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Légica Juridica Prefado O propdsiro deste ensaio é limitado. Visa a apresentagio de um qua- dro geral de problemas que legitimam a existéncia da légica juridica como uma teoria formal, A légica juridica como teoria material, ou seja, como metodologia juridica, é familiar a todo jurista. O tratamento cientifico-dogmatico do direito positivo requer técnicas de investigagio adequadas ao direito, Tais técnicas, que todo advogada, jurisconsulto ou magistrado emprega, pertencem metodologia do direito. Todavia, maior rendimento tedrico-cientifico — ¢ pratico-pro- ional — adquire a Merodologia quando repousa nos fundar que a Légica formal oferece. Distante da realidade concreta pelo seu nivel de abstracio, aparentemente inservivel para o manuseig pratico do direito, o dominio dos problemas légicos oferta ao jurista destreza, rigor e clareza no trato do direito em fungio da experiéncia. Ojurista, pre antemente cientista, ou predominantemente, profissional na vida forense, complementando a investigagio especi lizada da dogmética juridica, a que se dedica, com esses dois tipos de investigagao geral — a Légica juridica formal ea Teoria Geral do Direito —, impedem a rotinae a estagnagio dos estudos juridicos. Ao. mesmo fempo, devolvem a provisio de saber geral nfo apenas para o incre- mento da Ciéncia do Direito, mas para o desenvolvimento aperfeigoada do direito positivo. Rois, desde Savigny, sabe se que particularmente a- id ¢ conhecer © direito positivo, seu objeto, ¢, também, ¢sm0, como parte integrante no processo 67 ¢ procura evitar 0 tecnicismo de uma linguagem simbélica, pela lin- guagem cientifica que conduza ao formal. © leitor especializado em um ramo da dogmatica juridica deve sempre confrontar o nivel abstrato em que o ema édesenvolvido com problemas especificos de seu campo de investigagées. Somente por esse caminho se faz o teste das generalizagSes ¢ se percebe a ponte que vincula o abstrato ao concre- to, 08 conceitas & experiéneia, as teorias gerais 4s teorias particulares. Capiz I O Tea pa Légica A légica é um ponto de vista sobre 9 conhecimento, Tomando-se 0 conhecimento da realidade (exterior ou interior) como ponto de par- tida da investigacao, temos que distinguir os seguintes planos: 1 osujeito cognoscente, foco de diversos atos (querer, sentir e pensar); nt) 0 ato mesmo de conhecer, como ocorréncia subjetiva on psiquica; ud 0 dado-de-fato, objeto do conhecimento; 1y) alinguagem, narural ou técnica (cientifica) em quese fixa ese comu- nica o conhecimento ¥) apropasigéo como uma estrutura que declara que o conceito-pre- dicado vale para 0 conceito-sujeito (para dizé-lo simplificada mente). H4 conhecimento na percepcio; mas 0 conhecimen adquire sua plenitude no plano proposicional. Entre simplesmente ver queum livroé verde e forsaular a proposigio “este livro éverde” hi uma distincia considerivel. © fato integro, total do conheci- mento, abrange todos esses planes. Recolhendo o que se oferece na, experiéncia, o conhecimento ¢ um fato complexo, cujos compo- nentes s¢ inter-relacionam intimamente. Muito embora o conhecimento seja fato complexo la- cionado em suas partes constituintes, ¢ possivel isolar este ou aquele componente. 0 isolamento ¢ artificial. Na relacio do homem com o mundo que 0 contorna, conhecer é um comportamento, operative, dirigido contexcualmente. O conhecimento ¢ textual, vinculado a um_ 158 Léotea juniorea plexo de fatores, todos unificados pela intencionalidade da consciéncia: a consciéncia ¢ para o mundo, aberta a ele: transcender, ir além de si mesma é préprio da consciéncia do sujeito cognoscente. Mas posso artificialmente, em comportamento nao-natural, nio-coridiano, desinteressado dos resultados praticos para a minha vida, ou para a vida da coletividade, secionar 0 fato integro: incidir a investigagio sobre o sujeito cognoscente (examinandoas inter-relagdes dos atos de querer, de sentir ¢ de pensar), ou incidir o estudo sobre este ou aquele ato, ou interessar-me pelo dado-de-fato, que esta ali, no mundo exterior, ou aqui, em meu mundo intimo, ou verter-me sobre a linguagem (fazendo psicologia da linguagem, lingjistica geral ou especial, sociologia da linguagem, estética da linguagem etc.), ou, finalmente, converter a proposigao, em si mesma, como proposi¢io (na terminologia classica, juizo, pensamento), em foco de minhas indagagSes. Esse secionamento da proposigio diance de seus fatores panhantes corresponde a um irolamento temdtico. Faz-se tema de conh: cimento s6 0 proposicional de conhecimento, E prescinde-se da ver tente nacural da proposigao para 0 seu correlato objetivo (siruagio objetiva, “state of affairs”). Corta-se o vinculo com. 9 sujeito que a ¢apta ou constrdi; deixa-se de parte a linguagem, que ¢ seu suporte fisico e ponto de encontro dos diversos sujeitos participantes na comu- nidade do discurso. Assim, 0 mesmo dado, o conhecimento, ¢ objeto material que sc diversifica em objetes formais, corespondentes a cada isolamento temético. Esse prescindir de algumas, ou de todas, menos ‘uma, das partes de um todo importa numa operagio — a abstragao, AForma Lécica As wezes, praticamos 0. processo de abstrago sem sairmos de um 96 plano, Assim, tome um livro verde e posso separadamente considerar seu peso, sua forma, sua cor, seu estado de repouso ou de movimento, seu teor térmico, sua dureza ou resisténcia. Em cada um desses cortes abstraros feitos no todo, permanecemos no nivel do objeto fisico: isolames propriedades fisicas que se manifestam juntas. Nao é assim a abstragio em Iégica. A proposi¢io nio est no mesmo sitio ontoldgico das letras, silabas, palavras e oragdes da linguagem. Nem é um tecido fluente na temporalidade da consciéncia, como todo estado psicolégico. 