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EMMANUEL JOSEPH SIEYES Préjus (1748) - Paris (1836) EDITORA LUMEN JURIS A Constituinte Burguesa Qu’est-ce que le Tiers Etat? 42 edicao Organizacao ¢ Introdugao ‘Aurélio Wander Bastos Prefacio José Ribas Vieira Tradugao Norma Azevedo EDITORA LUMEN JURIS Rio de Janetro 2001 Copyright © Lumen Juris/Aurét Wander Bastos Supervisio editorial ‘Aveoweo Becrea Producto e editoragao etetrénica Nvssan Inromuatia Ltou Telefone (21) 242-4017 Capa Misc Cantos E proibida a reproducdo total ou parcial, por quatquer meio ou Processo, inclusive quanto ds caracteristicas grdficas e/ou editorials, A violacdo de direitos autorais constitui crime (Cédigo Penal. art. 184 @ $5, € Lei n® 6.895, de 17/12/1980), sujeitando-se 1 busca e apreenséo e Indenizacées diversas (Let n° 9.610/98). ISBN 85-7387-169-5 2001 Todos 0s direitos reservados & EDITORA LUMEN JURIS LTDA. www.lumenjuris.com.br Rua da Assembléia, 10 - Grupo 2307 - Centro Telefone (21) 531-2199 Fax (21) 531-1126 Rio de Janeiro, RJ - CEP 20011-000 Impresso no Brasit Printed i Brazil Sumario Nota Explicativa Para Compreensao de Sieyés - Notas ¢ Fragmentos sobre a Histéria da Franca Feudal Prefacio . Introducao Consideraces Preliminares sobre o que ¢ 0 Te Estado Capitulo | - O Terceiro Estado é uma Nacao Completa . Capitulo | . © Que 0 Terceiro Estado tem Sido até Agora? Nada Capituto tl ; 0 Que Pede o Terceiro Estado? Ser Alguma Coisa | - Primeira Peti¢ao ~ Segunda Peticio .. ~ Terceira Peticio Capitulo IV © Que Tentaram Fazer pelo Terceiro Estado (As Propostas do Governo e dos Privilegiados) | Assembléias Provinciais .. HOS NOtAVEIS ..ssseeeeceeee ll - 0 Escritores Patriotas das Ordens Prvilegiades IY - APTomessa da Igualdade de Imports « ‘A Proposta Intermediéria dos Amigos Comuns dos Privilegiados € do Ministerio ....... A Proposta de Imitacao da Constituicao Inglesa ico de Imitagao nao é Adequado para Bem Capitulo V 0 Que Deveria Ter Sido Feito (Qs Principios Fundamentais) Capitulo VI © Que Falta Fazer (A Execugao dos Pr Capitulo VIL A Assembléia Nacior Cronologia da Revolucao Francesa e Fatos Contemporaneos Significativos 29 29 31 32 34 38 39 40 45 59 69 7 Nota Explicativa ‘A decisio da Editora Lumen Juris de traduzir € publicar cesta obra sobrepos-se correspondéncia de Fortaleza, assinada pelo Professor Dimas Macedo. Posteriormente, solicitamnes 2 professor Jose Ribas Vieira a apreciacao técnica do texto fran~ ees original, bem como do texto espanhol, que serviram de base a esta traducao, realizada por Norma Azeredo. A prepa racao dos textos e @ respectiva adaptacao de Haguagen, (quando necessarias, bem como as notas, os fragmentos 1910 qUtorios a historia da Franga, a cronologia da Revolucao fran~ case ¢ a organizacao geral da obra ficaram sob a responsabl lidade do Professor Aurétio Wander Bastos. Para methor compreensao do texto de Sieyés, a localiza, céo de sua obra e de seu pensamento, o Professor ‘Aurélio. Sander Bastos elaborou uma introducao analitica das princt: pais vertentes de suas proposicdes @, 0 Professor Jose Ribas Vieira, um prefacio historico e comparativo. ‘pat da utilidade didatica desta obra, ate agora inexpti- cavelmente inédita no Brasil, ela deve ser vista nas suas ch” ceretancias histericas, no quadro revoluctonario francés do secalo XVIll, © livro € uma excelente consotidacao Ge informa: Goes sobre a transicao institucional e um repositerio de SPS Gineias imprescindivets para todos que pretendam estudar Ou dirigir mudancas politicas. No Brasil, $80 pouquissimas as informacdes sobre a obra Qu’est-ce que le Tiers Etat?, elaborada por Emmanuel Josepn Sieyes. Nés encontraremos, naturalmente, em tingua ffance sem farto material a respeito deste assunto, Destace-se mais renomado de Sieyas, Com base nos dados ; a respeito do proce: a lesta obra, indicados no prefacio desta cage frente informar que a brochi Apés esta nota ex plicativa esbocando a ti Imotante bra, cabe observar, tammy que aise ess ara ira o titulo A Constituinte Burguese 10 cus hate esinuler dlscussses sobre overdade le levou a incipiente teoria Jurfcica sobre o Poder Constituinte formulada por sieves © 0s Editores QWestce ave te Ter Er, ve Bra, oth cho erbanzada por Roberto Zapp Para Compreensio de Sieyés Notas e Fragmentos sobre a Historia da Franca Feudal Romano, dos reinos Nos antigos dominios do Impé dados pelos barbaros, 0 mais forte foi o Franco. Iniciou a expansao com a conquista das ultimas possessGes romanas Gélia por Clovis (481-511), que inaugurau a dinastia merovn gea. Percebendo o poderio da Igreja nas antigas areas ¢ Império Romano, converteu-se ao cristianismo e incenti regime de grandes propriedades (F principes milicianos, ou pelo alto clero, apotades no servil, Em meados do século Vill, expandiu-se na Gi rio da familia nobre dos carolingeos, que instauraram nova dinastia (715/987), cujo maior expoente foi Carlos Magno (768/814). A partir de meados do século X, 0 Imp iniciou sua decadéncia e desmembrou-se nos reinos da It da Francénia ou Franco-oriental (Germanta) e Franco-ocide tal (Franca). 0 poder dos senhores feudais (condados e d dos) aumentou significativamente, 0 que permitit: a0 senhor de Paris e Orleans (Hugo) sobrepor-se aos remanescentes <7 rolingeos e inaugurar uma nova dinastia (987): a dos capetos E neste periodo que mais visivelmente se pode identi socialmente 0 regime feudal. Os capetos reinavam sem poc'= central, 0 que permitiu 0 crescimento desarménico de con Hon dos, duc de ca «da tej Ptlelamonte, case 0 proces so de expat ‘omercial e urbana, especialmente a partir do aoa a meet incentivadas pelo Papa Urbano il Gernot, Fang, 195) «as wurasdes de pager mona eee ipe | (1066/1108). Felipe Il (1180/1223), na palitca de usurpasbes, obteve resultados mais positivos e ane- 7ou a Nomandia @ Anjou vencendo, Inclusive, 0 Fl nels vais tarde, anexando Tolsa,obteve talde par o nederrine se ,obteve saida para o Mediterra pe ee de cidades e ducados setentrionals. 1, peomnoven ae a }), neto e sucessor do rei capeto Felipe Ee portante reforma judiciaria, que debili- ees beac dos senhores feudais (abolinda o eee ut accent 0 poder real, obtendo o apoio de caeieoe menoces, do cero parol © ds camponeses as es ead Ee 0 Belo (1285/1314), da mesma dinas- ect ieee roricamente, por dois significativos fei- to: cree as proscipasiesexparsonsas€ atonomsas s (cativevo), fetrandoe de fla @ isalando-o em tances ; : ma e instalando- so (106 8S EE, i Eitases Goran componto de representantes do cleo, dos nobres (ue de coe Moe reuniam a chamado do rei para tratar de quests prints) dos comune yneeadres cain mn adquirido bastante forca e dispunham de vultosos Fecursos financeiros), denominados de Terceiro Estado ou , ; a ina i em dos En AZ, o semores feuds interamperam a dnatia ss capo evar ao ono um parent daqueles: Felipe 4s vaio, raugurandose nove diostia, Logo depts (137) jos Cem Anos 2 nee entre a Inglaterra Franca ese prlongou, com intrrupcoes te 4a2, : combates era a posse da rica regia ial de Flandres, seat : Ido Fandres, no norte a Franges mas de scutel domi : discutivel dom Para Compreensao de Sieys io francés. As sucessivas derrotas dos franceses (espe ete em Crecy e Poitiers), iniiatmente, comandados pelos ve yatois J0a0 ll, 0 Bom, € depots pelo ret Cars, combina- jas com o descontentamento da burguesia & 3s sublevacoes raram este rei a convocar os Estados populares (Jacquerie), lev Gerais, transferindo-the virtualmente 0 poder administrativo, o que pouco durou. 0 desgoverno levou a nobreza atemoriza talecer o ret Carlos € os que the sucederam da a apoiar e for até a invasao de Paris pelos ingleses, apos > vitoria de ‘Azincourt (1415). Henrique V (da Inglaterra) proclamau-se rei da Franca, com apoio do Duque de Borgonha, € garantiu o eFC tragico so nde de Orleans. Sem majores sucessos (2s e8cara7Nase ge yana DrAre se ampliaram) e ante 2 desercao do Dude de Bergonna (que assinou tratado de paz com o rei de Franca), 08 ingleses perderam 0 seu poderio e abandonaram © dominios Conquistados. O fim da Guerra dos Cem Ande consolidou © poder real da dinastia de Vatois com Carlos Vil (1422/1461), fue organizou um exército permanente © decrewo. © imposto fa tatha para sua manutengao. Os Estados Gerais perderam a soa importancia, inclusive 0 poder de autoconvacar-se (820° de ordenacao), adquirido no inicio da guerra. oe (1461/1483), conhecido como aranha universaly sucedeu @ Carlos Vil, enfraquecido em guerras com senho areas, especialmente com Carlos, 0 Temerério (Duds de Borgonha), que, Finalmente, vencido, perdew os 2 domi ioe, Esta viteria sobre o Duque de Borgonha caracteriZ4 © °° Tie da formacao do estado nacional francés. Os orgindios, provencais, bretoes e gascbes passaram a s© denominar fran- creas, como os francos ocidentais € 05 povos setentriondl ° ‘Sioma trancés fot se tornando comum a todo © pais. Mute egies isoladas, dominios feudats e cidades, unlvam tS num reaiterio Unico, com cerca de quinze mithoes de habitants {nove-décimos no campo). mente sobre a rica, de mida e abit ta nestes cor peered sree Pct ee, cn lc Carlos V, rei da Espanh rr 2 (Pavia, 1525 precios mia inclusive buscando 0 apoto des protean Governou por éditos e nio conn 6 tador Govern p cou uma sé ve 53 posattindo o poder a seu filha Henrique, gua eo em 1559, perdeu definitiv; 4 aes ‘amente a Italia (paz de ‘Chateau. As campanhas na It tiveram, tod » todavia, visiveis efeite francesa do século XVI: ch © do protestantismo, que, na Alemanha, ee » desenvolveu- BieEacdo retormista ‘de Martin Lotere (ray esy Paralelamente a estes fatores, especial Paraelam » especialmente ao se SEEeU © apateto burocrtica do reine unifeede fee {sindo de sua situacéo, comecou a comprar can iv r - 0s, Ge arrendamentos e da usura, 0 due cial. 0 iar drasticamente a ‘impostor e. ‘ fc cobranca di © mesmo tempo, arrendé-los a ricos burgueses, ns © cresce t #© 1534, 0 movimento prot Tescer na Franca, especialmer I 1500/1560), Peay ePeElalmente 0 calvinisme (cain confiscacdo das torr: Guise, proprietarios di eclesiasti lesidsticas, tenazes defensores do catolicismo, ra Co guiram ferozmente os huguenotes. Os huguenotes, comanda dos pelos Bourbons, parentes da decadente dinastia dos Valois, especialmente o rei de Navarro (situado nos iniciaram severa oposicao que, por algum tempo, foi eq brada pela regente Catarina de Médicis, mae de Carlos (menor, segundo fitho de Henrique Ile irmao_ do também fale: ido Francisco II) Sucederam-se combates continuos com a Inglaterra: os principes alemaes apoiando os huguenotes e Felipe Espanha, os Guise catélicos. Em 1572, quando da Noite de Sdo Bartolomeu (23/24 de agosto), 0s catdlicos, apoiados pela burguesia parisiense, resolveram acabar com os huguenotes, exatamente quando Henrique de Navarra se casaria com Margarida, irma de Carlos IX. Apesar dos desastrosos resulta dos, os huguenotes sublevaram-se com 0 apoio da nobreza € das cidades do sul da Franca contra a regente Catarina de Médicis e 0 rei Carlos IX, que veio a falecer em 1574. Ccupado 0 poder por seu irmao Henrique Ill de Val sem autoridade e competéncia administrativa, nao se impeditt a expansao no incipiente estado francés de um verdadeiro poder paralelo: o estado huguenote com administracéo, exér citos, financas e tribunais. Este estado incipiente, comandado por Henrique de Navarra, que nao era valois, mas Bourbon, com a morte de Henrique Ill, seu cunhado (com quem cheg a se aliar para combater os Guise), tornou-se 0 legitimo suces- sor do trono francés. Este fato nao sé é significativo, mas de crucial importincia na histéria francesa, pois ascende a0 trono francés, nao apenas uma nova dinastia, mas uma dinas tia com vinculos retigiosos com os huguenotes e sem ligacdes diretas de linhagem, até aquele fato, com os Francos, os Capetos € 0s Valois. Com a morte de Henrique Ill de vatois (assassinado pel monge Jacques Clément, 1589), tratou 0 novo rei Henrique IV de Bourbon de articular as condicées necessarias para o pleno exercicio de seu reinado, procurando, preliminarmente, am: pliar as pensGes e dignidades dos senhores catélicos. Todavia, ele encontrou forte resisténcia nos catolicos parisienses, apotados pelos catélicos espanhéis. Calculista e pertinaz, tendo como objetivo a ocupacao definitiva do poder e nao a expansao cu a consagracdo de postulados retigiosos, conver- teu-se ao catolicismo, quando fez a célebre afirmativa que, para sempre, passou a caracterizar a sucumbéncia das idéias, ao utilitario pragmatismo do poder: Paris bem vale uma missa. Paralelamente, Henrique IV promulgou o Edito de Nantes, Que resguardou a liberdade retigiosa para os calvinistas. 0 império floresceu: a industria, 0 comércio e a agricultura foram incentivados e acumularam-se as reservas de ouro. Em 1610, todavia, Henrique IV foi assassinado pela resisténcia catélica e o seu sucessor, Luis Xill de Bourbon, para sobreviver 0s conflitos intestinos, ampliou a politica de concessées aos antigos senhores eclesiasticos e aos nobres, levando novamen- te 05 cofres do Estado ao esvaziamento, Em 1614, empobreci do 0 estado, Luis XIll convoca sem sucesso os Estados Gerais que, mais uma vez, puseram em evidéncia as hostitidades entre o clero, a nobreza e oS comuns. Luis Xill, dissolvidos os Estados Gerais, passou a governar, a partir de 1624, com 0 decisive apoio do Cardeat Richelieu (1585/1642), naugurou-se o longo period do absolutismo francés, continuado, a partir de 1643, por Luis XIV (1638/1715) e pelo astuto Mazarino (1602/1661). © absolutismo sé foi destruido pela Revolugo Francesa, no quadro e nas condicdes que Sieyés analisa neste seu livro originariamente denominado Quiest-ce que le Tiers Etat? Aurélio Wander Bastos Prefacio Acreditamos que 2 edicao da obra de Sieyes, Qu'est-ce de le Tiers Etat?, em nosso pais, se justfica por inumeras 122065. Entre estas, podemos mencionar que © pensame sey tan pias ss 2 en. ee no Brasil a respeito de noss e. ko longo 40, procuraremos demonstrar como Sieyé: desta preset eimplo, para a elaboracso de ume tears caracterizando a nosao de Poder Constituintes | Nao devemos, também, esquecer o fato de Sieyes seF citado muitas vezes em obras de preioleaeee mal no Brasil, mas, na verdade, ele ¢ um autor pouco conhecido & i * Dessa forma, a presente edicdo brasileira d Me ee oe te ers Ett? ver sup ums lacuna extents na bibliografia, principalmente dos noss0s cursos ; quer em nivel de Graduacio ou de Pés-Graduacao, E de ser ressaltado, ainda, que, através da leitura des trabathos de Sieyés, possivel termos uma dimensaa 'm: exata da propria Revolucao Francesa. 