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Darwinismo social, eugenia e racismo “cientifico”: sua repercussao na sociedade e na educagao brasileiras Maria Augusta Bolsanello” Consideracoes introdutérias No dia 24 de novembro de 1859 € langada a obra Sobre a origem das espécies por meio da seleg@o natural, do inglés Charles Darwin, sendo que seus 1.250 exemplares foram vendidos todos no mesmo dia. (Godoy, 1988) Entre as idéias de Darwin, destacavam-se: a crenga em um mundo vivo mutavel, a crenga de que homens e macacos so ramos diferentes de uma mesma espécie (0s mamfferos) que tem todos um ancestral comum; a crenga de que 0 proceso de mutagao € lento e gradual e que 0 mecanismo de mudanga € a selegdio natural, (Godoy, 1988) Karl Marx Ihe fez. uma dedicat6ria no segundo volume de O capital: “6 notivel como Darwin reconhece entre os animais e plantas sua so- ciedade inglesa, com sua diviséo do trabalho, competicio, abertura de no- vos mercados, invengdes € uma malthusiana luta pela existéncia”, (Godoy, 1988) Observa-se que Marx tentou transpor as idéias darwinistas para uma explicagao erftica da sociedade. Contudo, outros pensadores as utilizaram para explicar ¢ justificar a sociedade estratificada produzida, na época, * Professora do Departamento de Teoria ¢ F federal do Parand, idamentos da Educagio da Uni- Ecducar, Curitiba, n.12, p.133-165, 1996, Editora da UFPR 153 BOLSANELLO, M, A. Dansinismo social, eugenia eracismo pelo capitalismo industrial. E foi esta alternativa que acabou originando 0 darwinismo social. zo6logo francés Jean-Baptiste de Lamarck (1744-1829) enunciou a teoria da evolugio que se fundamentava na transmissdo dos caracteres adquiridos. Esta nogio (hoje ultrapassada) influenciou ‘intelectuais da €poca, inclusive os adeptos do darwinismo social. O proprio Darwin re- correu a elaboragdo dessa teoria, embora em menor escala que Lamarck. (Clarck, 1988) O darwinismo social pode ser definido como a aplicagao das leis da teoria da selegZo natural de Darwin na vida e na sociedade humanas, Seu grande mentor foi 0 filésofo inglés Herbert Spencer (1820-1903), que in- clusive criou a expresso “sobrevivéncia dos mais aptos”, que mais tarde também seria utilizada por Darwin, O darwinismo social considera que os seres humanos sio, por natureza, desiguais, ou seja, dotados de diversas aptidées inatas, algumas superiores, outras inferiores. A vida na sociedade humana ¢ uma luta “natural” pela vida, portanto € normal que os mais aptos a vengam, ou seja, tenham sucesso, fiquem ricos, tenham acesso ao poder social, econdmico e politico; da mesma forma, ¢ normal que os menos aptos fracassem, nao fiquem ricos, no tenham acesso a qualquer forma de poder. Além disso, Spencer argumentava que 0 processo natural da selecio biossociolégica das elites era prejudicado pelo Estado, com adogao de medidas sociais de ajuda aos pobres. Argumentava que a teoria cientffica da selegao natural mostrava que os inferiores, os menos aptos, deveriam morrer mais cedo e deixar menos descendentes. (Blanc, 1994) E importante ressaltar que ao darwinismo social concorreram outras cigncias, como a genética, a psicologia, a neurologia, a sociologia, a an- tropologia ea etnologia. A genética considerou que a definigio ¢ a hierarquizagiio das ragas se baseavam em caracteres aparentes (cor da pele, textura do cabelo, forma do cranio). A psicologia e a neurologia buscaram comparar o rendi- mento intelectual (testes de QI € aptiddes) dos indivfduos ou dos grupos e a andllise das diferengas logo se transformou em estudo das relagdes de su- perioridade ¢ inferioridade. A sociologia tentou aplicar o resultado de pes- quisas biolégicas ¢ genéticas feitas em animais aos homens e difundiu 0 conceito de “limiar de tolerancia” como recurso natural para justificar a rejeigio das minorias. A antropologia e a etnologia definiram as ragas como resultado