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fa) @ ITORA Visio Mundial y 3&8 5k ae jen pS Te cage Pacto de Lausanne Comentado por John Stott Pacto de Lausanne Comentado por John Stott seri LAUSANNE 30 anos PACTO DE LAUSANNE Comentado por John Stott ‘Traducido do originel em inglés ‘THE LAUSANNE COVENANT ‘An exposition and commentary Copyright © 1975 Comissio Lausanno para a Evangelizago Mundial, 186 Kennington Park Road, London SE 11 4BT, Inglaterra Direitos reservados pela ABU Eaitora SIC Caixa Pottal 2216 - CEP 01060.970 ~ Sio Paulo ~ SP Ec: editora@abub.org.br Home page: wawabut org bredivors ‘Visto Mundial RTupis, 38 - 20" andar - CEP 30190-060 Belo Horizonte - MG lome page: wivw.visuomundal org br Revisto: Edison Mendes de Rosa (Texts originais) «© Fred Ussunomiya (apresentagio © pretécio) Capa: Shingo Sato” 1" Eig - 1983, 2 Buigio ampliada - 2003 ‘A ABU Editors é a publicadora da ABUB - Alianga Biblica Univecitcia do Brasil AABUB é um movimento missionério evangélico interdenominacional que tem como ‘objetivo bisio a evangelizapso eo dseipalado de estudantes ~ univesitirios e seeundaristas © profissionsis, em parceria com igrejas e profissionsis crstios, Sua atuagio se di através dos préprios estudantes ¢ profissionais, por melo d= ntcleos de estudo bMblica, acampamentos cursos de treinamento. A ABUB faz parte da IFES - Inteynacionat Fellowship of Evangelical Students, entidade internacional que congroga mais de com ‘movimentos estadautis semethantes por todo o mundo. Apresentacao A Visio Mundial e a Alianga Biblica Universitaria do Brasil t¢m 0 prazer de reeditar importantes documentos oriundos a partir do I Con- sgresso Internacional de Evangelizagio Mundial em Lausanne, Suica, nesta série denominada “Pacto de Lausanne - 30 anos”. No ano de 1974, numa pequena cidade da Europa, reuniram-se 2.700 lideres evangélicos, de 150 paises, com suas diferentes histérias, experiéncias ¢ praticas. Daquele encontro originou-se um documento que marcou uma parcel significativa de comunidades teligiosas em todo © mundo. As reflexées ¢ propostas que transitaram em torno daquele evento influenciaram individuos e ministérios e contribuftam para alte- xara forma como muitos entendiam seu compromisso com oEvangelho, com 0 Senhor e com Sua obra. Certamente nao hé unanimidade em relagio aos contetides apresen- tados no Pacto de Lausanne. Alguns o consideram muito engajado ou progressista ¢ outros 0 percebem como uma proposta conservadora, pou- co ousada, Hé ainda interpretagées que o entendem como uta espécie de “cerceira via", a partir das diferentes opgBes teoldgicas disponiveis. Porém, no hé ditvidas de que ele representa e singulariza um processo ‘que demarcou e demarca a comunidade evangélica em diferentes partes do mundo moderno. © Pacto de Lausanne € referéncia para iniciativas que representam importantes contribuigdes na construgio desociedades mais justas ¢ igualitdrias, contextos em que a presenga e a atuagao das igzejas cvangélicas se singularizam pela busca em atender efetivamente 0 chamado que o Pai nos faz, na esperanca de que o nosso clamor pela vinda do Reino de Deus seja ouvido. Estas trés décadas nao envelheceram 0 documento, pelo contrétio, tornaram-no mais vigoroso, 4 medida que pautoua reflexao e a pritica de diversos grupos evangtlicos por todo o mundo. Temas como “evange- Iho integral”, “responsabilidade social”, “preservajo do meio-ambien- te”, “evangelho e cultura”, “contextualizaco da mensagem do evange- Iho” esto no foco de atencao de todas.as organizacdes ¢ grupos cristos que procuram servir ao Senhor com integridade ¢ a sociedade com rele- vancia. Centenas de milhares de pessoas foram impactadas por uma visio mais integral do Evangelho. ‘No Brasil, o Pacto de Lausanne teve influéncia direta na articulagio de diversos grupos ¢ eventos, tais como o Congresso Brasileiro de Evan- gelizacio (em 1983 ¢ 2003). Iniimeros teélogos, pastores ¢ lideres evan- gélicos levaram a frente seus ministérios procurando viver o Evangelho contextualizado ao meio em que vivem, numa clara compreensio da necessidade da “encarna¢do” da verdade no ambiente onde ela ¢ prega- da, edo carater integral de sua mensagem, apresentando a verdade toda ao ser humano como um todo. Hoje, a Igreja Evangélica Brasileira, despertada de seu distancia- meatto dos processos politicos e sociais e de outros temas “seculares”, est enxergando esse “novo mundo”, onde os evangélicos passam a ter maior participagio na vida pitblica do pais, com muitos irmaos e irmas vivenciado sua fé a partir do engajamento politico-partidrio e de uma militncia social comprometida com a justica eidentificada com os mais necessitados. A mensagem do Evangelho inclui nao apenas as “boas no- vas” de salvacio individual, mas o projeto de Deus para que os cidadiios celestiais - “os salvos em Cristo” - manifestem os sinais do Reino na sociedade decadente em que estdo inseridos. Bles so chamadosa ser sal luz, a fazer diferenca como cidadaos do Reino de Deus, aguardando, apressando e manifestando a vinda definitiva do Rei. Essa consciéncia de fazer parte de um processo histérico comandado por Deus ¢ funda~ mental para definira visio que um grupo evangélico tem da sociedadee das demandas de sua interagio com ela. Uma nova geracao de lideres cristdos surgiu apés 0 Pacto de Lausan- ne, muitos dos quais nunca tiveram acesso ou mesmo conhecimento do documento, Trinta anos se passaram, mas as premissas, as demandasea necessidade de “constante Reforma da igreja” sto um imperativo para que o Brasil nao perca a oportunidade de ser sacudido realmente por um “mover do Espirito Santo”, que se manifesta através de um povo escolhi- do, resgatado, submisso 4 Palavra e sensivel as necessidades do mundo para o qual é novamente enviado. A Palavra de Deus é a base para ins- truir quanto ao cardter € a conduta desse povo. O Pacto de Lausanne é tum documento fruto da reflexdo de diversos lideres evangélicos de todo 0 mundo, guiados pela Palavra, a fim de relembrar a Igreja quanto ao seu chamado de viver a plenitude do Evangelho com “todos os santos” nestes “dias maus”. Oseditores Lausanne, 30 anos depois ~ Ricardo Wesley Borges sve. Preficio .. Anexos Indice Inteodugao .. cece 1. O propésito de Deus 2. A autoridade e 0 poder da Biblia .. 3. A unidade e 2 universalidade de Cristo 4, A natureza da evangelizasio 5. A responsabilidade social crista 6. A Igteja ¢ a evangelizagio 7. Cooperagio na evangelizacio .... 8, Esforco conjugado de igrcjas na evangelizacio ... 9. Urgéncia na tarefa evangelistica 10. Evangelizacao e cultura 11, Educagio e lideranga 12. Conflito espiritual 13. Liberdade e perseguig¢io 14. O poder do Espirito Santo 15. O retorno de Cristo ... Conclusio Pacto de Lausanne... Pacto de Curitiba .... Compromisso de Belo Horizonte .. 52 EES EE EEE EERE eet EPS E GSEs eat i eateries teeta gece react Lausanne, 30 anos depois Ricardo Wesley Borges ‘Sesretério Geral da ABUB A’primeira vez.em que ouvi falar do Congresso Mundial de Evangel- zacio de Lausanne, que aconteceu em 1974, e do Facto de Lausanne, documento redigido ao fim do evento, foi jé no final da década de 80. ‘Tomei conhecimento deles através do ministério da Alianca Biblica Uni versitiria (ABU), Nessa época, quando fui estimulado a aprofundar meu estudo e compreensio das Eserituras, contei com a ajuda importance de referéncias de sintese doutrinaria ¢ de orientaco para nossa préxis mis- sionétia, como o Pacto de Lausanne. Passei entao a pecceber que minha fé ‘do admitiria mais fazer separacGes entre a dimensic da salvagio.pesso- al do individuo (entendida como a necessidade de urna resposta pessoal 20 chamado de Deus para reconciliagao, seguida do desenvolvimento de uma relagio intima de cada convertido com seu Serhor e Salvador) de uma adequada preocupacio integeal com o set humano em seu todo ¢ com as questées que afetam o mundo ern que vivernos (entendendo quea conversio do individuo nao se dé em um vécuo, e que o evangelho de Cristo afeta todas as dimensécs da vida). OPacto de Lausanne, documento produzido durante congresso que conto com cerca de 2.700 participantes, vindos de diferentes regis do planeta, foi com certeza um marco que j4 moldou mais de uma geragio de lideres da igreja de varios continentes. Ele estabeleceu paradigmas para a vivéncia de nossa fé que procuravam evitar o horizonte fechado do fundamentalismo, assim como esquivar-se das armadilhas de uma tcologia liberal, langando assim pontos de partida importantes para re- exo ¢ ago da igreja evangélica no mundo todo. Fazer uma anAlise aprofundada dos efeitos de Lausanne certamente é uma tacefa muito LAUSANNE, 30 ANOS DEPOIS ampla, que vai além do escopo deste artigo. Talvez entio pudéssemos pensarem uma abordagem um pouco diferente. A fim de langar luz sobre algumas questdes, contaret aqui duas historias, ocorridas em tempos bem distintos. Primeito, vamos aos cafezais do interior de Sao