69 Fseatvos Jusloscos # FILGLOF1208, Fol 2 ‘Nem é uma parte do objeto: a proposigio sobre um étomo, uma célula, ‘um campo eletromagnético, nada tem das propriedades dos fatosa que se refere. A abstragio que nos conduz A proposicio, como proposi salta para outro plano: o que podemos denominar ovniverso das fareas iigicas. E, est, un universo, no um cao s de elementos. Muitas relacées so impossiveis (inconsistentes): 0 universe do. Jogos é um sistem, satis fazendo, cle mesmo, as condiges necessérias de t EM QUE ConsIsTEM As Formas Léoicas Aludimos apenas ao caminho para atingir 0 dominio das formas, mas no dissemos de que consistem, Como dum.conseiso fundamental, delimitador de toda uma rea ¢ nio um conceito derivado, colocado dentro dessa rea, defini-lo, em rigor, éimposs{vel. Podemos descrever, aludindo ao modo como se obrém a forma légica. Assim, se em vez de falar “livro verde”, “este livro é verde”, “se todo livro ¢ verde e este objeto é um livro, entio ele é verde", substinuo os termos da significacia. determinada por termos quaisquer, sem | significagao especifica. Se consigo isto, desconsidcro os objetos ¢ propricdades-de-objetos espe- cificas. Nao falarei sobre livro, 0 ser-verde do livro, ou o fato objetivo de que o livro tem a propriedade de ser verde, nem sobre a relacio objetiva (causal ou casual) de que algo dererminado ter uma proprie- dade importa em ter outra propriedade. Nao falarei sobre nada em particular: nem sobre atomos, células, livros, nem sobre propricdades cspecificas desses objetos. Mas falar € r €usar uma linguagem ea linguagem est saturada.d ignificacdes Gentidos, conceitos, idéias) que se di gem aos objeres do mundo. ee INEVITABILIDADE DA LINGUAGEM Nao falar em particular sobre nada do mundo de objetos (objetos ideais ¢ objetos reais, para dividirinos exaustivamente os objetos), nao dizer nada especifico sobre nada, mas tio-somente sobre algo em .geral, sobre 0 objeto-em-geral, importa em usar uma linguagem. Se um sistema de simbolos neuhuma referéncia faz, mesmo sobre a coisa-em-geral, © ser-objeto em geral (qualquer), esse sistema nio é Hinguagem. A logica, climinando as linguagens narurais, os idiomas como formagoes cul- turais varidveis, tem. evaler alinguagem. Agora, a lingnagem esta esta 160 Léotca Joninica apta para apreender as formas Idgicas. Estas esto envoltas pela con- cregao da linguazem natural, pelo comprometimento pragmatico ou ctentifico, de descrever situacées objetivas, 4 no mundo dos fatos, de propricdades ¢ de relagées faticas. ISOLAMENTO TEMATICO DA Forma Lécica Quando estudamos légica, nlio devemos nos embaragar com os exen= ples de proposigées, references a diversas situagdes objetivas do mundo. Podemos tirar proposigées da fisica, da quimica, da biologia, das cién- cias sociais, ou proposicdes da experiéncia cotidiana da existéncia, O_ exemplo tem sido sempre, em. qualquer Iggica,.um ponte de apoio intuitive para salearmos ao formal. Alinhando proposigSes sacadas de diferentes rniversos-de-linguagem, vinculadas a diferentes sniversos- de-objeros (linguagem da macemética, linguagem da fisica, linguagem da biologia ete.), temos de reduzir o virio do revestimento idiomatico, avariedade de.refer$ncias a ebjetos, a uma estructura cujes elementos sejam ta0-s6 entes Iigicas, Assim, a propriedade reside no objeto: logicamente, a propriedade ¢ um predicamento; o objeto est em seu tépico adequado (um nimero natural est4 em conjunto, como elemento seu; uma planta ali est4, fincada telaricamente; jé 0 animal, que ¢ um pequeno cosmos, move-se no espago que para ele ¢ seu contorne ou macrocosmos; os homens, ocupados estio em fazer 0 tecido de interagées que compdem os subsistemas ¢ os sistemas sociais globais). O statue es ontoldgico, o tipo de ser do objeto é diversificado. Para o dngula ligico, o objeto é sujeite de uma predicagio, Entio, em vez de falarmos especificamente sobre “Sdcrates”, “homem mortal”, falamos em termos formalizados: um sujeito qualquer, um predicado qualquer ¢ um conectivo tecendo as relagies entre esses termos formais. © objeto exemplificado, para a Logica, passaa seruma vacidvel-de-objoto; a propriedade concreta deste ou daquele objeto passa a ser uma varidvel-de-predicado. Particulas abstratas tomam o lugar dos conectivos (as conjuncées, as preposigies. c alguns adjetivos que.quantificam 9 nome: que se prefixam). Enrio, em vez de falarmos no fato objetivo de que “Sécrates ¢ mortal”, diremos: “existe um x tal que tem a propriedade f”. Para desconsiderarmos o que resta de linguagem natural neste enunciado, construsmos uma notagao especial e diremos: “Ex f(x)”. Essa estrutura reduzida, libe- 161 esenrros Jeaiaicos e Fauosdetcos, Val 2 radada linguagem natural, do sujeito emirente dela, do estado psico- Iégico atual, e desvinculada do objeto particular (que esté na regiao da ae ea ee : . reer matemitica, ou da fisica, ou da quimica, ou da biologia, ou da ciéncia social), essa estrutura reduzida ¢.a forma légica. A Esrrurura pa Forma Logica Podemos dizer que a estrutura reduzida da forma légica contém sira- Bolos-de-varidweis ¢ simbolos-de-constantes. As constantes légicas sao articulas com fungae operatéria: de quantificar um sujeito, de quan- ‘iavel-de-sujeito com uma tificar um predicado, de relacionar uma varia varlivel-de-predicado (o “€” apofintico da légica classica, dito em linguagem natural, foi substituide por parénseses), ou de conectar enunciados (proposicées). Enquanto as variayeis (de sujeito, de predi- cado, de relacdo, de enunciade) sdo simbolos substituidos por diversos valores de um campo, as constantes tém uma fungao fixa, Sao simbolos funcionais, ao passo que as waridveis sd0 simbolos objetives. “Séerates” & nome de objeto, “mortal” é nome de predicados mas o “€” carece de referéncia objetiva. © “€", como termo formal, é um mere operador. Pouco importa sua significagio merafisica: expressar a esséncia, pres- supor 0 sujeito como substincia. Conrusio DE PLANOS Nao se pode confundir o plano das relagdes légicas com o das relagies objetivas. A relacio entre o antecedente ¢ 0 conseqiignte numa propo- sigio implicacional (hipotética) nfo se confunde com a relacdo factica de causa/efeito, ou meio/fim, O antecedente é mera posigio funcional. de uma proposicZo, relativamente a outra proposigio. Em linguagem classica: “Se QéR, entio SéP”. O ser antecedente da proposigo con- é uma questo sintarica: €a posigdo ou 0 tépico funcional e lacéo com “S ¢ P”, mediante a relagao implicacional “Se... entio”. Tgualmente, nenhum sentido temporal tem que uma proposi¢io preceda a outra, que ¢ sucessiva. Enquanto isso, a relagto factica de causa/efcito, ou de meio/fim, ¢ temporal, extralogica, OCOr~ réncia no mundo dos