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Unidade UL $< A perspectiva critica O apatecimento da perspectiva critica do Direito no Brasil remonta ao final dos anos de 1970. Em termos tedricos e doutrinérios, ela compreende } um amplo espectro que inclui desde © pensamento marxista Jato sensu até, | entre nés, a Teologia da Libertacio, Inclui também correntes de pensamento “nio necessariamente marxistas, mas comprometidas com a “questo social”, como a doutrina dos direitos humanos. Em termos institucionais, engloba movimentos que vio da Crftica do Direito stricto sensu, de origem francesa, a0 Direito Alternativo, formulado aqui mesmo na América Latina, passando pelo Uso Alternative do Direito, de procedéncia italiana. Todos partilham uma visio critica a respeito do direito oficial, guardio de uma ordem social ¢ econdmica injusta e exploradora, Alternativamente, a perspectiva critica apa- rece comprometida com o projeto de construgao de uma sociedade livre, justa € igualicdria — no limite, socialista. Segundo dois autores colombianos, trata-se de um “esforgo consciente para questionar os fundamentos das formas juri- dicas ¢ sociais dominantes com a finalidade de impulsionar praticas ¢ ideias emancipadoras dentro ¢ fora do campo juridico” (VILLEGAS & RODRI- GUEZ, 2003, p. 17). A citagio dos dois colombianos mostra que tal pers- pectiva nao é um fendmeno adstrito ao Brasil. Apesar disso, as reflexes que se seguem tém esse pals como principal referéncia, pela razio de que, sendo brasileiro, conhego bem melhor o que se passa na realidade do meu pais do que na realidade dos demais paises da regio. © Passados mais de urinta anos do seu aparecimento, a partir da metade dos anos de 1990 ocorreu certo “refluxo” do movimento, como anota, refe~ rindo-se especificamente a0 Direito Alternativo, um dos seus representantes (ANDRADE, 1998, p. 25). Um bom exemplo disso é a perda progressiva de piiblico que sofreram os Encontros Internacionais de Direito Aleernativo ECC REE Ey Wi eV ly 8 Tentative cos encoONntras fol Feromacla com a realigagto de um Congresso Internacional de Direito Ab ternativo, na mesma eidade de Ploriandpolis, para comemorar os vinte anos do movimento, num contexto que jé nto é 0 mesmo de duas décadas attés, Depois voltaremos a e assunto. Por enquanto, voltemos nossa atengio para as conrentes que integram a perspectiva, No terreno da reflexéo especificamente juridica, sua perspectiva cesrica ais conhecida € © Pluralismo Juridico. Esse conccito foi posto em voga no Brasil no inicio dos anos de 1980, a partir de um pioneiro trabalho de campo dlo socidlogo portugues Boaventura de Souza Santos, feito uma década antes, sobre praticas judicidrias nao oficiais exercicadas no interior de uma favela do Rio de Janciro a que cle deu o nome ficticio de “Pasirgada”, onde os favela- dlos, através de sua associagio de moradores, desenvolveram informalmente um conjunto de préticas processuais para resolver os litigios surgidos entre os seus habitantes. O trabalho resultou numa tese de doutorado em Sociologia defendida na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, ¢ 0s textos dele re- sultantes publicados nos anos de 1970, em lingua inglesa (SANTOS, 1974, 197), permaneceram praticamente desconhecidos no Brasil durante essa dé- cada, Posteriormente, jé em 1980, um resumo dessa pesquisa foi publicado fnuma coletiinea de textos de Sociologia Juridica (SANTOS, 1999) organizada por dois dos mais importantes nomes da area no Brasil - Cléudio Souto Joaquim Faldo —, 0 que contribuiu para tornar 0 nome de Boaventura San- 108 conhecido dos juristas-socidlogos brasileiros ¢ popularizou suas reflexdes sobre a pluralidade de ordenamentos juridicos, Havia um ambiente propicio & recepgao do trabalho de Boaventura. Es- livamos vivendo, entre fins dos anos de 1970 ¢ inicio dos anos de 1980, 0 caso do regime militar e, como ocorreu nas mais variadas dreas da atividade cultural ¢ académica, houve, também no terreno juridico (nesse caso de ma- hcira surpreendente, dado o tradicional conservadorismo da drea), uma disse- ininag4o do pensamento marxista, submetido durante a ditadura & vigilancia Jempre ameagadora das forcas de repressao. A pesquisa de Boaventura Santos, silorando a perspectiva da luta de classes para explicar a génese do Direito de Pasdrgada, encontrou aqui um ambiente favordvel & sua disseminagio. Pop Yolta dessa época, porém, ¢ independentemente da influéncia do trabalho do. yociélogo portugués, j4 floresciam alguns movimentos criticos adotanda 0 1 | esta representagio toma a forma de uma instituigao: a do sujeito 1 de direito (p. 111). naterialismo histérico de Marx como principal fonte teérica nos ambientes jutidicos, entre os quais destacaria alguns mais conhecidos e influentes 1. o caso do movimento Critica do Direito, de origem francesa, que apor- tou no Brasil através da Pés-graduagao em Direito da Universidade de Santa Catarina, irradiando-se dai para outros centtos, Seu principal teérico, Mi- chel Miaille, & autor de um “contramanual” publicado na Franga em 1976, e conhecido no nosso pais a partir de sua versio portuguesa publicada em , 1979 — Uma introdugiéo critica ao Direito -, tornando-se com isso uma re- 4 feréncia obrigatéria nos estudos de otientagéo marxista sobre o Direito que | comesavam a aparecer entre nds", Apesat de set, como o seu titulo jé indica, um contraponto crftico (uma “desconstrugéo”, como se diria hoje) aos tradi- Gonais manuais de Introducio 4 Ciéncia do Direito, nfo se trata de um livro que ceda 3s facilidades do panfleto, Ao contrétio, é um livro analiticamente sofisticado. Tentando resumir numa frase °a explicagéo do que € realmente 6 Direito”, e que fungées ele cumpre numa sociedade capitalista, seu autor ) enuncia.a seguinte hipétese: “a mercadoria na esfera econdmica tem @ mesmo |) papel que @ norma na esfera juridica” (MIAILLE, 1979, p. 89). Ea extenséo | da hipétese marsista da mercantilizagio que se opera em todos os stores da | sociedade ao terreno do Direito. A sofisticacio reside em que nao se tra © simplesmente de denunciar o carter de classe do direito burgués, 0 fato di que ele selerivamenteaplicado, punindo a dasses pobrese cobrindo os € poderosos com © manto da impunidade etc. O que faz Miaille™ & levar pétese enunciada por Mare até os conceitos fundamentais clo Direivo em ¢ ‘mesmos, como xz, por exemplo, com a figura tio importante do “sujcito de Nesse mesmo contexto histérico entre o final dos anos de 1970 eo come- 0 dos anos de 1980, c sem ligagio com as leituras que estavam sendo feitas cm Santa Catarina, surge também a Nova Escola Juridica Brasileina, do jurista Roberto Lyra Filho, professor da Universidade de Brastlia, 0 qual, dorado de uma