de uma divisdo da humanidade em fungao de caracteristi- cas fisicas transmissiveis. (Jacquard, 1984) Pode-se observar que o darwinismo social, na verdade, era ideol6gico € estava, desde 0 infcio, associado a uma apologia do laissez- 4 Educer, Curitiba, n.12, 193-165 1996 Bdtora da UFPR BOLSANELLO, M.A. Darwinismo social eugenia € racism faire econdmico e social, a uma defesa da sociedade capitalista. Assim, rapidamente vinculou-se a ideologias eugenistas € racistas. A cugenia foi fundada em 1883 pelo primo de Darwin, Francis Gal- ton (1822-1911). Preconizava o favorecimento, pelo Estado, da formagiio de uma elite genética por meio do controle cientifico da procriagio hu- mana, onde os inferiores (os menos aptos) seriam ou eliminados ou desen- corajados de proctiar. Visava essencialmente 0 aperfeigoamento da raga. (Thuillier, 1984) As ligagdes do darwinismo social com o racismo “cientifico” foram estabelecidas pelo antropélogo francés Georges Vacher de Lapouge (1854 - 1936), em sua obra L’Arien. Para ele, as racas dividiam-se em superiores (arianos) ¢ inferiores (judeus, negros etc.). Tentou demonstrar a existéncia de correlagdes entre 0 status social dos individuos e sua identidade biolégica ou racial. (Clarck, 1988) Ressalta-se que 0 primeiro grande te6rico do racismo foi o Conde Joseph Artur Gobineau (1816-1882), que abertamente defendeu a supe- rioridade da raga ariana — “a mais nobre de todas”, na obra Ensaio sobre a desigualdade das racas humanas (1853). Segundo Blanc (1994), alguns trabalhos de Darwin também cami- nharam no sentido do racismo “cientffico”, salientando uma hierarquia de ragas (onde negros e {ndios so considerados menos aptos) e classificando os seres humanos em intelectualmente superiores ¢ intelectualmente in- feriores. Darwin também apregoou sua adesio aos ideais eugenistas, con- siderando que nao deveriam casar-se pessoas portadoras de inferioridades no corpo e/ou no espirito. Em nome da eugenia, foram esterilizados aproximadamente 36 mil indivfduos, nos Estados Unidos, entre 1900 e 1940: doentes mentais e os chamados desviados (marginais, vadios etc.). Um bom ntimero de intelec- tuais eminentes associaram-se 4s ligas eugenistas de muitos outros paises (inclusive democréticos ), que também adotaram medidas de esterilizacao, antes da Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, as idéias de Hitler foram em boa parte fundamentadas pelo darwinismo social, pela eugenia € pelo racismo dito cientifico, resultando no genocidio que estarreceu a humanidade. (Blane, 1994) Observa-se com amarga ironia que 0 desenvolvimento do dar- winismo social, do racismo “cientifico” e da eugenia, foi paralelo ao do ideal liberal © democratico, os quais apelaram para o novel prestigio da ciencia quando foi preciso justificar as desigualdades ¢ acalmar as coi ci€ncias pesadas ante a recusa do reconhecimento ou a flagrante violagao dos direitos de uma parte da humanidade. Edcar, Curitiba, n.12, p.193-165. 1996. Editora da UFPR 155 BOLSANELLO, M. A. Darwinismo social, evgenia racismo Influéncias do darwinismo social da eugenia e do racismo “cientifico” no Brasil Para se tentar compreender a influéncia das idéias darwinistas so- ciais, eugénicas e racistas no Brasil, é necessario ter-se uma visdo da si- tuago econdémica e social do Brasil no século XIX (perfodo da escravidio) ¢ meados do século XX (perfodo pés-aboligao). O negro entrou no Brasil a partir de 1532, na condigdo de escravo, sem que nenhuma voz tenha se levantado em seu favor e sem obter ne- nhuma protegao, tornando-se um verdadeiro “paria” social. As ordens re- ligiosas, zelosas na defesa dos indios, logo aceitaram, promoyeram e usu- frufram da escravidao africana, nao se importando com a formagao moral € intelectual do negro e sua preparagdo para a sociedade em que & forga foi colocado. Inclusive, 0 estatuto juridico e social do escravo foi