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Pricalogie & Sociedede; 17 (2) 21-25: mav'age.2005 A PSICOLOGIA E O SISTEMA UNICO DE SAUDE: QUAIS INTERFACES? 1 Regina Benevides Universidade Federal Fluminense RESUMO: Discute-se a relagio da Psicologia com o Sistema Unico de Satide (SUS) no Brasil tomando-se como ponto de partida uma eritica& separacao entre clinica e politica fortemente presente na formagao e na pratica profissional dos Psicdlogos. Indicam-se trés principios para a construcao de politicas piblicas em satide: o da inseparabilidade, o da autonomia e co-responsabilidade eo da transversalidade, estando a contribuicio da Psicologia no entrecruzamento do exercicio destes tr princ(pios. O artigo destaca, ainda, a importancia dos modos de fazer acontecer as politicas piblicas, indicando a urgéncia na criacdo de dispositivos que déem suporte & experimentagao das politicas no jogo de conflitos de interesses, desejos e necessidades dos diferentes atores que compoem a rede de satide. Palavras-chave: Politicas puiblicas; psicologia; Sistema Unico de Satide. PSYCHOLOGY AND PUBLIG HEALTH SYSTEM: WHAT ARE THE INTERFACES? ABSTRACT: The Psychology and Public Health System relation is discussed having as a starting point a criticism to the gap between the clinic and polities strongly present in the formation and in the professional practice of the psychologists. Three principles are suggested to the construction of public polities in the health system, which are the inseparability, the autonomy and co-responsibility and the transverseness, being the contribution ‘of Psychology the interchange of these three principles. This paper also emphasizes the importance of the ways to make happen the public politis, pointing out the urge to create some devices which will give support to these politics in the game of confliets and interests, desires and needs of the different actors who are part of the public health network. Key-words: Public Politics; Psychology; Public Health System. O titulo do artigo ja indica um ponto de par- tida lamentavelmente pouco encontrado no campo da Psicologia: a preocupagao com a satide publica, com a insercao do trabalho do Psicélogo no debate sobre modos de intervengio que se facam para além dos enquadres clissicos de uma clinica individual e pri- vada, ou mesmo de uma psicologia social que man- téma separagio entre os registros do individual e do social, tal como a ainda predominante em nossos cur- sos de formagao. Digo isso para que fique logo claro que nao acredito numa critica & Psicologia e as suas diversas dreas pela idemtificagao de uma face conser- vadora, porque cuidando do individuo, e uma face emancipadora, porque voltada para o social, para a comunidade, para os processos educacionais ou de trabalho. Como pretendo aqui sustentar, trata-se de no se iludir com esta solugao de compromisso da Psicologia, Especialmente quando queremos pensar as interfaces da Psicologia com o Sistema Unico de Sai- de (SUS) urge que problematizemos o que podemos, ‘que queremos e, principalmente, como fazemos para contribuir na construgdo de um outro mundo posst vel, de uma outra satide possivel e, digo logo, de uma satide puiblica possivel Gonvocada ao debate e em sintonia com 0 ‘movimento de resisténcia que institui o Férum Social Mundial desde sua primeira verstio em 2001, fiquei me perguntando por onde nele entrar. Poderia reto- ‘mar a histéria da Psicologia indicando suas aliangas com as ciéncias positivistas ou com as filosofias subjetivistas. Poderia apontar para a tradiao humanista que amarra a Psicologia ao campo das Cigncias Humanas, tornando-se separada das ciénci- as da satide. Poderia, ainda, rastrear as imimeras ci- sdes entre correntes da Psicologia ou entre estas ea Psicandlise, cada uma delas marcando e se apropri- ando do sujeito como seu objeto de investigacao. ‘io é preciso ir muito longe para perceber- mos que o discurso sobre o sujeito tem vindo acompa- nado, no campo das préticas psi, de um processo de despolitizagio destas mesmas préticas. No mesmo movimento em que o sujeito € tomado como centro (ou mesmo eventualmente descentrado) opera-se uma dicotomizagéo com o social que se acredita circundé- Io. 21 22 Benevdes, R. ‘A Picologia © 0 Sisloma dnico de Satde: quaisinterces?