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A tragédia de ser e nao ser contempordneo PAULO PREIRE A priitica pedagdgica boje é muito mais treino do que formagao. No treino vocé tem 0 exercicio de certas respostas enquanto que na formagao vocé tem a busca da compreensdo critica do ‘por que", do “para que”, do “que” das coisas. ” “ Aa fui com duas antropologas brasileiras ao nticleo da selva para conviver uma semana com um grupo de indios. Dois dias de- ois que estavamos ld houve uma noite de ensino da hist6ria em que 0 indios, mais ou menos oito e meia da noite, ficaram no terreiro, bailando ¢ cantando em circulo, com os filhos atris. Fles estavam contando a hist6ria até onde a meméria registrava, c isso ¢ a caracte- ‘istica fundamental de uma cultura oral. Fui me dleitar mais ou menos Meia noite, num quanto que ficava em frente a esse sitio onde eles bailavam ¢ cantavam. As quatro € meia da manha despeneei e percebi apenas a voz de um indio cantando. Entreabni a janela e ld estava um deles, bem mais vetho do que os outros, com dois meninos atrés dele repetindo a mesma coisa. No dia seguinte, perguntei o que era aquilo e porque s6 aquele Unha ficado. Simplesmente porque, do ponto de vista da compreen- sdo cultural desse grupo, aquele estava numa idade em que ndo se espera que demore muito ¢ nada mais wrigico para ele do que morrer sem ter dado as ligdes necessirias da historia de seu grupo. [sso é pico de uma cultura oral em que se ensina a cultura de duas formas Uma é fazendo diretamente. Aprende-se fazendo, vendo, mas apren- E ume lembro de uma noite. Eu estava recém chegado do exilio e 91 4 | INSTITUTO PAULO FREIRE Rua Cerro Corf, 550 2.° andar cj. 22 Tel: (11) 3021-5536 Fax: (11) 3021-5589 0561-100 - Sdo Paulo - SP - Brasil E-mail: ipf@paulotreire.org O Encontro de-se também através do canto que é uma expresséo de cultura,que se transmite, que se perpetua, através da propria cultura, Mas no momento em que nos foi possivel nao s6 perceber que Podiamos nos ¢ educar, ¢ ainda, que éamos capazes, de saber que nao sabemos, a pritica educativa, indiscutivelmente, virou também luma pritica gnosiologica. Nao é possivel uma situagio educativa em que nao haja conhecimento a ser ensinado e a ser produzido. Toda ratica educativa, inclusive a informal, conta com a presenga do pro- cesso de ensinar ¢ aprender, que sio momentos de um processo mai- or, que é conhecer. Por isso mesmo no ha educacdo sem contetidos. Nao ba como pensar em Itnguagem ‘sem pensar em {deologia. a Durante algum tempo no Brasil disseram que eu defendia uma Pritica sem contetdo. Pensando como eu penso ndo da para fazer uma afirmagio como essa porque no existe e nunca houve uma Pritica educativa que nao tivesse no miolo dela mesma, que nio ti- Yesse um conteado ou um objeto cognoscivel a ciéncia. Na verdade, ha um grande problema, de natureza politica: quem escolhie os conteddos da pritica educativa? Qual o papel do educan. do, das familias ¢ da comunidade no processo de escolha e selegio dos contetidos? Ou seja, esses contetidos tém relagdo com uma cera dimensio universal ¢ estario em fungio de cenas necessidades que precisam ser nacionalmente conhecidas, mas tem que haver uma grande diversidade cultural nos contetidos. Quando eu comecei o trabalho de alfabetizagio de adultos, que para mim era uma educagio geral do adulto, cu fazia criticas as carilhas. Estudei todas que pude na época. Nao s6 as brasileiras, mas as esirangei. fas também. Numa cidade, numa regiéo como a do nordeste, nos anos 50, 60, quem podia comprar uva para o fitho que estava gripadinho, com febre, era 0 professor universiticia, assim mesmo podia comprar st 200) gramas de uva. Era o que o meu salirio dava para comprar na Gpocs, Numa regido onde nao se conhecia praticamente uva, se dizia: Eva viu a va. Nao tinha sentido nenhum para 0 adulto que estava comegando a aprender a ler ser movido por frases ¢ palavras que nao tinham quase ‘nada que ver com a problematica da sua cultura. No artério de escolha das palavras o autor da carulha, ou