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FACULDADE EVANGÉLICA DO PARANÁ

Disciplina: Espiritualidade e
Desenvolvimento Pessoal

Professor: Ocir de Paula Andreata

2010/1

CAPÍTULO 2. DESENVOLVIMENTO DE HUMANIDADE

Objetivo do capítulo

No primeiro capítulo abordaremos a existência e a condição humana do ponto de


vista antropológico evolutivo e do ponto de vista da estruturação psicológica do ser.
Neste capítulo abordaremos a mesma questão, agora do ponto de vista da
filosofia existencialista, apontando uma espiritualidade que seja também desenvolvida
no transcurso da existência essencialmente como humanidade, pela capacidade de
crescer em consciência de si, do outro e de seu lugar no mundo.

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Motivação à reflexão

Peque a lupa e, por um momento antes de prosseguir, brinque de deus de si mesmo,


refletindo sobre esta nova questão: qual o seu lugar no mundo?

Procure num bom dicionário toda a abrangência conceitual que a palavra


“mundo” pode conter e coloque para funcionar sua imaginação antes de prosseguir.

Tópicos do conteúdo

Segundo Forghieri (1997, p.27-34), o mundo é o conjunto de relações


significativas, dentro do qual a pessoa existe; embora seja vivenciado como um todo se
apresenta sob três aspectos diferentes: o mundo circundante, o mundo humano e o
mundo próprio. É sobre estes três aspectos que refletiremos a seguir, passando por
examinar três maneiras de existir no mundo: maneira preocupada, sintonizada e
racional.
Por fim, tentemos categorizar a existência humana dentro de uma visão de qualidade de
vida, como ser-doente e ser-saudável, como formas ligadas ao tipo de espiritualidade e
de interioridade que objetivamos no contexto geral deste módulo.

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2.1 Mundos do ser do homem

Pelo desenvolvimento contínuo da consciência da existência, o homem adquire


cada vez mais lucidez sobre si e seu lugar no mundo, qualificando melhor seu existir.

a) O mundo circundante consiste no relacionamento da pessoa com o ambiente.


Abarca tudo aquilo que se encontra concretamente presente nas situações vividas pelas
pessoas, em seu contato com o mundo: coisas, plantas, animais, leis da natureza como o
dia e a noite, estações do ano, calor e frio, bom tempo ou intempéries. Faz parte também
o nosso corpo, e suas necessidades de vida: alimentação, sono, atuação, repouso, viver e
morrer. O mundo circundante caracteriza-se pelo determinismo e por isso a adaptação é
o modo mais apropriado de o homem relacionar-se a ele.
Há um movimento dialético entre o ser humano e o mundo circulante; o homem
sempre está tentando exercer alguma ação sobre a natureza e seu próprio corpo, mesmo
que temporária e relativa.

b) O mundo humano é aquele que diz respeito ao encontro e convivência da


pessoa com seus semelhantes. Diferente do relacionamento com o mundo circundante,
ocorre uma relação de reciprocidade, onde ambos se influenciam mutuamente.

c) O mundo próprio consiste na relação que o individuo estabelece consigo, na


consciência de si e no autoconhecimento. O mundo próprio caracteriza-se pela
significação que as experiências têm para a pessoa, e pelo conhecimento de si e do
mundo; sua função peculiar é o pensamento. O pensamento considerado de um modo
amplo que abrange todas as funções mentais como o entendimento, o raciocínio, a
memória, a imaginação, a reflexão, a intuição e a linguagem.
É na linguagem que os entes (pessoas) se tornam representados nos signos, que
adquirem significação e se tornam comunicáveis. Comunicar é um falar no pleno
sentido da palavra, quando eu mesmo entendo aquilo de que estou falando e do que
quero ser ouvido, compreendido, confirmado ou contestado, por mim mesmo e por
outra pessoa.

Por gentileza, diferencie mundo circundante, mundo humano e mundo próprio.

