Está en la página 1de 15
Michael Apple A educacao sob a Otica da andalise relacional Os intelectuais devem dar visibilidade as praticas transformadoras construidas pelos professores em sua luta didria. E crucial sistematiza- las, analisd-las, criti para alcangar uma educ por Luis Armando Gandin BIOGRAFIA » EDUCADOR, PESQUISADORE ATIVISTA ichael Whitman Apple nasceu em 1942, em Paterson, estado de Nova Jérsei, nos Estados Unidos. Filho de imigrantes russos, Apple cresceu em uma famflia de classe trabalhadora, que lutava constantemente con- tra a pobreza. A cidade de Paterson, onde Apple cresceu, foi, no século XIX, uma das cidades com maior concen- ‘rago de indastrias nos Estados Unidos. Por essa raza, se tomou um dos grandes destinos da grande massa de imigrantes que chegava aos Estados Unidos. Por ser um focal com grande concentragdo de indistrias e por receber um grande ndmero de imigrantes europeus, al- guns dales com tradigdes de lutas sindicais, Paterson foi também uma cidade onde os sindicatos de trabalhadores se desenvolveram rapidamente. A cidade foi o cendrio de famosas manifestagdes pela proibigéo do trabalho Pedagogia Contemporinea infantil e de uma grande greve que paralisou os teares da indéstria da seda em 1913, com a reivindicagao de uma jornada de seis horas @ melhores condigies de trabalho. A forte mobilizacao sindical da cidade e da regido fez com que grande parte das indistrias mudasse para 0 sul, onde no havia sindicatos. Paterson passa a viver, a partir da metade do século XX, a conhecida situagao das decadentes cidades industriais: grande desemprego, subemprego e situagdes de pobreza crescente, Eneste contexto que Michael Apple inicia sua vida, Seus pais eram trabalhadores nas poucas indéstrias que resta- vam na cidade e tinham uma grande tradigao politica, de raiz comunista. A poliizagao de Apple e seu envolvimento nas discusses e nas lutas polticas de sua época aparecem ainda no ensino médio, quando ele se envolve diretamente em um movimento pela igualdade racial. Assim que conclu ieee esses estudos, Apple comepa a trabalhar. Inicia na indis- tria gréfica, um dos setores mais politizados naquela época, Enquanto trabalha durante o dia, estuda & noite em ume pe- quena faculdade local de formagao de professores. Convo- cadoa servir no Exército, Apple, em fungao de sua formacao, acaba dando aulas durante sua experiéncia militar. Gracas a sua experiéncia como docente no Exército, quando retorna 3 vida civil, ¢ contratado — mesmo sem ter concludo 0 curso — para trabalhar como professor nas escolas de Paterson. Em seu trabalho docente, logo se envolve ativamente no sindicato local de professores, tornando-se seu pre- sidente, Uma vez concluido 0 seu curso de formagio de professores e depois de exercer a docéncia por alguns anos, Apple candidata-se e € selecionado para cursar 0 mestrado na Columbia University, em Nova York, no fa~ ‘moso Teachers College. Em Columbia, ele encontra uma realidade bastante diferente daquela que conhecera na graduago, em uma pequena faculdade do interior do es- tado de Nova Jérsei. Ele imediatamente percebe o imenso contraste de estar estudando em uma das mais prestigio- sas universidades do pafs, localizada nas vizinhangas de um dos bairros mais pobres (na época) das regites metro- politanas dos Estados Unidos, o Harlem, sem ter qualquer relago com a grande comunidade negra ¢ latina daquele bairro. Apple conclui o mestrado em 1968 e, dois anos mais tarde, 0 doutorado, ambos no Teachers College da Columbia University, marcado por uma sélida formago na rea da sociologia e da filosofia. Sua tase & considerada exemplar por seu orientador e, ainda em 1970, & contra- tado para trabalhar na rea de curriculo na University of Wisconsin-Madison. Trés anos mais tarde, Apple jé tinh sido efetivado no cargo, algo que costuma levar de seis ou sate anos para se conseguir. Com apenas 34 anos, jé era professor titular, em uma carreira metedrica, incomum para os padiées da carreira académica estadunidense. Nos anos que se seguem, Apple publica indmeros livros, que vao mudar, definitivamente, 0 campo do curriculo e da educaco em geral. Vale destacar Ideologia e Curiculo, publicado em 1979, considerado por varios corno sendo um dos 25 mais importantes livios da educagao ocidental Por todo seu trabalho na University of Wisconsin- Madison, desde 1970, Apple recebeu a distingo de ser nomeado para a cétadra John Bascom, uma das poucas posigdes de catedratico concedidas pela reitoria da universidade. Ap- ple 6 professor, simultaneamente, dos departamentos de Ensino e Curricula e de Estudos de Politicas Educacionais na Faculdade de Educagao. Além disso, também recebeu TLL 14 Pedagogia Contemporénes recentemente a distingdo de World Scholar do Institute of Education da University of London, Reino Unido, o que o toma professor visitante na universidade em todos os ve- ‘Bes europeus. Além de ter incontaveis cistingSes acadk micas e uma lista extensa de publicagdes, Michael Apple 6 umn grande ativista politico, dedicando-se intensamente s lutas por justiga social nas suas varias dimensées: raga, classe, género, sexualidade. Quando Apple é convidado a palestrarem uma