Paulo, em. meio a lutas por terra ¢ conversées a0 evangelho, décadas antes de Lau- sanne. Depois disso, iremos bem adiante, na década de 90, a0 visitarmos as dependéncias de uma faculdade situada nos bucélicos campos verdes da Inglaterra, onde os tiros da caga ao faisio assustam os mais desavisa- dos. Penso nessas duas situagdes pois elas, de uma maneira bem pessoal, ajudam-me a entender a importincia de um evento como o de Lausanne 0s marcos importantes que ele delineia para a igreja evangélica brasi- leiva Café, crise ¢ conversio O suorescorria da testa de Joaquim, enquanto ele espalhava o caféno terreiro. Bram os idos da década de 30 em uma fazenda no interior de Sto Paulo, no distrito de Baguacu, préximo a Olimpia. Joaquim lutava para sustentar sua mulher ecinco filhos em meio crise do café. Jé havia perdi- do parte de sua fazenda para um belicoso vizinho que agora cobicava 0 restante de suas terras. Certo dia, surpreendido em uma tocaia, atira de volta com sua velha garcucha, Ao reagir contra aquele que tramava tirar a sua vida, alveja-o de forma que o deixa com sérias seqttelas. Seu vizinho agora mancava, mas ainda era esperto o suficiente para mover uma aio 1a justiga contra ele por perdas e danos. Joaquim, em sucessivas derrotas 1a justica, vai petdendo aos poucos a terra que Ihe restava, Rastelava o café quando, ao ouvir a noticia da sentenga que o obrigava a um paga- mento adicional de cinco contos de réis, cambaleia, softe um ataque catdiaco ¢ morte. Buldlia se vé subitamente vitiva, com cinco filhos para criare gravida do sexto, Sem terra ou outros recursos, vé diante de si um fururo bem incerto e sombrio. ‘Nessa época, um pouco distante dali, na estrada para Atibaia, Acli- noo dirige agoniado 0 automével de praca alugado com um propésito: encontrar-se com sua esposa Benedita a fim de enterrar sua filhinha, que fo resistiu A pneumonia asmatica, Fla havia viajado com sua mle, que por sua vez havia ido tratar sua bronquite asmatica naquela estagao de Aguas. Ao chegar na pequena casa alugada para o tratamento de saiide, jd tarde da noite, surpreende-se 20 vé-la cheia. Pergunta a Benedita quem sio aquelas pessoas, ao que ela responde ‘so os crentes’. Esses crentes da igreja presbiteriana local a haviam ajudado, mesmo sem conhect-la, ‘com comida, remédios e amizade. Agora, os acolhiam no luto, 0s apoia- 10 PACTO DE LAUSANNE Conentado por John Stott vam nas providéncias a serem romadas ¢ no afeto de que tanto precisa- vam. A maneira como esses crentes os teatam e os amparam em suas necessidades fisicas e espirituais o comove. Apés 0 enterro, no dia seguinte, antes de volta: para a regio de Olimpia, decide ir igceja daquele ‘povo diferente’. Cuve o evangelho, ¢ decide ja se batizar. Ouve do pastor que o melhor seria voltar para sua cidade, procurar uma igreja evangélica e participar de uma classe de preparagio para 0 batismo. Ao dirigir de volta, essa idéia nao lhe sai da cabeca. Fica pensando em Eulalia, sua cunhada, e en: como ela precisa- va saber logo a respeito desses crentes e do evangelho que pregavam ¢ viviam, ‘Ao chegar, corre para encontcar-se logo com Eulilia, sabendo como cla estava ansiosa acerca do futuro de seus seis filhos. Procuram entio uma igreja metodista na cidade, recomendada pelo pastor presbiteriano de Atibaia, onde a familia é recebida de maneira além das expectativas que pudessem ter. Essa igreja ndo os trata de uma maneira meramente assistencialista, Comunica-Ihes um evangelho de perdao, de vida de resgate da dignidade. Ela resolve pagar-Ihes um altguel por 3 meses, pelomenos até que pudessem se estabilizar. O barbeito da igeeja assume ‘os cuidados com os cabelos da prole. O dentisca crente dé um trato geral na boca de cada um. E assim por diante. Oferecem ajuda para que seus filhos mais velhos encontrerm emprego ¢ logo a familia segue o seu rumo de reconstrugio, com o diferencial de agora conhece:em de fato acerca do amor redentor e transformador de Deus. Eulélia 7olta-se para 0 Se- hor e decide educar seus fillhos nesse evangelho que a alcanga em todas as suas necessidades. Foi com Eulilia que o evangelho alcangou minha familia. Era a mie de meu pai, o sexto que ainda nao havia nascido, quardo Joaquim se foi Ainda tive o privilégio de conhecé-la, com seu jeito simples e sua devo- 40 apaixonada ao Senhor. Com certeza, marcada pela mancira com ‘que o evangelho chegou até ela de maneira integral e redentora. Nesse ano de 2003 em que escrevo, Eulélia estaria, caso ainda estivesse viva, celebrando os 100 anos de seu nascirmento. Nao havia Pacto de Lausanne aquela época, mas havia evangelho que inspirou o Pacto. Etambém havia a influéncia de cutros movimentos da igreja de Cristo que, ao longo da historia, procuraram no fazer uma dicotomia entre a evangelizagao e 2 acao social consciente e teansfor- madora, como ocorreu com 0 movimento wesleyano na Inglaterra do século XVII. ‘Mas por que entio poderia ser importante esse resgate, de tempos it LAUSANNE, 30 ANOS DEPOIS ‘em tempos, como Lausanne procurou fazer, da integealidade da mensa- gemeda agenda do evangelho? Passo entio a uma segunda histéria para procurar ilustrar esse ponto. “Voct jf ouviu falar do Pacto de Lausanne?” (O vento frio de outono preenchia 0 patio externé com as folhas aco- breadas que pareciam vir de todo lugar. O curso sobre estudos latino- americanos estava para comegat. Graduados nas mais diversas areas, vindos do mundo todo, reuniam-se para estudar teologia, procurando ‘um melhor prepato pata o trabalho missiondrio a ser realizado em con textos 0s mais variados. Eramos os tnicos brasileiros entre estudantes de 34 paises diferentes. Além da minha esposa, Ruth, e de mim, havia ape- znas uns poutcos representantes de outros paises latino-americanos, vin~ dos de paises como Porto Rico Trinidad e Tobago. Nas discussées que buscavam uma melhor compreensiio de nosso estimado continente, inva- riavelmente os olhares se voltavam para nés, na expectativa de ouvir nossa opiniao. No comego, emitiamos nossas idéias ainda um pouco ‘hmidos. Depois, 20s poucos, famos nos soleando. Nossas contribuigées ¢ comentétios, temperados com uma preocupagio acerca dos intimeros problemas sociais que enfrentamos em nosso contexto, ja iam adquirin- do aquela exalragao tipica de um sangue latino. Dai no tardou a per- gunta de alguns colegas que nos deixou um pouco surpresos: “voces en- Yio se guiam pela teologia da libertacao, nao & mesmo!?” Estavamos nessa época desfrutando de um precioso tempo de estudos nessa faculda- de que aponta para a diversidadle emseu proprio nome, Faculdade Crista Todas as Nagées (All Nations Christian College), na Inglaterra. Depois de alguns anos envolvidos no ministério'estudantil, Ruth ¢ ew nos anima- ‘mos muito com a possibilidade de estudar a Biblia e refletir sobre anossa isso de uma maneira sistematizada ecom boa orientagéo. E creio que {oi isso que obtivemos durante esse tempo. Era ld que travavamos esses debates a respeito da missio da igreja. Fomos percebendo que havia al- guns colegas de outros paises que identificavam em nossos posiciona~ mentos idéias associadas & teologia da libertagio. Nesses momentos em ‘que eu era identificado com essa corrente teol6gica, tinha que confessar que na verdade pouco havia lido acecca dessa abordagem, e procurava entdo mesituar diante deles. Na busca deum referencial conhecido mun- dialmente, dizia algo assim, ‘J4 ouviu falar do Pacto de Lausanne?’, Um pouco mais de vinte anos apés esse documento ter sido escrito, estava eu alina Inglaterra, tentando me identificar como alguém sintonizado com as crengase énfases colocadas naquele documento. E, em especial, iden- 2 PACTO DE LAUSANNE Comentado por John Stott tificando-me com a declaracio do pacto que diz que evangelizagio ¢ aso social “so ambos parte de nosso dever cristdo” (Parégrafo 5).Como é que uma declaracao escrita hd 30 anos, apds um congresso realizado ‘em uma confortivel cidade na Suica, pode produzir uma agenda impor- tante de reflexo e ago quanto & responsabilidade social da igteja? De ‘que maneira as énfases quanto 4 necessidade de uma teologia de missio mais integral moldaram o evento ¢o pacto produzido? E de que maneira esse Pacto de Lausarine, desconhecido de tantos em nossa igreja evangé- lica brasileica, pode ser apontado como uma referér-cia importante para nossa pauta de reflexo ¢ acdo? Vamos tentar refleti brevemente sobre esas questées. Antes de Lausanne E preciso dizer que Lausanne nfo foi a vanguarda de um proceso de reflexdo teoldgica que inclufa uma agenda importance de compromisso social. Por outro lado, € verdade que teve um alcance einfluéncia mundi- ais a respeito dessa agenda de missio, Talvez tenha :ido seus méritos 20 permitir que expressdes dessa reflexdo teoldgica da missdo integral en- contrassem af espago, oportunidade para amadurecimento, para divul- gag e para formagaio de liderangas evangélicas do mundo todo a partir esses paradigmas