fatos fisicos, biolégicos ou sociais. Relagao entre cortes no todo continuo do mundo, i¢., entre faros. A relagio légica se da entre entes logicos: entre termos ¢ entre proposigses. E entre sistemas 162 Lberen Juaioien de proposicgées. Do mesmo modo, a relacio entre as premissas ¢ acon- clusdo de um argument ro.sedd no universa das formas légicas, Arelacio conseqiencial Ginferencial-dedutiva) entre aquelas e esta é puramente formal, por isso que no se encontra no real. No mundo dos fatos, no ropamos com proposicées-premissas e proposigées-conchusio, nem com osnexos dedutivos. Um fata nio se deduzde outro, nem implica outro, Deduzir (ou, m mais genericamente, ‘inferir), implicar, ndo sie nexos no mundo das coisas e dos fendmenos Cfisicos ou sociais), E se falames de que uma ocorréncia implica outra, uma conduta ou fato social implica outro proceso social, é que transpomos a linguagem do mundo das formas Idgicas para o mundo que, por meio dessas farmas ldgicas, depositamos como matéria de conhecimento. O mundo de fatos entra como matéria das formas logicas, enche as varidveis kogicas, ¢, transla ticiamente, adquire os tipos.de relagdes que se passam ali, no universo das formas ldgicas. Para as formas ldgicas, os fatos sio substitutivos de varidveis légicas. Assim, na forma apoflintica clissica “8 éP”, qualquer coisa do mundo pode ocupar o Ingar de “S”, qualquer propriedade factica pode ocupar o topico de “P”, Ante a logica, ha termos e ha conexdo entre termos para conduzir ao sentido coerente. Se o termo é uma sradugio, em nivel de formal, do fato ou coisa, ou da propri les, que daa proposicdo, éuma formula corres- lagdo objetiva.“tal coisa tem_a propriedade sal”, nio ba que concluir, metafisicamense, que todo real ¢ racional Cexpressdvel no logos), ou uma espécie de logos encarnado, o realismo das formas ldgicas em que ressalvou Hegel, como observou bem J. N. Findlay: “It follows that Lo; at the as the study of thought-determination: same time a study of things as they really are, .” (J. N. Findlay, Hegel: A re-examination, p. 152). Sig questbes legitimas, mas que se colocam além da Logica: sie metaldgicas, rranslogicas: se as formas légicas copiam as relagSes dos objesos do conhecimento (realisme), ou se as trans mam, como categprias. relativamente auténomas Grit ou. 3¢_ so construgdes convencionais xiteis para manipular 0 mundo. (nominalismo ¢ pragmatismo), tais problemas esto dentro da area da légica transcendental, nio da légica formal. E logica transcendental é teoria do conhecimento. Nio uma teoria formal, como a logica propriamente dia. 163 Byeartos Joxiorces # Fitosbnieos, gel. 2 AUTONOMIA Da REGiio Do Locos Tudo isto reforea a convicedo de que o dominio das formas ldgicas ¢ auténomo, irredutivel a qualquer outro. H4 uma compacta resisténcia delas ante qualquer ato arbitrdrio do sujeito, Se ponho a forma “Se todo M ¢Pe todo $ éM, entio, todo $ é P”, articulo em um sistema trés enunciados tais que os dois primciros condicionam necessariamente 0 terceiro. Nenhum fate-do-mundo, nenhum ato de querer, de sentir, de pensar do sujeito, nenbuma estrutura idiomética particular de qual- quer linguagem natural podem desfazer a composigao formal do enun- ciado, convertendo-o em nio-vilido, ou em nem vilido, nem ndo- vilido, ou sacando couclusio negativa de antecedentes positivos, ou intreduzindo mais um termo, além dos trés termos constituintes do sistema de proposigées. Para dizé-lo com Kant, é uma forma geral, pura, a priori e exprime o que ele chama o extendimento, “sem qualquer consideragao para os diferentes objetos aos quais pode ser dirigido” (Kant’s Critique of pure reason, p. 42-43). O SimBoiismo Aristételes pbs 0 dedo no ponto exato do problema, vendo agudaaente ali onde estava a forma légica. Quando nos Primeiros analiticos da a fér- mula “Se A pertence a todo B, se B pertence a todo C, entio, A pertence a todo C”, vale-se de simbolos-de-variaveis, para libertar-se de tudo que era extralégico e reter to-s6 a pura forma. ‘Mesmo que tenha dito-em linguagem nio-simbélica que “Sempre que trés termos estejam entre si em relacdes tais que o menor esteja contido na totalidade do maior ¢ 0 médio ua totalidade do maior, entio hd necessariamente entre os extremes silogismo perfeita” (Aristotle's prior and posterior anabysis, Incroduction and commentary by W. D. Ross, p-27), com esta linguagem nio-simbélica atingia o farmalisma ligico,a Iégica como teoria formal, Ao formalismo légico chegou também com o uso de uma linguagem simbélica. Certo que seu simbolisme alcangava apenas as varidveis-de-objeto e varidveis-de-predicado (termos). Sim- bolizava, em notagio autSnoma, com letras, entidades quaisquer € propriedades quaisquer. Como os estéicos siabolizavam proposigdes com adjetivos ordinais: 164 Lébotes Jonimca “Se 0 primeira, enti o segundo, ora, 0 primeiro, logo, o segundo”. Se nio estendeu o simbolismo as constantes Idgicas (“nio”, “e”, Yow”, “se... entio” e inclusive o “é” apofantico), nem por isso deixou de utilizar uma notagio algoritmica para servir de linguagem 3s formas logicas. Em face dos estdicos, ficou aquém, porque nao simbolizon as proposigdes como toralidades indivisas, tidas tio-s6 em seus valores- de-verdade. Na légica dos termos, ha interesse em exibir a estrutura interior, pois as relagdes se passam entre os termos. Chego 4 relagio de includéncia de A em C, verificando que hé relagio entre Ae B centre B ¢C. Mas posso formaliza:, ainda mais abscratamente, denominando 2s 2 q proposigdes quaisquer. Sei formalmente, sem reched-las de conteide fActico, sem vincular qualquer desses simbolos-de-variavel a fatos do mundo, que “se p implica qe q implica r, ento p implica r”. txts proposigdes com varidveis proposicionais. Sejam “p GENERALIZAGAO E FoRMALIZACAO Um fato singular, objeto de uma proposicéo, individualiza essa pro- posigo. “Este livro é verde” é um enunciado que protocolariza uma situagio objeriva individual, Posso ir xecolhendo os exemplares singu- lares ¢ formando conjunges de prepasigies singulares, até aleancar a ‘proposigio geral “todos os livros sao verdes” Como se ve, generalizando, nio exorbito do campo sip. que. se dé 0. abjer singular. Percorro 0 dominio ou universo-dos-objetos que tém a