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ENTREVISTA

Sábado, 06 de Novembro de 2004 I~itano

lora da ASTA

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lçaO a rrerença-
desde o início, a Lord Michelham, uma semana de voluntariado, para e Pinhel. Há mesmo pessoas que já vontade fosse responder a todos os forma de ver as pessoas com defi-
da Suíça, a D. Pedro V, de Lisboa, a ir à praia com eles no Verão, ofere- os usam nas casas de banho. Há igu- casos de jovens necessitados do país ciência.
Oriente que nos deu os primeiros cer materiais que nos fazem falta, almente os tabuleiros, tapetes, agu- sou realista e sei que sozinha não
equipamentos para a olaria, carpin- participar nas nossas festas e conví- arelas. Anualmente há, em Almeida, posso salvar o mundo - perde-se o Como tomam conhecimento
taria, e os vários amigos da ASTA vios. A vantagem é encontrar sem- desde há quatro anos, no posto de espírito familiar que temos e pre- da existência destes jovens?
que com muito carinho nos foram pre as portas abertas para o receber turismo local, uma exposição em tendemos que prevaleça porque é São as pessoas que vêm até nós,
ajudando a pouco e pouco. É verda- e ter a noção que mesmo à distân- Junho, a "Festa das Cores", consti- importante e passaria a ser mais procuram-nos. Há inclusive um
de que ainda nos falta muito dinhei- . cia está a contribuir para que uma tuída por todos os trabalhos feitos na uma instituição cheia de gente em jovem da Bélgica que vem viver
ro, cerca de 70 ou 80 mil euros, que estrutura social que dignifica o ser ASTA: aguarelas enquadráveis, azu- que se passariam dias em que não connosco porque os seus pais con-
não temos ideia de como vamos humano possa erguer-se para conti- lejos, tapetes, olaria. Participamos nos veríamos uns aos outros. Não sideram que este é o sítio ideal para
arranjar mas somos optimistas e nuar saudável. ainda na feira de Castelo Mendo. quero que isso aconteça, quero dar o seu filho.
sabemos que vamos conseguir. Fomos também convidados para na uma resposta muito mais de quali-
Comida solidária "Semana de Diferença da Guarda" dade do que de quantidade e pre- Como é que os residentes e
Como sobrevive a ASfA? participar com trabalhos, estivemos tendo sim apelar a todos os que externos acolhem os recém-che-
Através do acordo com a Segu- Há também um projecto de numa feira internacional em Teneri- puderem para que, com entusias- gados?
rança Social para os jovens que es- construir um restaurante ... fe. Cada ve: teremos mais inovações, mo, criem mais Asras no país. É sempre com alguma ansiedade,
tão cá e Que é insuficiente. iá oue Sim, Quando tivermos meios pa- trahalhm mais bonitos. nar" i«<n nnr iccl'\ P<'t;" r~ ":lf"\Pn':lC 1~ p nllPrn
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ENTREVISTA
Sábado, 06 de Novembro de 2004

Maria José Dinis~ fund


«Promover a v' ort Lusitano - Como surgiu a As- o meu irmão, emigrante em Durante quatro anos vivemos aqui,
sociação Sócio- Terapêutica de França, ofereceu o terreno onde ac- fizemos muitas acções sociais, inter-
Almeida (ASTA)? tualmente está a ASTA e as entida- câmbios no país e estrangeiro a nível
Maria José Fonseca - A ASfA des oficiais acolheram também a artístico e cultural, com as associa-
surgiu de um sonho antigo que nas- ideia com muito agrado. Depois, ções de terceira idade, etc., enfim,
ceu ao mesmo tempo que o meu fil- com todas as dificuldades inerentes não parámos. Em 2002 começou a
ho Marco, que tem 27 anos e sofre a um processo destes, que foi construção do novo centro, já
de paralisia cerebral. Nesta altura demorado, fez-se o projecto, con- depois de desbloqueado todo o pro-
comecei a procurar uma resposta corremos ao PIDDAC (Programa blema com o PIDDAC, que foi
social adequada e digna para pessoas de Investimentos e Despesas de inaugurado no passado dia 2 de
com deficiência, o que na altura era Desenvolvimento da Administra- Outubro, data de aniversário do
difícil encontrar, mas fui procuran- ção Central) que acedeu comparti- meu filho e daASfA, porque apesar
do. Como não estava numa pro- cipar em 80 por cento. Mas passa- de ter sido fundada a 26 de
fissão ligada à pedagogia curativa e do algum tempo houve uma recusa Ourubro de 1998 apenas começou
ao ensino de pessoas especiais não por parte deste, que alegou que o a sua actividade em 2000.
tinha grande capacidade para mover espaço não era na cidade, não tinha
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Comida solidária "Semana de Diferença da Guarda" dade do que de quantidade e pre- \..A)mo e que os rQ;lUlI:nu:s 11:

