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Colegio Primeiros Passos Uma Enciclopédia Critica Mais que uma doutrina filoséfica, 0 existencialismo passou a ser identificado como um estilo de vida, uma forma de comportamento que designava atitudes excéntricas e caracterizava seus seguidores como depravados, promiscuos e morbidos. Tudo que infringisse as regras estabelecidas, a linha diviséria entre o certo e 0 errado, era considerado existencialista. O autor, despojando-se dessas idéias preconcebidas € fantasiosas, caracteriza os tragos gerais dessa doutrina, seus antecedentes filos6ficos ¢ sua relagdo com o marxismo. Area de interesse: Filosofia Joao da Penha a ae O QUEE > Ill S511 | = ISTENCIALISMO I MI ih Copyright© by Jodo da Penta, 1982 Nenhuma porte desta publicagao pode ser gravada, onmazenaia em sistemas elerinics,folocopiada, eprazida por meis mecdnicos ou outros mauterizacto priv do editor qaiguer say 85-1-01080-0, Primeira edict, 1982 1# reimprssio, 2001 o: Carlos Roberta de Carvalo ¢ racy R Bastos Musiracdes: Eni Damiant ‘Capa: Newion Mezquita, SUMARIO Dados temacions de Catlgapio n Pblicato (CIP) (Cimon Bike dative, Se, Bri) Olga cexitenitson / oo dP So ao sis 01 = (COR Introcugao 7 rigor do terme cio thlaengntene Te Se AiMeisoraeteeiicoe feo 43 ‘As correntes existenciaistas 25 ‘Quis correntes existenciaistas 79 axasss Existencialismo © marxismo I 22 Indioagées para leitura 85 Trai pre catogn sisters * 1 Pistecilismo Floria a ceitora brasiliense s.a. Rua dir 22 - Tatuapé (CEP 03310-010 - Sao Paulo SP Fone ¢ Fax (112181488 E-mail brasiieseedt@wo.com br Home page: www.editorabrailiense.com br Dedicado a 26025 Folizardo ¢ 26 0 Dr, Adzuoto Hissa Elian, fraterno amigo @ kictkegaardiano amoroso. INTRODUGAO Logo apés 0 término da Segunda Guerra Mundial, numa Eu- ropa merguhnada nas seqUelas 6o confito, sufocada numa crise ‘eral (poli, social, esonOmica, moral, inanceira, etc), ia ia-se do continenta auropeu, espraiando-se por todo o mundo, ‘0 movimento Hoséico existoncilsta. A experidncia traumatica ‘02 guerra gerou um ambiente de desanimo e desespero, sen timantos que atingiram partoularmente a juventde, descrenta ‘Gos valores burgueses tradcionaise da capacidade de o homem Solucionar racionalmente es conitadigbes da sociedad, © existercialismo surge e se desenvolve justamente em meio a e8sa cise, reperculindo a medida que suas teses correspon- iam e eeclareciam o momento histérico sobrevindo a guerra Dal, certamente, 9 motivo por que 0 movimento $8, propagou ‘tho rapidamente, Sua repercussao nao se limitou as discussoes, ‘académicas nem aos dabates nas paginas das publicagoes es: pecialzadae, Tanlo quanto uma doutina fiosdfca, exis. {encialismo passou também a ser entiicado como um esto. de vida, uma forma de comportamento, a cesignar toda atitude texcéntriea, que os meios de comunicacaa divulgavam com @s- tardalhago, clando uma auténtca mitologia em toro do mov! Mento @ seus adepios. A imaginagao popular caticaturava a —————L SS ee ligura do oxistoncialsta; aparéncia descuidada, catelos abun- antos © desgrennados; brusco nas maneiras; mal asseado; /avoss0 as normas estabelecdas; amoral, sobretudo, pois 0 exis Kncialistatipico, inimigo da hipocrisia, recusava a’ moral trad: ional depravado e promiscvo, promovia orga, entregando-so 808 prazeres mais degradantes, (Os existoncialistas eram acusados de pragar idéias dissol- Wonios, Sua reliexto fiosdica, dzia-se, ora morbiga, sombria, Jamarge, preocupada em explorer o lado sérdido da existéncia humana, fxando-se nas excacdes da vida. Comuptos, amorais, ogradadores, pemiciosos, pregaeires do desespero a se com: ptazerem no iéioo na meanela. Eni, uma torrente de iras cobria os existencialstas, Estes, em réplica, alimavam