propriedade “verde”, ¢ que constituem um conjunto, mas sem ultrapassar a linha que demarca ¢ dominio. Tiremos jd a conclusio: se vou generalizando, seguindo caminho indutivo, de caso em caso, de coisa singular a coisa singular, elemenio de um conjanto, ao aleango.a facmal-ligio. Atinjo, como is, vilidos para todo conjunto, mas enunciados rentes aos objetos individuais que satisfazem.3 propriedade. que os define como perrinentes a0 conjunto (0 conjunto das entidades ou objetos que tm a propriedade verde”). Sem formalizacio nio entro smalizo seem lugar de uma palavra 165 —_— Esexrros Joniptcos z Ftwosérieos, Fol 2 situagio objetiva de qualquer universo. O necessirio é que o simbole seja substituido por adequados tipes.sintdrices (categorias sintaticas): de sujeito, de predicado, de proposicio. A forma é um esquema, uma estrumra em que certas partes sfc abertas ao preenchimento da matéria que se ni 4 uma estrutura cujos elementos fixos slo “todos” “slo”, A estrutura, no seu todo, é uma constante formal susceptivel de ser preenchida por qualquer contetido, Mas, no interior dela, ba simbolos de valor fixo e simbolos cujos valores variam dentro de um dominio (o dominio de valores dos simbolos-de-varidvel). Posso sacar os valores das variaveis «g” ¢ “p" de diversos campos, Dizer: “Todos os planctas sio astros”; todos os homens so mortais”; “todos os miimeros pares séo divisiveis por dois”, O infixo reside na pluralidade de valores substitutivos das varidveis\mas a estrutura mesma, como forma, ¢ invaridvel,E dentro dela sio invariéveis as particulas quantificadoras “todos”, “alguns™) ¢ a8 particulas que seryem para construir a estrurura, como os functores (o “© apofintice). Poderia ir mais Longe, eluminando o residuo de linguagem natural, persistente nas palavras “todos” e “é” (ou “so”, de importincia gramatical, mas nio Idgica, e construir a forma, ex- pressa em puros algoritmos: “Vx. f(x) + g(x)”. Tudo isto nos ajuda a entender que, quando se fala em Iégica geral, nio | ha que entender, por contraposicio a uma ldgica particular ou especial, que aquela representa um grau de generalizacio.do processo abstracio. Nio retemos nenhuma propriedade de objero come niicleo genérico separado (abstraide) do concreto especial. Por isso Husser! distingue a abstragio isoladora da abstracao légica, esta, sim, condu- Zindo ao dominig das formas Idgicas CHusserl, Recherches logiques, p- 183-1841. 2). na experiéncia, Se enuncio: “Todos os § slo P", emos Capitulo IT A Linauagem Lécica Por muito abstrata que se apreseate a linguagem da ela é uma linguagem. ~~” Retire-se dos simbolos qualquer significagao, o que resta so coi- sas fisicas (sons, letras, ou fonemas ¢ grafemas, como conseqiiéncias actisticas ou éticas, entes do universo fisico). 166 Léaica forton Ora, parece que se elimino a referencia a objetos, se reduzo as oragGes ¢ palavras da linguagem natural a particulas formais opera- térias ¢ a varidveis, nada resta senio um algoritmo sem significagio qualquer. Mas significagSes hi, Acontece isto: suprimimos significagdes concretas, referentes.a. livro, a uma qualidade cromatica, a Sécrates, a propriedade de ser mortal ‘etc, 4, mas retemos tipos de significacdo, consoante s a papel ico: ser termo-sujeito, termo-pré dicado, quantificador (todo, algum) operador ou functor (2, “ou”, “se. entio”). icagdes entram dentro da forma légica como Fafegoriai| “sintdticay; pela posigio ou tépico que ocupam na estrutura formal (no interior da proposi¢ao ou num conjunto de proposigSes). “Umas podem ser termo-sujeito, outras, termo-predicado; umas tém significagdo por si mesmas, outras requerem outras que as com- pletam. Quer dizer: aquelas sio categoremas; estas, sincategoremas. Um categorema (nome de sujeito ou de predicado) nao pode ligar proposicoes. Nio posso servir-me de “Sécrates” ou do termo “mortal” para interligar proposigdes. Também é impossivel fazer uma estrutura for- mal com somente sincategoremas. Assim: “todo ou c é se entio”. Mas da numa estrutura formal sintaticamente correta construir a forma “Todo S é P”, “algum (existe pelo menos um) S ¢ P”. Se fago amputagio de algum termo necessario 4 estrutura, desfaco a forma. “Assim: “todo S _.”, “6, “pr Hi leis de composicio sintérica no reino das formas légicas, come ha regras gramaticais de construgi icaem toda linguagem natu- “ral, Mas, se ba tantas sintaxes quantas gramiricas, e tantas gramaticas quantes idiomas, h4 uma sé sintaxe Iégica, ou aquilo que Husser! denominou, em menor extensao] gram ramatica logica pura. Adotamos esse ponto de vista fenomenoldgico da unicidade da sintaxe pura, sem entrar em problemas que isto tem levantado no pensamento légico contem- pordneo. Mas, sea funcdo sintdtica (Iégica) de um termo rege-se por leis, tais leis n30 provém da ¢xperiéncia. No mundo dos fatos ha inter- conexes, mas ninguém falaré, em sentido préprio, de sintaxe no plano dos fatos. A sintaxe légica est’ no universo das formas. Mais. Se um 167 ecarros Juninicos w FiLostercos, Fol 2 termo pode tomar esta ou aquela posigde funcional na estrutura de discurso, isto depende de alguma propriedade do termo. Se posso unir das propesiges quaisquer, chamemos “p" e "q” nas seguintes formas: “pe gq’, “p ou q”, “nao-p e/ou nao-q”, “se p, entao q”, ¢ porque nao estou lidando com puros sinais, ou entes fisicos. Mani ¢ simbolos implicam algo além de si mesmos co uuportes fActicos, para serem simbolos. Na forma “S é P”, cada letra nao desempenha 0 papel de mera figura tragada 4 tinta, Figura como suporte fis fisico de alguma significagio. E HA significagSes, ai rminadas, mas as h4. Nao hd sincaxe para ligar ou desunir ee fisicas. A sintaxe implica significacses, queentram na a estrutura como significagaerquais~ quer, sit, distribu em. as sintdticas (Morris R. Cohen, 4 preface to logic, p. 36-67). PLURALISMO DE LINGUAGENS Pelo exposto, jd vemos que pelo menos de duas linguagens dispomos. Uma linguagemde-chjetos (as diversas linguagens ou idiomas nace rais ¢ as linguagens cientificas) e outra linguagem formalizada, 2 da, légica. No passar por alto: sea légica usar Lnguagem nio-simbdlica, come se nio fora uma dlgehra -a (e 0 , sob certo aspecto), ainda assim outra ésua linguagem. Com a linguagem Idgica nie vou aos fatas