baseado no direito romano, em que 0 escravo € objeto do dono, que dele pode fazer o que desejar. (Prado Jtinior, 1994) A utilizagdo universal do escravo nas varias atividades da vida econdmica e social influiu sobre 0 conceito de trabalho, tornando-o uma ocupagio pejorativa € desabonadora. Aos brancos sobraram 0 comando das propriedades, as armas, 0 clero, 0 comércio, as profissdes liberais. Para os que formavam a mao-de-obra livre mas eram destitufdos de recur- Sos materiais, os meios de vida se tornaram muito escassos. Verificou-se entaéo um vacuo imenso entre os extremos da escala social: de um lado os senhores © do outro lado os escravos. E entre estes dois extremos com- primiu-se um mimero crescente de pessoas, formado sobretudo de pretos e mulatos forros ou fugidos e indios: individuos com ocupagées mais ou menos incertas ¢ aleat6rias. Foram considerados os “socialmente indefini- dos”, Eram os caboclos, os quilombolas, agregados, vadios. Uma popu- Jago que vivia mais ou menos & margem da ordem social, devido a caréncia de ocupagées normais e estaveis capazes de absorver, fixar e dar uma base segura de vida & grande maioria da populagdo livre da coldnia. Esta situagdo surgiu de causas profundas: a escravidio e o sistema econdmico de produgao colonial e a instabilidade da economia e da pro- dugio brasileiras. (Prado Junior, 1994) Assim, no século XIX, 0 povo brasileiro apresentava-se constituido de forma preponderante por mestigos (sobretudo mulatos). A maioria destes mestigos, bem como a totalidade de negros e indios, ocupavam as camadas pobres da sociedade, vivendo em estado de mis¢ria, doenga e pentiria. 156 Eeducar, Curia, n.12, p.153-165. 1996, Editora da UEPR BOLSANELLO, M.A. Darsiniomo socal, eugenia ¢ raciomo final do século XIX marcou a decadéncia do escravismo no Brasil ¢ substituigio do trabalho escravo pelo assalariado, exercido sobretudo pelos imigrantes. E importante ressaltar que em 1850, quando cessou 0 trfico ne- greiro, a burguesia agraria obteve a aprovagdo da Lei de Terras, que im- pedia 0 acesso as terras devolutas (em grande quantidade no Brasil) por outro meio que n&o fosse a compra. Esta lei garantiu a mobilizagio das institnigGes juridicas e policiais na defesa da propriedade fundiéria, garan- lindo ao mesmo tempo o cardter compulsério do trabalho, da venda da forga de trabalho ao fazendeiro, por parte dos trabalhadores que nao dis- pusessem de outra riqueza senfio a capacidade de trabalhar. (Martins, 1979) Observa-se assim que a aboligdo, em termos sociais, negou ao negro 0 direito a integrago na sociedade. A aboligio retirou simplesmente do negro a condigao de escravo, mas nao Ihe proporcionou nenhuma indeni- zagio, garantia ou assisténcia pelos mais de 300 anos de exploragao, vio- lagao € opressio, Assim, 0 ndo-acesso a um pedago de terra e a redugio de mio-de-obra provocaram um @xodo da maioria dos negros para as cidades (onde foram juntar-se aos j4 numerosos “socialmente indefinidos”), onde os aguardavam 0 desemprego, a misGria, a doenga ¢ uma conseqiiente vida marginal, Idéias preconceituosas dos estrangeiros sobre 0 povo br: no final do século XIX E curioso ressaltar que Charles Darwin esteve no Brasil, em 1832, € apesar de grande admirador da flora e da fauna do pais, anotou em seu diario a sua indignagdo com os brasileiros, pelas cenas de violéncias que impetravam contra os escravos, 0 que presenciou no Rio de Janeiro, em Salvador e em Recife e que fizeram-Ihe “ferver o sangue nas yeias”. (Go- doy, 1988) Contudo, a grande maioria dos observadores europeus que aqui aportaram na época da escravidao, em vez de dentincias contra as in- justicas fisicas, morais © sociais cometidas, trataram de desvalorizar 0 maximo possfvel nio s6 os negros € os {ndios, como os mestigos brasilei- ros. De abril de 1869 a maio de 1870, 0 conde Gobineau permaneceu no Rio de Janeiro como embaixador da