1. 0 Pensamento de Sieyés de quase duzentos anos apds 0 int jonario, sua historiografia nao apre ‘ado consenso quanto a sua interpre: Sabemos que, apesar cio deste proceso revoluc! senta, ainda, um determin tacdo. Deste embate, sobressaem as discussdes travadas entre Francois Furet'e Albert Soboul.” Nests quadro, destacam-se GyaeegGes Como: teria havido varias formac ns Proceso revolu. do de 1789 a 1799, e, por consegiiénc : 2 Revolucao Francesa poderia ser Feduzida, em um procedi. memo tao homogéneo, ao significar apenas, um fenémeno Politica tipicamente burgués Neste sentido, a presente edicao trard Posh Pa'a responder a estes questionamentos como tar farlamos desde ja, de um certo modo das interpretacées que tipico representante da das solucdes juridicas Veoluctonarias de 1789. Esta reducao simplisti pyualtzada através da apresentacao elaborada por Francisco Ayala para uma edicao espanhols go Qu’ ide Franote Free Econ Mara Vie ber So Sierés. Que ere ion Fransite, Verve (Blaes): Nowvetes vite Francesa. 2" ed. lode Jane; Zaher 1974 Madre Awan 55 de Edcones OPS aaa B06 & obra Qu'estce que le 7 twecho de Zapper fol taboroce fe ?, Genera Suto dste pre: Sieyés tinha interesse somente de Teoria de Smith na medida em que est: ‘monizar com 0 ensinamento de Conditlac a sempre esteve vinculado, Nao é por 0 introduzir a brochura sobre o base numa ani 0 trabalho e as funcaes pith tocratas tinham ust estes tltimos. 2 Siey ser aferide que 0 pensamento Ima certa 0 de Portanto, € di produz, com base nesta analise de Zapperi, te para compreender 0 processo revo lermos Qu'est-ce que le Tiers Etat?, po ee do, visualizar a existéncia, neste mome Perspectiva econémica, social e pe 3a afirmamos anteriormente. uma _mudanca meramente dese} 0, feflexivo significanda um elaborou todo um processo reflex a significa mento de limitacdo da estrutura repr 3 nho, este autor francés coloca-se diame! ene em a0 pensamento de Rousseau. Zapperi observa com p a Lodse res 2 proposta de representacao politica r Lode es surge no corpo desta obra de Sie\ , Cremes que a DISD citacdo de Zapperi exclarece ainda ma Ele acredita poder responder com um discurso de ataque a Rousseau ao sugerir uma versdo de con- traste de Lodse devidamente posta em dia no con texto _ndo-mercantilista da liberdade econdmica, que the parecia garantir resultados econdmicos cer- tos. Assim, pensamos nao haver divida que, através do qua~ aro te6rico delineado por Sieyés, poderemos encontrar algu- iS respostas a respeito do processo historiografico da Revolucao Fr Apés te 105 exposto estas justificativas para explicar a contemporaneidade da obra Qu'est-ce que le Tiers Etat?, pre~ 8 seguir tendemos, iciais da vida de Sieyes. tragar 0s aspectos n coletor de direitos reais, nasceu em de 1748, em Fréjurs-en-Provence. Entrou para a ia forma de encontrar uma nites. Entretanto, através da correspondéncia com seu pal nos avaliar como esta carreira foi para Sieyés brutal e Seus primeiros pasos na estrutura eclesiastica a regiao de Tréguier. Todavia, a servico do bispo , ele sai de Tréguier para Chartres. Nessa cami ate, este ambicioso 1a por se projetar na carreira eclesiéstica. E na da Revolucao de 1789 que se pode compreender como ates motives: © autor é um homem afortunado, pelos seg gozando das boas gracas dos altos prelados e memibro de ume ioja macénica, participante de clubes € sales a moda de Paris. Enfim, & na qualidade de vigério-geral da diocese de Chartres que ele participa da Assembléia Provincial de Orleans 20 abrir 0s seus debates em 6 de setembro de 1787 ‘Devemos fazer uma pausa nestes primeiros tragos biogra ficos para observar que, segundo Zapperi, a sua formacao intelectual era bem limitada em termos de preparo teorico E nessas condigdes que Sieyés atuara no proceso revolu cionario a partir de 1789, ao contribuir para a campanha ele! toral da convocacao dos Estados Gerais, além da obra ora tra- duzida, com mais trés opasculos: Essai sus les Privileges, Vues Sur les Moyens dexécution dont les Représentants de (a France Pourront Disposer en 1789 e Delibérations 4 Prendre dans les Assembiées. Sieyes e 0 Proceso Revoluciondrio de 1789 Para entendermos porque Sieyés elaborou esses opliscu los, devemos lembrar 0 fato de, neste momento, a Franc viver uma profunda crise econémica € social. E diante deste quadro que Luis XVI, seguindo consethos de seu Ministro Necher, decide convocar os Estados Gerais (em 12 de mao de 1789) para discutirem a reforma da tributacao francesa. As sim, 9 aumento da taxagao tributaria seria um recurso Ul com que 0 Poder Real teria de suprir o déficit orcamentario Em razao dos direitos assegurados ao clero ¢ a nobreza nos Estados Gerais é que podemos perceber o carater tario destinado ao denominado Terceiro Estado. Em face desta realidade, 0 processo revolucionario de 1789 sera deflagr a partir de um conflito entre o Terceiro Estado © as ordens privilegiadas Contudo, isto nao significa, ainda, uma ruptura total des- tes setores sociais. Assim, os grandes senhores liberais unem- se 4 alta burguesia para formarem o “Partido Nacional Patriota” e o seu "Comité dos Trinta”, figurando entre os seus fundadores os marqueses de LaFayette e de Condorcet, Talleyrand, Mirabeau e 0 nosso abade Sieyés, Cabe sublinhar que 0 pensamento de Sieyés se explicita tendo em vista 0 ato de convocatéria dos Estados Gerais de jutho de 1788, autorizando aos franceses apresentarem suas idelas sobre a reforma de Estado. Neste procedimento, foram editados quarenta mil cahiers de doleances; entre estes, os quatro opisculos j4 mencfonados por nés, elaborados ‘por Sieyés E dentro desta numerosa publicacao de idéias que sobres. sai 0 mais famoso de todos: Qu’est-ce que le Tiers Etat? Esta obra é editada em fevereiro de 1789, consubstanciando a pro- Posta da igualdade de direitos do Terceiro Estado em relacso a duas ordens privilegiadas: 0 clero e a nobreza Logo apés a instalacdo dos Estados Gerais, o conflito apresenta-se entre o clero e a nobreza em relacdo ao Terceiro Estado. Nesta perspectiva, em 17 de junho de 1789, tomando como base, principalmente, os representantes do Terceiro Estado, estes declaram a sua legitimidade de se instituirem em Assembléia Nacional com ou sem a presenca das duas ordens privilegiadas. Prevalece a nocao contida na obra de ile. gitimidade da hegemonia do clero e da nobreza ao represen: tarem apenas duzentos mil individuos. Dentro desta perspectiva, a Assembléia Nacional assume © compromisso de elaborar uma constituic3o para a sociedade francesa, Entretanto, um ultimo obstdculo restava para a institui- 40 desta nova ordem juridica: a existéncia de uma estrutura Social segmentada em privilégios fiscais, Na noite historica de 4 de agosto de 1789, a Assembléia Nacional decreta a igualda de fiscal a0 abolir todos os direitos de tributos feudais. £ neste momento que é facil depreender a posicao de Sieyes Pois caracteriza toda a sua visao politica modernizadora bem imitada ao se opor a abolicao dos direitos fiscais eclesiasti cos. Segue-se, ainda, outro documento basico da Revolu Francesa que foi a Declaracdo dos Direitos do Homem ¢ do Cidadao, promulgada em 26 de agosto de 1789, Diante do fato de Luis XVI se recusar a sancao destes decretos, prevalece, mais uma vez, a tese de Sieyés de a) 4 Nacao cabe uma autoridade anterior de estabelec: ordem juridica. Em conseqiiéncia, tal proposicio tradur-se fa idéia de um Poder Constituinte origindrio por parte da nacao. E nds encontraremos esta concepcao revolucio para a época de forma explicita na obra Qu’est.ce Tiers Etat? A redagao definitiva da carta constitucional da primei fase revoluciondria de 1789 completa-se com a sus promulga 540, em 3 de setembro de 1791. Nela esta contida, na sua ple: nitude, a idéia de nacdo delineada por Sieyés. Ao contrario de Rousseau, com sua proposta democratica mais plena de sabe Fania (soberania popular), na qual a representacao é ut guli, Sieyés postula um processo representative restrito Assim, ele esboca, diante do perigo das classes populares con. Quistarem a igualdade eleitoral, a distincao entre cidads ativa passiva. Isto é, mesmo aqueles que, ao se ens Fem no nivel da cidadania passiva, estariam representados Pelos cidadios ativas porque estes corporificam uma idéia de totalidade através da nacao. E 0 que reza o artigo } Capitulo |, Titulo Il, da Constituicao de 1791 Os representantes eleitos nos departamentos ndo serdo representantes de um departomento pa: ticular sendo da nacao inteira. Portanto, a nocao deste “corpo nacional” substitu com muito mais sabedoria a concep¢ao de contrato do século XVII, pois esse € firmado por todos, sem distingao entre despossui- Gas (cidadania passiva) ou nao. Abre-se 0 caminho para uma abstracio formal através do conceito de nacao, na qual todos estariam representados sem diferenciacao de qualquer nivel. as ado devemos esquecer que a categoria “nagao” fundada por Sieyés com sua falsa totatidade encobre, em conseqiién- ia, qualquer possibilidade de conflito. ‘Agora, devemos voltar aquelas questées propostas por nds no inicio deste trabalho, ao apontar como esse autor fran- cés distancia-se da visdo liberal econémica de Adam Smith Enquanto este propde que as solucdes dos conflitos sociais encontram-se na livre concorréncia de mercado, Sieyés estru- tura a sua perspectiva juridico-politica de carater unitario de nacao. Alem desses aspectos, devemos deixar em aberto a seguinte questao: afinal, o que € nacao? Ressaltada esta contribuicao de Sieyés para a primeira fase do periodo revolucionario pos-1789, € necessario dar con- tinuidade ao historico sobre este autor, retacionando-se com 0s fatos marcantes ocorridos neste periodo. Nesse sentido, em 3 de setembro de 1791, a Assembléia Constituinte completa os seus trabalhos @ é eleita uma Assembléia Legislativa. Entretanto, 0 momento histérico que se segue é de uma profunda radicalizacao politica, culminan. do, na noite de 9 e 10 de agosto de 1792, com uma comuna insurgente de Paris. Tal processo ocasiona combates violentos, acarretando a dissolugdo da Assembléia, a instalagdo da Convencao € 0 término da monarquia. V. Periodo de “Terror” A Convengae permanece constituida de 21 de setembro de 1792 a 26 de outubro de 1795. Ao contrario da Constituigao Preticio de 1791, este periodo togra decretar uma igualdade juridica plena e © avanco para certos patamares de uma democracia social e direta. Durante esta época conturbada, Sieyés manteve-se em uma posicdo ectipsada e discreta. Eleito para a Convencao pelo Departamento de Sarthe, votou pela morte de Luis XVI, V. Fase Conservadora 0s denominados setores burgueses reassumem o controle do proceso revalucionario através do golpe de 9 Termidor (27 de julho de 1794). Tal quadro restabelece-se, juridicamente, ‘apesar das divisdes entre monarquistas constitucionais e ter midorianos republicanos, através da Constituicao de 9 Frutidor, ano Ill (22 de agosto de 1795) Nesta Constituicao, restringiram-se 0 principio da igual- dade (reduzida esta & seguinte nocao: a igualdade consiste que a lei é igual para todos) e a nocao de cidadania, Quanto a0 Poder Legislative, foi dividido em um Conselho dos Quinhentos e em um Consetho de Ancitios. O Executive fo entregue a um Diretério de cinco membros designados pelo Conselho de Anciaos. Para o primeiro Diretério, entre os indicados estava Sieyés, que recusou o posto, pois ndo perdoava aos termido rianos uma elaboracao constitucional que debilitava a autor dade de Estado. Por esta razio, ele se mantém margem do processo politico, mas em uma posigéo de conspirar contra ele, O autor por nds estudado arguia, contra a Constituicae do ano Ill, que ela estimulava o conflito entre os poderes e uma total ineficacia administrativa, A sua postura conspirativa cul mina ao assumir o Diretério em 21 Prairal (9 de junho), ape: sar de estar contrario a este regime. Embora julgue necessa ia a revisdo constitucional, Sieyés optou pelo Golpe de 4 Consttuinte Burguese Fstado. Isto ocorre com 0 primeiro 18 Brumario (9 de novem- bro d mnilitar de Paris. Sob a pressao do Exército, os Concethos foram Subordinados a duas comissdes que votaram a substituicsy do Diretério por tr€s cénsules. AS comissses e os cdnsules tinhany Fame funcao elaborar a nova carta constitucional, Os cGnsules foram RogerDucos, Bonaparte e Sieyés. Mais uma vez, a influéncia deste pensador francés trans parece na Constituicao de 22 Primdrio, ano Vill (13 de desem. bro de 1799). Com a instituicdo desta ordem juridica ¢ como inicio do periodo napotesnico, podemos atirmar queso monere to revolucionario de 1789 havia encerrado 0 seu ciclo de mudanca. A construcao da base de uma nova sociedade com: Pleta-se com a promulgacdo do Cédigo Napolesnico de 1804 Vt. Conctuséo Estamos certos de que a leitura desta obra, editada pela Editora Lumen Juris, traré algumas reflexdes aos questions: mentos levantados por nés no inicio desta apresentacao. Po! ina verdade, Sieyés nao pode ser reduzido, apenas, a um mero wen esentante da burguesia francesa, Neste sentido, apesar cas limitacées de seu preparo teérico, desejamos, a titulo conclusivo, reafirmar que Sieyés insere-se em uma tradigao Politica francesa de objetivar a construcio de uma ordem Juridica @ social estavet. Tal