fisicos, as fatos biolégicos ou, aos fatos sociais. Nem exibe 0 revestimento gramatical de uma determinada linguagem-de-objetos (a morfologia ou a sintaxe deste ou daguele idioma natural). A linguagem légiea;’ quer simbdlica, artificial, construjda para nclase verterem as formas logieas, quer nio, é uma lingeagem que condus ao formal. Ainda, velai- vamente as lingua; agens, instrumentos para descrever 0 mundo, é uma inguagem, Nao ¢ uma linguagem a mais, compondo a série de linguagens naturais. Nao faz parte do conjunto das linguagens-de- objetos. Esté fora. Topicamente: acima ou sobre. Masa linguagem logica é linguagem, ¢ um sistema de simboles com algum sentido. Com significagdes, ainda que nio especificadas, nfo individualizadas. Assim linguagem ldgi cay ama fin de terceiro nivel? © inevitavel: onde hé uma lin- guagem, cabe falar sobre ela, convertendo a linguagem de que se fala Jinguagem-abjeto e aquela com a qual s se ‘se fala em_metalinguagem. Entdo teremos: sendo, nfo caberia uma linguagem que falasse sobr. 168 Léorea Juriorca U_ = universe de objetos L, =a linguagem-de-objetos (naturais/cieatlficas) inguagem (ldgica) a meta-metalinguagem (metaldgica) INEXISTENCIA APARENTE DE Niveis Parece-nos, sem maior exame, que coma mesma linguagem, ¢ no mesmo rfvel, falamos sobre outra linguagem, Por exemplo: com a lingua portuguesa falamos, numa gramética portuguesa, sobre a linguagem queto portugués. Entio, aquela estratficagio acima resulta infandada ou supérflua, Todavia, tal nfo se d4. Uma coisa ¢ usar a Lingua portu- guesa para descrever situagdes do mundo, como instrumento de infor- magio ¢ de comunicagao de conhecimento sobre os objetos que com- pSem a nossa circunstincia (aqui-e-agora estou cercado de drvores, deedificios, de veiculos, de pessoas), c outra ¢ falar sobre alinguagem, cortando ou suspendendo.a relacio que.a linguagem tem com a.cir- cunstncia existencial de coisas, fatos erelagdes entre fates. U’a mesma linguagem pode ser usada nos dois niveis: de linguagem-abjeto e de sobre ou metalinguagem, Mas a mesma lingua ocupa dois niveis ou planos. Num caso usamos a linguagem ¢ vamos as coisas mesmas; noutro, con- vergimos para a linguagem-instrumento e a convertemos em tema, ié., a mencionamos. Deve-se.a W_Y. O, Quine a distingao entre usoe 4 79 + mengio, elaborada notayelmente pela teoria escolastica da suposicio. A diferenca entre as sentengas “Paris ¢ a capital da Franca” e “Paris é uum dissilabo” reside nisto: na primeira, Paris denota uma catidade do mundo; na segunda, Paris denota-se asi mesma, como vocabulo. Supo- sigda formal, no primeiro caso; posigao material, no segundo. IDEMPOTENCIA NO INTERIOR DE UM. SISTEMA DE LINGUAGEM Se convencionarmos que a linguagem que fala acerca do universo-de- ¢ de relagdes entre coisas ¢ uma lin- zero, que dizer, iniial Cento, L,), 2 outra lingua em-d alinguagem macerial ou linguagem , é uma linguagem de poténcia um (L,), A linguagem que fala acerca de, L,éde poténcia dois (1), Essa hierarquia de planos de linguagem nos _ 169 wen eS Esexrros jrniprcos & FuLosdricos, ol? conduz ao formal. Por outro lado, nos faz ver que no interior Ges catia de ngnagem, como inguagem quedescreveo mundo, aio ¢ possivel falar dela mestna. A no ser tomando uma s6 linguagem como lingwagem-objeto ¢ metalinguagem (no caso aludido de uma gra~ mitica de portugués usar a linguagem portuguesa para falar da lingua portuguesa). Ua mesma linguagem é usadacé mencionada. Em outros termos: uma linguagem que ¢ objeto de conhecimento de ourra lin- guagem é de diferente poténcia. Assim, a linguagem-Logica — com- preende-se — no ¢ equipotence As linguagens-de-objetos. Também se compreende por que a linguagem da metalégiea carece de idempoténcia em face da linguagem légica. Ainda em outro giro: se temos em mos uma linguagem, s6 pederemos falar acerca de abjetvs do mundo, ow de ourra inguagem de tipo inferior, que se converte em linguagero-objeto de meta- linguagem. REGRESSO AO INTUITIVO © ponto de partida intuitive est no universo-de-gbjetos, o contorno do sujeito cognoscente. Para orientar-se praticamente na comunidade- do-discurso e conhecer cientificamente esse mundo circundante, usa odiscurso, o discorrer verbal da palavra escrita ou falada. Come o.dis- curso ov linguagem sempre tende a transcender-se — ir aos objetos inclasivea si mesma —, a linguagem fala também acerca da linguagem, quer na gramética, quer em nivel de légica. Na ldgica, a linguagem formalizada (reduzida a particulas operatérias ea simbolos-de-varia~ veis) nao é terminal. Que nio ¢ términe do discurso verifica-se com 0 fato de que se pode falar acerca dessa linguagem formalizada: em nivel de metalogica. E ainda se poderia dar mais passos adiante, falando.da linguagem que se refere & linguagem formalizada da logica. Teremos: 1) oser-verde do livro, ente do mundo-de-objetos; 1 asentenga “este livro é verde” da linguagem corrente; un) “este § € P” Cou, Ex. P(x)) da linguagem formalizada légica, 1) “substituindo-se S, e P, por varidveis $e Pe usando o quantificador ‘Ex’ eo functor ‘()’ em seus devidos lugares, teremos uma formula sintaticamente correta na linguagem légica” Note-se, no ultimo plano, emitimos uma regra sintarica, uma regra para a formagio de estruturas pertencentes a linguagem forma- ayo Lorca Jontores lizada da légica. E um nivel formal ainda, tanto que lidou com varidyeis Se B, cujos valores ou substitutives sao as varidveis da lopica, Se P. Por isso, ‘quel so denominadas varidveis metalégicas. Também note-se que em nivel tio abstraro e formal houve necessidade de usar linguagem intuitiva, linguagem com termos de significagio definida: existe uma parcela de li em natural, snatesias de Hinguagem meta- UBgica. Zo resi Locica MaTERIAL, LOcica APLICADA Sea logica ¢ necessariamente formal, des falar de |dgica macerial. O material de que ibe, em sentido rigoroso, vale a légica é, ainda, formal: um termo (termo-sujeito, termo-predicado) ¢ material Jativamente 3 forma de uma proposigio, que ote! te seu. Uma proposigao é matéria relativamente 4 forma-de-argumento em que entra como componente: um silogismo consta de proposigdes ¢ estas de termos. O formal reside no silogismo, na interconex4o entre as proposigSes. O silogismo é uma estrutura sintética, como éestrutura sintética cada uma das proposiges que o compéem. As proposigées se inverligam ¢ compdem uma estrutura sintatica maior, que ¢ a forma- de-sistema, como forma-de-ciéncia. No campo da Idgica, tudo formal. Mas esse regresso as formas légicas, independem contetidos de universos ni. logicos Gdafisica, 4: da biologia etc.), éuma exem imeredoloi Jogica ao mundo mo constit existencial, ponto de partida de tode conhecimento. 