personalidade carismética ¢ iconoclasta’, veio a se rornar um nome co- ahecido ¢ muito controyertido, detestado por boa parte dos juristas e, obvia- mente, idolatrado por boa parte dos estudantes. Deve-se mencionar também © Direito Insurgente, do advogado Miguel Pressburget, principal tedrico de uma instituigto chamada Apoio Juridico Popular (Ajup), sediada no Rio de Janeiro, Os dois movimentos, malgrado algumas diferengas, vem o dircito oficial como cristalizando, em cada etapa histérica, os interesses das classes dominantes, contra os quais as classes dominadas, através de suas lutas, véo cristalizando valores e princfpios proprios, os quais constituirdo a base de uma juridicidade altemativa ao direito dos dominantes, Dentro dessa perspectiva, © povo (as classes dominadas, os grupos oprimidos etc.) tem a capacidade, através de suas lutas, de gerarent um novo direito ~ perspectiva presente nos Urabalhos de Lyra Filho (1982a) e de Miguel Pressburger (1987/1988), mas nte na Critica do Direito francesa, que trabalhava mais no terteno da epis- Jemologia e, em termos priticos, nao chegava a ser propositiva: No caso de um Lyra Filho (nome ainda hoje de grande citculas4o nos no- ps movimentos ligados 4 Perspectiva Critica, como veremos adiante), existe {ina preocupacéo militante sobre o que fazer, como jurista, dentro do que ele direito”. Bis 0 que ele di Hama de *positivacao [..] dos prinefpios libertadores”; ou seja: fazer do dire \ Atroca das mercadorias, que exprime, na realidade, uma relagil le lege facta ou de lege ferenda, um instrumento de uta. No seu estilo altis- social ~ a relagéo do proprietirio do capital com os propriettttG Mantc, bem caracteristico de sua personalidade, “1 historicidade dialética da dla forga de trabalho —, vai ser escondida por “rele liv tilacle em seu avango sobre a necessidade” é uma preocupagio constante. .”, rvindas apat smente apenas da “vontade do 7 z Te oo aa i eee talista sup sberto Lyra Filho 6, nesse sentido, um jusnaturalista de esquerda de corte viduos indepen modo 0 capitalista sup pois, como condiggo do seu funcionamento, a “womizag quer dizer, a representagio ideoldgica da sociedade como i conjunto de individuos separados ¢ livres. No plano jus Byencional, para quem esse “avango sobre a necessidade” 0 vetor extraido da dialécica social [..J, dentro da qual as clas- ses ¢ grupos ascendentes afirmam as novas quotas de liberdade, no eterno combate contra a espoliagao ea opressio do homem 2, Para um exemple de vabulos fet no Bru oh inte de Mishel Mia fs tic concep ride do Esta (NASCIMINTO, 2012), Ivro even oportuniclade, em 1982, ia tone eda Gn ue ie eee i a fag ogo da pave goenduvkdosa cor Teor 2, a wi aly do gt 0 ; we enna on po a * aes Na pelo homem) nossa meta é a justign milianite, ile metafisica, © enfoquie phitulista adicional dos juristas reyela-se, no fundo, um fal- nem iaealista, ems abscrata, mas conscientizadty 0 pluralismo, pols, como lembra Carbonnies, os fendmenos descritos como na prdxis vanguardeira, em opo | constituinda um outro diteito séo tomados em co ideracao pelo sistema ju- retrdgradas (p. 13-14). _ tdlica global e, portanto, “de cerco modo, integrados nele” (CARBONNIER, 1979, p. 220). Para um enfoque verdadeiramente pluralista, é para a antro. | Pologia ¢ a sociologia juridicas que devemos nos voltar. E é para essas duas ‘treas do conhecimento, aliés, que se volta inicialmente Boaventera Sans, teconhecendo que se trata de um conceito aplicivel,e jé aplicado, as mais variadas situag6es, das quais algumas se tornaram cléssicas. A mais conhecida €a situagio do colonialismo do século XIX, onde havia necessariamente a Coexisténcia, num mesmo espaco arbitrariamente unificado como colénia, do tliteico do estaclo colonizador dos diteitos tradicionais. Além do contexte ‘olonial céssico, ts outras sieuagses de pluralismo jutidico tém sido geral, mente identificadas pela literatura socioantropolégica. Tal é a situacto dos paises com tradigées culturais dominantes nio curopeias, que adotaram o di- feito europeu como instrumento de modernizacto. £ 0 caso, entre outros, da lrquia. Uma segunda situacao tem lugar quando, em virtude de uma revo, Iiy30, o dircito tradicional entra em conflito com a nova legalidade, sem, no Manto, deixar de vigorar, em termos sociolégicos, durante muito tempo, O ‘0 mais conhecido € 0 das Repiiblicas da Asia Central, de tradicio juridica HlAmica, no seio da URSS, depois da revolucéo soviética, Por ihimo, Boa. ncura Santos considera os casos em que populaces “nativas”, quando nao Jotalmence exterminadas no curso da expansto maritima europeia, foram sub. Metidas a0 direito do conquistador com a permissio, expressa ou implicita, de 1 certos dominios continuarem a seguir 0 seu direito tradicional. E 0 caso 1s populagées indfgenas dos paises da América do Norte e da América Lati- I)» «dos povos autsctones da Nova Zelindia e Austrdlia (SANTOS, 1988). Assim, ¢ a rigor, em termos de América Latina o conceito de pluralismo, Wvidico, pelo menos na sua feigéo cléssca, recobriria apenas aquelas situagoes Bi que direitos indgenas continuaram sobrevivendo apés a implantacéo da Islem capitalist Ea propria literatura sobre 0 tema que se segui a0 tra. lho dle Boaventura Santas parece ciente dessa particulatidade, na medide Ae estabelece uma clasificacéo desses fendmenos em que se distingue pluralism juricico “cultural” co pluralismo jusidio “sociol6gico”. © pri to referir-se-iad “presenga de diferentes ordens juridicas, correspondentes ferences cultuiras que conyivem em um mesmo espago ¢ tempo” (VI Le ‘S RODRIGUE 46); le que wy eoexisrénctn clo winter panied Como quer que seja, no que diz respeito A produgio intelectual, esses movimentos eram basicamente te6ricos, animados por juristas que, mesmo. voltados para 0 “concreto”, nao exercitavam a pritica da pesquisa empitica, B eis que aparece o trabalho de Boaventura Samos, um trabalho de campo feito por um sociélogo que revelou a existéncia do “ditcito de Pasirgada”, vale dizer, uma ilustrasao concreta de que os grupos dominados eram, sim, capazes de produzir um direito diverso do dieito oficial. Creio que, a, reside « explicagio pare a extraondinsra recepedo do seu trabalho ¢ de sas idles respeito do pluralismo juridico, nomezdamente no meio “critico”, dentto do qual se tornou uma referencia obrigatdria. A novidade do trabalho de Boa sc ao fato de que ele propunha uma renovagio do conceito de ventura dev > i pluralismo juridico, que jé tinha atrés de si uma longa hist6tia — mas néo nd campo intelectual da esquerda. Trata-se na verdade de um conccito bastante antigo, jé tendo sido obje juristas tradicionais, que adotaram na sul to de reflexio por parte de viti reflexio sobre o fendmeno juridico um