f\v9 eu comporamento ro pada ser julgado mediante os pe- Ios vigentes, pois tinham como orojete (uma das palavras- cave co vocabulrioexstencalta)justamente anger as bases (0 interesse de que 0 existenciaismo se tomnou alvo espa- house até mesmo em manifestagdes genuinamente populares, Jeomo 0 carnaval brasilero, Em inicios dos anos cinquenta, S2 yavindo a tadigao tipica do repertéro cammavalesco de satiizar Jpoontecimentos da atvaidade, uma marchintia fez snorme Su Hooiio abordando o assunto. Aleta da misica exaltava a figura je_uma muher que 86 acoitava cobti-se com uma casca de. JPanana narica, pois tratava-se.de uma “existencialista, com toda zlo/s6 faz o' que mandale cou coracto" Dave-se salentar, a bem da verdade, que @ idéia popular Inonio civuigads do existencaista, 9 dstorcida, tinha uma nota 0 ifoia © humor que possiveimenie irtasse menos os lidares Ho movimento —inimigos do “esprito de seriedad’ tao cukivado pelos bugueses — que os aeques orkndos dos ‘tom ponsan- 0 fldsofo francés Henri Lélebvre referu.se as idéias do IMAls ominente fidsofo exstenciaista, Jean-Paul Sante, como Juma *motatisica da merda’. Por sua vez, seu compatiata Jae. jus Martan (1882-1972), calico, classifeava a flosofia do jie do uma, “mistica do infemo", No Brasil, o pensador Trstio de Athayde escrevia: “Sarre, sem divide, & detestavel”. O es Git russoliya Ehrenburg (1891-1987) nao fez por menos: con fessou que inicialmente Sartre he insprara pledade, para depois, Ine despertar desprezo. Finalmente, o papa Pio Xil,na eneiclca {que dedicou &s correntesflosoficas modernas, destacou 0 exis {encialisme como uma das doutrnas que mais ameagavam 05 fundamentos da f6 erst. Mas, final, o quo 6 svistencialismo? ‘Cabe assinalar, primeiaente, que 0 vocabulo existencialismo” pertence aquela categoria de palavras que, ganhando em ex tensio, perde em compreensao. Ao fimar-se como a corrente filosbfica mais discutida nas dBcadas de quarenta e cinquenta, © existancalsmo tomou-se sindnimo de fatos ou pessoas que desviassem do procedimento usual, Tudo que intingsse a3 re- tras estabelecidas, a linha divséria entre 0 certo © 0 errado, fa considerado existenciasta. Algo semelhante com 0 mov ‘mento hippie, onde bastava a recusa de alguém em cumprit os mais elemantares precelis de higione e ja se va inoluida como integrante do grupo. (© emprego arbirério do voedbulo ‘existoncialista” acabou, ‘assim, por transformé-lo num dos mais equivocos do léxico fe losético, Nao ¢ facil, prtanto, num trabalho introdutrio, defini ‘om todos os seus aspectos @ nuances, despojando-o das idéies preconcebidas # fantasiosas que ainda hoje o cercam. Pode 90, ‘contudo, caracterizé-lo em seus rapos gerais. Para isso, del- miteremos 0 amoito de nossa exposigg0, contrando-a nos tomes bbasicos da doutrina existencialisia, eminando os pormenores dd interesse secundatio. As referércias biogralicas dos princt- pais autores citados ao longo destas paginas serdo minimas, ‘eduzidas ao estitarente necessaro, O leltor ineressado em ‘estender sua letura sobre o assunio encontraré ao final do vo a indicagdo de uma biblogratia basic, = ORIGEM DO TERMO CO ciitco francis Jean Beautrot, num ensalo dedicado ao tera ssaienta que, 20 pronunciarmos a palavra existenciaismo, 0 {Que primero se escuta 6 existéncia. O sufxo indicaia tratarse ide uma doutrina. Exsténcia, por sua vez, logo evoca sua con- traparte: esséncia (mais aciante, veremos que essa contrapo- Ssigdo 6 0 principio fundamental do existoncialism), Historicamente a palavra esséncia& antorior. Essenta, forma latina, deriva do verbo esse, ser. Quando os latinos se entre- gavamn & moditacto flesdfica, a pensar aquilo que é, diziam star pensando na esséncia da coisa. $6 muito mais tarde sut- iia em