0. atitude que suspende o i exesse pelos obje imerso no mundo exis- formal importa do-mundo, interesse que ¢ retomado porgn tencial onde estd.o sujeita sognoscente e prético. Dai a razio por que se procura na légica o vincule com as coisas mesmas. Todavia, essa atitude éadeuma utilizagio do logos em vista do seu rendimento para penetrar no conhecimento das coisas. A légica se converte, nessa atitude, m instrumente, i, num meio para alcangar um fim, teprico-material ou prarico, e corresponde 3 necessidade vital de o homem manipular as cgisas. Pois bem. A légica mate material éa Idgica em sua fungiio pragmitica % &-,."~ ¢ em sua fung3o semantica. Todo sistema de simbolos a lagica, ™ Escnrres Jusioicos « Fuosbstcos, Hl? comoqualguercifncis consta de um sistema de simbolos de linguagem forme a teoria de Charles M é angules 1 asrelagdes dos simbolos entre sis ) a relacio dos simbolos com 08 objeros simbolizados; sm) a relacio des simbolos com os que os usam. So, respectivamente, as relagies sintaticas, as relagées semanticas e as relagdes pragmdticas. Acantonada em seu préprio dominio, 0 dominio do formal, a logica é sintaxe, quer dizer, um sistema de leis que estabelecem que combinagies de simbolos Cimplicitamente, que categorias de signifi- cago, na linha do pensamento da fenomenologia husserliana) condu- zem ao sem-sentido, ao contra-sentida ¢ ao sentido formalmente consistente (em contrapartida ao analiticamente verdadeiro, como “A é 4”, 0 analiticamentefalto, como “A. é no”). Kant estaya nessa linha de analitico.on do formal. Com efeito, ponderava: 1D que as formas légicas (as leis do entendimento) eram aprioni inde- pendentemente da experiéncia; 1) aldgica, come extritamente cl, nio poderia ser Srgio das ciécias, pois nada sabe do objeto de cad: autecoahecimento, Selbsterkenntniss); mn) por isso mesmo $6 oferta as cigncias critérios formais da verdade, Uma logica pratica, aduzia, 1.0 conhecimento dos objetos aos see ee eee cee eeg cern quais se aplica. Toda cigncia, sim, é que é uma logica pratica. Quer dizer: ¢ 0 logos, arazao pura uentendimento, mais 0 objeto B05, P jet especifico, determinado, a0 qual o logos se aplica. Léeica COMO METODOLOGIA Opontod le partida det de toda ciéncia empirica (science du réel, Realwissen— schaft) esta na experiéucia ‘ia dos fa fatos, internos uns, na modalidade de fatos psicoldgicos, externos outros, como fatos fisicos ou fatos socials. Eo pento de partida gnosiolégico da ciéncia légica esta no factum da citacia, ou, mais largamente, no factum da linguagem cientifica, sem desprezar a linguagem nio-téonica da vida cotidiana em sua natural projegao para o mundo. E sea Idgica parte da ciéncia no é, como insis- tenremente sublinhados, com a intengio de ir aos objetos mesmos das my Laces Jonlica Sidacias:¢ em retroandlise, em busca das formas. Por isso, a légica é sempre Formal. quer a légica aristotélica, quer a légica simbélica (logistica). Asentuou-e Heinrich Scholz CErguisse dune histoire de la lopigque, p. 38-44). Mas, por isso mesino, que rem seu ponto de apoio nolan ecimenid | de objetos, uma ver destacadas, as formas légicas podem regressar para serem apficadas, para servirem de nstrumentos metodoldgic investigagio cientifica. Mas tal uso conduz 3 légiea néo-formal, i. metodologia, que se diversifica em fungio de cada drea de investigacio cleanfica, Hi uma metodologia das cifncias formais, outra das ciéncias reais, estas subdividindo-se em ciéncias reais-naturais (metodologia da fisica, da biologia) ¢ ciducias reais-culturaic (genericamente, ciéncias sociais). Diz com acerto Jean Piaget que a metodologi reser- vada as especialistas de cada ciéncia, que eles, os cientistas especiali- zados,¢ niio outros, esto em condigdes de praticar ¢ viver os problemas provocados pelo seu campo de investigacao. Por isso, “,. la métho- dologie ne fait partie de la logique et rien n'est plus équivoque que le terme de logique appliquée __” (Jean Piaget, Trairé de logique, essai de logistique opératoire, p. 6-7). Antes de abrir carninho para ir aos objetos do conhecimento, em sua plural manifestagio constitutiva, como poderia a légica codificar técnicas operatérias de manipular tais obje~ tos? Do ponto de vista historico (da génese do conhecimento), a ldgica formal ¢ posterior, uma reflexio com apoio no fato de conhecimento. Por outra parte, a metadologia. iéncia especializada nio, se_apresenta como pura anilise descritiva de Nao somente diz como opera o cientista, mas também como deve operar para conduzir com rendimento.a iavestigacio da realidade,. A metodologia €uma mescla de proposigies dercritivar (teo- récicas) e de proposighes prescritivas. E teoria e cAnone do comportamento cientifico, ser cficaz na conducio da verdade material, requer saber do objeto. Requer dados que estiio além da for- ma légica; exige o extraldgico: o método que é fungio do objeto, do seu modo de ser ¢ aparecer. © métedo para captar o campo da consciéncia no é 0 mesmo para alcancar um campo eletromagnético, nem o método para operar com varidveis matematicas ¢ o mesmo que o conducente 3 interpreta- Gao dos fatos histérico-sociais, 17% ade AP so gad © ec. Pop Ee Le Exoxrros Jerivicos e Fsosoricon, Fal 2 + Enfim, a metodologia de cada ciéncia estd no interior de cada ciéncia.. ‘Nio sobre a ciéncia, como nivel de investigagbes descomprome- tidas com o coahecimento especifico dos objetos do conhecimento. "a para @ plano da metodologia importa numa desformalt- ‘ago material das formas légicas. Trazer. ica. zagdo, i.