enfoque sociolégico, a excmplo Georges Gurviteh (1894-1965) ¢ sua visio acerca da pluralidade de centea geradores de dieito, anto supraestatas ~ como as oxganizagdes interna nais, por exemplo ~ quanto infraestatais ~ como os sindicatos, as cooperati tc. Mas também autores como italiano Giorgio Del Vecchio (1878-1970] € 0 brasileiro Miguel Reale (1910-2006) reconhecem a existéncia de ordeni mentos juridicos nao estatais vigendo no interior da ordem juridica oficial de que so exemplos o Direito Candnico, 0 Direito Internacional Privado, eseatutos esportivas e de associagdes de classe etc. Mas ¢ opiniaio unanime qul ordenamentos desse tipo nao sio capazes de infirmar a exclusividade do d to oficial como o tinico direito vilido num determinado territétio soberaf (ese do monismo juridico), na medida em que cles se referem seja a maté espistual fore do seu ambito de intomissio ~ caso do Direito Candnica seja a pequenos ordenamentos incluidos no seu ambito de abrangéncia, medida em que autoriza ¢ protege seu funcionamento = easo das asso esportivas ~, seja a regras derivadas dle convengiies itis cuuja vali depende de sua aceitagio = como no ex juuridico estatal com sistemas jurfdicos indfgenas sobreviventes 4 implantagao _ do primeiro seria um cxemplo. O pluralismo juridico sociolégico, por seu turno, referir-se-ia, “a cocxisténcia de uma pluralidade de sistemas de direito no seio de uma [mesma] unidade de analise[...], pondo-se em xeque 0 postulado dogmdtico juridico da exclusividade e prevaléncia do direito oficial na sociedade, para mostrar a existéncia de outras ordens juridicas igualmente determinantes dos comportamentos sociais” (p. 49). © Direito de Pasdrgada, que néo constitui nenhuma ordem juridica nativa que tenha sobrevi implantacéo do direito oficial imposto pelo colonizador, pertence, por certo, a esse segundo tipo de pluralismo, ¢ é prineipalmente dele que trato aqui. Boaventura Santos, ao analisar as préticas juridicas que tém lugar em Pasirgada, promove, a partir de um registro de esquerda, uma atualizagao da antiga e geralmente conservadora perspectiva sociologista sobre o direito (que engloba movimentos como a Eicala Histérica de Savigny ¢ 0 Direito Vivo de Ehrlich), a qual, em resumo, se caracteriza por situar “nas profundezas da vida social a tinica fonte de direito” (CARBONNIER, 1979, p. 28). Em “Pa: sirgada”, 08 favelados, sem titulo de propriedade do chao onde habitavam ¢, portanto, sem a protegao do direito oficial que eles préprios chamavam d “direito do asfalto” —, desenvolveram informalmente um conjunto de priti cas processuiais que, aplicadas pela associago de moradores da favela, tinhas por finalidade resolver os conflitos de natureza sobretudo territorial surgid entre 0s seus habitantes. Na formulagao do proprio Boaventura Santos, con) sidera-se que ‘Tem lugar em sociedades que, por isso, tém sido designadas ‘heterogéneas”. Mas é ele prdprio quem, em seguida, sugere ampliar 0 conceito de pluralismo juridico, de modo a cobrir situagoes susceptiveis de ocorrer em sociedades cuja homoge neidade é sempre preciria porque definida em termos classistas isto nas sociedades capitalistas. Nestas sociedades, a “homo- geneidade” é em cada momento histérico, 0 produto concreto das lutas de classes € esconde, por isso, contradigdes (..J. Essas contradigées podem assumir diferentes expressées juriicas [..]. ‘Uma dessas express6es [...] é precisamente a situacéo de pluralis- ‘mo jurfdico e tem lugar sempre que as contradigées se conclen- sam na criagao de espagos sociais, mais ou menos segregadas, no seio dos quais se geram litigios ou disputas processados com base em recursos normativos ¢ institucionais internos (1988, p. 76 — itilicos meus). Tal € o caso de Pasérgada, Mas, como reconhece 0 proprio Boaventuta, luis casos, “em geral, tendem a configurar situacées de menor consolidaeso (c por vezes mais curta duracio) quando confrontadas com as que compéem 6 contextos de pluralismo juridico anteriormente mencionados’. E mais na medida em que fend menos juridicos plurais configurados como enclaves estéo ercados por uma ordem dominance, niio escariam eles devidamente “conta- inados” pelos valores dessa mesma ordem? Nesse caso, néo faltaria a cles a Driginalidade culvural que esté na base dos fenémenos de pluralismo juridico In sua feigio cléssica? A hipStese da “contaminagio” pela ideologia dominan- We que aferaria esses fendmenos jusfdicos plurais & confirmada pelo préprio Hoavencura Santos, o qual, a respeito da ordem juridica de Pasérgada, diz: ‘existe uma situagio de pluralismo jurfdico sempre que no m ‘mo espago geopolitico vigoram (oficialmente ou nao) mais dl uma ordem juridica. Essa pluralidade normativa pode tet u fundamentagio econémica, récica, profissional ou outta; pi corresponder a um periodo de ruptura social como, por ext plo, um perfodo de transformagio revolucionstias ou pode ait resultar, coma no caso de Pasirgada, da conformago espeeific conflico de classes numa drea determinada da reprodugto sock neste cas0, a habitagio (SANTOS, 1999, p. 87 as normas que regem a propriedade no dircito do asflto podem ser seletivamente incorporedas no direito de Pasirgada e aplica- dlas na comunidade. Deste modo nio surpreende, por exemplo, ipio da propriedade privada (¢ as consequéncias le- dela decortentes) seja, em geral, acatado no direito de Pa ada do mesmo modo que o € no direito estatal brasileiro 1988, p. 14), ssas observapées, de negar que exista ~ out, mais exa- HeALe, que renha existido ~ em Pastrgada um fendmeno de pluralismo jus objeto novo que ele descobriu encravado numa favela do Rio de Jan 10) entendide exte-como uma forma nao estacal cle resolugio de confito operagio néo se «lf sem um alargamento conceitual feiro conseien t / juridicos plurais nao configurariam a afirmagto de um novo direito, assentado \, tema dominante. O que eles pretenderiam néo seria viver uma cultura, valores 4,25. Villegas € Roxlriguee chamam a atengo para o fato de que “a inter condena grupos sociais inteiros. O questionamento a ser feito diz respeito a certas leituras desses fendmenos enviesadas pela “perspectiva critica’ tipica da época do seu aparecimento, nas quais eles aparecem como dorados de um potencial anticapitalista ¢ emancipatério que, empiricamente falando, difi- Jcilmente apresentam. Como jé ressaltei a propésito da “contaminasao” a que esses fendmenos estariam submetidos, ¢ mais do que plausivel a hipétese de que comunidades nao anteriores a0 capitalismo, mas produzidas no seu in- terior, dificilmente apzesentem um perfil coletivista de acordo com a visio frequentemente idealizada presente na literatura pluralista produzida entre és. Fo caso de aglomerados rurais ¢ urbanos como “ocupacées” e