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Colombo: entre a Experiéncia e a Imaginagao RESUMO Analisando a vida ¢ os escritos de Cristévéo Colombo, a autora trabalha com conceitos de raxdo ¢ crenga. Ao mostrar as similitudes e singularidades entre o relato histérico ¢ 0 literdrio, aponta a Vera- cidade e a Imaginagéo como elementos constitutivos e presentes nos textos elabo- radas pelo historiador * Janice Theodoro da Silva ABSTRACT Columbus: Between Experience and Imagination In analyzing the life and writings of Christopher Columbus, this article focuses ‘on the concepts of reason and bel Showing the similarities and peculiarities between historical and literary accounts, the author shows how Truth and Imagina- tion form essential elements present in historians’ works. O problema ndo é inventar. E ser inventado. Carlos Drummond de Andrade Os escritos de Colombo ¢ sobre Colombo abrem uma porta para a re- flexio sobre o significado da experiéncia e da imaginagdo nos séculos XV ¢ XVI. Este grande navegador elaborou uma hipétese, a de que a terra era re- donda, ¢ a partir dela experimentou navegar o Ocidente, querendo chegar ao Oriente. Um grande gesto, fruto da imaginagdo ¢ da experiéncia, 0 imorta- lizou, especialmente quando sua hipétese foi comprovada através de uma Professora do Departamento de Hist6ria/USP. viagem de circunavegacao 2, Embora a América ndo fosse as indias, a terra era, de fato, redonda, Portarito, Colombo tinha razdo ao propor, para todos aqueles que estavam interessados em realizar 0 comércio com o Oriente, esta viagem. Este é um lado da histéria bastante conhecido € que podemos compro- var, fornecendo informag6es seguras para todos aqueles que desejam anali- sar a empresa colonial. A montagem de uma economia mundial * realizada em grande parte por Portugal e Espanha, financiada por capitais muitas ve- zes oriundos de outros reinos ou cidades, transformou profundamente as formas de vida na América. Caminhando por esta vertente historiogréfica, tenderemos a construir a nossa personagem Colombo como um homem modemo. Mas, teria sido o reconhecimento e a colonizagio da América marcada basicamente pelo pensamento modemno? EXPERIENCIA E IMAGINACAO Todas estas proposigdes, descritas ¢ interpretadas em seqiiéncia, sio verdadeiras, ¢ representam, de fato, parte do que ocorreu. Mas, a0 mesmo. tempo, embora sejam colocagées claras e objetivas, nao do conta nem da personagem nem da natureza das transformagées ocorridas tanto na América como na Europa. Andlises marcadas pelo pensamento moderno excluem parte da histéria, nao aquelas partes que se referem as experiéncias comprovadas, mas aquelas outras que compem o imagindrio cristo e pa- g40 que foram o instrumento basico no convivio entre os indigenas e os eu- ropeus na Idade Média. A comunicagao entre indigenas e europeus, reali- zada através de gestos, linguas, ou ainda, da fabricagdo de objetos de cul- tura, cristalizaram 0 universo cultural americano, 4 medida em que ambos eram fragmentados. Convém lembrar os relatos de Antonio Pigafe. Primer Viaje Alredor Globo. Barcelon, Ediciones Orbis, 1986. A obra original foi escrita em italiano e teve sua primeira edigo em 1800 com o titulo: Primo Viaggio in torno al Globo Terracqueo. Este livro nao ¢ 0 difrio de viagem. mas uma correspondéncia claborada a pedido de Clemente VII, da qual fazer parte informages sobre a primeira viagem de circunavegacio. Femi de Magalhics foi um de seus antifices cuja meta maior era fazer investigagdes sobre 0 cflculo de longitudes. A viagem durou trés anos contando com & participagao de duzentos e trinta e sete homens distribuidos em cinco embarcapdes dos quais sobreviveram apenas 18 em um navio, Femio de Magalhaes avida nesta viagem. Vitorino Magalhies Godinho. Os descobrimentos e a Economia Mundial. Lisboa, Editorial Presenga, 1981. 28 Neste sentido, deveremos percorrer tanto o universo marcado pela imaginacdo quanto aquele outro que sabios e filésofos da época denomina- ram as raz6es das descobertas. Assim, procuramos analisar as formas de convivio interculturais estabelecidos na América. Ao abandonarmos, por- tanto, a convengdo da variedade, como tinico objeto de estudo do historia- dor, poderemos fundir relato histdrico e relato literério. Tomemos um exemplo, para esclarecer esta proposta: Dom Fernando se refere com muita clareza em seu livro, a Vida Del Almirante, ds raz0es que moveram Colombo crer que poderia descobrir as Indias: "Vinicndo, pues, a decir las razones que movieron al Almirante al descubrimento