é., numa Léerca Juripica como METODOLOGIA Sea metodologia ¢Légica aplicada a.cada setor do conhecimento cien_ tifico, cabe uma légica juridica, come metedologia do.conhecimento indidico. © conhecimento juridice pode ser histérico, socioldgico, dog- mitico (proprio da Ciéncia-do-Direito), cada espécie como meto- delogia. HA uma metodologia histérica: outra, sociolégica; outra dog- matica, Assim, o método estatistico ou o método experimental séo desa- propriados para interpretar ¢ aplicar normas juridicas. A pré-histéria ahistéria de um instituto de direito, ou de todo um ordenamento, sio problemas importantes para compreender o direito em suas projegdes caracteristicas, num dado tempo e numa dada cultura. Mas interpretar (para aplicar) normas requer outras técnicas de conhecimento. Nem sempre as fortes bistéricas ou as fontessocioldgicas do dircito so as fontes dogméticas (formais ou vécnicas). Fonte dogmitica é aquela de onde, provém normas com forca vinculante, impositiva paca 98 individuos- membros da comunidade ou para os individuos-drgios do poder. E 0 cosmme ou a legislagio (em sentido amplo). Historica e sociologi- camente, o ordenamento provém do costume. Mas sob o Angulo da Ciéncia-do-Direito, se o costume ¢ fonte de normas, é-0 em virtude do ordenamento juridico total. O costume est4 no interier do ordena- mento, no anter dele, As normas procedentes do costume sio validas porque outra norma do direito positivo Ihes confere tal forga vineulante para as condutas sob sua incidéncia, E se no comego histérico de um ordenamento ou de urn complexo de normas juridicas esté 0 costume como fato, 0 fato de condutas uniformes, valoradas pela consciéncia coletiva como cogentes, obrigatdrias ¢ sancionadas, entio o costume passa a ser o suporte féctico fundamental, origindrio, ou a sustentagio empirica de um pressuposto (a norma fundamental de Kelsen) ou hipé- 7% eet a thet ao teh be Léa Josiosen seve de conhecimento. Para operar metodologicamente como conbe- sawenrs dogmatico, interpretando e aplicando normas juridicas validas, a saéncia dos juristas vale-se da hipdtese-de-trabalho: deve ser direito 2 gue provém do costume. Vé-se, trata-se de um coi sexe de fatos histéricos, cad: érie néo.se expli precedente e, por sua vez, vinculandg-se ao termo sucessivo. Corta-se, 2 corrente do snceder histdrico ¢ a partir de um elo tem: juridico positivo. fe se percebe que o conhecimento dogmatico do direito sem seu objeto de conhecimento requerendo sua metodologia adequada. io outra. HA, assim, ama légica juridica o metodologia dos juristas (uo a ciéncia dos socidlogos, dos antropslgo dos histo- sladores ete. Vale dizer: entre as cdveiasjuridicaseatA a ciéncia dogma’ tica do direito, ou Ciéncia-do-Direito propriamente, ou Jurisprudencia Cientifica).ivé_se também claramente que lologia ¢ Idgica™ aplicada,'ou légica juridica, de légica formal ndo se trata. Trata-se de logica nde formal (material). Légica, rowr court, é logica formal. Capitulo 111 Como & Possiver uMa Loaica Juripica Format? Falando em légica aplicada, ou Iégica metodalégica, como Idgiea pro- priamente dita, logo ingressamos no problema em sua repercussdo 00 campo das investigacdes do direito, tema deste estudo, Justifica-se, sem maiores argumentos, a razo de ser da metodologia juridica. Mais espe- cificamente: a metodologia da Ciéncia-do-Direito (dogmética), tal como a exige o Angula sob o qual se conhece o direito quando se fax citncia juridica em sentido estrito, No sentido plural, ciéncias juridicas constituem um feixe de ciéncias, todas vertidas sobre o conhecimento do direito: assim, a antropologia culrural do direito, a sociologia do direito, a histéria do direito ea filosofia do direito. ‘Mas légica juridica pode ser algo mais que metodologia juridica, quer dizer, pode ser algo diferente da Iégica nio-formal? Ou quando muito seria, como o quer Ulrich Klug (Juristische Logik, p. 6-7), nao uma teoria com leis especiais, mas a parte da légica geral ou formal que tem aplicagde na Citncia-do-Dircito, E tudo converginde para a ati- vidade jurisdicional, para o exame das estruturas presentes no argu- 7 Eseartos Josioiene « Frrosértcoy, 2 mento emi que se verte 0 ato de decisio do caso conereto (“Juristische Logik ist die Lehre von den , genannten Schlussformen (argumenta a simile, a contrario, a maiore ad miaus, usw”). Todavia, apticar formas légicas significa substituir as estruturas, reduzidas a varidveis ¢ constantes logicas (os categoremas e os sincate- goremas da composigio interna de uma proposigio, digamos, excluin- do, por enquanto, as varidveis-de-proposicao) por dados ou constanter facticas. Isto é, por exemplos sacados deste ou daquele campo especifico de objetos. Aplicar formas légicas ¢ substituir o esquema puro “todo 8, &P” por significagies concretas de objeto e significacBes predicativas. E exemplificar, Dizer que “todo homem ¢ mortal”, “todo astro é corpo dorado de luz prépria”, ¢ assim por diante. Importa numa desformali- ago do puro esquema, em ingresso no plano das coisas, numa abertura paraa experiéncia do universo de objetos. Entio, falar de Idgica juridica seria dar acolhimento ao extraldgico, 4 concrescéncia ontelégica do objeto juridico. Importaria em ulteapassar aquele micleo minimo de objeto Co objeto em geral, Hobjet quelcongue), suporte do logos, qmini- mo semdntico na linguagem moderna, ou o minima ontolégica, na lin- guagem classica, e alcangar o fato especifico do direico, na medida.em que ele pode se vestir em uma forma Jégica, Forma que é como roupa feita que cabe em varios e nie é feita para nenhum em particular. A forma légica acolhe qualquer objeto individual, porque ¢ forma para um objeto qualquer. E o que ingressa no universo das formas légicas aio 0 tipo de ser do objeto (sua pertinéncia a esta ou Aquela regido material real como objeto fisico, biolégico, social ou ideal, como um valor ou um niimero), mas o cumprir a funcdo de termo-sujeito e de termo-predicado — simplificando o problema —, o que significa: 0 objeto traduzido em uma categoria sintdtica, reduzido em linguagem formal, como se no tecido integro do objeto se cortasse somente a capa de logos, desprezando os demais constituintes dele. FORMALIZA¢i0 DA LINGUAGEM DE OzjETOS Ocaminho a seguir para se fazer légica juridica ¢ procurara linguagem em que 0 universo do direito encontra expressio. Ocorre esta parti- cularidade: no objeto fisico nao encontramos a linguagem como inte- grante de sua constituigao. A linguagem esta na ciéncia que ¢ a