missidlogicos que foram formulzdos. Pode-se apontar inclusive que houve influéncia latino-americana no processo de reflexio pré-Lausanne e na redacio final do Pacto. Desde a realizago do Primeiro Congresso Latino-Americano de Evangelizacao (Clade 1, 1969) e depois, com a criagao da Fraternidade Teolégica Lati- no-Ameticana (1970), reconhece-se que “tedlogos evangelicais latino- ameticanos comegaram a influenciar o debate tcolégico e missiolégico em nivel mundial ¢ tal influéncia foi sentida na preparago, execucao € desdobramentos do Pacto de Lausanne”!, Mesmo entre os que avaliam que a tedagio final do documento poderia ter sido mais radical, como seria 0 desejo dos latino-americanos, ainda assim reconhece-se que “0 ‘Congresso de Lausanne foi um momento em que o mundo ouviu a voz dos te6logos latino-americanos, tomando expresses de stias palestras eci- tando-as lireralmente no Pacto de Lausanine”®, Lembro-me da primeira vez em que lias palestras principais profe- Fidas em Lausanne. Todas muito boas, mas duas em espécial chama- sam-me a atcagdo. Eram justamente as de dois latino-americanos: René Padilla, com o tema “A evangeliza¢io € 0 mundo”, e Samuel Escobar abordando “A evangelizacio ¢ a busca humana da liberdade, justiga © realizasio pessoal”, Sao abordagens que levam a sério a integralidade LAUSANNE, 30 ANOS DEPOIS do evangetho, procurando fazer pontes reais com os desafios que nosso mundo nos epresenta. Certamente essa foi uma influéncia importante no espirito do congresso eem seus desdobramentos, assim como na reda- fo do proprio pacto, no qual Samuel Escobar teve a oportunidade de participar como representante da América Latina, odemos também pensar mais especificamente no Brasil, apontando para a reflexio teolégica que indicava o caminho do engajamento social, que ocorria desde trabalho, por exemplo, da Confederagao Evangilica do Brasil (CEB), na década de 50. Nesse contexto surge a ctiaglo de um grupo de trabalho, que foi o Setor de Responsabilidade Social da Tgreia. A CEB convocou, naquele decénio, uma série de consultas sobre a relagdo entre igreia e sociedade, culminando com a que ficou conhecida como a Conferéncia do Nordeste, em 1962, tendo como tema principal “Cristo e 0 processo revolucionario brasileiro”. B bem interessante observar alguns dos sub-temas abordados nessa conferéncia’ + A lgecia € Responsabilidade Social (Pr. Ernst Schileper) + Ceisto 0 Procesio Revolucionio Brasileiro (Rev. Almic dos Santos) + Os Profecas em pocas de Transformagdes Politicas ¢ Sociais (Rev. Joa- aim Beato) + ARevolusio do Reino de Deus (Rex Joo Dias de Aratio) + 0 Artista ~ Servo dos que Softem (Prof. Gilberto Frere) + O Nondeste no Processo Brasileiro (Celso Furtado} + Mudangas Sociais da Hiscria Contemposinea (Prof. Paulo Singer) + ResistEncia & Mudanga Social do Brasil (Prof. Juarez Rubem BrandZo Lopes) i “A Missio Total da Igreja numa Sociedade em Crise (Bispo Edmundo Knox Sherri) + Cristo ~ A Unica Solusio para os Problemas do Brasil (Ret Sebastizo Gomes Moreira) Pode-se dizer que essas abordagens iam mesmo além de Lausanne, inspicando a gestagio da depois nomeada teologia da libertagao. Se Lau- sanne entdo nao é novidade, em que sentido seu pacto se torna um marco importante? Creio que na maneira como ele aponta a possibilidade de, dentro de um contexto de bases de fé consideradas evangélicas, encon- ‘rar uma referéncia sélida e bem fundamentada acerca da importéncia da atuagdo da igreja no mundo. E essa se torna uma referéncia impor- tante para esse setor da igreja evangélica que nao se identifica nem com 6 fundamencalismo nem com uma teologia considerada mais liberal. 4 PACTO DELAUSANNE Comeniado por John Stott Nao digo isso para reforgar demarcagées facciosas dentro do corpo de Cristo. Mas o digo reconhecendo que ha esferas de nfluéneia e de forma- 0 de opiniao, Eo Pacto de Lausanne inseriu-se en um campo de atua- 640 onde pode langar bases importantes para a atuaso missiondria evan- gélica séria, engajada e comprometida com o que se convencionou chamar de teologia da missdo integral. ‘Veja, logo abaixo, por exemplo, o parigrafo 5 do Pacto de Lausan- ne, concernente & ‘Responsabilidade Social Cristz’,e avalie como boa patte da igreja evangélica brasileira ainda precisa refletir sobre as impli cagbes do que ai écolocado, de maneira a permitir uma revisio de nossa agenda de miss “Afiemamos que Deus ¢ 0 Criador 0 Juiz de todos 0s homens. Portanto, Palestras citadas por QUEIROZ, Carlos Pinheiro. Eles herdardo a terra. Cuitiba, Encontro, 1998, p. 16, “In: Buangeliaagdoe Responsabilidade Social $40 Paulo, ABU e Visto Mundial, 1983, pls. ns A Evangelizago do Brasil: Uma Tarefa Inacabada, S40 Paulo, ABU, 1985. 18 beeenerennsnstnntunentnnistatnn ues iteesaenintnanenian init PepaRasLAnRRRRARISERLGAReTRNRNENReH neni iis Prefacio Um eedlogo que ensina na Asia, escrevendo acerca do Pacto de Lau- sane, assim se pronunciou: “A histéria poder4 revelar ser esse Pacto a mais significativa das confissdes sobre o evangelismo ja produzidas pela igreja”. Trata-se de uma afirmagio ousada. Como diz o tedlogo, 56 a Historia poderd dizer. Entrementes, enquanto aguardamos o veredicto da Historia, pode-se perguntar: Como o Pacto veie a ser redigido? ‘Uma primeira declaracio, razoavelmente curts, foi produzida dois ou trés meses antes do Congresso e submetida, pelo correio, a diversos conselheizos. Pode-se agora dizer que esse documento, na verdade, surgits do Congresso (embora o mesmo niio tivesse ainda se teunido), por refle- siras contribuigbes dos oradores principais, cujos trabalhos haviam sido publicados antecipadamente. © documento foi revisto & luz dos comen- tarios dos consclheiros, ¢ essa revisio foi submetida a outa revisio, ‘mais tarde, em Lausanne, pela comissio de redagio. De maneira que 0 {que foi submetido a todos os participantes no meio do Congreso foi a terecira redagao. Foi-Ihes solicitado que inandassem suas contribuigdes, individualmente ou em grupo, € isso responderamcom grande diligéa- cia. Centenas ¢ centenas de textos foram recebidos (nas linguas ofici- ais), traduzidos para 0 inglés, selecionados c estudados. Algumas emen- das cancelavam-se umas ds outras, mas a comissio de redagio incorpo- rou quantas péde, ao mesmo tempo assegurando a utilizagio do docu- _mento final como tevisdo reconhectvel da cépia enviada aos participan- tes, Pode-se, entao, dizer que o Pacto de Lausanne exprime um consenso do espirito ede clima reinantes no Congresso de Lausanne. Gostaria de expressar aqui a minha profunda gratidio ao dr. Hud- son Armerding ao sr, Samuel Escobar, que foram dois outros membros da Comissio de Redacio; ¢ 20 dr. Leighton Ford e ao dr. Jim Douglas, que nos ajudaram. Todos se empenharam com ardor e consciéncia, € sentimos uma harmonia de mente ede espirito que, assim o.cremos, nos foi concedida por Deus. A palavra “pacto” nfo se usa aqui em seu sentido técnico, biblico, 19 PREFACIO ‘mas no sentido ordindrio de um contrato que impée obrigacdes. Por exem- plo, na Escécia do século 17 havia os famosos “pactitios”, que se liga- vam uns aos outros por uma “liga e pacto solenes”, a fim de manter a liberdade da igreja. A razao pela qual se escolheu a expressio “Pacto de Lausanne”, ao invés de “Declaragio de Lausanne”, & que desejavamos fazer mais do que simplesmente encontrar uma formula verbal que fosse objeto de um acordo. Haviamos decidido que nao nos limitariamos 2 declarar alguma coisa, mas a fazer alguma coisa, a saber, comprometer- ‘mo-nos com a tarefa de evangelizacéo mundial. ‘As quinze secdes de pardgrafos nas quais se subdivide 0 texto do acto sio razoavelmente densas de contetido, De maneira que 0 propési- to desta exposicaoe comentario €ajudar 2 “digeri-lo”, a extrair tanto 0 significado como as implicagées do que ele diz. Inevitaveimiente, essa é uma interpretagZo pessoal, que no trazem sia autoridade da Comissio de Planejamento. Nao obstante, foi feita uma tentativa conscienciosa de ajust-la a0 contexto dos trabalhos lidos no Congresso, bem como das prelegses e da discussio, ¢ de deixar que o Pacto falasse por si pré~ prio. & poressa razio que o texto completo aparece duas vezes, ptimeiro no cabegalho de cada segao e, depois, fragmentado em frases ¢ incorpo- ado a0 comentirio (em itélico). Esse mesmo desejo de deixar que 0 Pacto fale por si mesmo levou a decisdo de omitir bibliogtafia ¢ referéncias a outra literatura. As cita- es feitas procedem unicamente de trabalhos do Congresso, das prele- {Ges ali proferidas (impressas por completo no Compéndio Oficial’) edo texto biblico (na lingua portuguesa, da Edicdo Revista ¢ Atualizada no Brasil, da SBB). As referéncias biblicas sio numerosas, pois 0 Pacto $6 se recomendacé A medida que se mostre como a verdadeira expressao do ensino biblico, bem como dos principios da Biblia ‘Obispo Jack Dain, Presidente do Congresso, réferiu-se a Lausanne como “um processo, no apenas um evento”. Um dos