Como sobrevive a ASTA? participar com trabalhos, estivemos tendo sim apelar a todos os que externos acolhem os recém-che-
Através do acordo com a Segu- Há também um projecto de numa feira internacional em Teneri- puderem para que, com entusias- gados?
rança Social para os jovens que es- construir um restaurante. .. fe. Cada vez teremos mais inovações, mo, criem mais Astas no país. É sempre com alguma ansiedade,
tão cá e que é insuficiente, já que Sim, quando tivermos meios pa- trabalhos mais bonitos, para isso por isso estão cá apenas 15 e quero
não os abrange a todos, tendo em ra o concretizar, será um espaço em contribuirá Valérie, uma cerarnista Há falta de instituições deste que esse número aumente gradual-
conta a situação económica do país .que, com os nossos produtos sau- francesa que vem trabalhar connos- tipo em Portugal? mente para que os que vêm e os que
as coisas não estão muito folgadas dáveis e biológicos, pretendemos co dois dias por semana. É de facto uma lacuna social mui- cá estão não sofram com o choque,
'nesse campo. Mas com o nosso es- iniciar uma nova forma de estar to grande e só agora se começa a des- para que se adaptem devagarinho.
forço - quase todos temos um vo- saudável e solidária. Queremos que De todas as actividades prati- pertar para esta realidade. Há outras Os que cá estão são sempre muito
luntariado de 24 horas em que re- o artesanato, feito nos nossos ate- cadas pelos jovens nota alguma organizações que não têm o lar resi- receptivos, carinhosos com os que
cebemos uma quantia irrisória de liers, seja vendido para podermos que seja a eleita? dencial ou, se o têm, é algo que está chegam, como o caso dos quatro jo-
vencimento - e com a ajuda dos sentir-nos úteis, para que os jovens Os jovens passam por todas as muito institucionalizado, em que vens que recebemos no mês passado
amigos temos sobrevivido. percebam que aquilo que eles actividades e uns têm mais apetên- não há o que é necessário, ou seja, e no outro fim-de-semana foram a
taze""ffi é apreciado pelos outros. cia para a olaria, azulejaria, ou ou- aqueles espaços calorosos e familiares casa e já estavam cheios de saudades,
Qualquer um pode ajudar a tra, o que também depende das su- que eles precisam ter para o resto da com vontade de voltar.
associação? HáGntenção de incluir o res- as capacidades mataras e das suas vida. Estes jovens não podem ir para
. Sim, lançámos uma campanha. taurante nas actividades diárias vontades, embora pense que todas um lar de terceira idade pois eles não Para o Natal, que se está a
No nosso site, em www.assterapeu- dos jovens? têm os seus encantos. Mas a par estão preparados para os receber, aproximar, há alguma actividade
fica. com, está disponível a ficha dos Este não será só um local onde as destes ateliers de produção de coi- também não podem ir para um hos- especial preparada?
Amigos da ASTA Nós pretende- pessoas vão comer e encontrar pro- sas utilitárias existem ainda as aulas pital psiquiátrico porque não são Costumamos ter o Auto do Natal
mos que no futuro, quando faltas- dutos muito saudáveis, cultivados e de música, dramatização, pintura. doentes mentais, são especiaise espe- . mas este ano não foi possível prepa-
sem, por exemplo, subsídios por criados por nós, mas também um Tudo é estimulante, vivemos numa cíficos, cheios de valor mas que têm rar a peça de teatro devido à mudan-
parte da Segurança Social, ou qual- sítio onde os jovens vão trabalhar e grande família em que ninguém é que ser enquadrados num meio ade- ça de instalações. A Casa de Santa
quer crise que possa haver no país, servir os clientes. O espaço pro- mais do que ninguém, em que- quado e preparado para eles. Isabel - uma instituição de pedago-
não constituíssem motivo para que porciona um pôr-da-sol maravilho- todos trabalhamos, temos tarefas e gia curativa existente no país, forma-
a associação acabe. Ser Amigo da so, virado para a Serra da Estrela e se sentem responsáveis por aquele Considera que a ASTA tem da há 20 anos por estrangeiros,
ASTA é acreditar que esta é uma terá música ambiente - algo que di- espaço. ajudado a mudar mentalidades holandeses e alemães, que tem uma
estrutura saudável que dignifica o ficilmente se encontra na região. na região? prática muito grande neste campo -
ser humano e a pessoa com defi- Espírito familiar presente Isso é algo que temos constatado. faz o Auto dos Pastores, que há qua-
ciência em particular. Se conseguir- Como é a aceitação relativa- Não são só os órgãos de comunica- tro anos trazem às aldeias próximas
mos algumas centenas ou até uns mente aos trabalhos feitos na Quantos jovens residem na ção que nos procuram muito e ten- de nós. É o presente que todos os
milhares de amigos, penso que a ASfA? ASfA? ram ver qual é a filosofia da ASTA e anos dão à ASTA e que a associação
organização poderá ter alguma São muito apreciados. Por exem- São 15 no total, embora tenha- porque vivemos assim. As pessoas resolveu alargar a todas as aldeias.
autonomia e nunca vacilar ou sen- plo, uma jornalista do Jornal da mos capacidade para 30 externos, começam a perceber que aqueles Cada ano se faz num local diferen-
tir-se derrotada seja qual for a cir- Guarda, encomendou-nos mais de que vão e vêm todos os dias numa jovens que viam como uns tonti- te. É sempre um momento muito
cunstância. Ao pagar 20 euros por 200 azulejos para dar de prenda aos carrinha da associação que os vai nhos, uns coitadinhos das aldeias, esperado pelas crianças do nosso
ano, (deduríveis no IRS) estes ami- convidados quando casou. Para o buscar e levar, e mais cinco internos. afinal têm um valor imenso, porque concelho que são todas convidadas
gos terão sempre acesso à ASTA, campeonato de uma modalidade são eles que saem para a rua, que vão a assistir a esta peça muito bonita,
podem vir visitar-nos e até ficar uns desporriva que juntou uma série de Pensa aumentar o limite de ter com as pessoas, que fazem o pro- baseada na bíblia, e interpretada
dias porque temos os núcleos fami- equipas do país, pediram-nos para acolhimento da associação? grama de rádio e os animam. As pes- pelos colaboradores da Casa de
liares na aldeia que nas férias pre- fazer mais de 400 azulejos para Depois de termos os núcleos soas descobrem que não sabiam do Santa Isabel, embora entrem alguns
tendemos rentabilizar, oferecendo serem entregues a todos os partici- familiares da aldeia e a outra parte que os jovens eram capazes, que têm alunos. Costuma ser apresentada
um turismo saudável e solidário, pantes. Decorreu uma campanha nova toda preenchida penso que imensas potencialidades que desco- no dia 16 ou 17 de Dezembro, e
através de uma quantia simbólica. denominada "Uma pincelada na teremos capacidade para 35 jovens nhecem. A ASTA, apesar de peque- pela primeira vez, este ano, no novo
ASTA" para ajudar a terminar as ins- externos, mas para internos nunca nina, conseguiu desde há quatro espaço da ASTA. Um momento
Estes Amigos podem então in- talações novas para a qual se fizeram mais de 16. Não temos intenção de anos fazer um trabalho social que muito especial para o qual todos
teragir com os jovens? azulejos que se venderam pelas alargar mais o nosso limite porque muitos não conseguem levar a cabo. contribuem e que envolve um gran-
Podem até inscrever-se para redondezas: Vilar Formoso, Almeida se o fizermos - embora a minha Iniciou-se um novo ciclo, uma nova de convívio.O