tradicéo aproxima-se do pensa mento de Montesquieu e abre o caminho para a elaboraca tebrica de Benjamim Constant no periodo de Restauracao. José Professor-Adjunto do Departamento de Pattee da Universidade Federal Fluminense (UFT) e do 1a de Mestrado em Cigncias 4 Pl ia Pol Progr Introdugao Esta obra, Qu’est-ce que le Tiers Etat?, de autoria de Emmanuel Joseph Sieyés (1748/1836), que esta sendo publica~ do com o titulo de A Constituinte Burguesa, corresponde e se confunde com um dos mais significativos momentos da histo- ria moderna: a Revolucao Francesa. O livro nao antecede & Revolucao nem ao menos the sucede: sua dinamica é a dina- mica da propria Revolucéo. A linguagem convulsiva e parado- xal deste eminente politico francés € a expressao nitida das contradicées e das esperancas que tumultuam e turvam a pro- pria mudanca. Para compreendermos 0 livro dentro do seu quadro politico é necessario que se entenda que ele é a tra- ducdo explicita da esperanca revoluciondria nas suas contra digdes. Nesta obra, a linguagem e 0 discurso do autor expr! mem o seu esforco para superar limitagdes provocadas pelos atropelos da Revolugao. Por isto, nao pode ser estudada e ‘compreendida senao inserida nas contradigdes de seu proprio tempo. Este é um livro de época: no presente (hoje), € a pro- posta futura vista do seu proprio passado. As suas ligdes s8o ligdes depuradas pela experiéncia revolucionaria: @ esperanga que a histéria destilou. ‘Quiest-ce que le Tiers Etat? € uma obra perfeitamente inserida no quadro politico francés da época, mas de com- preensao técnica dificil. Quem sabe, esta segunda razao expli- que 0 seu ineditismo em lingua portuguesa. Neste sentido, AC para se conhecer 0 pensamento deste revolucionario, pretimi narmente, é necessdrio que se conheca o seu tempo histérico — 0 periodo pré-revolucionério, a Revolucao Francesa e a ascensao bonapartista. Em segundo lugar, deve-se pressupor ue 0 casufsmo exemplificativo de sua narracao € a referén- cia empirica, € nao o indicador teérico, que nos permite desenvolver abstracdes retrospectivas sobre o que foi a sua preocupacao prospectiva. Esta obra de Sieyés, conseqiiente- mente, exige um aprendizada preliminar: para compreendé-lo e retirar do seu texto a experiéncia da época é imprescindivel aprender a abstrair-se sobre o préprio pasado, colocar-se no passado como se fosse o futuro. Este exercicio metodolégico nao ¢ simples; a0 contrério, é bastante complexo: abstrair-se sobre 0 passado implica necessariamente em raciocinar com os parametros que o préprio passado impée, sem se circuns- crever aos seus préprios limites. A regra para se compreender 2 exata dimensao do passado ¢ observa-lo com seus proprios thos, com seu quadro de valores e suas diividas, mas ter, tam- bém, sempre claro que as suas lices, especialmente as poli- ticas, somente servem como ligGes na compreensio critica de sua época e de seu desenvolvimento. Aconceitualistica sociotogica, politica e juridica do tem- po de Sieyés nem sempre se identificam com a conceitualisti- ca de nosso tempo. Esta é uma das razdes que exigem do lei tor um certo reducionismo, vamos chamar, terminolégico, pa- ra nao falarmos metodolégico. Os conceitos de classe, ordem estado na linguagem de nosso tempo tém uma dimensao dis- tintiva bastante nitida, mas, & época, elas se confundiam, muito embora possamos nelas identificar nitidas conexées. O que socialmente se denominava ordem, politicamente se denominava estado, e a figura classe nunca se atribuia a ‘ordem dos privitegiados ou ao primeiro e segundo estado (0 lero ou a nobreza), mas ao Terceiro Estado. Da mesma forma, nao se deve confundir ou fazer explicita associacao entre bur- Buesia e Terceiro Estado, assim como os Estados Gerais nae fram propriamente um parlamento, mas, em tese, um Com setho Consultivo do ret. Neste Conselho assentavam-se despre Porcionalmente procuradores do clero, dos nabres e da classe laboriosa — os homens das cidades, as comerciantes enrique cidos, os fabricantes da indstria incipiente e do campos ~ que politicamente eram denominados Terceira Estado Da mesma forma, como no nosso tempo — esta uma outra licdo interessante de Sieyes —, as ordens nao deviam ser com Preendidas isotadamente, especialmente na sua represents 0 politica: os Estados Gerais. Elas entre si se permeavan Assim como havia o clero enobrecido, tinhamas a nobrevs eclesidstica. Também nao é menos verdade afirmar a : ceiro Estado estava, ele proprio, permendo pela presenca ve deputados originarios do clero paraquial ou da baixa nobreza, assim como entre si se confundiam nos Estados Gerais 0 clera @.a nobreza (os notaveis). Nao se foge apenas de uma afirma 60, que é a verdade da prépria revolucSo: 0 Torceiro Estaa no perpassava as ordens privilegiadas (os notaveis). Todavia, 6 necessario que se reconheca a outra verdade: muitos dos que formulavam as propostas politicas do Terceiro Estaco eram originarios do clero ou até da nobreza. Alias, Sieve dedica a estes pensadores politicos parte sisnificativa de sua obra: aqueles que pensam a politica de eliminacéo da opres s80 no S40 os préprios oprimidos, perdidas na ignorancia de seus direitos, mas os privilegiados que tomam canscianeia do absurdo da usurpacéo. Esta 6 a razao pela qual, para se entender esta obra, na dimensio de sua grandeza, ha que se conhecer, nocessaria mente, 0 quadro histérico da Revolucdo Francesa e as teorias politicas que condicionaram a esperanca e a acao revolucian ria, Todavia, esta é a originalidade do trabatho de Sieyés: em si mesma a obra permite a percepgio nitida desta conexio entre 0 pensamento e a acio revol ia, Na dindmica de ato One suas contradigdes, Qu’est-ce que le Tiers Etat? é a exatreconhecer da sociedade francesa da época. Sendo um livntica esto condicionadas pelas Revolugdo Francesa e imersas na crise do pensamento politice inda nao se instalara, 0 passado permit absolutista. Assim, se podemos afirmar que esta obra cresce fadiograti produzido no exato momento em que o presente se tornav passado e o futuro ve foicas de sua resistencia, Este dado nos permite afirmar qu as formulacées tedricas sobre o pensamento de Sieyés 0 sobre a sua proposta de a¢ao sao basicamente deduces e na @ sua propria exposicao. A sua linguagem nao é uniforme, el apreende os fatos revolucionarios no seu préprio movimento Por estas razdes, as vezes, 0 texto esta escrito no participi presente, outras no condicional e, em outras ainda, tem expressdes e paragrafos no passado. A sociedade francesa nac era, nem muito menos deixara de ser: a sociedade frances: viria a ser Esta estrutura do texto nao o empobrece, pelo contraric é a waducdo literal da grandeza e da riqueza da mudang2 revolucionaria. Esta obra nasce com a Revolugao Francesa e se desenvolve com a pratica politica de Sieyés. € a partir desta pratica, € nao propriamente das teorias politicas da epoca, Que ele despreza, mas necessarias para compreendé-lo, que ele propée uma nova articulacao do poder politico. O seu livre demonstra, porém, nao 0 conhecimento agugado, mas a niti- da influéncia de novas teorias econémicas combinadas com tum significative esforgo para formular uma nova teoria sobre a representatividade politica. 0 conhecimenta para Steyés nao 6 importante na sua formulagao pura, mas na dimensdo de sua utilidade social e politica. Pri narmente, na sua formulagao tedr a anna do endo politic a clases falclonas, mas prop nha, especialmente, redefinigao do espago politico do Terceiro Estado. 0 seu estudo, na verdade, nao é classico pela su mportancia tesrica, mas devido as suas formulacoes sobre a representatividade eleitoral. No entanto, é necessario has suas estruturas fatigadas, as combinacées de todas a se desenvolve a partir da questao re a representatividade p que as sugestoes sob circunstancias historicas da da convocagao dos Estados Gerais, como alternativa para viabilizar a reversdo do quadro da pressio tributaria, nao absorve, apesar da sua preacupacso fom a representacao eleitoral, as teorias politicas que histo Ficamente pensaram a organizaco do estado moderno: Vol faire (1694-1778), Montesquieu (1689-1755) e Rousseau (17 12° 478). Sendo um ativista politico e, quem sabe, por isto mes tno, Sieyés esta muito mais preocupado com a pragmatics Tleitorat do que com as teorias sobre formas de organizacao de um novo estado. Para ele, 0 que importa é definir meios ¢ stternativas eleitorais que transfiram o controle do poder das Srdens privitegiadas — 0 clero ea nobreza (os notavels) ~ Pata O Terceiro Estado, ou 0 estado plano como também a epoca se denominou. E nesta linha de correlagoes que nao podemos negar a influéncia do pensamento economico Burgues, espe: Maamente Adam Smith (1723-1790), sobre 2 sua teoria da representagao eleitoral. Na Franca pré-revolucionaria, o clero € @ nobreza nao pagavam qualquer tipo de imposto ~ privilégio que aviltava oe contribuintes laboriosos. A transferéncia da responsabilidade Scondmica aliada aos beneficios politicos e a vileza inescrupu- os dos privilegiados vinham influenciando decisivamente na detonacdo da crise revolucionaria e na desagregacao social Por duas vezes, o rei Luis XVI — na primeira (1774) assistido por Turgou (economista ¢ Fiscal-Geral do Reino) e, na segurr fa (4787), por Necker (banqueiro genebrino e tambem Fiscal: Geral) — propés, convocando os notavels, suprimir privilegios f obrigar 0 clero ea nobreza a pagarem impostos. Em ambas ‘ss ocasides os ministros foram levados a rentincia e o Conselho de Notaveis, insubmisso, insistindo em manter os privilegios € rovocaram a pr a Preemeat2m @ Precipitacdo de forcas soctainene contidas, Corea note? yPalitca de tiberacso "do, comer es construcae aie 62 trabalho gratuito dos canpores, 2 emancin sp 12488, subressao des srémios conperatnn” dos demons gees SEN 02s fazendas reais. & conbinenne s das novas forcas populares a femancas 2 om as exigéncia berauesia Snr euecida pela atividades comerciat nas con as (cldades) levou, em 1788. Luts XVI em 17 |, como alternativa vid. vel para superar a’ eriy eo tise social e institucional, vel para 2 convocar, novament, os {fades Gerais. Os Estados Gerais, que nao ae uniam desde 1614, foram instalades , a5 de maio de 1 repondo no quadro da acs BTlsetera, ; ua 680 politica, 20 lado do nobreza, o Terceiro Estacis eine Ted. orden eoniejeues SOME notévers, no faziam parte des se Born gua ai2das, Pertenciam ao Terceiro Estado Todas ue mutuamente itels, © Terceiro E ; sb ; © Terceiro Estado, em tes Camponesey acts ities vertentes socials: de un tod meses (sua imensa maioria), os artecs 0 aloria), 08 artesios, os oper 0 pobres das cidades: de out ém desproviden dos prt 3 de outro, também desprovicine a Vilégios, 0s comerciantes, os by taros os ose eS, 0s bangueiros, os arrendatanio Proprietérios de manufatures, chs tas. Se alguns de seus direitos bres de reitos civis crores eiauer dads, poraue o proprio reine necesstns ees ~ercessem suas atividades econdmicss tribur cas, para que sobre elas tributasse, politicamente estavam hutnithadce exemplo, no inicio das sessoes Caante, eam obrigados a receber 0 rel de jocthos e cone, wieegscoberta, a0 contrario dos notévels (representantes undo 0 costume, Int Sieyés, representante do Terceiro Estado, homem plas- mado na revolucao, se confunde com 0 préprio processo revo- luciondrio e nao propriamente com o pensamento politico bur- gués, que antecede ao processo revolucionario. Por isto, as vezes, se percebe na obra que ele corre atrés dos fatos, nous tras, atropela os fatos e, ainda noutras, antecede aos fatos. O seu livro nao nasce em terra firme, mas, como que aos sola- vancos, sobrevive no pantano. No pantano que era o proprio Terceiro Estado dos economicamente usurpados, politicamen te desprivilegiados e socialmente oprimidos. Nesta linha de observacao € muito interessante notar que ele entende como oprimidos os usurpados de toda ordem — antigos nobres empo- brecidos e mesmo 0s que se enriqueceram com a expansio mercantilista (comerciantes, banqueiros, manufatureiros etc.) — que, cerceados na sua cidadania, nao desempenham papel politico significante. A libertacio da opressao para Sieyés tem uma dimensdo exclusivamente politica: livre nao é © homem que juridicamente tem resguardados apenas seus direitos civis, mas aquele que, por forca da lei, tem protegi dos os seus legitimos direitos politicos. Quiest-ce que le Tiers Etat?, dentre as obras de seu tempo, € a que fornece mais elementos diferenciativas do conceito de cidadania civil e cidadania politica; aliés, uma distingdo conceitual que o pensamento politico e juridico de nosso tempo nao tem aprofundado. Sieyés 0 fez — como seria proprio fazé-lo em toda época de transi¢éo —, mostrando que € nos periodos revolucionarios que a cidadania politica alcan- Ga novos espacos e significados juridicos que a cidadania ci muitas vezes, nao alcanca e nao traduz. a diferenca entre a cidadania civil e a cidadania politica que fornece a exata dimensao da discriminacao tegal, entre os fatos sociais novos € a ordem juridica estabelecida. Ele atacou com clareza esta situacao, especialmente porque se apercebeu que nao basta- va a classe laboriosa — aqueles que a histéria denominou de AC e Burguesa resistindo ao gravame tributario, dissolvido. Estes ministros, todavia, se ndo conseguiram romper 0 cerco dos privilegiados, provocaram a precipitacao de forcas socialmente contidas; incentivando uma politica de liberacao do comércio de cereais, abolicao do trabalho gratuito dos camponeses na construcéo de estradas, supressao dos grémios corporativos € ‘a emancipacdo dos servos das fazendas reais. A combina¢éo ‘das demandas das novas forcas populares com as exigéncias da burguesia enriquecida pelas atividades comerciais nas comu- nas (cidades) levou, em 1788, Luis XVI, como alternativa vi vel para superar a crise social ¢ institucional, a convocar, novamente, os Estados Gerais. Os Estados