* Duas realidades (interna/externa) em cons- tante articulagéo, mas sempre duas realidades dadas a serem olhadas com seus espeeificos instrumentos de andlise. Esta operacio nao se faz sem conseqiiéncias © uma delas cem sido, justamente, a de manter em dois registros separados: 0 sujeito/individuo GBenevides, R, 2002) e o social, o desejo e a politica (Guattari & Rolnik, 1986) Assim & que nao causa espanto, entre muitos, a afirmacao de que Psicologia e Politica nao se mistu- ram, ou, de que, quando somos psicdlogos nao somos militantes e se somos militantes nao devemos sé-lo enquanto psicdlogos. © paradigma que est norteando tais afirma- gbes € 0 de que ciéncia e politica sao duas esferas separadas e de que as préticas psi ao se encarregarem do sujeito nao devem tratar de questdes polticas. Tal ascese, pretendida por muitos e, afirma- da por tantos outros como aleangada, tem sistemati- camente colocado o desejo como algo da ordem do individual, ou como questao do sujeito e a politica como da ordem do social, out como questo do coleti- vo. O efeito-despolitizagao neste tipo de analise éno- t6rio, posto que as préticas psi passam a se ocupar de sujeitos abstratos, abstrafdos/alienados de seus con- textos e tomam suas expressdes existenciais como pro- dutos/dados a serem reconhecidos em universais aprioristicos. Digo despolitizacao para marcar 0 lu- gar exterior, separado, em que a politica, em suas mais variadas formas, é langada quando se trata da andlise das questdes subjetivas. Entretanto, 0 mais correto seria dizer que af também ha a producio de uma certa politica: aquela que coloca de um lado a macropolitica e, de outro, a micropolitica; de um lado, © Sistema Unico de Satide como dever do Estado e direito dos cidadsios, como conquista garantida pela lei, pela Constituigao e, de outo, os processos de pro- dugio de subjetividade. Aqui, me parece, hd uma pis- ta importante para seguirmos, pois € a partir da fun- dagdo da Psicologia nestas dicotomias que o indivi- dual se separou do social, que a clinica se separou da politica, que o cuidado com a satide das pessoas se separou do cuidado com a sade das populacoes, que a clinica se separou da satide coletiva, que a Psicolo- gia se colocou 4 margem de um debate sobre 0 SUS. A pergunta, entao, insiste: quais as interfaces da Psicologia como campo de saber e, mais precisa- mente, dos psicélogos enquanto trabalhadores, com © Sistema Unico de Saiide? Mais do que fazer uma discussio de contetidos curriculares, ou mesmo indi- car disciplinas a serem inclufdas e/ou excluidas dos ccursos de formagéo devemos nos perguntar sobre quais préticas tais psicélogos tém efetuado, quais compro- missos ético-politicos tém tomado como prioritérios fem suas agées, Ii claro que isto ndo se separa dos referenciais tedrico-conceituais que dao suporte a es- tas priticas e, é claro também, que se trata de uma tomada de posigao, de atitude, quanto ao que se defi- ne como objeto e campo de intervengao da Psicolo- gia. Trata-se, entdo, de uma discussao ética, melhor dizendo, ético-politica. Se nao aceitamos as posigées abstratas, transcendentes, descoladas de onde a vida se passa, precisamos, imediatamente, trazer ao deba- te questdes sobre o contemporaneo, tanto em sua di- mensfo transnacional, mundial, quanto local, brasi- leira. Para seguir neste caminho nao podemos nos furtar, portanto, de outras perguntas: O que sera que os novos tempos do Capital reservam ao Psicdlogo quanto & sua tarefa profissional? Serd possivel ¢/0u desejavel continuarmos na busca de uma