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O documento analisa fotografias post mortem de crianças no acervo do Museu Paulista, que eram comuns no Brasil do século XIX. Essas fotografias fornecem informações sobre aspectos sociais e culturais da época, embora sejam evitadas por pesquisadores devido ao aspecto funerário. Uma análise semiótica dessas imagens pode revelar detalhes importantes sobre a cultura e crenças brasileiras naquele período.
Descripción original:
analise_semiotica
Título original
Análise de fotografias post mortem presentes no acervo do Museu Paulista através da semiótica
O documento analisa fotografias post mortem de crianças no acervo do Museu Paulista, que eram comuns no Brasil do século XIX. Essas fotografias fornecem informações sobre aspectos sociais e culturais da época, embora sejam evitadas por pesquisadores devido ao aspecto funerário. Uma análise semiótica dessas imagens pode revelar detalhes importantes sobre a cultura e crenças brasileiras naquele período.
O documento analisa fotografias post mortem de crianças no acervo do Museu Paulista, que eram comuns no Brasil do século XIX. Essas fotografias fornecem informações sobre aspectos sociais e culturais da época, embora sejam evitadas por pesquisadores devido ao aspecto funerário. Uma análise semiótica dessas imagens pode revelar detalhes importantes sobre a cultura e crenças brasileiras naquele período.
O artigo em questo tem como objetivo analisar fotografias post
mortem infantis presentes no acervo do Museu Paulista. Fotografias post mortem so fontes muito ricas de informao sobre aspectos sociais e culturais dos indivduos daquele perodo, porm so envoltas em tabu, devido ao aspecto funerrio presente que espanta pesquisadores. As fotografias post mortem avaliadas no artigo, como sendo infantis, afastam o interesse pblico sobre estas e acabam por ostracionar esses documentos nicos sobre a cultura e crena brasileira no sculo XIX. A partir dessa anlise semitica espera-se explorar melhor, com base em outros artigos sobre o tema, esses documentos to importantes para a pesquisa da histria brasileira.
Palavras chave: Fotografia, Post Mortem, Semitica
Introduo: Fotografia como detentora de informao
A fotografia um objeto fascinante para estudo, seja relacionada s artes,
cultura, ao estudo social e tambm ao estudo do prprio significado desta. A fotografia semiologicamente estudada devido sua essncia, que pode ser analisada de formas diferentes, conforme a interpretao dada informao contida nesta. Existem trs posies epistemolgicas com relao ao realismo e valor documental da fotografia, sendo:
A fotografia como espelho do real, na qual levado em contra a
verossimilhana com o real, a verdade e autenticidade desta. Neste pensamento, a fotografia pode ser considerada como um cone (representao por semelhana); A fotografia como transformao do real, na qual ela no representa o real de verdade, mas um conjunto de cdigos com uma formao social, cultural ideolgica, entre outros, podendo ser considerada um smbolo (representao por conveno geral); A fotografia como o trao do real, na qual a imagem tem uma conexo indestrutvel com o evento que captou, mas basicamente uma afirmao da existncia daquele momento. Dubois afirma A foto em primeiro lugar ndice (Representao por contiguidade fsica do signo com o seu referente). S depois ela pode tornar-se parecida (cone) e adquirir sentido (smbolo). (DUBOIS)
possvel entender dentro desses conceitos que a fotografia pode ser
interpretada conforme aspectos na qual ela produzida e lida pelo observador. A fotografia remete realidade atravs da aparente semelhana, o que a fotografia reproduz ao infinito ocorreu s uma vez. Ela repete mecanicamente o que nunca mais poder repetir-se existencialmente, como diria Barthes. Apesar desse aspecto de duplo, que tambm contestado, alguns elementos so perdidos na captao da realidade em foto, como a perda da terceira dimenso, o limite da imagem, o congelamento do momento, perda de cores e texturas que no podem ser captadas na foto, no sentido de estmulos visuais e a mudana de escala. Mas o que Barthes comenta como sendo um aspecto primordial da essncia da foto a morte do fotografado na captao da imagem, tornando-se objeto. Apesar da fotografia ser um testemunho do momento que aconteceu, um smbolo do momento captado, ela capta o momento de forma que aquilo registrado nunca mais se repetir. Os retratados tm conscincia (ainda que no clara) de que o momento em que a luz entrar em processo com a qumica da foto um recorte temporal ser roubado e gravado para sempre no suporte de papel. Para isso, as pessoas se preparam para esse momento, com a pose, o congelamento (principalmente nos primrdios da fotografia) dos movimentos e pode se dizer, o congelamento da emoo, para que seja captado na imagem. Essa