Gerais, que nao se reuniam desde 1614, foram instalados a 5 de maio de 1789, repondo no quadro da acao politica, ao lado do clero ¢ da nobreza, o Terceiro Estado. Todos os que, como notdveis, nao faziam parte das ordens privilegiadas, pertenciam ao Terceiro Estado. Todavia, se bern que mutuamente titeis, 0 Terceiro Estado, em tese, representava duas nitidas vertentes sociais: de um lado, os camponeses (sua imensa maioria), 0s artesdos, 0s operarios € 0s pobres das cidades; de outro, também desprovidos dos pri- vilegios, os comerciantes, os banqueiros, os arrendatarios ¢ 0s proprietarios de manufaturas. Se alguns de seus direitos civis estavam resguardados, porque 0 proprio reino necessitava que exercessem suas atividades econémicas, para que sobre elas tributasse, politicamente estavam humilhados. Assim, por exemplo, no inicio das sess6es dos Estados Gerais, costumei- ramente, eram obrigados a receber 0 rei de joelhos e com a cabeca descoberta, ao contrario dos notaveis (representantes do clero e da nobreza) que, segundo 0 costume, quando o rei ocupava 0 trono, se levantavam e cobriam a cabeca. E neste quadro de forcas socials emergentes e submetidas pelas for- ‘cas instituidas que este abade e deputado procurador desen: volveu 0 seu livro e sua acao. Introdugao Sieyés, representante do Terceiro Estado, homem plas: mado na revolucao, se confunde com o proprio proceso revo- luciondrio e nao propriamente com o pensamento politico bur- gués, que antecede ao processo revolucionario. Por isto, a vezes, se percebe na obra que ele corre atras dos fatos, nou: tras, atropela os fatos e, ainda noutras, antecede aos fatos. O seu livro nao nasce em terra firme, mas, como que aos sola~ vancos, sobrevive no pantano. No pantano que era o proprio Terceiro Estado dos economicamente usurpados, politicamen- te desprivilegiados e socialmente oprimidos. Nesta linha de observacao é muito interessante notar que ele entende como oprimidos os usurpados de toda ordem — antigos nobres empo- brecidos € mesmo os que se enriqueceram com a expansao mercantilista (comerciantes, banqueiros, manufatureiros etc.) — que, cerceados na sua cidadania, no desempenham papel politico significante. A libertacdo da opressao para Sieyés tem uma dimensao exclusivamente politica: livre nao é © homem que juridicamente tem resguardados apenas seus Gireitos civis, mas aquele que, por forga da lei, tem protegi- dos os seus legitimos direitos politicos. Quiest-ce que le Tiers Etat?, dentre as obras de seu tempo, € a que fornece mais elementos diferenciativos do conceito de cidadania civil e cidadania politica; alias, uma distingao conceftual que o pensamento politico e juridico de nosso tempo nao tem aprofundado. Sieyés o fez ~ como seria proprio fazé-Lo em toda época de transi¢ao ~, mostrando que & nos periodos revoluciondrios que a cidadania politica alcan- Ga novos espacos e significados juridicos que a cidadania civil, Mnuitas vezes, nao alcanca e nao traduz. E a diferenga entre a ‘cidadania civil e a cidadania politica que fornece a exata dimensio da discriminacao legal, entre os fatos sociais novos fe a ordem juridica estabelecida. Ele atacou com clareza esta situago, especialmente porque se apercebeu que nao basta- va a classe laboriosa — aqueles que a historia denominou de A Constituin burguesia ~ a cidadania civil, mas especialmente era preciso conquistar a sua cidadania politica, mutilada pela ordem dos privilegiados. Sieyés nao admitia que a burguesia, como 0 pensamento sociolégico marxista mais tarde veio a fazer, isoladamente, fosse o agente historico das grandes mudancas no modo de Producao feudal, mas os legitimos francos. 0 direito natural de exigir a mudanca politica e a acupacao do poder (do trono) nao era propriamente, no seu pensamento, da burguesia, mas, dos descendentes dos antigos conquistadores francos, usurpa- dos nas suas propriedades e nos seus bens durante as sucessi- vas invasGes e guerras de conquista em que se viram envolvi dos com os descendentes dos vandalos e germanicos. Embora intua, ndo consegue desenvolver com clareza (este é um aspecto obscuro de sua obra) associacdes entre os nobres fran- cos decadentes e a grande burguesia em ascensdo, 0 que o condiciona, teoricamente, a fundamentar-se no legitimismo restaurador. 0 seu livro, visto no quadro pré-revolucionario francés, permite-nos, com mais nitidez, associar 0 seu saudo- sismo legitimista ora a0 enfraquecimento dos francos nas sucessivas guerras pela posse da regio de Flandres (Guerra dos Cem Anos), ora a conversao catélica dos huguenotes € a consolidacao absolutista dos Bourbons, afastando do poder real as linhas dindsticas tradicionalmente catélicas: os fran- 0S, 0s capetos e os valois. Na verdade, a se considerar 0 pensamento de Sieyés no seu estrito sentido, néo ha como negar que a sua proposta revoluciondria € restauradora, onde os usurpados, politica- mente acuados no Terceiro Estado, devem readquirir aqi que perderam, pela forca, de antigos conquistadores. Na sua tese, ele nao contempla a burguesia como uma nova forca his térica com novas propostas de organizacao politica e juridica, mas como 0 estado que, por forca de circunstancias histéricas, encamou e resguardou a dignidade franca. A burguesia é por- Introdugio tadora do Direito natural de restaurar os fundamentos de legi- timidade do poder real, e nao propriamente de instaurar 0 Poder burgués. A tentativa de Sieyés de explicar a ascensio revoluciona- ria de uma perspectiva restauradora nao é, todavia, suficien: temente profunda para prejudicar as suas formulacdes sobre a tomada legislativa do poder pelo Terceiro Estado. Teorica mente, para o autor, o fundamento de legitimidade do poder nao é exclusivamente 0 dominio econémico da classe taborio- sa na sociedade, inclusive considerando que arca com as res- Ponsabilidades essenciais do reino, mas o seu Direito natural de governar, Nao 0 Direito natural na sua dimensio teoldgica © estratificada, mas enquanto razdo natural. Neste aspecto, a obra traduz a recuperacdo moderna do Direito natural, iden tificando na sua proposta a convergéncia do naturalisratio de Cicero com a raison écrite de Rousseau, permitindo uma exata ingéo entre o legitimismo revelado e/ou costumeiro e 0 legitimismo racionalista como fundamento da legalidade, Enquanto legitimista, ele entende que a restauracio (combinacao da naturalisratio com a raison écrite) é a vitoria dos usurpados sobre os usurpadores que reinam em funcéo de privitégios. Enquanto racionalista, admite que o Direito & pro- priedade e a liberdade sao direitos naturais e nao podem ser rivitégio, muito menos fundamento da ordem dos privilegia- dos. Assim, Sieyés admite que tradicionalmente nem sempre a ordem (situacao) pessoal dos cidaddos (0s privilégios) se sobrepés a ordem (situa¢ao) real. Originariamente, as assem- bléias eram concebidas em funcao da ordem real e os cidadaos dela participavam em func3o da qualidade de sua proprieda de. Foram a imobilidade do reino e a expansao da politica de concessao de privilégios que sobrepuseram a ordem real a ordem pessoal, deslocando o fundamento do poder da proprie- dade para os privilégios de Corte. Consegiientemente, a vida Politica nao era determinada por aqueles que arcavam com as A Const le Burguesa esponsabilidades essenciais da sociedade, inclusive pagando 's tributos que subsidiavam a realeza, mas pelas ordens privi- egiadas. O Direito a propriedade é natural, para Sieyés, o que jo é natural é o privilégio: a isencao tributaria, por exempl los notéveis. Tratava-se de restaurar 0 Direito natural dos rroprietarios organizarem o governo ~ aqueles que se respon- abilizavam pela vida econémica da nacao ~ e eliminar os pri- ilégios que deformam e destroem a natureza do préprio omem. Existencialmente, para Sieyés, 0 homem privilegiado é o lomem corrupto; sua recuperacéo moral s6 é possivel através a recuperaco da moralidade do poder politico. Para ele, 0 io calcifica a natureza livre do homem e torna-o sub- erviente € falso. O homem subserviente, na sua opinido, turva-se mediante as "falsas” promessas de seus préprios ini- nigos avidos do poder. Aqueles que querem o poder, na sua >piniao, mais querem os afagos dos que estdo no poder do que sagar 0 preco de sua propria tiberdade e, menos ainda, da iberdade dos desprivilegiados. Neste sentido, ele acredita jue efetivamente nao tém a propriedade os despossuidos de joder, que a resguarda e a legitima, apesar da responsal Je social e tributéria ser destes proprietarios “presumiveis”. 536 0 exercicio do poder, através de represeritacao politica pré- oria, resguarda 0 exercicio da liberdade e o Direito natural inaturalisratio) de protecao legal (raison écrite) proprieda- Je, como alias, mais tarde (1804), dispds 0 Cédigo Civil de Napoledo (art. 544), de quem Sieyés, durante 0 governo do Zonsulado, foi intimo colaborador: A propriedade é 0 direito “nais ilimitado de usufruir e dispor dos objetos. Esta dissociacao entre a propriedade e 0 poder, a época da Revolucao francesa, como ja observamos, e a naturalisra- tio de compatibilizar estes fatores, imprescindiveis organi zacao social, levou Sieyés a dedicar a maior parte deste livro 3 teoria da’ representatividade. Inicialmente, criticando os rodduca Estados Gerais, como férum legitimo de representacao pol ca e, posteriormente, propondo novas formas de representa- {60 que viabilizassem as expectativas dos comuns e esvazias- sem 0s notaveis. As suas criticas aos Estados Gerais estao basi- camente dirigidas a seu anacronismo historico, aos desvios de representacao provocados pela sua composicao e para sua incapacidade de recuperar os caminhos da nacao francesa. Os Estados Gerais no representam a nacao; na sua opiniao, excluides 0 clero e nobreza, o Terceiro Estado é a prépria nacdo. O seu pressuposto da representacao politica é a repre- sentacdo da nagao. Nao ha érgao de representacao politica se a nagao nao esta representada. Os Estados Gerais s6 existiam ‘enquanto instrumento de dominacao politica, mas nao eram a nacéo. Dai, a sua posicdo nitidamente revolucionaria: era necessario que os comuns se constituissem enquanto a propria nacao, usurpada pelos privilegiados. Neste sentido, a obra deve ser analisada de dois prismas: © que seria a representatividade politica da nacao e, em segundo lugar, como os deputados deveriam se organizar para promulgar uma Constituigao representativa. © pensamento de Sieyés, visto de hoje, parece acentuadamente conservador, mas, para a época, mesmo na sua proposta de recuperacao legitimista do passado, foi significativamente revolucionério. Em primeiro lugar, ele acreditava que a referéncia eleitoral era a qualidade da propriedade e nao a titulacao ou os privi- légios. Desta forma, o Terceiro Estado, ou os comuns, poderia se tornar Camara quantitativamente superior, pois os “depu- tados do povo” seriam necessariamente mais numerosos que 05 representantes do clero e da nobreza. Suplementando esta posicao, defendia a tese de que o voto devia ser uno, por cabeca. Para ele, todo cidadao que retina as condicées deter- minadas para ser eleitor tem direito de se fazer representar, a sua representacao nao pode ser uma fracao da representa- cdo de outro. Este direito é uno, todos o exercem por igual, tuinte Burguesa assim como todos esto protegidos igualmente pela lei que ajudaram a fazer. A origem do poder 6 a vontade individual de associar-se: a forca de cada um isoladamente é nula; é a uniao de todos que gera a nacao. Na organizacio tradicional dos Estados Gerais, 0 voto era por estado, o que colocava em situacao sempre minoritaria 0 Terceiro Estado. Esta a razao da tese anterior e, como vere mos, a causa principal de desagregacio dos Estados Gerais. Para Sieyés, como se.observa, os fundamentos da representa tividade esto muito nitidos: a propriedade, que deve ser oportunidade de todos, ¢ a igualdade perante a lei, que todos ajudaram a fazer. Nao cabia, é claro, no tempo historico deste trabalho, questionar a teoria que, na época, fundamentava a substituigéo do poder politico absolutista e feudal pelo poder politico representativo da nacao. Se politicamente a nagao se confundia com 0 Terceiro Estado, socialmente eram os cida- daos comuns, os burgueses, aqueles que viviam nas comunas @ arcavam com 0 peso tributario do reino. No préprio Terceiro Estado dos Estados Gerais, hd que se notar, porém, que os comuns estavam esvaziados. O Terceiro Estado, na sucessao dos anos em que nao se reuniu, foi intei- ramente permeado por representantes originarios de outras classes sociais ou comprometidos com objetivos estranhos aos seus proprios interesses. Entretanto, ha que se reconhecer que as insuficiéncias do pensamento de Sieyés nao estavam na identificacdo destas variantes, mas eram imanentes aos seus préprios limites, que ndo eram apenas limites histéricos, mas limites de alcance metodolégico. Se Sieyés foi suficientemen- te habil para desenvolver, inclusive, uma teoria da inelegibiti- dade, nao o foi para perceber que a “classe laboriosa” nao estava reduzida, como ja mostramos, aqueles que detinham o controle da producao € pagavam impostos — os burgueses. O seu livro permite observar que ele intuiu, mas nao desenvol- veu teoricamente, que a classe laboriosa e produtiva se cons- tituia também daquetes que efetivamente trabathavam; em bora nao pagassem impostos, geravam a riqueza social. E por esta especifica razio — associar contribuicdo tributéria e ele. gibilidade, discriminando eleitoralmente aqueles que, emborz trabathassem, nao fossem contribuintes — que este precursot do constitucionalismo politico, especialmente do Direite Eleitoral, no conseguiu absorver a teoria do voto universal (que vingou com a proclamagao da Constituicao Republicana Jacobina, de 1796). Embora 0 pensamento eleitoral de Sieyés, para a época, epresentasse um avanco significativo, na verdade, a sua teo ria da elegibilidade é censitéria (56 votavam ou se elegiam aqueles que tivessem determinada renda e contribuissem com determinados valores em tributos), como alias foi semethan. temente aprovado na Constituicéo Monarquica de 1791, para a qual decisivamente ele contribuiu. Neste sentido, ele exp cita, com clareza razoavel, que nao pode haver liberdade sem limites, e, conseqiientemente, embora muitos produzam, nem todos devem votar; da mesma forma, nem todos que podem votar podem se eleger. Assim, por exemplo, se a lei deve fixar uma idade limite para as pessoas representarem seus concida- dios, da mesma forma, na sua opiniao, deve estabelecer que as mulheres nao seriam, de forma alguma, elegivets. Para lelamente, na sua opiniéo, devem ser excluidos da represen- taco dos comuns todos os privilegiados (e nao propriamente do primeiro e do segundo estado) acostumados por demais a dominar 0 povo, assim como ele pde em diivida a autenticida de de representantes que sejam estrangeiros (nao naturaliza dos) ou de empregados domésticos que tenham amo. (Os mecanicismos analiticos de Sieyés e a vocacao restau radora de sua teoria politica, por isto mesmo eleitoral mente excludente, impediram-no, em primeiro lugar, de compreen: der a sociedade como um todo organico, num processo con: junto de mudanca, nao como uma soma de drgios, de partes 40 dos representantes ~ é a eqliidade entre clero, nobres e Terceiro Estado. Os fatos hist6ricos, tal como se deram, mostram-nos que as eleicées convocadas em 1788 para eleger os representantes do Terceiro Estado aos Estados Gerais nao foram exatamente como Sieyés pretendeu, mas realizaram-se pelo sistema de dois graus (um grupo de cidadaos votavam nos eleitores e estes nos deputados procuradores) e somente poderiam ser fos 05 contribuintes de impostos com domicilio fixe. 0 Terceiro Estado se fez representar, apés estas eleigdes, nos Estados Gerais, por banqueiros, grandes comerciantes, advo- gados, notarios, curas de pardquias e, dentre tantos, pelo autor deste livro, 0 abade Sieyés. Todavia, as condicées de representacao foram significativamente diferentes. A bancar- rota do erario piblico francés pré-revolucionario e a resistén- cia dos privilegiados em abrir mao de seus beneficios tribut- rios levaram 0 reino a se submeter a muitas das exigéncias do Terceiro Estado, dentre elas a dupla representacao, ou seja, 0 lero ocupou nos Estados Gerais 300 cadeiras, a nobreza outras 300 e o Terceiro Estado 600 cadeiras. O quadro repre- sentativo nao era de todo dessemelhante a proposta de Sieyés, se bem que, na convocacao e instalacao dos Estados Gerais, nao ficou, de forma nenhuma, explicito se as votacées seriam por cabeca ou por estado, 0 que veio a provocar, final- mente, a desagregacao da estrutura pol hha que se reconhecer que a omissao legal (lacuna) nas viradas, historicas significativas é que permite o sucesso da compres- so, no vacuo, pelas forcas politicas mais incisivas: 0 Terceiro Estado se proclama Assembléia Nacional (1789). ‘Aobra de Sieyas, no entanto, nao é um tratado de Direito Eleitoral, mas um estudo politico onde mais nitidas estao as linhas tedricas de sua proposta de representatividade do que linhas de acao eleitoral, A sua teoria da representatividade & todavia suficiente para mostrar que, tivessem os Estados voducio Gerais sido convocados, mantendo a representacao tradicional do Terceiro Estado, teria se instalado em condicées politica mente desfavoraveis e nao teria alcancado 0 poder de nego- ciacdo imprescindivel, no sé para alterar os rumos dos Estados Gerais, como também para impor sua vontade revolu- cionéria. O seu voto era menos qualificado do que 0 voto do lero e dos nobres, embora representasse uma populacao muito mais numerosa — seria indtil, seria apenas dar uma satisfagao ao reino e nao permitir que a nacao se manifestas: se e organizasse a sua Constituicdo, proclamava Sieyés. € neste quadro que ele se manifesta claramente a favor de um novo contrato social. © contrato social poderia nado impedir uma classe de usurpar os direitos de outra, mas, pelos menos, fixaria os limites dos privilégios, impedindo que se transfor massem em usurpacao. Neste sentido, a sua vocagao legitimis- ta (tradicionalista) dispensa cépias e modelos estrangeiros; ele dispensa, inclusive, a experiéncia constitucional britanica Todavia nao deixa de reconhecer que é a experiéncia inglesa de garantir a liberdade individual, resguardada especialmente pelos Conselhos de Jurados, que deve ser o exemplo para as transformacdes das vontades individuais que aspiram a liber- dade. ‘Apesar das dificuldades iniciais da obra, 0 autor timida- mente procura mostrar que a pura, simples e tradicional con- vyocagao dos Estados Gerais nao permitira o reencontro da nacdo consigo mesma. Somente uma Constituicao promulgada pelos representantes da maioria da nacio € que permitira que fa Franca revolucionaria rencontre sua identidade nacional. Neste sentido, como se os tempos fossem os mesmos, e a his toria se deparasse sempre ante impasses semethantes. Sieyés acredita que sé uma Assembléia Nacional, enquanto expresso representativa da propria nacao, 6 uma assembléia constituin- te. Aeste nivel sao interessantes trés aspectos de seu pensa- mento: em primeiro lugar, ele admite que uma Assembleia Burguesa menores com movimentos préprios, como ele préprio definia. Da mesma forma, em segundo lugar, ha que se reconhecer que as expectativas da sociedade francesa da época nao eram de restaurar uma ordem usurpada, e permeada por grupos mer- cantis, industriais e financeiros fortalecidos, como acreditava Sieyés, mas de instaurar uma nova ordem que absorvesse os interesses sociais emergentes. Na sua opiniao, ¢ impossivel compreender 0 mecanismo social se nao se analisar a socieda- de como uma maquina e considerar, separadamente, cada parte, juntando-as em espirito para se captar os acordes ouvir a harmonia geral. Nao entendesse ele que o império da razao exigia, apenas, restituicao dos direitos usurpados, a sua obra teria ultrapassado o seu proprio tempo e, em vez de ser uma racionalizacao legitimista do Terceiro Estado, seria mais que uma incipiente teoria politica do Estado moderno., Esta critica que se faz a Sieyés se faz a todos os revolu- cionarios franceses que, se tiveram a grandeza de fazer a revolucao, ndo tiveram a lucidez, ou faltaram-thes os recursos politicos e tedricos necessarios, se nao para compreender, para consolidar institucionalmente a avalanche das vertentes populares que atropelaram o pragmatismo e conduziram & virada militarista e autoritaria de Napotedo Bonaparte. Alias, a ascensao napoleénica nao sé se confunde com a afirmacao de Sieyés na cena politica executiva, inicialmente como mem- bro do Diretério (1795) e, posteriormente, como articulador do golpe (18 Brumdrio) dos Cénsules (1799), juntamente com Napoleao Bonaparte e Roger-Ducos, mas esta alianca militaris- ta confirma uma de suas proposicées politicas para se gover- naar a nagdo francesa: precisamos ter a nossa propria nobreza, a nobreza dos francos redimidos e de seus soldados da liber- tacdo. Todavia, se podemos fazer algumas restricdes de alcance a obra de Sieyés nao ha como desconhecer que ela é um exce- lente retrato de transicao institucional e, como tal, uma licdo Introdugio politica indispensavel. As suas contradicées e dificuldades na indicagao de alternativas para a Franca, a sua inseguranca ante a necessidade de se convocar os Estados Gerais, com a requalificacao da representacéo do Terceiro Estado ou a con- vocagdo de uma Assembléia Nacional composta de comuns para reconstruir a naco, so, muito bem, os indicadores, nao apenas de uma época, mas da transicao. E neste quadro de inseguranca e tergiversacao que ele formula as suas principais linhas para a’atuacao politica. Neste sentido, como anteriormente observamos, Sieyés reconhece que © pressuposto da organizagao social € uma constituigao elaborada pela nacao, instrumento imprescindt- vel para a recuperacao da identidade nacional, através de uma Assembléia Nacional composta de representantes eleitos numa combinac&o proporcional entre a populacao € os contri- buintes fiscais. € bem verdade que, se no seu trabalho, fica claro que os elegiveis para a Assembléia Nacional so os pro- prietdrios contribuintes, nao fica explicito quem sao os votan- tes. A sua teoria de representacao esta restrita a discusséo sobre os elegiveis (e sua capacidade de representacao) e os inelegiveis, inibidos no exercicio de seu direito pelos limites que se devem impor ao préprio direito. Como ja observamos, a sua opiniao diverge das modernas teorias eleitorais: todos aqueles que tém direito de voto (alistaveis) sao elegiveis, salvo, é claro, as excecées de lei. Em funcao das formulagdes juridicas da época, 0 que se presume é que sua proposta pre~ tendia que todos 0s contribuintes fiscais fossem elegiveis para o Terceiro Estado (e, conseqiientemente, votantes), mas, nem todos do povo, por nao serem contribuintes, poderiam ser votantes. Esta postura, preliminarmente, justificava a inelegi- bilidade daqueles que, nao sendo proprietarios, e nao possuin- do rendas, apenas trabathassem. Para ele, a pratica da equii- dade — a mais importante de todas as que a lei deve estabe- Nacional Constituinte deve ser convocada pelo Poder Executivo; em segundo lugar, que os membros dos Estados Gerais (a Assembléia Ordinaria) nao devem ter poderes cons- tituintes e, em terceiro lugar, é contra a participaco de representantes corporativos na Assembléia__ Nacional Constituinte. Sem nos esquecermos que a obra de Sieyés foi escrita em 1788, muito embora por varias vezes por ele pro- prio republicada e atualizada, como que procurando apressa- damente que ela acompanhasse os fatos revolucionarios, as suas observagoes sobre os impasses da transicéo revoluciona- ria francesa nao estdo muito longe dos impasses do nosso tempo e de nossa histéria. Ao contrario do que se espera de um trabalho classico, esta obra é classica, nao pela sua forma, mas pelo seu conteiido, pelo que substantivamente propée. Como toda obra revolucionaria este livro “inacabado” é o sim- bolo de que as revolucées nao se acabam, mudam o seu curso, como tudo que exprime as expectativas da propria vida. O curso da obra de Sieyés nos permite, todavia, entender que ele acredita que o poder executivo deva convocar a ‘Assembléia Nacional por duas razdes bastante simples: em pri- meiro lugar, porque nao consegue fugir do principio de que exercicio do poder é um Direito natural do principe e, em segundo lugar, porque acredita que o principe, mais que os particulares, esta em condigdes de prevenir os cidadaos e afastar os obstéculos que poderiam se opor aos interesses gerais, Na sua opinido, o rei, por ser 0 primeiro cidadao, nao tem competéncia para eliminar a velha Constituigao, mas 0 tem para decidir sobre a convocacao dos povos para organizar nova Constituicao. O pressuposto juridico do pensamento poli- tico do autor é 0 Direito natural do principe e, para ele, o mal nao € a monarquia, mas a aristocracia. Ele entende que 0 poder do principe deixa de ser legitimo na medida em que 0 seu Direito natural de governar se distancia do Direito natural dos povos Se organizarem conforme seus interesses gerais. A Itrodugio legitimidade do poder do principe € proporcional sua capa cidade de exprimir 0 interesse da nacao. A nacao nao deve hada & legalidade constitufda. Por ser a realidade (real) 0 poder real, deve propor outra legalidade, sempre que ela se Bfastar do que for realmente legitimo. Tanto é fato que @ Constituicao francesa de 1789, prociamada pelo Terceiro Es- tado, originariamente transformado em Assembléia Nacional, & monarquica ; ; Todavia, destes postulados, essenciais @ reordenacao nacional, a contribuicao mais importante de Sieyés, que res vala até os nossos dias, so as suas observagdes sobre 0 poder constituinte. Muito embora, como anteriormente mostramos, o inicio de sua obra nao indique uma nitida opcao pela convocacao de uma Assembléia Nacional alterna tiva aos Estados Gerais, as dificuldades que ele proprio apresenta, para que os comuns alcancem uma situacao de paridade com 0 clero e com os nobres, convencem-no que, § Unica forma de se restaurar a legitimidade usurpada, € a ‘convocagao de uma assembléia com poderes para a altera~ ¢a0 da ordem privilegiada. Para ele, 0 poder constituido (o Terceiro Estado) ndo pode mudar os limites de sua prépria delegacao e, conseqiientemente, s6 0 poder constituinte, pode mudar os limites da ordem anterior. A Constituicao nao % obra do poder constituido, mas do poder constituinte. Nenhuma espécie de poder delegado pode mudar as condi- goes de sua delegacao. A distingao entre poder legislative & poder constituinte é uma das primeiras conquistas da Revolucdo Francesa, mas também, esta em Sieyés, como uma das importantes contribuigées ao constitucionalismo moderno e contemporaneo. i Para viabilizar a sua pressuposicao tedrica, Sieyés propoe uma distingao conceitual entre lei fundamental ¢ leis funda- das. A primeira seria a Constituigio, a expressao do Direito natural e fundamento legitimo da nado, competéncia exctu- ay siva de delegados constituintes. £ lei fundamental porque os 6rgaos que as executam devem preserva-las e nao alteré-las. ‘As segundas, as leis fundadas, seriam o direito posto, compe- téncia dos delegados ordinarios. Na linha exclusiva de seu raciocinio as leis fundadas seriam, dentre outras, aquelas que fixam as condicdes de clegibilidade, inclusive para a As- sembléia Constituinte. Na sua opiniao, o governo atua segun- do as leis fundadas ~ 0 direito positivo —, mas as leis funda- das 56 existem a partir da lei fundamental. Conseqiientemen- te, 0 que se verifica é que Sieyés acredita que em determina- dos momentos 0 direito positivo (raison écrite) em que se apdiam os governantes pode divergir de expectativas jusnatu- ralistas (naturalisratio) da naco. A contradi¢ao