ele era o bebê mais lindo e perfeito que nascera neste mundo.
Mas logo ficou claro que havia algo de errado, que Jamie
lutava em cada respiração que ele tomava.
O médico disse que nascera com pulmões fracos, mas
depois de assistir o rapazinho batalhar, bravamente, por
alguns dias, dera a esperança de que Jamie pudesse
sobreviver. No décimo dia após seu nascimento, no entanto,
as unhas e os lábios de Jamie se tornaram azuis através de

LRTHistóricos 155
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

sua luta. Na noite do décimo quinto dia, Rob estava


segurando-o pela última vez, enquanto dava seu último e
fraco suspiro e a vida deixava seu corpo pequenino.
Agora, engolindo em seco, Rob se aproximou de Claire.
O aperto de seus pés na grama deve ter alertando-a para sua
presença, mas ela não se afastou do túmulo do filho.
Ele se ajoelhou ao lado dela, desejando ter trazido flores
como ela. Mas não tinha nada.
Ela não olhou para ele. Ele engoliu em seco, tentando
juntar umidade em sua garganta seca.
— É o aniversário dele amanhã — ele sussurrou.
Ela colocou uma mão na beira do túmulo, um gesto
possessivo.
— Você não mencionou isso. Eu tinha certeza que você
esquecera. — Sua voz estava rouca, por falta de uso.
Ele merecia isso. Ele apertou as mãos no colo e olhou
para elas.
— Eu não deveria tê-la deixado assim, hoje de manhã.
Ela encolheu os ombros.
— Eu já esperava isso. — ela virou-se para olhar para
ele pela primeira vez, franzindo a testa. — Mas eu não
esperava vê-lo aqui. Por que você está aqui? — Sua voz estava
plana agora, desprovida de emoção. O que era quase tão
desconcertante para ele quanto suas lágrimas.
— Por você — ele disse, repetindo suas palavras para ele
em Waterloo. — E para ele — ele adicionou suavemente,
colocando sua própria palma protetora no túmulo.
Ela ficou rígida.
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Você deveria ir.


— Não.
— Eu quero que você vá. — disse ela.
— Não dessa vez. Não vou deixar você.
— Isso é o que você faz, Rob. Você vai embora.
— Sim. Eu pensei que estava te ajudando, ao deixá-la.
Ela bufou.
— Como é isso, exatamente?
— Você me disse para ir. O funcionamento da mente de
uma mulher não faz sentido para mim, Claire. Você diz que
deseja que eu vá, mas o que você está realmente dizendo é
que deseja que eu fique.
Ela afastou a umidade de seus olhos com o dorso de sua
mão.
— Vá! Apenas vá. Eu não quero ter essa discussão. Eu
só quero estar com meu bebê. Me deixe em paz.
— Eu não deixarei você.
— Vá! — Ela gritou, sua voz latejando com uma emoção
que ele sabia, agora, que não devia confundir com raiva. Não,
era a dor, espessa e profunda, que a atravessava.
— Não.
Ela o empurrou, mas ele manteve firme, pegando seu
braço e trazendo-o gentilmente para o seu lado. Quando ele
soltou, ela o empurrou, de novo e então bateu no peito dele.
Quando isso não o moveu, ela bateu nele, novamente e
novamente, chorando alto, esmurrando-o com tanto poder
quanto seu corpo pequenino poderia reunir. Ele a agarrou,
rodeando-a com os braços.
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Ela lutou, tentando sair de seu braços.


— Não — ela soluçou. — Me deixar ir. Me deixe em paz.
— Não, amor. Eu não vou deixar você — ele murmurou.
— Shhh… — ele a segurou firmemente contra si.
— Por que você está aqui? — Ela exigiu em um soluço.
— Você nem se importa com ele.
Rob fechou os olhos.
— Eu o amava. Eu amo-o.
— Não, você não. Você nem chorou quando morreu. E
então… então você acabou nos deixando. Você o deixou e me
deixou.
Ele apertou-a contra ele.
— Eu nunca me importei com nada do jeito que eu me
importo com você e com o Jamie.
— Isso não é verdade!
— É sim.
Ela agarrou seus braços, suas unhas cavando no tecido
de sua camisa.
— Então, por que não chorou?
— Eu… — Ele engoliu em seco, a emoção fervendo tão
fortemente em sua garganta que mal podia falar. — Eu queria
ser forte para você. Você precisava que eu fosse forte para
você.
— Eu precisava que você sentisse. Sentisse o que eu
estava sentindo.
— Sim, Claire. Eu senti tudo.
— Mas você foi embora.
— Você me disse para ir embora.
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Eu sei que eu fiz! Mas… — a luta acabou com ela, de