Franga no Brasil. Preconceituoso ao Ecducar, Curitiba, n-12,p.153-165, 1996, Editors da UFPR 17 BOLSANELLO, M.'A. Darwinismo social, eugenia e racismo extremo, escreveu aos amigos que o Brasil era “um deserto povoado de malandros”, “uma multidio de macacos”, e “um mundo estagnado na propria imbecilidade”. Entre outros insultos, afirmou que os casamentos inter-raciais produziam “uma degenerescéncia do mais triste aspecto”, dos quais resultavam “criaturas particularmente repugnantes”. (Raeders, 1988) Da mesma forma, os viajantes europeus estudiosos da fauna e da flora brasileiras insistiram em rebaixar 0 povo brasileiro em suas obser- vagdes: “exemplo de nagiio degenerada de ragas mistas”, “modelo de falta € atraso em fungdo de sua composigao étnica e racial”, “o mestigo é um tipo indefinido, hfbrido, deficiente em energia fisica e mental”. (Schwarez, 1993) Idéias preconceituosas dos intelectuais brasileiros sobre o préprio povo, no final do século XIX e meados do século XX O primeiro grupo de intelectuais brasileiros conformava, até meados do século XX, um perfil bastante homogéneo em termos de formagio e carreira, estando mais ou menos vinculado de modo direto as elites econ6mico-financeiras do pafs. (Schwarez, 1993) Os efeitos econdmicos da industrializagtio nascente agravavam as tensbes sociais € colocavam em questo o préprio regime, cuja legitimi- dade a elite dirigente procurava justificar por todos os meios. Assim, para 0s intelectuais brasileiros, as crises social ¢ econdmica da época acon- teciam sobretudo devido ao clima tropical e a constituigto étnica do povo € no por questdes hist6ricas ou politicas. Esta argumentacio, eles a foram buscar na “ci@ncia” que chegou ao pats (final do século XIX), na adogio entusistica do darwinismo social, do racismo “cientifico” e da eugenia, que como ja foi visto, foram originalmente popularizados enquanto justi- ficativas te6ricas de préticas imperialistas de dominagio. Estas teorias foram adotadas, a0 contrdrio do que se deu na Europa, desprovidas de qualquer espfrito critico, tanto pelos intelectuais como pelos reduzidos centros de ensino e pesquisa da época. (Schwarz, 1993) Partia-se do principio de que se o brasileiro nao tinha conseguido Promover 0 desenvolvimento adequado do pais, por ter-se tornado Preguigoso, ocioso, indisciplinado e pouco inteligente devido ao calor e mistura com ragas inferiores, era necessério pelo menos resolver o problema racial, uma vez que contra o clima nada poderia ser feito. 158 Exducar, Cortiba, n.12, p.193-165, 1996, Editova da UFPR BOLSANELLO, M.A. Darainismo social, eugenia & raciemo Assim, 0s intelectuais elevaram a miscigenagio do povo brasileiro a um princfpio de arianizacio, a um ideal de democracia social, atribuindo um valor ao grau de embranquecimento da pele. Desta forma, 0 branco era superior ao mestigo € este, por sua vez, ao negro ou indio. Como se observa, estavam langadas as bases cientificas do precon- ceito racial e a legitimagao das desigualdades sociais em nome da demo- cracia. Por outro lado, é importante ressaltar que a ambigiiidade foi uma marca registrada da produgao intelectual do Brasil desta poca, caracteri- zando-se por momentos de idéias progressistas, reveladoras da histéria brasileira, mesclados pelas idéias preconceituosas advindas das teorias evolucionistas, eugenistas e racistas enropéias. Sio algumas destas idéias geradoras de preconceitos que se pretende eyidenciar a seguir, promovidas por alguns intelectuais brasileiros res- peitaveis e admirados, bem como o pensamento do movimento conhecido como Liga Brasileira de Higiene Mental, Os intelectuais brasileiros Silvio Romero (1851-1914), bacharel em Direito, professor, histo- riador, republican abolicionista, afirmou que grande parte do povo brasileiro resultou “do consércio (...) de velha populagio latina, bes- tamente atrasada, bestamente infecunda e de selvagens africanos, estupi- damente indolentes, estupidamente talhados para escravos...” . Acreditou também que da unio da raga branca com a negra ou indigena surgiu a “formagtio de uma sub-raga...”