favelas, frutos de um agir conjunto que responde a uma necessidade ditada pela ca- réncia de morat ou de ter terra para plantar. Produzidos no interior do sistema capitalista, ¢, portanto, submetidos & ideologia ai dominante, esses fendmenos ‘em bases coletivistas, mas, 20 contrdrio, a reivindicagao para integrar-se ao sis- enormas autéctones, sem a interferéncia do Estado, mas que este, através das mais diversas politicas ptiblicas ~ inclusive uma politica de segularizacio de suas “ocupagées” — intervenha em seu favor, © mais curioso é que essa perspectiva do pluralismo juridico sociolégica como um subproduto da auséncia do poder piblico ~ noutros termos, nao como afirmagao de uma positividade, mas como consequéncia de uma negatt vidade -, se encontta presente no proprio Boayentura Santos, o qual obser numa passagem menos lida do que talvez.deveria, que “a intervengao da asso: ciagio de moradores nesse dominio [a resolugao de conflitos) visa constitu como que um ersatz da protecio juridica oficial de que carecem” (SANTO! 1988, p. 14). Ora, a partir da extraordinéria recepcio do trabalho de Bo ventura Santos pela “perspectiva critica” endo em evidéncia, instalou-se no} meios crfticos brasileiros uma yerdadeira onda pluralista em busca de ordet | juridicas existentes em favelas ¢ em bairros miseraveis das periferias da cidadl supostamente dotadas de uma maior legitimidade por sua origem comunicat info éasinica causa de bos parte da exch Hisado io invervém oe herarquizag soins I ect coi feng ube Os deserdados da sociedade, os que foram langados na periferia ‘ou jamais permitidos a ingressar na modernidade modelada pelo sistema, construiram e desenvolvem culturas paralelas, para eles revestidas de todas as prerrogativas legais (1987-1988, p. 5).. E Daniel Rech, do mesmo movimento, dava o tom: as comunidades urbanas ¢ rurais & margem do Estado de Direito fam cin seu intesiot nutinas de vonduta que an vi eficicia, tal qual o direito estatal normatizado. Essas regras de conduta, verdadeiras normas consensuais, jé que nio esto escri- tas, tém demonstrado ser adequadas ¢ eficientes, levando mais em conta as relagées sociais vigentes (RECH, 1990, p. 4). Uma das grandes questées que essas reflexdes levantam diz respeito a0 critério de legitimidade que os seus autores aparentemente elegem, qual seja, © da maior eficiéncia e adequagao das praticas juridicas plurais as relagoes sociais vigentes no seio das comunidades populares. Trata-se, de certa for- ma —e mesmo que a partir de um registro de esquerda ~, de uma atualizagio dda antiga e no mais das vezes conservadora perspectiva saciologista sobre 0 Di- reito, mencionada atrés. E preciso aqui lembrar que a perspectiva sociologista jd recebeu intimeras criticas" as quais, para nao alongar o debate, podem ser resumidas na candida observagio, perpassada de bom-senso, de que a visto sociologista corre o risco de, em ver de promover o “yerdadeiro” diteito, legi- timar de fato a injustica. Pode ser 0 caso. Eases direitos locais, em muitas de suas manifestagées, longe de significarem uma praxis libertadora, cristalizam, a0 contririo, priticas de dominagio téo velhas quanto o mundo, Um bom exemplo disso chega até nés através do proprio Miguel Pressburger, 0 qual, procurando o “direito insurgente” numa favela do Rio de Janeiro, deixa falar lum erabalhador: 14 onde vivemos (J, existem também regras de viver hem, da convivéncia, que so nossas leis, se nao, seria cada um por si e Deas por ninguém. ...) Quer ver s6 uma? Pode até parecer vio~ lento, mas fiz parte da vida das pessoas. O marido que pega a mulher com outro, pode encher de pancada e ninguém se mete (apud PRESSBURGER, 1989, p. 98). Numa palavra, as provas empiricas cessas formas populares ¢ con ‘io so convincentes em demonstrat portam consigo prine pios e valores mais libertadores do que aqueles existentes no direito oficial. Da mesma forma que séo também inexistentes as evidéncias de que essas comu- nidades marginalizadas sejam portadoras de valores anticapitalistas. Vejamos, sobre isso, 0 que diz Joaquim Falcio numa pesquisa que, no inicio dos anos de 1980, se debrugou sobre o fendmeno das “invas6es” (como entio as aci- ‘passes etam normalmente designadas) numa das metrdpoles brasileiras onde clas mais ocorrem: a cidade do Recife. A aga caletiva, certo, é de regra. Bla é, alids, a condico sine qua non para que o movimento tenha alguma chance de éxito. Como observa Joaquim Falcéo em trabalho pioneiro que se tornow uma, referencia para os que se seguiram, “os invasores [...] sabiam que 0 sucesso nna defesa de seus direitos seria proporcional & capacidade de permanecerem, unidos. A forga do eventual direito repousava no caréter coletivo das reivin- dicagdes, e unitirio das solugdes” (FALCAO, 1984, p. 88). Mas cessa ai a pretensao de fundar um direito diferente: “a pretensio maior dos que pautam apareceu uma questio versando sobre 0 Pluralismo Jurfdico, Isso dito, volte- ‘mos 3 tematica da Perspectiva Critica dos movimentos que ela desencadeou, entre 05 quais aquele que se torti6u mais conhecido: 0 Direito Alternativo. ‘Comesarei por desbastar o terreno, tentando esclarecer algumas confuses conceituais que a meu ver percorrem essa ¢ outra tendéncia que Ihe € muito . préxima: a do Uso Alternativo do Diteito. A designacao Dircito Alternativo surge no inicio dos anos de 1990, Para ser mais preciso, digamos que é a partir dessa época que ela se torna conheci- da, Mas 0 conceito jé tinha sido formulado ances dessa data. Até onde estou. informado, a expressio surge pela primeira vez num livro publicado em 1984 pelo jurista critico Carlos Artur Paulon, Direite Alternativo do Trabalho, 0 qual abre com uma “Nota” que comesa dizendo: “Aqui estéo compilados al- guns trabalhos que tém em comum a tentativa de investigacdo critica da lei trabalhista brasileira’; e termina com uma conclamagii Por minha vontade, publicagio servitia para advogades, juizes ¢ estudantes, Nao como ligoes de direito, mas como uma alternativa de uso deste diveito ainda tao distance da verdade democritica’ (PAULON, 1984, p. 13 — itélicos meus). Notam-se iqui duas referéncias importantes: a primeira, 4 “perspectiva critica” entao em evidéncia; a segunda, ainda que com os termos trocados ¢ sem referéncia explicita, a0 movimento do “uso alternativo do diteito”, de origem italiana, A referéncia a esse movimento volta a ser feita adiante, quando Paulon propug- hia a utilizagio das “contradigoes do ordenamento jutidico estatal” a servigo tlos trabalhadores e, jé af utilizando a expressio com todas as letras, di: suas condutas por essas manifestagbes normativas nio estatais € justamente transformi-las posteriormente em direito estatal” (p. 83). E prossegue: “Os