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' eis He uy : : ue v Fi ig ae Ut: (neva vf) Ne NOVAICULTURA SUMARIO EDITORIAL: “Por uma Nova Cultura” pagina 03 “Critica ao ‘etapismo’ ou confusao revisionista?” pagina 06 “A estratégia do imperialismo na recente crise da Siria” pagina 13 “Hafez Al-Assad e a Unidade da Nagao Arabe” pagina 20 “O Partido Comunista das Filipinas sobre 0 Maoismo, a Revolugao Democratica, China, e o mundo atual’” Entrevista com José Maria Sison pagina 28 O que é o Marxismo? pagina 34 Figuras do Movimento Operdario pagina 43 NOVA CULTURA N° 01 - fevereiro/2014 Para entrar em contato conosco e ter mais Revista teorica eletrénica trimestral, uma publica- go da Unio Reconstrucéo Comunista (URC). informagdes sobre a URC, sobre nossas publicagées e sobre nossas atividades, Colaboradores: [caro Leal Alves, Gabsai Mating Aubeazee Honanie} escreva para 0 email uniaoreconstrucao- Lucas Medina, Alberto Steffen Neto. comunista@gmail.com pIrot uma Nova Cultura mz detrei enelWas.-(.- CMe Me Meare tN) milh6es que integram o povo’ OnE Ha quase um século e meio, um grande tedrico do Movimento Comunista Internacional, um dos fundadores de sua gloriosa doutrina, 0 filosofo alemdo Friedrich Engels, reconhecia na grande luta da classe trabalhadora, ao lado das duas formas usualmente compreendidas (a politica ea eco- némica), uma terceira, a luta tedrica. E afirmava que “os dirigentes (da classe trabalhadora) deverao instruit-se cada vez mais em todas as questdes tedricas, libertar-se cada vez mais da influéncia da fraseologia tradicional, propria da antiga concepeao do mundo, e ter presente que o socialismo, desde que se tornou uma ciéncia, exige ser tratado como uma ciéncia, isto é, ser estudado.” Esse conceito fecundo trazia em si um potencial explosivo e inovador. Quando foram es- critas essas palavras ja havia transcorrido uma década desde a fundagao da primeira Associa- 40 Internacional dos Trabalhadores, a primeira Internacional, e o proletariado ja havia travado sua primeira grande batalha contra a influéncia da ideologia burguesa no seio do movimento intemacional dos trabalhadores. Nos anos subsequentes novas lutas viriam a ser travadas no campo das ideias no interior da classe trabalhadora em todo o mundo. Sempre, em todas elas, 0 que se punham da forma mais consequente do lado da luta pela revolucionarizagao da socie- dade inteira, pela superacao da ordem capitalista e pela emancipagao da humanidade da explo- ragao do homem pelo homem, que sé pode ser conquistada pela ordem comunista, aplicaram esse principio, de luta revolucionaria em trés campos; 0 econémico, o politico e o tedrico. Para todos os homens de aco, que abdicaram-se ao maximo em nome da causa da libertacao da sociedade inteira do jugo do capital, a teoria revolucionaria, a luta pela formagao de uma nova consciéncia de acordo com os interesses das classes progressistas, sempre esteve em primeiro plano. Dessa maneira, o comandante chefe da Grande Revoluc&o Socialista-Proletaria de outu- bro de 1917 na Russia, Vladimir llitch Lenin, afirmava que “so um partido guiado por uma teoria de vanguarda pode desempenhar 0 papel de combatente de vanguarda.” Da mesma maneira pensamos nés — a Unido Reconstrugao Comunista — que travamos a luta no Brasil, em solidariedade com os comunistas, trabalhadores e combatentes anti-imperialistas do mundo todo, pela reconstrugao de um verdadeiro partido de vanguarda da classe mais avancada da sociedade brasileira, o proletariado. O partido Comunista, marxista-leninista e anti-revisionista A teoria revolucionéria tem seu lugar de vanguarda, inseparavel da luta geral dos trabalhadores por sua emancipagao. Sem um partido de vanguarda, guiado por uma teoria revolucionaria de vanguar- da, € impossivel travar com éxito a luta emancipadora do povo brasileiro, pelas mudangas tao ne- cessarias para a conquista de sua liberdade, Em resumo, sem o partido marxista-leninista, guiado Por sua teoria de vanguarda marxista-leninista é impossivel o triunfo da revolucdo brasileira. Pois sO ‘© Marxismo-Leninismo vozeia todos os povos do mundo a seguirem juntos num combate libertador por um mundo novo. Sé 0 Marxismo-Leninismo une e solidifica no espirito dos combatentes mais avancados e abnegados dos povos o desejo inextinguivel de lutar até o fim, até o socialismo ou a morte, pela libertagao dos povos do mundo, sem nada esperar como recompensa, sendo a imagem fulgurante do futuro iluminado da humanidade, cuja a histéria verdadeira sequer comegou. E sendo fiel a esse ensinamento, a esses principios que trazemos ao publico, nesse mo- mento, nossa contribuigao nesse terreno da luta revolucionaria. A publicagao da uma revista tedrica virtual verdadeiramente marxista-leninista no Brasil. Com ela elevamos a luta da URC para a sua terceira forma, a da luta tedrica. Complementando assim a luta que ja estamos travam nas demais formas. A luta econémica e a luta politica, 0 esforgo de construir um verdadeiro Partido marxista- leninista no Brasil, do qual a URC é o embrido. A Revista Nova Cultura, que agora vem a tona, tem por intuito estabelecer a coesdo en- tre todos os militantes, colaboradores e simpatizantes da Unido Reconstrucao Comunista em torno das infaliveis ideias do Marxismo-Leninismo. Esta publicac&o devera atender a demanda de expor o pensamento dos classicos do Marxismo-Leninismo. Compreendendo eles como Marx, Engels, Lénin, Stalin e Mao Tsé-Tung. Apresentar as ideias e contribuigdes, ao patriménio teorico-pratico do Marxismo-Leninismo, atribuidas a destacados revolucionarios, em sua pratica de luta contra o capital, 0 imperialismo e o fascismo. Desenvolver e enriquecer o Marxismo-Le- ninismo aplicando suas verdades universais a realidade brasileira e a pratica concreta da revo- lugao brasileira. Expor as mentiras da burguesia contra os revolucionarios e os povos do mundo a uma critica vibrante e disputar contra ela em seu projeto de impor ao mundo sua hegemonia no campo das ideias, frustrando seu objetivo de perpetuar o pensamento Unico e derrotando o predominio da consensocracia no mundo intelectual dos paises capitalistas. Estimular 0 estudo © a producdo intelectual dos nossos camaradas, que s4o chamados, todos eles, a contribuir com suas produgées autores a essa publicacao. Desenvolvendo 0 Marxismo em sua integridade organica com a pr povos, o presidente Mao Tsé-Tung realizou inumeras contribuigdes a essa teoria revolucionaria. Ao desenvolver as ideias ja expostas acima, e que tem por autores Engels e Lénin, ele apresentou ao mundo o conceito de Nova Cultura, cuja fundamentacao esta exposta em seu artigo Sobre a Demo- cracia Nova. Nessa obra, escrita no periodo da Guerra de Resisténcia ao Japao, parte da grande revolugao do povo chinés, e parte fundamental da luta dos povos do mundo contra 0 fascismo, 0 imperialismo, pela paz, a democracia e o socialismo, o presidente Mao discute os problemas da cultura no periodo em que a sociedade chinesa passava por profunda revolu¢o democratica e anti-imperialista. Com base nos ensinamentos do Marxismo sobre a relacdo entre a consciéncia e ser social, ele demonstra que “Toda cultura (como forma ideolégica) é reflexo da politica e econo- mia duma dada sociedade, mas exerce, por seu turno, uma enorme influéncia e efeito sobre estas tltimas.” e que "as formas culturais séo antes de mais determinadas pelas formas politicas e econé- micas e so entéo atuam, influenciam as formas politicas e econdmicas.”. Sendo assim, prossegue © presidente Mao, a revolugao chinesa, para ter sucesso, rompendo com a ordem estabelecida pelos elementos reacionarios e a dominagao imperialista, precisa realizar suas transformacdes em trés campos, na politica (Estado), na economia (formas de propriedade) e na cultura (ideologia). A Democracia Nova, a Nova Economia, e a Nova Cultura, eis os elementos da revolugao chinesa Com esse pensamento, o grande dirigente revolucionario chinés dera enorme contribuicao ao desenvolvimento dum conceito fundamental para toda revolugdo proletario-socialista mundial, © conceito de revolucao cultural. Nés, marxista-leninistas do Brasil, assim como os marxista~ leninistas de todos os paises do mundo, devemos estudar e desenvolver este conceito, pois ele corresponde a uma demanda imperiosa para fazer prosseguir a luta contra a dominagao imperialista e o capital moribundo em todos os cantos do mundo. Ora, nosso pais, em sua histéria de colonialismo e latiftindio arcaico dos ultimos 500 anos es- teve tdo dominado por sua correspondente mentalidade colonizada, em nossas escolas nem sequer se consideram como Histéria aquilo que antecede a chegada do portugués e demais nacionalidades europeias ao nosso continente. Nos cursos de licenciatura € recente o esforgo de fazer ressurgir a histéria dos povos originarios do continente e sé ha pouco tempo se tomou obrigaterio nas escolas, © ensino da historia dos povos da Aftica, que também compde nossa formacao enquanto nacao. Com 0 golpe militar de 1964 e as reformas neoliberais dos anos 1990, que ainda prosseguem, a desnacionalizagao da economia acentuou ainda mais a desnacionalizacdo da cultura brasileira, que por intermédio da Televiséo, transformada no principal meio de comunicacao de massas e tendo como icones figuras como Assis Chateaubriand e Roberto Marinho, introduz no publico geral uma mentalidade de culto ao estrangeiro. Principalmente o culto ao americanismo. No em seus aspec- tos progressistas e moderos, mas sim em seus aspectos decadentes - aqueles que sufocam as expressdes nacionais, as expressées das massas populares e que impéem uma mentalidade de inferioridade congénita do povo brasileiro e superioridade congénita do elemento lanque ao qual os povos devem se render e se prostrar a espera de, pela via do bom e infalivel livre mercado — cuja santificagao tornou-se parte dessa cultura televisivo-antinacional — possa-se fazer escoar um pouco da gloria desses "povos superiores’, que compe as nagées imperialistas, para salvar das trevas da escuriddo 0s povos que vivem nos pantanos do mundo colonial e semicolonial “Toda cuttura (como forma ideolégica) é reflexo da politica e economia duma dada socie- dade’, € 0 que nos ensina o marxismo-leninismo. A cultura nacional dominante no Brasil, como forma ideologica e como reflexo da politica e da economia, é antinacional e arcaica, Correspon- dem as formas agrarias atrasadas que dominam o nosso campo e industria desnacionalizada, assim como as instituigdes puiblicas submetidas ao controle de orgaos financeiros internacionais. Corresponde a mentalidade de colénia que quer nos impor as parcelas mais reacionarias da so- ciedade, a burguesia “cosmopolita” e os grandes proprietarios de terras, cuja mentalidade ainda permanece nos oitocentos. ‘Como resposta, como forma de dar combate a ideologia dominante, as suas mentiras, as. suas trapacas e ao seu reacionarismo extremo, que sem constrangimentos caminha para um novo processo de fascistizagao da sociedade, deve-se desenvolver uma ideologia nova na so- ciedade brasileira, uma cultura nova, que reflita a mentalidade e 0 poderio politico das classes progressistas, principalmente os operarios e a grande massa camponesa, forcas protagonistas da grande revolucéo democratica, agraria e anti-imperialista, que o conteudo da revolugéo brasileira, Aquela ideologia e aquela cultura que acredita firmemente na capacidade criativa das massas, em seu vigor, que, tendo em conta as forgas dessas, tentam livra-thes da desinforma- 0 e do efeito corrosive da ideologia e cultura reacionarias. Tendo isso em mente, acreditamos ser o nome Nova Cultura o mais adequado a uma publicacao tedrica que pretenda representar as ideias avancas das classes protagonistas das futuras e presentes lutas libertadoras do povo brasileiro. Uma publicacdo que represente a sua ideologia progressista, a sua forma avancada de agir e de pensar. Uma Nova Cultura, por uma Democracia Nova e uma Nova Sociedade. ‘Como uma revista teérica e revolucionaria, a Nova Cultura buscara unir os principios universais do Marxismo-Leninismo a pratica revolucionaria dos milhées de homens do povo brasileiro, que luta por sua emancipacdo, pela transformagao de sua realidade. Partimos dos principios enunciados pelos grandes lutadores e pensadores dos povos do mundo, que sao os classicos do socialismo cientifico e, por isso mesmo, temos a firme convicgao de que a luta dos povos ¢ 0 tinico critério da verdade. E sé por essa certeza que iniciamos esse trabalho. Estamos certos de que nao existe divisao possivel entre a teoria e a pratica. Nossa Revista buscara dar uma contribuicao para o debate politico e tedrico do movi- mento comunista brasileiro, buscando a coeréncia e a aplicacdo correta do Marxismo-Leninis- mo na analise da realidade do nosso pais e do mundo, de modo que sejamos fieis ao método do materialismo dialético e assim dar a teoria o seu verdadeiro carater no Marxismo: um guia para a acdo. Sem transformar a ciéncia do proletariado em dogmas, buscaremos por outro lado combater as versdes que buscam revisar 0 Marxismo, tirando dele 0 potencial revolucionario para dar lugar a ideias que a historia ja demonstrou a debilidade tedrica e pratica, Em suma, propomos uma revista teérica, sob a luz do Marxismo-Leninismo, para intervirmos em debates importantes para 0 cenario politico brasileiro e mundial. UNIAO RECONSTRUCAO COMUNISTA Critica ao “etapismo” ou confusdo revisionista? por Gasriet Marrinzz Para nés, da Unido Reconstrucao Comunista, a principal tarefa do movimento revoluciona- rio brasileiro é a de fundar um novo Partido Comunista sob a base ideolégica do Marxismo-Leninis- mo. Obviamente, tal missdo exige uma correta compreensao da teoria revolucionaria, da historia. do Brasil, integrando-as com o engajamento nas lutas concretas dos diversos setores das massas populares brasileiras, em especial, o proletariado. Outra tarefa fundamental para a consecucao da unidade comunista em um Unico partido revolucionario é o de definir corretamente o carater da so- ciedade brasileira e o programa que deverd ser aplicado pelos comunistas. A URC, ao contrario da grande maioria das organizagées que no Brasil se reivindicam comunistas, defende abertamente a Revolugdo Democratica Popular Anti-Imperialista em direcdo ao socialismo. Como definimos no documento “O Desenvolvimento da Luta Revolucionaria Exige uma Nova Postura dos Comunistas” compreendemos o Brasil como um pais dependente e oprimido pelo imperialismo. Muitas organizacdes nao reconhecem essa condicao do Brasil; algumas, in- clusive, chegam ao cumulo de classificar o Brasil como um pais “imperialista’. Afirmar o carater dependente do Brasil seria dar mostras de uma baixa compreensao da realidade brasileira, que supostamente teria efetuado sua “revolucdo burguesa” pela ‘via prussiana’. Para nés, tais ar- gumentos, além de fracos, na pratica negam que o mundo se divide entre paises opressores e oprimidos. Vamos, ento, apresentar nossas motivagées para sustentarmos tal definico sobre © Brasil e, a seguir, desenvolver nossa critica aos “anti-etapistas” BRASIL COMO UM PAiS SEMICOLONIAL: O CARATER DA DEPENDENCIA DO PAIS Um dos tesricos mais utilizados pelos defensores da critica ao “etapismo” é José Carlos Mariategui, fundador do Partido Comunista do Peru e eminente teorico do marxismo-leninismo!, Mariategui foi uma figura de relevo da luta revoluciondria latino-americana e fundamentou, de acordo com a realidade do seu pais, o Peru, o caminho da revolugao peruana. Afirmava, corre- tamente que, 0 socialismo indo-americano “nao seria nem decalque e nem copia’. Atualmente, sua obra é fruto de vivo interesse por varias camadas de intelectuais dando uma grande proje- ¢40 ao seu nome, outrora esquecido. Qual o motivo de iniciarmos um texto que tem como obje- tivo, explicar o porqué definirmos o Brasil como um pais semicolonial recorrendo a figura de Ma- riategui? Assim procedemos porque o consideramos um grande tedrico marxista-leninista, que muito pode nos ensinar, e segundo porque foi Mariategui que criticou a ilusdo de certas forgas pequeno-burguesas, notadamente ligadas ao APRA!!, em relagao ao que se convencionava I] Jose Carlos Marategu (1984-1930), foi um drigonto revluconaro peruano, undador do Partido Socialista Peruano, orgarizagao Nex _la-Leniista,posteriormante com o nome aterade para Pardo Comunsia de Peru Araisando 0 programa do Partido Socilsta Peruano 6 possivelideificar claramente ques trata de um programa democratco, popular e ani-imperiasta, Dic 0 dacumenlo. “Cumprida sua atapa ‘famocrafice-burguesa, a revolugao lorna-se revolugao proetaria nos seus objatvos @ na sua doutrine’. Quseja,reconhece-se abertamenio ue a primeira fase da revolugdo peruana & demecratca-burguesa e, posteriormerte, de maneira iinterupla, converte-se em revolugao socials [PIAHance Ponder Revolucion Amerers, APRA, um pari pot funda no Peru po Vier Ral ye de La Tore Em ua lundac 0 08 apistas visevam constr uma organizagdo de caréter nacional eant-imperaista que abarcasse todos os paises de continent ‘Suas concepy6es idealstes e pequeno-burgueses fizeram com que, desde o comece, se colacaasem no ceminho contranio da ideologia NonsseLennsa, ida por esceseentes come “gmsies. Tin como exempls de organecsoo Kuomnarg chines sé Carbs Moridtegu chamar de burguesia nacional. Porém, uma definigéo de Mariategui - provavelmente ocultada propositalmente por certas forcas politicas burguesas e pequeno-burguesas que precisam de- turpar o seu pensamento—€ a que faz do carater dos paises latino-americanos. Alguns poderao, é verdade, argumentar que se trata de uma definicdo ultrapassada, mas consideramos que ela contém um elemento importante que viria a ser desenvolvido por Mao Tsé-tung, lider da revolu- 40 chinesa, autor que, provavelmente, nunca foi objeto de estudo por parte de Mariateguil®!. No texto Ponto de vista antiimperialista diz Mariategui: ‘Até que ponto pode assimilar-se a situaco das repiblicas latino-americanas 4 dos paises semicoloniais? A condico destas republicas é, sem diivida, semicolonial, e, 4 medida que cresca seu capitalismo e, em consequéncia, a pene- tragao imperialista, tem de acentuar-se este carater da sua economia”. (2005, pg.130) Reproduzimos esta passagem de Mariategui, pois ela deixa claro algo que concordamos claramente: o crescimento do capitalismo em um pais oprimido, semicolonial, so fara aumentar a penetracao imperialista e, consequentemente, o carater semicolonial de sua economia. Para alguns, 0 desenvolvimento capitalista