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Morgan, Lewis Henry, 1818-1881 M846e —_Evolucionismo culcural/textos de Morgan, Tylor ¢ Frazer; textos selecionados, apresentacio € revisio, Celso Castro; tradugao, Maria Liicia de Oliveira. — Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005, (Antropologia social) | | | | Contetido: A sociedade antiga/Lewis Henry Mor- gan —A ciéncia da cultura/Edward Burnett Tylor—O | escopo da antropologia social/James George Frazer | ISBN 85-7110-857-9 | | 1. Bvolugao social. 2. Mudanga social. 3. Etnolo- | gia. L Tylor, Edward Burnett, Sir, 1832-1917. IL Fra- | zer, James George, Sir, 1854-1941. IIL. Castro, Celso, | | | | 1963-. IV. Titulo. V. Série, CDD 306 05-1544 CDU 316.7 aL Edward Burnett Tylor A CIENCIA DA CULTURA [1871] Cultura ou Givilizasio, tomada em seu mais amplo sentido emogrifico, & aquele todo complexe {que inclui conhecimento, erenga, arte, moral, lei, costume e quaisquer outeas capacidades © habitos adquiridos pelo homem na condicio de membro da sociedade. A situacio da caltura entre a8 vias sociedades da bumanidade, na medida em que possa ser investigada segundo principios gerais, & tum tema adequado para 0 estudo de leis do pensamento € da acio humana. De um lado, « uuniformidade que tio amplamente permeia a civilizacio pode ser atribuida, em grande medida, 3 cio uniforme de causas uniformes; de outro, seus virios gras podem ser vistos como estigios de desenvolvimento ou evolugio, cada um resultando da histéria prévia e pronto pans desempenhar seu priprio papel na modelagem da histéria do futuro. A investigacio desses dois grandes Principios em vitios departamentos da etnogrfia, com atengio especial & civilizasio das tibos inferiores como relacionada com a civilizacio das nacdes mais elevadas, est dedicado este livzo. [Nossos modlemos investigadores das cincias da natureza inorginica sfo os primeiros a reconhecer, tanto dentro quanto fora de seus campos especialiados de trabalho, a unidade da natuteza, a fixer de suas leis, 2 seqiéncia definida de causa ¢ efeito ao longo da qual todo fato depende do que se passou antes dele e atua sobre o que vem depeis. Bles se apegam fiememente & doutsina pitagérica da ordem que permeia 0 Cosmo universal. Afiemam, com Aristteles, que a natureza niio € cheia de episédios incocrentes, como uma tragédia ruim. Concordam com Leibniz naquilo que ele 32 chama "meu axioma: « natuseza nunca di saltos (lo matire wait jamais por sant,” © seguerm seu “grande principio, usualmente pouco empregido, de que nada acontece sem razio suficiente" Mesmo quando se estudam 1 estrutura ¢ 08 hibitos de plantas ¢ asimais, ou se investigam as fungdes inferiores inclusive dos sexes humanos, essts idéias centrais nfo so ignoradas. Mas, quando. passamos a falar dos mais altos processos do sentimento ¢ da a¢io humana - de pensamento € inguagem, conhecimento e arte -, aparece uma mudanga no tom geral das opinides. Como tum todo, o mundo esti mal preparado para aceitar 0 estudo da vida humana como um rimo da cigncia natueal ¢ para, num sentido amplo, seguir a exigincia do poeta de "considerar a moral ‘como as coisas natursis'? Pata muitas mentes educadas, parece haver algo insolente e repulsive na idéia de que « histéxia da humanidade seja uma parte essencial da histéria da natureza; de que nnossos pensamentos, desejos € agées funcionem de acordo com leis tio definidas quanto aquelas ue goveram o movimento das ondas, « combinacio de dcidos e alcalinos © o crescimento de plantas ¢ animais. [As principsis mates de ser esse o julgimento popular nio sio dificeis de encontrar. Existem ‘muitos que voluntasamente accitatam uma ciéncia da histéria se essa fosse apresentadla com substancial definigio de principio © evidéncia, mas que, nio sem razio, rejeitam os sistemas oferecidos a cles por considerilos muito distantes de um padtio cientifico. Através de resisténcias como essas, mais cedo ou mais tarde o conhecimento verdadeiro accba abrindo seu caminho, ¢ 0 hhibito de se opor a novidades presta tio excelente servigo contm as invasSes de dogmatismo cspoculativo que, ae vezes, podemos até desejar que fosse mais forte do que & Mas outros obsticulos & investigacio das leis da natureza humana surgem de consideragSes metuisicas € teoldgicas. A nocio popular do livre-tbitsio do homem envolve nio apenss a liberdade de agir de acordo com motivagies, mas também um poder de se afastar da continuidade e de agir sem causa ~ ‘uma combinagio