universidade, quase sempre €requisitado (e sempre aceita) pelos ativistas dos movimentos sociais locais para reunir-se com eles e assessoré-los. Considera esta uma parte crucial de seu trabalho como intelectual Por conta de seu envolvimento politico j foi preso na Co reia do Sul (ainda que por um breve periodo), por desafiar a ditadura local. Michael Apple vive em Madison, estado de Wisconsin, nos Estados Unidos, com sua esposa, Rima D. Apple (que também 6 professora da universidade), e préximo aos seus dois filhos, Peter e Paul, e suas familias TULLE A analise relacional em agao FT Mawez 0 concerro ue melhor resuma a con- A tribuigao de Apple para © exame da relagdo da educagao com a sociedade seja o de ana- lise relacional ou situacional Um excelente texto para en tender a concepgao de Apple a respeito da andlise relacional ou situacional € o primeiro ca: pitulo do livro Politica Cultural ¢ Educagéo. Em uma descricgaio vivida ¢ repleta de elementos muito concretos, Apple mostra, ramente, o que é situar a edu- cago em seu contexto social € relacioné-la as muiltiplas dina micas da sociedade (classe social © raca, neste caso), Recontar a histéria de Apple é a melhor ma neira de mostrar como este con- ceito é crucial em sua obt aeem suas atividades polfticas e como ele abre novas per: pectivas para OBRA DO ARTISTA japonés Masato Nakamura, que criou diversas instalacoes envolvendo os arcos da rede americana McDonald's aqueles envolvidos neste campo. Nesse texto, Apple conta a historia de uma viagem que ele fez a um pafs asidtico. Na via- gem de carro entre o aeroporto € seu destino final, ele atraves- sou quilémetros de campos com plantacao de batatas. Na beira da estrada, em intervalos regula~ res, havia placas com o simbolo da mais famosa rede de comida fast-food do mundo. No texto, Apple conta que ingenuamente perguntou ao seu colega ativis que dirigia o carro, se havia um restaurante daquela famosa rede ali por perto. O ativista respon- deu que eles estavam em uma zona rural € que o restaurante dessa rede mais préximo ficava a pelo menos 50 km de distancia. Apple ficou intrigado e o colega ativista explicou-lhe 0 que as placas faziam ali, O governo da- quele pafs havia concedido gran- des isengoes fiscais a corporagées de agronegécio ¢, em especial, a um dos grandes fornecedores de batatas daquela rede de fast-food. comodar aquelas grandes corporag6es, 0s camponeses que Para viviam hd geraces naquelas ter~ mas nao tinham a propris dade legal da terra, foram remo- vidos, em nome do progresso. ra, estas familias acabaram mi- rando para as cidades, inchando as favelas urbanas daquele pats A esta altura Apple, sabendo que seu colega era professor, come- ou a perguntar-se que relagio a hist6ria tinha com a educacio; seu amigo ativista continuou a Pedagogia Contempor FIA de Touhami historia e deixou clara esta rela~ Go. Com a isengao fiscal, a arre- diz que 0 processo que —_cadacao de impostos foi reduzida imultaneament ra investir em edu- cor branca como cagdo comegaram a rarear cada As criangas das fa estavam sem escola (entre outros 6 0 que define o servicos ptiblicos). O governo, no entanto, encontrou uma forma para ndo sofrer a pressio da po- pulagéo e da comunidade int nacional. Para que as criancas pudessem ser matriculadas nas escolas piiblicas, elas precisavam ser registradas em hospitais ou em 6rgaos do governo, ambos bastante raros nestas localidades extremamente empobrecidas. Sem o registro de muitas crian- ‘648, os ntimeros oficiais de crian- gas sem atendimento escolar acabam ficando “sob controle”. E 0 ativista termina a histéria com uma frase que Apple enfatiza para que entendamos a necessi- dade de ver a educagao de forma relacional. Ele diz que os cam- pos de plantacao de batata que Apple vé sto a causa da auséncia de escolas na periferia das cida- des. E insiste: nao ha escolas ali porque muitas pessoas gostam de batatas fritas baratas, vendi- das nessa rede de restaurantes. © ANALISAR 0 EXEMPLO dessa historia, Apple faz, LA toda a teorizacto que ele propde sobre educacdo € socie- dade fazer sentido. Ele mostra uma grande habilidade de signi- ficar conceitos complexos como ideologia, egemonia, senso comum, ideologia, poder, Exa- minando como a construgiio do ‘outro” se conecta a elementos de raga e classe, Apple é capaz de fa- zer algo que poucos conseguem: falar com a teoria e nao sobre ela. No caso especifico da histéria, ele defende o uso do conceito de branquidade como crucial para estabelecer uma andlise relacio- nal. O proceso que simultane- amente estabelece a cor branca como a norma e “cria” o “outro” racial e étnico, como todo aquele que nao se encaixa nesta norma, 60 que define o conceito de bran- quidade. Apple mostra como a branquidade se apresenta tam- bém espacialmente. O exemplo do pats asiético e seus campos com plantagao de batata ¢ suas favelas sem escolas mostra como ha uma profunda relagao entre consumir batatas fritas baratas nos paises do centro @ as con Para Apple, é crucial pergunta responder a pergunta “como?", ou seja, qual a melhor forma de “transmitir conhecimentos" ou de criar comportamentos de ajustamento aos grupos sociais, Michael