em um pais oprimido, seria a maior demonstragao de que um pais abandona sua condigao de pais semicolonial. Para nds néo se trata negar ou ndo a existéncia do capitalismo no Brasil. Consideramos que ao longo do século XX se processou no Brasil um desenvolvimento capitalista, mas que longe de afirmar a soberania do pais, sO reforcou sua condi¢ao semicolonial na ordem imperialista. Portanto, se faz necessario entender © que € 0 capitalismo burocratico, tipo de capitalismo que se desenveoive em paises semicolo- niais. Apresentemos, entao, o que entendemos por capitalismo burocratico Para nds, capitalismo burocratico é o tipo de capitalismo que surge em paises oprimidos pelo imperialismo. Nos paises capitalistas desenvolvidos, o capitalismo surge e se desenvolve mediante a atuagao de uma burguesia auténoma, que destrdi o Estado feudal e converte-se em classe dominante. O capitalismo se desenvolve no Brasil sob completa hegemonia do capital f- nanceiro e exportacao de capitais, fruto da politica colonial dos paises imperialistas. Os capitais estrangeiros sugam as matérias primas, forca de trabalho e capacidade de consumo da naco, remetendo para as matrizes os lucros aqui gerados. O Estado burgués-latifundiario se alia aos capitais imperialistas e transferem as pesadas arrecadacées oriundas de impostos e taxacées sobre 0 povo, aos bancos e as empresas transnacionais. Constitui-se uma burguesia subalterna ao imperialismo, associada, alimentada com recursos publicos. Chamamos esta burguesia de burguesia burocratico-compradora ou grande burguesia. Os conceitos de capitalismo burocratico e burguesia burocratico-compradora foram de- senvolvidos de maneira global por Mao Tsé-tung. Mariategui, na epoca em que escreveu Ponto de vista antiimperialista, nao conhecia as definiges apresentadas por Mao, dai ter, no mesmo texto, classificado erroneamente como “burguesia nacional" aquilo que, na verdade, constituia a burguesia burocrético-compradora. Mao definia a burguesia nacional chinesa como pequena e média burguesia, classe que estava em contradic com o imperialismo, que possuia, porém, um carater dual: da mesma maneira que possuia contradic6es com o imperialismo, temia o proletariado e a possibilidade de uma revolucdo proletaria. Essa defini¢ao explica muito bem a atitude da burguesia nacional em diversos paises asiaticos e latino-americanos, ndo somente no século XX, mas também em nossos dias. E ao contrario do que alguns possam pensar, essa nao era somente a visio de Mao Tsé¢-tung a respeito da realidade particular da China, mas sim de todos os paises dominados pelo imperialismo, No é incomum vermos intelectuais e forcas politicas dando explicagées simplistas so- bre a composigao da burguesia em um determinado pais oprimido. Por todos os motivos aqui expostos, para nés, da mesma maneira que é extremamente importante estudar a Revolugdo Russa e todas as implicagdes que este acontecimento produziu sobre o marxismo, igualmente é importante estudar a Revolucao Chinesa, que trouxe grandes aportes a teoria do marxismo- [3] Mao Toé-tung converte-se no principal ider do Pardo Comunsta da China somente apés a realzacdo da Conferéncia de Zuny,realzada nnacidede chinesa de mesmo nome, em janero de 1935, Nessa reunio 03 comunstae chineses fzeram uma vigoresa autocriica des erras a “esquerda’ que haviam tomado conta do Parlido. So enigo 0 nome de Mao Tsé-lung passou a ser mas conhecido pelos comunstas do ‘outros paises. José Carlos Manatogu falaceu om 1930, em Lima leninismo, fato subestimado e nao levado em consideragao por muitas organizacées e tedricos que se consideram “marxistas’ A REVOLUGAO DEMOCRATICA E ANTIIMPERIALISTA ININTERRUPTA AO SOCIALISMO Sabemos que a Revolug&o de Outubro inaugurou uma nova etapa na era das revolu- g6es. Estabeleceu o primeiro Estado socialista da historia e modificou radicalmente a realidade russa. Com a Revolugdo de Outubro a humanidade entra na etapa das Revolucées Proletarias. Seria, entdo, contraditério defender a Revolugo Democratica e Anti-Imperialista no periodo em que vivemos? E evidente que nao. A Revolucdo Democratica Anti-imperialista, apesar de, em seu contetido, conter varios elementos das antigas revolucdes burguesas, nao pode ser consi- derado meramente uma revolugdo burguesa. E certo que tarefas elementares como a reforma agrdria nao constituem tarefas propriamente socialistas, porém nao € este o problema. Junto com a reforma agraria radical, que destréi o latifuindio e os elementos pré-capitalistas no campo, distribuindo a terra para quem nela trabalha, a Revolucao Democratica Anti-imperialista impoe um duro golpe ao imperialismo, por isso uma das suas principais tarefas é expropriar o capital imperialista, bem como os seus aliados internos, a saber, a burguesia burocratica-comprado- ra Sabemos também que as antigas revolugdes burguesas eram revolugdes democraticas, ja que eram dirigidas contra 0 feudalismo e possibilitavam que a burguesia destruisse o Estado feudal, chegando ao poder. Porém, e dbvio que a revolucdo democratica anti-imperialista nao visa que 0 poder politico seja conquistado pela burguesia. Devemos, entao, definir a revolugao democratica- popular e anti-imperialista como uma revolugao de novo tipo. De novo tipo porque ela, ao contrario das revolugdes burguesas de “velho tipo”, € dirigida pelo proletariado em alian- a com os camponeses. Mesmo sendo uma revolugao cujo conteudo néo é “socialista aqui e agora’ e possuindo um carater que poderia ser considerado democratic burgués (dai Mao se referir a revoluco de nova democracia na China como uma revolugao democrética burguesa) esta inserida no campo das revolugées proletarias, A revoluco democratica e anti-imperialista também se dirige contra o Estado burgués- latifundiario, que serve de sustentacao ao imperialismo e a grande burguesia brasileira, e impoe a sua total destruicdo. Findada a fase democratica e anti-imperialista da revolugao, com o prole- tariado ja no poder edificando um novo estado, esta revolugao passa a fase socialista, por isso ser chamada de ‘ininterrupta’. Estamos, portanto, falando de etapas da revolugo. Algumas forgas politicas criticam a validade da revolugao democratica e anti-imperialista apelando para 0 exemplo do PT, que segundo eles defendia e aplicou um programa democratico e popular no Brasil, 0 que nao passa de grande mentira. O QUE DIZEM OS “CRITICOS DAS ETAPAS”? 4. © PCDOB: DO “SOCIALISMO DESDE JA” AO CAPITALISMO BUROCRATICO Tendo apresentado 0 que seria uma revolugao democratica e anti-imperialista, exa- minemos alguns argumentos dos “anti-etapistas’. Os ‘anti-etapistas”, ao apresentarem suas teses, costumam referir-se a um suposto esquematismo das forcas marxistas-leninis- tas que, coerentemente, defendem a revolugao democratica anti-imperialista. Dizem que 0 “esquematismo” da 3* Internacional seria o motivo das derrotas sofridas pelo movimento revoluciondrio. No Brasil, principalmente apés a queda da URSS e do Leste Europeu, esta concepgao se tornou hegeménica. Analisemos um documento do 8 Congresso do revi- sionista Partido Comunista do Brasil (PC do B). Em intervengao especial apresentada por Rogério Lustosa [4], intitulada Socialismo: tarefa que se impée, afirma: “O Brasil necessita passar ao socialismo”. E bom lembrar que é neste congresso que o PC do B passa a criti- car 0s “erros de Stalin”, renegando-o como referéncia tedrica, passando a falar apenas em “Marx, Engels e Lenin’. E também no 8° Congresso que o PCdoB rompe com sua antiga posigao alinhada a Albania de Enver Hoxha. No informe, continua Lustosa: “O PCdoB tem se orientado de forma consequente no combate a exploracao capitalista e indicado o rumo socialista. Mas a caracterizacao geral das etapas da revolugao era marcada por certo es- quematismo, que resultava, na pratica, em separar mecanicamente duas revolugées. Entre 08 objetivos da nossa atividade e o socialismo, colocavamos uma muralha que, teorica- mente, diziamos no existir”. (1992, pg.64) Para 0 leitor mais desatento, o trecho pode parecer de fato um acerto de contas com os “erros do pasado”, mas no final das contas, engana apenas incautos. Criticar 0 “esquematismo” soa ao ouvido dos ingénuos como uma vigorosa critica, que, porem nao consegue esconder seus artificios equivocados. Para o PCdoB, a partir dai, o carater da revolugao brasileira ja pode ser definida como socialista e 0 esquematismo consistiria em defender uma etapa “nacional” e “democratica” da revolucao para somente depois falar em socialismo. E o momento em que o PCdoB nega definitivamente o materialismo dialético em prol de uma concepgao idealista, supostamente radical. Nao precisamos re- cordar que o PCdoB se converte, ainda na década de 80, em uma organizagao que pas- saa defender uma concepg4o equivocada de “revolugdo democratica’. Primeiro porque passa a acreditar que seria possivel conquistar um “governo democratico” nos marcos da ordem burguesa, elegendo elementos “democraticos” e “progressistas” historicamen- te ligados a ordem semicolonial dominante; segundo porque nega a guerra popular das massas, ou seja, a luta revolucionaria, em prol de ilusées eleitorais, reformistas, fazendo com que todo 0 seu trabalho de massas rondasse na érbita de elei¢des pariamentares Ainda assim, precisamos reconhecer que os desvios do PCdoB nessa época estao mui- to, mas muito longe dos desvios atuais da organizagao que ainda se reivindica PC do B e que ha muito tempo abandonou o marxismo-leninismo. Rogério Lustosa segue em seu informe falando sobre uma suposta “revolugdio bur- guesa no Brasil", fato este que nunca existiu. E certo que os tedricos da “revolucao bur- guesa no Brasil” exercem bastante influéncia na academia e entre a esquerda burguesa brasileira, mas demonstramos acima, através da explicacao do que é o capitalismo buro- cratico, o porqué nunca uma revolucao do tipo ter ocorrido por aqui. Uma coisa é falar do desenvolvimento do capitalismo — desenvolvimento este que nao destruiu os elementos pré-capitalistas no campo e neles se apoiam- outra coisa totalmente diversa ¢ falar em revo- luge burguesa dirigida por esta classe, pois tal tipo de revolugao, na etapa do imperialismo, ja passou a histéria. Nos paises em que a revolucao burguesa se processou desse modo, pelo alto, mesmo com a alianca feita com os velhos elementos das classes dominantes e feudais, gigantescas mudangas estruturais, como a Reforma Agraria, foram efetuadas e a burguesia desses paises converteram-se, de maneira autnoma, em classes dominantes. © que Rogerio Lustosa critica, portanto, ndo é a verdadeira revolugao democratica-popular anti-imperialista, mas sim a versao revisionista que passou a ser sustentada durante a dé- cada de 80 pela organizacao em que militava. Os defensores da revolugao democratica anti-imperialista jamais negaram, nem do ponto de vista tedrico e nem do pratico, que a re- volugéo democratica e anti-imperialista se converteria em revolugdo socialista. Basta ler os préprios documentos do Partido a partir de 62 e os textos de dirigentes como Pedro Pomar, Mauricio Grabois e até mesmo os textos de Joao Amazonas escritos na época. As afirmagées pomposas do PCdoB, a partir de 1992, nao impediram que este caminhasse cada vez mais para o pantano, chegando atualmente em seu auge, onde seus dirigentes afirmam soberbamente que o caminho para o socialismo no Brasil ¢ a execugao de um “Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento". O “Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento”, engodo dos mais oportunistas, néo passa de mera desculpa para que os dirigentes desse partido se locupletem em cargos rendo- sos nos varios setores da administra¢4o do Estado burgués. Atualmente propagam que so um “partido de todos” resgatando as velhas teses de Kruschev e cia. De "so- cialismo desde ja” passaram a ser um dos mais arduos defensores, dentro do campo da esquerda burguesa, do capitalismo burocratico. 2. O“IMPERIALISMO BRASILEIRO” Outra ideia bastante comum dentro do pensamento de esquerda brasileiro é a do suposto carater imperialista do Brasil. Em termos gerais, essa tese nega que o Brasil seja, fundamental- mente, um pais oprimido pelo imperialismo, fazendo uma mistura e uma confusao de conceitos sem precedentes. Para os defensores dessa ideia, o Brasil, realizou uma “revolucdo burguesa” e desenvolveu o capitalismo pela via prussiana ao longo do século XX. A “burguesia nacional” brasileira concorreria de maneira auténoma com as burguesias de outros paises, incluindo os paises imperialistas e, por meio dos governos que a servem, estaria indo atras do seu lugar ao. sol na ordem imperialista. Esta tese parece explicar algumas coisas, entre elas, a presenca de empresas brasileiras em outros paises, mas no fundo, o que ela revela, é somente a confusao. Os que consideram o Brasil um pais imperialista falam do desenvolvimento do capitalismo mo- nopolista no pais, porém desconsideram que, praticamente, toda a base industrial brasileira e outros importantes setores da economia do pais esto sobre controle estrangeiro, portanto, nao podem ser considerados “nacionais’ na correta acepgao do termo. Ainda em 1971, época em que a grande burguesia e o imperialismo falavam do suposto “milagre econémico” brasileiro, o capital estrangeiro controlava setores importantes da economia. Segundo 0 economista Adriano Benayon: Em 1971 0 capital estrangeiro ja controlava setores importantes: mercado de capitais 40%; comércio externo 62%; servicos puiblicos 28%; transportes maritimos 82%; transporte aé- reo externo 77%; seguros 26%; construcao 40%; alimentos e bebidas 35%; fumo 93,7%; papel e celulose 33%; farmacéutica 86%; quimica 48%; siderurgia 17%; maquinas 59%; autopecas 62%; veiculos a motor 100%; mineragao 20%; aluminio 48%; vidro 90%. Continua, fornecendo o dado sobre o Estoque de Investimentos Diretos Estrangeiros no pais, que na época nao chegavam a 3 bilhdes de délares. Os dados de 2011 mostram que tal valor atingiu o montante de 669, 5 bilhes de ddlares. Os dados fornecidos por Benayon tam- bém mostram que o desenvolvimento capitalista que se processou por aqui, foi intensamente controlado pelas nagées imperialistas centrais. A conclusdo que podemos chegar é que, de la para ca, 0 grau de dominacao e dependéncia do Brasil em relacdo aos paises imperialistas au- mentou. A burguesia nacional brasileira (pequena e média burguesia) viu o seu desenvolvimento ser coibido pela dominagao imperialista, que engendrou no pais um desenvolvimento capitalista totalmente deformado. Mesmo a presenga dos capitais nacionais em outros paises é minima, se comparado com a presenca do capital estrangeiro no pais, o que inviabiliza a caracterizacao do Brasil como um pais imperialista, j4 que todo o desenvolvimento capitalista que por aqui se deu, obedeceu a légica do desenvolvimento dos paises imperialistas centrais. Vale lembrar que um grande numero de empresas “brasileiras” que atuam no exterior (notadamente em paises da América Latina e Africa, mas também em paises capitalistas centrais) sao parcialmente contro- ladas pelos paises imperialistas, ja que s4o empresas de capital aberto e que contam com uma grande participagao de capitais estrangeiros em sua composi¢ao. Isso quando ndo ocorre o fato. de os préprios “acionistas nacionais” de tais empresas e seus diretores serem meros ‘testas de ferro” de paises estrangeiros. A critica ao “etapismo’ promovida pelos defensores dessa tese sustenta que o Brasil ja é um pais completamente desenvolvido, soberano, e que a dependéncia em relagao ao imperia~ lismo, ao contrario de colaborar com a permanéncia do atraso no pais, dinamizou a economia. A revolugao brasileira ja teria, portanto, carater socialista. Esta posic&o, apesar de sustentar ar- gumentos que em aparéncia sao muito revolucionarios e originais, ndo passam de vulgaridades elaboradas por intelectuais revisionistas, alguns até claramente pré-imperialistas. Afirmar que a dependéncia “dinamizou a economia brasileira” é fazer reveréncias as teses do imperialismo e aos intelectuais que, no interior do pais, sempre estiveram a seu servico. Outro argumento im- portante dos defensores dessa tese é de que a economia brasileira ja teria adentrado na etapa monopolista e que isso seria uma comprovacao cabal do fato de o Brasil ter se convertido em um pais imperialista. Essa argumentacao, além de simplista, revela um completo desconheci- mento do leninismo e faz uma confusdo tedrica entre o que € sistema, formagao econémico- social e modo de producao. CARATER DA REVOLUGAO BRASILEIRA:REVOLUCAO DEMOCRATICA-POPULAR ININTERRUPTA AO SOCIALISMO OU “SOCIALISMO AQUI E AGORA"? Vimos anteriormente algumas criticas feitas pelos anti-etapistas ao marxismo-leni- nismo e a revolu¢do democratica anti-imperialista, assim como os argumentos daqueles que sustentam o cardter socialista da revolugdo brasileira afirmando que o Brasil ja seria um pais capitalista e até imperialista. Para combatermos de maneira adequada essas con- cepgées, faz falta elaborarmos mais estudos cientificos precisos sobre a realidade brasilei- ra e desenvolver 0 Marxismo-Leninismo por meio de uma vigorosa luta contra tais tendén- cias equivocadas. Porém, desde ja, podemos apresentar os principais aspectos de nossas ideias sobre a revolugao brasileira. Caracterizar 0 Brasil como um pais dependente e oprimido pelo imperialismo faz com que reconhegamos a contradiao principal no pais, como aquela que opée a classe operaria, campo- neses, pequena-burguesia, intelectuais e setores da média burguesia contra o imperialismo, os latifundiarios e a grande burguesia burocratica-compradora. Reconhecer este fato nos permite definir quem so os nossos amigos e inimigos na Revolug&o e quais tipos de aliancas podere- mos selar. Os que sustentam o carater socialista da Revolucao Brasileira partem do principio de que o Brasil ja desenvolveu completamente o capitalismo —superestimam o desenvolvimento ca- pitalista e ocultam a sobrevivéncia de formagées pré-capitalistas — e que por isso estaria maduro para o socialismo. Negam que exista uma contradi¢ao entre a nagao e o imperialismo e colocam a dependéncia como apenas uma caracteristica da economia capitalista desenvolvida do pais, quando na verdade ¢ justamente o carater dependente do pais, que constitui a sua principal caracteristica. O que devemos nos perguntar ¢ se defender o carater democratico-popular da Revolucdo Brasileira implica afirmar que o Brasil no estaria maduro para o socialism? Realizar uma revolugéo democratica-popular exige necessariamente um enfrentamento contra as forcas reacionarias da sociedade e contra o Estado burgués-latifundiario que sustenta a ordem atual. Em nossa época, tal revolucao sé pode ser dirigida pelo proletariado. A direcao do proletariado & seu Partido revoluciondrio ira garantir 0 avango da revoluco democratica-popular para a etapa socialista da revolucdo, iniciada apés a conquista do poder politico do Estado pelo proletariado em alianga com outras classes revolucionarias. Portanto, podemos entender que a revolugao democratica-popular esta em ligagao umbilical com a revolucao socialista, e se desenvolve me- diante etapas, ao passo que a revolugdo socialista representa o auge das realizagées da revolu- g40 democratica, assim como 0 seu avango para uma etapa superior. Referéncias Bibliograficas MARIATEGUI, J. C. Por um Socialismo Indo-americano. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2005 PCdoB, O Socialismo Vive — Documentos e Resolugdes do 8°Congresso do PCdoB. S&o Paulo: Editora Anita Garibaldi, 1992 SHENG, H. A Concise History of The Communist Party of China Beijing: Foreign Language Press, 1994 MOU KIAO, S. A Transformacao Socialista da Economia Nacional na China Lisboa: Edigdes Maria da Fonte, 1975. A estratégia do imperialismo na recente crise da Siria por Iearo Leaz Aves INTRODUGAO presente texto tratara da recente crise siria, iniciada com as manifestagées de Marco de 2011, e que se desenvolve até os acontecimentos de meados do presente ano aos acordos pela eliminagao das armas quimicas sirias, firmadas entre 0 governo daquele pais e a comu- nidade internacional representada pela ONU. Nesse meio tempo muita agua rolou. E seria impossivel para nés dissertar sobre todos os acontecimentos que envolvem esse gigantesco confito, Portanto, propomos sobre ele umas quantas reflexdes. Com eixos que julgamos sejam importantes para o desenvolvimento da luta anti-imperialista a nivel mundial No nosso estudo sobre o presidente Hafez Al-Assad afirmavamos: ‘a Siria, como palco da principal luta anti-imperialista de nossos dias, esta nos coragdes de todos os povos e, prin- cipalmente, dos militantes da Unido Reconstrugéo Comunista. Todos eles deverao contribuir nessa compreensdo materialista e dialética da Siria, de sua historia e luta de classes. Aqui traremos, mas algumas contribuigdes para esse processo de compressao marxista, da Siria Baath e de sua luta recente contra a agressdo imperialista. FRACASSO DAS MANOBRAS DO IMPERIALISMO IANQUE — DERROTA TATICANO CAMPO SIRIO, DERROTA ESTRATEGICA A NIVEL MUNDIAL Nos ultimos meses a Siria tem presenciado importantes acontecimentos. As ultimas ma- nobras do imperialismo norte-americano, na pessoa do presidente Barack Obama, para desen- cadear uma aco militar naquele pais terminaram com uma significativa derrota para principal poténcia militar do mundo. Isso por conta de trés principais fatores; 1) 0 papel desempenhado por China e Russia na mediacao do confito, utilizando do seu poder de veto no Conselho de Seguranga da ONU 2) a posigao decidida do regime sirio e seu governo, encabegado por Bashar Al-Assad, que esteve disposto a resistir até o fim sem dar qualquer sinal de fraqueza 3) e a crescente resisténcia de setores democraticos da comunidade americana — cujo centro é a classe operaria - ao desencadeamento de novas guerra de agressao imperialista por parte do governo dos Estados Unidos, no novo século. Outros elementos também foram importantes. Cresceu em todo mundo o sentimento de solidariedade ao povo sirio e as manifestagdes anti-guerras imperialistas de agressao. No Brasil, em agosto-setembro deste ano, muitas cidades realizaram manifestagdes contrarias a tentativa de interveneao norte-americana no pais arabe. Na Inglaterra, tal foi a resisténcia popu- lar, que mesmo o parlamento inglés se viu forgado a rejeitar a participagao do império britanico. llustres personalidades da sociedade francesa! apontaram a completa obsolescéncia da dou- trina anunciada ha somente uma década, pelo ex-primeiro-ministro inglés, Tony Blair, sobre “o dever de proteger”, {caro Leal Alves, Halez AkAssad # a Unidade da Nagéo Arabe in Revsla Nova Culture. N°1, pagina Exemplo de Plerre Charasse. Sia: Carla de um anligo embaixedor francés @ Francois Hollande in 2 de selembro de 2013. Foi sem duivida uma historica derrota. Podemos dizer que o ano de 2013 presenciou uma substancial derrota do imperialismo norte-americano na arena global. Nao somente uma derrota no plano tatico do imperialismo, pois a ordem unipolar foi exposta, em toda sua fragilidade, no plano estratégico. Novas poténcias imperialistas despontam para rivalizar e por em cheque a completa liberdade de atuac&o do imperialismo ianque. Esse debilitamento dos EUA é uma vit6ria da luta anti-imperialista dos povos, mas tam- bém encerra riscos. N&o negligenciaveis. Ha 0 risco do aprofundamento das contradicdes entre as poténcias mundiais. E o desencadeamento de novas guerras interimperialistas. Na época do imperialismo, época do capital moribundo, a ascensao de novas poténcias é sempre o preludio de novas guerras. Pois estas tém de competir pela redivisao do mundo, com as poténcias do- minantes. Mas, sem nos perdermos em devaneios sobre os conflitos vindouros, ¢ preciso com- preender que a vitdria do povo sirio, por mais significativa que seja no plano internacional, no plano interno ¢ ainda vitoria tatica. Pois a guerra “interna” continua. E ela € de fato uma guerra de agressdo. E preciso amadurecer a ideia de que a Siria vive uma agressdo imperialista, de forma indireta. Essa nao é uma tatica nova. Sempre foi utilizada pelas grandes potencias mun- diais contra os paises socialistas ou anti-imperialistas. Ou simplesmente quando se pretende alcancar um objetivo na estratégia de dominacao global © REGIME SIRIO E OS OBJETIVOS GEOPOLITICOS DE ISRAEL E EUA Na Republica Arabe da Siria o regime existente, desde 1963, é um regime anti-imperia- lista. E por isso é alvo das hostilidades do imperialismo e de todos os inimigos dos povos. Em marco de 1963, apés uma revolugao popular, que tem como principal dirigente o Comité Militar do Partido Baath no Cairo, institui-se na Siria um poder comprometido com a luta contra o Es- tado de Israel, contra a influéncia dos demais imperialismos na regido e em realizar reformas democratico-populares contra os feudais e grandes capitalistas locais. principal lider desse Comité de jovens baathistas militares é Hafez Al-Assad. Ele tor- nar-se-ia chefe do Estado sirio a partir do movimento corretivo de novembro de 1970. E entéo se desencadearia um intenso caminho pela realizacao da unidade dos povos arabes. Hafez Assad, afirmava que a ideologia do Baath era a aplicagao do marxismo a realidade especifica da Siria. Ora, a Siria era entao um pais semi-feudal semi-colonial, vitima da agressao militar sionista. Importantes transformagées foram realizadas. O processo de reforma agraria, inicia- do em ja em 1958, periodo da unidade sirio-egipcia, se aprofunda até desalojar os feudais, o grande capital estrangeiro é nacionalizado nos setores chave da economia, como o petréleoe a eletricidade e se inicia a marcha pela industrializacao do pais através de planos Unicos globais do Estado. A propriedade privada no foi abolida na Siria. Pelo contrario, a constituigéo de 1973, promulgada sobre o signo da Frente Nacional Progressista, consagra a defesa da propriedade privada dos nacionais sirios. Mas a subordina ao interesse social, entendido como interesse nacional ou de toda nagdo siria. Portanto a propriedade dos sirios é respeitada enquanto nao esteja em contradigéo com os planos globais de desenvolvimento do Estado. Na pratica isso servia para proteger os interesses econémicos da pequena-burguesia siria e eliminar as ten- sdes de classe entre esta e a classe operaria. ARAS nao sera, portanto, um pais socialista, mas muito fez para desenvolver um modelo préprio de nova democracia, em realizar definitivamente sua revolugao democratica, erguendo um Estado nacional soberano e moderno. O socialismo era parte do ideario de muitos dos seus dirigentes, mas eles nao foram capazes de aplicar corretamente uma diregao marxista-leninista em sua luta. Principalmente no que respeita a passagem 4 realizagao das tarefas democraticas as socialistas. O Baath esteve sempre dividido em dois grandes blocos. E a ideologia liberal- burguesa foi nele muito forte. As contradigdes geopoliticas ajudaram para que se aprofundassem tais contradigées. ideal de Unidade Arabe do Baath permaneceu isolado pela reacdo de Estados nacionais de carater feudal, confeccionistas e subordinados aos interesses estrangeiros imperantes na regio. O desencadear da guerra entre o Ira-Iraque, nos anos 1980, apoiada pelas poténcias imperialistas isolou da Siria o unico regime Baath da regio, o iraquiano. Como resultado um permanente estado de excegao se fez presente no pais criando uma situacao de autoritarismo © 0 predominio do poder da seguranga do Estado. Com a queda da Unido Soviética e dos regimes socialistas e democratico-populares do Leste Europeu no inicio dos anos 1990 a situacdo siria tornou-se delicada. A Unido Soviética, assim como outros paises socialistas foram os principais aliados econémicos e politicos do regi- me Baath. Sua queda comprometeu enormemente a situacdo do pais, pois esse se viu cercado. Nessas circunstancias os sirios se viram forgados a aproximar-se dos EUA, o que fez crescer a proliferagao das ideias neoliberais no interior do Partido Baath Socialista Sirio. Desde o fim dos anos 1990 o regime tem realizado reformas econémicas liberalizantes que foram aprofundadas na era Bashar Al-Assad com a aplicacao dos programas do Fundo Monetério Internacional. A nova orientac&o proporcionou a liberalizagao da grande burguesia. capital financeiro inunda o pais e com ele cresce a corrup¢ao da burocracia do Estado. Esse elemento seria fundamental para o desencadear da atual situac4o de confito interno. Mesmo com os programas do FMI, a ideologia neoliberal difundindo-se com velocidade entre os baathistas e a aproximacéo politica com o Ocidente liberal é completamente falsa a ideia que tenta apresentar a atual Siria de Bashar Al-Assad como um pais lacaio do imperialis- mo. A aproximacao com os EUA no inicio dos anos 1990 nao significa nenhum favoritismo com © capital anglo-saxénico. Pelo contrario, China e Russia guardam ainda grandes interesses econémicos na Siria, sendo seus principais parceiros. O Estado sirio tem se esforgado por as- segurar aos produtos de primeira necessidade, principalmente alimenticios, um preco fixo abai- xo do valor de produgao e oferece servicos essenciais gratuitos. Seu exército é extremamente poderoso e moderno, o que preocupa sobremaneira Washington e Tel Aviv. Trata-se do principal objetivo estratégico do imperialismo em nossos dias o completo desarmamento dos Estados nacionais. Desde que Robert McNamara anunciou a nova ideologia do império, segundo a qual os paises do terceiro mundo nao precisam mais de exércitos nacionais, essa tornou-se uma questo vital. Todos os Estados que tem desenvolvido suas forcas armadas, ou mesmo armas nucleares tem estado na mira do império. No caso de Damasco, existe ainda um agravante. Os israelenses nao querem que a OLP tenha um aliado militarmente tao poderoso quanto RAS. Muitos guerrilheiros palestinos sao trei- nados em territorio sirio, e 0 govemo sirio nunca renunciou a causa palestina da formacao de seu Estado nacional, com capital em Jerusalém. O atual apoio do Ira e do Hezbollah (libanés) a Bashar Assad, bem como a feroz resisténcia desse ultimo no confitto interno-externo ¢ uma prova do explosivo potencial de luta que ainda guarda a atual Siria Baath e pée em panico as, forgas da reacdo frente ao risco de uma segura alianca anti-imperialista tripartite (Hezbollah, Ira e Siria) na regio. Fora esses elementos conjunturais, muitas evidéncias apontam para o carter indisso- ciavel do sionismo e do projeto de dissolugdo, nao so do Estado sirio, mas também de outros Estados da regiao, ao qual Israel pretende reduzir a microestados beligerantes entre si. Israel ainda guarda pretensées territoriais sobre a Siria e seu projeto de destruigao desta data de 1982, quando da guerra do Libano. Nesse ano, veio a publico um documento intitulado Kivu- nim (diregSes), publicado pelo Departamento de Informacao da Organizagao Sionista Mundial. Seu autor era Oded Yinon, que esteve vinculado ao Ministério do Exterior de Israel e refletia © pensamento do establishment militar e da inteligéncia israelense. Além de sistematizar o ja conhecido plano de despovoamento da Palestina, o Kivunim esbogava a destruic&o do Libano, Siria, Ira, Iraque, Egito e Jordania. No referente a Siria dizia-se: ‘A Siria caira alquebrada, de acordo com a sua estrutura étnica e religiosa, dividindo-se em varios Estados, como acontece hoje no Libano, de modo que havera um Estado xiita alauita na costa, um Estado sunita na area de Aleppo, outro Estado sunita em Damasco hostil ao seu vizinho no Norte e os drusos que es- tabeleceréo um Estado, talvez, inclusive, em nosso Gola [as Colinas de Gola foram ocupadas por Israel em 1967], e sem diivida no Hauron e no Norte da Jordania. Esse estado de coisas sera a garantia da paz e da seguranga na area a longo prazo e esse objetivo, hoje, ja esta ao nosso alcance."##1 Nao € curioso, que hoje, 30 anos depois, os “rebeldes” sirios pretendam realizar esse mesmo objetivo de uma Siria dividida em confltos sectarios? A PRIMAVERA ARABE EA SIRIA Colocamos esta questo nao por acaso. A que se perguntar qual a real participa¢ao das. forcas de inteligéncia estrangeiras nos recentes acontecimentos em paises arabes, nos ultimos trés ou quatro anos. Até onde eles foram acontecimentos espontaneos? Ora, os meios de comunicagao do Ocidente liberal tem se preocupado em enaltecer as atuais ‘revolugdes populares” daqueles paises desde a primavera arabe. Esse movimento que se estende por uma serie de paises arabes tanto do médio e préximo Oriente até o norte da Africa. E verdade que existia um enorme acumulo de insatisfacao popular entre aqueles povos, principalmente com as dificeis condiges de vida da classe operaria e 0 autoritarismo estatal. Mesmo na Siria. Em meio a essa avalanche, governantes pré-imperialistas e anti-populares ‘como Mubarak e Ben Ali foram derrubados. Porém, nao ¢ estranho que tal avalanche nao tenha alcangado a arque-reacionaria Arabia Saudita? E como explicar que uma revolugao popular tenha deposto e assassinado 0 coronel Muammar Al-Gaddafi, para destruir uma Libia estavel e prospera e transforma-la num pais divido pela violéncia sectaria e incapaz de governa-se a si mesmo? Muitos analistas, como o especialista em geopolitica de Washington, William Engdahl. tem apontado para a coincidéncia de muitos processos “revolucionarios” e a agenda da glo- balizacao proposta pelos EUA, desde a queda de Slobodan Milosevic. Para ele, bracos do imperialismo como OTPOR e CANVAS atuam no desencadeamento dessas “revolugées”, E 0 préprio chefe-instrutor da CANVAS, o sérvio Popovich, quem afirmar que nao se deve exagerar © caréter espontaneo dessas rebeliées #41 Por mais que se precise ser cuidadoso na analise desses acontecimentos, visto a enorme combinagdo de interesses e a conjuntura especifica de cada pais ¢ evidente que o imperialismo tem aplicado uma estratégia nos paises arabes em ‘revolt’. Vamos nos ater ao caso sirio. O avango das reformas neoliberais naquele pais tem dificultado a vida das massas trabalhado- ras, ja afimamos. Mas na chamada ‘Revolucao de Margo” (de 2011) as manifestages de rua clamavam pela queda de Assad, uma nova constituigao e elei¢es pluripartidarias. A revolugao popular siria pretende transformar 0 pais definitivamente num Estado burgués ordinario, com uma democracia como a que goza mesmo muitos paises neocoloniais (como 0 Brasil), mas néo se livrar dos programas do FMI? Desde a Ultima década dos novecentos e 0 inicio do novo século muitos paises tem pro- tagonizado revolugées coloridas. Todas elas tém em comum serem completamente distintas do marxismo-leninismo. Elas no podem servir a causa de emancipacao da classe operaria. Pelo contrario servem ao imperialismo e ao fascismo. As recentes “revolugées” arabes — elas sao na verdade contrarrevolugées — somente tém servido para proliferar os Mujahidines e aumentar o poderio da irmandade muculmana. Essa organizacdo que luta para impor a Sharia e se opde Violentamente ao laicismo e ao arabismo progressista do Baath, ao qual contrapde uma sectaria unificagao mugulmana. Atualmente os agentes da Frente Al-Nusra atuam na Siria sob 0 grito de Allahu Akbar. No setembro ultimo, o governo de Israel afirmou que exige a deposicao de Assad, mesmo que isso signifique entregar o poder a esses homens. Mas se a Al-Nusra conquista Da- masco, até onde as sangrias sectarias nao evoluiriam num redemoinho, que ameace engolir até mesmo Tel Aviv e Jerusalém? [3] Ralph Shoenmann A Haléra Oculla do Sioniamo EdicSe de 2008, pagina 196 [4] Vero decumentaro The Revoluion Business ~ World in << hilp /Avew viomunde com bridenuneiaslotpor-expartando-2tevalucac-deade- Belgrado himi>> 4 de uho de 2013. KHALID ABU SALAH E OUTROS AGENTES DO CIA FAZEM A REVOLUGAO NA SIRIA Afirmamos que a Siria é sim vitima duma agresséo imperialista. Ela nao é uma agressao, direta, Mas a atual guerra civil desencadeada naquele pais nao €, como se pensa, uma revolu- 40 popular contra a “ditadura de Bashar Al-Assad’. E 0 povo sirio coloca-se efetivamente hoje ao lado de Assad, no qual reconhecem o legitimo lider do pais. Os que travam a luta armada contra as tropas leais do Exército Arabe da Siria s4o mercenérios capitados em outros paises da regido, que na maioria das vezes falam dialetos incompreensiveis para os sirios, radicais islamicos e desertores do Exército, que corrompidos e cooptados pelas forcas estrangeiras formaram o Exército Livre da Siria. Eles compéem uma forca heterodoxa (fundamentalistas e pré-ocidentais sediados em Istambul), mas coligada na luta contra as forgas leais. A luta que travam contra as forgas da EAS ¢ contra o préprio povo, e eles nao excitam em usar de métodos terroristas e realizar massacres contra civis, Mas entao, como se consolidou no ocidente a imagem de uma guerra civil travada por um enorme corpo de seguranga do sangrento ditador contra um exército revolucionario e demo- cratico que tem 0 apoio da maioria do povo? E ai que entra em cena os servicos de inteligéncia estrangeira que buscam criar as con- digdes propicias para a intervenc4o militar direta em apoio aos ‘rebeldes”. Eles tm financiado agentes, que atuam internamente para promover factoides, desde 0 inicio do ano de 2011 Antes mesmo do inicio dos enfrentamentos armados, Khalid Abu Salah, Danny Abdul Dyem, Neil Hollisvort entre outros “jomalistas’, ou “simples ativistas” produzem noticias falsas sobre massacres promovidos pelas forgas de Assad contra as populagées civis desarmadas. O pa- drao é sempre o mesmo, “Assad bombardeia cidades por horas inteiras’, “dispara contra multi- des’, e, curiosamente, sempre “mata mais de 200 pessoas”. Um documentario produzido pela televisdo russa prova que se trata de factoides produ- zidos por Khalid Abu Salah e sua equipe, junto ao agente da CIA Tim Crokett.!