lati a palavra exstenta, existOncia, derivada de exis fere, que significa sar de uma casa, um dominio, um eseondenio Mais precisamenta: exisiOncia, na crigem, é sinénimo de mos ttar-se, exibirse, movimento para fora. Dal, denominar-se exis toncialsta toda fiosofia que Wata dretamente da existencia hur mana. O existencalsm, conseqUentemente, & a doutrina flo- ‘Séfiea que centra sua rellexdo sobre a existéncia humana con- ‘iderada em seu aspecto partcuiar, individual e concreto, ‘Embora a denominagao mais ditundiéa, nem sempre ola & aceila como a mais correta. Mesmo enire Seguidores co movi- mento existencialista ha os que rejitam formalmente o terme para designar sua douttina, preterindo, alguns deles,a expressio Miosoria da existincia, Mas axplicaro existencialismo exclusivamente em termos et moldgicos poueo esclarece. Além disso, tal explicagao sugere: {Que anteriotmente ao aparecimento do miovimenta nenhuma ou- ta Hosoi prorupouse em anasar a extncla hua, 0 {Que seria falco, A lembranga do conselho socttico, expresso pelo loma “conhece-te a ti mesmo", jf assegura improcedénca a hipdtese também dasmertida pel afrmagao de Aistoieles de ‘Que a flosefa @ a cenca co existonte anquanto existe. No Discurso {do Método de René Descartes (1595-1650) também se pode en ‘contrar passagem de cunho acentuacamente exstencialista, como tua confssto de que apds vatas experioncas, resolvou ostudar fi si proprio, decicando-se a partir de enta0, com todo empenho, fhoscolner os oainhos a sequr. Outro exemple que merece ciao 1.0 de Volate (1694-1778), que aconseihava a que nao perdés fiemos a medida hurana das coisas (Os autores acina releridos ciaram, sem divida, doutinas ‘com vida propria © dstinias entve si, Mas nem por isso podom folas sor desvineuladas de ceri elementos comuns qua termi hhariam por desaguar no que modemamente & designado exis: onicalsmo, Se quiséssemos, por conseguinie,estudar essa cor ante desde suas mais rematas origons, dascrevendose 3 evo: Hiigdo 20. longo do temo, acabariamos por recapiular toda a Hatta de flosofia. No é preciso, contudo, recuar a datas tao Tonginguas, pois quando alguém se refere 20 existencialsmo la querendo indicat, de forma precisa, um movimntofiosofico Inistorloamante ber recente (0 existenciaismo medama, enquanto movimento, sugis na FPanga ha quase quareria anos, ¢ ainda prosseque em sua tra jl, embgra sem ostentaro mesma vigor do suas manifestagdes, ficals. Tampouco perdura, com a intonsidado de antes, sua in- flubncia ideoibgea. Flosofcamente, & opiigo unénime, 0 ex: Tandalismo mecero procede, em linha deta, da meditacao rel {ldsn do ponsacor dinamarquis Soren A, Kirkogaard (1813-1855), Dulas Kblas principals passamos a resumir no capiulo segunte ANTECEDENTES FILOSOFICOS Kierkegaard E bastante diundida a opiniao de que na fiosofia exis- tencialista, pla propria natureza de seus temas, a contribuigao pessoal predomina sobte os derrais aspectos. De acordo com bese raciocinio, existam varios lipos de existencialisma, cada tim correspondence a determinado autor, sua visao individual dos problemas humanos, & particularicades da vida privada do fibsofo, Por isso masmo, 0 existerciaismo seria menos uma do- ‘tna, no sentido proprio do term, do que um flosolar, uma mancia ‘de 6 homem se expor a si mesmo, reconhecendo-se autentioa- frente nesse alo, Basicamenta, portanto,o existenciasmo seria a ‘xpcessao de uma experiancia singular, individual, um pensamento tmotivada por uma situagSo muto parila ‘Kierkegaard & um dos fidsofos que mais exemplarmente cor- respondem a semelnante descigdo. Pensador soliaro, suas ‘desveriutas pessoais,o ambiente em quo se formou, de rigaroso puritanismo luterane, exerceram infludncia determinants. em sua fiosofia, mera