invasores querem ser proprietitigs. Justificam a invaséo [...] porque sobre o dircito de usar e dispor segundo a livre-vontade do proprietirio, deve prevale- cero direito de moradia de todos” (p. 95). Mas, uma vez.o tio desejado barra- co edificado, “a pretensio de todo invasor no & permanecer com um dieito ‘informal’ ou paralegal. Sua pretensao é de numa segunda etapa fazer com qué posse mantida ¢ reconhecida seja ‘legalizada’ pelo direito estatal” (p. 98)". Essas ponderacées a respeito do Pluralismo Juridico se tornaram um cant Jongas. Mas, além do interesse académico que em si mesmo o assunto di perta — por tratar de uma questio instigante a respeito do monisma juridic reivindicado pelo diteito moderno -, € um tema que néo perdeu atualidil ‘Uma legislagio trabalhista jamais coca na questio do modo de produsio, jamais avanca no sentido de democratizar a proptie- dade da empresa, ou sej, jamais se constieui em instrumenco de substituigéo da propriedade privada pela propriedacle social. To davia, 0 1:0 alternativo do diteito do trabalho, mesmo que in: tufdo com o propésito de manutengio da ideologia capitalista, acaba por, pelo menos, demonstrar até onde a ordem juridica burguesa poderd absorver as conquistas elevadas & categoria de ci (p. 19-20 ~ itélicas no original). de, mesmo passadas as escaramugas iniciais provocadas pelo surgimento df Perspectiva Critica hd mais de trinta anos. Uma evidéncia disso é o fato dl que, recentemente, numa das provas de conhecimento para carreiras 27. No nesniod Como se vé, 0 autor esti consciente de que nao é através da legislagzo Cisse £0 whe v avout UIs oe Moai SAL ARLAT illiista que se conseguiré a Teka exara an cent, rata pen ai mexaos conn cara um dig cps eli? yg em um utr ro muta dianie (AZURE, sl De substitwigo da propriedade privada pela pro- ilade social”, mas, ainda assim, recomenda o seu de engajamenco na luta pela libertagio do proletariado, esses | prfisionasdevem fartlo no sentido de, mesmo dentro das instituig6es das classes dominantes, pressionarem esta ordem \. juridica que expressa a dominagio. Pressionar com novas inter- __. pretagSes, criando as alternativas de um mesmo ditcito legislado gerando jurisprudéncia c outros instrumentos normativos que tenham como objetivo uma verdadcira justica social (p. 20 ~ \jeilicos no original). © que esté dito acima constinui a perspectiva mais clissica do Uso Alter- nativo do Direito, As referéncias a ele, entretanto, séo apenas alusivas. A tinica indicacso bibliografica dessa filiagao aparece, de forma indircta, pela referén- cia a um trabalho de Roberto Lyra Filho (principal teérico da Nova Escola “Juridica Brasileira), Direito do Trabalho e Direito do Capital, de 1982, no qual esse autor faz referencia explicita & corrente aleernativista italiana liderada por Pietro Barcellona, nos seguintes termos: [Na hipocrisia de fazer 0 contritio do que dizem (i. é dizer que vio realizar a Justiga, nas normas, enquanto resguardam seus pri- vilégios), os dominadores se contradizem, cleixam “buracos” nas suas leis, costumes ¢ doutrina, por onde os mais habeis juristas de vanguarda podem enfiar a alavanca do progresso. A isto ch: rmariam Barcellona ¢ seu grupo de “uso alternativo do Direit (LYRA FILHO, 1982b, p. 40). Apeser dessa filiagao, Paulon deu & sua perspectiva uma designaséo pro- pria: direito aleernativo, ainda que pensando em cermos de um uso alternativo do Direito. E haveria alguma diferenca? Sim, na medida em que a expressio escolhida por Paulon, pelo menos se atentarmos para o sentido literal da pala } Direito -, mas, para ‘usar uma expressfo consagrada no titulo de uma pres “igiosa revista do Instituto Latino-americano de Servigos Legais Alternativo’ (lisa) da Colombia, a “otro derecho” ~ ou seja, a um direito altemativo 20 e tatal! Essa é a perspectiva que, anos depois, vai ser adotada por Jesits Anconid Mufoz Gémez num texto publicado logo no primeiro ntimero da revista Ml | coro Derecho, no qual 0 autor tece algumas considderagdes a respeito do movi | mento de origem italiana e sobre a impropriedade que cle considera exist et sua aplicagio no contexto da realidade latino-americana. Vamos por partesy © uso alternativo do Direito surgi entre fins clos anos de 1960 e ink anos de 1970 na Lutlia, atmyds slo. movimento Magistracuira Demo 3p int sorente extrilaavarn: ‘yra, remeteria ndo 20 direito estatal ~ e € disso que trata 0 uso alternativo dl Constituicdo italiana que, proclamada em 1948, ao fim da Segunda Guerra Mundial, num contexto politico marcado pela forte presenga do movimento proletétio, reconstitufdo apds a queda do fascismo (BERGALLI, 1992, p. 25), abrigava preocupagses socials bastante préximas de um programa socia- lista, Mufioz Gémez (1988, p. 49) lembra essa circunstincia, transevevendo 0 artigo 3° da referida Constituigéo, que diz: 1 misséo da Republica remover os obsticulas de ordem econd- ‘mica e social que, limitando de fito a liberdade ea igualdad e soci a igualdade dos cidadaos, impedem o pleno desenvolvimento da pessoa humana ea efetiva participacao de todos os trabalhadores na organizacio politica, econdmica e social do pai A partir dat, tratava-se de estabelecer uma nova direcio na interpretacio da le, fazendo com o que a legislagso ordindtia, eradicionalmente presa aos cinones liberais da codificacio civilista tipica do século XIX, fosse doravante aplicada & luz dos novos principias sociais consagrados na Constituigio de 1948, levando o Direito, alternativamente, a operar em beneficio dos setores sociais mais necessitados. Ora, para Mufioz Gémez, esse uso alternativo do Diteito néo seria possfvel na Colémbia, pois, segundo ele, escrevendo em. 1988 a propésito do seu pais, “no temos uma norma como o artigo 3° da Constituigio italiana, que permita ao jurista uma pritica judicial alcernativa” (p. 54). E, adiante, generalizando um tanto apressadamente, dizia: Na América Latina, nos iltimos anos surgiu uma coneepsio di- ferente da curopeia do uso alternative do direito, Cremos que a versio que comeca a desenvolver-se na América Latina esta mais sobre a base de um Dircito alternativo do que de um uso | aleernatvo do Dircto, Ademats seria convenient dar-lbe ea de- | nominagdo — direito alternative — paca distingui-la da europeia ') (p.58~indlicos meus), Favaitasiscagla O ponto de diferenga fundamental, anunciado pela propria expressio, Tin o faco de que, para usar os préprios termos do auror, ) As duas correntes parzem de priticas diferentes: uma, da préica 11 judicial, ea outra das lutas da comunidade por seus diceitos [J+ concep gi do ju latino-americana néo se pensa na reivindicagéo J, mas ‘a quem se vé como um personagem distante jne comunidade, Pretende-se que seja a comunidade mest