*! Crokett era um antigo oficial da CIA que trabalhou no Iraque treinando e monitorando jornalistas. Com 0 inicio dos confltos de rua na Siria entre manifestantes e forcas de seguranga ele instala-se na Siria As imagens apresentadas pela televisdo russa sao chocantes. Nelas, esses “simples ativistas” ¢ ‘jornalistas” produzem incéndios, os quais atribuem as forcas de Assad, encenam a prépria quase morte, para reviver rapidamente menos de trés dias depois. Criam cenas de conflto e de morte para vendé-las a Al-Jazeera e a Al-Arabiya como crimes do EAS. Esses mesmos individuos podem também ser vistos em conferéncias internacionais de alta- cupula, onde clamam pela salvacdo da Siria através de uma intervengao estrangeira. Nao sao mais do que agentes a soldo, que pretendem que as forgas imperialistas venham ao socorro dos agentes titeres da ELS e da Al-Nusra cada vez mais acossados pelas forcas de Al-Assad AS ARMAS QUIMICAS — CONTINUIDADE DA ESTRATEGIA DO FACTOIDE Em plena concordancia com a cena interpretada desde o comeco da luta, os agentes titeres e os imperialistas preparam uma nova justificativa para a agressdo no ano de 2013. A tatica ¢ a mesma, produzir cenas horriveis e atribui-las a Assad. Isso foi feito em 2012, quando dos massacres de Hula. Todos os porta-vozes de EUA, Reino Unido e Franca, esforgavam-se por condenar o regime de Damasco pelos crimes, numa gritaria sem fim, e isso mesmo depois de 0 chefe da expedigdo da ONU designada para uma inspecao in loco, o general noruegués Robert Mood, haver afirmado o carater inconclusivo da sua investigagao. Isso porque, segundo disse, mesmo sendo inconteste que na regio se produziram massacres, as provas apresenta- das sobre a relac&o do regime com os crimes so ‘turbas” A nova ofensiva desencadeada esse ano, teve como centro, o massacre com armas quimicas contra a populacéo de um suburbio de Damasco controlado por “rebeldes” sirios. De [5] 0 decumentaro da televiaio nicca enconira-se legendand para o portuguéa e eata dsponivel em tr€ parle in .

e ‘20b otto geral de Come a ClA faz a Revelucio na Sina imediato e sem qualquer esforgo em verificar os fatos 0 imperialismo norte-americano se langou em frenética preparacao da guerra direta. Se viu completamente frustrado e hoje tem de amar- gar as constantes derrotas de seus agentes militares intemios sem poder intervir. Nesse episédio o papel da imprensa burguesa foi mais uma vez de lacaio, que se es- forgou em massificar a ideia de que fora Assad 0 responsavel pelo massacre dos civis. Mas no Brasil, na imprensa pré-imperialista destacou-se um elemento curioso, A atuacdo do trotskismo como vanguarda da propaganda burguesa. Em seu site, o PSTU escrevia ja em 21 de agosto de 2013, dia mesmo da denuncia dos ataques: ‘Na madrugada desta terga para quarta, a ditadura de Bashar Al Assad desferiu um brutal ataque com armas quimicas na periferia de Damasco, matando centenas de pessoas, entre mulheres, idosos e, sobretudo, criancas, na regiao de Ghouta, subuirbio da capital. Este pode ter sido o ataque mais letal langado por Assad contra a populacdo civil. As imagens das vitimas fatais e do desespero do povo sirio frente ao ataque do governo estao provocando indignacao em todo o mundo e revelam a verdadeira face dessa ditadura genocida. Até mesmo em paginas da grande imprensa burguesa era possivel ver analistas agindo com mais modera¢ao, mesmo compartilhando do mesmo esforco do PSTU em qualificar Assad como um ditador e apresenta-lo como divorciado do apoio popular. Numa pagina de O Estadao podemos encontrar o seguinte raciocinio: “Pela légica, o regime de Assad nao usaria este ar- senal agora por pelo menos quatro motivos. Primeiro porque o regime vem ganhando a guerra @ ndo existe nenhuma necessidade de se desesperar. Em segundo lugar, as forgas de Assad sabem que podem matar uma ilimitada quantidade de pessoas sem correr 0 menor risco — a administragao de Barak Obama considera apenas o uso de armas quimicas como um divisor de aguas. Terceiro, a agao ocorreu nos suburbios de Damasco, quase integralmente controlados pelo regime, embora esta zona esteja nas maos de rebeldes. Por ultimo, por que atacar justa- mente com a presenga de inspetores da ONU?" Esse mesmo autor admite a possibilidade do ataque ter sido perpetrado pelas forcas slrias leais, mas pondera: “Existe a possibilidade de o regime de Assad ter sido sabotado internamente. Algumas faccdes supostamente a favor do regime teriam usado, com ou sem o apoio de forcas estrangeiras, os armamentos quimicos de propésito para elevar a pressdo internacional contra o lider sirio justamente no momento em que os inspetores esto presentes em Damasco.” E numa atualizagao posterior ainda encontramos: “Escrevi inicialmente que seria dificil ter sido a oposi¢ao. Mas novas informagdes podem apontar para a autoria dos rebeldes. As armas nao seriam tao sofisticadas e, aparentemente, foram lancadas por um foguete caseiro. Esta versao tem peso forte na Russia’! Obvio, esse tipo de moderacdo destoa totalmente com o que no geral se encontra entre ‘0s meios oficiais da burguesia, que tem sido radical em sua condenacao a Assad e ao regime da Republica Arabe da Siria, mesmo meses depois dos ataques, quando o governo tem se comprometido com plano da ONU de eliminagao das armas quimicas e os EUA demonstrou- se completamente incapaz de provar o envolvimento deste com os ataques. AESTRATEGIA DO IMPERIALISMO PARA A SUBVERSAO NOS PAISES SOCIALISTAS E ANTIIMPERIALISTAS Para finalizar devemos sintetizar 0 que se depreende estudando a geopolitica do tltimo meio século. A linha de continuidade muito nitida entre a atividade executada pelos orgaos de inteligéncia dos paises imperialistas para a subversao nos paises socialistas e nacionalistas que vai desde os antigos paises de democracia popular no Leste Europeu nos anos 1950 (Po- lénia, Hungria, etc.) até os paises nacionalistas anti-imperialistas do Oriente Médio, Africa e América Latina dos nossos dias (Siria, Libia, Venezuela etc.) [6] Diadura Asad massacra a populacSo civilcom armaa quimicaa in <> 21 de agocto de 2013 [7] Guslave Chacra. Enienda o mega alaque quimice hoje na Sina in << htp/flaga esladae com brigustavo-chacralentenda-c-mega-ale ue-quimice-hoje-navsiral>> 21 de agosto de 2013. stratégia do imperialismo na recente crise dk ins foo 1°) Esses servicos tentam por todas as formas valer-se das divergéncias internas na cipula desses governos ou partidos de governo, para cooptar para seus fins elementos dissidentes da linha oficial 2°) Impulsionam a atividade de cupula desses elementos dissidentes cooptados até criar uma crise de governo nesses paises que faga afrouxar o poder. 3°) Utilizando-se das reivindicagées legitimas da classe operaria e do povo trabalha- dor desses paises tentam criar uma ruptura entre 0 governo e 0 povo, utilizando-se de agentes intemos, ou de seus meios de comunicacao de massas (antes o Radio, hoje a Internet) para espalhar boatos e mexericos entre as massas populares 4°) Armam elementos degenerados e delinquentes de crime comum para lutar contra os governos ¢ transformam-nos com sua propaganda em vanguarda dos oprimidos pelas tiranias comunistas ou nacionalistas. 5°) Quando, em meio a situacao de crise, criadas pelas proprias atividades subversivas dos paises imperialistas, e de seus agentes, os meios de comunicacao desses mesmos paises divulgam para o mundo sempre noticias parciais, unilaterais e incompletas. Apre- sentam sempre a reacdo enérgica desses governos socialistas ou nacionalistas, suas agées violentas em resposta a subversdo, ingeréncia e atividade sabotadora como prova do carater violento desses, para criar na opiniao publica internacional um sentimento de rejeicdo, e isolar aquele pais no momento dificil, para que nao possa buscar ajuda e se veja forgado a desencadear sempre mais violéncia para reagir a violéncia da reacao até se ver envolvido numa situacdo de guerra civil. Dessa maneira os imperialistas preten- dem também controlar psicologica e ideologicamente suas préprias populacées. 6°) Em ultimo caso os paises imperialistas podem intervir diretamente nesse paises, com intervengées armas, caso 0 método da subversao interna nao tenha aleancado o fim desejado, mas tenha criado uma condigao favoravel a essa intervenc&o. Com o fim da URSS e do campo dos paises socialistas a situacdo se torna mais favoravel a essa intervenc&o e ao controle global pelo imperialismo norte-americano. ade a Unidade daNa cdo por [caro Lrat Atves INTRODUGAO presente texto tem por objetivo abrir para os camaradas da Unido Reconstrugéo Co- munista e seus simpatizantes, bem como, para todos os combatentes do povo uma discussao sobre a realidade da Siria contemporanea. Ele é um texto inicial. Somente da partida a uma dis- cussao que é muito frutifera. Mas nao pretende ser definitivo, nem pode ser completo. Devido as deficiéncias do autor mesmo. Porém, mesmo o estimulo a uma tal reflexao, que se questione sobra a verdadeira realidade e historia da Siria Baath Arabe, para além das narrativas oficias da imprensa burguesa e imperialista, consideramos, seja ja uma grande iniciativa. Atualmente a Siria € o palco de uma das mais tristes e calamitosas crises humanas da nossa época. O século XXI, cujo imperialismo, momentaneamente triunfante, prometera ser de vibrante prosperidade universal e de paz para todos os povos, isso em decorréncia do des- mantelamento do socialismo mundial e dos regimes inspirados no ‘totalitarismo” soviético, é na verdade uma sangria desatada para todos os povos. Ele se encontra somente em sua segunda década e ja testemunhou o massacre dos povos iraquiano, afegao, libio e ainda presencia o sempre continuado massacre do povo palestino, irmao querido de toda humanidade, humilhado e pisoteado pelo Estado de Israel, mas que nunca desistira de lutar por sua libertagao. Também a Siria € palco do derramamento de sangue. Atualmente massacra-se 0 povo matam-se criancas, extipam-se os fetos de dentro do ventre de suas maes. Um carni- ceiro canibal e fanatico come coragdes. Um mercenario checheno pode vangloria-se de haver matado mais de 300 sirios. Claro, tudo em nome da democracia, da luta contra o totalitarismo, a corrup¢ao despética e o estatismo locou, se se acredita na narrativa oficial da imprensa colo- nizada. Manobra-se para transformar o conflto sirio em uma intervengao estrangeira direta. Nes- se mesmo ano, uma terrivel tensdo também pds em cheque a fragil estabilidade da peninsula coreana. Até recentemente o Iré também era alvo de provocagées e clamores de intervencao. Em todas essas crises, em todos esses atos de atrocidades cometidos no novo século € oimpe- rialismo 0 bandido que promove a fanfarra. Fanfarra sangrenta e desumana. Mas a propaganda © a desinformacdo burguesa, principalmente no Brasil, onde os veiculos de comunicagao que mais aleangam o publico pertencem a grandes grupos monopolistas, dependentes do capital estrangeiro e vinculados historicamente ao autoritarismo estatal — exemplo da Rede Globo — tenta apresentar o discurso legitimador que sustenta o imperialismo norte-americano como to- talmente condizente com a verdade. Dessa forma, as guerras sangrentas travadas pelo império em nome do lucro maximo so sempre guerras pela democracia e contra o totalitarismo, ou, — 0 termo até ontem da moda —oterrorismo. Assim, ao folhear as grandes revistas e jornais, ou, ao acompanhar a guerra pela televisdo, os ‘rebeldes’ sirios tormam-se um grupo homogéneo composto por revolucionarios democraticos que querem libertar a Siria da “ditadura de Bashar Assad’ Também aqui ha uma simplificagao, 0 regime de 50 anos do Baath Arabe. Que ha 50 anos dirige um pais numa das regides mais explosivas do mundo é enquadrado nesse simples termo, "Ditadura”. Aqui também ha um empobrecimento da linguagem. Léxicos como “democra- cia” e “ditadura’ nao tem mais um sentido complexo, nem uma longa historia de desenvolvimen- to e significagao. Eles sao a sua ressignifica¢ao em um sentido neoliberal aberrante. E por isso que pretendemos aqui realizar uma analise mais profunda, na medida dos nossos limites, da realidade desse pais nada desprezivel em contribuic6es a histéria do mun- do. Ela deve comecar por essa fundamentacdo histérica da atual Siria Baath. O surgimento do atual regime revolucionario sirio. A histéria do seu principal lider e simbolo, o presidente Hafez Al-Assad, e de sua luta pela unidade da Nagao Arabe em sua luta de libertacao nacional contra © império sionista assassino. Lembremos, porém, que se trata de um texto introdutério, A Siria, como paleo da principal luta anti-imperialista de nossos dias, esta nos coragdes de todos os povos e, principalmente, dos militantes da Unido Reconstrugéo Comunista. Todos eles deverao contribuir nessa compreensao materialista e dialética da Siria, de sua historia e luta de classes. Devemos travar a luta das ideias contra a leitura burguesa da realidade siria nessa e em novas edig6es da Revista Eletrénica Nova Cultura. POR QUE ESCREVER SOBRE O PRESIDENTE HAFEZ AL-ASSAD? Esse texto tem uma finalidade histérica. E uma discussdo histérica. Mas nao pretende- mos aqui haver apresentado uma incrivel novidade, no sentido de termos descobertos novas informagées sobre o presidente Hafez Assad. Somente repetiremos simples verdades, recente- mente esquecidas por pura conveniéncia, Para a imprensa burguesa, desde a primavera arabe, que também alcangou os sirios, e mais ainda, com o inicio da guerra civil, a Siria é um regime de ditadura de Bashar Al-Assad, que por sua vez herdou o poder de seu pai, Hafez, um “golpista’, que era o ditador do pais, entre 1970-2000. Atendendo aos chamados dos seus patrdes burgueses, os trotskistas do PSTU trazem para o Brasil uma agente da CIA, Sarah Al Suri, que trabalha arrecadando fundos para o Exér- cito Livre da Siria, para depredar um monumento a Hafez Al-Assad na cidade de Curitiba. argumento, "Nao podemos aceitar que Curitiba mantenha uma homenagem a um ditador, que é contra a liberdade de um povo”. Os trotskistas e a agente da CIA pretendiam falar em nome do povo sirio. Mas sera isso verdade? Obvio que nao. Como resposta uma contra manifestagao foi organizada pela comunidade siria no Brasil: “Os manifestantes da comunidade siria que, do outro lado da praca, seguravam cartazes com imagens de Bashar Assad, criticaram o protesto opositor por nao representarem suas demandas. 'Nés estamos a favor do governo sirio, entéo queremos que a estatua fique’, disse o comerciante Ghassan Youssef. “Se 0 povo da Siria quisesse 0 presidente fora do pais, ele sairia’, disse a Gazeta do Povo Abdo Dib Abage, cénsul honorario do pais no Parana e em Santa Catarina. ‘Esses manifestantes nao falam por nés, nem por ninguém que vive na Siria.""1 E verdade também que organizacées de Esquerda, fiéis aos seus ideais anti-imperialis- tas, tm nos tiltimos meses se levantado contra as manobras espiirias dos Estados Unidos para intervir na Siria. Essas organizagées foram as ruas do lado do povo sirio, e nao do imperialismo, [1] Rodolfo Stancki. Busta de ex-pre ‘com.br/mundolconteudo phim? dente si'o motiva protestes em Curva, 19212012 in Gazeta do Povo site: Hip Aww gazetadopovo. (329008 &tt-Busto-de-ey-presidente-sino-motiva-protestos-em-Curtiba para dizer “Nao a intervengo! E sim a Siria de Bashar Al-Assad e ao seu povo soberano!” . Porém, isso nao basta. E preciso avancar na consciéncia de que a Siria vive sim uma agressao imperialista, mesmo que nao de forma direta. Que o pais nao é simplesmente mais um pais ameacado pelo império, que ele tem uma historia e que é um posto central na luta contra 0 imperialismo. Que é a sua op¢ao pela Unidade Arabe que faz dele um alvo de longa data da Organizacao Sionista e do Imperialismo lanque, que esperam somente o momento de poder destrogar aquele heroico pais e seu povo, tal como fizeram com a Libia de Gaddafi Por isso se faz importante escrever sobre Hafez Assad, suas ideias, seu partido Baath e seus ideais inalienaveis de Unidade da Nagao Arabe para travar a guerra de libertacao contra o imperial-sionismo. DO COLONIALISMO OTOMANO E EUROPEU AO RENASCIMENTO ARABE A Repiiblica Arabe da Siria é um ponto estratégico entre o Oriente Medio e Préximo. Situ- ada na Costa do mediterraneo, esta préximo da encruzilhada entre Asia, Africa e Europa. Limita ao norte com a Turquia, ao leste com o Iraque, ao sul com a Jordania e a Palestina (atualmente Israel) e a oeste com o Libano e o Mar Mediterraneo. Para todos os analistas é um pais chave seja para a paz ou para a guerra naquela regiao. povo sitio foi parte — assim como muitos outros — do império otomano. E como tal, es- teve subjugado a dominacdo turca. Apés sua libertacdo entre fins do século XIX e inicio do XX, as nagées arabes ficaram progressivamente sobre a dominagao do colonialismo europeu. A Siria cairia sob 0 mandato francés a partir de 1920. Antes desse momento os sirios gozavam de um tettitério de 300.000 Km?. A Conferéncia de San Remo, em abril de 1920, divide, sem qualquer consulta popular, esse territério. Essa decisdo é tomada pelos govemos inglés e francés que anexam Bekaa ao Libano. Com um traco de lapis sob um mapa, Georges Clemenceau refaz as fronteiras do mundo arabe e elimina para sempre a Grande Siria, o pais Bilad Cham. Que a altura do dominio otomano incluia o Libano, a Palestina e parte da Transjordania até Mossoul Durante os 21 anos de mandato francés a resisténcia nacional jamais cessou. Durante a primeira guerra mundial, em decorréncia dos terriveis sofrimentos infiigidos aos sirios pelos turcos, os primeiros decidiram aliar-se aos britanicos e também aos franceses. Mas eles seriam traidos. Em margo de 1920, a reinvindicagao do Congresso Nacional Sirio da independéncia de Bilad Cham