de las Indias, diré que fueron trés a saber: los fundamentos naturales, la autoridad de los escritores y indicios de los navegantes. En cuanto a Jo pri- mciro, que ¢s raz6n natural, digo que él consideré que, como toda el agua y la tierra del mundo constituyam una esfera, era posible rodearse de Oriente a Occidente, andando por ella los hombres, hasta estar pies com pies los unos en los otro, en cualquicra parte que en opésito se hallasen. En segundo lugar y conocié por autoridad de autores aprobados que gran parte de esta esfera habia sido navegada y que no quedaba, para ser toda descubierta, sino aquel espacio que habia desde ¢l fin oriental de la india, de que Ptolomeu y Marino tuvieron noticia, hasta que, prosiguiendo la via del Oriente, tornasen por nuestro Occidente a las islas de Cabo Verde y de los Azores, que era la tierra m4s occidental que entonces estaba descobierta. En ter- cer lugar, entendia que aquel dicho espacio que habia entre el fin oriental, sabido por Marino, y las dichas islas de Cabo Verde, no podia ser mas que la terceira parte del circulo mayor de 1a esfera, pues que ya el dito Marino habia descrito por el Oriente quince horas 0 partes de veinticuarto que hay em la rendondez del mundo, y basta a las dichas islas de Cabo Verde no faltaba cuasi ocho, porque aun el dicho Marino no comenzé su descripcién tan al Poniente. (...)" 4, A utilizagao da palavra razdo e crenca so cxtremamente significati- vas para se compreender a personagem Colombo e sua época. Indicam a presenga do vinculo entre o pensamento medieval e o pensamento renascen- tista. Por outro lado, Colombo é levado a observar a realidade, e a partir destas observagOes, chegar a determinadas conclusdes. Por outro lado, Colombo cré em algumas profecias e preserva, de maneira admir4vel, os ideais da cavalaria que o distanciavam da realidade ¢ da experiéncia da qual ele era 0 artifice. Colombo, ao mesmo tempo que descobre ser a terra re- donda, procura encontrar o caminho do Paraiso terrestre. Este paradoxo (realidade ¢ sonho) presente em Colombo ser elemento constitutivo das formas de apresentagdo do universo indigena, parte também integrante da nossa ancestralidade cultural. DO IMAGINARIO A REALIDADE Como fundir 0 relato histérico com o relato literrio? Talvez a melhor maneira para se trabalhar 0 documento hist6rico seja analisar as formas de narra¢do presentes nos documentos de um determi- nado periodo hist6rico, sem preocupagao em separar, a priori, o que poderia ser ciéncia do que poderia ser imaginago. Evidentemente, ao aceitarmos esta proposigao estamos descartando aqueles estudos que concebem a histéria como disciplina mais préxima das cincias naturais do que da literatura, opondo, portanto, hist6ria ¢ literatura, Ao analisar relatos hist6ricos partiremos do pressuposto, tao bem fun- damentado por Walter D. Mignolo > para quem: “ o capitulo Vi cancteria bem o lato modemo do pentamento consruféo pela narrativa de sen filho Don Femando Colon. Vida Almirante Don Cristobal Colon. México, Fondo de Cultura Econémica, 1984, p. 42. O titulo do capitulo é bastante sugestivo. "De la rézon principal que movié al Almirante a creer que podia descubrir las Indias". Considero os trabalhos de Walter D. Mignolo extremamente esclarecedores quanto as ‘questdes conceituais que atordoam os historiadores que navegam em meio & convengto da veracidade. Vale a pena ressaltaro artigo, "Dominios Borrosos y Dominios Tedricos: Ensaio de Elucidacién Conceitual", in Filologia Buenos Aires, Faculdad de Filosofia y Letras, ano XX, 1985, pp. 21-40. 30 "veracidad y ficcionalidad se conciben, en mi sistema concep- tual, como convenciones que regulan el empleo del lenguaje, li- teratura e historia se conciben como NORMAS que regulan el empleo del lenguaje en una pritica discursiva disciplinaria." Portanto, o nosso enfoque, ao analisar um documento, muito se parece com aquele que preside a anélise literéria. Veracidade e imaginacGo so elementos constitutivos do texto histérico. A presenga alternada, combinada ¢ espelhada torna muitas vezes dificil, ao historiador, separar 0 fato pro- priamente dito, do que é imaginag4o, ou o que se transformou de imagina- ‘¢do em fato documentado (descobrimento da América), ou ainda, o que foi um fato distorcido, apenas, um pouquinho pelo olhar do narrador, daquele que foi muito distorcido. O DIARIO DE COLOMBO Existem polémicas notdveis quanto & autenticidade dos dirios de Colombo ¢ também com relagao A Vida do Almirante escrita por seu filho Fernando, Henry Harrisse (1830-1910), por