que pode ser grosseiramente ilustada pela alegoria de uma balanga que, is vezes, age de sua mancim habitual, mas que também possui a faculdade de mudar por si mesma, independentemente dos pesos ou contra eles. Essa idéia de uma ago anémala da vontade 8 que, desnecesséxio dizer, €incompativel com o argumento cientifico - subsiste como uma opiniio patente ou Tatente nas mentes dos homens, afetando fortemente suas vis6es te6ricas da histéria, embora, como rege, nio seja proeminentemente utilizada numa argumentagio sistematica Na verdade, « defincio de vontade humana como estritamente correspondente & motivasio é a tinic base cientifica possivel em tais pesquisas. Felizmente, io é necessivio ampliar aqui a lista de dissectgies sobre intervencio sobrenatural e causagio natural, sobre liberdade, predestinacio € responsabilizacio. Podemos avidamente escapar das regibes da filosofia transcendental ¢ da teclogia para comecar uma jomada mais promissora por caminhos mais viiveis, Ninguém negar aque causas definidas ¢ naturtis de fato determainam, em grande medida, a acio humana «¢ itso © homem sabe, pela evidéncia de sua pripria consciéncia. Entio, deixando de lado considerscdes de interferéncia extranatural ¢ espontancidade mio causai, tomemos ecta admitida cexisncia de causa ¢ efeito natursis como nosso terseno firme, ¢ andemos sobre ele enquanto nos der apoio. F sobre essa mesma base que, com sucesso crescente, a ciéncia fisica empreende sua ‘busca das leis ca narurezs, Tampouco 6 necessério que essa resticio prejudique 0 estudo cientfico da vida humana, no qual existem seait dificuldades priticas decorrentes da enome complexidade da cvidencia ¢ da imperfeigio dos métodos de observagio. 33 PParece que, agora, essa idéia da vontade e da conduta humanas como sujeitas a uma lei precisa é,na verdade, reconhecida ¢ observada pelas mesmas pessoas que se optem a cla quando apresentada fm femmes abstratos como um principio geral, reclamando que ela aniquila o live-atbitio do hhomem, destréi seu senso de responsabilidade pessoal e o pée na condigio degridada de uma maquina sem alma. Ainda assim, aquele que diz essas coisas passari muito de sua propria vida estudando os motivos que conduzem i ago humana, buscando realizar seus desojos através dees, construindo em sua mente teorias de casiter pessoal, calculando 08 efeitos proviveis de novas combinagées ¢ dando a seu raciocinio o ateibuto supremo de verdadeim investigasio cientfica; e, caso seus cfleulos se revelem ermados, presumiei que sua evidéncia era falsa ou incompleta, ou que seu julgamento foi falucioso, Essa pessoa resumiré a experiéncia de anos gastos em complexat relagdes com a sociedade declarando estar convencida de que existe uma razio para tudo na vida, € ‘que, onde os eventos parecem inexpliciveis, a negra € aguardar e wigiat, na esperanca de que @ cchave do problema possa um dia ser encontnda. A observagio desse homem pode ter sido tio limitada quanto sio ceuas e preconceituosas suas inferéncias, mas, ainda assim, ele teré agido como ‘um filésofo indutivo durante "mais de 40 anos sem se dar conta"? Ble reconhecew, na pritica, as Icis precisas do pensamento e da aco humana, ¢simplesmente climinou, em seus préprios estudos da vide, todo aquele t Presume-se aqui que, dessa mesma forms, esse tecido deva ser descartado em estudos mais amplos, lo formatlo por desejos sem motivo ¢ espontancidades sem cause ‘© que 4 verdadeira flosofia da histéria esteja em ampliar ¢ melhorar os métodos das pessoas ‘comuns que formam seus julgamentos a partir de fatos ¢ os checamm com novas evidéncias. Quer a doutrina soja uma verdade completa ou apenas parcial, ela acets a condigio mesma sob a qual bus- ‘camos novo conhecimento nas lies da experigncia, e, numa palavra, todo 0 curso de nossa vida racional esti baseado nela. "Um evento ¢ sempre filo de outro, ¢ nio devemos nunca esquecer © parentesco" - esse foi 0 comentirio feito por um chefe banto a Casals, © missionério afficano> Assim, em todos os ‘tempos, 0s historiadores, na medida em que pretenderam ser mais que meros cronistas,fizeram © ‘melhor possivel pasa mostrar no meramente « sucesso, mas sim a conexio entre os eventos que registravam. Além disso, esforcaram-se para extruir prineipios gerais da acio humana ¢, através eles, explicar eventos particulars, afimando expressamente, ou tomando tacitamente como um dado, a existéncia de uma filosofia da hist6ria. Se alguém negae a possibilidade de assim se