preparao no possui vida, possui uma imobilidade material daquilo que ser registrado, e esse aspecto se traduz na foto, que por si uma representao do real, mas retrata um momento de congelamento da vida em prol da eternidade do registro. A fotografia utilizada como uma prova para as pessoas de que olhe aqui, ns existimos! Eu vi coisas, eu fiz coisas. (BARTHES), que essa existncia seja de certa forma seja perpetuada como uma marca na sociedade e que no seja esquecida no momento em que no mais existirem. Porm, a partir do momento em que uma foto retirada e morte indexada elas. Todas as fotografias so memento mori (SANTAREL, NCH), pois em algum momento os que esto representados na imagem no estaro mais vivos e aquela ser uma representao sem vida de algum que no mais est vivo. Nesse contexto interessante pensar no sentimento relacionado fotografia ao que representado nesta, ou lembrana que ela remeta e como esta pode se tornar um objeto mais do que documental, como um smbolo a ser idolatrado do algo que se foi perdido. As fotografias post mortem podem ser encaixadas nesse contexto, como um fenmeno social do incio da fotografia que se desenvolveu de forma peculiar para rememorar os mortos, como no caso do Brasil com a unio do uso da imagem com as crenas catlicas representadas como anjos e santos. Dentro da fotografia post mortem o conceito de Studium e Punctum de Barthes se encaixa perfeitamente para a anlise. Studium, um interesse consciente, humano, vago e natural sobre a imagem. J o Punctum possui um carter subjetivo, algo que incomoda, como uma picada e que chama a ateno do expectador, um incmodo que a mente no consegue desviar. Nas fotografias post mortem, principalmente as que o objetivo de que o falecido parea o mais natural possvel, os dois conceitos so latentes, com a pose e a naturalidade em um primeiro momento atuando como Studium, e em um segundo olhar, quando se percebe elementos que denunciam a realidade da situao, como fitas prendendo o corpo ou o olhar distante percebido a sensao do Punctum.
Fotografias post mortem
A Fotografia Post-Mortem um estilo fotogrfico no qual familiares
encomendavam fotografias de entes queridos mortos, de forma a ter uma lembrana do ente familiar. Esse costume existiu na metade para o fim do sculo XIX, apesar de que em algumas regies esse costume se estendeu at a metade do sculo XX. A existncia desse costume por esse perodo provavelmente devido ao surgimento da fotografia, no qual tornou-se costume pagar por retratos da famlia a cada um ou dois anos isso para classe mdia e baixa, na qual o valor da fotografia ainda era muito alto para que a frequncia de uso fosse maior. Como a taxa de mortalidade, principalmente infantil era muito alta, s vezes no havia ainda nenhuma foto da criana, por isso a encomenda de fotografias destas. Para essas fotos, era escolhido um estilo mais natural possvel, utilizando-se de truques e retoques quando necessrio para se chegar ao resultado desejado. Podiam se usar fitas para prender o corpo no lugar, apoios para o corpo e tambm a pintura dos olhos na plpebra caso no houvesse como manter os olhos do defunto abertos. H tambm fotografias com familiares vivos juntos ao morto, de forma a replicar a foto de famlia como se estivesse completa. Nesse caso possvel em algumas fotos identificar qual o falecido devido maior nitidez da imagem deste que dos outros da foto, um aspecto fotogrfico j discutido sobre a morte para a pose na foto, o qual no verdadeiro morto essa dupla morte torna sua imagem ntida. Mas h tambm fotografias de pessoas vivas com o seu falecido que no escondem a situao real, mas sim servem como um ultimo registro destes com o seu ente querido, como mes com seus filhos falecidos no colo e famlias em volta de seus falecidos deitados na cama ou caixo. No Brasil, houve um estilo de fotografia post mortem que se alinhava com um costume de crena brasileiro, no qual se imaginava que crianas falecidas tinham sorte pois estavam imediatamente salvas. Portanto, seu velrio tinha pompas de festa, os corpos eram vestidos conforme anjos ou santos - no qual se acreditava que essas crianas iriam ficar juntas e interceder pelas famlias e as fotografias eram feitas no escondendo a realidade dessas crianas, mas sim registrando as honras na qual essas crianas estavam destinadas. O estilo provavelmente caiu em desuso com o maior acesso e barateamento da fotografia populao, o que permitiu registrar a famlia frequentemente, no havendo o mais a situao de familiares sem registro. Utilizando trs fotografias brasileiras post mortem de crianas ser analisado um pouco desses aspectos de fotografia post mortem assim como alguns conceitos semiolgicos identificados. Fotografia 1 - Sem ttulo. 1880. Fotografia de Milito Augusto de Azevedo. Acervo do Museu Paulista da Universidade de So Paulo.