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ao ensino de pessoas especiais não
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por parte deste, que alegou que o a sua actividade em 2000.
tinha grande capacidade para mover espaço não era na cidade, não tinha
o mundo e assim o tempo foi pas- infra-esrruturas, etc. Foi uma luta Ajudas precisam-se
sando. Quando o Marcos chegou que durou dois anos, mas acaba-
aos 14 ou 15 anos, deixei Lisboa, o ram por perceber que tinha que ser Como estão organizadas as
meu trabalho - nos Caminhos de aqui, junto da natureza, para que novas instalações?
Ferro Portugueses - e fui para Évora, os jovens não saíssem do seu habi- Existe o Centro de Actividades
para um monte alentejano com tat natural. Eles não têm que sair Ocupacionais (CAO) , constituído
uma comunidade terapêutica para das aldeias e ir para as cidades para por ateliers de tecelagem, olaria,
pessoas com deficiência. Fiz um ano ter uma estrutura que responda às carpintaria; salão polivalente para
de voluntariado, na companhia do suas necessidades. arte, dramatização, música, con-
meu filho, e aqui pus tudo em cau- gressos e seminários, já que esse é
sa. Percebi que tinha que fazer algu- o que fez durante esses dois também o papel da ASTA, promo-
ma coisa. Foi então que deixei a fa- anos? ver o conhecimento e valorização
mília, e mesmo o Marco teve que f-i Durante essa espera não cruzei os da diferença, seja através de encon-
car em Évora, enquanto eu fui, du- braços, resolvi fazer obras na minha tros nacionais ou internacionais,
rante quatro anos, para a Suíça, fazerprópria casa de forma a receber o formação, ou até do próprio conví-
um curso de pedagogia curativa, primeiro grupo de cinco jovens e VIO com as pessoas do concelho e