estabele- ccerem leis histrieas, a esposta est pronta, dada por Boswell a Johnson mum caso como esse: "Tintio, o senhor reduviia toda a hist6ria ano mais que um almanaque."' © fato de que, apesar de ‘tudo, os esforgos de tantos pensadores eminentes tenham trazido a histéria somente até o imine da igncia iio precisa causar espanto aos que considera @ desconcertante complexidade dos problemas que se apresentam diante do historisdor geral. A evidéncia da qual cle tem que setae suas conclusées é, 10 mesmo tempo, tio mulivariada ¢ tio duvidoss, que dificilmente se obtém uma visio completa e distinta de seu peso sobre uma questio particular, assim, toma-se simples- mente iresistivel a tentagio de deturpar a evidéncia para fazéla apoiar alguma improvisada teoria do curso dos eventos. A filosofia da histéria como um todo, explicando o paseado e predizendo os futuros fendmenos da vida do homem com refertncia a leis gersis, 6, de feto, no atual estado de ‘conhecimento, um tema com © qual mesmo génios respaldados por ampla pesquisa, parecer apenas precasiamente capazes de lider: Anda assim, existem partes dela que, embora bastante 38 dices, parecem comparativamente mais accssiveis. Se © campo de pesquisa for redurido da Histéria como um todo part aquele ramo aqui chamado Cultura ~ « historia nfo de tribos ow nagBes, mas da condicio de conbecimento,religto, arte, costumes ¢ semelhangas entre clas a tarefa da investigasio evelase limitada a um Ambito muito mais razodvel. Ainda enfrentamos o mesmo tipo de dificuldades que ceream o tema mais amplo, mas em niimero muito mais reduzido. A cevidéncia ja nio € tio ermaticamente heterogénes, € pode ser mais facikmente clasificads © comparida, enquanto a possibilidade de se livra de material inelevante ¢ tratar enda questi dentro de seu apropritdo conjuato de fatos faz com que, de modo ger, « argamentagio sigorose estejn ‘mais disponivel do que na histéxia geral. Isso pode surgir de um breve exame preliminar do problema: como 0 fendmeno da Cultum pode ser classificalo e arranjado, estigio por estigio. ‘numa ordem provivel de evolugio. Pesquisados a partir de uma ampla perspectiva, © cariter ¢ o habito da humanidade exibem, de imediato, aqucla similardade © consistincia de fenémenos expressas no provésbio italiano: "o mundo todo é uma aldeia™ (uti! mondo ® pace). A pastic da semelhanga geal da natureza humans, de um lado, ¢ da semelhanca geral cas circunstincias de vida, de outro, essa similaridade © essa consisténcia podem, sem divide, ser tegadas, sendoestudadas com especial proveito na comparisio de ragas que se encontram em tomo do mesmo gruu de civilizagio. Existe pouca necessicade de se respeitar, em itis comparagées, data na historia ou lugar no mapas © antigo haaitante dos lagos suigos pode ser posto ao lado do asteca medial, e 0 ojbua da América do Norte ao lado do zulu do sul da Afric Como disse o doutor Johnson, de mancira depreciativa, quando leu sobre 0s patagées ¢ os ilhéus dos Mares do Sul nas Vo: ger de Hawkesworth? "um ‘grupo de selvagens € igual a outro". Quito verdadien essa generaizaco realmente é, qualquer mu- seu etnolégico pode mostra. Examine, por exemplo, os instrumentos amolados e de ponta nessa colegio; o inventirio inclui machadinha, enx6, cinze, faa, seem, aspadciea, boca, agulha, lanca © cabesa de flecha,e, desses,a maior pate, seni a totaidade, pertence, com pequenas dferengas de detahes, as mais wariadas racas. © mesmo se passa com as ocupagées selvagens: cortar madeira, pescar com rede ¢ linha, eagar com funda e lanes, fazer Fogo, covinhar, erolar fos e trangar estas repetem-se com marivlhos uniformidade nas pratelcisas dos muscus que dustram a vida das eagas inferior, de Kamchatka’ 4 Terma do Fogo, ¢ do Daomé ao Havai, Mesmo quando se trata de comparar honlas bisbaras com nagies civilizdas, uma consideracio impée-se a nossas mentes: sé que ponto cada item da vida dis migas inferioes transforma-se em procedimentos anslogos nas tacas superiors, sob formas no tio mudadas que nio possam ser reconhecidas 6, ie vezes, praticamente intocadas? Veja o modemo exmponés curopeu usando seu machado e sua enxada, ‘ja sua comida fervendo ou assando num fogo de lenba, observe o lugar exato reservado i cerveja no eileulo de sua Felicidade, ouga suas histérias do fantasma na casa assombrada mais préxima e da sobrinha do fazendeiro, enfciicada com né nas tipas, que entrou em convulsio ¢ morreu. Se sele-

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