. Sugeriu que um branqueamento gradual do povo, através de sucessivas migragdes, seria a saida para 0 progresso do pats. (Leite, 1992) Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906), professor de Medicina Le- gal da Faculdade de Medicina da Bahia, sustentou a tese de que as ragas ditas inferiores (negros, {ndios e mestigos) no poderiam ter 0 mesmo tratamento no Cédigo Penal, justificando que as mesmas possufam men- talidade infantil ¢ portanto eram irresponsveis. Considerou os mestigos “indolentes, fracos, imprevidentes”, devido ao menor desenvolvimento de seus cérebros, ¢ herdeiros de um “desequilibrio mental”. Sugeriu que a solugo para as ragas mestigas seria uma imigragio macica, capaz de aniquilar e assimilar estas ragas. (Leite, 1992) Ecducar, Curitiba, 212, p.153-165, 1996, Editora da UFPR 159 BOLSANELLO, M. A. Darwinismo social, engenia eraciomo Manuel Bonfim (1868-1932), ensaista, mostrou-se adepto da idéia de transmissao de tragos psicoldgicos. (Leite, 1992) Azevedo Amaral (1881-19—), médico, ensafsta, jornalista, sonhou com um brasileiro enquanto “raga biologicamente mestigada” e um psiquismo exclusivamente branco nos tracos essenciais da mentalidade e do carater nacional. (Leite, 1992). Francisco José de Oliveira Viana (1883-1951), advogado, histo- riador, professor universitério, considerou 0 negro “simiesco, troglodita, decadente moral, inferior”. Para ele, tanto os negros como os indios eram totalmente refratérios & civilizagdo. Acreditou que os mestigos conser- vavam qualidades da raga inferior, sendo desequilibrados ¢ nao tendo 0 mais leve desejo de ascender, de sair de sua condigdo de paria, nio ofere- cendo, portanto, ameaga a aristocracia, Fazia, contudo, aparentes excegdes aos poucos mestigos que se destacavam (‘‘hé mulatos superiores, arianos pelo carter e pela inteligéncia”), considerando a sua capacidade como herdada pelo sangue ariano, (Leite, 1992) José Bento Monteiro Lobato (1882-1948), advogado, escritor, criou © personagem Jeca Tatu, sendo implac4vel com a figura do caboclo: um parasita, preguigoso, sem ambig&o, um piolho da terra, inadaptavel a ci lizagao. Mais tarde, reabilitou este caboclo mostrando que ele tinha sal- vagao, podendo tornar-se rico e préspero: bastaria consultar seu médico € tomar remédio de laboratério. (Patto, 1987) Alfredo Ellis Jtinior (1896-1974), advogado, professor, historiador, aproyou o relacionamento dos portugueses com as “melhores” indias, mas considerou o negro e o mulato grupos inferiores. (Leite, 1992) Artur Ramos (1903-1949), médico, concordou com Nina Rodrigues que o negro nio podia acompanhar a civilizaciio branca, considerando-o responsdvel em arrastar 0 branco para o primitivismo, (Leite, 1992) Afonso Arinos de Melo Franco (1905-199-), professor, escritor e politico, considerou que indios e negros impediam que os brasileiros atin- gissem a civilizagdio e chegou ao extremo de dizer que os mesmos de- veriam ser contidos 4 forga pela camada branca, 0 que segundo Dante Moreira Leite (1992) se constitui numa pregagao nitidamente fascista, Gilberto de Melo Freyre (1900-1987), socidlogo, escritor, politico, publicou em 1933 a obra Casa-grande e senzala, que fez enorme sucesso e ainda hoje é leitura obrigatéria nos circulos intelectuais. Adepto da teo- ria da transmissio de caracteres adquiridos, concordou inteiramente com Joaquim Nabuco, considerando o {ndio 0 mau-elemento da populagio — e nao o negro. Considerou 0 negro “alegre, vivo, loquaz” e 0 fndio “duro, hirto, inadaptavel”, Acreditou na superioridade étnica e de cultura dos ne- 160 Eeducar, Curitiba, n.12, .153-165. 1996. Edivora da UFPR

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