tentatva, segundo alguns, de explicar seus infor- “ sonoonPe WWnios, as relagées confituosas com 0 pai @ a noiva, protago- histas de acontecimentas cucais do sua oxistincia Criado dentra dos rigidos principio da raligiao luterana, que pproclama a natureza pacaminosa do homem @ sua itravogavel fondéneia a corromper-se, Kierkegaard viveu obcecado pelo sen limonto do pecado. Isso no o impadiu, durante cota fase de fila vida, de entregar-se a prazeres desregrados, onde 0 con- humo de lcool @ a exbigao do toupas vistosas ooupavam 0 (ooniro de seus interasses, Esse periodo, quando contava vinte fo cinco anos de idade, inicou-se logo apés a more de seu pal ‘Suporada a fase de dissipacao, Kierkegaard retoma os estudos: lniverstrios e pouco depois fomna-se pastor lutorano. Do pai, fl de herdar 0 temperamento sombrio e a devocao pietsta forma de extremado fervor raigioso do luteranismo —, Kier- ogaard edquinu também 9 sentiments de que uma maldigao 0 abatera sobre sua familia. Seu pai, quando adolescente, pas- {or de ovelhas nos gélios campos dinamarqueses, oadecendo ome e fro, blasfemou contra Deus, episédlo, revela Kierko- ‘gard, no Didrio de um Sedutor, jamais esquecido, e que 0 pal arregou como uma culpa até o final da vida. ( outro acontecimento que marcou negativamente a exisén- fla de Kierkegaard foi 0 fompimento de seu naivado com a Jovem Regina Olsen. A medida que amadurecia suas idéias des- ‘eobrindo entéo sua vocagéo para o isolamento, percebeu sor ‘ncapaz de adaptar-se & convivéncia matrimonial, 0 que 0 levou fa desmanchar 0 compromise, ‘Mas as desventuras de Kierkegaard no se linitaram ao cit- ‘culo familar. Embora mantendo-se fiel & confissao religiosa na {qual fo1 educado, suas desavencas com a igrejaluterana oficial lacusada por ele de ter-se burocratizado, distanciando-ce da re llosidado interior, fundamental, dizia, a todo verdadeiro isto, Impoliram-no a enirar em choque com a hierarquia eclesiéstica ‘Os pastores luteranos, protestava, haviam se tornado oficiais ‘dos re's, por conseguinte, totalmente desligados das verdades bhasicas 0 cristianismo, couse xarereatens ® E impossivel, nao resta divida, issociar a fosofa de Kier kogaard das vicissitudes pelas quais passou. Mas no é menos verdadeiro, também, angustias e inquietacdes latentes em sua Gp0ca, que £6 muto mais tarde s@ manifestariam de maneira tramatica, Poseivelmenta rasida aqui a explicacao para a revi Vescéncia de suas idéias no século XX, dopois de confinadas durante longo tempo nas frateitas de seu pais natal. Deverse fvitar, portanto, confer um carater absoluto A etBaica bio- réfica ‘de Kierkegaard, como se os acontecimenios que the marcaram de manera pungento a existéncia fossem o funda. ‘mento Unico de ssu pensamento. Ao longo da historia, muitos fidsolos padeceram Indmeros inforinios pessoais, @ nem por isso é licto alrmar que suas doutrinas $30 simples lustragao esses fatos. Para citar os exempios mais notéveis, basta lem brar os apuras em que Platao vil-se envolvido, culminando com © exllo que the fol imposto. J& Baruch Spinoza (1632-1677), {além dos formentos da tuberculose que o vitimou, fo! excomun: ‘gado, execrado, © por fim expulso da comunidade judaica de ‘Amsterdam, punido por suas iias tidas como hersicas, Para prover seu sustanto, tomou-se polidor de lentes. Georg W. F. Hegel (1770-1831), por sua vez, um dos pontos maximos do jpensamente humana, sofreu a hurilhagao, na adolescéncia, de Ser considerado inapto para @ tlosofa 'Nenhuma abordagem da pensamento de Kierkegaard dispen sa a referéncia a Hegel, cujasIdeias sao totalmente opostas as suas. Sem exagero, pode-se alimar gue a doutrina Kerkegaar- Giana surgiu como teapdo drela 20 hegelianismo, Inicialmente empolgado, como a maicria de seus