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2.1.1. Maneiras de existir no mundo

A vivência cotidiana imediata é o modo primordial de existirmos; nela temos,


global e intuitivamente, um sentimento e uma compreensão pré-reflexiva de nosso
existir no mundo.
Não se trata de conhecimento racional acompanhado de emoção, nem apenas de
um estado interior ou de uma reação a algo, mas de um experienciar imediato e global
que abrange uma totalidade, a mim e às situações, ou às minhas lembranças, ações e
expectativas, antes que estas venham a ser elaboradas racionalmente.

a) Maneira preocupada. Esta consiste em sentimento global de preocupação,


que varia desde uma vaga sensação de intranqüilidade, por termos que cuidar de algo,
até uma profunda sensação de angústia, que chega a nos dominar por completo.
A angústia é o modo mais originário e profundo de nosso existir preocupado. Quando
estamos angustiados, ficamos muito aflitos, sentindo-nos impotentes para nos livrar da
aflição, pois a angústia não tem um objeto definido em relação ao qual nos possamos
envolver, agindo para superá-la.

b) Maneira sintonizada. Embora a preocupação e a angústia sejam básicas em


nossa existência, paradoxalmente conseguimos vivenciar momentos de sintonia e
tranqüilidade, quando nos encontramos agradavelmente envolvidos em algo ou alguém.
A manifestação mais profunda da maneira sintonizada de existir consiste numa
vivencia de completa harmonia de nosso existir no mundo. O filósofo Martin Buber
(1977) a denomina de relação Eu–Tu. Esta pode surgir em nosso contato com a
natureza, no encontro com nossos semelhantes, assim como no nosso envolvimento
agradável, ao ouvir uma melodia, ler um livro ou apreciar uma obra de arte.

c) Maneira racional. Como seres racionais, temos necessidade de analisar a


nossa vivencia cotidiana imediata para conceituá-la e estabelecer relação entre nossas
experiências, elaborando, desse modo, um conjunto de conceitos, relacionados por
princípios coerentes, que nos permitam explicá-las.
Angústia, medo e coragem encontram-se intimamente relacionados. É vivenciando
minhas angústias e analisando-as, racionalmente, a fim de transformá-las em medos
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concretos e verificar os recursos dos quais disponho para poder enfrentá-los, que tenho
coragem para planejar e pôr em prática as minhas ações.

No amor e apenas neste, a pessoa é capaz de experimentar, como uma totalidade, a


finitude e o infinito, o fato e a essência... Nele se realiza o verdadeiro ‘nós’, no qual cada
parceiro é criador e simultaneamente ativo e passivo, masculino e feminino... Esta
inconcebível e inexplicável qualidade do amor é um mistério que se realiza no duplo milagre
de amar e ser amado. (Binswanger, Apud, Forghieri, p.38).

Por gentileza, após reflexão, diferencie maneira preocupada, maneira sintonizada e maneira
racional.

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2.1.2. Existencialmente, ser doente e o ser saudável

O ser humano é um ser-no-mundo; existe sempre em relação com algo ou


alguém e compreende as suas experiências, ou seja, lhes atribui significados, dando
sentido à sua existência. Vive num certo espaço e em determinado tempo, mas os
vivencia com uma amplitude que ultrapassa estas dimensões objetivas, pois consegue
transcender a situação imediata. Seu existir abrange não apenas aquilo que é e está
vivendo em dado instante, mas também as múltiplas possibilidades à existência.

Ser-doente só pode ser compreendido a partir do modo de ser-sadio e da constituição


fundamental do homem saudável, não perturbado, pois todo modo de ser-doente representa
um aspecto privativo de determinado modo de ser-são.
(Boss, Apud, Forghieri, p.53).

Este aspecto do ser-doente e do ser-sadio da existência se dá, necessariamente,


no campo da materialidade do ser, a sua corporeidade. Nosso corpo é a representação
de nosso mental, isto é, existe uma relação intrínseca e recíproca entre mente-corpo.
Isto é relativamente válido para a máxima “Mens sana, corpore sano”, mente sã, corpo
são, no sentido de que um existir doente se manifesta em dores e doenças no corpo.