Apple, entdo, propée que a educagio ¢ 0 curriculo de- veriam propor outras perguntas: “o que?” e “para quem?", Estas novas perguntas, que ndo tratam provém principalmente das teo- rias criticas. Ao incorporar uma nova line guagem que enfatiza os aspectos ideolégicos, as relagdes de poder ca relago entre cultura e rela ges de produgao para o campo da educagao, Apple resiste a ape- nas importar as andlises que j4 estavam ligando a educagio a : “o conhecimento de quais grupos é ensinado na escola?” es de vida nos pafses da perife~ ria. Como diz Apple, “consumir batatas fritas baratas ¢ uma das expresses méximas da bran- quidade”. Apple retoma aqui, de alguma forma, 0 conceito de fetiche introduzido por Marx. Em Marx este conceito ajudava a entender o processo pelo qual a mercadoria parecia ter valor, quando na verdade o valor tinha sido agregado pelo trabalho hu- mano. Apple vai além do conceito estritamente econdmico para en- tender as ramificagdes culturais (de raga, mais especificamente, neste caso) da fetichizagtio mate~ rial e simbélica A ccontribuigdo tedrica de Apple para a andlise relacional n sua obra sobre o campo do curriculo ¢ a educacao em geral — que jé tem mais de trinta anos de producao ininterrupta— Michael Apple propée novas questdes que, sobretudo nas décadas de 1970 1980, estavam muito pouco pre- sentes na vida das escolas. O dis- curso educacional, mais especifi- camente no campo do curriculo, estava basicamente centrado em © conhecimento e as préticas es- colares como dadas, mas como uma realidade a ser criticamente examinada, representaram uma ruptura com uma concepgio do- minante de currfculo, vigente naquele momento histérico. QUE A OBRA DE APPLE oferece & educagaio nao 6 mais uma resposta a pergunta "como?", mas uma sé- rie de novas perguntas ¢ preo- cupagées que problematizam o tecnicismo entio dominante no campo educacional, Para ele, 0 crucial é perguntar: “o conheci- mento de quais grupos é ensi- nado na escola?", “por que este conhecimento?", “qual a relagao entre cultura e poder em educa 80?” e “quem se beneficia de: relagio?”. Essas questdes nao tratam 0 conhecimento e as pré- ticas escolares como dadas, mas como uma realidade a ser critica mente examinada, Ao propor es- sas novas questées, Apple busca transpor os rigidos limites esta- belecidos do campo do currfeulo ¢ importar uma nova linguagem a educagao, com conceitos que dominagao econdmica, como, por exemplo, o classico trabalho de Bowles e Gintis Schooling in Capitalist America (1976). A argu- mentagio de Apple esta baseada na ideia de que para tratar das complexas relagdes entre edu- cacao e sociedade é fundamental desenvolver uma nova lingua- gem que dé conta da complexi- dade do tema em estudo. Para responder as perguntas que ele propée ao campo do curriculo e da educagao como um todo, Ap- ple incorpora conceitos como 0 de ideologia, hegemonia e senso comum para o campo da reflexfo sobre a educagao. Apple propde uma discussio que poe em xe- que o determinismo das andlises economicistas — fundamentadas em uma vertente do marxismo — que falam da cultura e da edu- cago como esferas diretamente determinadas pelas relagdes econdmicas. Ao incorporar uma andlise marxista a andlise da re- lagdo entre a educagio e a socie- dade, Apple o faz trazendo uma vertente baseada no trabalho de Antonio Gramsci. Gramsci, com sua andlise da hegemonia e do Pedagogia Comtemporinea 17 aad senso comum como conceitos centrais para entender a ligacao entre as rel ices de produgao da cultura ¢ do mundo simbélico, trazia, segundo Ap- ple, uma andlise mais apropriada para entender o campo da edu- cago nas sociedades capitalistas Essa vertente do marxismo que Apple incorpora a sua andlise & chamada de neomarxismo, pois ela incorpora a centralidade da cultura na andlise do social, algo que as tradigdes marxistas na a ester haviam feito até entao. MBORA DEFENDA UMA posigao que enfatiza a importincia de entender as relagdes econdmicas como centrais 4 estruturagdo das so- ciedades, Apple luta contra uma versio vulgar de marxismo que considera a cultura como uum mero reflexo da economia Usando 0 conceito de hegemo- nia, Apple procura fugi concepcao que vé as relagées de uma econdmicas determinando dir tamente e sem mediagGes a esfera da cultura. Usando os trabalhos de Antonio Gramsci e Raymond Williams (este também influen ciado, em grande parte, pela and- lise de Gramsci), Apple amplia 0 espectro de andlise do campo de currfculo ao propor um coneeito de ideologia que se relaciona di- retamente com os conceitos de senso comum e de hegemon Apple esereveu Ideologia ¢ Curriculo em um contexto no qual o conceito de ideologia tinha um significado muito particular, extremamente influenciando por algumas tradigdes do marxismo. Na década de 1970, trabalhos ba~ seados em Althusser e no con ceito de Aparelhos Ideolégicos 18 Pedagogia Contemporinea do Estado retratavam a escola como uma mera instincia repro- dutora da ideologia dominante. Esta concepgao tratava a ideolo- gia como um coneeito “no singu- lar’, ou seja, a ideologia era vista como um sinénimo das ideias da classe dominante ¢ tinha um cardter um tanto determinista Os problemas com