autora, estava pensando apenas na questio da introdugio de ceno tipo de silabas. O processso ema pura- ‘mente mecinico e isso nio funciona Os contetidos programéticos deviam ter uma relagdo direta com as experiéncias culturais dos grupos. Tomemos a escola primana, Um 92 3 | INSTITUTO PAULO FREIRE Rua Cerro Cord, 550 2° andar ¢j. 22 Tel: (11) 3021-5536 Fax: (11) 3021-5589 5061-100 - Sdo Paulo - SP - Brasil E-mail ipf@paulofreire.org [+ | Instigar, Provocar. Cansar, dos grandes descasos é exatamente o conhecimento com que os me- ninos chegam a ela. A escola decreta que nio ha conhecimento ne- nhum fora dela, ¢ 0 problema 6 que hd, Primeiramente se recusa a considerar toda uma série de conhecimentos com que as criancas chegam @ sala de aula, Em segundo lugar, nao respeita certas mane! fs culturais dos meninos ¢ de suas familias. Entio, a escola é uma estranheza na comunidade onde cla pousa Quando fui Secretirio de Educagao de Sao Paulo, duramente, pore disse cue enquranio Fosse secret arede escolar no senticlo de reconvencer as protes res jd convencidas, ¢ lular par convencer as ainda niio convencidos de que o problema da linguagem é um problema idealogico, Nav ha como pensar em linguagem sem pensar em ideologia, e portanto, n: €possivel tratar 9 prolslema da alfabetizagio, sem le ‘s80 0 conte da classe social © problema da linguagem & que a sintaxe, que € exatamente 0 Que joga com a questo da estrutura do pensamento, ndo € a mesma nas diferentes classes sociais, Se estabelece como cena, obviamente, a sintaxe da classe dominante, ¢ determina-se, no mundo cientifico, que a linguagem popular nao tem gramatica. Isso nao é verdade. Nao Podfamos esperar que gramiticos ideologicamente burgueses desco- brissem a gramética da classe popular. £ muito mais Facil dizer “ndo ha gramdtica”. Mas ha, Ha muita razio de ser para que 0 povo brasileiro diga “o povo s4o", porque assim também falam os de lingua inglesa, A concordancia de “people” em inglés & “are” e nao “Is”. Mas hid tanta razio, tanto cd como Id, ¢ ha também uma razao na linguagem do Padrio erudito de dizer que 0 povo & No entanto, pritase de que aquilo ¢ comuptela - que quer dizer comupgio ¢ detenoraga linguagem - quando, na verdade, mio & Eu falei que lutaria para que as professoras deixassem de pir en lapis vermelho riscos nos trabalhinhos dos meninos. Quando eles comeram a escrever, obviamente, que eles expressam sua sintaxe e ‘do a sintaxe da professora, sua semantica e no a semantica da pro- fessora, sua onografia e nao a ontografia da professora. E a professora Pée um traco, dois, irés vermelhos ¢ di trés a0 menino. Da um ¢ meio! Nao sei como & que pode arranjar meio ponto! Em primeiro lugar ha o desrespeito A cultura da erianga, que & a sua propria linguagem. Quando a professora derrota, esmaga, pulve- Hiaa a sintaxe do menino, mal pode imaginar, que cla esti, obstaculizando a possibilidade que esse aluno vai ter de aprender o chamado pacrio culto e até de gostar de escrever. Como é que ele vai Poder amanha ler ou escrever se ele & rechacado na sua primeira fui criticado 3 93 INSTITUTO PAULO FREIRE Rua Cerro Cord, 550 2.° andar cj. 22 Tels (11) 3021-5536 Fax: (11) 3021-5589 05061-100 - Sio Paulo - SP - Brasil E-mail: ipf@paulotreire.org © Encontro experiéncia de dizer qualquer coisa no papel? E o pior € que o meni- no chega em casa e ouve o pai e a mae dizendo “a gente cheguemos” © vizinho dele também diz. Todo mundo do seu mundo diz: "a gente cheguemos", ¢ na escola a professora risca escreve por cima “a gente chegou” ou *nés chegamos" Ha quinhentos anos que as classes populares levam porretada Porque “a gente cheguemos" nao presta. 