se vé frustrada pelo mandato. O emir Faisal, lider dos nacionalistas arabes, é derro- tado em Khan Meyssaloun pelas tropas europeias, refugiando-se em Bagda, onde se faz procla- mar rei, em 21 de agosto de 1921. Quatro anos depois os combates recomecam em Damasco. A Siria é dividia em pequenos estados e duas tentativas de constituintes sao dissolvidas. Uma feroz represséo colonialista se abate contra as revoltas nacional-libertadoras. Tudo para fazer fracassar 0 projeto da Siria livre. Nada funciona. A chegada ao poder do governo de Fren- te Popular, apoiado pelo Partido Comunista, na Franga, acelera a independéncia siria. Porém, 0 tratado franco-sirio, de 1936, € rejeitado pelo parlamento. Ea luta antifascista de libertacao nacional durante a segunda guerra mundial — essa enorme guerra de guerrilhas internacional, cujo epicentro so as forcas da alianga operario-camponesa, e que também envolve 0 povo sirio — que dara a liberdade para esse pais. Em junho de 1941, as forcas francesas livres e aliados britanicos adentram na Siria para neutralizar o governo de Vichy na regio, aliado dos alemaes. Manifestacdes populares pela independéncia tomam todo pais. Esta € proclamada pelo general Catroux, em 27 de setembro de 1941, em nome do Comité Nacional de Libertagao. Chouki Al-Kouatli ¢ eleito o primeiro presi- dente da Republica Siria, em 1943, e os franceses constituem divisdes especiais com soldados sirios e libaneses. Mas 0 poder nao foi transmitide de imediato das mos dos colonialistas franceses para a das autoridades legitimas nativas. A Siria, que, em 22 de marco de 1945, participara da funda- 40 da Liga dos Estados Arabes, continuava submetida. A politica dos imperialistas de utilizar dos recursos alimenticios para abastecer as suas tropas especiais de ocupagao no periodo cri- tico do segundo pés-guerra criou uma situagao de fome entre o povo, desencadeando a revolta anticolonial do comego de 1946. As forgas francesas foram forgadas a se retirar, em 17 de abril. Antes haviam bombardeado Damasco, entre 29 e 30 de maio do ano anterior, porém, o movi- mento daquele ano foi uma verdadeira revolugao popular, contra a qual o imperialismo francés debilitado e comprometido no massacre do Vietna nao pode combater. Na Siria independente a luta nao cessaria Para toda uma geracao de jovens estudantes e ativistas sirios, entre os quais se incluia © jovem estudante secundarista de Lataquia, nascido em outubro de 1930, Hafez Al-Assad, a verdadeira independéncia ainda estava por vir. Eles acreditavam que para varrer de vez as estruturas coloniais, e evitar que o pais fosse condenado a ser uma neocolénia era necessario combater o imperialismo das grandes empresas estrangeiras, derrubar feudalismo e 0 poder dos grandes capitalistas locais, entregando o poder ao povo, que compreendiam como 0 gros- so da nagdo, os camponeses, operarios e os pequenos comerciantes. E sob esse ideario que nascera o Baath. O nacionalismo arabe fermenta na cultura do pais durante os conturbados anos trinta, inspirando uma série de intelectuais progressistas. Durante 0 processo de independéncia do inicio dos anos quarenta a ideologia do Ressurgimento (Baath ou Baas) é um desdobramento logico. Seus principais inspiradores sero Zaki Al-Arzouzi, Michel Aflak e Salah Bitar. Segundo Lucien Bitterlin, estudioso dos assuntos drabes e biografo de Hafez Al-Assad, os baathistas acreditavam que: “Para resistir ao invasor, era necessério a unido entre os arabes. Ao nacio- nalismo sirio, uma outra dimensao se acrescentava, a do arabismo. Que se manifesta cada vez mais nos discursos. Assim como outros arabes vivendo sempre sob ocupacao estrangeira na Africa do Norte, no lémen, nos Emirados, e que a Liga Arabe fundada em 22 de margo de 1945, composta de sete paises, incluindo a Siria, tinha por objetivo ‘coordenar suas politicas e defender de todos os modos sua independéncia e soberania contra toda agressao’. Se a Siria tornou-se independente, a Palestina com o qual seu destino sempre esteve ligado, por sua vez tinha como rotina diaria enfrentar a realidade da chegada macica dos sionistas. Partido Baath Arabe realizou seu primeiro congresso no Café El Rashid, na rua 29 de maio, em Damasco, em abril de 1947. Esse congresso formulou uma constituigao da ideologia Baath baseada nos principios de unidade, liberdade e socialismo. No inicio dos anos cinquen- ta 0 Partido se funde ao Partido Socialista Arabe, transformando-se no Partido Baath Arabe Socialista. Em sua constituigdo encontram-se trechos como “A politica externa se inspira nos interesses do nacionalismo arabe... Lutam os arabes com todas as suas forgas para... suprimir todo poder politico ou econémico estrangeiro em sua patria...” e *...a riqueza econémica é pro- priedade da Nacdo... A exploragao do esforgo do préximo € proibida... A propriedade agricola é limitada... submetida a inspegdo do Estado e devera estar em harmonia com o seu plano eco- némico total... Deverdo colaborar os trabalhadores na administragao de suas empresas... Eles receberdo, além de seus salarios, uma parte dos lucros..."#1 Hafez Al-Assad estava entre os jovens militantes do Baath. Sua militancia era combativa @ reconhecida por todos os estudantes de Lataquia. Ele define assim as razdes que o levaram a se engajar na atividade militante: “O que me conduziu a militancia antes de 1952? Constatar a realidade de uma nacao arabe que sofria com a guerra e com dificuldades interiores. Uma parte da nossa nagao arabe, a Palestina, estava ocupada (...) Consideravamos que ela era conseqil- éncia direta da desastrosa situaco interior que suportavamos e de todos os males que atingiam a patria arabe. Aquela realidade possibilitou, de fato, aos sionistas a invasdo da Palestina, Era meu habito dizer, quando estudante, que o doente de tuberculose ou cancer nao poderia ser um combatente. Ele no poderia se mostrar forte se a sua forca fisica estava debilitada. Ele precisava ter cuidado antes de tudo. Era nosso caso. Nos éramos fracos e para vencer era preciso ser forte. “Os problemas econémicos se mostravam graves, acarretando o surgimento de uma populacdo de explorados. Os camponeses viviam miseravelmente, trabalhando terras, [2] O terme Baath ou Baas, variando de acardo com a transitoragao, significa ressurgimento [3] Lucien Bittorin. Hafez AL-Assad ~0 Porcurso de um ombaionte, Edicao de 1996, pagina 28 [4] Obra Citada pagina 30 que nao Ihes pertenciam e recebendo por isso salarios insuficientes. A maioria das criangas no freqientava a escola. (...) A administragao estava em maos feudais e a mentalidade era colonialista."t5! DA DITADURA SEMICOLONIAL DOS FEUDAIS E GRANDES CAPITALISTAS A RE- VOLUGAO DE 08 DE MARCO DE 1963 Apés a independéncia de 1946 0 regime que imperou no pais foi um semi-colonialismo governado por feudais em alianga com os grandes capitalistas. Partidos como o Partido Nacio- nal, o Partido do Povo e os Irmaos Muculmanos eram os mais influentes. Todos eles estavam preocupados com a manutengdo de seus interesses econémicos privados. Mas logo todos os partidos seriam postos na ilegalidade, pois o sistema eleitoral da Republica nao tinha um fun- cionamento real, sucedendo-se as proclamagées militares que levavam ao poder, hora um, hora outro lider militar. Essa a realidade siria durante o principio dos anos cinquenta. Enquanto isso, no Egito, em 1952, um grupo de oficiais do Exército leva o rei Faruk a ab- dicar. No ano seguinte, um jovem coronel, Gamel Abdel Nasser, assume a chefatura do Estado e das forcas armadas. Eleito presidente da Republica do Egito, com mais de 90% dos votos, em 23 de junho de 1956, Nasser nacionalizaria o canal de Suez, fundaria, com 0 apoio dos baathis- tas a Repiblica Arabe Unida (unificagao entre as republicas de Siria e Egito), travaria a guerra de 1956 contra o imperialismo tripartite (inglés, francés e israelita) e se tornaria um simbolo da Unidade Arabe. Entre 1946 e 1963 a dominacdo feudal-burguesa pouco ou nada contribui para a libertacdo da Siria, O imperialismo anglo-francés decadente é substituido pelo americano, que em unidade com o Estado de Israel explora ferozmente os povos arabes pretendendo monopo- lizar seus recursos hidricos (0 projeto de barragem sobre o rio Hasbani no Libano). rapido interregno de unidade arabe sirio-egipcia (a RAU sé sobrevive entre 1958- 1961) é completamente corroida pela sabotagem das elites sirias, que perseguem os baathistas 0 Partido Comunista da Siria, e a incapacidade dos nasseristas de superarem as formas buro- craticas de unidade arabe e apelarem a classes operdria e camponesa siria e a sua intelectuali- dade progressista. Como consequéncia crescem as forcas conservadoras. Elas iriam se apoiar num golpe de Estado desencadeado por oficiais de Damasco para romper com a RAU Hafez Al-Assad, entdo oficial da forca aérea da Republica Arabe, em treinamento no Cairo, retorna a Siria junto a outros jovens oficiais baathistas, como Mustafa Tlass. Eles iriam liderar, em 08 de margo de 1963, a revolugdo contra a ditadura neocolonial, feudal-burguesa e anti-unitarista reinante do pais. Era tal a extensdo da influéncia baathista e 0 desejo do povo e da maioria das forgas armadas pela Unidade Arabe e 0 fim da situacao vigente no pais que a revolugao se deu sem derramamento de sangue. Logo se instituiu em Damasco o poder do Conselho Nacional do Comando da Revolu¢do, com a participacao de Assad, dirigido durante algum tempo por Louay Al Atassi e 0 governo sob a chefia de Salah Bitar. A LUTA PELA APLICACAO DOS PRINCIPIOS AVANGADOS DO BAATH E O MOVI- MENTO DE 23 DE FEVEREIRO DE 1966 A situagao intema na Siria pés-revolugao nao era facil. Setores “pré-egipcios” prepa- ravam um putsch. Os reacionarios ligados ao antigo regime trabalhavam para repor no poder as antigas classes dominantes a partir do exilio. Com pouco sucesso 0 novo governo tentava organizar uma federacao de Estados entre Egito, Siria e Iraque!*1A crise interna e as tensdes geopolitics externas desencadearam manifestagdes populares contra o novo regime. Na maio- ria das vezes essas manifestacdes tomavam carater religioso e fundamentalista. O general Amine Al-Hafez, designado para a chefia do ministério do Interior, consegue controlar a rebelido anti-baathista através de uma violenta represso. Logo ele se tornaria 0 principal representante das alas conservadoras do Partido. Desde sua fundaco 0 Partido Baath [5] Obra Citada paginas 35-36 [6] No Iraque as foryas baathistas chegariam ao poder om faveroiro do 1963, sendo deposias ainda naquele ano a s6 retornado 20 poder ‘ap0s a revolugao de 1968. seria fragmentado por lutas internas. Em setembro, o congresso do regional do Partido!”! havia lancado os fundamentos do da revolugao; reforma agraria, nacionalizacao gradual do comercio externo e da industria e desenvolvimento do ensino, da saude e da habitacao gratuitas. Antes, em 13 de maio, 0 governo revolucionario ja havia se decidido pela nacionalizagao dos bancos. Mas 0 predominio dos setores conservadores no novo governo, que tinham como modelo “a de- mocracia ocidental’, eam um tremendo obstaculo a realizacdo desse programa. Hafez Al-Assad ¢ Salah Jedid (general de artilharia) seriam os principais representantes da ‘ala radical’ — ma- joritéria nas bases, mas com pouca representacdo na cuipula do Partido —“(...) que considera e reafirma o socialismo como esséncia fundamental do nacionalismo arabe moderno, mesmo que ainda nao tenha realizado o socialismo cientifico em seus multiplos aspectos.""! Eles atuaram revolucionariamente nesse periodo, destacando-se como proeminentes lideres nacionais. Nesse periodo conturbado muitas nacionalizacdes serao realizadas pela ala radical a revelia do poder central e serao eles a realizar 0 movimento de retificagao de 23 de fevereiro de 1966, Noinicio do ano de 1966, em meio ao avanco da crise, com a crescente repressao contra as massas trabalhadoras, os métodos burocraticos de decisao no partido, que nao correspon- diam ao interesse e opinides das bases, e sob 0 risco de uma contrarrevolucao aberta, Assad © outros elementos da ala radical desencadeiam o levante que pée fim a ditadura da ala direta, formando um novo governo sob a direcdo de Youssef Zouyen, Nouredin Atassi, Salah Jedid, com Hafez Assad como ministro da Defesa Durante os anos subsequentes a Reptiblica Arabe da Siria e o Partido Baath avancarao enor- memente na realizagao do programa democratico e popular da revolugao siria. Assad justifica- ria assim a necessidade do movimento de 23 de fevereiro: “Antes da revolugao, falavamos de nossas dificuldades, dos sofrimentos enfrentados pelo povo, das causas de suas infelicidades, de suas esperancas. Nos discutiamos tudo que era preciso fazer para atender as aspiragdes das massas que confiavam em nés, tanto no plano civil como no militar. Depois da revolucao, precisamos agir de acordo com nossas promessas. Nos referiamos ao socialismo a propésito da situaco econémica e atribuiamos ao feudais e aos capitalistas a responsabilidade pelos sofrimentos do povo. Depois da revolugao, era preciso colocar um ponto final as atividades ne- fastas desses feudais e capitalistas. Ora, a concepcao de direita estava em contradicao com as exigéncias desse periodo ‘pés-revolucionario” !*1 OFENSIVA DO IMPERIAL-SIONISMO, AUMENTO DAS CONTRADIGGES NO CAMPO ARABE E A NECESSIDADE DO MOVIMENTO CORRETIVO DE NOVEMBRO DE 1970 (UM MOVIMENTO PELA UNIDADE ARABE) O movimento de 23 de fevereiro fez avangar a revolucdo siria, afastando a ala direita ¢ levando ao poder das forcas de esquerda que representavam os interesses dos operarios e camponeses sirios e de sua intelectualidade progressista. Ele triunfa, no entanto, em meio a uma enorme crise geopolitica na regio. O Estado de Israel, fundado apés a guerra de 1948, sob a égide da ideologia imperialista, colonialista, fascista e racista do sionismo nao tem preten- ‘s6es de limitar-se ao territerio que Ihe foi concedido pelas potencias imperialistas organizadas na ONU. Ele langaré seu brago armado sanguinario sobre novas dimensées do territério arabe durante a Guerra dos seis dias, em junho de 1967, Ocupando Gaza, a Cisjordania, o Golan, Kuneitra e 0 Sinai Sob 0 comando do ministro da Defesa, Hafez Al-Assad, o Exército Arabe da Siria, resistira com mais determinagao que qualquer outro, disputando bunker por bunker com o Exército israelita. Ele no poder, porém, contar com um equipamento bélico modero, nem com a solidariedade irrestrita de seus irmaos arabes. [71 No Baath, devido a sua cimnsde pan-arabe, os congrassos nacionaisenvolvom as afhistas de todos os paises arabes endo o partido ‘em atuacée, enguanto os congresses a nivel de cada pals s8o considerados congressos regions. Obra Gitada pagina 32 Obra Gitada pagina 66 Depois da derrota na Guerra dos seis dias as divergéncias entre as duas tendéncias no interior da Siria, a de Salah Jedid — defensora do fechamento do pais em si mesmo — ea de Hafez Al-Assad — partidaria da abertura para o mundo exterior e da maior aproximagao com os demais paises arabes — se intensificarao. Com os terriveis dias do Setembro Negro — guerra ci- vil, em setembro de 1970, entre o rei Hussein da Jordénia e as forgas do Exército de Libertagdo da Palestina, representantes dos refugiados palestinos, maioria no pais — a situa¢o do mundo arabe torna-se fragil Al-Assad, compreendendo o alcance dos desafios que se colocavam perante a Siria, chamada a desempenhar um papel de vanguarda na luta pela Unidade Arabe e a guerra contra © império sionista, desencadeia, em 13 de novembro de 1970 o movimento corretivo. Assume © poder definitivamente, afasta os isolacionistas, toma medidas de liberalizagao com relagao & pequena-burguesia siria, legaliza uma série de partidos progressistas e socialistas atuantes no pais (entre eles o Partido Comunista da Siria), formando com eles a Frente Nacional Pro- gressista e convoca a Assembleia Constituinte. De agora em diante a Siria tomaria com maior determinagao 0 rumo da Unidade Arabe e aproximar-se-ia da Unido Soviética, e dos demais paises socialistas A liberalizagéo da pequena-burguesia siria nao pode ser entendia jamais como aban- dono dos ideais socialistas. Pelo contrario, apés 0 movimento corretivo, a industria nacionali- zada se desenvolveria através de formagao de agéncias setoriais. Estabelecer-se-ia um plano de eletrificagao do pais de acordo com o primeiro plano quinquenal unico de toda economia Formar-se-iam cooperativas agricolas. E o pais caminharia a passos largos para a transico da condigao de um pais agrario a um pais industrial. REALIZAR A UNIDADE ARABE; IDEAL DO PRESIDENTE HAFEZ AL-ASSAD, TARE- FA IMPERIOSA DA LUTA ANTI-IMPERIALISTA DOS POVOS Durante toda a sua vida de combates o presidente Hafez Al-Assad defendeu o ideal da unidade arabe para lutar por sua libertag4o nacional. Ele nunca abdicou do projeto de formagao de um Estado palestino. Travou intimeras guerras contra o Estado de Israel. E jamais dissociou 0 seu arabismo dos ideais de socialismo e democracia. A geopolitica do mundo arabe sempre foi muito dificil. As constantes agressées sionistas, o predominio de Estados confeccionais, feudais e titeres, no mundo arabe deixaram por realizar o ideal da Unidade Arabe. Essa bandeira deve ser defendida por todos os povos. AUnidade da Nac&o Arabe, a libertagao da palestina, a destruicdo do sionismo de Israel so tarefas internacionalistas dos comunistas. Elas so poderao ser levadas até o fim sobre a diregdo do proletariado arabe, em alianga com os camponeses arabes e dirigindo uma ampla frente nacional nica de todas as classes interessadas no aniquilamento do imperialismo esta- dunidense-israelense na regio. A situagdo dos povos arabes tem se agravado. As manobras e agress6es do imperialis- mo contra esses vém se agravando na ultima década, desde a destruic¢ao do Iraque de Saddan Hussein, até ao ressente assassinato brutal do valente corone! Muammar Al-Gaddati e o esma- gamento da Libia pela OTAN. A Siria de Bashar Al-Assad permanece um posto avangado de resisténcia anti-imperialista. E preciso ampliar a solidariedade a esse pais e a seu governo legi- timo contra a agao dos mercenarios do ELS. A Unido Reconstrugao Comunista conclama todos 0s combatentes anti-imperialistas a defenderem a Siria laica, soberana e anti-imperialista. Vitéria para Republica Arabe da Sirlal Vitéria para Bashar Al-Assad e todas as organizagées anti-imperialistas sirias! Pela realizacao da Unidade anti-imperialista da Nacao Arabe! [10] Ver oinleressanie eatude publicade pelo Ministerio das Informagee da Replibica Arabe da Siria, em 1973, sobre a situacée econémica do pais inttulado, A Siria de Hoje “Hafez Al-Assad e a Unidade da Nacao Arabe" “O PC das Filipinas sobre o Maoismo, a Revolucdo Democratica, China, o mundo atual bE) [Re etait ihe BENE NON) Cin Cte eto Le cE Wesel eu ce Seip ORt NOMS ORAS Pic Rata SiCes Gin coe Kent Cone cIe oles enc eo ieee iar Moir Glico ten leis tifico;| 0) papel da luta armada\revolucionaria dirigida pelo) Partido|cComunista em seu pais) CoO en ROC eee mee lec Mundial; e/sobrea situacao|internacional|mar= Geer clo coat ua CMCC ctu Tialismoje alascensao|de|novas potencias no CScEacoirs es a ‘Conforme as previses feitas pelo)PCF, Contin asics ean corona th Gita\etapa do, equilibrio estr ategico\da Guer- fa Popularnos proximos|cinco ou seis anos) Glen) einer (pete Gal Ola Boles Clo Drove ek citete) xe THe estou eless CoG) ce) eure eie tes (Sei) Cuan ste on oman ae tl Geitkeloeenait ceo Gilties Oe Mucacics Chniilites eso Come Clo teem Gimisey CO ecto nero Ce bac Piea . \ Giese tiie eet aD) | 1 Agradecemos ao\camarada Jose Maria Be Bsa guests alse cates J Wem ele ale hy uaa Go Ine es MEMS suite pete te eS eoar SGU shy oo ‘ Comets neo COC ane \ Pete es Sune Cen eM a i Cional contemporaneo! —— 5 cael > a “O Maoismo desenvolveu todos os principais componentes do Marxismo e do Leninismo. (...) 