este enten- dimento, segundo Apple, 6 que ele nao capta as contradigdes, sempre presentes no complexo processo de dominagao, e nao reconhece © papel que os sujei- tos (e nao meros objetos) tém na mediagio e luta contra a domi- nag&o ideolégica ¢ material. Jé em Ideologia e Curriculo, mas de forma mais pronunciada em suas is posteriores, Apple oferece um entendimento diferente do conceito de ideologia, que, além de focar a reproducao, analisa 0 conflito, a contradicao e as me- diagbes produzidas pelos sujei tos coneretos. Apple insiste que a ideologia nao deve ser entendida como uma “falsa consciéncia” di- retamente imposta pelas relacbes econdmicas. Par a Apple, a ideo- logia 6 parte da cultura vivida encharcada de senso comum. CONCEITO DE SENSO comum € outro que Apple traz. ao campo do curriculo ¢ da edueagdo em ge~ ral, para examinar como concre- tamente a dominagao se produze onde se pode ident suas contradigbes. As ideias que fazem parte do senso comum nao estdo af porque alguém simples mente forgou a sua entrada, mas porque elas fa ficar parte de vem sentido para aas pessoas nas suas vidas cotidia~ nas, O senso comum é formado por diferentes ideologi: estas ndo sao “falsas imagens” da realidade; so concepgoes mas de mundo imersas nas visdes de classe, raga, género. Apple & muito claro nisso: insiste que no deviamos focar o que é falso em uma ideologia, mas 0 que é verdadeiro; ideologias que tém eficdicia conectam-se com pro- blemas reais das pessoas, com a experiéncia cotidiana delas. PARA APPLE, “ideologias que tém eficacia conectam-se com problemas reais das pessoas, com a experiénci cotidiana delas” O senso comum é formado (mas nao de forma exclusiva) por ideologias hegeménicas, pois as classes (ou raga, genera) dominantes sto capazes de apre~ sentar sua visto de mundo como a forma “natural” de entender ¢ operar na sociedade, Um dis hegem@nico por- que ele consegue ancorar-se em entendimentos j4 presentes no senso comum e mobilizélos, de curso se tor modo que esta seja a tinica forma de ver e viver no mundo social. Apple nos ajuda a entender que este é um proceso em continuo movimento, no qual os grupos isam lutar para manter a lideranga da sociedade. dominantes pre Esta lideranca nao @ garantida simplesmente pela dominacao econdmica. Apple, valendo-se da contribuigio de Raymond Williams, usa a nogio de turagio” para explicar © efeito No entanto, n arantia de que a hegemonia, uma vez ob- tida, tenha uma longa duragao ou se stabeleca para sempre. Par construir lideranga, 0 bloco he- geménico prec dis conectar 0 sett curso a vida pritica. Este € 0 trabalho cultural queoblocohege- ménico tem de realiza ment ‘onstante- estabelecer 0 sen discurso ‘i que nao é visto como 0 discurso comoaquele que"faz sentido” algo dominante, mas como a forma “natural” de pensar e proceder. Qui HA, uma importante cone- xo: essa ideia de “fazer sentido”, de produzir formas naturalizadas de coneeber as re- lagdes sociais, est diretamente relacionada ao conceito de senso comum, Nenhuma ideologia se torna dominante se nao esta, a0 PARA AppLe, menos parcialmente, ligada a0 senso comum de cada perfodo histérico, Ou seja, Apple nos mostra como aquilo que a ide- ologia dominante promove nao éuma Jeia totalmente estranha lidade falsa, Uma importante parte da as pessoas nem uma Nenhuma ideologia se torna dominante se nao esta ligada ao senso comum de cada periodo historico que € produzido sobre nossa consciéncia: ao experimentar= mos crengas ¢ formas de ver 0 mundo de forma pr tém 0 efeito de reforgar umas as outras e produzir um efeito de realidade tinica. Esta 6, para Ap- ple, a forma como a hegemonia se instaura tica, essas hegemonia ¢ obtida exatamente qu consegue converte ando o discurso dominante “se em senso comum, quando 0 discurso do- minante é capaz de articular-se aos elementos de bom senso pre- sentes no senso comum. Apple insiste que esta é uma construgao histériea © que o senso comum Pedagogia Contemporinea 19 nca € totalmente conver- > em discurso dominante. Na verdade, apesar de senso comum ter sido “trabalhado’ pelas classes dominantes, cle preservou suas cai eter ti cas basicas: 6 fragmentado e contraditério, perpassado por miiltiplas e diferentes ideolo- gias. A “colonizacao” do senso comum nao é es cel ou per- manente: 0 senso comum é sempre uma arena de disputa, © uso que Apple faz dos coneeitos de senso comum, ide- ologia © hegemonia nos ajuda a entender a complexidade das aliangas hegeménicas. O uso que ele faz. do conceito de blo- cos hegeménicos, jé em suas primeiras obras, mas de forma Crewe maneira mais explicita e sofis~ ticada em sua obra a partir do final da década de 1980, Apple tem mostrado que no apenas a classe social, mas também as dinamicas de género e raga tém um papel central na ané- lise das aliangas hegeménicas © contra-hegeménicas e na propria manutencao destas. O controle do trabalho docente: as dinamicas de classe e género A anillise que Apple faz do trabalho docente € uma das grandes contribuigdes do autor para o campo da educacio, Ao mostrar queé fundamental exa- minar a interseegao das dina- micas de classe social e genero, Michael Apple oferece uma analise complexa