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PN ra eer eke Coenen asec es oer n teen ate teed eorocec cate etcetera Caro Cr Onde esta o Valter? Animador cultural das ruas, ele é a nova vitima emblematica da violéncia do prefeito higienista Saree mena) onheciValterhéumanoe meio, Eutinha acabado de chegar em Sao Paulo, de- pois de morar por alguns anosem Salvador, ¢fuifo- tografar Chinelada, uma pega de teatro do Pedro Guimarsies queestavaemear- taz no Teatro Fstiidio H. Guariba, na Praga Roosevelt, Depois da peca, par- tedopiiblicoficouem umaruabatendo papo centreas pessoasestavauum cara decabelio.e bara enorme, Ele me cha- mou atencéo, pois parecia um elfo dos ccontos de fada. Nesse momento, um morador de rua aproximou-sedeleparapedirum dine 10,eleotratoudeforma tio gentile cari hosaquefiqueiaindamaiseurioso para cconhecé-lo, Perguntel ao Pedrio, ator e ‘iretordapega, quemeraaguelecara.Me falou que sechamava Valteremepassou ‘ocontato dele, Bserevi logo paraeleque ‘erauumfotojornalistaequequeriaconhe- ‘corasuahistéria, Dias depois, nos encontramos na ‘Praga Roosevelt. Conversamos bastan- tee ole me contou que hi 12 anos mo- rava na tua e ha dois anos embaixo do ‘Viaduto Jiiode Mesquita Fillo, no bair~ roda Bela Vista, Fram antigo estacio- ‘namento onde moravaumapequenaco- mmunidade de *refugiados urbanos”, co- ‘mo ele os chamava, Valter havia trabalhado num banco poranos,chegnu aser subgerente, depois foiiluminador de teatro, umdosmelho- resdacidade,epor umasériedecircuns- tncias foi parar na rua. Eu contei dos ‘meus trabalhos fotogréficos com popu- Jago deruae descobrimosquetinhamas varios amigosem comuns. Bsa conversa se deu o tempo intei- roembaixo de uma gameleira gigantelé napraca. Resolvitirar unsretratos dele dentrodaaberturado tronco dessa érvo- re,quetemasratzesa vista, Ambos per- cebemos que era o comeco de uma ami- zade,entreum elfo eum italiano, Valter eon sua case-instalagao s0b0 viaduto no Bexiga. 2. Com ula Ces, 3 experiencia de fazerum ardimno Dirigindo 0 yadrez humane comoutros parceiros, no. Tebuleiroquecle mestno pintou N§o gosta de ser chamado de sem-teto. Prefere dizer: Logo no segunda eneontro, Valter me convidouparaconhecerolugarondemo- rava, 0 ex-estacionamento embaixo do vinduto, Ble dormia na guarita do esta- cionamentoeaoredortinhaconstruido umaespécie de centro cultural parato- dos~algo extremamentevivo, artis colorido, Nolocal haviaalguns sof vvros, patos, caso alguém precisass centenas de outros objetos para pegare interagir Desenhosegrafites,bonecose outros milhares de coisas completavam, centro cultural sem paredes, Ach Imente acolhedores nbaixo de um viaduto, “Eu me sinto uma antena, sa beaquelaantenaparacaptaredifundir? Iissomesmo.As pessoas procisam con- versareserescutadas” Apartirdat,bae ter um papo com Valter nos so- fisculturaisdoviadutovirouro- tina,maseuquasenuncalevavaa ‘camera comigo, ¢, se levava, fotografava, porque eu ia apenas paracurtiraamizade,elemecon- tava da vida dele e eu da minha. Achava-o de uma pureza huma- na ara, disponivel 24 horas para comos outros. Morava‘emsitua- ioderua" eeraao mesmo tempo ativistado movimento da popula g20sem-teto, semprecomalguma ideia genial na eaboga. Detodasasfotosminhasqueele viu, eseolheu para pend tacionamentoadeumacriang