identidade para o Psicélogo, definida a partir de uma formagio assentada na dicotomia entre o subjetivo eo politico? Como romper com a tradi¢ao de uma Psicologia cuja histéria, datada do final do século XIX, atrela-se ora uma perspectiva objetivo-positivista, ora a uma pers- pectiva intemo-subjetivista, mantendo, de todo modo, a separacio em registros excludentes, das esferas in- dividual, grupal, social? Como pensar nas préticas dos psicélogos ainda classificadas em dreas de atua- 40 que se definem pela separacao e, muitas vezes, pela desqualificagao umas das outras: escolar, comu- nitéria, clinica, do trabalho, judiciéria? Como pensar a formagio do Psicélogo em tempos de banalizacio da injustiga social? (Dejours, 1999)* O que propor como diretrizes para sustentar uma posicdo ética que 1nd se abstraia de seus compromissos politicos? Como pensar na atuacao dos psieélogos ou nas contribui- «es da Psicologia se nao incluirmos o mundo em que vivemos o pais em que habitamos? Como pensar numa Psicologia que nao tome como seu objeto, sujeitos abstratos? Como fortalecer préticas profissionais que se co-responsabilizem com a satide de cada um e com asatide de todos sem separé-las? Cabe-nos, portanto, a pergunta sobre quais relagdes hé entre 0 capitalismo contemporaneo, 0 exercicio da clinica e a produgdo de subjetividade. Isto nos obriga a discutir o plano da clinica na sua inseparabilidade da filosofia, da arte, da ciéncia, e, em especial, da politica. E por que esse destaque da interface clinica-politica? Porque ai nos encontramos ‘com modos de produgao, modos de subjetivacao e nao mais sujeitos, modos de experimentacao/construgio eno mais interpretacao da realidade, modos de cri- gio de si e do mundo que nao podem se realizar em sua fungdo autopoiética’, sem o risco constante da experincia de crise. O que queremos dizer & que de- finir a clinica em sua relagdo com os processos de produco de subjetividade implica, necessariamente, que nos arrisquemos numa experiéncia de crtica/ané- lise das formas instituidas, 0 que nos compromete politicamente A forma subjetiva, 0 sujeito, é produto resultante de um funcionamento que é de produgao inconclusa, & heterogenético, nunca havendo esgotamento total da energia potencial de criagao das formas. # por isso que dizemos que a subjetividade & plural, polifénica sem nenhuma instancia dominante de determinacio. que mais interessa aqui destacar & este as- pecto de produgio do sujeito, de um sujeito auténomo (Birado & Passos, 2004) e, mais ainda, o que histori- camente vem se dando como efeito das modulagées do capitalismo, a saber, a separacio entre producio © produto, portanto, entre processo de subjetivacao e sujeito, Esta separacdo tem como conseqiiéncia a cap- tura da realidade em uma forma dada, tida como natural, mas que deve ser entendida como forma-sin- toma’ a ser posta em andlise. O sintoma se apresenta em duas dimensées: forma e forga. Sua face institui- da, face-forma, & aquela que se vé aprisionada no Circuito de repetigio fechada sobre si. O trabalho da andlise deverd incidir neste circuito, de modo a nele produzir desvios que forcem a repetigao a diferir A operacio analitica freqtiente nas intervencées clini- cas nfo € outra coisa senao a desestabilizacao destas formas, permitindo o aparecimento do plano de for- «as de producao a partir do qual tal realidade se cons- situ, E aqui jd podemos enunciar que entendemos a experiéncia clinica como a devolucio do sujeito ao plano da subjetivacao, ao plano da produgao que é plano do coletivo. O coletivo, aqui, bem entendido, niio pode ser reduzido a uma soma de individuos ou a0 resultado de um contrato que os individuos fazem entre si. Coletivo diz respeito a este plano de produ- «0, composto de elementos heterdclitos e que experi- menta, todo 0 tempo, a diferenciagéo. Coletivo & multidao, composigdo potencialmente ilimitada de seres tomados na proliferacao das