tuuitiog diretos do Direito, que adotem mi Constituem objetivos fundamentais da Republica Federativa do Brasi 1—Construir uma sociedade livre, justa e solid Resumindo: no caso do uso alternativo do Direito, de procedéncia euro- peia, o diteito de que se fala ¢ 0 direito estatal, enquanto que no caso do Di- reito Alternativo, surgido na América Latina, tratar-se-ia de um direito novo : fs ny ; bd gestado pelas proprias comunidades cujos interesses nao seriam acobertados Ll cismpse eee pelo sistema juridico. Como se vé, € 0 Pluralismo Juridico de Boayentura Me eee aia Santos. Entretanto, como vimos, quando a designagio aparece pela primeira ver no Brasil, no trabalho de Carlos Artur Paulon, os seus destinatdrios seriam “advogados, juiizes ¢ demais trabalhadores em Direito”, conclamados a criar uma “jurisprudéncia e outros instrumentos normativos que tenham como objetivo uma verdadeira justica social”. Ou seja: algo mais préximo da cor- EReRetEI; - th rente europeia de que da corrente latino-americana. Por isso aludi a algumas “Jutoea osleesat Sana Fee titulo provocador: | confusdes conceituais envolvendo o uso das duas expressées entre nés. iigareeeseeiaearin apREC sansa shee - ec Sep ne O livro de Paulon ¢ de 1984 e 0 artigo de Murioz Gémer, de 1988. No Escola da Magistratura por Carvalho, Paseo aici He DCA xyano seguinte, em 1989, 0 juiz brasileiro Amilton Bueno de Carvalho”, do Se Estado do Rio Grande do Sul, comega um curso na Escola da Magistracura gerando grandes discuss6es e fortes acusagées por parte dos juzes mais tradi- do seu estado com o nome, justamente, de Direito Alternativo, inspirado, cionais, Foi na sequéncia desse “tiroteio” que o grupo de juizes alternativistas, segundo se record”, pelo citulo do livro de Carlos Artur Paulon. Mas é de juntamente com Edmundo Lima de Arruda Junior, professor na Universidade se imaginar que 0 seu curso, até pelo ato de ser dado numa escola da magis- dle Santa Caaritia, resolveu, “numa espécie de resposta” (ANDRADE: 1998, tracura, dirigido a jufzes, fosse, mais proptiamente falando, de uso alternativo p. 20), organizar o I Encontro Internacional de Direito Alternative para 0 do Direito. E isso era possivel porque, diferentemente do que disse 0 autor ano seguinte. O resultado, em termos de repercussao e participagio, foi muito colombiano a respeito da impropriedade de tal designacao no seu pais, a si além do esperado®, ¢ o movimento tornou-se conhecido em todo 0 Brasil —e tuagio do ordenamento juridico brasileiro em 1989 apresentava ~ ¢ apresent Meso além-fronteiras —, passando, dai em diante, a tornar-se praticamente © ainda — uma situagéo mais préxima daquela do ordenamento italiano dos an jnonimo de toda a Perspectiva Critica que Ihe antecedeu, Com o pasar do de 1970 do que da situagio colombiana tal qual referida por Muftoz Gomer; Himpo, o “inicio euférico” do movimento teria perdido velocidade, com o que na medida em que a Constituicao brasileira de 1988 — promulgada, portanto, Hltamos ao nosso ponto de partida. uum pouco antes do curso de Carvalho ~, entre outros dispositivos igualment Retomando o balango de Lédio Rosa de Andrade, ele 0 conclui anun- progressistas, estabelecia Logo no seu artigo 3° o seguinte principi iundo que o Direito Alternativo estaria diante de duas perspectivas: ou se uy como uma cortente critica do Direito, “consolidando uma pres juri= alternativa ¢ 0 inicio de uma nova teoria do Direito”, ou fracassar ¢ ficar histdria como uma moda, uma revolta momentinea que veio ¢ passou” Mas, apropriadamente aplicada ou nio, a designasao escolhida pelo jutz Amilton Bueno de Carvalho foi a que ficou. E a sua popularizacio no Brasil se dew a partir de um episdcio midistico envolvendo-o grupo de jutzes alternati vistas por ele liderado. Em 25 de outubro dé 1990, o Jornal da Tarde, de Sao ama 29. Um nome que visi ase tomar, o ado de Edmundo Lima de Arruda Junior profesor da Uni Sida de Santa Catarina, a principal seferéncia do movimento no Bes posig6es extremas: a gléria de um lado, a efe- 30 Informa dada em cowespondnch diigida ao aur dss vo, em resposta «uma cons ‘dace de outro. Fretite &s duuas, proponho a velha cautela popular: ‘nem respeto cla ergem do tro 31. Mein bem anes dso, also ordenamento jarico ail inka consgendo na val igslagio ondindtia prineipios doraclos dese mesino tor "octal, im 19425 py ex fo editada & Touran a Cigo Ci oa o Jl juleaonden ao ina Lédio Rosa, nem me parece que o Direito Alternativo tenha produzido uma obra capaz de algé-lo & posi¢ao de uma nova teoria do fenémeno juridico, nem que o low profile atual signifique algo mais do que o simples refluxo de uma marca. O refluxo ocorreu, mas, a meu ver, sem maiores prejuizos para ‘© que realmente importa: 0 contetido. Quero com isso dizer que o Direito Alternativo, mais do que um movimento dotado de caracteristicas proprias € | conceitos precisos, foi, antes, uma bem-sucedida designagao que a partir de | determinado momento passou a exprimir as mais variadas correntes criticas | do Direito no Brasil. Foi, aliés, por causa da existéncia de varias tendéncias abrigadas sob a mesma designacio que Amilton Bueno de Carvalho sugeriu a adogio de uma tipologia que esclarecesse e, a0 mesmo tempo, abrangesse todas as verten- tes do que ele passou a chamar de “Direito Alternativo Jato sensu”, que seria Alternativo, ou, mesmo sem a visibilidade ruidosa dos anos de 1990, perdo | neceriam ainda hoje correntes de pensamento irtigando a perspectiva critidty | no Brasil? Inclino-me em favor dessa hipétese. Chegados & segunda década ) do século XXI, parece ter pasado o tempo das escaramugas iniciais, época em || que um presidente do Instituro Brasileiro de Direito Constitucional referia-se pela imprensa aos jufzes que iniciaram 0 movimento do Direito Alternativo como uma “magistratura rebelde”, opinando que ela devia “ser processada” (apud JUNQUEIRA, 2001, p. 27, nota 26). Essa menor visibilidade mididtica parece correr paralelamente a uma me~ nos ruidosa ~ mas talvez no menos frutifera — assimilagio de um pensamento critico nos espacos institucionais das faculdades de Direito. A presenga de uma disciplina naturalmente “critica” como a Sociologia Juridica nos cursos juridi- cos, por exemplo, no seria um fator operando nesse sentido? FE importante uma espécie de género abrigando as seguintes espécies: a) “Uso Alternativo realgar que, fruto ou continuagio da efervescéncia critica que perturbou a de Direito” que, como vimos, seria uma “atuagio dentro do sistema posit modorra das nossas escolas de Direito entre finais dos anos de 1970 ¢ meados vado”, mediante uma reinterpretagio dos seus dispositivos; b) “Positividade dlos anos de 1990, vislumbram-se hoje em dia, no Brasil, virias iniciativas