da realidade do trabalho docente nas escolas mais incisiva em seus livros mais recentes, o ajuda a ex- plicar o grande trabalho que precisa ser feito para construir e manter cas. A anilise dessas aliangas permite enten- der que examinar hegemonia e contra-hegemonia é mais complexo do que algumas cor- rentes marxistas simplificado- ras nos fazem crer RUPOS DoMINADOS também podem ser atraidos para den- tro das aliangas hegemdnicas e nfo é apenas a classe social destes grupos que determina esses movimentos, Desde seus primeiros trabalhos, mas de 20 Pedagogia Contemporinen ele inovou construindo um referencial tedrico mais com plexo, que da conta das milti- plas dimensdes do controle do trabalho da profissio docente. Inicialmente relacionando © processo de proletari redugao dos salarios, sepa cdo crescente entre concepcao e execugao no processo de tra- balho, aumento das formas de controle, com perda de auto- nomia) e a estrutura patriarcal (controle baseado na domina~ ), Apple mos- glo. masculin tra como a profissio docente, composta em sua maioria de professoras mulheres, tem sido controlada. Ele, no entanto, vai além, para mostrar como as formas mais tradicionais de controle patriarcal, aque- las nas quais as mulheres so explicitamente controladas, por serem mulheres, tém per- dido espaco. A organizacdo ¢ a resisténcia dos movimentos feministas ¢ das professoras mulheres nos sindicatos tém tornado mais dificil este con- trole abertamente patriarcal. O trabalho de Michael Ap- ple, usando a andlise rel acio~ nal proposta por ele, avanga muito ao demonstr: r como o controle do trabalho docente se dé de formas mais veladas € mais eficientes. A profunda desconfianga em relacio a ca- pacidade das professoras mu- theres de ensinar os conheci- mentos cientificos necessirios para a suposta manutencio da vantagem competitiva do sistema educacional estadu- nidense foi um grande fator na criacao dos curriculos “2 prova de professoras”. Como » controle nao podia mais ser explicitamente baseado no pa~ triarcado, as formas de moni- toramento se deslocam para o campo do curriculo e para a intensificagao do trabalho. ple mostra como 0 proceso de retirada da capacidade de de- cisio sobre o que deve ser tra- balhado nas escolas somado a préticas que agregam cada vez ESCULTURA DA ARTISTA francesa Louise Bourgeois. Apple afirma que “as formas mais tradicionais de controle patriarcal, aquelas nas quais as mulheres sao explicitamente controladas, por serem mulheres, tém perdido espaco” mais elementos ao trabalh docente cotidiano sto fatores de controle sobre as professo- ras. Ao colonizar os discursos sobre profissionalizacao, que defendem 0 aumento da re ponsabilidade dos professores € professoras, os grupos do- minantes contribuem para um processo que gera o contrério da profissionalizagio: a de: > intelectual. Sem qualifieag tempo para planejarem suas aulas nem individualmente, muito menos coletivamente, muitas professoras acolhem os curriculos, que funcionam como verdadeiros roteiros da agio na sala de aula. SSES CURRICULOS, COMO um scrip, ditam exa- tamente o que fazer, como fazer e quando fazer. Ci- tando as falas de pr fessoras que lutaram historicamente pela profissionalizacao, Ap- ple mostra como elas perce- bem que esto caindo em uma armadilha ao exi girem mais profissionalizagao, pois o que tem acontecido é a soma de mais tarefas e a perda da au- tonomia. Ao mesmo tempo, Apple as professoras resistem com nostra que, quando um discurso que enfatiza 0 cuidado com os alunos, elas também sio julgadas por re- petirem exatamente 0 que os grupos dominantes, especia mente aqueles que repetem um certo discurso gerencia- lista dentro do Estado, denun- ciavam: a incapacidade dessas professoras de trabalharem os conhecimentos cientificos. Em uma anélise que trata as dinimicas de classe e de gi Pedayogia Contemporines 22 Pedagogin Contempordines ea neroem suarelagdo, Applemostra como o controle sobre o trabalho docente sé pode ser entendido se também 0 controle do trabalho feminino é entendido. Mostrando as contradigdes dos d resisténcia, mi zando as vitorias histories de curso também enfati- que tado, Michael Apple oferece uma and lise complexa da realidade do trabalho docente nas escolas. as professoras tém conqui Uma nova visdo sobre um “velho” conceito: 0 curriculo oculto Outra contribuigao central da obra de Michael Apple é a dis- cussiio sabre 6 cu riculo oculto, Examinando a literatura produ- rida sobre este conceito, Apple mostra que, de fato, este é um tema central a serexaminado. No entanto, ele mostra que, na época em que ele escreveu suas primei- ras obras, a énfase era dada a for- magao de habitos e préticas auto- matizadas © conscientes, que pouco ou nada tinham a ver com © conhecimento trabalhado nas escolas. Assim, enquanto problematizadas (ou enfa sedimentado de que os conheci mente colares eram os conheci se mentos da humanidade sobre cada uma das disciplinas escolares, que nao havia por que analisé-los. GRANDE CONTRIBUIGAO DE Apple para a teorizagao do curriculo oculto mostrar que as disciplinas esco- lares se consolidaram de forma a apagar um processo central na histéria de sua constituigao: a “tradig&o seletiva’. Usando este conceito de Raymond Williams, Apple demonstra como aquilo que € definido como conheci- mento escolar 6 na_verdade, um reco a inimera variedade de conhe- cimentos produzidos por dife- entes culturas em diferentes . Ou seja, 0 currieulo oculto no é apenas um fendmeno presente na geracio de comportamentos, mas tam- bém na reprodugio nao questio- nada de conhecimentos escolares fe, uma selecio dentre periodos histérico: declarados como universalmente validos ¢ neutros. Cunhando © conceito de “conhecimento oficial” (conceito este que di o A logica do consenso que impera nas escolas ajuda a produzir um discurso de impossibilidade de mudancas como positivas e centrais para a socializacao, como, por exemplo, nos tedricos funcionalistas) es- tas inclinagdes produzidas nos comportamentos dos alunos, 0 curriculo explicito, aquilo que se “ensina” nas escolas, ava sem exame. Era como e houvesse uma espécie de consenso tao titulo a um de seus livros), Mi- hael Apple trata de aplicar a ideia, ja pre Bourdieu, de que aquilo que ae: cola chama de 0 conhecimento é,na verdade, um recorte. Este é na verdade, um conhecimento que abeleceu como oficial, rel ente no trabalho de sees gando todas as outras formas de conhecimento periferia. Estas outras formas de conhecimento nem merecem receber o nome de conheeimento, sendo chamadas de “folelore” ou “saber popular’ por exemplo. Apple, portanto, ao usar 0 conceito de curriculo oculto, con- tribui para a complexificagao do conceito: € preciso, para enten- der as dindmicas de reproducto € produgio da escola, prestar atengao 4 construgdo de estra- tégias de ajuste (c tolerancia ao desconforto gerado pelo ajuste, como agrega Apple) baseadas na educagao do corpo e do intelecto. Mas também é cru i atentar para as dindmicas que reduzem ‘os horizontes dos alunos ao tratar conhecimentos como neutros. Nesta linha, Apple também nos ajuda a entender dois outros fendmenos da vida escolar, que contribuem para a producio ¢ reprodugao das relagoes de po- der, € suas miltiplas dindmicas de classe, género e raga, O pri- meiro € a deliberada eliminagao do conflito como componente do processo educacional e o apaga- mento deste conceito na consti- tuigao da ciéncia. Apple demons- tra como a légica do consenso que impera nas escolas ajuda a produzir um discurso dominante de impossibilidades de mudanca. Ao mostrar de que forma as no- Bes de ciéncia e de estudos so- ciais usadas na escola eliminam oconilito como fonte de geragio de novo conhecimento, Michael Apple mostra como a priitica de identificar 0 conflito sempre negativamente € 0 consenso itivamente ajuda a satura” © senso comum com categorias explicativas que ten- dem a reprodugao. lomo prz APPLE, QuALQUER resposta que ndo apre- ‘sente oconsenso como es truturador do social nfo parecer “natural”. O segundo é 0 papel da escolarizagtio nao apenas como reprodugao, mas como produ- cdo também. As anilises criticas do papel da escola na sociedade capitalista enfatizavam um papel MICHEL APPLE afirma que aquilo que é definido como conhecimento escolar 6, na verdade, um recorte, uma selegao dentre a inimera variedade de conhecimentos produzidos por diferentes culturas em diferentes periodos histéricos reprodutor desta instituigio. Ou seja, a producto da s pitalista se dava na esfera da pro- ducdo e a escola era um local em que esta produgio era repassada 205 alunos: a escola era uma espe cie de espelho das relagdes de pro dugao, em que a agdo de verdade ocorreria. Apple defende a ideia de que, mais do que apenas repro duzir algo que foi produzido fora de seus muros, a escola 6 também. uma esfera de produgao das rela~ ‘ges de dominacio, em suas mil tiplas dindmicas. Isso quer dizer que 6 crucial estudar como, c cretamente, ocorre esta produgio das condigdes que mantém a so- ciedade capitalista e suas miiltiplas esferas de opressio fimeionando, Mas também quer dizer que a es- cola 6 um espago em que se podem, criar novas dindmicas, em que ha sujeitos coneretos mediando apro- dugdo da hegemonia, queé sempre um processo e nunca um dado. iedade ca- Novos rumos Em seus trabalhos mais re- centes (um bom exemplo ¢ 0 li- vro Eduwando 4 Direita), Apple tem buscado entender 0 movi- mento que ele chama de “Nova Direita”. ‘Trata-se de um con- junto de grupos que formam uma alianga entre neoliberais, neoconservadores, populistas autoritérios ¢ a nova classe mé- dia profissional, Para Apple, essa Pedagogia Cont Mead alianga é na verdade um bloco hegeménico, ou seja, uma unio estratégica de interesses que g: rante a dominagio dese grupo Os neoliberais buscam a intro- dugao da nogo de mercado em todas as esferas da vida social IDEIA-& QUE SOMENTE pela introdugao da com- peticao entr maior produtividade (entendida as escolas, como melhores resultados com © uso de menores recursos) do tr balho em sala de aula ea pre~ miagao dos melhores individuos é que a educagao superara a sua crise atual. Os neoconservadores buseam um reto rnoaum passado dito “perfeito”, época em que os valores eram transmitidos sem problemas ¢ a escola ensinava 0 verdadeiro” saber eu objetivo Eo estabelecimento de padroes a serem seguidos