repente. — Eu queria que você ficasse. Para estar comigo e
chorar comigo — ela disse calmamente.
— Eu estava de luto com você, amor.
— Mas você não mostrou.
— E tomou isso como se eu não me importasse?
— Sim!
Ele a puxou contra ele.
— Meu Deus, Claire. Você não pode saber o quanto eu
me importei. O quanto me destruiu vê-lo, então ver o que ele
fez a você. E então, quando você me disse para ir, eu estava
sem saber o que fazer. Pensei que a única maneira de
melhorar as coisas era fazendo o que você desejava, que era
deixá-la.
Ela pressionou sua testa contra seu ombro.
— Eu queria pedir para você ficar. Fiquei dizendo a mim
mesma para implorar para que ficasse perto de mim, me
abraçasse. Mas você era tão estoico, pensei que não devia
estar tão afetado. E eu não conseguiria implorar.
Ele acariciou seu cabelo.
— Eu odiava ver você assim, ferida tão profundamente.
E não podia fazer nada sobre aquilo… e isso me fez sentir…
— uma respiração sibilou pelos dentes.
— Eu deveria ter me segurado em você — ela
sussurrou. — Não deveria ter deixado você ir. Em vez disso te
empurrei para longe.
— Assistir Jamie ir e não poder impedir… Então assistir
você sofrer. Eu… eu… — sua voz vacilou. — Eu queria ser…
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

forte. Mas era fraco, não podia consertar nada. Não podia
salvar meu filho, não podia ajudar minha esposa, falhei e
também era covarde.
Seu peito se convulsionou.
— Eu só… queria que ele vivesse, rezei tanto por isso. E
ele não… e… eu não sabia o que fazer. Eu estava perdido.
Era a primeira vez que dizia isso em voz alta. Era a
primeira vez que se permitia pensar nisso.
A primeira lágrima escorregou por seu rosto. A primeira
umidade em seus olhos, desde a sua infância.
E então, ele e sua esposa, agarraram-se e choraram.

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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Capítulo 14

Quando a escuridão, finalmente, lançou sombras


aveludadas sobre as sepulturas, disseram boa noite a Jamie
e caminharam de volta para Norsey House juntos, de mãos
dadas. Claire se sentia crua e sensível por toda parte, como
se fosse esfregada com uma escova áspera. Mas também se
sentia limpa.
Rob amara seu filho. Descobrir essa verdade, fez com
que sentisse como se encontrasse uma jóia preciosa, depois
de anos de busca. Ela o pegou e segurou-o perto do coração.
Ele amava Jamie!
Ele se entristeceu, mas ela fora muito teimosa e absorta
para perceber que ele se afligia de uma maneira diferente da
dela.
E ele a amava. Nenhum homem nesta terra,
especialmente um tão firmemente controlado, masculino ou
tão poderoso como Rob, expõe-se a uma mulher, a menos
que, confiasse nela e a amasse, além da medida.
Grace e Duncan Mackenzie os encontraram no salão
principal da Norsey House. Depois de olhar para seus rostos,
a expressão de Grace se suavizou. Ela veio até eles e beijou-

LRTHistóricos 161
Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

os na bochecha, primeiro Rob, depois Claire, apertou a mão


de Claire.
— Vocês dois parecem exaustos. Querem que eu leve
um jantar leve, para o seu quarto?
— Sim — disse Claire, aliviada. — Isso seria muito bom.
Obrigado.
Eles deixaram Grace e Mackenzie e foram para o quarto
que compartilhavam sempre que vinham para Norsey House.
As empregadas já haviam desfeito a cama e disposto alguns
pijamas frescos, dentro de alguns minutos um pequeno
jantar foi servido.
Rob e Claire se lavaram e se trocaram em um silencioso
companheirismo, depois sentaram-se à pequena mesa, onde
a refeição foi disposta. Rob serviu um copo de vinho para
cada um deles, depois compartilhou uma pequena porção de
pão, queijo e uvas.
Ela olhou timidamente pela mesa para o marido.
— O médico diz que eu posso ter filhos e eu quero isso.
Mas e se eu não pudesse? Você me odiaria por causa disso?
Ele franziu o cenho.
— Eu nunca conseguiria te odiar.
— Mas…
— Como eu poderia estar com raiva de algo que você
não pode controlar?
— Porque…
— Sim, eu gostaria de muitas crianças e amaria você
por me dar um. Mas… Olhe para mim, Claire. — Quando ela
o olhou, sua expressão era sombria. — Mesmo se você não
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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