entre os fun- damentos da nacdo e os apoios do governo s6 pode ser supe- rada pelo poder constituinte — a Assembléia Nacional — que, no seu mais amplo significado, é origindrio: pode criar uma nova ordem constitucional No que se refere-a composicao da Assembléia Nactonal Constituinte, que deve organizar uma nova Constituicao, Sieyés acredita que deta nao devem participar representan- tes corporativos. Até aquele momento histérico era comum as representacées legislativas terem composicao corporati va, na verdade expressbes da atrofia entre o estado e a pré: pria sociedade. Na sua opinido, este tipo de representacao degenera em aristocracia, que é o fundamento da corrupcao politica. No fundo, estas observacées antiaristocraticas do autor revelam sua opiniao contraria a participacao dos nota: vyeis, e mesmo dos representantes gremiais (comum entre os artesaos da época), na Assembléia Nacional, enquanto Assembléia Constituinte do novo contrato social. Para ele, somente a Assembléia Constituinte, onde os representantes comparecem desprovidos de seus privilégios, tem as condi- des necessarias para fixar os novos limites da con social. Como anteriormente afirmamos, 0 contrato soci impede que as classes tenham direitos especiais, mas impe- de que uma classe usurpe direitos, transformando-os em pri vilégios. A propriedade é um direito natural, mas nao pode ser uma vantagem de privilegiados, assim como, para evitar os desastres sociais, as constituicées devem estar atentas para 0 fato de que nao ha falta maior do que a falta de poder. ‘A obra, na sua parte final, desenvolve-se a partir dos debates fundamentais identificaveis nas proposigdes das ses- ses iniciais dos Estados Gerais. Estas sessdes foram domina- das por uma contradigéo de todo inconcilidveis: os notaveis queriam sessdes separadas e as votacdes por estado, 0 que hes assegurava dois votos, e o Terceiro Estado queria sessoes conjuntas e votaco nominal, por cabeca (tese de Sieyés), 0 que the garantiria a metade dos votos sem contar as presum veis adesdes. Este impasse e as dificuldades para superé-lo provocaram a desagregacio dos Estados Gerais e, conseqiien- temente, a eclosao dos fatos revolucionérios. A partir de 12 de junho de 1789, ampliaram-se as adesdes & proposicao de reu nirem-se os trés estados conjuntamente: inicialmente os sacerdotes paroquiais e, depois, quase todos os representan: tes do clero. 17 de junho de 1789, por proposta do abade Sieyés, 0 Terceiro Estado se declarou Assembléia Nacional, representan- te da Nagao e, mais ainda, aboliu o direito de veto as suas decisdes. Luis XVI, na expectativa de suspender as resolucdes da autoproclamada Assembléia Nacional, conclamou os depu- tados a se reunirem por estado e a suspenderem as reunides conjuntas sob pena de dissolucao dos Estados Gerais. A deter minante conclamacao, Mirabeau respondeu: Comecemos os debates. Os debates da Assembléia Nacional continuaram com fa subsegiiente adesdo de muitos notaveis, paraletamente, todavia, sob a pressao da explosao insurrecional popular. Em 9de julho de 1789 a Assem! nal, constrangida pelo A Constituinte Burguesa impacto da insurreico popular, declarou-se Assembléia Cons tituinte. Como sempre acontece com as grandes revolucoes, no impeto da vitoria, as expectativas de seus dirigentes origi- narios séo ultrapassadas, para, somente depois, cairem na prostragao do proprio poder. As propostas alternativas de Sieyés foram atropeladas pelo substancioso estandarte politi co da Declaracio de Direitos do Homem e do Cidadao, promul- gada pela Assembléia Nacional Constituinte em 26 de agosto de 1789: + 0s homens nascem livres e iguais em direitos; + todos sao iguais perante a lei; = todos os cidadaos tém direito a liberdade, a proprieda- de e a seguranca; + a propriedade é um direito inviolavel e sagrad « todos 0s cidadaos tém o direito de resisténci Finalmente, se as teorias da representacao politica de Sieyés, e seus mecanismos de assimilacao eleitoral, nao foram ‘suficientes para absorver e acompanhar as demandas insurre- cionais de 1789, nao é menos verdade que elas subsidiaram & fundamentaram a Constituigo monarquica francesa de 1791. Na pragmatica da revolugao francesa, a dinamica das suas for- mulagoes restauradoras e revolucionérias, sobreposicdes apa~ rentemente contraditérias, sao diretrizes para os rumos ambi- ‘guos do poder. Na verdade, indicando caminhos para a restau- tacdo da identidade nacional francesa, Sieyés nao fot nem pretendeu sé-lo, 0 tedrico do estado burgués, mas consagrou- se como 0 estrategista da tomada do poder pela burguesia. Nao dos comuns, insurrecionais e sublevados, ou da burguesia jacobina, radical e desvinculada do aparelho de estado, mas da burguesia das "luzes”, ilustrada, cosmopolita e concitiado: a. A burguesia incondicional aliada dos militares legitimistas vil Introdugdo ¢ da fracao nobiliérquica esclarecida do estado tradicional, lacostumada aos desvaos e reacomodacoes do poder: as fra- Ges que articularam a ascenséo bonapartista ¢ a consolidacso do estado moderna. ‘Aurélio Wander Bastos Professor Titular das Faculdades Candido Mendes, Professor Agregado da PUC-RJ e Chefe do SSetor de Direito da Fundacao Casa de Rui Barbosa (licenciado} Consideracées Preliminares sobre 0 que é 0 Terceiro Estado” Enquanto o filésofo ndo ultrapassar os limites da verdade, ‘ndo deverd ser acusado de ir longe demais. Sua funcdo ‘marcar o objetivo, devendo, pois chegar até ele. Se, duran- te ocaminho, ousasse levantar sua insignia, ela poderia nao ser verdadeira. 0 dever do administrador, ao contrério, 6 0 de combinar e graduar sua marcha, de acordo com as difi- culdades. Se o filésofo ndo busca seu objetivo, ele néo sabe conde se encontra; se o administrador ndo vé 0 abjetive, ndo sabe para onde vai. 0 plano deste trabatho é muito simples. Devemos respon- der a trés perguntas: 18) O que € 0 Terceiro Estado? — Tudo. 28) O que tem sido ele, até agora, na ordem politica? — Nada 32) O que é que ele pede? — Ser alguma coisa Vamos ver se as respostas esto certas. Examinaremos, em seguida, os meios experimentados e os que deverao ser A Constituinte Burguesa utitizados a fim de que o Terceiro Estado consiga ser, efetiva- mente, alguma coisa. Vamos dizer, enta 40) 0 que os ministros tentaram e 0 que os proprios privi- legiados propdem a favor do Terceiro Estado. 28) 0 que deveria ter sido feito. 32) 0 que ainda nao foi feito para que o Terceiro Estado ‘ocupe o lugar que the cabe politicamente. Capitulo | 0 Terceiro Estado é uma Na¢ao Completa (© que é preciso para que uma nacdo subsista e prospere? Trabalhos particulares e funcdes piblicas. Todos os trabalhos particulares podem se resumir em quatro classes: 18) como a agua e a terra fornecem a matéria prima das necessidades do homem, a primeira classe, na ordem das idéias, sao todas as familias ligadas aos trabalhos do campo; 2) a partir da venda das matérias-primas até seu ‘consumo ou sua utilizagdo uma nova mao-de-obra multiptica acrescenta a estas matérias um segundo valor, mais ou menos composto: a indistria humana. Ela consegue aperfeicoar os beneficios da natureza, e 0 produto bruto dobra, decuplica, centuplica seu valor. Estes s8o 0s trabathos da segunda classe; 32) entre.a producao e 0 consumo, assim como entre os dife- rentes graus de producdo, se estabelece uma multidao de agentes intermediarios, ‘iteis, tanto aos produtores como aos consumidores so os comerciantes e os negociantes. Os nego ‘ciantes que, 0 tempo todo, comparam as necessidades ocasto- ais, especulam com 0 depésito e o transporte. Sao os comer ciantes que se encarregam, em ultima analise, da venda, no atacado e no varejo. Este tipo de atividade caracteriza a ter- ceira classe; 42) além dessas trés classes de cidadaos trabalha: dores e iiteis, que se ocupam do objeto proprio do consumo e do uso, € preciso ainda que haja em uma sociedade um gran- A Constit Burguesa de numero de trabalhos particulares e de servicos diretamen- te liteis ou necessarios para o individuo. Esta quarta classe inclui desde as profissées cientificas e liberais mais considera- das, até os servicos domésticos menos valorizados. Estes sao os trabalhos que sustentam a sociedade. & sobre quem recaem? Sobre o Terceiro Estado. As funcées publicas também podem, no estado atual, ser reunidas sob quatro denominagdes conhecidas: a Espada, a Toga, a Igreja e a Administracao. Seria supérfluo percorré-las detathadamente para mostrar que o Terceiro Estado integra os dezenove vigésimos delas, com a diferenca de que se ocupa de tudo o que ¢ verdadeiramente penoso, de todos os cuida- dos que a ordem privilegiada recusa. Somente os postos lucra- tivos e honorificos sao ocupados pelos membros da ordem pri vilegiada. Seria isso um mérito seu? Para isso seria preciso que 0 Terceiro Estado se recusasse a preencher estes lugares, ou, entéo, que fosse menos apto para exercer essas funcées. Sabemos que isso nao acontece. Entretanto, se ousou fazer uma interdicao ao Terceiro Estado. E the disseram: Quaisquer gue sejam seus servigos e seus talentos, vocé ird até ali; ndo Poderd ir além. Nao convém que vocé seja honrado. Algumas Taras excegoes, sentidas como devem ser, nao passam de zor baria, e a linguagem que se emprega nessas raras ocasides é um insulto a mais. Se esta exclusdo ¢ um crime social com relacao ao Terceiro Estado, seria possivel dizer-se pelo menos que isto é til & coisa publica? E os efeitos desse monopétio sao bastan te conhecidos: desencoraja aqueles que afasta e toma menos habeis aqueles que favorece. Nao sabem todos que toda obra da qual a livre concorréncia é afastada sera mal feita e de custo mais alto? E preciso notar que, ao se atribuir uma determinada fun- 80 a certo grupo de cidadaos, nao se pagara somente o homem que trabatha, mas também todos os outros do seu © Terceiro Estado & uma Nagio Completa grupo que se acham desempregados, e suas respectivas fami- lias. A partir do momento em que o governo se transforma no patrimonio de uma determinada classe, ele imediatamente se expande além de qualquer limite; so criados postos, nao pela necessidade dos governados, mas por causa das necessidades dos governantes etc. etc.? Ja se notou, ainda, que esta ordem de coisas, tristemente respeitada entre nés, parece desprezi- vel e vergonhosa quando analisada na historia do antigo Egito nos relatos de viagens as Indias?» Devemos, entretanto, dei- xar de lado este tipo de consideracao que, mesmo permitindo © esclarecimento da nossa questao, vai tomar nosso avanco mais lento. Apretensa utilidade de ordens privilegiadas para o servi- 0 pubblico nao passa de uma quimera, pois tudo 0 que ha de dificil nesse servigo @ desempenhado pelo Terceiro Estado. Sem os privilegiados, os cargos superiores seriam infinitamen- te methor preenchidos. Eles deveriam ser naturalmente o lote a recompensa dos talentos e servicos reconhecidos. Mas os privilegiados conseguiram usurpar todos os postos lucrativos € honorificos; isto €, ao mesmo tempo, uma injustica muito grande com relacao a todos os cidadaos e uma traicéo para com a coisa piblica. Quem ousaria assim dizer que o Terceiro Estado nao tem ‘em si tudo 0 que é preciso para formar uma nacao completa? Ele é 0 homem forte e robusto que esta ainda com um brago preso. Se se suprimisse as ordens privilegiadas, isso nao dimi nuiria em nada 4 nacdo; pelo contrario, the acrescentaria. Assim, 0 que é 0 Terceiro Estado? Tudo, mas um tudo entrava~ do e oprimido. © que seria ele sem as ordens de privilégios? jsements et od de ue nore Sunina do séulo das les. Fo gia pelo abade Rainal, com a colaboraao aia de Diserot A Constituinte Burguesa Tudo, mas um tudo livre e florescente. Nada pode funcionar sem ele, as coisas iriam infinitamente melhor sem os outros. Nao basta ter mostrado que os privilegiados, longe de serem uteis & nacdo, s padem enfraquecé-la e prejudica-ta. ‘Vamos provar agora que a ordem nobre néo entra na organiza~ do social; que poder ser uma carga para a na¢ao, mas ndo forma parte dela. inicialmente, ¢ impossivel saber, dentro de todas as par- tes elementares de uma nacio, onde situar a casta dos nobres. Sei que ha individuos, e em grande numero, a quem ‘as doencas, a incapacidade, uma preguica incuravel, ou uma torrente de maus costumes os tornam estranhos aos trabalhos da sociedade. A excecao e 0 abuso estdo em toda parte, a0 lado da regra, sobretudo em um vasto império. Mas devemos concordar que, quanto menos abusos houver, melhor fica o estado para ser ordenado. 0 mais desordenado dos estados seria aquele em que, nao somente particulares isolados, mas uma classe inteira de cidadaos colocasse sua gléria no fato de permanecerem iméveis em mefo ao movimento geral e consu- misse a melhor parte do produto sem nada ter feito para fazé- lo nascer. Esta classe, sem divida, é estranha 4 nacdo por sua ociosidade. ‘Aordem nobre nao € menos estranha ao nosso meio por suas prerrogativas civis e politicas. © que é uma nacdo? Um corpo de associados que vivem sob uma lei comum e representados pela mesma legislatura. Sera certo que a ordem nobre tenha privilégios, que ela ousa chamar de seus direitos, separados dos direitos do grande corpo dos cidadaos? Ela sai, assim, da ordem comum, da lei comum. Desse modo, seus direitos civis fazem dela um povo & parte na grande nacdo. £ realmente imperium in imperio. No que diz respeito a seus direitos politicos, ela os exer- ce também a parte. Tem seus préprios representantes, que nao so absolutamente procuradores dos povos. O corpo de Terceir Estado 6 uma Nagao Completa seus deputados se refine separadamente e, mesmo que se reu- nisse em uma mesma sala com os deputados dos simples cida- dos, nao seria menos certo que sua representacao é essen- cialmente diferente e especial. £ estranha 4 nacao, antes de tudo, por principio, pois sua missdo nao vem do pova; em seguida, por seu objetivo, ja que consiste em defender, nao 0 interesse geral, mas o interesse particular. 