de , que seria a “efetiva concretizacio [de] conquistas democréticas alunos, professores operadores juridicos no sentido de “abrir” o direito para foram erigidas & condicéo de lei”, mas que muitas yezes permanecem as diferentes e conflitantes realidades do mundo, O préprio sistema juridico sem aplicacéo; ¢, finalmente, ¢) 0 “Direito Alternativo em sentido estrito”, brasileiro tem reconhecido ¢ integrado, a0 menos em nivel normativo, vitios este, sim, um fendmeno de “pluralismo juridico”, porque configurador de ‘tos humanos inspiradores de lutas indivi ‘um “outro direito” (CARVALHO, 1997). Nesse caso, estamos falando de um rol de direitos sociais e econdmicos inscritos na Constituigao Cidada de 1988 diteito nao oriundo do Estado, mas criado pelos grupos sociais desfavorecidos impulsiona a positividade combativa de que falava Amileon Bueno. a partir dos seus interesses e necessidades. O “direito de Pasdrgada’ seria um, Quem se dispuser a procurar, tomaré conhecimento de varias iniciativas bom exemplo disso. © “direito & moradia” que emerge das ocupagées dos movimentos dos “sem-terra” e dos “sem-teto”, também. O que os distingue um uso altetnativo do Direito é o fato de eles se desenrolarem seja no ambit interno a uma comunidade e na indiferenga do direio estatal, como no caso Jebrar os vinte anos do Direito Alternativo. O projeto de ensino a distancia de Pasérgada, seja infringindo disposigécs dese mesmo dizeito, como no caso ‘ito Achado na Rua, criado na UnB em 1987 por José Geraldo de Sousa das ocupagées contra legem, em que ha uma infragdo aos dispositivos ordi (depois do desparecimento de Roberto Lyra Filho em 1986, em cuja obra ris que regem o direito de propriedade vigente. ojeto se inspira), persiste ¢ continua sendo ministrado Brasil afora ¢ mes- Mas, no final das contas, 0 Diteito Alternativo stricto sensu termina senda além-fronicitas, pois recentemente o curso passou a ser disponibilizado um fendmeno residual que ndo exaure todas as vertentes da Perspectiva Cri Ihém em lingua espanhola, ditigido ao piblico latino-americano. Todas cado Direito no Brasil, entre clas 0 uso alternativo do Direito ¢ a positividadl icilmente acessiveis via internet ~ como praticamente _-+ combativay para retomar os cermos de Amikon, mas também outros mov fo mundo hoje em dia, No espago interndutico (onde talver esteja se mentos que Ihe antecederam como a Nova escola juridiea brasilein, de ido tira forma Inéelita de polis), quem for ao Google” e digiear “di- tanta noticia, E encontraré também novidades. No ambito das faculdades, por exemplo, deve-se mencionar 0 movimento conhecido como Ajup™ — As- sessoria Juridica Universitéria Popular. Reunindo ideias politicas do italiano Antonio Gramsci e pedagégicas do brasileiro Paulo Freire, ¢ adotando expli- citamente a “teoria dialética do Direito de Roberto Lyra Filho” (FURMANN, 2003, p. ix), os estudantes péem em pritica o que seria uma das atividades primordiais da universidade, a extense, mas adotando principios inovadores em relacio 4 velha atividade de “assisténcia judicidria”, rejeitada em favor de uma nova postura: a assessoria juridica: ‘Apesar da palavra “Assessoria’, em sentido comum, ser quase sinénima da palavra “Assisténcia’, foi ela escolhida para simboli- zar uma metodologia inovadora de extensio. A escolha busca ex- primir um significado politico contririo as propostas de indole “assistencialista". A postura politica da Assessoria, por surgir no espago discursive dos movimentos populares, é uma postura de contestacio ¢ nao de caridade. Busca a Assessoria desconstruir 0 modelo assistencialista, contestar a socicdade da exploragio do trabalho ¢ rechagat a Assisténcia come solugio de problemas so- iais (p. 63). dedicada A prestacao de servigos juridicos ao povo trabalhador ¢ pobre do Brasil, aberta a parcerias com Defensorias Piblicas, associag6es e movimentos de defesa dos direitos humanos, entre ‘outros coletivos com fins semelhantes aos seus, dotados de uma indignagio érica que acredita num outro mundo possivel Dir-se-ia, pensando na geragio que vin emergir a “perspectiva critica do diteito” ha mais de trinta anos (a minha getagéo), que “ndo hd nada de novo sob 801”, como gemia 0 autor do Felesiastes. Mas talvez haja, Como destaquei na Introdugao, sé 0 faro de a linguagem do direito ter vindo intrometer-se na nossa gramitica social, onde as regéncias scmpre foram outras (0 privilégio, 0 favor, as vantagens por baixo do pano, a brutalidade escancarada etc.), jd € em si mesmo uma noticia alvissareira. A *mobilizacio do espaco judicial por diversas modalidades de movimentos sociais e ONGs, envolvendo a formalizacao juridica de causas politicas e sociais (ENGELMANN, p. 357) 6, no minimo, uma novidade. Uma questio que resta a set respondida é Em que medida ter accesso ao judicidrio significa ter acesso 2 justiga?®® As duas coisas nfo so idénticas. O Judicittio € uma instituicao, a Justiga é um valor. E, como lembrei na Introdugao, nas sociedades em que vivemos, qualifica- E novas siglas tém vindo se agregar a0 movimento. E 0 caso dos SAJUs clas por Boaventura Santos como de “homogeneidade precéria” — porque sto (Servigos de Assessoria Juridica Universitaria), que s40 os “modelos institu- afinal sociedades capicalistas onde as desigualdades sociais s4o, pot definigio, cionais” da Ajup. Em 1997, é criada a Rede Nacional de Assessoria Juridica cle regea ~ seria ingénuo, além de insensato, esperar ou exigir que 0 Judicidrio Universitiria (Renaju), que pretende “divulgar ¢ expandir esta proposta ino- fenha por missdo climind-las. Institucionalmente falando, o Judicidtio existe, vadora através do movimento estudantil de Direito, em especial através de in. primeiro lugar, para aplicar o Direito vigente, Nesse caso, cle é um ins. encontros universitérios” (p. 71-74). Ao deixar as faculdades, alguns desses trumento de administragao dos conflitos que essas d “ajupianos”, agora bacharéis, vao integrar uma nova sigla, a Renap (Rede Na- cional de Advogadas e Advogados Populares), dedicada assessoria juridica € raldades produzem, Mas, como também vimos, 0 Direito nao é um objeto univoco. Dentro do mesmo ordenamento coexistem, por exemplo, o prineipio da propriedade linguagem de DaMatta), aparecem novas figuras que, nos iltimos anos, em giram das sombras a que tadicionalmente estavam relegadas, como é 0 ca Intersticios que as perspectivas “pluralistas”, “alternativas”, “insurgentes” ilo Dircito inyestem, Na medida em que 0 Direito consagra néo a uni- 33, Curomniene Ap de 1980, no Rio de Jno ~ de que trate pigs aris, Aié onl este forma rt Jv bem-nforsnado), nto Ink rbago de cohiouidleentue na cist oun exe a coin ses fa a (proptietarios e invasores), 0 Poder Executive estadual, Sua