aspectos importan- tes da continuidade do processo sera o estudo do Pacto tanto por indivi- duos como por geupos. Para facilitar a discusséo, acrescentou-se a0 fim de cada capitulo um questiondrio sobre o assunto, John Stott (etembro, 1974) pest cen NASR RNOMRIOMRLAKNSERRICIRISSte LIN PACTO DE LAUSANNE Comentado por Joba Stot Notas arth earch eo his vie Que tnd ou a sun vo) ~ 1400 pginas—ém latvia abrangent acta do Congiaso de asanne scwebrangcbento No Gil reeao em 197%. Complagto de todos on tabu ido as Coreen preeges pina, eabslhor sobre esata ¢teslogay rates saa ¢ ti cdo iis Aen pla eel a ca pornguts obo tle 4 miso cess no mando ae (ABU Boor Vg Mundial, 1982), a a 7 21 Pacto de Lausanne Comentado por John Stott INTRODUCAO A Introdugao ao texto do Pacto nao & um simples prefrmbulos ela descreve 0 contexto no qual se deve ler e interpretar o Pacto. Ela diz algo importante acerca dos participantes edo clima do Congreso, bem como damaneira pela qual ele péde ser tealizado. Nés, membros da Igreja de Jesus Cristo, procedentes de mais de 150 nag6es, participantes do Congresso Internacional de Evangelizaco Murn- dial, em Lausanne, lowvamos a Deus por sua grande salvacio e regozija- ‘mo-nos con a comunhio, que, por graca dele mesmo, podemos ter com, ele e uns com os outros, Bstamos profundamente tocados pelo que Deus vem fazendo em nossos dias, movidos ao arrependinsento por nossos fra- cassos e desafiados pela tarefa inacabada da evangelizagao. Acredita- ‘mosque o evangelho sio.as boas novas de Deus panatodo o mundo e; par sua graca, decidimos obedecer ao mandamento de.Cristo de proclamsd-lo a toda.a humanidade e fazer discipulos de todas as nagées. Desejamos, portanto, reafirmar a nossa é ¢ a nossa resolugao e tornar priblico 0 nosso pacto. a. Os participantes de Lausanne Nos, participantes do Congreiso Internacional de Evangelizagao ‘Mundial em Lausanne, Suiga (16 a 25 de julho de 1974), identificamo-, nos de diversas maneiras. Para comegar, viemos de mais de 150 nagées. A revista Time referiu-sc a0 Congresso como “um forum formidével, pos- sivelmente a mais abrangente reunio de cristdos jé realizada”. No'ton- go da parede por trés da plataforma, exibia-se a legenda do Congresso nos eis idiomas oficiais: “Que o mundo ouga a sua vor”. Contudo, havi- amo-nos conscientizado de que o. mundo ja tinha comegado 2 ouvir ea reagit, pois 05 2.700 participantes, com todo o espestro de pigmentagio de pele e de trajes coloridos, pareciam ter vindo de todos os cantos do slobo. Foi especial motivo de goz0 0 fato de que 50% dos participantes, e também dos oradores, bem como da Comissao de Planejamento, fos- sem oriundos do Terceiro Mundo. De lamentar profudamente o faro de alguns paises, incluindo a Unido Soviética ¢ a China continental, nfo terem mandando representantes. A despeito, entretanto, de nossa diversigade racial e cultural, inha- ‘mos consciéncia de uma wnidade profunda e maravilhosa. Pois éramos todos membros da lgreja de Jesus Cristo, cristios que levarn tanto Cristo como a Igreja seriamente. Nao confundimos os dois, imaginando que pertencer a igreja visivel signifique necessariamente que pertencemos 25 INTRODUGAO também a Cristo, Por outro lado, reconhecemos que nao podemos cha- mar Jesus de Senhor sem sermos membros responséveis de sua nova co- ‘munidade. Em particular, como cristios evangélicos, louvamos a Deus por sua grande salvagdo que ele, de uma vez por todas, cumpriu e agora nos outorga através de Jesus Cristo. Gientes de nossa comum participagio nessa salvagio, regovijamo- nos com a comunhao que, por graga dele mesmo, podemos ter com ele e suns com os outros. b. Ocspirito de Lausanne E sempre dificil exprimir em palavras detcrminado clima espititual. Contudo, “o espirito de Lausanne” foi mais tangivel do que o so 0s cespiritos em sua maioria. Sei primeiro elemento surge na frase: Estamos profundamente tocados pelo que Deus vem fazendo em nossos dias. Pois estamos convencidos de que ele vem agindo, e temos sido instigados pela evidéncia colocada diante de nés por casos ¢ por estatisticas. Em segun- do lugar, somos movidos ao arrependimento por nossos fracassos. Varios oradores deram vor 4 esperanga de que o Congresso fosse marcado mais pelo arrependimento do que pelo triunfalismo evangtlico. “Triunfalis- mo” é uma atitude de autoconfianga e atitocongratulaga0, que nunca fica bem nos filhos de Deus. Mas o espitito de Lausanne foi um espirito de humildade e arrependimento. Em terceiro lugar o sentimento de nos- sas falhas passadas e da aciio presente de Deus leva, inevitavelmente, a um exame resoluto do futuro: somos desafiados pela tarefa inacabada da evangelicagio, ¢ 0 desafio nao caiu no esquecimento, ¢. O Pacto de Lausanne Tais pessoas, portanto, em tal espitito, é que sentiram a necessidade de se unir num compromisso ou “pacto”. Acreditamos que o evangelho iio as boas novas de Deus para- todo o mundo. Essa conversa sobre con- quista do mundo soa, por acaso, presungosa? Se o faz, estamos contentes de suportar a critica, pois os cristdos so embaixadores de Jesus Cristo, 0 império mundial que procuramos (como Jesus nos disse em Mt 6:33) €oreino de Deus. De maneira que, por sua graga, decidimos obedecer ao mandamento de Cristo. A referencia dirige-se 20 “grande” ¢ “universal” mandamento do Senhor ressurreto, que consiste tanto em proclamar 0 evangelbo a toda a humanidade (“a criagao inteira”, Mc 16:15) como fazer discipulos de todas as nagdes (Mt 28:19). Desejamos, portanto, reafirmar a nossa fé (nossa convicgao de queo ‘evangelho sio as boas novas de Deus para o mundo) e a nossa resolugo 6 PACTO DE LAUSANNE Comentado por Joha Stott (nossa determinacao de proclamé-lo a toda a humenidade) e, a luz des- sas coisas, nfo apenas assumir um compromisso pessoal, particular, mas tormar priblico 0 nosso pacto. 1. 0 PROPOSITO DE DEUS Afirmamos a nossa crenga no tinico Deus eterno, Criador e Senbor do mundo, Pai, Filho e Espirito Santo, que governa todas as coisas segun- do 0 propésito da sua vontade. Ele tem chamado do mundo ian povo para si, enviando-o novamente ao mundo como seus servos e testemunhas, para estender 0 sext reino, edificar o corpo de Cristo e também para a sléria do seu nome. Confessamos, envergonhados, que muitas vezes ne- gamos 0 nosso chamado e falhamos em nossa missdo, em raza de nos termos conformado ao raundo ou por nos termos isolado demasiada- ‘mente. Contudo, regozijamo-nos com o fato de que, mesmo transporta- do em vasos de barro, 0 evangelbo continua sendo um tesouro precioso. A tarefa de tornar esse tesouro conhecido, no poder da Espirito Santo, desejamos dedicar-nos novamente, (O Pacto inicia-se com um parigrafo acerca de Deus, porque Deus é 6 inicio de todas as coisas. Por mais longinquamente que percorramos a trilha das causas eefeitos, nio podemos iralémn de Deus. Eleé a primeira causa. De mancira que os cristios descjam pensar teologicamente, isto 6 relacionar todo o seu pensamento com Deus, que € realidade dltima pessoal por tras de tudo. Particularmente, nfo podemos falar acerca de missao ou evang zacio sem primeiro falarmos acerca de Deus. Pois missZo e evang ‘0 nio sio novidades do homer moderno, mas parte do eterno propési- to de Deus. O paragrafo faz rapida referéncia ao que Deus é¢ a0 que ele faz, e mais adiante descreve o seu plano para seu povo, terminando com ‘a certeza de seu poder, apesar de nossa fraqueza humana. a. Oser que é Deus ‘Nenhum esforgo feito no sentido de fornecer uma declaragao plena do ensino biblico acerca de Deus. Afirmamos nossa crenga em Deus € concentramo-nos em alguns elementos essenciais de nossa fé nele. Pode ser til considerd-lo aos pares. Primeiro, Deus tanto eterno como ativo no tempo. Ele ¢ 0 Deus eterno, existindo fora do tempo e desde antes do inicio dos tempos. As Escrituras ndo deixam dvidas acetca disso, "De eternidade a eternida- de tu & Deus” (SI 90:2). Entreranto (para usar os termos da teologia Classica), o Deus que é “transcendente” para além do universo também & “imanente” no interior dele, Ele 0 criow ¢ governa tudo o que fez. Ele & Criador e Senhor do mundo. As duas verdades aparecem juntas em Isaias “o eterno Deus, 0 Senhor, o Criador dos confins da terra”. PACTO DE LAUSANNE Comentado por John Sto Segundo, Deus ¢ tanto um como trés. Ele & 0 nico... Deus... Pai, Filho ¢ Espirito Santo, A sua unidade nfo pode ser colocada em divida, O cristdo afirma isso to resolutamente quanto qualquer judeu ou mao- metano. “O Senhor nosso Deus é 0 tnico Senhor” (Dr 6:4)-Diz ele: “Eu sou 0 Senhor, ¢ nfo ha outro; além de mim no hi Deus” (Is 45:5). A unidade de Deus é fundamental na doucrina evangélica. Por existir um s6 Deus, ele exige e merece a total lealdade de toda a humanidade (Dr 6:4,5; Mc 12:29,305 1m 2:5). Contudo, esse Deus tnico ¢ pessoal revelou-se em tx€s fases(primeito, como Deus de Israel, depois como o Senihor encarna: do ¢ depois como o Espirito Santo) dé tal maneira a demonstrar