forcas. No coletivo nao ha, portanto, propriedade particular, pessoalidades, nada que seja privado, jé que todas as forcas estio disponiveis para serem experimentadas, af que entendemos se dar a experiéncia da clinica: experimentagio no plano coletivo, experimentagio piiblica, A pista que segui, a que indicava a fundagao da Psicologia assentada na separacio entre a macto € 2 micropolitica, abre-se, ento, em alguns desvios que tomarei como principios éticos que, acredito, possam contribuir para o debate sobre as interfaces Pricalogia & Sociedede; 17 (2) 21-25: mav'ago.2005 da Psicologia com o SUS: ~ Principio da inseparabilidade: se tomamos a Psicologia como campo de saber voltado para ‘5 estudos da subjetividade e se esta ¢ enten- ida como processo coletivo de produgio re- sultando em formas sempre inacabadas e heterogenéticas, é impossivel separar, ainda que distingdes haja, a ctinica da politica, 0 individual do social, o singular do coletivo; ‘os modos de cuidar dos modos de gerir; a ‘macro e a micropolitica. Fazer politica pie blica~e o SUS é fundamentalmente politica piiblica, porque de qualquer um -, € tomar esta dimensdo da experiéncia coletiva como aquela geradora dos processos singulares. Neste sentido, pensar a interface da Psicolo- gia com o SUS se dara exatamente por este Ponto conector: os processos de subjetivagao se dao num plano coletivo, plano de multiplicidades, plano piiblico. O SUS, en- ‘quanto conquista do povo brasileiro, da hu- manidade, se faz como politica publica de sate. = Principio da autonomia e da co-responsabili- dade: assim sendo, também é impossivel se pensar em praticas dos psicélogos que nao ‘estejam imediatamente comprometidas com © mundo, com o pafs que vivemos, com as condigées de vida da populacao brasileira, ‘com 0 engajamento na produgao de satide (Campos, 2000). que implique a produgao de sujeitos auténomos, protagonistas, co- participes e co-responsdveis por suas vidas. Aqui, a interface da Psicologia com o SUS se «dé pela certeza de que o processo de inven- tar-se ¢ imediatamente invengao de mundo e ~ Prinefpio da transversalidade: a Psicologia, tal como qualquer outro campo de saber/ poder nao explica nada. £ ela mesma que deve ser explicada e isto s6 se d& numa rela- ‘edo de intercesséo com outros saberes/pode- re5/disciplinas. f no entre os saberes que a invengao acontece, é no limite de seus pode- res que os saberes tém o que contribuir para ‘um outro mundo possivel, para uma outra satide possfvel. A contribuigio da Psicologia no SUS pode estar justamente no entreeruzamento do exercicio destes trés prinefpios. Mas, é, sobretudo num certo método, num certo modo de operar que acreditamos poder estar ‘nossa maior contribuigao ¢ também nosso maior de- safio. De nada adiantam tais principios se eles nao 23 24 Benevdes, R. ‘A Picologia © 0 Sislema dnico de Satde: quais interes?” forem imediatamente agao politica, ago sobre a polis, agdo sobre os processos de constituicéo da cidade ¢ dos sujeitos. O que queremos ressaltar é que os eixos da universalidade, equidade e integralidade, constitutivos do SUS 36 se efetivam quando consegui- mos inventar modos de fazer acontecer tais eixos. In- teressa perguntar o como fazer e, aqui, nossa experi- éncia indica que a construcao das redes, das sgrupalidades, de dispositivos de co-gestio, de aumen- to do indice de transversalidade, de investimento em projetos que aumentem o grau de democracia e parti- cipagdo institucional, so alguns dos caminhos a se- rem percorridos. Em nossa recente, ejé finda, experiéncia na Secretaria Executiva (SE) do Ministério da Satide (MS) (wwwsaude.govbr)’, coordenando a Politica Nacio- nal de Humanizagio e a Politica Nacional de Promo- do & Satide, nos vimos frente ao desafio de constru- ao de politicas piblicas que estivessem comprometi- das com os prinefpios que acima enunciamos. Estar na maquina do Estado num cendrio contemporéneo que naturaliza