0 que da ao Maoismo a caracteristica de ser a terceira etapa no desenvolvimento da teoria e da pra- tica revolucionaria do proletariado é a teoria e a pratica de Mao de se continuar a Revolugao sob a ditadura do proletariado por meio da Grande Revolugao Cultural Proletaria, para se combater 0 revisionismo, evitar a restauragao capitalista e consolidar o socialismo”. (José Maria Sison| Nova Cultura: Qual a sua posigao em relacao ao Pensamento Mao Tsé-tung ou Maoismo? Existem grandes diferencas entre tratar as contribuicgdes teoricas aportadas por Mao a teoria do socialismo cientifico como “Pensamento Mao Tsé-tung” ou “Maoismo”? No que consistiria tratar 0 Maoismo como a “terceira etapa” no desenvolvimento da teoria da pratica do proletariado? 0 Maoismo entraria em contradigao com aportes dados por outros tedricos do socialismo, como o Presidente Kim II Sung com sua Ideia Juche? José Maria Sison: Nao ha diferencas, em termos de conteudo, entre o Pensamento Mao Tsé- Tung e 0 Macismo. Quando o Partido Comunista das Filipinas (PCF) utilizou o termo Pensamen- to Mao Tsé-Tung em 1969, todas as principais contribuigées tedricas e praticas do camarada Mao estavam englobadas. Também as mesmas estavam englobadas na outra palavra, Mao- ismo, utilizada pelo PCF no inicio da década de 1990. O termo Marxismo-Leninismo-Maoismo envolve, simultaneamente, continuidade e avango. A estética do termo “Maoismo” é simétrica e “Marxismo" e “Leninismo”. O Maoismo desenvolveu todos os principais componentes do Mar- xismo e do Leninismo. Na filosofia, Mao explicou a dialética materialist aplicada por Marx em O Capital e sistematizou e desenvolveu a referéncia de Lenin a lei da unidade dos contrarios como a lei fundamental do materialismo dialético. Anteriormente, Engels havia elaborado as trés leis da contradigao e Lenin focou em combater o empiriocriticismo. Na economia politica, Mao desenvolveu a critica do capitalismo de Estado até o capitalismo burocratico de Estado nos paises dominados pelo revisionismo e desenvolveu a pratica e a teoria da revolugao socialista como ja se fazia na construcao socialista da Unido Soviética. Ele elaborou e desenvolveu as relacées entre a produgdio e a superestrutura no longo periodo de transigao do socialismo para a sociedade sem classes. No socialismo, ele apontou a luta de classe do proletariado contra a burguesia como a chave em todas as lutas de massas para avangar para a revolugdo socialista. Apontou o movimento de retificagao como o caminho para corrigir os erros, e manter e fortalecer a integridade e a efetividade partidarias. Ele desenvolveu a linha estratégica da guerra popular prolongada como © caminho para os povos dos paises subdesenvolvidos destruirem o poder do imperialismo ea reagao e conquistarem a libertagao nacional e social. Porém, o que da ao Maoismo a caracteristica de ser a terceira etapa no desenvolvimento da teoria e da pratica revoluciondria do proletariado ¢ a teoria e a pratica de Mao de se continuar a Revolugao sob a ditadura do proletariado por meio da Grande Revolugao Cultural Proletaria, para se combater 0 revisionismo, evitar a restauracao capitalista e consolidar o socialismo. 0 Maoismo nao entra em contradico, mas, ao contrario, engloba 0 principio e a pratica da autossuficiéncia da Ideia Juche de Kim ll Sung. Pode também englobar certas particularidades € principios do socialismo cientifico de acordo com as diferentes circunstadncias e situagdes his- toricas. E um dever constante de todos os partidos comunistas e operarios integrarem a teoria com a pratica conereta nas diferentes situacdes. Nova Cultura: No Brasil, as teses de Mao Tsé-tung a respeito do capitalismo burocratico foram pouco estudadas. Vocé poderia explicar 0 que é 0 capitalismo burocratico e como ele se manifesta, nos dias de hoje, nos paises oprimidos pelo imperialismo? José Maria Sison: © capitalismo burocratico significa simplesmente a corrupgao dos funciona- rios que utilizam o Estado para realizarem a acumulagao privada do capital por eles mesmos, suas familias e asseclas. Pode envolver o investimento direto de capital estatal ou de privilégios do Estado em seus negocios privados. Pode envolver também o estabelecimento e a utilizagao de companhias estatais que beneficiam os capitalistas privados de maneira direta. Os funcionarios do governo do Estado burgués (ou de Estados revisionistas) s4o representan- tes e funcionarios da burguesia. Os funcionarios de altos cargos s4o com frequéncia membros da grande burguesia, e frequentemente também identificados como capitalistas burocraticos. Estes altos capitalistas burocraticos recrutam seus agentes politicos e tecnocratas esclarecidos entre a intelectualidade da pequena burguesia urbana. Tais intelectuais também se tornam ca- pitalistas burocraticos ao subirem na hierarquia burocratica e acumularem agées privadas em forma de capitais e terras por meio de praticas corruptas. Nova Cultura: Sabemos que o sistema latifundiario é uma das principais caracteristicas dos paises subdesenvolvidos. Como se encontra, nos dias de hoje, a situagao agraria nas ilipinas? Como, nas Filipinas, a sobrevivéncia do monopélio semifeudal da terra se rela- ciona com a situagao de seu pais como semicolénia do imperialismo norte-americano? José Maria Sison: A economia fiipina é ainda subdesenvolvida, agréria, pré-industrial e sem feudal. O campo é ainda dominado pela classe latifundiaria, enquanto as cidades so domina- das pelos grandes capitalistas compradores. Os latifundiarios so ainda a classe exploradora mais numerosa, e 0 campesinato é a classe explorada mais numerosa e difundida pelas Fili- pinas. Os latifundiatios sao proprietarios da maior parte das terras produtoras de arroz, milho, aguicar, tabaco, ou mesmo como proprietarios estrangeiros ou domésticos de plantagdes que produzem abacaxi, banana, dendé e borracha. Os grandes capitalistas compradores so os principais agentes comerciais e financeiros das fir- mas monopolistas estrangeiras, e s4o os mais ricos e poderosos da sociedade semifeudal. Eles mesmos so, com frequéncia, grandes latifundiarios que garantem o controle das exportagdes agricolas em suas mos. Assim, a nata da classe dominante é com frequéncia conhecida como a grande classe compradora-latifundiaria. E esta classe que domina a atual economia semifeu- dal, em contraste com a dominaco muito maior que possuia a classe latifundiaria na anterior economia feudal do século XIX. Foi o regime colonial norte-americano que iniciou a economia semifeudal e colocou a grande bur- guesia compradora na posicao dominante entre as classes dominantes nativas e os mesticos no inicio do século XX. Na época em que os Estados Unidos mudaram sua forma de dominagao de colonial para semicolonial em 1946, a classe dominante compradora-latifundiaria se consolidou ainda mais. Tornou-se ela a principal lacaia dos Estados Unidos e seus agentes politicos. Nova Cultura: © Partido Comunista das Filipinas possui como um dos componentes de sua linha politica a realizacao da nova Revolucao Democratica por meio da Guerra Popu- lar Prolongada, onde o poder politico das massas é construido por meio da luta armada prolongada, em meio ao cerco do poder reacionario do velho Estado burgués. Quais medidas 0 Partido Comunista das Filipinas toma nas regides libertadas, onde o mesmo ja esta a frente de toda a vida politica, econémica e cultural? Como elas sao capazes de se sustentar de maneira prolongada em meio a ofensiva armada do velho Estado? Qual 0 alcance do poder politico vermelho nas Filipinas? Quais as perspectivas para a expansao das regides libertadas? José Maria Sison: A linha geral do Partido Comunista das Filipinas é a conclusao da revolugdo democratico-popular através da Guerra Popular Prolongada contra o imperialismo norte-ameri- cano e as classes exploradoras locais de grandes capitalistas compradores e latifundiarios. Seu objetivo politico ¢ a conquista da libertacdo nacional, o estabelecimento do Estado democratico- popular, e a passagem para a Revolugdo socialista. Seu objetivo econémico é levar a cabo e concluir a reforma agraria, a industrializacdo do pais, e desenvolver uma industria socialista e “Foi o regime colonial norte-americano que iniciou a economia semifeu- dal e colocou a grande burguesia compradora na posigo dominante en- tre as classes dominantes nativas e os mesticos no inicio do século XX. Na época em que os Estados Unidos mudaram sua forma de dominacao de colonial para semicolonial em 1946, a classe dominante compradora- latifundiaria se consolidou ainda mais. Tornou-se ela a principal lacaia dos Estados Unidos e seus agentes politicos.” cooperagao agricola. O objetivo cultural ¢ desenvolver uma cultura e educagao nacionais, cien- tificas e de massas. O PCF é 0 destacamento avangado da classe operaria e dirige a revolugao. Constréi suas cé- lulas em fabricas, fazendas, escolas, escritérios e bairros. O Partido construiu o Novo Exército Popular como a principal organiza¢o para derrotar o inimigo e derrubar o sistema dominante. Construiu também organizacdes de massa abertas e clandestinas de operarios, camponeses, jovens, mulheres, pequenos funcionérios, ativistas culturais, etc. A Frente Democratica Nacio- nal agrega as forcas revolucionaria clandestinas na frente unica. Até a construgao do governo democratico-popular, orgaos locais do poder politico estao sendo estabelecidos. As forgas populares e revolucionarias levam a cabo a genuina reforma agraria e transformam atrasados povoados em bastides econdmicos, sociais e culturais da Revolugao. Apesar das crescentes campanhas de repressao militar do inimigo, 0 movimento revolucionario armado tornou-se forte por meio da integragao entre a lideranca partidaria, a luta armada e a constru- 0 das bases de massa. O poder politico vermetho existe atualmente em mais de 110 fronts guerrilheiros, englobando milhdes de pessoas em partes substanciais de 71 das 81 provincias, das Filipinas As perspectivas e planos do movimento revolucionario so 0 avango da atual etapa da defen- siva estratégica da Guerra Popular para a etapa do equilibrio estratégico da Guerra Popular, aumentando para 180 0 numero de fronts guerrilheiros, a militincia do PCF para 250 mil, o numero de combatentes vermelhos com rifles automaticos para 25 mil, aumentar em milhdes 0 numero de pessoas filiadas as organizacdes de massa, e fortalecer os orgaos do poder politico aniveis distrital, municipal e provincial. Nova Cultura: Ainda ha a atuagao de organizagées revisionistas nas Filipinas? Quais in- fluéncias as mesmas possuem entre as massas? Como é arelacao do Partido Comunista das Filipinas com tais organizagées revisionistas? José Maria Sison: O partido revisionista, atualmente, se autodenomina PKP-1930. Acabou por se tornar um grupo pequeno e inconsequente como resultado dos ataques ao anti-revisionismo e do reptidio ao partido Maoista desde a década de 1960. O mesmo fracassou em dissimular sua fama como lacaio da camarilha revisionista soviética durante a década de 1960 e por haver capitulado abertamente a ditadura fascista de Ferdinand Marcos em 1974. Nao possui nenhuma influéncia de massas relevante. Sua principal atividade consiste em participar de conferéncias revisionistas no exterior visando caluniar e demonizar o Partido Comunista das Filipinas, o Novo Exército Popular e a Frente Democratica Nacional. O PCF rechaga firmemente os revisionistas a cada vez que eles nos atacam Nova Cultura: Sabemos que, apés a morte de Mao Tsé-tung, em 1976, chega ao poder do Partido Comunista da China uma ala de direita, liderada por Deng Xiaoping, que da inicio a uma série de politicas chamadas pelo governo chinés de “reformas e aberturas”. A chegada dessa linha ao poder representou o fim da Revolugao Cultural ¢ 0 inicio da restauracao capitalista. Vocé concorda com a ideia de que a China seria atualmente um pais imperialista ou que, mesmo com todas as mudangas, ainda desempenha um papel positivo na arena internacional? José Maria Sison: De fato, a contrarrevolugo denguista resultou na restauragao do capitalis- mo na China e em sua integragao no sistema capitalista mundial. De acordo com a definigao classica de Lenin sobre o imperialismo moderno, a China pode ser qualificada como imperialis- ta. Os monopélios capitalistas estatais e privados se tornaram dominantes na sociedade chine- sa. O capital bancario e industrial se fundiram. A China esta exportando capital excedente para outros paises. Suas empresas capitalistas se unem a outras empresas capitalistas estrangeiras para explorar a mao de obra chinesa, os paises do terceiro mundo e o mercado global A China conspira e compete com outras poténcias imperialistas para expandir seu territério econémico, como fonte de mao de obra barata e matérias primas, esferas de investimento, mercados, pontos de vantagem estratégica e esferas de influéncia. Contudo, a China nao se envolveu ainda numa guerra de agressao para conseguir uma colénia, semicolénia, protetorado ou pais dependente. Nao é um pais ainda muito violento na luta pela redivisdo do mundo entre as poténcias capitalistas, como os Estados Unidos, Japao, Alemanha e Italia. E a contengao da China contra outras poténcias imperialistas mais saqueadoras e agressivas que pode ser, de alguma maneira, util aos movimentos revolucionarios de maneira objetiva e indireta. A China possui um papel ilustre no bloco econémico BRICS e na Organizacao de Cooperacao de Xangai muito além do controle norte-americano. Nova Cultura: Alguns paises latino-americanos, como Venezuela e Bolivia, passam por pro- cessos de transformacées politicas que promovem a afirmacao da soberania e aprofundam as contradicdes com o imperialismo norte-americano. No caso venezuelano, o governo bo- livariano fala até mesmo em transi¢ao ao socialismo. Como vocé avalia tais processos? José Maria Sison: As politicas da Venezuela e Bolivia que sejam antiimperialistas, garantam a independéncia nacional, promovam reformas sociais e aspiragées socialistas s4o admiraveis merecem apoio. As mesmas causam golpes contra a hegemonia imperialistas e criam oportu- nidades para 0 avango do partido revolucionario do proletariado e das massas populares. Mas @ de se duvidar que as atuais liderancas venezuelanas e bolivianas, bastante amadas e admi- radas, possam levar a cabo uma Revolugdo socialista sem derrotar a resisténcia violenta dos imperialistas e reacionarios locais. Nova Cultura: A crise da Siria foi um tema que ganhou muito realce no ano de 2013 como decorréncia das manobras do imperialismo norte-americano para desencadear uma in- tervengao direta contra aquele pais. Como é sabido, essas manobras foram barradas por uma conjuntura internacional desfavoravel. Que papel jogaria, em sua opiniao, a ofensiva contra a Siria na politica de dominacao global dos EUA? E como a derrota sofrida abala as posigées da principal poténcia imperialista na geopolitica mundial? Qual o significado da cooperacao entre China e Russia para barrar um intento de guerra por parte do gover- no americano? José Maria Sison: China e Russia fizeram manobras significativas dentro e fora do Conselho de Seguranga da ONU para impedir os EUA de bombardearem a Siria e iniciarem uma guerra regional. Apoiando a independéncia nacional da Siria, assim como do Ira, elas ganham prestigio entre os Estados do terceiro mundo. Assim, elas ganham peso nas negociagdes com os Esta- dos Unidos e outras poténcias imperialistas em termos de contengéo interimperialista, assim como de colaboragao. A anulagdo da guerra como resultado da diplomacia da Russia e China contra os EUA ¢ bem- vinda. Ao mesmo tempo, é uma visdo da Siria e do Ira permitir que os EUA e seus agentes en- trem livremente em seus territérios para inspecionar locais de atividades quimicas e nucleares. Também, nao € improvavel que algum dia os EUA e seus aliados bombardeiem a Siria e 0 Ira pelo fato de os mesmos nao cumprirem seus acordos. Acordes com os EUA nao tornaram a lugoslavia, Iraque e Libia imunes a agressao norte-americana Em seu documento de fundagao — O Desenvolvimento da Luta Revolucionaria Exige uma Nova Postura dos Comunistas -, a Unido Reconstrugao Comunista afirma seu objetivo central de lutar para reconstruir 0 Partido Comunista do Brasil (destruido pela agao do oportunismo de direita e de esquerda, do revisionismo! internacional e da repressdo anticomunista) sob a base ideolégica do Marxismo-Leninismo elaborado por Marx, Engels, Lenin, Stalin e Mao. Diante do Marxismo-Leninismo, pois, o que se entende, primeiramente, por Marxismo? © Marxismo é a ciéncia, a vis4o de mundo da classe operaria. Marx e Engels reelabora- ram criticamente tudo 0 que de mais avangado foi produzido no terreno da economia politica, do socialismo e da filosofia, combatendo todo idealismo, toda metafisica, toda beatice, toda su- perstigao e utopismo presentes em tais campos, e pondo a economia politica, 0 socialismo ea filosofia sobre bases cientificas. Por meio da critica as “trés fontes constitutivas!, a economia politica, o socialismo e a filosofia, chega-se a uma concepcao de mundo global e cientifica que manifesta os fins gerais do desenvolvimento da