que ele existe eternamente nesses trés miodos pessoais de sex. De mneira que 0 Jesus tessurteto ordenou batizar os convertidos “em nome (observe-se o singular) do Pai, do Filho e do Espirito Santo” (Mt 28:19). “Terceiro, Deus governa tanto a natureza como a Histéria. Aquele queé Criador e Senhor do mundo também governa todas as coisas segun- doo propésito da sua vontade. Tao convencidos disso estavam os apés- tolos, que acreditavam que até a hostlidade dos perssguidoresestava sob ‘ocontrole de Deus. Proibidos de pregar e ameagadosde severas penas se desobedecessem, clamatam a Deus como “Senhor Soberano” e declara- rami quea oposigdo do homem a Cristo é parte do plano de predéstinacio (At4:28). Edeve ser assim, porque Deus “faz todas ¢s coisas conformeo conselho da sua vontade” (Ef 1:11) b. O propésito de Deus Da obra de Deus como Senhor da natureza ¢ ¢a Hist6tia, 0 Pacto volta-se em dite¢do ao propésito redentor de Deus, a saber, chamar uni ovo para si. Comegou com Abratio, a quem Deus disse: “Det farci uma ‘grande nagio... ¢ em ti sero benditas todas as familias da terra” (Gn 12:13). Continnou com Israel, com quem, depois co éxodo, renovou 0 seu pacto de graca: “Sereisa minha propriedade peculiar dentre rodos os povos” (Ex 19:3-6). Completa-se agora (através de obra evangelistica da lereja), na inclusio dos crentes gentios: “Deus... visitou os gentios, a fim de constituit dentre eles um povo para o seu nome” (At 15:14). En. to, no fim, se reuniré diante do trono de Deus uma multidao intern: ‘onal inumeravel, ¢ sua promessa a Abraio; finalmente; ser cumprida (Ap 7:9). Esée conceito da igreja como “povo de propriedade peculiar de Deus” éreromado no Novo Testamento (1P¢ 2:9) e mostra que o cultoé 2 primeira vocagao da Tgreja. © Pacto de Lausanne, quando se trata do'povo de Deus, concentra-se na relagdo da Igreja com o munde, isto, do powo cris‘Ao com 0 poro nto- ~» ‘© PROPOSITO DE DEUS cristo, ou com a sociedade secular. Ele raz consigo dois aspectos com- plementares dessa relacio: Ble tem chamaado do mundo um povo para si, enviando-o novamente ao mundo. O proprio Jesus referiu-se a esse duplo papel da Igreja em sua orago relatada em Joao 17. Ele comegou a descre- ver 0 seu povo como sendo “homens que me deste do mundo” (vs. 6,9. Contudo, os que, num sentido, provieram do mundo, em outro sentido nao sairam dele, pois ainda estavam nele, Jesus péde continua, dizendo: “Jé ‘no estou no mundo, mas eles continuam no mundo” (v 11). Alm disso, no lhes bastava residir “no” mundos era preciso que ele os enviasse “a0” mundo (18). As pteposiges aqui presentes - “de”, “em” e “a” ~ juntas, descrevem como deve ser a elagio do cristo com o mundo descrente. Quando falamos em rermos de “enviar a Igreja ao Mundo”, estamos falando de sua miso, pois ¢ isso que a palavra quer;dizer. E qual é a missio da Igreja no mundo? Evangelizacéo sim, mas no apenas isso. Pois Deus envia 0 seu povo como seus servos e testemunhas. Nao ua s6 coisa ou outta, mas ambas. Jesus veio servir (Mc 10:45) ¢ testemunhar (Jo 18:37). Essas duas atividades é que constituem a missio da Igeeja. So dissertadas mais adiante no Pacto: a evangelizagio, no parigrafo 4, a responsabilidade, no parigrafo 5. Entrementes, os objetivos da mis- sto da Igreja so resumidos na frase para estender o seu reino (acerca do que Jesus falou muito; cf. Mt 6:10,335 13:31,32), edificar 0 corpo de Gristo (acerca do que escreveu Paulo; cf. Ef 4:11-16) e também para a sléria do seu nome (0 que é nao somente 0 objetivo iiltimo da missio, ‘mas rambém “o fim principal do homem”, cf. SI 115:1; Ef 1:6,12,14). Essa afirmagdo acerca de Deus e de seu alto propésito para a Igreja, ‘no mundo leva-nos, ineviravelmente, & situago de que confessamos, en- vergonhados, que muitas vezes negamos 0 nosso chamado e falhamos em nossa missdo. Pois sempre tendemos a caic num dos dois extremos. Ou. estamos tio determinados a viver no mundo e manter contato com nio- cristaos, que chegamos a assimilar idéias e padres nao-cristaos e entio nos tornamos conformados ao mundo por nossa propria culpa (Rm 12:12); ou estamos tio determinados a nao perder a nossa identidade crista, que passamos a evitar contato com os nao-cristios no mundo ¢ assim nos isolamos demasiadamente por nossa propria culpa (Jo 17:15; Co 5:10). A melhor maneira de evitar esses dois equivocos ~ conformi- dade e afastamento ~& engajar-se na missfo. Pois se nos lembrarmos de que somos enviados ao mundo como representantes de Cristo, ndo pode- Femos nos conformar ao mundo (pois nesse caso deixariamos de ser re- presentantes de Cristo), nem nos isolarmos dele (pois nesse caso nao nos restaria ninguém para quem irfamos representé-lo). 30 PACTO DE LAUSANNE Cementado por John Stott «.O poder de Deus ‘A consciéncia de nossos fracassos nao seré justiicativa para que decidamos abandonar as nossas responsabilidades. f-verdade que somos como vasos de barro: frageis, fracos eimpotentes. Mas esses vasos trans- portam o evangelho... um tesouro precioso,¢€ através da nossa propria fraqueza que 0 poder de Deus mais se destaca (2Co 4:7; ef, 1Co 2:3-5 2Co 12:9,10). De maneira que o primeiro pardgrafo do Pacto termina ‘com uma referencia (desenvolvida no pardgrafo 14) 20 poder do Espirito Santo para a tarefa evangelistica a qual desejamos dedicar-nos nova- mente, Questionario 1. Qual a importéncia da doutrina de Deus em relacio a evangelizacio? 2. Let Jodo 17:9-19 e fazer um tesumo, de acordo com o ensinamento de Cristo que ai se encontra, das relagies do cristéo com 0 mundo, 3. A palavra mais exata para descrever a relagdo ¢a sua igreja como ‘mundo seria “conformidade”, “afastamento” ou “misséo”? Quais as, medidas para remediar o que Ihe parece errado? 3 2. AAUTORIDADE E O PODER DA BIBLIA Afirmamos a inspiragao divina e autoridade das Escrituras tanto do Velho como do Novo Testamento, em sua totalidade, como tinica Pala- ura de Deus escrita, sem erro em tudo o que ela afirma, ¢ a tinica regra infalivel de fe prética. Também afirmamos 0 poder da Palavra de Deus para cumiprir o seu propésito de salvagao. A mensagers da Biblia desti- nase a toda a humanidaile. Pois a révelagao de Déus em Cristo e na Escritura é imutivel. Através dela, o Espirito Santo fala ainda hoje, Ele ilumina as mentes do povo de Deus em toda cultura, de modo a percebe- rem a sua verdade, de maneira sempre nova, com os préprios olhos, & assim revela a toda a Igreja wma porgao cada vez maior da multiforme sabedoria de Deus. eee ate eee primeiro lugar pela evangelizacao mundial, inclua uma declaragao acerca da auroridade biblica e, na verdade, a enfatize, dando-the um lugar to proeminente, s6 inferior & doutrina de Deus. Mas isso refletefielmente 0 programa do Congresso, em que o primero texto sobre fundamento bi- blico teve por titulo A autoridade biblica ¢ a evangelizagao. Assim ex- primiu-se o dr. Susumu Uda: “O problema da autoridade é 0 mais essen- cial que a Igreja Cristi sempre enfrenta®, Tanto a evangelizagao como ‘o-acompanhamento de convertidos envolve o ensino, colocando, pois, a questo: “Que ensinaremos nés?”. Como disse o dr Francis Schaeffer em seu iltimo trabalho: *O evangelho que pregamos precisa ser rico de con- teido”.E esse contetido precisa ser biblico. O Pacto concentra-se em 18s aspectos da Biblia: sua autoridade, seu poder e sua interpretacao. a. A autoridade da Biblia A “Biblia” so as Escrituras tanto do Velbo como do Novo Testa- ‘mento, em sua totalidade, e dela se diz que so 2 tinica Palavra de Deus escrita. Escritura quer dizer “Palavra de Deus”, porque Deus a “profe- iu” (Hb 1:1-2; 17s 2:13). B também sua “Palavra escrita”, porque cle fer. com que cla fosse registrada para instrucao das geragdes posteriores (Rm 15:4; 1Co 10:6,145 Tm 3:14,15). E trata-se de sua tinica Palavea escrita, porque ndo podemos acitar as escrituras supostamente sagra- das de outras celigides (por exemplo, o Coro ou o Livro Mérmon) como sc tivessem sido ditadas pelo Espirito e proferidas pela boca de Deus. As trés palavras que se usam para mais claramente definir a origem divina das Escrituras so: inspiragdo, veracidade e autoridade. {) Inspiragao. Isso no quer dizer que Deus, de uma forma ou de 32. PACTO DE LAUSANNE Comentado por John Stot outra, soprot em palavras o que ja havia sido escrito ow nos autores que as escreveram, mas antes quer dizer que as palavras, elas mesmas, havi- am sido “sopradas por Deus” (2Ti 3:16, literalmente). Naturalmente gue eram também palavras de homens que falavam ¢ escreviam com liberdade. Entretanto, rais homens eram “movidas pelo Espirito Santo” (2Pe 1:21) atal ponto que de suas palavras se poderia dizer que 0s labios de Deus as proferiam (Is 40:5) (ii) Veracidade, Uma vez que a Escritura ¢ a Palevra de Deus escrita, cla é inevitavelmente verdadeira, Pois “Deus nao ¢ homem, para que rminta” (Nin 23:19). Pelo contrério, como Jesus mesmo disse em oracio, & sem erro em tudo o que ela afirma. Observe-se 0 exidado em