o capitalismo neoglobaliberal impés, o tempo todo, movimentos de resisténcia Aquilo que se apresentava como inexordvel: programas, proj tos, secretarias ¢ processos de trabalho fragmentados, separagio dos regimes de atengio e de gestao da sati- de. Mais ainda, o desafio se colocava em exercitar com os trabalhadores e gestores do proprio MS um outro modo de construir politicas piiblicas. Nao queriamos, de fato, apenas uma outra politica de governo. Querfamos avancar numa outra direcdo de nosso modo de fazer e, para isso, no nos bastava apenas concordar com os eixos do SUS: universalidade, integralidade, equidade. Precisévamos usar estabelecer na maquina do Estado, politicas de produgdo de autonomia e emancipacao social. Precisdvamos redimensionar as politicas de satide de tal forma a criar espagos de gestacao, difusao ¢ contaminagao de novas alternativas societérias ¢ civilizatérias (ef. Eixo 1 do V FSM em ‘www. forumsocial.org). Pensdvamos dar outros ramos para a propria Secretaria Executiva do MS que até entéo apenas executava politicas formuladas por outras Secretarias. Precisavamos efetivar a co-gestao com a qual diziamos concordar, co-formulando politicas e nao simplesmente reproduzindo tolos espagos de disputa de territérios de saber/poder. Apostamos em politicas transversais e que néo separassem atengio/gestio/formagio e participacio social. Apostamos, enfim, num outro modo de pensar e de fazer politica. Pensar-fazer politicas de satide exige, ento, criagdo de dispositivos, exige criagao de espagos de contratualizagdo entre os diversos atores que compéem as redes de satide, exige um estar como outro: usta rio, trabalhador, gestor. Aqui certamente a Psicologia pode estar, aqui ela pode fazer intercesséo. Insist- mos, nao basta a distancia formular, regular, contro- lar politicas, & preciso criar modos, criar dispositivos Genevides, R, 1997)dispositivos*, que déem suporte & experimentagio das politicas no jogo de conflitos de interesses, desejos e necessidades de todos estes ato- Os rumos tomados desde o final de 2004 nos inquietam na medida em que o MS decide, dentre outras medidas, mudar o perfil da SE deslocando tais politicas transversais para outras Secretarias. Aexperiéncia na coordenacao destas politi- as no MS nos impés, entéo, uma modulagao daquilo que ja afirmavamos anteriormente. Se antes faliva- mos da inseparabilidade entre a clinica e a politica (ver Passos & Benevides, 2004), agora podemos dizer da inseparabilidade entre modos de atender, de cui- dar e modos de gerir, inseparabilidade entre atencéo e gestdo, portanto. Ai estd um caminho a sertracado, percorrido, inventado, se queremos, também nés, psi célogos, nos aliar aos movimentos de resisténcia que apostam na construcdo de um outro mundo possivel Por titimo vale lembrar que 0 SUS nasce como movimento, conhecido como Reforma Sanitdria, ali- ado a outros movimentos sociais, na luta contra a ditadura militar e em prol da democracia, da garan- tia dos direitos do homem, Estavamos nos anos 1970/ 80, onde também se organizava em nivel internacio- nal a grande onda neoliberal. O SUS foi, sem duivida, durante estes anos, o movimento que se firmou como resisténcia a privatizagéo da satide. Resistir & privatizacao, da satide, da vida é tarefa para muitos, 6 tarefa para todos nés. Cabe a nés, psicdlogos, deci- dir com que movimento nos aliamos, quais movimen- tos inventamos, quais intercessdes fazemos entre a Psicologia e o SUS, entre a Psicologia e as politicas piiblicas. NOTAS ‘Versio revisada do trabalho apresentado no V Férum Social Mundial, Porto Alegre, janeiro de 2005 na mesa redonda A Psicologia no Sistema Unico de Saiide, or- ganizada pelo Conselho Regional de Psicologia (CRP- 07), pelo Sindicato dos Psieélogos do Rio Grande do Sul e pela Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul, como parte da Atividade: Psicologia e satide nas politicas puiblicas: estratégias