A imagem acima representa uma fotografia tpica das cerimnias
religiosas para crianas falecidas nessa poca. A fotografia foi feita com a criana dentro de um caixo, em vestes de santo e uma coroa de flores, smbolos que denotam uma clara evidncia de um funeral festivo, no qual acreditava-se que essa criana estava salva, com seu lugar a caminho dos cus juntamente com o santo no qual estava vestido. Essa imagem representa a realidade da situao acometida, sem esconder a mortalidade real da criana. Pode-se identific-la como espelho da realidade, um cone, devido representao real do momento fotografado. Com relao condio da criana h uma transformao do real, no qual ela vestida conforme espera-se que v estar pela eternidade acreditava-se que a materialidade do ultimo momento passava-se para a eternidade , no representado o que a criana era em seu dia a dia, sendo ento representado na foto um smbolo da criana. A Fotografia, por ter sua realidade no velada, configura-se como um Studium, j que as informaes esto explicitadas. Ainda sim os olhos abertos da criana configuram-se como um Punctum, uma vez que estes abertos denotam uma vida que percebemos que no existe mais nesse corpo representado. Fotografia 2 - Sem ttulo. 1865. Fotografia de Milito Augusto de Azevedo. Acervo do Museu Paulista da Universidade de So Paulo.
Essa fotografia tm uma me segurando a sua filha em uma pose
natural. Apesar da casualidade no qual os dois indivduos esto representados no existe a intenso de esconder a realidade da menina, que est morta. Isso possvel de afirmar devido a smbolos presentes na foto, como a vestimenta da menina, toda branca Representao de pureza utilizada por todas as crianas e moas solteiras veladas; a vestimenta da mulher, supostamente a me, na qual um vestido preto Na era vitoriana o preto era somente utilizado em roupas de luto, no podendo ento haver outro motivo para usar tal cor; e a pose da mulher, na qual os olhos se voltam criana de forma melanclica. A fotografia nesse caso um espelho da realidade, sendo verossmil ao momento na foto, sem haver elementos de encenao na imagem, como um espelho da realidade, um cone. A imagem uma fotografia de famlia sem elementos destoantes do j conhecido visualmente, configurando com um Studium. Porm a expresso do rosto da me, que est mais ntida que a da criana o que nesse caso no configura pelo estado de morta como j discutido antes neste artigo, mas sim devido a um trabalho do fotografo um elemento de impacto nessa imagem simples, caracterizando um Punctum.
Fotografia 3 - Olga Marcondes de Matos. 1895. Fotografia de De Nicola.
Acervo do Museu Paulista da Universidade de So Paulo.