exemplo, chegou mesmo a su- gerir um Autor como o responsdvel pelos escritos: 0 humanista Hémnan Perez de Oliva §, Mascarenhas Barreto 7 publicou, em 1988, um livro no qual Crist6vaio Colombo ganha a nacionalidade portuguesa e'é apresentado como agente secreto de Dom Jodo II, Estas polémicas demonstram, antes de mais nada, um gosto pelo suspense, pelo desejo de decifrar o indecifravel, de descobrir indicios § em meio a filigranas s6 perceptiveis a historiadores- detetives que atuam munidos de lupa. Nos casos, em que muitas vezes se torna impossivel descobrir a verdade, ¢ que sdo os mais freqiientes, o mais interessante é analisar a relagdo do detetive-historiador com 0 documento. © Hemando Colon, Vida del Almirante Don Cristobal Colon, México, Fondo de Cultura Beondmica, 1984p, 15-16. Mascarenhas Barreto. O Portugués Crisiévio Colombo. Agente secreto do rei Dom Jodo I. Lisboa, Referendo, 1988. § carlo Ginzburg. Mitos, Emblemas e Sinais: Morfologia ¢ histéria, Sto Paulo, Companhia das Letras, 1989. O capitulo “Sinais: Rafzes de um paradigma indicisrio” aborda uma séric de quesiées que nos levam « questionar a oposiggo "racionalismo" ¢ "irracionalismo" que muitas vezes nos impede de penetrar, como homem modemo que somos, no universo da narrativa histérica, 31 Afinal, quando surgem estes cronistas ¢ historiadores preocupados em re- construir a verdade e, qual 0 caminho que seguem para alcan¢4-la? Teria Colombo intengao em ser objetivo? Saberia o homem medicval enfrentar 0 seu destino, a fortuna, armado da raz4o? Ou preferiria experimentar as suas hipoteses armado de f6? Um documento histérico, a Vida do Almirante Don Cristébal Colén, escrita por seu filho Don Hernando, ainda que tenha sido escrito por outro Hernén Pérez de Oliva, ou ainda outro cujo nome desconhecemos, tal do- cumento ou tais documentos estfio de acordo com outros escritos do Almirante. Estes antigos manuscritos tazem as marcas da mentalidade me- dieval ¢ renascentista, expressa em um modo de ser. Ou seja, a forma da narragao de Colombo ¢ de seus contempordneos nos permite re-conhecer, concomitantemente, a convengdo da veracidade e da fantasia ou imagina- do. Ou seja, as verdades ¢ sonhos produzidos por Colombo ou por seu fi- Iho, ou ainda, por outros companheiros, fazem parte, igualmente, do mesmo sistema conceitual. Empregam convengoes em nivel da linguagem que nos abrem as portas, tanto para a compreensao histérica de uma época, quanto para a fruicio literdria de um texto de época. O Didrio de Colombo ea Vida do Almirante nos mostram como a América foi inventada antes de ser descoberta. A invengdo, palavra esco- Jhida por O'Gorman ° para contrapor-se A criagao (que supée’produzir algo “ex nihilo, portanto com sentido apenas dentro do Ambito da fé crist&”) car- Tega no seu bojo uma reflex4o que ultrapassa em muito o descobrimento propriamente geografico da América. A AMERICA ATRAVES DO IMAGINARIO EUROPEU A descoberta da América, realizada por Colombo, é um tema que deu origem a muita polémica, A mais conhecida e difundida nestes anos que precedem as comemoragées dizem respeito ao fato de que a América nio necessitava dos europeus para existir. E, neste sentido nada se tem a come- morar, A América encontrada, achada por Colombo, em meio a "mares > aqunio O'Gomnan, La Invencién de Ansirie. Investigacién acerca de la estrutura histérica del Nuevo Mundo y del sentido de su devenir. México, Fondo de Cultura Econémica, 1977, p. 9. 32 nunca dantes navegados” 19 incorporou-se ao imaginario curopeu com uma série de atributos que ja haviam sido delegados a ela muito antes de ser des- coberta. Ou seja, a América jé fazia parte do imagindrio curopeu, represen- tando para Colombo apenas a comprovacao de tudo o que havia sido produ- zido pela sua imaginagao e pela imaginag&o de seus contemporaneos. Neste sentido, todos os documentos que se cruzam em torno do nome Crist6vao Colombo representam a possibilidade de navegarmos em um universo plural do qual fazem parte, igualmente, os sonhos, irrealizados de Colombo, e as faganhas, por ele desempenhadas, e que por contingéncias histérico-institucionais, mantiveram-se na meméria por terem sido registra~ das por escrito. A América surgiu primeiro pelo gosto, pelo prazer de narrar, de expor os fatos com sutis matizes, capazes de restaurar 0 imagindrio do interlocu- tor, despertando nele o interesse pela aventura, pelo maravilhoso, pelo co- nhecimento do desconhecido. A primeira roupa de que a América se travestiu, aos olhos do europeu, foi dada por Colombo através