por todas as es- colas. Os populistas autoritérios introdugao da légica do mercado em todas as esferas do social. Esse grupo participa da alianga, cio do conhecimento técnico gerencial pois depende da amplia que possuem para garantir sua mobilidade social. Nesse sentido, a eles interessa a desigualdade: suas credenciais tém mais valor se menos pessoas as detiver m Segundo Apple, esses quatro grupos forjaram uma alianca atégica, que ndo é garantida para sempre e depende de uma est constante rearticula Ariquezadaargumentagilode Apple (baseada principalmente em Gramsci) est4 no fato de que se entende essa Nova Direita nfo como um bloco eoeso, mas como um bloco em que hi con- tradigdes de interesses, mesmo que haja uma trégua temporaria para garantir os interesses co- muns desses grupos. Como diz Apple, s 2 é verdade que os neo~ Os neoconservadores buscam reaver um passado “perfeito? em que a escola ensinava o “verdadeiro” saber sao os fundamentalistas cristios que querem impor sua visio reli- giosa conservadora na sociedade em geral ¢ na educaglo mais es- pecificamente, Como diz Apple, eles querem um retorno do seu Deus em todas as instituigées so- ciais, Finalmente, a nova classe média profissional é 0 grupo que proporciona os conhecimentos técnicos de gerenciamento ¢ avalia io das priticas necessé- vias & manutengio da alianga do- minante, tais como o estabel mento do consenso em torno da agogia Contempordnea m um estado fraco € nao intervencionista, também 6 verdade que os neoconserva- dores demandam um controle maior do Estado, inclusive com a elaboragdo de um curriculo nacio! al que congregue o pais como um todo em torno de uma pretensa cultura comum. Atra- vés de uma costura de interesses: comuns, as contradigdes foram historicamente minimizadas. E alianga que vem produzindo ‘© que Apple chama de moderni- zagao conservadora, ou seja, um processo que “moderniza” 0 so- cial, mas nao para torné-lo mais justo e igualitério, mas sim para tornélo mais conservador ¢ re- produtor do status quo. Contudo, 6 ponto mais impor- tante da andlise de Apple € que esses grupos ndo se tornam he- gemér mou cn ‘os porque te ganam as pessoas a acreditarem em uma determinada concepgio de mundo como sendo a melhor para operar a sociedade, mas por que se conectam ao senso comum dessas pessoas e, nese proceso, convencem-nas a acreditar nessa particular forma de ver e organi- zar o mundo, A anélise de Apple buse: io simplificar 0 exame de um fendmeno complexo como a criagio de verdades sobre 0 so- cial; ele busca construir uma teo- jude a entender as rizagdo que varias mediagdes que ocorrem OPERARIOS NA TELA da artista il Tarsi Amaral. Para Apple, € fundamental “entender as tradicées politicas que constituem o imaginario de uma nagao” Peslagogia Contemporfinea 25 esse processo. Na entrevista que concedeu e que esté publi- cada na terceira edigio de Ideolo- gia e Currfeulo, ao falar da tradi- ho erftica nos Estados Unidos, Apple mostra claramente como 6 fundamental entender as tra- digdes politi 6 que constituem o imagindrio de uma nagao. Isso também pode se para a andlise dos blocos hege- ménicos formados em diferentes contextos nacionais, algo im- portante na implementagao da anélise de Apple. Se quisermos entender como tais aliangas ope- ram em diferentes contextos, 0 caminho nao é buscar tais grupos Escola Cidada). Este € um des- dobramento crucial da obra de Apple, pois trata de implementar concretamente o alerta que ele faz em sua obra ha varios anos: € fundamental nao apenas ana- lisar a sociedade, mas também transformé-la Um educadore pesquisador que enfatiza seu ativismo politico Nao se pode concluir este breve passeio pela contribuigao de Michael Apple para 0 campo da educago sem que se destaque a importancia que o seu ativismo politico seu engajamento em lu- Lille hashes hilt tamente 0 seu engajamento poli- tico e sua crenga de que 2 teoria precisa entender nos ajudar nao somente a a realdade, mas também a transformé-la, que tem feito com que cle critique algumas das inter pretagdes pés-modernas e pos-es- truturalistas, Para niio esquecer a hierarquiia que as . pple, é crucial laces de classe, género e raga produzem, algo que € esquecido por algumas dessas interpreta- goes simplistas quando declaram que os discursos criam a realidade que deserevem, Apple mostra que alguns destes discursos tém le- gitimidade e outros nem sequer so ouvidos. E o seu comprometi- Para Apple, um dos papéis cruciais da pedagogia critica é transformar a educacgao wssa realidade, mas utiliz: as ferramentas te6ricas com- plexas forjadas por Apple para analisar as particulares relagd s entre diferentes grupos hege- indnicos ¢ contra-hegemdnicos & a formagio de blocos espeeffica destes locais, ‘AIS DO QUE SIMPLES- mente entender como a Nova Direita vem operando, em suas dltimas obras, especialmente naquelas que tem escrito em parceria com outros autores, Apple tem enfa~ tizado o aspecto contraditério da educagdio como espago social. Ele tem mostrado experiéncias con cretas de produgio de contra-he- gemonia, de contestagao, de con- tradigao e resistén lugares do mundo (inclusive em Porto Alegre, na experiéncia da ia em alguns 