dando num barco num rio, offs ao ar livre, Ache! legal a esealha e agora entendo 0 porqué, Toda vez que eu voltava para Sampa, maredvamos encontro, tomé- ‘vamos umas tubainas e aos poucos co: nhecia outros moradores do estaciona- ‘mento e me deparava com situagies in- tensas e criativas, Ele sempre me dizia: somosinvisiveis, mas tudo oque fae zemos évisivel” ‘Uma vez estava acontecendo um pe {queno show improvisado com 0 pesso- al do viaduto, cantando as musicas de Cazuza, Bario Vermelho e uma ver~ sto incrivel da cango © Bebado © a Equilibrista,deJoto Boscoe Aldi Blanc, Foiaprimeiraetinica vez queescuteiao vivoessamisica, tiolindaesignificativa Varios episédios interessantes mar cearam as minhas idasao Viaduto Jilio de Mesquita Filho. Umdia,euconhecio ‘Tone Roll, umdos iisicos mais talento soquevviecletinhaumavozmaisintensa doqueade SeuJorge.Outravez, quando estavaporlnumfimde tarde, umamo- achamada Ritaestavacomumasacola cheiade plantas queumasenhoratinha jogado de um prédio.Ejuntamentecom 0 Valtere o silo César, outro morador doviaduto, plantarameregaramasplan- tas mum pequeno espagoverdeaoladodo cestacionamento."Reaproveitodetudoo que arua me dé, tentando transformar emarte ebeleza. Nos chamam demora: ores derua, masesto equivocadospor- queninguém moranarua.Aruaé um} gar de passagem, de manifestagdes ete. Sevoeé morana rua, 6atropelado, piss- do,,.Ento nfo moramosnarua, bs ocu- pamosespagos piblicos, comocalgadas, ‘marquises, pragas.e viadutos” Elemelevou aconhecer de verdadeo ‘CentrodeSdo Paulo eamadrugadapau- Tistana, quando a cidade se torna outro ‘mundo e dava até para ouvi-lo respira. ‘Toda semana, Valter organizavacom ‘umatorepsiedlogo,oRicardo Florez, um jogo de xadrez humano, Num tabulet- ro pintado no chao do estacionamento, ‘as pessoas assumem o papel das pecas mara levantar questdes pessoais e s0- ciais de forma hidieae possiblitaroen- controeaconvivénciaharmoniosa nes- sa subversio do jogo de xadrez oficial” Ele chamava isso de psicomédia. Para ‘mim, foi uma experiéncia inerivel ver as dindmicas que se criavam entre os participantes. Nesse jogo, Valter con: seguia juntar a galera do teatro, do vi- deo, do geafitee da arte, e todos intera- sgiam como pessoal em situacio de rua Eraantena, ponte e muito mais, No tiltimo 29 de julho, tes de eu viajar de férias para a ‘queria me despedir dele, entio escrevi municagdo. Recebo de volta a seguinte ‘mensagem: “A casa caiu, hoje, antes de clarearodia,chegaramas primeirasvia- turas num Procedimento Operacional Padrio (POP) das equipes de remo: io da prefeitura, também conhec- dos como “Rapa” e “higienizaram” o espaco,tirandotodososocupantes dela’ Fiquei muito preocupado, ssa re- mogio é mais uma dessas novas politi- cas de “higienizagio” eexpulsiodo pre- feito Jodo Doria, que, pelo visto, nesses primeirosmesesde mandatonaotem se preocupadocomquemestéem situago devulnerabilidade social, Euresolvicon- iter porque tris des- sasagbes eremogées hi seres humanos, ‘com sentimentos e vidas, E.com muitas oesia, como meu amigo Valter om sentir-se ingénuo, puro e Pelo Facebook, ele avisou: Tiraram os ocupantes todos, pisaram nas flores ltravéeda fotografia as hist fri edasprnepate cidade brasleiras,

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