da palavra Indias. Colombo pensou ter che- gado as Indias, e, portanto, tudo o que viu correspondia a um indicio capaz de comprovar sua hipétese. A. Gerbi nos lembra como Colombo se esquiva. de analisar a flora americana, pois, ndo podia identificd-la com a flora das Indias ou das Molucas. Sem se preocupar com as diferengas, Colombo se utiliza deste mesmo espago criado por elas (pelas diferencas), para se langar A recriagao de tudo aquilo que ele pretendia encontrar. O scu imagindrio cra regido por inimeras informag6es, trazidas por viajantes (como Marco Polo, por exemplo) que gostavam de contar suas faganhas, sem que os interlocu- tores estivessem interessados em pedir provas. O prazer de produzir uma narracdo, de acordo com as suas expectativas, construfdas bem antes da viagem, era superior a sua capacidade de descrever um continente desco- 10; cuir eamna myers a frase’ teen conkwcisde do Lats de Candies posto qua os “nares ‘nunca dantes navegados" em seu sentido original referem-se a0 Oceano Indico, Os Lusiadas. Sao Paulo, Abril Cultural, 1979, p. 29. Canto Primeiro: "As armas ¢ 08 bardes assinalados, ‘Que da ocidental praia lusitana, Por mares nunca dantes navegados, Passaram ainda além da Taprobana, E em perigos e guerra esforgados Mais do que prometia a forga hurnana, B entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram;" 33 nhecido. Neste sentido, Colombo vai estruturar em seu didrio nao apenas 0 seu sonho mas, principalmente, um sonho italiano, um sonho europeu inter- calado de informagées retiradas de cartas elaboradas por navegadores expe- rientes ¢ observagdes astronémicas recolhidas em viagens. A realidade ¢ a fantasia se entrelagam. A. Gerbi nos fala de forma muito sensivel sobre os sentimentos de Colombo capazes de demarcar a natureza com a sua sensa- ao: “Frente a tanta exuberancia, Colén se nos muestra dominado por tres sentimientos: entusiasmo por la novedad de la flora an- tillana, admiracién por su excepcional hermorsura, y angustia de no estar en posibilidad (por escasez de tiempo y de conoci- mientos botinicos) de apreciar sus virtudes medicinales y su valor nutritivo. En el plano cognoscitivo, la natureza americana es diversa y sorprendente, de otra forma: “disforme”. En el plano estético-hedonista, es hermosa y placeniera, euférica. En el plano pratico, tiene que ser usilfsima y buentsima, pero esto Col6n no Io sabe, Antes que nada, tiene prisa de encontrar oro: “puede haber muchas cosas que yo no sé, porque no me quiero detener por calar y andar muchas islas para fallar oro" 11, ‘Na verdade so alguns sentimentos ¢ percepeSes posticas, construfdas a partir da natureza européia, que aproximam os dois continentes. A incapa- cidade de Colombo de ver a América corresponde, a0 mesmo tempo, a uma grande capacidade de criar afinidades 12, Para Colombo, os objetos silo se- melhantes ou diferentes "dos nossos", ou seja, sempre s40 organizados de 1 nionello Gerbi: La Natwraleza de las Indias Nuevas, De Crist6bel Colén a Gonzalo Ferndndez de Oviedo. México, Fondo de Cultura Econémica, 1978, p. 29. Grifo nosso. "? sfichel Foucault. As Palavrat e as Coisas. Sko Paulo, Martins Fontes, 1987, p. 35-38. Dizo Autor analisando a mentalidade até o final do século XVI: "Até o final do século XVI, @ semelhanga desempenhou um papel construtor no saber da cultura ocidental, Foi ela que, em grande parte, conduziit a exegese e a interpretacio dos textos: foi ela que organizou o jogo dos stmbolos, pemmitiu o conhecimento das coisas visiveis ¢ invisfveis, guiou a arte de represents- las. O mundo enrolava-se sobre si mesmo: a terra repetindo o cév, o$ rostos mirando-se nas estrelas ea erva envolvendo nas suas hastes os segredos que serviam ao homem. A. pintura imitaya o espago. E a representacto ~ fosse ela festa ou saber ~ se dava como repetigao: teatro a vida ou espelho do mundo, tal era o titalo de toda linguagem, sua mancira de anunciar-se © de formular seu direito de falar.” (p. 33.) 