contompo- rneos, pelas déias de Hegel, Kierkegaard logo depois se oporia, fenercicamonto 20 intento hegelano de condensar a realdade um sistema. Megiante o sistema, pretende-se explcat tudo, abarcar tudo, de modo a estabelecer uma viséo total da reali dade, em seus minimos aspecios, a parti de determinados prin Ciplos que se interigam ordenadamente. A ambicao de Hegel foljustamente a de intograr, no que denominou de tdeia Absolut, toda a realidade do mundo, No processo que conduz a essa Cculminaneia, 0 indvigua nada mais 6 do que uma de suas fases Desctonto da pessblidads de algum sistema resowver as die fencas entte. os indiviguos, Kierkegaard insurgiu-se contra tal tconeepeto. Cindividuo, dla, nao pode seramera marifestagéo aidela, Ocrre de Hoge, sontencia Kiarkogaard, fot ignarado ‘2 stbncia conereta do indviavo. ‘Sua avetso a qualquer sistema impelu-o a coniessar no prolago do Temor e'Tremor nao se considerar um fl6sofo, mas Bpenas um amator. Afangava desconhecer qualquer sistema & uavidava que existisse algum, comprometendo-se a nao escrever hada que se assemelhasso 2 um sistema, A exisiencs humana fa versao de Kierkegaard, nao pode ser explcada através do Conceitos, de esquemas abatratos. Um sistoma, insiste, promets {do, mas no pode oferacer absolutamente nada, pois & in ‘Capa de dar conta da realdade,sobretudo da realidade humana, O'satema 6 abstrato, a tealdade © concrota. O sistema € ra- ‘onal, @ realade itacional. A realidade é tudo, menos sis- tema.’No\ Dida, ele escreve que diante de uma siuagéo con- Cela due enseja salugao, mesmo um fildsofo tenta resohé-k. fora do sistema a que se ila. As solugdes preconizadas polos Sistemas nao séo sequidas por sous criadores quando se en- ‘contram em apuros. Na vida cofiiana, 08 ctiadores de sistemas Se valom de aletativas diferentes daquelas que recomendam para os outros por que esse procedimonto? Porque a realidad da qual os individuos 8m maior conhe: ‘cimento 6 sua prépria realicade, a unica que interassa de fat S62 realidade singular, concreta interessa, © apenas esta 0 Indvidve pode coninecer 86 podemnos nos apropriar da realidad subjelivamento’ A subjelvidade & a verdade, a subjetivdade & ‘aealidade”, esereveu Kierkegaaid. O universal, diz, néo passa {do mora absiraceo do singular. O pensamento abstrato s6 com precnde o concreto abstratamente, enquanto que o pensamento, Eentrado ne inguidue busca cempreender concratamente 0 abs- finto, apreendé-lo em sua singularidade, caplévio em sua ma filestagao subjelva. © individuo, por Isso mesmo, jamais pode ser cissolvido no anonimrato, no impessoal. Todo conhecimento Sele igar-se inapelavelmenta a exisiércia, a subjetvidade, nun. G2 a0 sbsiralo, ao racional, pois se assim proceder iracassard 3 intonto de penetrar no sentdo profunde das coisas, logo, de Bingir a vercace. (0 singular 6 0 homer, Contrariamente 20 que ocorre entre os animals, © homem singular vale mais que a espécre. Apenas Se tom consciéncia de sua singularidade, Portanto, o homem Gia categoria central da existincia, A existénciaindvidual, assim. fg concabe KierkegaarG, é para ser vida, dispensanco ser ex Dicada racionaimente, conforme pretendia Hegel. Contra a cen- Eepede hegeliana do’ homam, valorizado apenas naquilo que presenta de geral e abstrat, Kierkegaard exalta o concreto, 0 Singular, o homem enquanto subjethidade, © pensador dine rarqués atrbuiy @ si mesmo a missao de defender o singular Tita 0 geral, tareta que, no Dido, compara a de Letnidas, © herdi das Termsplas, a quem coube resist as investidas do fnimigo, No caso de Kierkegaard, o inimigo, ninguém duvida, € toda forma de sistema, Chegou mesmo a manifestar 0 dessjo i ter Como epitafo a expresso: “Aquele singular” Mas 0 que 6 0 homem, 0 indviduo, para