adequado para ajudar estes jovens. assim, em Outubro de 2000, come- não só, porque temos muitos ami-
cei a ASfA, corri outra monitora. gos em Espanha, em França, .em
Foi da Suíça para Almeida? famos buscar os jovens, davarnos- Tenerife. Ao lado do CAO está a
Não, voltei para Évora, onde lhes aulas, cozinhava-mos para eles, casa residencial, onde vivem os dez
fiquei mais dois anos, embora tives- ao mesmo tempo em que fazia toda jovens que já não vão a casa - seja
se já o sonho de construir na minha a parte administrativa inerente a porque a estrutura familiar está
aldeia, na Beira Alta, um sítio para uma instituição que estava a ser debilitada ou porque não têm essa
estes jovens. Era um sítio um pouco implementada. Depois disto a Segu- retaguarda - onde mora também
escondido do mundo onde muitos rança Social fez um acordo connos- um casal com a sua filha. Isto por-
jovens precisavam de apoio, de uma co para estes jovens, a ASfA come- que pedagogia curativa e sócio-.
Maria Leonor Vicente resposta social, mas apercebi-me das çou . a despertar interesse porque -terapia significa recriar família,
dificuldades que havia para cons- tivemos um papel social importante viver com e não para, o que torna
truir um sítio vindo do nada, já que e a partir daí não parámos mais. As tudo diferente. Há uma outra cum-
A falta de respostas sociais adequadas às necessi- eu nada tinha. Só passados estes dois pessoas do concelho iam perceben- plicidade, conhecimento conjunto,
dades de jovens especiais, portadores de defi- anos percebi, de um momento para do que os jovens com deficiência o que é extremamente terapêutico e
ciência, foi uma carência que Maria José Dinis o outro, que não podia continuar eram pessoas diferentes do que ima- é essa a nossa aposta no futuro.
constatou quando nasceu o seu filho Marco, há num sítio que, pensava eu, já não ginavam, com valor e potenciais
precisava de mim uma vez que já escondidos que era preciso desper- Como conseguiram a verba
27 anos. Um facto que acabou por impulsionar necessária para esta nova casa?
estava tudo construído e os jovens tar. Aos poucos a ASTA foi-se alar-
um grande sonho concretizado com o nascimen- da minha região precisavam do meu gando e as pessoas conhecendo e Da parte do PIDDAC houve
to da Associação Sócio-Terapêutica de Almeida apoio. Envidei então todos os esfor- apreciando o seu trabalho. Mais tar- uma contribuição de 415 mil eu-
(ASTA) em 1998 e em plena actividade desde ços para formar uma associação. de foi-nos doada uma casinha na ros, o que era pouco tendo em con-
2000. A ASTA, com o seu modelo de vida fami- Numa semana arranjei o nome, de- aldeia, a Casa de Oliveira, que re- ta que era necessário quase um mi-
liar, acolhe estes jovens especiais proporcionan- pois contactei amigos para dela fazer construímos com o apoio dos ami- lhão e cem mil euros tendo em
parte, que acreditaram no meu son- . gos e com o nosso voluntariado. conta o valor total da obra. O
do-lhes carinho, amor e actividades artesanais Seguiu-se uma outra, a Cristalina, remanescente foi arranjado pela
ho e fiz a escritura.
através das quais produzem diversos artigos que onde começaram a viver jovens que ASTA através de fundações estran- \~.
ajudam a angariar fundos para a sobrevivência E depois de cumprida a parte não tinham retaguarda familiar. O geiras como a Software, da Ale-
nem sempre fácil da associação. burocrática? grupo foi assim crescendo até onze. manha, que nos ajudou imenso

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