1s50 € um desrespetto total € absoluto 8 identidade cultural que a cnanga esti constituindo social. mente na sua experiéncia, No fundo, a gente & a lingua da gente. a gente € 0 que fala, nao s6, mas & também. £ na expresso do mundo ¢ criticado, retficado e punido porque fala como a gente fala, Nao di para entender isso. E € exatamente essa, uma das razes porque esse escindalo continua no Brasil 2 quantidade de criangas populares que entra na escola priméria nfo tem nada a ver com quantidade de eran. as que termina o ano Se pegamos uma geracio de brasileros e brasileiras que entrou na escola em 1994, e acompanhiamos 0 seu percurso, vamos ver no fim do século a imoralidade, a nio ser que dagui para Id.0 Estado brasileiro tenha um pouco mais de responsabilidade. os homens ¢ as mulheres pablicas lutem de verdade contra isso de modo a mudar ceniralmente a qualidade cla educagao brasileira para que 2s criangas a populares nao sejam expulsas das escolas, fendmeno que os tecnicos o chamam de evasio, quer dizer, como se os meninos brasileiros tives. sem fcito um congresso nacional, para dliscutt a posigto deles dene dda escola ¢ tivessem chegudo a eonclusdo de que eles deviam evadi. se da escola, De jeito nenhum, iso nunca exist, esse congresso nao houve, os meninos ndo se evadem, eles sio expulsos da escola, Nao ha divida nenhuma. £ a mesma coisa do ensino de ingles para os meninos dos guetos negros nos Estados Unidos. O inglés negro ¢ considerado como uma comupeio. Nio se leva em considerario a Jinguagem do negro porque é inferior. £ 0 desrespeito total 3 evitura ow a uma de suas expresses Nada mats pornograftco que trinta e res milboes de brastletros morrendo de fome Obviamente, que a tarefi do prof do ensinar a sintaxe dominante clo pas ensinar a sintaxe dominante, minimizande a sintaxe des minada, outra coisa é, pelo contrino, ensinara sintaxe dominunte 40s meninos populares deixando muito claro que a linguagem popular também @ bonita. OF Progressista nia é x de nunca disse isso, Ma 94 ae INSTITUTO PAULO FREIRE Rua Cerro Cord, $50 2. andar ¢j. 22 Tet: (11) 3021-5536 Fax: (11) 3021-5589 05061-100 ~ Sdo Paulo - SP - Brasil E-mail: ipf@paulofreire.org ) ¢ Ss | Instigar, fovocar, Cansar. Para ensinar 0 padrio chamado culto € preciso, primeito, respei- tar o chamado padrio inculto. E quem é que disse que um € culto eo outro ndo é? Exatamente quem tem poder. No momento em que 0s professores testemunham o seu respei- to pela linguagem da crianga popular, mastram que também cla tem uma boniteza especial, e mostram também que ¢ preciso que cles dominem a sintaxe dominante porque precisam, primeiro, sobreviver melhor. Endo ha divida nenhuma que a sobrevivéncia do menino Popular tem que ver com o dominio da sintaxe dominante. Ele preci- ‘sa aprender 0 padrao chamado dominante. Observo muito a fala dessa classe social que somos nés e como ‘cometem erros formidaveis com relagio a sintaxe da lingua portugue- sa, Mas no cometem ceros erros que aproximariam o professor uni- versitario, por exemplo, do povao. O professor universitirio diz ‘sas como essa, por exemplo: “se fizer-se”, que deveria ser “se se fizer’ Nao @ qualquer professor que diz um disparate desse mas alguns dizem. Mas jamais um professor universitirio diz “poblema” f que ‘poblema” poe a gente muito perto da favela. Mas colocam os prono- ‘mes atonos errados, usam mal a sintaxe do verbo fazer, por exemplo, ‘no sentido de tempo. Tenho ouvido muito ministro dizer “fazem dois anos", endo é “fazem” é “faz”. Nao dominam a sintaxe do verbo “ter’, do verbo “haver’, mas nao diz "poblema” de jeito nenhum porque desde menino quando diz ‘poblema” possiveimente a mie ou 0 pai corrigem: “nao se diz isso filho, isso 6 uma pomografia’, Nada mais pornografico que trinta e trés milhées de brasileiros morrendo de fome. £ uma brutal pomografia. Os chamados nomes feios sio até bonitos, Mas, uma coisa é tentar ensinar 0 padrio cha- mado culto, minimizando 0 padrio chamado inculto e a outra é 0 menino popular brasileiro aprender a sintaxe dominante sobretudo Para poder brigar melhor pelos seus direitos. Minha tese, do ponto de vista do tratamento da linguagem, € de um lado cultural e do Outro necessariamente politico e ideolégico, e nao apenas linguistico, O problema da linguagem, sendo linguistico, é cultural, é ideol6gico. € politico e, pontanto, pedagogico. Se nos pudéssemos viver a experiéncia docente, durante uma década, respeitando pelo menos