pudesse me dar um filho, eu ainda te amaria da mesma


forma. Você ainda seria minha esposa… Você ainda seria
minha vida. Você entende isso, não?
Ela olhou para o prato.
— O valor de uma mulher é muitas vezes julgado por
sua capacidade de ter filhos.
— Não vale a pena — ele disse suavemente. — Julguei
isso muito antes de me casar com você. E isso não teve,
nada, a ver com seus quadris.
Ela sorriu.
— Obrigada.
— Por não julgar seus quadris?
— Não, por julgar que eu era boa o suficiente para
casar.
Ele afastou-se da mesa e estendeu os braços.
— Venha aqui, moça.
Ela foi para seus braços, e ele a puxou para que
sentasse em seu colo. Ele alternou entre dar beijos amorosos
e alimentá-la com uvas, goles de vinho, pão e queijo até que
ela se sentisse, agradavelmente, cheia e sob sua pele,
formigando profundamente, uma excitação.
Ela envolveu seus braços ao redor dele e colocou sua
cabeça em seu ombro.
— Eu sempre sentirei sua falta — ela sussurrou.
— Eu também.
— Mas isso nunca vai acabar, Rob. Sempre vai ser uma
parte de mim.

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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

— Eu entendo, amor. É uma parte de mim, também.


Sempre será.
Ela fechou os olhos, pela primeira vez, realmente,
sentindo como se o marido entendesse. Que estava aqui com
ela, em todos os sentidos.
— Desculpe, sou uma megera.
Ele riu, seu peito vibrando contra sua bochecha.
— Eu vou pedir-lhe para não fazer disso um hábito.
— Vou tentar. No entanto, temo que possa ter uma
natureza mal-humorada. Então, se sair de vez em quando do
controle, não pode me culpar.
— Se alguma vez se descontrolar, prepare-se para as
profundas consequências.
Ela se afastou, seu sorriso se alargando.
— Você realmente me baterá se eu me comportar mal?
Ele fez aquele grunhido escocês que ela adorava.
— Então eu deveria me comportar mal mais vezes — ela
disse, rindo, enterrando seu rosto de volta em seu peito para
esconder sua expressão, o que deve ter mostrado alguma
combinação de medo, emoção e esperança. — Prepare-se —
murmurou, com a voz abafada contra o peito — para um
grande mal-estar, no futuro próximo.
E lá estava ela, prova final de que era uma mocinha
descarada.
Ele se levantou de repente, levando-a junto em seus
braços, e ela gritou, apertando-o para que não caísse no
chão.

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Um Coração Escocês – Jennifer Haymore
(Cavaleiros das Highlandes 0.5)

Ele levou-a para a cama e jogou-a sem cerimônias. Ela


correu em direção à cabeceira da cama, enquanto ele
rastejava como um tigre após sua presa.
Quando ele a alcançou, colocou um braço em cada lado
dela e aplainou suas mãos contra a cabeceira da cama.
— Vou mostrar-lhe agora, esposa, o que acontece com
uma moça que se comporta mal, cujo marido a ama sem
medida e, nunca, quer passar um dia sem ela.
Com o coração acelerado, ela estendeu a mão para
cobrir sua bochecha e olhou para aqueles belos olhos azuis
gelo.
— Essa moça mal comportada ama seu marido de volta,
além da medida, e promete nunca mais tentar empurrá-lo
para longe.
— E quando ela estiver triste, quando ela chorar, ele
estará lá, segurando-a protetor, em seus braços — ele
sussurrou. — Ele nunca mais correra.
Ela piscou forte.
— Você quer dizer isso, Rob?
— Sim. Eu te amo, Claire. Você é tudo para mim.
— Nós desperdiçamos tanto tempo.
— Nós temos o resto de nossas vidas — ele murmurou.
— E não vamos perder mais um dia.
E com isso, o marido de Claire deitou com ela, a
acariciou e ensinou-lhe que nada, no mundo, jamais chegaria
perto de cortar o laço que haviam forjado, juntos.

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