0 Terceiro Estado abrange, pois, tudo 0 que pertence & nagao. E tudo 0 que nao é Terceiro Estado nao pode ser olha- do como pertencente & nagdo. Quem é 0 Terceiro Estado? Tudo.’ 7 Siyés fava certamente com vase na brochura do prtestante Jean Past Rabaut Sait Etienne, Cansoeration sur les Interets du Tlers Eto, Adresses au Pepe des Provinces por un ropretire Foncer, sy 178. Ne pagina 28, o autor dena 0 Tree Es amo sendo a nace menos a nobreze eo cer. female no era certamente mu ve boseads em uma fseolona Masrstocrtia, como uera Sieyes Capitulo I! 0 Que o Terceiro Estado tem Sido até Agora? Nada Nao vamos examinar 0 estado de servidao em que 0 povo viveu durante tanto tempo, € nem o de coacao e humilhaco | fem que ainda é mantido. A sua condicao civil mudou ¢ deve mudar ainda. E completamente impossivel que © corpo da hago, ou mesmo alguma ordem em particular, venha a se tor- har livre, se o Terceiro Estado nao é livre. Nao somos livres por \ privilegios, mas por direitos, direitos que pertencem a todos 0s cidados. | Se os aristocratas tentam, inclusive ao preco desta liber- dade de que se mostram indignos, manter 0 povo na opressao, | este povo vai ousar perguntar: Em nome de qué? Se thes res- ponderem que é em nome da conquista, de vitorias outrora | Sbtidas seria ir Longe demais. Mas 0 Terceiro Estado nao deve temer a volta a tempos passados. Deve voltar ao ano que pre- | cedeu a conquista e, ja que ele € hoje forte o bastante para | | nao se deixar conquistar, sua resistencia sera, sem divida, nais eficaz. Por que nao restituiria os bosques da Franconia segunda al A Constituinte Burguesa a todas essas familias que mantém a louca pretensao de serem descendentes da raca dos conquistadores e herdeiras de seus direitos?» Anacdo, depurada, poderd se consolat, penso eu, de se ver reduzida a acreditar que so é composta de descendentes de gauleses e romanos. Na verdade, se trata de distinguir nas- cimento de nascimento. Nao poderiam revelar a nossos pobres concidadaos que aquele que descende dos gauleses e dos romanos vale a0 menos tanto quanto aquele que se origina dos sicambros, dos vandalos e outros selvagens vindos dos bosques e das dunas da antiga Germania?» Sim, poderia ser respondi- do, Mas a conquista desordenou todas as relacdes e a nobreza de nascimento passou para o lado dos conquistadores. Pois é preciso repassé-la ao outro lado. O Terceiro Estado voltara a ser nobre, tornando-se por sua vez conquistador. Entretanto, se tudo se encontra misturado nas racas, se © sangue dos francos que, separado, vale tanto quanto o dos outros, corre junto com o dos gauleses, se os ancestrais do Terceiro Estado sao 0s pais de toda a nacao, nao é possivel se esperar que cesse este longo parricidio que uma classe se corgutha de cometer cotidianamente contra as outras? Vamos seguir nosso objetivo. E preciso entender como Terceiro Estado 0 conjunto dos cidadaos que pertencem a ordem comum. Tudo 0 que ¢ privilegiado pela lei, de qualquer forma, sai da ordem comum, constitui uma excecao a lei co- mum e, conseqiientemente, nao pertence ao Terceiro Estado. Ja dissemos que uma lei comum e uma representacao comum. fazem uma nado. E verdade, todavia, que nao somos nada, Notas © Fragmentes sobre a Mitra da Franca 12,08 skambroseram povos germnces qe, na paca dot romano, habtavam & me foe, Vandal: nome ques lenses vam aos ances eos ara era snantno de moron e spencer, Systane ese pela side seroma erornte © Que o Terceito Estado tem Sido até Agora? Nada na Franca, quando s6 se tem a protegao da lei comum. Se nao se pode invocar nenhum privilégio, € preciso estar disposto @ suportar 0 desprezo, a injuria e as vergonhas de toda espécie. Para evitar 0 esmagamento total, 0 que pode fazer 0 infeliz ndo-privilegiado? S6 the resta como recurso juntar-se por toda espécie de baixezas a um grande. Ao preco da dignidade ele compra a possibilidade de, em certas ocasiées, se valer de m. pores! vamos considerar aqui a ordem do Terceiro Estado nao em seu aspecto civil, mas em suas relacdes com a Cons- tituicao. Vejamos 0 que ele é nos Estados Gerais. Quais sao seus pretensos representantes? Os que foram enobrecidos ou 05 privilegiados a termo.« Esses falsos deputados nem sequer foram eleitos pelo povo. Algumas vezes, nos Estados Gerais ¢, quase sempre nos estados provinciais, a representagao do povo é vista como um direito de certos cargos ou funcdes. ‘A antiga nobreza nao suporta os novos nobres; 6 thes permite reunir-se com ela quando podem provar quatro gera GOes e cem anos. Apesar disso, mas por isso, ela os retira da ordem do Terceiro Estada, ao qual, evidentemente, os enobre cidos nao pertencem mais. ‘Aos othos da lei, todos os nobres so iguais tanto os de ‘ontem, como 0s que conseguem, bem ou mat, esconder sua origem ou sua usurpacao. Todos tm os mesmos privilégios. Somente a opiniao os diferencia. Mas se 0 Terceiro Estado € “Th 0 Estados Gerats, » mats alta organtzacto serena cu ce ois Rint oh ihn ts ta or eS se ee et aaa or Extados Gers, eram divides po order. Eram encarregadas de represen Carano Burguesa obr rigado a suportar um prejuizo consagrado pela lei, nao ha razao para que ele se t a submeta a um prejuizo contra o texto wa due se faga dos novos nobres tudo 0 que se quiser. A par- ‘em que um cidadio ad égios c is cidadao adquire privilegios contré- ane see comum, ja nao faz mais Pat da 7 vo interesse se opd a ue seen pée ao interesse geral. Ele nao a principio incontestavel afasta, da mesma forma, da teers ntact da ordem do Terceiro Estado os simples privile- siads a term, Seu interes € tambem dvergente do inte- ‘ese comum, e) mesmo quando a opinige os ealoca no Tetceko Estado ¢ (ei permanece muda a seu respelt, a : coisas, mats forte que a opinia x 60 - indiscutivelmente fora da ordem 7 fateh os cole Por a rte liea subtrair do Terceiro Estado 3s hereditarios, mas aind é gozam de privilégios a te e rr esta ordem, fermo, é querer debilit ivando-a de seus memb Peeceee ros Mm. i privanda de ses ais esclarecidos, mais corajosos Se om bem se eu quisesse diminuir a forca ou a dignidade eeeeta stado, j4 que, no meu espirito, ele sempre se a decoma idéia de nacao. Mas qualquer que seja 0 moti- vo que nos ie, € possivel fazer com que a verdade nao seja je? Por que um exército tev a yerdade Fo eve a infelicidade de ver 1 de suas tropas precis 0 rs ctor a cans a een N ai ena sera femais repetir que todo privilégio se opde ao. ir |. Portanto, todos os priviles i “ a giados, sem distin- gio, fener uma classe diferente e oposta ao Terceiro Estado, Eu observ, ao mesmo tempo, que esta verdad nto haee eee para os amigos do povo. Pelo con- ario, 'a no grande interesse nacio ue nal e faz sentir 1m forca a necessidade de se suprimir no momento todos os Sido até Agora? Nada privilegiados a termo que dividem 0 Terceiro Estado @ que Boderiam condenar esta ordem a colocar seus destino® entre potas de seus inimigos. Nao se deve separar esta observe- Gao da seguinte: a aboligao dos privilégios no Terceirt Estado ae a perda das isencoes de que se beneficiam alguns de seus membros. Estas isengdes ndo sao outra coisa sendo 0 direito comum. Fo) soberanamente injusto privar delas 0 povo. Desse mode, eu reclamo, nao a perda de um direito, mas sua rest tuicao. Se me respondem que, tornando possiveis alguns des: ses privilégios, se suprimiria o meio de atender 2 necessidade seeiat, eu respondo que toda a necessidade piblica deve «VT a cargo de todo o mundo, ¢ nao de uma classe ‘especial de cidadaos. E necessario estar alheio a qualquer reflexao relati- Va 3 eqiidade para nao se encontrar um meio mals nacional de completar e de manter o estado militar. Parece que, as vezes, as pessoas se surpreendem ouvindo a queixa de que existe uma tripla “aristocracia’: da lgreja, da Espada e da Toga. Pretende-se que isso ndo pastt de uma maneira de se falar, mas esta expressao deve ser entendida a0 pé da letra, Se os Estados Gerais sa0 0s intérpretes da vonta- Ge geral e, como tal, detém o poder legislativo, nao é verda- dde que, ali, onde os Estados Gerais nao passam de uN assem- bléia clerical, nobilidrquica e judicial, haja uma verdadeira aristocracia? crigata terrivel verdade deve ser acrescentado ave, de uma forma ou de outra, todos os ramos do poder execisve também cairam na casta que domina a lgreja, @ Toga ea Espada. Uma espécie de espirito de confraternidade faz com que os nobres se prefiram entre si a0 resto da nacao. A usur- pacao é total. Eles reinam de verdade. 2. temos a historia com a intencao de examinay s° 0% fatos sao conformes ou contrarios a esta afirmagao, vemos ~ cou fiz esta experiéncia — que é um grande erro acreditar A Constituinte Burguesa que a Franca esta submetida a um regime monarquico. Se suprimirmos de nossos anais alguns anos de Luis XI, de Richetieu, e alguns momentos de Luis XIV, em que se vé 0 des- potismo puro e simples, vamos pensar estar lendo a histéria de uma aristocracia “ulica”. Foi a corte que reinou, e nao 0 monarca. E a corte que faz e desfaz, que chama e despede os ministros, que cria e distribui os cargos etc. E 0 que é a corte, se ndo a cabeca dessa imensa aristocracia que cobre todas as partes da Franca e que, por meio de seus membros, atinge ‘tudo, e exerce por toda a parte o que ha de essencial em todos os aspectos da coisa piblica? Além disso, 0 povo se habi- tuou a separar em suas conversas 0 monarca dos mentores do poder. Sempre viu o rei como um homem tao seguramente enganado e indefeso no meio de uma corte ativa e todo-pode- rosa que nunca pensou em atribuir-lhe todo o mal que ¢ feito em seu nome. Nao seria suficiente abrir os olhos para o que acontece neste momento, a nossa volta? O que vemos? A aris- tocracia, sozinha, combatendo ao mesmo tempo a razao, a justica, © povo, 0 ministro e 0 rei. O resultado dessa terrivel batalha ainda nao € certo. Resumindo, 0 Terceiro Estado nao teve, até agora, verda- deiros representantes nos Estados Gerais. Desse modo, seus direitos politicos séo nulos. Capitulo II! © Que Pede o Terceiro Estado? Ser Alguma Coisa Nao se deve julgar suas exigéncias pelas observacées iso tadas de alguns autores mais ou menos instruidos sobre os direitos do homem. No entanto, a ordem do Terceiro Estado test muito atrasada a esse respeito, @ eu nao digo isso unica mente com relacao as luzes daqueles que estudaram a ordem Social, mas também com relac4o a esta massa de ideias comuns que formam a opiniao publica. Nao é possivel apreciar as verdadeiras peticdes desta ordem a nao ser pelas reclama: Gées auténticas que as grandes municipalidades do reino diri- giram ao governo. O que se vé nelas? Que o povo quer ser algt: ma coisa e, na verdade, muito pouco. Quer ter verdadeiros representantes nos Estados Gerais, ou seja, deputados oriun dos de sua ordem, habeis em interpretar sua vontade e defen- der seus interesses. Mas de que serviria participar dos Estados Gerais se ali predomina interesse contrario ao seu. $6 iria con sagrar, com sua presenca, a opressao de que seria a eterna vitima. Desse modo, é certo que nao possa vir a votar nos Estados Gerais, se nao tiver uma influéncia pelo menos igual 3 dos privilegiados e um nimero de representantes igual 20 das outras duas ordens juntas. Todavia, esta igualdade de representacao se tornaria perfeitamente iluséria se cada camara votasse separadamente. a rl Coe Gerais uma influéncia “igual” 8 dos privitegi * Repito: e ele pode pedir menos? E nao esta : it 2 esta cl Sua influéncia se encontra abaixo da igualdade, ido se pode esperar que saia de sua itica e nsiga ser nui idade politica e que consig: teres para the dar esta igualdade de influéncia da qual ole a » efetivamente, prescindir. Obteria, ai rc » em v nemero igual de representantes, mas a influéncia dos on ie. nec 4 pes Spied protect De que lado esta o poder de prote. 7 -privilegiados que, por seus talento: 0S mais adequados Para suste a raret )s mai fentar os interesses de Nao sao educados num respei ee camisetas sPeito supersticioso ou forgado Para Sal é fa doors bemos Como é facil para os homens em geral se obra aos abitos que podem thes ser Utels. Estao sem. indo em methorar suas vidas e. a ar , quando a industri Pessoal nao pode ajudar pel: : 7 las vias honestas, el falsos caminhos. Ur intigtidade ce . Um determinado Povo da Anti © objetivo de acostum: Ranta lar seus filhos aos exer ou de habitidade, s6 o: eae ° 1 s alimentava depois que éxito nesses exercicios, Da Sicareae . Da mesma forma, entre nés, a cl Se mais habil do Terceiro Est : racome. tado se viu forcada, guir sobreviver, a ser dox lop emaceyae r cil com relagao a vont: ‘ade dc homens poderosos, Esta parte da Na¢do veio, assim, a se “4 © Que Pede o Tercera Estado? Ser Alguma Coisa constituir como uma grande antecamara, onde, ocupada o tempo todo com o que dizem ou fazem os seus amos, estd sempre disposta a tudo sacrificar pelos frutas que a si se pro- mete pela felicidade de agradar. Diante de semelhantes habitos, como nao temer que as qualidades mais apropriadas defesa do interesse nacional sejam prostitufdas diante dos prejutzos? Os defensores mais ousados da aristocracia esta rao na ordem do Terceiro Estado e entre os homens que, nas- cidos com muito espirito e pouca alma, séo tao avidos de poder, e dos afagos dos grandes, como incapazes de sentir 0 prego da liberdade. ‘Além do império da aristocracia que, na Franca, dispoe de tudo, e desta supersticdo feudal que avilta ainda a maior parte dos espiritos, existe a influéncia da propriedade: esta é natural, nao a condeno. Mas é preciso convir que ela nao deve ser uma vantagem dos privilegiados e, por isto, podemos temer, com razio, que ela thes dé seu poderoso apoio contra o Terceiro Estado. ‘As municipalidades acreditaram com muita facilidade que bastaria afastar a pessoa dos privilegiados da represen- taco do povo para ficar sujeita sua influéncia. Nos cam- pos, e em toda parte, qual é 0 senhor um pouco popular que nao tem as suas ordens, se assim quiser, uma multidao indefinida de homens do povo? Calculem as conseqiiéncias 0 contragolpes desta primeira influéncia e estejam cer- tos, se puderem, dos resultados de uma assembléia que vocés consideram muito longinqua, dos primeiros comicios, mas que nao deixa de ser uma combina¢ao desses primeiros elementos. Quanto mais se pensa neste assunto, mais se percebe a insuficiéncia das trés demandas do Terceiro Estado. Mas, enfim, tais como sao, foram fortemente ata- cadas. Examinemos estas demandas e os pretextos desta hostilidade. 