26 Pedagogia Contempordnea tas mundiais por uma sociedade uma educagio mais justas (que va~ lorizem simultaneamente a neces sidade da distribuigao igualitéria de bens materiais e simbdlicos do reconhecimento da diferenga) tem em sua trajetéria e em sua obra. Apple insiste que um dos pa~ péis cruciais da pedagogia critic é transformar a educaclo ¢ nfo apenas analisé-la, © compromisso politico de Apple tem guiado suas preocupagdes teéricas, e sua cente sofisticagao tebrica deriva de seu engajamento nas complexas questies que envolvem 0 campo da educagio e sua relagio com a sociedade mais ampla. Em suas buscas por uma teorizacho que tenha poténcia para analisar estas complexas realidades contem- porfineas, Apple tem recorrido a alguns elementos das teorias pos estruturalistas, No entanto, é exa- res idade de uma sociedade mais justa que baliza sua anilise sobre a teorizagalo capaz de analisar de forma mais complexa a nago ¢ as eontradigoes. mento com a neces: M SEU ativismo, APPL no cai na tentagio de imaginar que, como in- telectual, tem a resposta para a agio transformativa. Em seus til- timos escritos tem insistido queo papel dos intelectuais 6 também operar como “secretérios”, dando visibilidade as praticas transfor madoras construfdas por prot sores e professoras em escolas concretas, em sua luta didria. FE crucial sistematizé-las, analisé- las, criticé-las e aprender com seus acertos e erros neste pro- jeto de uma educagao mais justa. Os esforcos de Apple para construir uma teorizacio so- fisticada que permita construir estratégias concretas de trans- forma cago podem ser resumidos em uma frase de um di (Power, Meaning, and Identity), em que define 0 que significa Wao da sociedade e da edu- sus livros para ele buscar este equilibrio: “ser critico, mas fundamentar critica no reconhecimento das complexidades das € dos atores que atuam dentro dela; pensar teoricamente, mas lutar para ser o mais claro pos sivel; pensar criticamente até mesmo sobre 0 mais radical tra- balho do nosso campo, mas ainda sim apoiar 0 que os membros da comunidade de estudos eriti da educagio esto fazendo para nos mostrar 0 que ndo éramos capazes de entender antes de s trabalhos”, Apple tem mos- ado este equilfbrio em sua obra t e, com seu trabalho, contribufdo grandemente para uma anélise mais complexa da educaco ¢ para praticas mais informadas e com maior capacidade de inter- vengao social. Luis Armando Gandin & doutor (Ph.D) em F:ducagao pola University of Wisconsin Madison, Estados Unidos. € professor de Sociologia da Edveagdo na Faculdade de Fucagio ena Programa de Pés-Greduaga ‘em Educagio da Universidade Federal do Rio Grande co Sul. € editor-chefe da Revista Eauayao & Realede e editor da revista Curricula sem Fronteiras. Ente suas publicagbes destacam-se Educaro Libertadora: Avangos, Limites e Contadiges (ozes, 196), Educarao em Tempos de Incortezas, orgarizadio com Alvaro Hypotito (Auténtica, ec, 2003/Didsotica, 2003, The Routledge Intemational Hanabook cof Critical Education, organizado com Michael Apple e Wayne Au Routledge 2009/ArtMed, no pret) @ The Routledge Intemational Handbook af Sociology of Education, organizaco cam Michael Apple a Stephen Ball Rautladge, 2008), Obras (selecionadas) de Michael Apple Appte, Michael. Power, Mean- ing, and Identity: Essays in Cri- tical Educational Studies, New York: Peter Lang, 1999. (org;). The State and the Politics of Knowledge. New York: Routledge, 2003. 1u, Wayne; Gaxpis, Lufs Armando (org.). The Routledge International Hand- book of Critical Education, New York/Londres: 2008. Routledge, ; Batt, Stephen; Gan- pix, Luis Armando (orgs.). The Routledge International Handbook of Sociology of Edu- cation. New York/Londres: Routledge, 2009. (org. Social Justice, and Education: What Can Education Do? New York: Routledge, 2009. lobal Crises, Em portugués Appie, Michael. Ideologia ¢ Curriculo. 3*.ed. Porto Alegre: Artmed, [19797] 2006. Educacdo e Poder [19827 Porto Alegre: Aruned, 1989. Trabalho Docente e Economia Politica das Texto Relacoes de Classe ¢ Género em Educacao, Porto Alegre: Artmed, [19867] 1995. Conhecimento Oficial: A Educacto Democritica numa Era Conservadora, Petrépolis: Vozes, [1993] 1997 = BEANE, (orgs.). Escolas Democriticas. Sao Paulo: Cortez, [1995] 1997 James Politica Cultural ¢ Educagao. $8 Paulo: Cort [19967 2000. . Educando a Direita: Mercados, Padroes, Deus ¢ De-~ sigualdade. Sao Paulo: Cortez, [2001] 2003 Bunas, Kristen L. (orgs.). Curriculo, Poder e Lutas Ezducacionais — Com a Palavra os Subalternos. Porto Alegre: Artmed, [20057 2008. Entrevista com Michael Apple Appx, Michael, “Reestrutura~ Go Educativa ¢ Curricular ¢ as Agendas No conservadora: Eni Michael Apple". Curriculo sem Fronteiras, v1, n. 1, 2001 [Dis- ponivel em . A olibera e Neo- ista com semfrontei cesso em 20/10/2009]. Sobre Michael Apple Weis, Lois; Dinrrriapis, Greg; McCanrny, Cameron (orgs.). Ideology, Curriculum, and the New Sociology of, cation — Revisiting the Wo of Michael Apple. New York: Routledge, 2006, Panasneva, Joao M. “Michael W. Apple ¢ os Estudos Zeur- riculares] Criticos’. Curricula sem Fronteinas, v. 2, n. 1, 2002 [Disponivel em

También podría gustarte