Nosso próprio corpo está no mundo como o coração no organismo: ele mantém
continuamente em vida o espetáculo visível, ele o anima e o nutre interiormente, forma com
ele um sistema. (Merleau-Ponty, Apud, Forghieri, p.30).

O ser sadio existencialmente consiste tanto em se abrir às próprias


possibilidades, como em aceitar e enfrentar os paradoxos e restrições da existência. A
saúde existencial está profundamente relacionada ao modo como conseguimos
estabelecer articulações eficientes entre a amplitude e as restrições de nosso existir.
No ser doente existencialmente, a pessoa doente não dispõe normalmente de
todas as possibilidades de relações com o mundo e consigo mesma.
Algumas pessoas, ao vivenciarem situações de grande contrariedade
relacionadas a conflitos ou restrições de sua existência, apresentam manifestações
somáticas desse seu sofrimento, como, por exemplo, forte dor de cabeça, cansaço
intenso, injustificados, por razões orgânicas ou esforços físicos demasiados.

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Quando essas manifestações somáticas se tornam prolongadas, freqüentes, ou
muito intensas, podem vir a se constituir em restrições que dificultam a abertura da
pessoa a muitas possibilidades de existência e torna-se existencialmente doente.
Os indivíduos saudáveis reconhecem e aceitam a insegurança, limitações e
paradoxos de sua existência, com coragem para assumi-los, envolvendo-se nas situações
e enfrentando os riscos para tentar resolvê-las; vivenciam momentos de contrariedade,
aflição e angústia, mas também de tranqüilidade e satisfação consigo e com a existência.

A essência de todos os sofrimentos humanos fundamenta-se no fato de que a pessoa


perdeu essa capacidade de se abrir e de se decidir livremente acerca de suas possibilidades de
comportamento normal. (Boss, Apud, idem, p.55).

2.1.3. Aspectos de um bem-viver no mundo

Podemos pensar, com Forghieri (p.41-51), em três atitudes para um bem-viver.

a) Temporalizar consiste em experimentar o tempo, sendo esta a vivencia que


mais próxima se encontra de nosso próprio existir. Existir (do latim existere) e
transcender possuem o mesmo significado que é o de lançar-se para fora, ultrapassar a
situação imediata, que também quer dizer temporizar. A existência humana consiste em
estar continuamente saindo de si mesma, transcendendo a situação imediata, em direção
a algo que ainda poderá ser para completar-se ou totalizar-se.

b) Especializar consiste em procurarmos, racionalmente, objetivar o nosso


espaço, localizando e denominando os lugares e as coisas que nele se encontram,
considerando que ocupam espaço correspondente à sua dimensão e volume, com
alguma distancia entre si. Esta concepção é também aplicada a nós e a nossos
semelhantes, como pessoas situadas em determinado local, em dado momento:
residimos em certo endereço, lugares de trabalho, de lazer, em nosso bairro, cidade,
estado e país, etc.

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c) Escolher é abertura à percepção e compreensão de tudo o que à existência se
apresenta; é a condição da liberdade humana, pois proporciona a amplitude das
possibilidades de escolha, no decorrer da existência. O sentimento de ser livre pode ser
vivido de modo amplo no momento anterior a uma decisão, diante das múltiplas
possibilidades do existir. A realidade se fundamenta na compreensão que se tem das
situações que se vivenciam, implícitas nas três dimensões temporais do existir: como ele
tem sido (passado), como está sendo (presente), e como poderá vir a ser (futuro).

Por favor, medite, agora:


qual o lugar, o sentido e a
qualidade da existência que
você vem vivendo, no
circulo de mundos onde
está inserido?

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2.1.4 O homem como um ser espiritual

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Novamente, antes de ir em frente, é aconselhável adquirir outros conhecimentos sobre
este aspecto filosófico da espiritualidade, na leitura no livro: O Sagrado, de OTTO,
Rudolf, 1992, p.9-102.