34 forma a aproximar (cultura curopéia da cultura indigena) criando uma uni- dade capaz de abranger todas as varidveis por ele observadas, O compromisso de Colombo com a fé crista ativa sua imaginacgao, obrigando-o a interpretagdes adequadas a espiritualidade crist. E, ao fazé- Jo, Colombo inicia um longo trajeto de visualizagdo da Europa na América. Colombo vé mais com a imaginagdo do que com a vista, E, quando se en- canta com uma natureza que escapa aos modelos j4 conhecidos, ele mesmo diz nao saber como expressar-se: "Es este pais, Principes Serenisimos, en tanta maravilla her- moso, que sobrepuja a los demds en aménidad y belleza como el dfa en luz a la noche. Por lo cual solfa yo decir a mi gente muchas veces, que por mucho que me esforzase en dar entera relacién de é1 a Vuestras Altezas, no podria mi lengua decir toda la verdad, ni mi mano describirla, Y en verdad, quedé tan asombrado viendo tanta hermosura, que no sé cémo expres- sarme" 13, Este € um momento excepcional no texto onde o narrador, por néo conseguir comparar, prefere no se expressar. O mesmo nfo ocorre quando Colombo necessita explicar aos indigenas quem eram os Reis Catélicos ¢ a quem deveriam prestar servigos. Os contatos parecem sempre resultar em um bom entendimento entre as partes. Ou seja, a comunicagio se realiza através de gestos, palavras ininteligiveis, um verdadeiro ritual que se trans- forma em forma de comunicagio. Na perspectiva do europeu a prosa corre solta, independentemente do entendimento do indigena. DA IMAGINAGAO A APROXIMACAO A narrativa, assim constituida, supondo ser muitas vezes desnecessdria a presenga do tradutor, é um elemento de aproximagao. Colombo, como seus contemporaneos, ao dar um sentido visual a tudo 0 que narra e escreve ¢, a0 apresentar, A sua moda, a América para os europeus, mantém o mesmo 13 Hemando Colon, Vida dei Almirante Don Cristobal Colon. México, Fondo de Cultura Economica, 1984, p. 105. 35 eixo narrativo ¢ a mesma forma com que sabia apreender os objetos na Europa. Assim, ele criou uma América, ao mesmo tempo, rica e inverossimil que agradava ao leitor acostumado ao luxo e a riqueza presentes nas descri- ges de um Oriente exdtico, Estas caracteristicas tipicas de sua narragiio fa- zem parte tanto do romance de cavalaria, como das tapegarias e pinturas do século XIV. Cervantes, por exemplo, trata em seu livro Dom Quixote de la Mancha a relagio entre o sonho ¢ a realidade, sendo seu her6i, que as vezes nos faz lembrar Colombo, um grande leitor dos romances de cavalaria 14, Colombo guarda a mesma ambigitidade sem dela rir. Quanto & pin- ‘tura, se quisermos citar um exemplo que nos lembra 0 gosto pelo trato cons- tante com 0 inverosimil, basta lembrar a obra de Bernardo Martorel, Sao Jorge, matando o Dragiio. Um dragiio dificil de meter medo mas, cuja exis- téncia, ajudava a imaginacdo, florescer. O relato de Colombo em seu diario, de 9 de janeiro de 1493, nos faz ver a importancia do inverossimil para 0 re- conhecimento do mar-oceano: (...) "Nessa terra toda ha muitas tartarugas, que os marinheiros capturaram em Monte Cristi, quando vinham desovar em terra, ¢ eram enormes, feito grandes escudos de madeira. Ontem, quando o Almirante ia ao Rio del Oro, diz que viu wés sereias que saltaram bem alto, acima do mar, mas nao cram tao bonitas como pintam, e que, de certo modo, tinham cara de homem' 15, A narrativa de viagem de Colombo compde-se através de uma rede de inter-relag6es, na qual 0 conceito organizador, contidg na memdria do nar- rador, define 0 espaco no qual a América passa a fazer parte da cultura eu- ropéia. Observem: 4 fie Auerbach. Mimesis. A representagio da realidade na literatura, Séo Paulo, Ed. Perspectiva, 1971, pp. 292-314. Auerbach ao escrever sobre a doidice de Quixote nos mostra © sentido da ironia romantica ¢ de uma loucura sébia. A beleza do texto de Cervantes a0 ‘conjugar ironia, loucura e sabedoria nos auxilia no sentido de compreender melhor Colombo sem querer privilegiar a parte modema de seu perfil de navegador. 1 Cristévio Colombo. Didrios da Descoberta da América. Porto Alegre, LRPM Ed. 1984, psi. 36 "Asimismo digo que también debemos estimar mucho su ho- nestidad y verguenza, porque si al entrar en la nave ocurria que les quitasen alguno de los panos con que cubrian sus verguen- zas, en seguida el indio, para cubrirlas, ponia delante las manos y no las levantaba nunca: y las mujeres se tapaban la cara y el cuerpo, como temos dicho que hacen las moras en Granada. Esto movi6 al Almirante a tratarlos bien, a restituirles la canoa, y a darles algunas cosas a cambio de aquellas que los nuestros Jes habian tomado para muestra. Y no retuvo de ellos consigo sino a un viejo, amado Yumbé, el cual parecia de mayor au- toridad y prudencia, para informarse de las cosas de la tierra, y para que animase a los otros a platicar con los cristanos; lo que hizo pronta y fielmente todo el tiempo que anduvimos por donde se entendia su lengua. Por lo que en premio y recom- pensa de esto, cuando Ilegamos a donde no podia ser enten- dido, el Almirante le dié algumas cosas y lo envié a su tierra muy contento. Esto