Kierkegaard? Oromem é espitio, a sintese de fino infito, de temporal 9 stoma, de liberdads e nacessidade, resnonde. E qual a conceped kierkegaardiana de espirto? Oespitte 6 0 ev. O.2ué aquele que nao estebeiece rolacdo com nada que ihe é aheo. como se processa a existincia do homem?. Kierkegaard a divide am trés estigios: 0 estético, 0 ético © 0 toigioso. No primeito estAgio, 0 estético, o homem busca um sentido para sua existéncia, Enquanto investga as razbes de seu viver, Betmanece $00 0 total dominio dos sentides, dos sentimentos. Convete de que ¢ inteiramente lve, vive 60 sabor dos imulsos, procurande destrutar, extraindo © méximo de prazer, cada ins- Sa ponbiade para ai segundo seus cares pessoas seo ‘oo esceve aue a supenaridade a homom sogre'o arial cor a ae eae Ge se desesperar. E através do de- 6 assim shandonard as exelencias Gespados 6 a vies cue BusTeNCMLBUO ® as sxigéncias do mundo exterior, com suas normas @ conven- Bes. A vida ndo 6 um jogo, por isso impde a cada um assumir, 4 responsebilidade de seus atos, reconhecer os erros cometidos, admit suas culpas. No estégio 6, a personalidade do indi vidue permanece lio, mas nos limites estabelecidos pela so- iedade. ‘Occontrasto eno oestético @ 0 étco Kierkegaard exempliica ‘com as obrigagdes matrimonials. “Quanto aos esponsais — os- creve n0 Didrio —, 0 diabo é haver neles sempre tanta ética, ‘que 6 tdo enfadoniio quando se tata de ciénca como quando se trata da vida. Que espantosa diferencal Sob o cbu da estética tudo 6 leve, belo, pido; mas assim que a élica se mete no, assunto, tudo se forna duto, angulosa e infinitamente fatigants.” ‘Se as exigéncias da dtica conseentizam o individuo de suas falhas, néo conseguem, contudo, proporcionar-ihe a existBncia ppola qual anseia. Esia elo $6 encontrara no estagio religieso. a fase culminante do desenvolvimento existencia. Meciante a te- ligiosidade, 0 homem alcanga uma relagao particular com 0 AD- soluio, Deus tomna-se a regra do individu, a Unica fonte capaz de ‘ealzé-o plenamente, Em Temor 6 Tremor, Kietkegaard analisa 0 salto do ético ara 0 relgoso através das versbes que confera a naratva bibica de Abrado © Isasc. Deus exigo do Abrago 0 sacrifice de seu fiho Isaac. Abrado tem de escolher entre as exigéncas racionais e élicas @ a ordem civina, entre a transgressdo © a ‘obesiéncia, Gerto ca onjpoténcia de Deus, Abraao repudia a Glia @ a razdo @ escolhe a fé, a mais alta paixao do homer, proclama Kierkegaard. A {6 tudo suplanta. Ela esta acima dos Prinsipios da razao e da moral. religi reina sdberana sobre a €tca, $6 a fé pode resolver a nica questio que se apresenta ‘20 homem: a do mal. Ao indiviue resta apenas escolher, decidir ‘que deverd fazer ou ser, sendo-Ine impossivel fugira iberéade dessa escoha, ‘Abrado fez sua escola: salto do ético para o raligioso, Sus- Pendeu 0 ético, 0 racional, © acalou 0 absurdo da exigéncia Sancla @ aparéncia, As co's, diz 0 criador da feriomenclogia, ‘380 tals como os fendmonos ac aprosontam & nossa conscién- ‘da. Os fendmenos, a0 mesmo tempo que s80 objetvos, $6 nos revelam essa condigao quando se mariiestam em nossa cons- Géncia. Dal, sua tese, jd relerda antotio‘mente, de que as ideias 96 existom porque séo idbias sobre coisas. Sintotizando: consciéncia e fenémeno nao existem sepatados um do oUt. ‘Através da epoqué, o mundo objetivo, real, 6 colocado, na expresso de Husser, entre parénteses na experiencia fenome- nolgica, permanecendo na consciéncia apenas aqullo que, por ua evidencia, 6 impossivel de ser nogado. Por exemplo, “eu “ olocarewin ‘xisto". A realidad, portanto, deve ser descria tal como se faprosenta & observacao pura. ‘ho lado de epoque, Hussertutliza ainda dois outros termas: owse 6 nova com os quais designa, respectivamerte, 