determi- nara sua abrangéncia. Pois nem tudo 0 que a Fscritura contém éafirma- do porela, Para dar uim exemplo extremo, o Salmo 14:1 contém a seguin- te declaracao: “Nao hé Deus”, Essa declaracio é falsa. Mas no é a Escritura que afirma isso. O que a Escritura afirma nesse versiculo nioé co atelsmo, mas a loucura do atefsmo: “Diz o insensato no seu coracio: Nao hé Deus”. Importa, pois, que em todo o nosto estudo da Biblia consideremos a inten¢o do autor ¢0 que ele firma. Qualquer que seja ‘oassunto de que trata a afirmagio, é isso que é verdadeito e infalivel. (iii) Autoridade, A ordem das trés palavrasé ldgica. Ea divina inspi- racdo das Escrituras que asseguta a sua veracidade, 2 porque as Escritu- 1assdoa verdade oriunda de Dens, elas tem autoridade sobre os homens. Na verdade (tal como na Confissio de Westminste), trata-se da tinica regra infalivel de fé e pratica. Diferentes igrejas valocizam regras secun- arias (credos, confissdes e tradigées) para governat a sua fé (0 que cré- ‘em e ensinam) ¢ a sua pritica (0 que fazem), mas as Escrituras sio a tinica regra infalivel, diante de cuja autoridade todas as igeejas deveriam hhumildemente se curvar. O préprio Jesus, em sua pclémica com os fari- seus, tornou claro que as tradigdes eclesiésticas prec'sam sempre se sub- meter as Escrituras, porque aquelas palavras so do homem, a0 passo que estas so de Deus (Mc 7:1-13). De fato, a propria reverente submis- sdo de Jesus as Escrituras do Velho Testamento eo que fez para prover as Eserituras do Novo Testamento, nomeando os apéstolos, configuram, conjuntamente, uma das principais razSes para accitarmos a autoridade das Escrituras. O discipulo nao esté acima de seu mestre, b. 0 poder da Biblia ‘Também afirmamos o poder da Palavra de Deus para cumpriro seu ropésito... As palavras de Deus ndo so como as nossas palavras. AS palavras do homem sto sempre to débeis como o f6lego com que sio 3 A AUTORIDADE E 0 PODER DA BIBLIA proferidas. Mas quando Deus fala, também age. Sua Palavea nunca vol- «a vazia para ele; sempre cumpre 0 seu propésito (Is 55:11). Por exemplo, foi por intermédio de sua Palavra que ele criou. “Disse Deus... ¢ assim se fez” (Gn 1:9 e através de todo o capitulo). “Ele falou, e tudo se fez” (SI 33:9). (© que é verdade acerca da criagio é igualmente verdade acerca de seu propésito. O proprio evangelho 6 “o poder de Deus para a salvago detodo aquele que cré” (Rin 1:16). O homem ndo pode salvar-se por sta propria sabedoria. Ao contrétio, “aprouve a Deus salvar aos que créem, pela loucura da pregaca0” (1Co 1:21). Nao que devéssemos separar 0 poder da Palavra de Deus do poder do Espirito de Deus. O Espirito usa a Palavra, fala e age através dela (ver 1Co 2:1-5; 17s 1:5; 1Pe 1:21). As Escrituras sito ricas de metéforas que indicam 0 poder da Palavea nas aos do Espirito (por exemplo, Jt 23:29: “fogo” e “martelo”; Ef 6:17 ¢ Hb 4:12: “espada”; 1Pe 1:23 ¢ Tg 1:21: “semente”, etc.). Essa certeza deveria tornar confiantes todos os cristdos que, em sua pregagio bem como em seu testemunho, lidam com as Escrituras de forma fiel ¢ com humildade. ¢. A interpretagao da Biblia ‘As quatto iltimas frases do pardgrafo tocam num importante para- doxo a respeito da nossa compreensio da Palavra de Deus. Por um lado, a.mensagem da Biblia ¢ exatamente a mesma para todos os homens em todos os lugares ¢ todos os tempos. Sua relevancia no se limita a qualquer geragio ou cultura particulares. Pelo contrario, cla destina-se a toda a humanidade. Isso se deve fato de que a revelagao de Deus em Cristo e na Escritura é imutivel. Como disse Jesus, “ela nto pode falhar” (Jo 10:35, ef. Mt 5:17,18). Ela nos foi entregue “de uma vez por todas”, inalteravelmente (Jd 3). Esendo ela a verdade de Deus, pos- sui uma universalidade maravilhosa, Sendo que através dela o Espirito Santo fala ainda hoje, ela tem uma mensagem para todos em toda parte. Por outro lado, sua inalterabilidade néo é uma uniformidade desco- Jorida, estética, morta, Pois, assim como o Espirito Santo usou a perso- nalidade ¢ a cultura dos escritores da Palavra, a fim de veicular através, de cada um algo novo ¢ apropriado, assim também hoje ele ilumina as ‘mentes do povo de Deus emt toda a cultura, de modo a perceberem a sua verdade, de maneira sempre nova, com os préprios olhos. E.0 Espirito que abre os olhos de nossos coragdes (EF 1:17,18), ¢ esses olhos € coragées pertencem a jovens ea velhos, a latinos ¢ a anglo-saxdes, a africanos, a asifticos ¢ a americanos, a homens ea mulheres, ao poético e a0 prosai- 34 | | PACTO DE LAUSANNE Comentado por Jobn Stott co. E esse “magnifico e intrincado mosaico da humanidade” (tomando emprestada a frase do dr. Donald McGavran) que o Espirito Santo usa para revelar, a partir das Escrituras, uma porgdo cada vez maior da multiforme sabedoria de Deus {teadugo literal de EE3:10). Assim, toda a igreja deve receber a revelacao integral de Deus em toda a sua beleza e opuléncia (cf. BF 3:18 “com todos 0s santos”) Questionario 1. Que relevancia tem para o evangelismo a decla:agio que 0 Pacto faz, com respeito & inspiragao ¢ & autoridade da Biblia? 2. Que diferenca fara na evangelizagao se realmen:e acreditarmos que a Palavra de Deus tem poder? 3.0 Pacto faz distingao entre a obra do Espirito Santo na “revelacio” (a escrita da Biblia) e a sua obra na “iluminagao” (a Icitura da Biblia). Por que isso é importante? 3s 3. A UNICIDADE E A UNIVERSALIDADE DE CRISTO ‘Afirmamos quehé um 6 Salvador e um s6 evangelho, embora exista uma ampla variedade de maneiras de se realizar a obra de evangeliza- ‘so. Reconhecemos que todos os homens tém algum conhecimento de Deus através da revelacao geral de Deus na natureza. Mas negamos que tal conhecimento possa salvar, pois os homens, por sua injustiga, sup mem a verdade. Também rejeitamos, como depreciativo de Cristo e do evangelho, todo e qualquer tipo de sincretismo ou de didlogo cujo pressu- posto seja o de que Cristo fala igualmente através de todas as religiCes € ideologias. Jesus Cristo, sendo ele préprio 0 inico Deus-homem, que se dew uma s6 vez em resgate pelos pecadores, & 0 tinico mediador entre Deus eo homem. Nao existe nenhum outro nome pelo quial importa que scjamos salvos. Todos os homens esto perecendo por causa do pecado, mas Deus ama todos os homens, desejando que nenhum perega, mas que todos se arrependam. Entretanto, os que rejeitam Cristo repudiam o .goz0 da salvago e condenam-se a separagdo eterna de Deus, Proclamar {Jesus como “o Salvador do mundo” nio éafirmar que todos os homens, ‘automaticamente, ou 20 final de tudo, sero salvos; e muito menos que todas as religiSes oferecem salvagiio em Cristo. Trata-se antes de pro- clamar o amor de Deus por um mundo de pecadores ¢ convidar todos os homens a se entregar a ele como Salvador ¢ Senhor no sinceto compro- misso pessoal de arrependimento ¢ fé. Jesus Cristo foi exaltado sobre todoe qualquer nome. Anelamos pelo dia em que todo joelho se dobraré diante dele e toda lingua 0 confessaré como Senhor. Esta segio abre com a firme declaragao de que hd tom s6 Salvador € um 6 evangelbo. Alguns teblogos modernos procuram provar que mes- mo o Novo Testamento contém uma multiplicidade de evangelhos con- traditérios. Estranho! Ndo podem ter compreendido a afirmagio de Paulo acerca da unidade da mensagem apostblica (1Co 15:11; notar os prono- mes “eu”, “eles”; “nés” e“v6s”, subentendidos), nem sentido a veemén- cia com que cle anatematiza qualquer pessoa (inclusive ele préprio ¢ ‘mesmo tum anjo do cu) que “pregasse um evangelho diferente do que pregamos a vocis... diferente do que voeés receberam” (parafraseando G11:6-9). O professor Henri Blocher, com justeza, enfatizou em Lausanne que 0 que temos no Novo Testamento & “diversidade sem conflito”; no contradigdes, mas “uma harmonia nio attificial de ensinamentos minis- trados de maneira tio diversa”, como a indicat a sua origem divina, ‘Ao mesmo tempo, o Pacto imediatamente guarda-se contra dois er- 105. Quando afirmamos que ha somente um evangelho, estamos afir- 36 PACTO DE LAUSANNE Comentado por John Stott mando a unicidade do seu contetido, mas nio afirmamos que s6 existe ‘uma maneira de apresenté-lo, nem que os que o ignoram no tém ne= nhum conhecimento da verdade. Quanto a primeira dessas afirmagdes, ‘existe uma ampla variedade de maneiras de se reaiizar a obra da evange- lizagdo. O conego Michael Green exprimin isso muito bem, referindo-se « Patilo: “Grande flexibilidade na apresentacio, mas grande firmeza no contetido, eis a sua énfase”. F 0 dr. George Perers, em sua pesquisa intitulada “Préticas contemporineas da evangelizagio”, destaca as vir- tudes da “Hlexibilidade, da variabilidade e da abertura”. Que dizer, entéo, acerca dos que ignoram o evangelho? Deveriamos dizer que sdo inteiramente ignorantes de Deus, incluindo os que aderem. a religides nfo-ctistis? Nao. Reconhecemos que todos os homens tém algum conbecimento de Deus. Esse conhecimento universal (embora par- ial) deve-se sua auto-revelacio, que os tedlogos chamam ou de revela~ #0 geral (porque se destina a todos os homens) ou de revelago natural, porque feita através da natureza, ou seja, externamente, no universo, conforme Romanos 1:19-21, e internamente, na conscigncia humana, conforme Romanos 1:32 ¢ 2:14,15). Esse conhecimento de Deus no & centretanto, um conhecimento que propicie a salvazio. Negamos que tal conhecimento possa salvar, em parte porque se trata de uma revelagao, do poder de Deus, de sua deidade e santidade (Rm 1:20-32), mas nio de seu amor pelos pecadores nem de seu plano de salsagio, e em parte por- ue 08 homens ndo vivem & altura do conhecimenso que tém, Pelo con- trhrio, os homens, por sua injustica, suprimem a verdade (Rn 1:8), ea ‘ejeigio da verdade que conhecem leva-os a idolatra, 8 imoralidadee 20 juizo de Deus.