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ESTUDO DIRIGIDO Texto: “Lingua e falante ~ nogGes elementares de politica lingtiistica” (Sérgio Simka) 1) Como a epigrafe, de Rodolfo Hari, se conjuga com 0 corpo do texto? 2) Qual é a concepsio tradicional da pergunta “o que é saber portugués?” Que problemas advém das respostas € modos de falar tradicionais, nesse caso? 3) Explique os pontos principais da citagio de Possenti no 6° pardgrafo. 4) Exponha as fatores existentes por tras da escotha de uma determinada variedade linguistica como norma padrdo, Fatores lingoisticos so levados em considerago? Explique. 5) Descreva a “sindrome de inferioridade linguistica”, fornecendo causas, conseqiiéncias ¢ exemplos. 6) Quais beneficios advém do dominio da norma padrio/patrio? O que pode acontecer caso 0 falante no adquira o pleno uso dessas formas? 7) Que medidas podem ser-utitizadas- para combater a “sindrome da inferioridade lingaistica”? A tomada de consciéncia de sua existéncia ¢ importante? Explique. 8) © uso constante de expresses ¢ formas da lingua padrio podem ajudar na internalizagdo da modalidade? Como? Exemplifique. 9) Que implicagdes positivas e/ou negativas podem ser desencadeadas pelo fato de © usuario da lingua (que nao domina o dialeto padrio) passar a praticar a variedade de prestigio social nas situagSes cotidianas, como no exemplo “é para eu ir de novo @ padaria, mae?” 10)Comente a citago de Savini no iiltimo pardgrafo, & luz das idéias apresentadas € debatidas ao longo do texto. \ Lingua e falante — nogdes elementares de politica lingiistica’ Lingua e falante ~ nogées elementares de politica linguistica (Caderno UniABC de Pedagogia, jan. 2001) Sérgio Simka “Pode-se tratar a queda de uma tetha como um problema dindmico, formutando hipdteses tedricas alternativas e debatendo a adequagéio destas tiltimas. E. uma abordagem legitima, mas nao é a melhor do ponto de vista de quem esta embaixo."” Rodolfo Hari O que é saber portugués? Se fizermos a pergunta acima a centenas de pessoas, clas nos responderiam, com certeza, que saber portugués ¢ saber falar ¢ escrever corretamente. Ai é que comeram os problemas Saber falar ¢ escrever corretamente vem associado a uma nogdo errénea, perpetuada pelo nosso ensino escolar, do conceito de lingua portuguesa, © conceito de lingua deve ser compreendido como um conjunto das variedades, isto 6, das formas coexistentes, utilizadas por uma determinada comunidade que na escola se convencionou chamar de lingua, conceito este reproduzido pela vida afora, trata-se, na verdade, de um recorte politico-ideologico de uma dessas variedades lingiisticas, a variedade chamada, nfo sem motivo, de padrdo: tanto padrdo quanto patrio vém do latim patron, Ou seja, “aquilo que se chama vulgarmente de linguagem correta nfo passa de uma variedade da lingua que, em determinado momento da historia, por ser a utilizada pelos cidadaos mais influentes da regio mais poderosa do pais, foi a escothida para servir de expresso do poder, da cultura desse grupo, transformada em inica expresso da tinica cultura. Seu dominio passou a ser necessario para obter-se acesso ao poder” (Possenti, 1997, p. 51). ‘Assim, a variedade € considerada padrdo/patrio por questdes eminentemente politicas, sociais, culturais e econdmicas, e nao linguisticas. Logo, as outras formas de falar e escrever que vao de encontro a essa variedade padrao so consideradas erradas, ¢ seus usuarios acabam, por isso, estigmatizados, ridicularizados ‘ocialmente, porque economicamente jé o so. E 0 que € ainda pior, essa concepgio de lingua “‘certa” cria e veicula nao apenas a nogao de erro, mas também engendra o sentimento de culpa, pelo fato de os usuarios nao falarem de acordo com as regras dessa lingua, culminando no que chamamos sindrome de inferioridade Jingdistica: 0 sentimento de incapacidade perante a propria lingua Esse sentimento de incapacidade faz com que os usuarios, vendo-se desprezados em sua Jinguagem, em sua expresso, em seus costumes linguisticos, sintam-se como que rejeitados, diminuidos, inferiorizados — tanto lingiistica quanto culturalmente E mais: esse sentimento de incapacidade nao s6 é internalizado durante 0 periodo de escolarizagdo, como também é reproduzido para além desse periodo, na vida cotidiana, Dessa forma, a sindrome de inferioridade lingiistica tende a se perpetuar apés 0 processo de “Texto disponibilizado em 20/02/2003 no site: www.linguanet.hpg.com.br escolarizagio, quatido as pessoas necessitain utilizar esse tipo de lingua para atender a diversas finalidades comunicativas, Restara a elas L2o-somente a convieg#o de que a lingua portuguesa é, peremptoriameite, uma