e esferas de acio/ Eixo: Defendendo as diversidades, pluralidade e identida- des. 2 Aalusdo se refere & convocacao que instituiu o Férum Social Mundial desde sua primeira versio em 2001 quando, num movimento de resisténcia a globalizacao € 20 Capitalismo Mundial, organizagées ndo-gover- namentais ¢ redes sociais de toda ordem propuseram ‘ encontro em Porto Alegre/Brasil em contraposigio a0 Férum Econémico Mundial realizado na mesma época em Davos/Suica. ® Sabemos que os termos aqui referidos tém diferen- gas a depender do enfoque teérico aos quais esto filiados. Nao é preocupacio do presente artigo se de- ter nestas diferencas. O que queremos sobretudo problematizar é a separagao entre os registros subje- tivo e objetivo da experiéncia. A esse respeito ver Benevides (2002). “Titulo de um livro de Christophe Dejours, inspirado em termo utilizado por H. Arendt ~ banalidade do mal, Dejours (1999) procura investigar as motivacoes subjetivas da dominagio, tomando o trabalho eo cha- ‘mado novo capitalismo na sociedade contemporanea, como eixo condutor de suas andlises. 5 Uma importante contribuigao sobre o tema da autopoiese pode ser encontrado em Kastrup (1999). E, sobre a questo da autonomia, ver Birado e Passos 2004) ©Trabalhamos aqui com a idéia de que o sintoma se apresenta em duas dimensoes: forma e forga. Sua face instituida, face-forma, é aquela que se vé aprisionada no circuito de repetigao fechada sobre si, O trabalho da andlise deverd incidir neste circuito, de modo a nele produzir desvios que foreem a repeti¢ao a diferir. * Sugiro o site www.saude.gov.br para melhor entendimento da estrutura, atribuicdes e responsabilidades das instancias do MS. "Em artigo publicado anteriormente discutimos o dis: positive grupal como um importante mecanismo de resisténcia as politicas individualizantes presentes no contemporaneo. Neste mesmo artigo trabalhamos a nogio de dispositivo a partir das contribuigdes de G. Deleuze como emaranhado de linhas, enfatizando 0 plano de constituigao do dispositivo (Benevides de Barros, 1997) REFERENCIAS Benevides de Barros, R. (1997). Dispositivos em agio: ‘ogrupo.Eim A Silva & cols. (Orgs.), Gadernos de Sub- jetividade (pp. 183-191). Sao Paulo: Hucitec. Benevides, R. (2002). Clinica ¢ Social: polaridades {que se opGem/complementam ou falsa dicotomia? Em. C., Rauter, E, Passos & R. Benevides (Org.), Clinica e Politica: subjetividade e violagao dos Direitos Huma- nos. Rio de Janeiro: Te Cora. Campos, G. W. S. (2000). Um método para analise e co-gestiio de coletivos — a construcio do sujeito, a producio de valor de uso e a democracia em institui- ‘Goes: 0 método da roda, Sao Paulo: Hucitec. Pricalogia & Sociedede; 17 (2) 21-25: mav'age.2005 Dejours, C. (1999). A banalizagao da injustica social Rio de Janeiro: FGV. Hirado, A. & Passos, E. (2004), A nogio de autonomia € a dimensao do virtual. Psicologia em Estudos, 9, 7785. Guattari, F & Rolnik, S (1986). Micropolitica; carto- ‘rafias do desejo. Petrépolis, RE:Vozes. Kastrup, ¥ (1999). A invengio de si edo mundo. Cam- pinas, SP: Papirus Passos, E. & Benevides de Barros, R. (2004). Clinica, politica € as modulages do capitalismo. Lugar Co- ‘mum, 19/20, 159-171 Regina Benevides Psicéloga; Professora do Dep de Psicologia da UFF; Doutora em Psicologia Clinica; Pés-Doutorado em Satide Coletiva. Entre janeiro de 2003 e janeiro de 2005 foi Diretora de Programas da Secretaria Execu- tiva do Ministério da Saiide, coordenando a Politica ‘Nacional de Humanizagéo e a Politica Nacional de Promogao & Satide, End. para correspondéncia: Mestrado em Psicologia. Universidade Federal Fluminense. Campus do Gragoatd, s/n, bloco O, sala 214 - Gragoaté - Niterdi - RJ. E-mail: rebenevi@terra.com.br Regina Benevides Apsicologia eo sistema tinico de saiide: quais interfaces? Recebido: 01/03/2005 1* Revisdo: 03/10/2005 Aceite Final: 11/10/2005 25

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