Decididamente a religião, como manifestação socialmente organizada da fé, é


uma das atividades mais primitivas e universais conhecidas da humanidade, sendo
praticada em todas as culturas, em todas as épocas, desde o início dos tempos.
Contudo, não há uma definição universalmente aceita sobre religião. Para alguns
antropólogos a religião surgiu do desejo de o homem encontrar um significado e
propósito definitivo para a vida, geralmente centrado na crença em um ser sobrenatural,
que ganha forma cada vez mais sofisticada de organização ao longo do desenvolvimento
do ethos a que pertença.
A religião é feita tanto de crenças quanto de práticas. A teologia acadêmica
busca concentrar-se na crença. Mas, em muitas sociedades, principalmente as que
mantêm formas mais primitivas de religião, não há separação entre sagrado e profano ou
vida secular, isto é, a religiosidade não é separada da própria vida prática.
É possível distinguir vários aspectos diferentes em quase todas as religiões. Mas
há, também, pelo menos cinco aspectos em comum: a fé, que é a parte interna subjetiva
de sustentação da religião; o culto, que envolve toda forma de devoção, individual e
coletiva, com seus objetos simbólicos sagrados, como santuários, imagens, altares,
rituais, canções, danças sagradas e reuniões da comunidade; a comunidade, que é o
aspecto social da religião e sua organização política, com seus templos, igrejas,
sacerdotes, monges, freiras, pastores, etc; o credo, que é o conjunto de todas as crenças
mantidas pela religião como um todo, de forma escrita e/ou oral, com suas idéias sobre
divindade, Deus, anjos, céu, inferno, salvação, etc; e o código moral, que representa as
normas de conduta ética social, que envolve a normatização do comportamento.
As religiões criadas pela alma humana também sempre estiveram
intrinsecamente vinculadas às formas de organização social, de governo e na formação
da cultura que, juntamente com o processo de desenvolvimento do povo, tendeu a
manter-se ao longo de séculos e milênios formando tradições religiosas.
Assim, as grandes religiões históricas se desenvolveram em famílias e ramos de
religiões. A teologia subdivide as famílias de religiões, pelo menos, em religiões
primitivas, aquelas que existiram e já desapareceram e aquelas mantidas juntos a povos
de culturas primitivas; e em religiões universais, aquelas que acreditam, a partir do
cristianismo, ter importância para o mundo todo e tentam, com maior ou menor
intensidade, converter adeptos. Dentre as religiões universais históricas temos os três
grandes monoteísmos: judaísmo, cristianismo e islamismo.

Por favor, pare e pesquise sobre as religiões primitivas e religiões universais.

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Para Rudolf Otto, em sua clássica obra O Sagrado (1992), o “sentimento
religioso” está implícito no homem, é expressão inata de sua alma. O nascimento da
religião está, assim, na subjetividade humana, num “sentimento de sagrado”, transferido
a um objeto ou criatura, tomada pelo fascínio de ser elevadamente maior, desconhecida
e mais poderosa que o próprio ser humano em si, com o qual passa a vincular-se em
devoção, alimentando sua alma do aspecto “numinoso” deste em sua consciência.

Lembre-se: O “numinoso” é um conceito usado por vários estudiosos da religião,


como Carl Gustav Jung e Rudolf Otto; advém de um termo latino cuja raiz é o
“númem”, que significa aquilo que é percebido pela consciência humana como supra-
sensível, sobrenatural, extrafísico, como “misterium tremendum et fascinans”, que
tanto causa fascínio como temor ao humano e de cuja relação adquire iluminação
interior.