sucedié antes de llegar al cabo de Gracias a Dios, en Ia costa de la Oreja” 16, Este texto nos deixa antever uma trama que encaminha o receptor da mensagem a uma determinada percepgdo dos objetos. A disposicao das pa- lavras honestidade & vergonha, autoridade e prudéncia, ou ainda, prémio e recompensa estruturam 0 contetido da informagao. Ou melhor dizendo, es- tas palavras, retiradas muitas vezes da épica, conformaram o reconheci- mento da América através de seu protagonista: 0 narrador. Palavras como honestidade ou autoridade definem os contornos da narragdo sendo estas palavras mais que os verbos responsdveis pelo signifi- cado do texto. A harmonia criada pelos substantivos ¢ adjetivos ao se des- crever a viagem aproxima os dois continentes, deixando, por vezes, transpa- recer pedacos de informagées que dizem respeito & cultura indigena. Colombo constréi sua narrativa da mesma forma que 0 construtor renascen- lista dispunha pedras em camadas, compondo uma parede sem esconder os desenhos. A conquista ¢ a destruigao da América esto presentes na narra- tiva (nao se omite nem se disfarga a violéncia) ao mesmo tempo em que ele © Hiesnando Colon, Vida Del Almirante Don Cristobal Colon. México, Fondo de Caltara Econdmica, 1984, p. 275. Grifo nosso, 37 transforma em obediéncia e quietude a ago do indigena, comprovando-se, assim, a superioridade do cristianismo. "Con la prisién de estos y con la victoria obtenida, sucedieron Jas cosas de los cristianos tan présperamente, que no siendo entonces més de seiscientos treinta, y la maior parte enfermos, y muchas mujeres y muchachos, en el espacio de un ano que el Almirante recorrié la isla, sin tener que volver a desenvainar la espada, la redujo a tal obediencia y quietud que todos prome- tieron pagar tributo a los Reyes Catdlicos cada tres meses, a sa- ber: de los que habitan en Cibao, donde estaban las minas de oro, pagaria toda persona mayor de catorce anos un cascabel grande Ileno de oro en polvo; y todos los demds, veinticinco. libras de algodén cada uno" 17, Colombo é 0 avalista da paz organizada e esperada por ele sob a égide do cristianismo; 0 organizador de um governo marcado pela vontade de Deus e pela sabedoria dos Reis Catdlicos; introdutor na América da figura, to poderosa, quanto imagindria, dos Reis Catélicos, personificagao de um principio de poder; virtuoso ¢ cortés, ele € capaz de deixar inscrito no seu diario, nao o que ele viu na América, mas 0 seu ideal, ideal de que pretendia ser porta-voz, Os bidgrafos ¢ companheiros de Colombo na descrig&o da América interpretam 0 que véem invocando um universo mental marcado pelo pensa- mento cristo. Ao cronista cabe a missdo primeira de integrar a histéria da América na obra de criagiio 18, Colombo inicia com seu didrio, um longo trajeto que ser percorrido por imimeros cronistas, procurando ordenar sua explicag4o de forma a que cada palavra encontrasse suas correspondéncias. A América, 0 novo mundo, é exético, apenas, na sua aparéncia, pois, faz 17 17 vem, p. 182-2. Grifo nosso. Joseph de Acosis. Historia Natural y Moral de las Indias. En que se tratan de las Cosas Notables del Cielo, elementos, metales, plantas y animales dellas y los ritos y ceremonias, leyes y gobierno de los indios. México, Fondo de Cultura Econ6mica, 1979. B interessante observar no capitulo I, do livro I, De la opinién que algunos autores tuvieron que el cielo no se extendia al Nuevo Mundo, a imponiincia, para 0 pensamento cristo concluir, através, da experigncia que "en este gran edificio del mundo, todo el cielo estard a una parte encima, y toda la tierra a otra diferente debajo" (p. 15) porque, sendo.o céu um s6 os fil6sofos, em nome da Divina Sabedoria, saberdo glonificer, em conjunto, toda a obra da criagdo. 38 parte da grande obra de criagdo, contendo, em esséncia, a mesma verdade contida no relato biblico. DAS ANALOGIAS AS AFINIDADES Colombo é o primeiro artesiio a enunciar informagdes colhidas além- mar de acordo com elementos do imagindrio europeu, aproximando, pela narrativa, culturas que até entdo estavam isoladas geogrdfica e cultural- mente, A aproximagio muitas vezes deixava visivel, num primeiro mo- mento, a diferenga, mas, logo a seguir, por analogia, a aproximacao reali- zava-se através de afinidades. Resgatavam-se antigas sobrevivéncias pagas presentes na histéria européia e que passavam a ser referenciais para a com- preens&o do que se supunha ser a nossa hist6ria indfgena. A pena, a tinta ¢ o papel nos indicam de que forma é feita a aproxima- ¢40 entre dois acervos