lingua muito * uns poucos conseguem dominar. Assim, a'verdade é que as variedades linguisticas NAO constituem erros, mas diferengas, Diferengas que néo podem ser enxergadas como diferengas, mas exatamente como erros, desvios, coisa feia, deselegante. Se essas variedades lingtisticas forem vistas como diferengas, isso implicaria aceitar que existem diferengas também no plano social, uma vez que a variagao no plano lingiistico esta correlacionada a variagao no plano social Se a imensa maioria das pessoas souber que nao fala “errado” mas diferente porque pertence a uma classe socioecondmica diferente, e que a nogao de erro impingida em tenra idade pelo nosso ensino tem o intuito de escamotear uma realidade social, econ6mica, lingtistica de opressio, certamente essa imensa maioria de falantes se revoltaria. E por isso que 0 nosso ensino de portugués nfo leva em conta a sua heterogeneidade (Cf Simka, 1996) Saber portugués consiste, portanto, em saber expressar-se oralmente e por escrito dentro de uma modalidade de lingua que foi conduzida, como vimos, & condig&o de padrao/patrao por questdes que nada tém a ver com a lingua, mas com questdes politicas € econdmicas. Saber expressar-se dentro dessa modalidade de lingua implica por conseguinte’ 1) destrutar os beneficios que ela traz: a leitura de jornais, revistas, revistas cientificas, a possibilidade de. conseguir bons empregos, passat no vestibular, cursar uma faculdade, uma pés-graduagio, 2) imprimir a cidadania dois ingredientes importantes, na medida em que a pessoa tera o direito a voz (a expressio) € 0 poder da palavra escrita. Nesse sentido, quem no se expressa dentro das regras dessa lingua se vé (e fica) ‘liad de um rico universo de informagdes (acesso @ cultura, etc.) € de uma série de situagdes (empregos, etc.), correndo 0 grande risco de ficar 4 margem de uma sociedade que privilegia ¢ valoriza apenas essa modalidade de lingua e, conseqiientemente, seus usuarios. Colocando-se a par das nogdes sociopoliticas aqui defendidas a respeito da lingua, os falantes do portugués devem procurar exercer, em sua pritica comunicativa do dia-a-dia, ages voltadas a nao alimentar @ sindrome de inferioridade linguistica, e mesmo ages que visem a rompé-fa. © primeiro grande paso consiste na tomada de consciéneia dessa inferioridade lingiistica: se a pessoa se julga incapaz. de falar e escrever na modalidade de lingua prestigiosa (a lingua padrdo/patrio) € porque o ensino de portugués pelo qual passou durante onze anos a tornou incapaz de que falasse escrevesse de acordo com as regras dessa lingua, O segundo passo consiste no estudo sistematico (sera que s6 se aprende na escola?) € no uso cotidiano dessa variedade prestigiosa, em situages comunicativas habituais (Cf. Simka, 1999):ao ir a padaria (e nao: na padaria), pega duzentos gramas de mortadela (e nao: duzentas gramas de_mortandela) e tome um chope (¢ no: um chopes): quantos anos faz que vocé nao come presunto? (¢ n&o: quantos anos fazem...); é para eu ir de novo A padaria, mae? (e no: é para mim ir de novo na padaria...), etc., etc., ete ‘Acreditamos que dessa forma as estruturas da lingua padrfo/patrao sero intemalizadas pelas pessoas devido a seu uso constante, tomando-se absolutamente normais porque freqiientemente utilizadas (Cf. Simka, 1998). Nesse sentido, as palavras de Saviani (1997, p. 66) sio jdiciosas: “Se os membros das camadas populares no dominam os contedidos culturais, eles naio podem fazer valer os seus interesses, porque ficam desarmados contra os dominadores, que se servem exatamente desses contetidos culturais para legitimar e consolidar a sua dominagao. Eu costumo, as vezes, enunciar isso da seguinte forma: o dominado nao se liberta se ele no vier a dominar aquilo que os dominantes dominam. Entio, dominar o que os dominantes dominam é condigio de libertagao.” bibliografia POSSENTI, Sirio. Gramatica e politica. In; GERALDI, Joo Wanderley (Org.). O texto na sala de aula, So Paulo: Atica, 1997. p. 47-56. SAVIANT, Dermeval. Escola e democracia. 31.ed. Campinas: Autores Associados, 1997. SIMKA, Sérgio. Ensino da lingua nega a sua heterogeneidade. O Estado de S. Paulo, $80 Paulo, 1 dez, 1996. Caderno 2, p. 6. SIMKA, Sérgio. Papa-Tudo, Tele Sena ¢ gramitica: uma relagao no capitalizavel. Revista da APG. So Paulo: Associag&o de Pés-Graduandos da Pontificia Universidade Catélica de Séo Paulo, 7 (15): 149-54, out,, 1998, SIMKA, Sérgio. Maximizagao da norma culta, Revista da APG. Sao Paulo: Associagio de Pos Graduandos da Pontificia Universidade Catélica de Sao Paulo, 7 (17): 225-29, maio, 1999.

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