16 |. Primeira Peticao Que os representantes do Terceiro Estado ‘sejam escolhi- dos apenas entre os cidadaos que realmente pertencam ao Terceiro Estado. 8 explicamos que, para pertencer realmente ao Terceiro ind era necessario nao possuir nenhuma espécie de privi- e2io. Os individuos de toga que chegaram a nobreza por uma Porta que, nao se sabe por que, resolveram fechar as suas cos- tas, querem, por tudo, ser dos Estados Gerais. Eis o que pon- deraram: a nobreza nao quer nada conosco; nés nao queremos nada com 0 Terceiro Estado; se pudéssemos formar uma ordem particular, seria extraordinario; mas nao podemos, O que fazer? Sé nos resta manter o antigo abuso pelo qual o Terceiro Estado elegia nobres; e, assim, satisfazermos nossas preten- s6es. Todos os novos nobres, qualquer que seja sua origem, se cansaram de repetir no mesmo espirito: & preciso que o Terceiro Estado possa eleger cavatheiros. Avelha nobreza, que se considera a boa, nao tem o mesmo interesse em conservar esse abuso; mas ela sabe calcular. E disse: colocaremos nossos filhos na Camara dos comuns ois, em conjunto, é uma exce- lente idéia encarregarmo-nos de representar o Terceiro Estado. Uma vez definida a vontade, as faz6es, como se sabe, nunca faltam. € preciso, disseram, conservar 6 velho habito,.. excelente habito que, para representar o Terceiro Estado, 0 exclua da representacao. 7 A ordem do Terceiro Estado tem seus direitos politicos e seus direitos civis; e deve exercer tanto os primeiros como os segundos. Estranha idéia essa de “distinguir” para a utilidade dos primeiros ea desgraca do Terceiro Estado: Porque confun- i-los no momento é util aos primeiros e nocivo @ nacao. Qual a utitidade de se manter 0 habito em virtude do qual o clero 16 © Que Pee 0 Terceiro Estado? Ser Alguma Coisa fe 0s nobres poderdo se apoderar da Camara do Terceiro Estado? Poderiam eles, de boa fé, se achar representados, se o Terceiro Estado invadisse a eleicao de suas ordens? Para mostrar o vicio de um principio, é permitido levar as, conseqiiéncias até onde elas podem ir. Utilizo este meio e digo: se as pessoas dos trés estados se permitem dar indife- rentemente sua procuracao a quem quiser, é possivel que haja membros apenas de uma sé ordem na assembléia. Se admiti- ria, por exemplo, que somente o clero pudesse representar toda a nacao? Vou mais longe ainda. Depois de ter encarrega- do uma ordem com a confianca dos trés estados, reunamos em um s6 individuo a procurago de todos os cidadaos. Seria pos- sivel sustentar que um sé individuo pudesse substituir os Estados Gerais? Quando um principio leva a conseqiiéncias absurdas, é porque é falso. Neste caso, o principio prejudica a liberdade dos comi tentes limitando-os em sua eleicao. TTenho duas respostas para satisfazer a esta pretensa difi- culdade. A primeira, que ela é de ma fé, 0 que posso provar. Conhecemos a dominacao dos senhores sobre os camponeses outros habitantes do campo; conhecemos as manobras fre- qlientes ou possiveis de seus numerosos agentes, inclusive os Oficiais de suas justicas. Todo senhor que quiser influir na pri meira eleicao tem, em geral, a seguranca de se fazer eleger para 0 bailiado, onde nao se tratard mais de escolher entre (5 proprios senhores, ou entre aqueles que mereceram sua mais intima confianga. € pela liberdade do povo que se procu- ra o poder de arrebatar sua confianca? vergonhoso ouvir 0 nome sagrado da liberdade ser profanado para ocultar os 16 Baltado&oteritério sob jurieldo de um bale, que 2 denominacdo dada em vrs Dolres © mosistrados, overnadores, eleades etc, om otbulges especial. & playa Balad vem de biti, que tem come origem o francs bil (bili, no séclo Xi), of. Clo de espadaou de toga que fzia jusica em nome doe ou de um senha. assim, seus limites, bem como rite de saber se a condicao da tado reclama nao é ta ates Ma nao é tao essen- 4 inte a8 que acabei de mencionar. Ora, a comparagao fm ; ois um mendigo, um estrangei- sentantes, Para destacar mais ainda hipétese. Suponhamos que a Fr: Nacionais, Neste caso, eu pergunto: permitirse ta 4s provin- © Que Pede o Terceito Estado? Ser Alguma Coisa clas, sob pretexto de nao chocar sua liberdade, eleger, como representantes seus no diretério, membros do gabinete inglés? Os privilegiados, certamente, nao se mostram menos ini- migos da ordem comum que os ingleses dos franceses em tempo de guerra. Como conseqiiéncia desses principios nao se deve permi- tir que as pessoas do Terceiro Estado que sejam tigadas exclu- sivamente aos membros das duas primeiras ordens possam ser encarregadas da confianga dos comuns. Compreende-se que sao incapazes disso por sua prépria posico; e, no entanto, se a exclusao nao fosse formal, a influéncia dos senhores ~ ind- l para comuns — no deixaria de ser exercida sobre as pes- soas de que dispéem. Peco que se preste atencao, principalmente, aos agentes do feudalismo e aos restos odiosos deste regime barbaro que se deve a diviséo, ainda existente, para infeticidade da Franca, de trés ordens inimigas uma da outra. Tudo estaria perdido se os mandatarios do feudalismo viessem a usurpar a Tepresentacao da ordem comum. Quem ignora que os servido- res se mostram mais dsperos mais atrevidos em defesa do interesse de seus amos que os proprios amos? Sei que esta proscrigio se estende a muita gente, j4 que afeta, em parti- cular, todos os oficiais das justicas senhoriafs etc.; mas, neste particular, quem comanda é a forca das coisas. Quanto a isso, 0 Delfinado deu um grande exemplo. E necessario impedir a elegibitidade para o Terceiro Estado, da mesma forma que ele fez, de pessoas do fisco e seus fiadores, e de pessoas da administracao etc. Quanto aos fazendeiros pertencentes as duas primeiras ordens, penso também que, fem sua atual condicéo, so muito dependentes para votar livremente em favor de sua ordem, Mas sera que no posso esperar que 0 legistador consinta, um dia, em se esclarecer sobre os interesses da agricultura, sobre os do civismo e da prosperidade publica; que, um dia, ele vai deixar de confun- inte Burguesa dir a aspereza fiscal com a obra do governante? Entao se per- mitira, se favorecera mesmo, o arrendamento vitalicio e vere- mos esses fazendeiros tao preciosos como arrendatarios livres, seguramente muito apropriados para sustentar os interesses da nacéo. Acreditou-se reforcar a dificuldade que acabamos de des- cobrir adiantando que 0 Terceiro Estado nao tinha membros bastante esclarecidos, bastante corajosos etc., para represen- ta-lo, e que ele devia recorrer as luzes da nobreza... Esta afir- mago ridicula ndo merece resposta. Considerem as classes disponiveis do Terceiro Estado: chamo, como todo o mundo, de classes disponiveis, aquelas que, pelos seus modos e bem- estar, permitem que seus homens recebam uma educacdo liberal, cultivem sua razéo e, enfim, podem interessar-se pelos assuntos ptiblicos. Essas classes tem o mesmo interesse que 0 resto do povo. Vejam se nao dispdem de muitos cida- dos cultos, honestos, dignos, em todos os sentidos, de serem representantes da nacéo. Mas se um bailiado teima em s6 querer dar sua procura- a0 do Terceiro Estado a um nobre ou a um eclesiastico? Se s6 tem confianca nele? Eu ja disse que nao poderia haver liberdade ilimitada. Entre todas as condicées a se impor a elegibilidade a que 0 Terceiro Estado exigia era a mais necesséria de todas. Respondamos de forma mais imediata. Suponha-se que um bailiado queira absolutamente prejudicar-se: deve ele, por isso, ter 0 direito de prejudicar os outros? Se sou o tinico interessado nas gestdes do meu procurador autorizado, as pessoas poderao se conten- tar em me dizer: pior para vocé; por que vocé o escotheu tao mal? Mas, neste caso, os deputados de um distrito nao sao uni- camente representantes do baitiado que os nomeou; foram chamados para representar, também, os cidados em geral, a votar por todo o reino. Faz-se necesséria, pois, uma regra comum, © condicdes que — por mais que desagradem certos 20 0 Que Pede 0 Terceiro Estado? Ser Al comitentes — possam assegurar a totalidade da nacao contra © capricho de alguns eleitores. Il, Segunda Peticao Que seus deputados sejam em numero igual ao da nobre- clero. Gas posso deixar de repetir: a timida insuficiéncia desta reclamagao se ressente ainda dos velhos tempos. As cidades do reino nao consultaram o bastante os progressos das luzes € mesmo da opiniao publica. Nao teriam encontrado mais dift- culdades pedindo dois votos contra um, e, talvez, entao, se tivessem apressado em oferecer-\hes esta igualdade contra a que se combate hoje com tanto alarde. . Nao obstante, quando se quer decidir uma questao como esta, nao se deve contentar, como freqientemente se faZ, ¢r expressar 0 desejo, ou a vontade ou o uso, alegando razdes. necessério remontar aos principios. Os direitos politicos, fassim como os direitos civis, devem corresponder & qualidade do cidadao. Esta propriedade legal é a mesma para todos, sem nenhuma relaco com a maior ou menor propriedade real com que cada individuo possa compor sua fortuna ou suas posses Todo cidadao que reine as condicoes determinadas para ser éleitor, tem direito de se fazer representar, e sua representa G40 ndo pode ser uma fracdo da representacao de outro. Este Gireito é uno; todos 0 exercem por igual, como todos esto protegidos igualmente pela lei que ajudaram a fazer. Como € possivel sustentar-se por um lado, que a lei é a expresséo da Nontade geral, quer dizer, da maioria, @ querer, ao mesmo tempo, que dez vontades individuais possam contrabalancar mil vontades particulares? Isso nao equivale a se expor a det xar que a minoria faca a lef, o que é contrario, evidentemen: te, a natureza das coisas? n A Consttuinte Burguesa se ; un antes PtncPos, por mais certes que estes, soem F comuns, vou 3 cea mas ae tevar 0 leitor a uma ccompa- Nao é aes ia Verdade que parece justo para todos — exceto para = que o imenso bailiad ae lo de Poitou is ee nos Estados Gerais que 0 pequeno aes de, de Cox Por que sto? Porque, respondo, a populace Gc C0 do Poitou séo muito super Saale ‘ iperiores as de Gex. Assim, senna se Principios segundo os quais é possivel determinar- $2.3 poporcde dos representantes. Vocés querem que a con- we lecida? Embora nao tendo um conhecimento seguro os impostos respectivos das ordens, salta a vista que reer Estado agtienta mais que a sua metade. uee ; a ; ono, diz respeito a populagao, sabemos a imensa supe- Tordade que teceia ordem tem sobre as as primetras {Enero como todo 0 mundo, qual & a verdadeira proporcio. aaa todo o mundo, me permito fazer meus calculos. parinaimente para 0 cer. Vamos tomar quarent. mi , 05 anexos, 0 que ja da um t I a total de = rena mi Curas, incluindo-se os servidores dos anexos. nae sine Posie calcular-s um vigério para cada quatro paré- q as, chegando-se aum total de dez mil. ein Me ds cates ual 20 das dioceses; tm vnte com cento e quarenta bispos ou arc > t cebispos, chega- se 2 um total de dois mile oitocentos, Pom ches - Podee spor considerando-se o pais, que os cénegos de -olegiadas atingem 0 dobré A lrjascotenaa 0, 0 que da um total de cinco 7 ae disso, nao se deve pensar que restam tantas cabe- é eis quanto beneficios simples, abadias, priorados capelas. Sabemos, de resto : ‘ cap ; , que a pluralidade dos beneficio 8 no & desconhecida na Franga. Os bispos eos cénegos S80, 20 fempo, abades, priores e capeldes. Para no fazer um 2 © Que Pede o Tercero Estado? Ser Alguma Coisa duplo emprego, calculo os beneficiados que ja nao se acham compreendidos nos nimeros anteriores, em trés mil. Finalmente, calculo que seja de cerca de dois mil ecle- siasticos, bem entendido, com ordens sagradas, o nimero dos que nao tém nenhuma espécie. de beneficio. Sobram os monges € 0s religiosos, cujo ntimero tem dimi- nuido, de trinta anos para cd, numa progressao acelerada. Nao acredito que existam, hoje, mais de dezessete mil. Numero total de cabecas eclesiasticas: oitenta mil e qua- trocentas. Nobreza. S6 conheco uma forma de calcular, aproximad: mente, 0 nlimero de individuos desta ordem: tomar a provin- ‘cia em que este nimero é mais conhecido e compara-to com 6 resto da Franca. Essa provincia é a Bretanha. Assinalo de Entemao que ela é a mais fecunda em nobreza, talvez porque Sli ndo se derrogue, ou devido aos privilégios que ali retém as familias, Na Bretanha existem mil e oitocentas familias nobres. Talvez duas mil, porque algumas ainda néo entram nos Estadas Gerais. Calculando-se que em cada familia ha cinco pessoas, existem na Bretanha dez mil nobres de todas as ida- Ges e sexos, Sua populacao total ¢ de dois milhdes e trezen- fas mil individuos. Este total esta para toda a populacao da Franca na proporcao de 1 para 11. Basta, assim, multipticar dez mil por onze, e teremos cento e dez mil cabecas nobres ‘em todo 0 reino. Desse modo, nao ha, no total, duzentos mil privilegiados das duas primeiras ordens. Comparem este nlimero com 0 de Sinte ¢ cinco a vinte e seis milhdes de almas, € poderdo jul- gar a questao. - Se quisermos atualmente chegar & mesma solucao consul: tando outros principios também incontestveis, consideremos que 05 privilegiados sao para 0 grande corpo dos cidadaos © que as excecées sao para a lei. Toda sociedade deve ser rea” tada por leis e submetida a uma ordem comum. Se fazemos 2

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