essa dimensio da cultura que é a forma como eu falo, como eu me expresso, como eu expresso 0 mun- do} se passassemos pelo menos uma década nesse pais respeitando 0s tragos culturais, entre eles 0 da linguagem dos diferentes meninos brasileiros, das diferentes culhuras ¢ expressdes de classe, diminuiria- ‘mos fantasticamente a expulsio das criangas das escolas. Quando me perguntam: Apesar de tudo como é que vocé conti- 95 > INSTITUTO! PAULO. FREE Rua Cerro Cord, 550 2° andar cj. Tel: (11) 3021-5536 Fax: (11) 3021-5, 0561-100 - Sado Paulo - SP - Br E-mail: ipf@paulofreire.org | ZS -¢ Ce | © Encontro ‘nua esperangado? Eu digo: precisamente porque sou gente. Eu acho que quando eu me vejo me pergunto sobre a minha natureza hist6- fica, no posso me entender desesperangado enquanto um ser que busca. O ser que procura é um ser que compara, é um ser que decide, € um ser que opta € portanto é um ser ético. Nao é possivel a existé cia fora disso para mim. Esse processo de conliecer € um proceso social, e nao tem como ser sem ser dialégico. O autoritarismo nega ontologicamente o ser humano © nega politica ¢ ideologicamente a democracia. Na busca do ser mais, a ‘expenéncia democritica positiva enquanto a autoritiria é profun- damente negativa, © autoritarismo, representado na gestio do Esta. do, ou de uma escola, detesta, odeia e nega frontalmente a dialogicidade. O didlogo é invidvel para uma ditadura, porque nao ha ditadura que aguente que um dia o povo todo amanhega dizendo or que? Ha uma busca auriosa, e por isso que eu, por exemplo, me Preocupo tanto com relagio a diferenga que marca a superagao do ‘conhecimento ao nivel do senso comum, sem critério valorativo, para © conhecimento de nivel cientifico, € que no nivel do senso comum a ‘gente tem cuuase a mesma curiosidade, mas uma curiosidade desar- ‘mada, ingénua que nos pde diante de tm saber. & No fundo, a pratica educativa implica em uma assun¢io das Aossas limitagSes culturais, das nossas experiéncias anteriores. £ pre- ciso que 0 educador ou a educadora crie durante sua pritica, certas qualidades ou certas vinudes que fazem parte de uma op¢io demo. critica. Por exemplo, como & que eu posso fazer 0 discurso da demo- cracia tendo a pritica do autoritarismo. Essa inconsisténcia, essa con- tradi¢do entre 0 que digo € © que fago é uma coisa que tem que ser superada. Vocés vejam por exemplo, uma coisa que 0 povo brasileiro co- megou a pdr em tela de juizo & le a distincia entre o discur 30 do candidato ¢ a pritica do cleito. O sujeito, durante 0 process. em que & candidato, faz discursos progressistas, avangados. Quando se elege tem uma pratica reaciondria, Temos que diminuir essa distan- cia também com o professor. Por mais exagero que possa parecer, estamos vivendo um mo- mento na nossa histéria politica em que tudo 0 que a gente possa fazer para testemunhar um certo gosto de liberdade, um certo gosto da necessidade dos limites da autoridade, que ndo significa autontarismo, estaremos dando uma contribuigdo ~ por pequena que posssa parecer ~ fundamental A democracia brasileira. Por exemplo: a educagio que discute 0 problema da tecnologia 96 a INSTITUTO FAULO FREIRE Rua Cerro Cord, 550 2° andar cj, 22 Tet: (11) 3021-5536 Fax: 11) 3021-8549 05061-100 - So Paulo - SP - Brasii E-mail: ipf@paulofreire.ong > EEC ee | Instigar. Provacar, Cansar. € sua imponagao, as experiéncias tecnolégicas, deve set uma educa- S20 absolutamente critica, que estimule a capacidade, a curiosidade de conhecer, centrada em bons anilises do ponto de vista ético. Nao se quer prejudicar a tndiistria nem fazer com o operanio experiéncias de dots anos estudando, e sim mostrar que somos mutto mats do que as respostas tcntcas que dames. As inddstrias, a produgio, precisam, com cena rapidez, formar a mao de obra, capacitagio de natureza técnica, e poderia parecer que estamos, introduzindo um certo elemento de tempo perdido. Se te- ‘mos trés meses para formar e capacitar mao de obra, no podemos utilizar seis meses. Minha intuiga0 nisso € profundamente radical, Sou muito