culturais através de uma histéria provavelmente nar- rada por Colombo. "Y al dia siguiente, bajando a tierra el Adelantado para tener informacién de aquellas gentes, se acercaron dos de los princi- pales a la barca donde él estaba, y tomdndolo por los brazos en medio de ellos, lo setaron en la hierba de la orilla; y preguntén- doles el Adclantado algunas cosas, mandé a los escribanos de la nave que anotasen lo que respondian. Pero viendo el papel y Ja pluma se alborotaron de tal forma que la mayor parte de ellos se dieron a la fuga. Lo cual, segiin se pudo conjeturar, fué por el miedo que tuvieron a ser hechizados con palavras 0 signos aunque en realidad eran ellos quienes nos parecian a nosotros grandes hechiceros, y con razdn" 19, Qual "razo" estariam os europeus invocando? A narrativa embora separe as personagens da cena, o indigena do eu- ropeu, inaugura um didlogo que pressupde elementos semelhantes na apa- réncia. A aparéncia é 0 espaco de comunicag%o que inaugura a possibili- dade de convivio intercultural. Colombo nao sente necessidade de compre- 1 ° Hemando Coton, Vida det Almirante Don Cristobal Colon. México, Fondo de Culnara Economica, 1984, p. 281. Grifo nosso. 39 ender a lingua indfgena, nem anseia por um tradutor, o que Ihe favorece a comunicagéo. A aproximago se realiza por uma suposigdo prévia de que ele conhecia 0 outro. Para 0 europeu, o desconhecido sempre sugere magia, um universo marcado pela idolatria, sendo este o elemento de distingao en- tre barbaros e civilizados, A conjectura de que os indigenas teriam fugido com medo de serem encantados com pena, tinta, papel c escrita era igualmente proporcional ao medo que eles sentiam ao observar o indfgena. Contudo, jamais somos in- formados da presenga de algum objeto indigena que pudesse despertar te- mor confesso, por escrito, entre os europeus. A possibilidade do sortilégio, a principio, se apresenta como elemento de correlagdo entre ambos para logo a seguir hierarquizar as personagens em cena. O espanto, 0 medo c a fuga caracterizam a conduta do indigena, figurante na cena protagonizada pelo europeu. Este nao se espanta com a cultura do outro 2°, porque a seus olhos, ela nao tem valor proprio, diverso do seu, portanto 0 indigena nao 6, nem nunca foi, um desconhecido. E, neste sentido, a razdo, assim denomi- nada no texto, € depositada nas mfos dos cristaos. Estas observag6es poderiam, num primeiro momento, nos fazer pensar estar sendo uma parte da “verdade histérica" encoberta nestes relatos, cons- tituidos dentro da perspectiva do curopeu. Este tipo de formulacdo deu ori- gem a uma historiografia que contrapds a "visdo do vencedor” a “visio do vencido". Colombo ¢ seus contemporaneos nao estavam preocupados, ao escre- ver didrios, cartas ou crOnicas, em reproduzir, apenas, 0 que seus olhos po- deriam ver. Estavam preocupados em simbolizar algum conceito moral ou doutrinal, tendo como suporte um universo desconhecido. O que era desco- nhecido representava um desafio & interpretagao que jd estava elaborada desde ha muito. £ importante observar que a nossa personagem sabe decompor os elementos para, em seguida, reorganiz4-los dentro da sua 6ptica. Colombo Fregiientemente, encontramos a citaglo retirada das cartas de Cortés, em que ele admira ‘Tenochtitlan. Contudo, este momento representa uma excecdo tanto nas cartas de Cortés quanto em outros documentos da época. Como nos lembra Manuel Alcalé 20 nos introduzir no Corpus cortesianum "a admirag8o € 0 amor pela nova terra, que € 8 ténica das duas primeiras cartas, deixa (a partir da tereeira) 0 lugar para o 6dio ¢ a violencia.” A cultura indigena nio pode ser apreciada porque representa a barbérie, o contraponto & civilizago. Laura de Mello e Souza em seu livro 0 Diabo ea terra de Sania Cruz (Sio Paulo, Companhia das Letras, 1986) ngs lembra o intrincado processo de demonizagao da cultura indigena. 40 nao elabora uma "distingdo histérica” das culturas em questo, ele, apenas, separa aqueles elementos que sabe como agregar. Seu texto nao envolve hostilidade, embora nos informe sobre a violéncia. A sua superficialidade, ao descrever fauna, flora e homem, corresponde ao desejo de harmonizar através da aparéncia. Freqiientemente a historiografia busca caracterizar, nestes primeiros documentos que contam a hist6ria da América, a destruic&o dos indigenas de sua cultura. Isto € parte da histdria. A histéria da América, em seu pe- riodo colonial, é marcada pela presenga de uma populacao com ascendéncia india, espanhola e negra. Os primeiros cronistas das Indias, ao narrarem a conquista, est4o profundamente marcados por uma epopéia herdica medie- val. Nela a aproximagdo com a realidade nao se constitufa na questdo mais importante. O elemento central destas narrativas era tornar a hist6ria vivida por Colombo expressdo do ideal cavalheiresco e este processo envolve a montagem de um cardter ficticio para o herdi e para as ag6es por ele desen- volvidas. A beleza da personagem, Colombo, constituiu-se & medida que conse- guimos percebé-lo com um homem afastado do real. E. Auerbach definiu com precisdo o que a cultura cortes4 de heranga deixou na Europa: "... 