Esta fotografia, ao contrrio das outras duas imagens apresentadas,
tem como objetivo fazer um retrato da criana como esta ainda estivesse viva. A pose sentada em uma cadeira, com um brinquedo em mos e com os olhos abertos so os elementos que procuram dar o sentido de uma criana posando para uma foto, apenas com a morte fotogrfica do congelamento de movimentos para a captura da imagem atuando. Porm outros smbolos na imagem atuam para contar outra histria: h um travesseiro atrs da menina, apoiando seu corpo, que est levemente inclinado para trs; Seus olhos abertos esto fitando ao longe, e no a foto, e a inclinao dessa divagao conecta-se com o ngulo do corpo e da cabea, em uma posio rgida; H uma fita segurando os ps da criana embaixo da cadeira, provavelmente em uma tentativa que as pernas rgidas dobrem-se como seria natural. Portanto, apesar dos elementos e do cuidado para se fazer um ultimo registro da criana com vida, h smbolos representados na imagem que entregam que a morte a que est sendo retratada. A fotografia nesse caso um espelho da realidade simples, do ato fotogrfico. Porm os smbolos presentes na imagem, mesmo sendo contraditrios uns aos outros, nos mostram que h uma encenao para esta imagem, uma preparao alm da pose para contar uma histria irreal, de que a menina retratada est viva. Nesse caso o contedo retratado simblico e produzido com o objetivo de mascarar a realidade. A foto por si s um Studium, sendo o Punctum quando se percebe o estranhamento de uma fita segurando as penas da menina e ento percebe- se que a estranheza com relao ao olhar desta do fundamento ao incmodo sentido em olhar a imagem.
Concluso
A fotografia composta de cone uma vez que um espelho da
realidade - e tambm composta de Smbolo uma vez que representado objetos, pessoas e aspectos relacionados ao real. Ao final, pode se dizer que ento a fotografia um ndice, uma vez que interligado ao real atravs propriedades em comum. Nas fotografias post mortem pode-se perceber esse aspecto, sendo a imagem uma representao real do ocorrido, porm os signos representados nesta podem no contar a histria da forma verdadeira que ocorreu, atravs do uso de elementos ou encenaes para manipular a realidade registrada. O uso de conceitos semiticos nas fotografias apresentadas permitiu analisar de forma mais objetiva e metodolgica a construo da imagem e os elementos que contam a realidade do momento fotografado, assim como os conceitos na qual foi desejado que a foto fosse concebida. O aspecto cultural, social e de uso da imagem ficam explicitados no que outrora apenas esboava esses conceitos, e permitem um estudo mais profundo do material. O conceito de Barthes de Studium e Punctum auxiliam a identificar aspectos emocionais e de estranhamento que a imagem provoca, sendo estes os que provavelmente afastam o interesse das pessoas por essas imagens. Identificar quais so esses elementos de estranhamento pode impedir o afastamento prematuro da fonte, ajudar no conhecimento da foto e posteriormente na anlise destas em outros aspectos de conhecimento. Espera-se que com essa pequena anlise introdutria de fotografias post mortem brasileiras possa servir de estmulo para o uso de conceitos semiticos nesses documentos, e que essas fotografias ricas em informaes deixem de ser consideradas um tabu para o estudo das mais diversas reas devido ao seu aspecto morturio. Referncias
BARTHES, Roland. A Cmara Clara. Nota sobre A Fotografia. Ed. Nova
Fronteira. 1984. DUBOIS, Philippe. O Ato Fotogrfico. Papirus. 1984. GOULART, Paulo Cezar Alves. Noticirio Geral da Photographia paulistana 1839 1900. Imprensa Oficial. 2007 KOSSOY, Boris. Fotografia e Histria. Ateli Editorial. 2001. SANTARELLA, Lcia; NTH, Winfried. Imagem: Cognio Semitica, mdia. Editora Iluminuras, 1999. VAILATI, Luiz Lima. As fotografias de anjos no Brasil do sculo XIX. Annais do Museu Paulista. v. 14. n.2. Jul - Dec. 2006. VIANA, Fausto. A roupa fnebre ou No chore que para no molhar as asas do anjo. Revista do Programa de Ps-Graduao em Artes, Cultura e Linguagens Instituto de Artes e Design :: UFJF. v. 1 :: n. 1 julho :: dezembro :: 2015 p. 41-65.