humanidade, que nao € sendo o da constituigao da classe operaria enquanto partido politico, da derrubada da sociedade burguesa por meio da Revolugdo violenta da classe operaria e 0 consequente fim da exploragao do homem pelo ho- mem, e da conquista da sociedade sem classes, a sociedade comunista: concepcao esta que atende pelo nome de Marxismo Em face da situagdo atual, onde o revisionismo (explicar em nota) a nivel doméstico e interacional deturpa os principios elementares do Marxismo como maneira de justificar suas praticas degeneradas, faz-se necessario entender de maneira cabal o que é, de fato, o Marxis- mo: sua origem, seu método, os fins gerais que decorrem de seus principios e a necessidade de 0 assumirmos como ideologia diretriz para levarmos a cabo, corretamente, a Revolugao Proletaria em nosso pais. 1) ANECESSIDADE HISTORICA DO SURGIMENTO DO MARXISMO O Marxismo, pelas necessidades praticas as quais atendeu e pelo contexto no qual sur- giu, € fiho das grandes lutas da classe operdria do século XIX. Numa época das decisivas batalhas da classe operaria contra seus opressores, tornava-se cada vez mais necesséria a existéncia de uma teoria cientifica que explicasse os porqués sobre a existéncia das lutas ope- ratias, a miséria dos operarios, e em qual caminho necessariamente desembocaria a luta da classe operdria por sua libertacao. Marx e Engels nao foram os primeiros a ir a pratica e a teoria da luta da classe operaria, a pensar os caminhos para a derrubada da sociedade burguesa e a construgao do comunismo. Antes mesmo de Marx e Engels, houve grandes socialistas que se propuseram a mesma tarefa. Ja no século XVI, quando no seio da desintegragao do feudalismo surgia a incipiente econo- mia capitalista e o consequente embrido da contradicao entre a burguesia e a classe operaria, manifestagdes utopicas de uma sociedade idealizada — sem pobres e sem ricos, formada por individuos iguais — ja apareciam em socialistas como Thomas Moore. Outros socialistas como Robert Owen, Saint-Simon, Charles Fourier, etc. professavam um socialismo limitado, abstrato, mas nao menos genial por conta disto. Ao contrario, Owen, Saint-Simon, Fourier etc. estiveram A frente de suas épocas no que diz respeito ao entendimento do socialismo e da necessidade de se conquistar uma nova sociedade livre da exploracao do homem pelo homem. Porém, como pGe o materialismo: ‘[...] a humanidade coloca diante de si apenas problemas que pode resol- ver, pois, rigorosamente, ver-se- que o problema so se apresenta onde ja existem, ou estéo em vias de existir, as condigdes materiais para resolvé-lo". (Karl Marx, Prefacio 4 Contribuigéo a Critica da Economia Politica) Diante de um contexto historico onde a contradig&o entre a classe operdria moderna e os capita- 1] Lenin, dgonte da Revolx30 Socialite de Outubro na Russia, define o revsiorismo como sendo uma ‘corrnts hosti a0 Marxism no Seio do proprio Marxism”. Nuria epeca onde o Marxismo i rechagou todas as correntes das socaistas que hes eram hes, estas passam a atuar sob a mascara de Marista com o fim da, deturpar @ obscurecer seus principios @ converté-l, na pratica, numa teoria oposta a0 Marxsmo. Alualmente, ¢o “Parido Comunista do Gras" /PCdo8) principal representante do evsionismo em nosso pais. [2] Lenin, em sua fariosa obras Trés Fortes Conatituivas do Mandsmo, sistematiza o Marxsmo como sendo uma ciéncia apoiada, simul- ‘eneamente, em trés font: 0 socialsmo francés, a economia politica inglesa e flosofie lems, listas so de maneira embrionaria aparece (como nos séculos XVI, XVII e XVIII), contradigo esta rodeada ainda pelas numerosas sobrevivéncias do feudalismo e por uma classe trabalhadora de tipo artesanal, tipica do modo feudal de producao, somente de maneira embrionaria e limitada poder-se-a explicar a contradig&o entre a classe operaria e os capitalistas, bem como as formas de resolver tal contradicao. E entendivel, dessa maneira, que as teorias socialistas que antecederam o Marxismo ma- nifestassem as contradices de suas respectivas épocas. Ao lado de manifestarem também a contradi¢o pouco desenvolvida entre a classe operaria e a burguesia, manifestavam principal- mente as contradigdes das camadas médias que entravam em contradicdo com a ascensdo do capitalismo — a visao da insatisfacdo dos camponeses contra o desenvolvimento do capitalismo na agricultura, dos artesdos e pequenos produtores arruinados pela grande industria e forgados a se converterem em operrios despossuidos de meios de produgao -, que aparecem de maneira tesrica na reivindicagao de uma sociedade igualitarista, simples, rejeitando a modernidade e 0 desenvolvimento que tanto destroem a autonomia e a estabilidade da pequena producao. Tal era © socialismo manifestado por Thomas Moore em seu A Utopia, socialismo este gue pouco tinha de proletario, e muito mais ligado as reivindicagdes dos pequenos produtores da cidade e do campo. De todos os socialistas pré-Marxistas, foi Owen quem mais avancou na teoria ena pratica da aplicagao do socialismo. Sendo este habitante do pais capitalista mais desenvolvido da épo- ca—a Inglaterra —, teve particular contato com a exploragao e opressao sofridas pelos operarios da industria moderna, bem como suas reivindicagdes e formas de luta. Como bom reformador social — numa situagao em que o socialismo nao pretendia, ainda, derrubar o capitalismo por desconhecé-lo, e por nao haver aparecido uma atitude pratica que mostrasse a necessidade da derrubada da ordem capitalista —, Owen fundou, em 1800, na Escécia, a colénia operaria New Lanarck, que deu aos operarios uma situagao que nao se conhecia em qualquer outra empresa industrial da epoca: escola gratuita para os fihos dos operarios, atendimento médico gratuito, seguros, locais de trabalho dignos, jornada de trabalho de dez horas e meia (enquanto, nas outras, se trabalhava 14 horas diariamente) e salarios maiores que a média dos operarios da regio. Owen estabelecia, assim, em sua propria fabrica de tecidos, aquilo que se entendia por socialismo até entao, sem tocar nos lucros dos capitalistas, tampouco na prépria existéncia da propriedade privada. Ainda que a crise comercial da década de 1820 (que afetou 0 comércio algodoeiro na época) houvesse obrigado a fabrica New Lanarck a fechar por varios meses, os operatios da mesma continuaram a receber seus salarios e permaneceram com seus direitos garantidos. A experiéncia da colénia operaria New Lanarck terminou com a faléncia de Owen 1 Natural que tal faléncia viesse a aparecer, numa época em que o socialismo desconhecia as leis econémicas do modo capitalista de producdo, bem como a contradigao insoluvel que 0 capitalismo gera entre o carater social da produgao e a apropriaco privada de seus resulta- dos — que inevitavelmente engendra as crises econémicas -, impossibilitando o bem-estar da classe operaria nos marcos do capitalismo. Somente o Marxismo esclareceré que estara fadado a0 fracasso 0 socialismo que se propuser 4 construcao de uma nova sociedade sem mexer no lucro dos capitalistas e na propriedade privada sobre os meios de producao. Embora varie nas formas, o trago comum que se verifica em todos os socialistas ante- riores ao Marxismo é seu carater utdpico: o socialismo pré-Marxista criticava a sociedade bur- guesa, seus males e desgracas geradas pela mesma. Nao conseguia, porém, compreender a sociedade burguesa de forma global, cientifica, bem como as causas da miséria das massas. Nao compreendia que era a classe operdria — e no as camadas médias, como os artesaos e demais pequenos produtores rurais e urbanos ~ a classe mais avangada da sociedade, ligada a forma mais avangada de producdo social (a grande industria), e que a esta precisamente cabia a tarefa de derrubar o capitalismo e construir a nova sociedade livre da explorago do homem pelo homem. Na contramao de tal raciocinio, a cujo mérito de descobri-lo cabe precisamente ao Marxismo, os socialistas pré-Marxistas ndo se consideravam representantes ou dirigentes de uma classe determinada, mas “de toda a humanidade’. Sera o Marxismo quem primeiramente estabelecera de maneira cientifica a necessidade da libertacao da classe operaria como condi- [3] Verticar a obra Do Socialismo Utopico 20 Social'smo Cientifeo, de Friedrich Engels 0 para a libertagao de toda a humanidade. socialismo que antecedeu 0 socialismo de Marx e Engels inventava, criava uma socie- dade ideal em contraposigao a anarquia social e econémica da sociedade burguesa, sociedade esta que se baseava nos conceitos interiorizados de seus autores sobre “liberdade’, “igual- dade’. Ao contrario dos socialistas utépicos, sera o socialismo Marxista quem mostrar que a construcao da nova sociedade comunista ja nao mais se limita a ser mero desejo de individuos obstinados e bem intencionados, mas uma necessidade histérica imposta pelo desenvolvimen- to das grandes forcas produtivas sociais sob o capitalismo; uma necessidade candente diante do quadro onde o capitalismo, de sistema de produgo que enorme impulso deu ao desenvol- vimento das forcas produtivas, se torna agora um obstaculo para a expansao das mesmas. A tarefa histérica do Marxismo, dessa maneira, néo mais consiste em idealizar uma sociedade perfeita e ideal, como se fazia anteriormente, mas em estudar a sociedade sob o ponto de vista das forcas produtivas, identificando como as mudangas decorrentes na base econémica se ma- nifestam nas instituigdes, nas ideologias — enfim, na inteligéncia dos homens -, e demonstran- do, através de tal método, em qual caminho inevitavelmente desembocara a luta das massas populares contra seus opressores. Sobre isto, diz Lenin: "No ha a menor parcela de utopismo em Marx. Ele no inventa, no imagina ja prontinha uma sociedade ‘nova’. Ele estuda, como um processo de histéria natural, a génese da nova sociedade saida da antiga, as formas intermedi- 4rias entre uma e outra.” (Viadimir Lenin, O Estado e a Revolueao). E Marx: “[...] Numa certa etapa do seu desenvolvimento, as forcas produtivas materiais da sociedade entram em contradicao com as relagdes de producdo existentes ou, o que é apenas uma expresso juridica delas, com as relagdes de propriedade no seio das quais se tinham até ai movido. De formas de desenvolvimento das forcas produtivas, estas relacdes transformam-se em entraves. Ocorre entéo uma época de revolucao social. Com a transformacao do fundamento econémico revoluciona-se, mais devagar ou mais depressa, toda a imensa superestrutura. [...] Uma formacdo social nunca decai antes de estarem desenvolvidas todas as forcas produtivas, para as quais ¢ suficientemente ampla, e nunca surgem relacdes de producdo novas e superio- res antes de as condi¢des materiais de existéncia das mesmas terem sido chocadas no seio da propria velha sociedade.” (Karl Marx, Prefacio a Contribuieao a Critica da Economia Politica) 2) FONTES CONSTITUTIVAS DO MARXISMO Fica evidente que o Marxismo, enquanto ciéncia, desenvolve-se mediante saltos qualitativos, si- multaneamente, nas lutas das massas populares contra seus opressores eno desenvolvimento econémico das diferentes épocas. Seus principios sdo manifestagao tecrica das lutas da classe operaria contra o capitalismo e da inevitabilidade da Revoluc&o Proletaria, principios estes que abordaremos a seguir. 2.1) CONCEPGAO MATERIALISTA DA HISTORIA A partir do pensamento humano, ha muitas formas de enxergar a realidade. Nem todas, as formas, contudo, s4o corretas no sentido de apresentar na inteligéncia dos homens as coisas. tal como elas realmente so. O materialismo significa “teoria centrada na matéria’, ou “a materia como centro de tudo”. Em uma palavra, quer dizer enxergar a matétia como sendo a base, 0 de- terminante sobre a qual se erguem todas as outras coisas, inclusive o pensamento. Apesar de 0 Marxismo possuir 0 materialismo como base filoséfica, ndo foram Marx e Engels os primeiros pensadores a terem o materialismo como visdo de mundo. Marx e Engels, ao contrario, reelabo- raram criticamente tudo 0 que produziram os pensadores materialistas precedentes, tirando do materialismo anterior todas suas limitagdes historicas de maneira a coloca-lo como a Visdo de mundo capaz de ser a do proletariado moderno, capaz de combater a beatice e a supersticao advindas do idealismo, filosofia burguesa Demécrito, Francis Bacon e Ludwig Feuerbach estdo entre os principais materialistas que devem ser citados como antecessores do materialismo Marxista. Bacon herdou alguns principios do pensamento de Demécrito do atomo como a menor parte da materia (embora, mais tarde, tal teoria viesse a se mostrar antiquada) e estabeleceu teorias que se mostrariam como embrides do futuro materialismo moderno. Segundo Bacon, a forma realmente cientifica de andlise da realidade consiste na experiéncia, indugao, observagao e no emprego de um método racional para verificar a experiéncia tal como ela aparece nos sentidos do homem (audicdo, tato, offato, paladar e visao). No materialismo de Bacon, portanto, deve-se buscar no sentido dos homens a fonte de todos os conhecimentos. “Entre as qualidades inerentes a materia, o movimento ¢ a principal e mais importantes delas, no somente em forma de movimento mecénico ou matematico, mas também em forma de impulso, espirito vital, tensdo [..’. (Karl Marx, A Sagrada Familia) Foi Feuerbach quem, em meados do século XIX, causou contundentes golpes a anterior concepgao idealista da historia, ¢ cumpriu um importante papel em popularizar a corrente filo- s6fica materialista. No seu A Esséncia do Cristianismo—numa época em que a critica & religiao se constituia como o principal contetido de toda critica materialista -, pde-se a nu a verdadeira origem da religido. Nao foi Deus quem criou o homem, mas sim o homem quem criou Deus. Quando, anteriormente, imaginava-se 0 espirito como algo com vida propria, quase extra-terre- no e separado da propria matéria, que existia anteriormente a esta, Feuerbach chega a correta concluséo materialista de que nao somente matéria e espirito estao intrinsecamente ligados entre si, como nao é 0 espirito que origina a matéria, mas sim 2 materia que da origem ao espi- rito. Como pensavam, pois, os idealistas, diante de tal questionamento? Hegel, como principal teérico desta corrente filoséfica, imaginava todo o desenvolvimento histérico-natural como fruto do ‘autodesenvolvimento do Espirito” ou “autodesenvolvimento da Ideia”. Quando se indagava sobre como poderia a “Ideia’ ser anterior materia, era obrigado a recorrer a existéncia de Deus e demais seres extra-terrenos que pudessem corresponder a existéncia de uma “Ideia” anterior ao que é material, concreto. Reside em apontar as limitagdes desta concep¢ao idealista o prin- cipal mérito historico de Feuerbach. Apesar de 0 Marxismo haver herdado a base filosofica materialista de Feuerbach, nao se pode considerar o materialismo feuerbachiano como sendo equivalente ao materialismo Marxista O materialismo de Feuerbach contava com sérias limitagdes, Era avancado, por um lado, ao re- chagar a beatice idealista e considerar a materia como a base para o surgimento do espirito. Seu método, por outro, era metafisico, unilateral. A metafisica levava o materialismo de Feuerbach a considerar as coisas, a histéria dos homens, a natureza, etc. nao em seu desenvolvimento, em sua dindmica, mas como coisas dadas, acabadas de uma vez por todas, isoladas, sem nenhuma conexao entre si, e sem levar em conta o desenvolvimento anterior e posterior que as mesmas pudessem ter. Se alguma vez tal metodo considerava a existéncia do movimento, no maximo tratava-se um movimento puramente quantitativo e sem saltos qualitativos.Quer dizer, como um eterno movimento em érbita, repetitivo, que originava sempre os mesmos resultados. O homem, ainda que visto da maneira como realmente era, como fruto da matéria endo do “autodesenvolvi- mento do Espirito", era desconsiderado de toda pratica social, todo desenvolvimento anterior que © levava a ser como tal, bem como da possibilidade de futuros desenvolvimentos que viessem 2 mudar seu ser. Assim, o individualismo, a beatice, o egoismo, formas historicamente determi- nadas e transitérias de relacdo entre os homens, eram consideradas etemas, dadas de uma vez por todas, sem possibilidade de mudangas em suas respectivas bases. Seriam Marx e Engels quem criticariam Feuerbach com o fim de retirar do materialismo seu aspecto ainda metafisico. © metodo do materialismo Marxista, em oposicao a metafisica, € o metodo dialetico. 2.2) DIALETICA E MATERIALISMO HISTORICO A dialética é uma das mais antigas formas de pensamento. Desde a Grécia Antiga, Aris- tételes ja havia estudado as principais formas de pensamento dialético, e Heraclito destacou-se como 0 grande dialético da antiguidade. Contudo, nao se pode considerar a dialética dos pen- sadores gregos como equivalente a dialética materialista do Marxismo. © Marxismo classifica a dialética como sendo a “ciéncia das leis gerais do movimento” (Frie- drich Engels, Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Classica Alema). Em oposicao a metafisica, a dialética enxerga o mundo nao como um emaranhado de coisas isoladas entre si, postas de uma vez por todas, acabadas, mas como um quadro de relagSes e infiuéncias reciprocas onde nada permanece o que era, nem como e onde era. Tudo se move, se transforma, nasce e morre. A dialética busca a resposta para o desenvolvimento nas transigées, na transformagao das coisas, onde tudo se converte no seu contrario — quer dizer, o que era novo se torna velho, © que era modermo se converte em antiquado, o que era revolucionario se torna reacionario. © movimento através do qual tudo se converte no seu contrario no € puramente quantitativo, mas um movimento onde as transformacées quantitativas resultam em saltos qualitativos. A dialética estabelece que todo desenvolvimento se da impulsionado pelas contradigées internas inerentes a cada fendmeno, a cada coisa, transformando as mudangas quantitativas em saltos qualitativos. O movimento dialético, assim, é um movimento que parte do simples ao complexo, do pequeno ao grande, onde os saltos para um patamar superior (ou seja, saltos qualitativos) se dao em forma espiral, e nunca de forma linear. Por meio deste raciocinio, pode-se concluir que, para a dialética, nada existe de absoluto, definitivo, eterno ou sagrado, pois a mesma trata de enxergar cada fenémeno em sua transi¢ao, em seu aspecto simultaneamente inovador e caduco. Se tomarmos determinada resposta como verdadeira, ou alguma solugéo como via vel, as mesmas o sao somente para patamares onde o salto qualitativo para o outro patamar, superior, ainda nao foi dado. llustremos: Nas épocas medievais (onde aos capitalistas cabia a posicao de classe revolucionaria da sociedade), as contradigées internas entre os capitalistas, a monarquia € os feudais resultou no salto qualitativo da sociedade feudal para a sociedade ca- pitalista —nesta, a classe capitalista, de revolucionéria que era por opor as novas e gigantescas forgas produtivas do capitalismo ao atraso das forcas produtivas feudais, converteu-se numa classe reaciondria, numa situacdo em que o capitalismo nao mais servia ao desenvolvimento das forcas produtivas. Pelo contrario, entravava tal desenvolvimento. Da mesma maneira, na sociedade capitalista, das contradicées internas entre os capitalistas e o proletariado — sendo este, agora, a nova classe revolucionaria — resultaréo num salto qualitative para um patamar superior, a sociedade comunista. Vé-se, dessa maneira, que o préprio papel que o socialismo cientifico cumpre deriva de dar respostas a um patamar determinado da sociedade, patamar este que demanda um novo salto do capitalismo para o comunismo Pode-se, assim, classificar 0 pensamento dialético em quatro leis fundamentais, confor- me sistematizadas por Stalin! 