respeitador das coisas que est4o constituindo-nos ¢ Feconstituindo-nos sempre como gente, ¢ em todo lugar eu encontro © discurso neo-liberal. Vivem deitando palavra pelo mundo afora, defendendo que a pés-moderidade com o avanco tecnol6gico, ériou uum elemento que a modemidade jf teve, mas nao com tanta forga quanto a pés-modernidade, A modemidade, por exemplo, para mim, se caracterizou sobre- rs tudo por uma certeza demasiado cena da certeza. Essa foi uma das caracteristicas fundamentais da modernidade que vem com um pen. samento cientifico. © argumento novo da pos-modemnidade € 0 de jf ‘do estar tdo certo da certeza, no como uma postura de afrouxamen- to epistemol6gico, mas como algo que talvez seja, talvez nio seja. Numa compreensio da histria enquanto possibilidade, e nao en- Quanto determinismo, temos diferentes possibilidades de futuro, dife- Fentes possibilidades de amanha e de verdades também. Mas o dis. curso neo-liberal de hoje diz que, com a pos-modemidade, com a tecnologia, com as revolugSes tecnol6gicas que se sucedem, a peda- Bogia criou uma certa necessidade fundamental de que mulheres ¢ homens déem respostas to ripidas quando possiveis as questdes que surgem diante de nds. Concordo também que essa é uma das caracteristicas da pos- modernidade como também concordo com outra coisa terrivel que é, Por exemplo, a situagao do intelectual de terceiro mundo. NOs discu. limos com os nossos colegas europeus ou norte-americanos, por exem- Plo, pos-modernidade e arquitetura, pos-moderidade e pedagogia, POs-modemidade e are, etc., mas 20 mesmo tempo em que discuti- hos. pos-moderidade temos milhdes de brasitiros morendo de fome. £ terrivel, porque a posi¢io nossa do intelectual no Brasil é de o7 a | INSTITUTO PAULO IR Rua Cerro Cord, $50 2.9 ‘ Tel: (11) 3021-5536 Fax: (11) 3021-45, 05061-100 - Sao Paulo - Sp - Bras E-mai iPf@paulotreire,org © Encontro viver essa tragédia de ser a0 mesmo tempo contemporineo v tio longe de ser contemporaneo. Vale registrar que no ha educagao neutra, Uma educago que uma cena linha de compreensio ideol6gica do traballio, na 1920 COM O capital, No G Neutra, Quando 6 capital transiorma a relagio com o trabalho em puramente dominante ¢ lucrativa, nav & Reutr0, ¢ imoral. A posigio ética & aqucla em que o trabalho tem deveres ¢ tem direitos, mas dircitos sobretudo do respeito 4 pessoa do trabalho. Com relagao a inviabilidade da neutralidade da educacdo, é bom lembrar que ndo ha pratica educativa que no esteja influenciada ¢ condicionada, Mas na medida em que eu sou um ser programado Para saber eu reconhego na programagio que cu sou condicionado. Entdo, para mim uma boa pedagogia ¢ exatamente a pedagogia que tomando distancia da possibilidade de condicionamento reconhece essa possibilidade e discute os seus limites e os meios de superi-la, HA uma indiscutivel importincia nestas discussées para quem tabalha com recursos humanos, para quem, nas empresas, participa de uma cemta dimensao fundamental para a vida do pais. £ que esia é uma experiéncia formativa de quadros, de pessoas que ouver, nao engolindo palavras mas inteligindo 0 discurso. + No fundo, essas curiosidades constiuem hoje um certo clima historico-cultural do pais. Ha uma curiosidade no ar, um certo espanto Ro ar, € 0 espanto inclui perguntas especificas no campo da ética, Quase toda a sociedade brasileira acha-se fonemente engajada nas questoes de ordem ética. © que até me assusta, é que dimensdes da vida publica brasileira que estio afetadas nessa questio ética, nao estejam percebendo, esta negagio da sem-vergonhice evidente em grande pane do sociedade brasileira. O que me assusta € que haja ‘gente insistindo em ser sem-vergonha, eee PAULO FREIRE presidente de honra da Fundagto Inaututo Calamar, prémio Unesco de Educacio em 1986 ¢ exsSecretiio Bxadual de Bdueagio de So Paulo 88 INSTITUTO PAULO FREIRE Rua Cerro Cord, $50. 2.° andar cj. 22 Tet: (11) 3021-5536 Fax: (11) 3021-3349 05061-100 - Séo Paulo - SP - Brasil E-mail: ipf@paulofreire.org

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