(Rm 1:21-32). Assim, longe de salvé-los, 0 conhecimento que tém, na verdade, os condena. E nao tém corso se desculpar (Rm. 1:20). Portanto, éfalso supor que os pecadores podem se salvar através de outros sistemas, ou que Cristo fala igualmente através de todas as religiGes e ideologias. Repudiamos com firmeza todo e qualquer tipo de sincretismo ou de didlogo que sugira isso, como depreciativo de Cristo e do evangetho. Pois ambos sio tnicos, exclusivos, eas seligibes ndo-cris- ts nada t8m a ver com eles. 2. A unicidade de Cristo: ele ¢ tinico Salvador Prosseguindo, parigtafo define e explica a detlarago de abertura, segundo a qual “ha somente um Salvador”. Seu ponto de apoio &, inicial- mente, 1Tim 2:5-6; “... hd um s6 Mediador entre Deus e os homens, Ceisto Jesus, homem, O qual asi mesmo se deu em esgate por todos. Observemos os trés substantivos empregados, nesses versiculos, com re- 7 A UNICIDADE E A UNIVERSALIDADE DE CRISTO feréncia a Jesus: “mediador”, “homem” e “cesgate”. “Homem” alude ao seu nascimento de mée humana; “resgate”, & sua morte na cruz, su- portando em nosso lugar as penas que mereciamos. Ou, falando do pon- to de vista teoldgico, essas duas palavras referem-se a sua encarnagio € a0 seu sacrificio, Ambas so tinicas. Blas no encontram paralelo em outra religito. E precisamente porque Jesus Cristo & 0 tinico Deus-ho- mem, que se deu de uma s6 vez em resgate pelos pecadores, éque le é 0 finico mediador entre Deus ¢ 0 homem. Pois ninguém mais possui suas qualificagées, nem se aproxima, sequer remotamente, da sua competén- cia (em razio de sua pessoa a0 mesmo tempo humana e divina e de sua ‘morte por expiagio) para salvar pecadores. Além disso, o apéstolo Pedro concordava inteiramente com essa aficmagio do apéstolo Paulo. Ele dis- se: “E nfo ha salvagio em nenhum outro, porque abaixo do céu mio existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo gual importa que sejamos salvos” (At 4:12). Essa salvagdo (isto 6, o resgate da culpa pelo pecado ¢ do juizo de Deus sobre cle) & sentida com urgéncia, porque todos os homens esto perecendo por causado pecado. “Perecendo” ¢ uma palavra tertivel, mas © proprio Jesus a usou (Mt 18:14; Le 13:3,5; ef, Jo 3:15-16), € 0 mesmo fizeram 08 apéstolos (ICo 1:18). Portanto, no devemos nos esquivar disso. Todos os homens acham-se nessa situago, e assim estario até ea menos que sejam salvos por Cristo. Entretanto, existe algo mais que sabemos acerca de todos os homens, isto &, que Deus anta todos os ho- ‘mens. E por causa do seu grande amor, a Biblia diz.que ele é tolecante © paciente em celacdo aos pecadores, desejando que nenhum pereca, mas que todos se arrependam: (2Pe 3:9). Embora seja essa a vontade de Deus (pois ele diz: “nao tenho prazer na motte de ninguém”, Ez 18:32), € preciso acrescentar que alguns se recusarfo a crer ea se arrepender, pre- ferindo, ao contrétio, rejeitar Cristo, ¢ assim repudiar o gozo da salva- #0 e condenar-se & separagio eterna de Deus (cf. 28 1:7-9). Aqui, 0 pazozama a contemplar chega a ser horripilante. Somente deveriamos falar do inferno em lagrimas. Algumas pessoas podero perguntar como & que tais aficemag&es, constantes do texto do Pacto, relacionam-se com a doutrina da eleigio (que a Escritura ensina), ¢ como a sabedoria divine na salvago pode reconciliar-se com a responsabilidade humana. Os te- logos vém lutando com essa questio hé séculos. Mas basta concordar que a Biblia ensina ambas as verdades. Poderiamos resumir a questo, por mais paradoxal que seja, dizendo que todos os que sZ0 salvos atribui Ho todo 0 crédito a Deus, enquanto os que se perderem aceitarao eles, préprios toda a culpa. 38 PACTO DE LAUSANNE Comentado por John Stott b. A universalidade de Cristo: ele 60 Salvador do mundo Nas frases finais desta seco, 0 tema passa da unicidade para a uni- versalidade de Cristo. Cada verdade cnvolve 2 cutra. E porque Jesus Cristo € 0 tinico Salvador, que ele deve ser universalmente proclamado. ‘Muitos samaritanos chamavam-no de “o Salvadordo mundo” (Jo 442), ¢ Jodo escreveu dizendo que “o Pai enviou seu Filho como Salvador do mundo” (Lo 4:14). De modo que também nés devemos aplicar esse grande cglorioso titulo a Jesus. Mas também devernos ter claramente em nosso espirito 0 que queremos dizer com isso. Negativamente, nao queremos dizer que todosos homens automati- camente... serio salvos (pois os homens precisa. aereditar 10 Senhor Jesus para ser salvos, At 16:31), nem que todos os homens... ao final de tudo, sero salvos (pois, ah, alguns rejeitario Cristo e perecerio). E muito menos gueremos dizer que todas as religices oferecem saluagio em Cristo, porque, para ser franco, no oferecem. Todas as religides ifo-cristas, se de qualquer maneira ensinam a salvasio, s6 a oferecm como recompensa pelo mérito acumulado em funcao de boas obras, a0 asso que a mensagem ctista é “o evangelho da graca de Deus” (At 20:24), isto, as boas novas de sua misericérdia para com os pecadores que nada merecem dele, exceto julgamento. Positivamente, proclamar Jesus Cristo como *o Salvador do mun do” é proclamar 0 amor de Deus por um mundo de pecadores,um amor ‘80 grande que ele deu seu tinico Filho & morte na cruz (Jo 3:16; Rm 5:8; 1o4:9-10). E também convidar todos os homens ase entregar a ele, pois ‘© evangelho deve ser partilhado com todos os hcmens, sem qualquer distingo, Talvez ninguém na Historia tenha tido uma compreensio mais, clara ou um fardo mais pesado no que concerne uriversalidade do evan- gelho do queo apéstolo Paulo. Ela pesou sobre ele como win débito que se deve descartar. “Sou devedor”, escreveu ele, “tatto a gregos como a birbaros, tanto a sabios como a ignorantes” (Rm 1:14}. Isto & nfo se deve levantar nem barreiras raciais nem barceiras sociais contra a prega- so do evangclho. Em particular, o mesmo evangeho deve ser progado tanto a judeus como a gentios ou, mais exatamente, “ao judeu primeiro e também ao grego” (Rm 1:16; 10:12). Alguns de rossos irmaos judeus ficaram decepcionados pelo fato de que o Pacto nao contivesse referén- cia a cles. Beneficiados pela visio distanciada, podemos agora pedir desculpas. Pois Deus de maneita alguma rejeitou o seu antigo povo (Rm 11:1-2), mas, pelo contrério, ainda visa 4 “sua completa incluso” (Rm 1:42ss}. De mancira que o convite estende-se também a judeus e genti- os igualmente, para se entregarem a Cristo como Saluador e Senhor no 39 A UNICIDADE E A UNIVERSALIDADE DE CRISTO sincero compromisso pessoal de arrependimento e fé. Paulo chamou a isso dé “a obediéneia da £6" (Rm 1:5; 16:26). Sobre isso, fala-se mais no pardgrafo seguinte. O fato essencial & que Jesus Cristo foi exaltado so- bre todo e qualquer nome, pois Deus Ihe deu o lugar supremo, a stia direita, “muito acima” de qualquer outro concorrente que se possa con- ceber (Bf 1:20-23; Fp 2:9). O propésito de Deus em elevar dessa forma Jesus era e€ “que ao nome de Jesus se dobre todo joclho... € toda lingua confesse que Jesus Cristo é Senhor...” (Fp 2:10-11). Nés também deve- ‘mos ansiar pelo fato de que Jesus seja reconhecido. Nao ha maior incen- tivo a evangelizagao do que isso. Além do que saberos que no fim todo joelho sera obrigado a dobrar-se diante de Cristo, pois acé mesmo os scus inimigos serio “transformado em estrados dos seus pés” (Hb 10:12-13; c£.S]110:1). E porque nossos olhos foram abertos para enxergar a supre- macia de Jesus Cristo, anelamos pelo dia em que todo joelbo se dobrard diante dele, alguns iavoluntariamente, outros voluntariamente, ¢ toda lingua o confessaré como Senhor. Questionario 1. “Religio Comparada” é um ramo de estudo hoje popular. Onde se acha af o fato de que 0 Cristianismo & tinico? 2. Que luz langa esse pardgrafo na condigio dos ndo-cristéos? 