1) interdependéncia universal entre os diversos fenémenos, ao contrario da metafisica, que enxerga os fendmenos como isolados e meramente casuais; 2) 0 movimento — onde tudo nasce e desagrega-se — como um aspecto inerente a materia; 3) as mudangas quantitativas convertem-se em mudangas qualitativas, as pequenas e graduais mu- dancas quantitativas resultam em saltos bruscos qualitativos, n4o de maneira linear, mas num movimento em espiral; 4) o desenvolvimento ¢ impulsionado pelas contradi¢Ses internas de cada fenémeno, onde os contrarios, longe de nada terem a ver um com 0 outro, ou de serem separa- dos — como responde a “légica formal’ ~, constituem exatamente uma unidade (como sim e nao, positivo e negativo, revolucionario e reacionario, ditadura e democracia, e outros exemplos) Ao final, conclui-se que o Marxismo é uma ciéncia, ao mesmo tempo, materialista, por ter ‘a matéria como ponto de partida para a construgao de seus principios, e dialética, por conside- rar os fendmenos nao como um emaranhado de coisas dispersas entre si, dadas de uma vez por todas, mas sim em constante movimento e intrinsecamente ligados uns aos outros, univer- salmente, © método do Marxismo é 0 método dialético. Por materialismo histérico, compreendemos nada mais do que a extenso dos principios do materialismo dialético ao estudo da vida social. Trata-se de uma concepedo da historia “que procura a causa primeira e o grande motor de todos os acontecimentos histéricos importantes no desenvolvimento econémico da sociedade, na transformacao dos modos de producao e troca, na divisdo da sociedade em classes que dai resulta e nas lutas dessas classes entre si” (Friedrich Engels, Do Socialismo Utépico ao Socialismo Cientifico). O eixo do qual parte o mate- [4] Verticar a obra Meteriaismo Diaiico e Materiaismo Hstéreo, do autor ctado rialismo histérico, portanto, aparece como a investigagao da relagao que ha entre a base econé- mica da sociedade e as formas de pensamento, ideologias, ete. da mesma. A primeira, chama- mos estrutura, e a segunda, superestrutura, onde a estrutura cumpre o papel determinante para a caracterizagao da superestrutura. "[...] na produgao social da propria existéncia, os homens entram em relagées determinadas, independentes de sua vontade; essas relages de produgo correspondem a um grau determinado de suas forcas produtivas materiais. A totalidade dessas relacdes de producdo constitui a estrutura econémica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura juridica e politica e 4 qual correspondem formas sociais determinadas de consciéncia.” (Karl Marx, Prefacio 4 Contribuigdo da Critica a Economia Politica) 2.3) AECONOMIA POLITICA A explicagao deste tépico sera publicada na segunda edigao da Revista Nova Cultura, no artigo sob o nome de “A Economia Politica Marxista’. 3) PRINCIPIOS DO MARXISMO 3.1) LUTA DE CLASSES Todas as sociedades — com excegao da sociedade da comunidade primitivat®! — sao divid das em classes sociais. Definimos classes sociais como grupos que ocupam diferentes papéis em formas historicamente determinadas de produgo social, de acordo com quais relagdes tem com os meios de produgao (se sao proprietarias ou nao), seu papel na organizagao social do trabalho e, con- sequentemente, pela dimensao de seus ingressos vindos da riqueza social e através de que maneira as mesmas os adquirem. Cada individuo existe como portador de determinado interesse de classe. Nas sociedades baseadas na exploracao do homem pelo homem, isto é, na propriedade privada sobre os meios de produgao (sociedades escravista, feudal e capitalista), as classes so- ciais se dividem em classes exploradoras e exploradas, e entre estas prossegue uma luta sem cessar, luta esta que se manifesta das mais variadas formas, desde choques violentos entre as classes em luta (greves, revoltas, catastrofes, guerras) a conflitos dissimulados. Entre classes exploradoras e exploradas, tivemos diversos exemplos na historia. Senhores escravistas e es- cravos; latifundiarios, vassalos e camponeses; capitalistas e operarios manifestaram e manifes- tam a oposigao, respectivamente, entre explorados e exploradores, cuja luta entre os mesmos sempre resultou “ora na transformacao revolucionaria da sociedade inteira, ora na destruicao das classes em luta’ (Karl Marx e Friedrich Engels, Manifesto do Partido Comunista). Referimo- nos as classes exploradoras como as proprietarias dos meios de produgao de cada sociedade, e as classes exploradas como as despossuidas dos meios de producao, dependentes, portanto das primeiras para garantirem seus meios de existéncia. Em tal relacao de mutua dependéncia entre exploradores e explorados, ambos possuem interesses opostos entre si. Os primeiros lutam pela intensificagao do trabalho, quer dizer, pela extracao cada vez maior do produto do trabalho das massas trabalhadoras, tanto para a satisfacdo de suas necessidades pessoais quanto pelas demandas do proceso produtivo; os segundos lutam contra a intensificacao do trabalho e pelas melhoras de suas condigdes de existéncia. Sendo assim, a luta de classes é © fio condutor do desenvolvimento social, e avanca mediante os confittos entre exploradores e explorados. Ao lado das classes antagénicas basicas de cada sociedade (como escravistas e escravos, latifundiarios e camponeses, ou capitalistas e operdrios), também nelas existem as camadas médias, que cumprem um papel instavel na luta de classes, podendo colocar-se ora ao lado das classes exploradoras, ora das classes exploradas. [5] Entendemos comunidade primtiva como a primeira forma histoncamerte determinade de producéo e orgentzagéo social A extrema dependéncia da qual cs homens de encontravam em relagSo a netureze, bem como a necessidade de entrentarem as adversdades natura, o alaque de eras, lc, levou 0: mesmos a viverem em bandas, lulando contra @ natureza no de maneire individual, mas coleliva menios de produgéo eviremamenie rudimeniares, 0 bax rivel de producéo (que ndo produzia excedentes, néo padendo, por conta dss0, cxiir lasses sociais € nem exploraca do homem pels homem), ec, nfo consegua sequersatsfazer as necessidades mas elemeniares eres humans, condicionando, portanio, a dsinbuiS9 iguaiiania da producéo. A datribuigSo desiguel padenalevar ome uma parie corsideravel de homens, colacenda em raco a sobreuwvéncia do propno bando como um todo Assim, o carder iquallano da comunidade primiva derva do solamente ndudual da mesma, néo de socializacSo dos meics de produg ao através da Revolu;éo da classe operaria Para manter o sistema de exploracao sobre as massas trabalhadoras, as classes domi- nantes utilizam nao apenas a imprensa, as artes, a cultura (isto é, as formas ideologicas neces- sérias para manter o dominio sobre as massas laboriosas), mas principalmente o monopdlio da violéncia, isto é, a represso, que € posta em pratica em momentos de aprofundamento dos confltos de classe, quando a coag&o moral sobre os trabalhadores por meio dos aparatos juri- dicos ja nao sao suficientes para impedir os choques violentos entre as classes antagénicas. O monopélio da violéncia ¢ exercido pelo Estado 3.2) 0 APARECIMENTO DO ESTADO E SEU PAPEL COMO ORGAO DE DOMINA- ¢AO DE UMA CLASSE POR OUTRA A propriedade privada sobre os meios de produgao, bem como as determinagdes que desta derivam — 0 Estado e as classes sociais -, nao existiram sempre. Sao fruto das exigén- cias da sociedade em determinada etapa de seu desenvolvimento. O aumento da produgao e ‘© consequente aparecimento do mercado no seio da comunidade primitiva levaram a crescente desigualdade de bens, com as sementes, 0 gado, 0 dinheiro, etc. concentrando-se nas maos dos ricos!*! Os pobres se viam obrigados frequentemente a obter empréstimos dos que acu- mulavam gado e dinheiro, contraindo dividas com os mesmos. No caso do nao pagamento das dividas por parte dos pobres, os ricos tomavam-Ihes suas terras e os convertiam em escravos (mencionar que houveram casos na historia onde a propriedade privada sé muito mais tarde veio se dar sobre 0 escravo, dando-se primeiramente sobre a terra) — trava-se da usura, que representou um maior crescimento da riqueza para uns e a submissao de outros por meio de dividas. O processo de desintegracao da comunidade primitiva marcou a transigao de uma so- ciedade igualitaria, isto é, sem divisdo de classes, para uma sociedade baseada na propriedade privada e, portanto, na divisdo de classes, entre exploradores e explorados. O nascimento da sociedade de classes ~ com os antigos membros da comunidade primitiva sendo transformados ‘em escravos — no se processou de forma pacifica, mas violenta. Também no periodo da socie~ dade escravista, conta-se em milhares as grandes revoltas de escravos contra seus senhores. A cisdo da sociedade em classes opostas condicionou o aparecimento de um mecanismo que, aparentemente, se colocava acima da sociedade para amortizar os crescentes choques entre as classes. Todavia, tratava-se de um mecanismo que aparece num contexto em que a conciliagao de classes ja é impossivel numa sociedade baseada na exploragdo do homem pelo homem. O Estado, assim, caracterizava-se por ser nao um instrumento de conciliagao de classes, mas, ao contrario, de dominacao de classe, para manter a ordem social que corresponda aos interesses de determinada classe. £ um produto do antagonismo inconciliavel entre as classes. O Estado, enquanto instrumento de opressao de uma classe por outra, possui dois aspec- tos principais. Um é seu aspecto juridico, formado pela burocracia civil, como os altos funcioné- rios, politicos, etc., indispensavel para a criagdo de leis e instituiges que deem a legitimidade necesséria ao regime das classes exploradoras; outro é seu aspecto violento, militar, que ¢ a coluna vertebral de todo e qualquer Estado; um destacamento armado sem o qual nao existe a manutengo do interesse de qualquer classe sequer, e o aspecto juridico do Estado se torna nada mais que letra morta. “O |...] trago caracteristico do Estado é a instituigao de um poder pi- blico que ja nao corresponde diretamente a populagao e se organiza também como forga arma- da. Esse poder publico é indispensavel, porque a organizagao espontanea se tornou impossivel desde que a sociedade se dividiu em classes. [...] Esse poder piblico existem em todos os Esta- dos. Compreende nao sé homens armados, como também elementos materiais, prisdes [...] de toda espécie [...|' (Friedrich Engels, A Origem da Familia, da Propriedade Privada e do Estado). Dessa maneira, o Estado pode ser um Estado escravista, sendo este um meio para manter o sistema de escravidao e latifiindio a servico da classe escravista; pode ser um Estado [6] Em que pose ocaratar igualtario da comunidade primitva, os anciaos,chafes de trbo, passaram gradualmants a exercer trocar produtos ‘Comouras tbos como se estes fessom seus, aitude esta roconhocida pelo resto dos memaras das tribas da comunidade primitva, porconia da grande influéncia¢ respeito que gozavam os choles de ribo. primeira forma de propriadade privada fia propriedade sobre o gado por parte dos chefos tribas, feudal, a servigo da manutengao do monopélio feudal da terra em beneficio da classe latifun- diaria; e pode ser também um Estado capitalista, que sirva para manter intacta a propriedade capitalista sobre as fabricas, as minas, as linhas ferroviarias, os bancos, a terra, etc., em prol das necessidades da expansao da produtiva e da satisfagao das crescentes necessidades da classe capitalista. Tendo o monopdlio da violéncia como a coluna vertebral do Estado para a manutencdo do poder de determinada classe, as massas trabalhadoras somente cessam sua situaco de exploracdo mediante o emprego da violéncia revolucionaria, mediante a derrubada do destacamento armado a servico das classes exploradoras e instituindo um novo destaca- mento armado a servico das massas trabalhadoras, um novo Estado. 3.3) REVOLUGAO VIOLENTA DA CLASSE OPERARIA, DITADURA DO PROLETA- RIADO E A SOCIEDADE SEM CLASSES Estudando de maneira cientifica as leis gerais que regem o desenvolvimento historico, 0 Marxismo conclui que, da mesma maneira que o surgimento da sociedade dividida em classes foi uma necessidade dos homens em luta por suas condiges de existéncia, e que a mesma cumpriu um importante papel no desenvolvimento da ciéncia, da cultura, do dominio dos ho- mens sobre a natureza, etc., nos dias de hoje, a mesma se torna um anacronismo — no mais possui razao de existir numa época em que a grande e modema producdo, com um crescente carater social, esbarra cada vez mais em crises por conta da contradicdo insolivel deste mes- mo carater com a apropriacao privada dos resultados de tal producdo. Portanto, para acabar com este estado de coisas, a tarefa historica que cabe a nossa época é mudar a forma de propriedade existente sobre os grandes meios de produgao, de forma a coloca-las em corres- pondéncia com seu carater social: a grande produgao planificada sob a propriedade de todo povo, servindo ao mesmo, € nao aos capitalistas. Em uma palavra, deve-se cumprir a missao de passar da sociedade capitalista para a sociedade sem classes. Estando esta sociedade sob a base da propriedade social dos meios de produc&o, nao haveré como acumular de maneira privada o trabalho suplementar produzido pelas massas, sendo este destinado para a satisfa- do da necessidade daquelas. Nao havendo classe a ser explorada, tampouco sera necessaria a existéncia do Estado enquanto 6rgao de dominacao de uma classe por outra Foi baseando-se na grande experiéncia da Comuna de Paris de 1871, primeira tentativa na historia onde a classe operaria lutou para erguer seu proprio Estado, que Marx e Engels che- garam a conclusao de que somente vencendo a reagao das classes exploradoras mediante a revolucdo armada seria possivel derrubar o velho exército burgués e estabelecer 0 novo exército da classe operaria, garantindo a dominacao da classe operaria sobre a burguesia derrubada do poder politico do Estado — dominagdo esta necessaria para expropriar os meios de producao dos capitalistas, convertendo-os em propriedade de todo o povo. Apoiando-se nesse entendimento, Marx desenvolvera ainda mais a teoria sobre a passagem do capitalismo para a sociedade sem classes, a sociedade comunista. Levando em conta a reacao violenta da burguesia para com a construcao da nova sociedade, a passagem para a sociedade sem classes nao se podera dar de maneira imediata apés a socializacdo dos meios de produgao: Entre o capitalismo e a sociedade sem classes, sera necessario um periodo politico de transigao onde o Estado sera o Estado da ditadura revolucionaria do proletariado. Marx define tal periodo de transigao entre o capitalismo e ‘© comunismo —a ditadura do proletariado - como a “etapa inferior da sociedade comunista’ 71 Serdo Lenin e Mao Tsé-Tung que, por haverem vivido e tomado parte nas maiores Revo- lugdes proletarias da humanidade, na Russia e na China, respectivamente, quem desenvolve- ro as teorias e as indicagdes de Marx sobre a transigdo do capitalismo para o comunismo. Nas préximas edigdes da Revista Nova Cultura, onde buscaremos explicar 0 que ¢ 0 Leninismo eo Pensamento de Mao Tsé-Tung, abordaremos também os aportes dados por Lenin e Mao sobre © assunto presente, da passagem do capitalismo para o comunismo. [71 Veriicar a obra Critica a0 Programe de Gotha, de Karl Manc IGURAS DO: OVIMENTO CPERARIO Octavio Brandao Octavio Brandao (1896-1980), na- tural de Vicosa, cidade do Estado de Alagoas, foi uma destacada e valorosa figura do movimento operério brasileiro. Intelectual de talento, desde muito jovem se de- dicou ao estudo das ciéncias e da flosofia, o que permitiu 0 acumulo de um vasto conhecimento. Estu- dou com afinco a minerologia, ge- ologia, botanica, filosofia grega e indiana, assim como classicos da literatura universal. Com 16 anos, rompeu com o catolicismo, reli- giao professada pelos membros de sua familia e comegou a de- senvolver uma consciéncia mate- rialista. Engajou-se no nascente om ~~ movimento operario de seu Es- tado e levantou bandeiras de luta importantes, como a da defesa da reforma agraria e da sobera- 7 nia nacional. Escreveu importan- ‘tes livros como Canais e Lagoas (1916-1917), onde jé desenvol- ve criticas a ordem dominante na época e preconiza, de modo pioneiro, a exploracéo do petré- leo no Brasil. Outro livro de sua autoria, que merece destaque € ‘ 0, também pioneiro, Agrarismo e Industrialismo: Ensaio marxista- 2 leninista sobre a Revolta de Sao Paulo e a guerra de classes no Brasil (1924). Esta obra foi a primeira tentativa de inter- pretacao da realidade brasileira feita tendo como método de analise a teoria marxista- leninista. Octavio Brandao também foi responsavel pela primeira tradugao do Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels, publicada no jornal Voz Cosmopolita. Se des- tacou como importante dirigente do movimento comunista brasileiro em sua etapa inicial, estando a frente da criacao do jomal A Classe Operaria, primeiro jornal de massas do Partido Comunista do Brasil. E dever de todos os comunistas render as devidas home- nagens a este bravo filho do povo brasileiro e destacado lider do proletariado.

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