0 nobre, O grande e o importante nada tém a procurar na realidade comum — uma convicgdo muito mais patética e arre- batadora do que as antigas formas de afastamento do real tais como as oferece a ética estéica" 21, Este € Colombo, um homem a quem nés, como historiadores, nao de- yemos cobrar um compromisso com a verdade ou com a destruic¢do. Estes fatos, violéncia no contato intercultural, so parte, apenas, da verdade. As relagées interculturais freqiientemente sAo conflitivas. Ao constituir um universo com quem se confronta, tornando-se o primeiro artesao das rela- ges interculturais na América. Colombo aproxima ao tomar sublime a historia que vive. Ele nao pro- cura uma motivacio prética, caminha em dirego inversa & experiéncia ao procurar 0 rio que emana do Paraiso. Diz ele: 2 Eric Auerbach. Mimesis. A representagdo da realidade na literatura ocidental, Séo Paulo, Ed, Perspectiva, 1971, p. 119. 41 “Volto ao meu assunto da terra de Gracia, do rio ¢ do lago que ali encontrei, tfo grande que seria mais justo consider4-lo mar, pois lago é lugar de 4gua ¢, sendo grande, se diz. “mar', como se chamou ao mar da Galiléia e ao mar Morto, e eu afirmo que este rio emana do Paraiso terrestre e de terra infinita, pois do Austro até agora nfo se teve noticia, mas a minha convicgao € bem forte de que ali, onde indiquei, fica 0 Paraiso terrestre ¢ em meus ditos ¢ afirmagdes me apéio nas razGes e autoridades supracitadas” 22, Quando lemos a Biblia (Génesis, cap. 2, ver. 8 a 20) reconhecemos 0 espago que originou as reflexdes descritivas de Colombo. E interessante retomar o texto original até mesmo pelo ténus da narrago: "Ora, o Senhor Deus tinha plantado um jardim no Eden, do lado do oriente, e colocou nele 0 homem que havia criado. O Senhor Deus fez brotar da terra toda sorte de Arvores, de as- pecto agradavel, e de frutos bons para comer; ¢ a drvore da vida no meio do jardim, ea rvore da ciéncia do bem e do mal. Um rio safa do Eden para regar o jardim, e dividia-se em seguida em quatro bracos. O nome do primeiro & Fison, ¢ é aquele que contorna toda a regido de Evilat, onde se encontra o ouro. (O ouro desta regido € puro; encontra-se ali também o bdélio ¢ a pedra Gnix). O nome do segundo rio é Geon, ¢ é aquele que contorna toda a regio de Cusch. O nome do terceiro rio é Tigre, que corre ao oriente da Assiria. O quarto rio 6 0 Eufrates. (...) O Senhor Deus disse: “Nao 6 bom que o homem esteja s6; vou dar-Ihe uma ajuda que Ihe seja adequada". Tendo, pois, o senhor Deus formado a terra todos os animais dos campos, e todas as aves dos céus, levou- os ao homem, para ver como ele os havia de chamar; ¢ todo 0 » cist6vio Colombo, Diérios da Descoberia da América. Porto Alegre, LAPM Ed., 1984, p.147. 42 nome que o homem pds aos animais vivos, esse é 0 seu verda- deiro nome, O homem pés nomes em todos os animais, a todas as aves dos céus € a todos os animais dos campos; mas nao achava para ele uma ajuda que lhe fosse adequada.” Ao considerar-se apto para esta missdo, encontrar 0 caminha do Paraiso, Colombo concebe-se eleito para uma tarefa grandiosa que, apesar de alguns percalgos, resultara na formago de uma comunidade ordenada, Esta comunidade, através de um convivio cotidiano intercultural, im- és ao indfgena a criacdo de uma unidade lingitistica. A implementacao da lingua espanhola na América nao representou 0 desaparecimento das lin- guas indfgenas. Mas a criagiio desta lingua comum, o espanhol, representou capacidade de aproximagao, de incorporagdo do acervo cultural europeu em toda a América. Apesar de tanta violéncia, criaram-se formas de convivio sem que se tornasse necessaria a negagdo da cultura européia implementada e difundida na América. O primeiro artifice desde nosso patriménio, desta nossa capacidade de convivio intercultural, foi Cristé6vao Colombo ao transformar um mundo desconhecido em um universo de semelhancas. B

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