intervengiio foi variada: ora desapropriando iméveis em litigio, ora intermediando acordos, ora exercendo pressio sobre os julgadores no sentido de adiar uma deciséo até que uma solugao politica fosse encontrada, Em apenas um caso 0 diteito de propriedade consagrado no Direito Civil foi aplicado segundo o principio 1 dura lev, sed lex. Foi numa acao de reintegragio de posse ¢ 0 juiz que a julgou ny deixou por menos: “Nao cabe & Justica resolver probleminhas [sic] sociais, ‘mas garantir 0 primado da Lei (p. 93). Aparentemente no lado oposto do espectro, outro juiz, as voltas com um caso envolvendo antigos moradores de um terreno de marinha ¢ a Companhia de Habitagto Popular (Cohab) do Estado de Pernambuco, que queria desalojé-los para edificar um empreendi- mento imobilidrio no local, foi taxativo: “Eu s6 vou julgar © caso quando eles resolverem entre si” (p. 90). a mais crucial: 0 direito A moradia versus o direito de propriedade. Proponho sairmos das discuss6es doutrinérias e retomarmos uma pesquisa do inicio dos anos de 1980 onde esse assunto foi discutido numa perspectiva empirica, | Trata-se do trabalho dé Joaquim Falco, Justipa Social e Justiga Legal (1984), ja mencionado, que se tornou uma referéncia obrigatéria sobre o tema na cratura juridico-sociolégica brasileira, Pelo titulo do trabalho ji se percebe que a primeira das duas justicas, a Social, corresponde ao primeiro dos dois direitos, 0 de monidia; € que a se- gunda, a Justiga Legal, ao segundo, o de propriedade. Passo a palavra ao autor: “aqui descrevemos ¢ analisamos conflitos de propriedade numa sociedade do terceiro mundo, o Brasil. Estes conflicos foram provocados por invasdes co letivas de tertenos urbanos nao ocupados, por populagbes politica, social © ‘economicamente marginalizadas” (FALCAO, 1984, p, 82 — itdlicos meus). ‘Uma nota curiosa: percebe-se, lendo 0 trecho transcrito, que cle, como todo ¢ qualquer texto, carrega as marcas do seu tempo. © Brasil é referido como fa- zendo parte do “terceiro mundo”; hoje, ele seria caractetizado como um “pais cemergente”. Eos conifitos sao qualificados de “invas6es”; hoje, muito pro- vavelmente, receberiam © qualificativo de “ocupacées”. O material empitico » da pesquisa é constituido por “nove casos de invasto de propriedade urbana por populagées de média c baixa renda, ocorridos na regio metropolitana do Recife entre 1963 ¢ 1980” (p. 85). Num deles, como se vé, 0 caso remonta a0 ano de 1963, razao pela qual resolvi deixé-lo de fora, preferindo trabalhar ‘com eventos ocorridos na época da realizacio da pesquisa: final dos anos de 1970 ¢ inicio dos anos de 1980, quando o regime militar comegava a se desagregat e iniciava-se a fase de redemocratizacio, Nesse contexto, 0 podet ‘A pesquisa de Falcio apresenta resultados que, a uma primeira leitura, levariam & visio de um Judiciério brasileiro (no caso, pernambucano), con- vertido ao que depois veio a ser o Direito Alternativo. Afinal, 0 “equaciona- mento” dos conflitos que o autor examina foi obtido mediante uma combina- io de “normas e valores do direito estatal oficial normas e valores outros”, Quais? Eis a resposta: “uma concep¢io de direito em geral, ¢ do dircito de propricdadc (...] em particular, distinta da que se estruturow no direito estatal dominante” (p. 82). Essa outra concep¢io do direito de propriedade ‘sugere que o dircito social & moradia é uma limitagio ao direito de usar, gozar € \lispor” (utendi, fiuendi et abudenti, como ditia 0 vetusto Direito Romano) ila propriedade de acordo com 0 Cédigo Civil (p. 96). Mas uma leitura mais ta dos dados da pesquisa pode igualmente sugerir que as coisas nao séo jem assim. Em primeito lugar, em apenas um dos casos que chegaram 20 aquele que se concluiu pela expulsio dos invasores, houve uma secisio passada em julgado: a expulsio dos invasores. Nao é fora de propésito hamar a atengio para o faro de que se tratava de uma propriedade particular. bs dlemais, © conflito, a época da pesquisa, achava-se “insticucionalizado” 110 do Judicitio (p. 93). Ou seja: nao se sabe se houve um happy end, ow Pode nfo ter havido. Mas, como quer que seja, os casos em que 0 con- se encontrava “institucionalizado” (i é, os casos que & época da pesquisa tinham chegado a uma solugio final decidida pelo Judicidrio), envol- iN), pratieamence todos cles, algum agente piblico como o “proprietirio” politico estava mais senstvel & “questio social”. Ficamos assim com oito casos. / — Seguindo explicitamente a perspectiva do Pluralismo Juridico de Boaven: ' ara Santos%, Joaquim Falcéo examina como encaminhamento destes con itos, mesmo cinco deles tendo chegado ao Poder Judicidrio, se deu, em su grande maiotia, ao arrepio das disposigdes do Cédigo de Processo C iciais que foram intentadas pelos proprietirios dos i ages ju 36, Lembro que fol por volt desta époct que o trabalho do soeélogo portoguts volte o Dire igo ent ns Joaquin sto nth profesor Univerdade evocado na Unidade I), é mais ficil ao poder publico adorar “valores outros” \ no que diz respeito ao dircito de propriedade, a principal pedra de toque da sociedade capitalisca, como nos lembra o paradigma marxista, Uma hipotese subsididria que dai poderfamos extrair é a de que, no caso de iméveis priva~ / dos, a tendéncia dominante seria a da reintegragdo de posse pura, simples & |. expedial~ 0 govern lavando as maos com oargumento, ratasvezesouvido, \ de que “decisto judiciéria ndo se discute: cumpre-se”. Como quer que scja, cis af uma questéo em aberto ~ que o aluno de Sociologia Juridica interessado na pesquisa empftica pode usar para transformar em hipéteses de trabalho e, tendo disposicao para tanto, investigar. Para coneluit. A perspectiva critica se tomnow, pelas discuss6es que levan- tou e pela inco 10 de muitas de suas preocupagées & prética de varios operadores juridicos, um dos movimentos responsiveis pela renovacio que se vem operando na nossa cultura juridica, inclusive (hipstese a ser enunciada com cautela) no Poder Judiciério, tradicionalmente preso a um dogmatismo, abstrato c indiferente ao que pode advir de suas decisdes. Isso, num pafs como, © 0 Brasil, chega a ser revoluciondrio. Nao se trata, evidentemente, de uma_ revolugio no sentido marxista do termo. ‘Trata-se, antes, de uma revolugéo liberal no sentido americano do tetmo — isto é de esquerda, mas light. Afinal, “0 postulado de que o Judiciétio tem de levar em conta as consequéncias so iais da aplicagio do Diteito € beabi da chamada Sociological Jurisprudence, de-matriz americana. Seu principal tedrico, Roscoe Pound, foi juiz. da Cort Suprema dos Estados Unidos, e é um autor que, entre nds, talvez merega s ‘conhecido ~ e lido. SEGUNDA —— PARTE

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