Assim, “o sentimento do estado de criatura, o sentimento da criatura que se


abisma no seu próprio nada e desaparece perante o eu está acima de toda a criatura”
(idem, p.19). A partir disto, as formas religiosas mantêm uma interação entre um
aspecto subjetivo da fé, que é o sentimento de sagrado em relação ao objeto de crença, e
o aspecto objetivo da religião em si, que é a parte social ativa e organizada.
Otto trabalha sobre a clássica interpretação do sagrado e origem da religião,
dadas pelo filósofo e teólogo Schleiermacher (Apud, Otto, p.18), de que o elemento do
qual parte toda a experiência religiosa é certo “sentimento de dependência” humana em
relação a algo sagrado, a algo ou alguém sentido como “totalmente outro” e
infinitamente maior e mais poderoso em relação ao humano, com o qual procura
estabelecer relações, a fim de manter equilibro e sentido para a vida, ante a amplidão do
cosmo e a realidade assombrosa da finitude.
Assim, uma vez que o homem é por natureza um ser espiritual, toda experiência
religiosa, de alguma forma, influi no comportamento e conduta humana, individual e
coletivamente, cujo controle moral implica diretamente a crença de salvação eterna.

Uma coisa é acreditar na existência do supra-sensível, outra é fazer dele uma experiência
vivida; uma coisa é ter a idéia do sagrado, outra é percepcioná-lo e descobri-lo como um
fator ativo e operante que se manifesta pela sua ação. (Otto, p.185).

É justamente neste aspecto, que a vida moderna, principalmente no Ocidente,


tem confrontado e modificado o sentido, o lugar e a influência da religião. E um
fenômeno que tem sido fundamental para tal mudança é o secularismo. Podemos

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entender por secularismo um movimento humano, que busca na racionalidade ou no
exercício da razão uma forma autônoma de o ser conduzir-se na existência, sem a
necessidade dependente da interferência e da interpretação religiosa da vida. Nisto têm
sido engajadas a filosofia, a ciência e a própria educação em si.
O homem moderno tem gerado a crença de que o mundo físico é auto-suficiente
e pode perfeitamente ser compreendido pelo discernimento da ciência moderna, sem
consultas a explicações sobrenaturais. A filosofia, ao longo de sua história, tem
procurado levar o homem à reflexão sobre sua vida e seu lugar no mundo, de forma a
conseguir dar conta da existência sem a necessidade deste certo “sentimento de
dependência” em relação a algo sagrado, divino ou supranatural.
Dentro desta perspectiva, filósofos como Nietzsche, voltaram-se,
contundentemente, contra o domínio da religião sobre a consciência, moral e o
conhecimento humano, principalmente pela supremacia universal do cristianismo.
Algumas obras deste pensador foram dedicadas a esta discussão, como morte de Deus
(Crepúsculo dos Deuses), para a ascensão da autonomia do homem (Hecce Homo).

Aqui estão os sacerdotes; e muito embora sejam meus inimigos... meu sangue está ligado
ao deles. (Nietzsche, Assim falou Zaratustra, citado por Alves, 1999, p.8).

Sigmund Freud

Sigmund Freud, pai da psicanálise, também foi outro conhecido pensador do


fenômeno religioso, cuja interpretação radical ficou bastante conhecida no século XX.
Para ele, em Atos Obsessivos e Práticas Religiosas (de 1907, Obras Completas, Vol. IX,
p.109-117), as cerimônias religiosas se assemelham a neuroses obsessivas, aproximando
o homem religioso de um neurótico obsessivo. Em Totem e tabu (1913, OC, V.XIII), ele
atribui a origem da religião a um “parricídio”, ocorrido na mais remota ancestralidade
humana, como reflexo do Complexo de Édipo, aquela triangulação incestuosa entre o
filho, a mãe e o pai. Depois, em O Futuro de uma Ilusão (1927, V.XXI), aborda a
religião, principalmente a cristã, como uma “ilusão”, não que seja necessariamente
errada, já que cumpre um papel social, mas porque procura ocultar a realidade
(psíquica) da vida. Assim, a religião seria uma forma de “neurose coletiva”, fim de
“sublimar” a falta do pai e a culpa por sua necessária eliminação da consciência