3. Diz-se algumas vezes.que no temos nenhum dircito de interferir aa religito de outra pessoa. Como esse paragrafo o ajuda a responder a essa questo? ; 40 4, A NATUREZA DA EVANGELIZACAO Evangelizat ¢ difundir as boas novas de que Jesus Cristo morteu por nossos pecados ¢ ressuscitou segundo as Escritures, ¢ de que, como Se~ hor e Rei, ele agora oferece o perdao dos pecados eo dom libertador do Espirito atodos os que se arrependem eeréem. A nossa presenga crista no mundo € indispensével 4 evangelizagio, eo mesmose da com aquele tipo de diélogo cujo propésito é ouvir com sensibilidade, a fim de compreen- det. Mas a evangelizecéo propriamente dita & a proclamago do Cristo biblico e histérico como Salvador e Senhor, com o intuito de persuadir as pessoas a vir a ele pessoalmente e, assim, se reconciliar com Deus. Ao fazermos 0 convite do evangelho, nfo temos 0 direito de esconder o custo do discipulado. Jesus ainda convida todas os que queiram segui-lo a negar-se a si mesmos, tomar a sua cruz.¢ identificar-se com a sua nova comunidad. Os resultados da evangelizago incuem a obediéncia a Cristo, o ingresso em sua igreja e um servigo responsével no mundo. ‘No seu sermiio de abertura, em Lausanne, o dr. Billy Graham expres- sou, como sua primeira esperanga em rela¢o ao Congresso, o desejo de que ele “formulasse uma declaracio biblica sobre a evangelizacio”, cem seu sermao final ele se declarou satisfeito por isso ter acontecido. Na ver- dade, foi esse 0 consenso de todo 0 Congreso. Muitos outros tiveram essa mesma esperanga ¢ essa mesma satisfaczo. O quarto pardgrafo do Pacto comeca com uma definigao e prossegue descrevendoo contexto da evange- lizagii, a saber, o que deve vir antes ¢ depois dela. a. Definigao de evangelizagio A palavra “evangelizagio” deriva de um terms grego que significa literalmente “trazer ou difundir boas novas”. Portanto, é impossivel fa- lar sobte evangelizaco sem se referie ao contetido das boas novas. E que contetido ¢ esse? Na sua forma mais simples, & Jesus. Jesus Cristo, cle proprio, € a esséncia do evangelho. Se tivéssemos de transliterar Atos 8:35, dirfamos que Filipe “evangelizou Jesus a ele”, isto 6, disse-the as, boas novas de Jesus (cf, Rin 1:1-3). Mas quais soas boas novas de Jesus? A declaracao do Pacto procura sintetizé-las, conforme a mancica como foram expostas pelo apéstolo Pedro em suas mensagens iniciais, em Atos (especialmente 2:22-39), ¢ pelo apéstolo Paulo, em 1 Corintios 15:1ss. © primeiro elemento sio estes dois eventos centrais: a morte ¢ 2 ressurreigio de Jesus. Os apéstolos também aludiram ao seu nascimento vida, suas palavras ¢ suas obras, set reino ¢ seu retorno, mas se concen- traram nas boas novas de que Jesus Cristo morreu por nossos pecados e a A. NATUREZA DA EVANGELIZAGAO. ressuscitow, Sua morte € ressurreigao eram para eles eventos historicos verificaveis. E eram eventos significativos, pois Cristo morreu por nos- sos pecados, tomando sobre sia nossa condenacio ¢ assegurando a nossa justificagao. E ele ressuscitou para provar que o seu sactificio por nossos pecados havia sido aceito e que ele nao havia morrido em vao (Rm 4:25; 1Co 15:17-19). O segundo clemento na pregacdo apostblica inicial do evangelhodizia respeito as testemunhas de tais eventos, a saber, os proferas do Velho Tes- tamento ea propria experiéncia detestemunho ocular dos apéstolos. Con- seqilentemente, continuaram citando © Velho Testamento, acrescentan- do: “Somos testemunhas dessas coisas”. Em suma, pregavam a morte ea ressurreigdo de Jesus Cristo segundo as Escrituras (Co 15:3-4). Entre varias reinterpretacées populates hodiemas de Jest encontram-se Jesus, orevolucionério violento, Jesus, o palhaco de circo (ver Godspell)e Jesus, © superastro desiludido. Contra essas fantasias da mente humana, deve- mos ser fidis 20 Jesus auténtico,o Cristo biblico e histérico (como é descri- to no meio desta seco), o Jesus Cristo que se depreende das Escrituras tanto do Velho como do Novo Testamento. Em terceiro lugar, as boas novas dizem respeito nfo s6 ao que Cristo fexem determinado momento (quando morrew ¢ ressuscitou), mas tam- bém ao que ele agora oferece. Pois agora ele se acha elevado & direita de Deas, e dessa posicao de autoridade tinica como o Senhore Rei ele pro- mete a seus itis arrependidos dois maravilhosos dons: 0 perdo dos peca- dos (cemindo nossas culpas e nos instalando no favor e na familia de Deus) € 0 dom libertador do Espirito (pois o Espirito Santo € dado a todos os que vio a Cristo, ¢0 Espirito nos liberta do egocentrismo, afim de que vivamos para Deus ¢ para 0s outtos). ‘Em quarto lugar, para receber esses dons gratuitos, o homem precisa arrepender-se e crer, desviando-se do pecado, da mentira e dos idolos (ar- rependimento) e confiando em Jesus Cristo como o tinico Salvador (8). As duas coisas so indissociaveis, pois a “fé sem arrependimento no & Fé redentora, mas presungosa crendice” (René Padilla). Talvex se devesse mencionar também 0 batismo, j4 que ¢ aqui que 08 apéstolos 0 colocam (ver At 2:38). Uma vez. que é ministrado “no nome de Jesus Cristo”, 0 batismo, no minimoe publicamente, significa arrependimento e fé no pré- prio Senhor Jesus, que anteriormente havia sido repudiado. Aqui, ent%o, percebemos 0 miniimo icredutivel do evangelho aposté- lico, Nao deveremos jamais nos desviar desses eventos e seus testemu- nihos, da oferta baseada em tais eventos e das condigdes de que dependea oferta. 2 PACTO DE LAUSANNE Conentado por John Stot b, Prelidio a evangelizacio A verdadeira evangélizago nunca ocorre num vicuo. Ela pressupde tum contexto do qual nao pode ser isolada. Uma certa situacéo precede a, Ao se referira isso, o Pacto deliberadamente usa es palavsas “presen- 2”, “proclamaci0”, “persuasio” e“diglogo”, que tiveram lugar de des- aque em recente debate teolégico. Em esséncia, insis-se em que a evan- golizagio... 6a proclamapao do Cristo biblica e histérico como Salvador eSenbor. Poiso tinico Jesus a scr proclamado€ o Jests da Histéria, queé o Jesus da Escritura, que 60 “nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3:18). De maneira que nao temos o direito de pregara sua salvacéo sem 0 seu senhorio, ou 0 seu senhorio sem a sua salvagio, Ougamos Paulo: “Pregamos a Cristo crucificado” (1Co 1:23) e “pregamos.... a Cristo Jesus como Senhor” (2Co 4:5). B, contudo, o prelidio da proclamagio a presenga. Pois como pode- remos pattilhar Cristo com pessoas com as quais £0 temos contato? Dai o fato de que a nossa presenga crista no mundo & indispensavel a evangelizagdo. & primeira palavra da Grande Comisiio de Jesus nio foi “pregai”, mas “ide”. Pois no podcmos proclamar Cristo a distancia, ‘mas somente a pessoas para junto das quais tenhamos ido e com as quais nos tenhamos esforgado por nos identificar. De maneira que presenga no substitui proclamagao (como alguns afirmam), mas € antes um pre- lidio a cla. E nessa situaglo que o didlogo com n&o-cristios nao $6 € justo, mas também {assim como a presenga) € indispensavel. Didlogo & uuma palavra muito mal usada. Algumas pessoas a tém usado para des- crever uma situagéo de comprometimento, em que o cristo renuncia 20 seu proprio encargo cristo ¢ considera o evangelho aberto ao debat Essetipo de didlogo jA 0 rejeitamos (parégrafo terceiro) como “depreci- ativo de Cristo e do Evangelho”. Mas, corretamentedefinido, o didlogo uma conversagio em que ambas as partes slo sérias ¢ cada uma acha- se preparada para ouvir a outra. Seu propésito é ouvir com sensibilidade 2 fim de compreender. Esse esforgo & um prelidio essencial na evangeli- zagdo, pois como poderemos partilhar as boas novas de maneira relevan- te se ndo compreendermos a posico ¢ os problemas da outra pessoa? ¢. Resultados da evangelizagio Embora a evangelizacao em si mesma seja a divulgagio das boas novas, cla ndo é indiferente & reaclo das pessoas A mensagem que ouvem. Pelo contratio, a evangelizacio é a proclamago com vistas & persuasio. (© Congreso Mundial de Evangelizagio de Berlim, em 1966, declarou que “a evangelizacao é a proclamagio do evangelho... com o propésito B Mesias AE VAINUBLIZACAQ. de persuadir os pecadores condenados e perdidos a depositar sua confi- anga em Deus... © Pacto de Lausanne, semelhantemente, afitma que cvangelizagio ¢ a proclamagio de Cristo com a intuito de persuadir as pessoas a vira ele pessoalmente e, assim, reconciliar-se com Deus. Nao Pode haver divida de que persuadirfigurou com destaque na evangcliza. ‘fo na igreja primitiva. Paulo resumiu o seu ministério dizendo: “Persin adimos aos homens” (2Co 5:11); ¢ em Atos, Lucas descreve-o fazendo isso (ver 17:1-45 18:4; 19:8-10,26; 28:23,24), Sem diivida, os apéstolos io consideravam 0 uso da argumentaco como coisa incompativel com 2 confianga no Espirito Santo, Nés também nio devemos ter medo de expor e debater o evangelho hoje. Essa obra de persuasio deve ser honesta e franca. Nada temos a esconder. Por exemplo, ao fazermos o convite do evangelho, ndo temoso dircito de esconder 0 custo do discipulado. O prdprio Jesus, longe de ceultar qualquer coisa, instou com os seus pretensos eguidores para que, antes de se comprometer com ele, “se assentassem primeiro e caleulas, sein a despesa” (Le 14:28,31). Ele colocou nos termos mais claros as

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