0 per: famento @ 0 objeto desse pensamento, 'O método fenomenolégico veio a $® constituir no elements bilsico para o assentamanto do uma ontologia existencialista. © burda fiosoto alemao Martin Heidegger (1885-1876), antigo alu- fo de Hussar, de quem foi assstente na eatedra de fcsofia, O primero a util2a-o come instrumento de anaiise ‘AS CORRENTES EXISTENCIALISTAS Heidegger {JA tive oportunidade de assinalar, no capitulo dedicado a corigem do termo, que algune fldsofos recusam a denominagao Guetenciaisme na designagao de suas douttinas. O rept mais veemente part da Hadegger Inconformado com a insis- tancia de muitos am classtcé-lo de existencialsta, preocupou-se fom fixar as dfetengas quo 0 separavam do existenciaismo pre- pramente oto. Pata tahlo, escteveu um opiscuo, Carta Sobre B Humanismo, no qual doixa claro que seu intento, desce a publcacdo de sva obra mais famosa, Ser e Tempo (1927), foi Side elaborar uma analtica existencial ‘Mas qual a dferenca entre as duas posigies — exis toncialismo e analfica exstencial? Em que se baseia Heidegger pata distngut uma da oua? Cabe perguntar.iquaimente, pelas Fazbes Gagueles que, mais do que ciasslicarem HeWdegger de bxistenciaista, © apontam como iniiador do movimento, ( existencialismo, notei antes, é uma filosoia que tata di retamente da exstencia humana, Sua feflex2o esta centrada na fandlise do homem particule, individual, concrete. A analiica toon rw, ‘oxistoncial, por sua vez, nenhum interesse demonstra pela exis- {Wocia pessoal, © os problemas dela oriundos, Em Ser e Tempo, ‘Sequindo a recomendacao husseriana, o propdsito da Heidegger {6 discubr 0 Ser, 6 estabolecer uma ontolagla geral, descrovenco 10s fendmenos que o caracterizam tais como se apresentam & Consciéncia. Trata-se, enfm, de elaborar uma teoria do Ser Mas 0 que 6 0 Ser ? 0 Ser pertence aquele rol de napses evidentes por si mes- mas, embora indefiniveis. Traia-se da mais abstata de todes ‘a3 idéias, dill de ser devidamente esclaracda, Sao muitos 08 Sous signiicados, mais ainda as interpretagdes que cada um doles tem recebdo. Sendo o mais universal, o mais geval dos ‘eonceitos, a simples mengao do vocdbulo supe desnecassaio lacrescentar qualquer nota expkcativa. Por isso mesmo, a track (Gao filos6fica estabeleceu que 0 Ser ¢ algo indetinvel, Logo, lo ha interesse em discutr aquilo que, por principio, & sem dotinigao, Essa nagao do Ser é acelta por Heidegger” Nao. Ao contrério, fle delineot sua teoria do Ser em oposigao & ontologa cassica, inclusive a de Hegel Paral Heidegger, hd uma “questéo do Ser, questao que n&o foi resolvida. Por qué A ‘orga de consideré-o algo por si s8. fovidento, a tradgéo fllosfica impos a idéia de que o Ser nao Hecessita ser discutdo. Ocorreu, ent, o que Haxdegger deno- mina de esquecimanto do Se, fal, segundd ele, bastante grav P9's a questao do Ser coincide com proprio destino oy Os: onte. Gue signa isto? E que a histéa do Ser, oz 0 fi6so10, (6 @ propria histéia do Ocidente. © pensamanto ocidental jamais Tosolveu a quast4o do Ser, que ¢ Seu propria tundamento. Por {ue fundamento? Porque no alvorecer do pensamento ocidental na Grecia antga, a questdo do Sor ora a preocupacao basica, primordial. E, 58 assim era, deve-se ao fato de que os fdsotos pré-soerdtices néo coneebiam 0 Ser como aigo evidente por si mesmo, como alguma coisa cujo signiieado eta de imediato ‘eompreencido por todos, mas sim como algo obscure, inquie. ante. Portanto, de todas as questées flosoficas, a mais funda: oe EERETENCILIENO 2 ‘menial é a inerogagéo sobre 0 Ser Deve-se, por conseguinte, discutla ‘A exemplo de Hussorl, Heidegger nfo se ocupa de perguntar © que @ 0 Ser, qual sua definicao, O intoresse de ambos 6

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