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humana, para que o homem se tornasse adulto autônomo, à semelhança do processo
psíquico individual, que se dá no Complexo de Édipo.
Logo após o impacto do lançamento de seu livro O Futuro de uma Ilusão
(1927), em resposta a uma carta de certo pastor chamado de Romain Rolland, que lhe
instigará a abordagem pobre daquele “certo sentimento inato” existente em todo ser
humano e universalmente, Freud reitera sua tese da “religião como ilusão” e parte
fomentadora do atual “mal-estar no mundo”, através de um novo livro O Mal-Estar na
Civilização (1930, V.XXI). No final de sua vida, em Moisés e o Monoteísmo (1939,
V.XXIII), reitera sua tese da “morte do pai” pela “horda selvagem ancestral”, que deu
origem ao inconsciente racial e ao complexo de culpa do ser humo.
O fato é que esta interpretação de Freud talvez tenha sido a influência mais
radical, produzida ao longo de um processo filosófico-científico de secularização e luta
contra a religião, a fazer cultura desde o início do século XX até os dias de hoje.
No entanto, de forma totalmente divergente, já em sua época e, depois,
tornando-se um dos maiores expoente conciliador da religião com a antropologia e a
psicologia, o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (Psicologia do Inconsciente, 1916, OC,
V.XI, p.81-103; p.161-162), considera a religião uma forma inata milenar de expressão
da psique humana, na forma de uma “função transcendente”, através de uma
“numinosidade”, semelhante ao processo de “iluminação interior” concebido por Santo
Agostinho na espiritualidade cristã, a que toda alma humana necessariamente busca, e
que é fundamental para o processo de harmonia e totalidade do desenvolvimento da
personalidade, no curso da própria existência, a que chama de “individuação”.
Sua Psicologia Analítica tem servido de contraponto à psicanálise freudiana e
tem surgido, desde meados do século XX, como elo entre a Psicologia e a Teologia,
trazendo nova hermenêutica sobre o psiquismo do fenômeno religioso.
Dentro deste aspecto é importante lembrar a abordagem feita pelo teólogo John
Stott, em Ouça o Espírito, Ouça o Mundo (1987, p.246-264), sobre a importância e a
necessidade atual da espiritualidade do homem na sociedade moderna.

Por favor, responda e reflita: Qual a postura de filósofos como Nietzsche, Freud e Jung
frente à religião?

Para ele, o homem moderno encontra-se confuso e perdido, em meio a uma crise
existencial, motivada por vários fatores, como “o recente colapso do euromarxismo”, o
iminente “deserto do materialismo ocidental”, a “epidemia do abuso das drogas” e o
emergente “renascimento do sagrado”, através da “proliferação dos cultos religiosos”.
Tudo isto mostra que a sociedade atual começa a se ressentir da ausência de Deus na
vida secularizada do homem moderno.
Assim, ele enumera três desafios, como necessidades da sociedade secular atual:

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a) a busca por transcendência, como um “retorno a Deus”, manifestação de um
“senso do divino” e uma busca pelo “temor de Deus”, presente na alma humana;
b) a busca por significância, através de uma nova impostação do homem em
face do infinito, pelo avivamento do sagrado na alma humana, como recusa à “aridez da
tecnologia”, ao reducionismo científico e ao “vazio do existencialismo filosófico”;
c) a busca de comunhão, porque a alma humana está mais que nunca “sedenta
de amor e de compreensão”, ante a solidão e enorme pobreza. E nisto deve estar o novo
olhar da igreja e um novo discurso do cristianismo, que aponte uma convergência de
diálogo inter-religioso e uma ética mundial, que encampe o ser humano, tal qual Cristo
o contemplou nos Evangelhos.
Neste aspecto é que são vistas como sinais do apontamento nesta direção, as
várias pesquisas em saúde, que envolvem os aspectos religiosos, as manifestações de fé,
e suas implicações na busca de qualidade de vida, individual e social, empreendidas nas
últimas décadas por neurocientistas e teólogos, até mesmo inaugurando o novo ramo de
ciência chamado de neuroteologia, abordados recentemente, por exemplo, por Raul
Marino Jr., em A Religião do Cérebro: as novas descobertas da neurociência a respeito
da fé humana (2005).

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