fisica. Mas odireito, como objeto, contém a linguagem como parte de seu ser. 176 Léorea Juniorea E linguagem-de-objetos, linguagem como referéncias ¢ situagées ea condutas humanas. Linguagem com todas as dimensdes semidricas (como sintaxe, como semintica e como pragmatica). Entio, a lingua- gem do direito (positive) é o ponto de partida para a formalizacio, pois na linguagem esta o suporte material das formas ldgicas. Mas as formas légicas estio como encobertas pelas referéncias significativas a fatos do mundo (eventos naturais ¢ condutas). A leitura de um texto constitucional, de um cédigo civil, de um decreto, de uma sentenga, nGo percebe as formas Iégicas em-si-mesmas. preciso deixar fora de consideragio tais referéncias a objeros especificados ou a relacdes con- cretas (ser vendedor ou comprador, ter o direito a ser indenizado pelo inadimplemento de uma obrigagio ou o dever de cumprir uma pres- taco) que enchem ou sacuram as formas mesmas. Por mais geral que se exprima uma norma de direito positivo, suas referencias sio deter- minadas, significativamente enderegadas. Ainda que numa linguagem tipificadora descreva hipéreses genéri fatos juridicos, tipos de sujeitos-de-direito, de objetos de prestages juridicas, de quadros gené- ricos de vinculos obrigacionais, sempre haum conteudo de significaciio conereta (conesagio) nos conceitos do direito positive, aponrando Cdenotagio). para certos fatos do mundo que se.tornaram elementos do universo juridico. Por isso, dizemos quea linguagem que compico_ direito positive é uma linguagem—de-objetos, uma linguagem cono- tativa ¢ denorativamente qualificada, feita para o universo da con humana. Submeter essa finguagem i andlise Idgica é reduzi-la As formas légicas. E se as formas encontradas sio as de qualquer discurso, entio no tem cabimento falar de ldgica juridica, Demais, como continuar denominando ldgica formal se se acresce o qualificativo de juridica? E, ainda, como ser Idgica juridica sem ser logica aplicada, sem se fazer metodologia do direito? A légica juridica justificar-se~ turas no discurso ou Tingaagem normativa ( do dircito. Ei dutros termos: as formas pos de formas, mas hi as dednticas, umas e outtas reciprocamente irre- dutiveis. Agora, se encontrarmos na experiéncia das formas essa infle- io para o juridico (ou genericamente para o dominio do normativo, que émais amplo que o subdomunio do juridico), tem-se uma prova de quealégica, por mais formal e desobjetivada que se manifeste, mantém 77 relacional (como Garcia Maynez, entre outros, vem acentuando a formula da proposicio hipotética & Ezearros [unicivos # HLossricos, uma ponte com o mundo do ser, Dizendo-o com mais énfase: para que a légica formal eliminasse, sem nenhuma residue deixar, vodayeferéneia a objetos, mesmo a erwar ueherbaupt, ser Svel que se t ‘num puro manipular signos, caracteres grificos sem outra individua- lidade que a meramente fisica. Com isso, reduz como que deixaria de ser'uma Jinguagem formalizada. E linguagem ainda o é a linguagem ldgica. EsTRUTURAS FormaIs DEONTICAS Referimo-nos ao dedntico na espécie de dedntico-juridico. A particula operatéria do dedntico ¢ oldever-scr Esta particula no enuncia um predicado de um sujeito, conotando-o, ou incluindo-o Cextensional- mente), como individuo pertencente a um Conjunto. E_um termo estatui relagio entre sujeitos-de-direito, que tomam o papel sintitico de termos-sujeitos, e relacia « entre tipos de ages ou condutas, decor- rentes da verificagio de pressupostos facticos, que tomam_ 9 papel sintdtico de proposigdes antecedentes de uma relacio hipordiica. A norma, que & fenomenologicamente, a significacae do enunciadg pro- ral, diz que.se se.da. Ge ocorre na, tvalidads, :).um fato que por € 9 ents 0 do direito, entio - ov omiitir cal ou qual condura em face de outro sujeito, terme relaro daquele vermo raferente. Oantecedente ¢ descritivae pode ser um fato natural ou ja ingresso no universe do dircito. Diz o art. 955 de nosso Cédigo Civil: “Considera-se em mora o devedor que nao efetuar o pagamento, € 0 credor que o nao quiser receber no tempo, lugar e forma convenciona- dos”. Ainda que os antecedenres sejam algo no interior do ordenamento juridico, “ndo cfetuar o pagamento” ou “o nao quiser receber...”, fun— cionam como pressupostos que descrevem uma ocorréncia (nao efe- ruar, nfo quiser receber) ligando 4 verificagio desse pressuposto, na ordem dos fatos, a conseqiténcia, esta sim, normativa. Na légica classica, “se Q &R, entio § éP” (Pfaender, Légica, p. 115-125). Para formular a proposi¢ao juridica, teriamos: “se Q éR, entao § deye-ser P”. O dedntico nao reside, pois, no antecedente (pressuposto, prétase), mas no conseqiiente (conse- qaéncia, apédose). Mesmo quando o antecedente for algo normativo, 18 ene Juries uma sitnagaa deonticamente constituida, é tomade descritivamente; como uma situagao objetiva ou um état de éum fato do mundo que verifica ou confirma 0 que se descreve no pressuposto da norma. O pressuposto nio estatui que se deve nascer, ou morrer, ou atingir x anos de idade, mas descreve hipotética ¢ tipicamente que, se ocorrerem fac- tualmente tais coisas, certas conseqiréncias devem ser imputadas aos sujeitos postos em relagio. E 0 que foi consegiténcia normativa de outros. pressupostos pasta ao papel sintatico de antecedent. Assim, o paga~ mento é conseqiiéncia normativa no art. 1,122 do Cédigo Civil: o paga- mento decorrente da compra-e-venda. E 0 pagamento como conduta que deve-ser, ou a obrigagio de prestar, correlata do direito de exigir. SupstRato OnTovosico pa Léaica Juripica Para o desenvolvimento interior de um sistema ldgico nao se necessita saber a que realidade cle corresponde. 0 formalismo, potenciade pelo simbolismo, desdobra-se diateticamente num universo de puras estru- turas, apliciveis a um objeto qualquer. Um objeto concreto, especificado ou individualizado (“este homem”, “aquele astro”, “a coisa dada aqui- e-agora”), sio substituintes possiveis de uma forma, pelo que tém de objeto em geral. Mas, ja na singela formula classica “S € P”, que é uma forma pura (uma forma combinatéria de significagdes, em linguagem fenomenolégica), as varidveis “S” e “P" nfo sdo inteiramente desti- tuidas de significagaoe, por isso mesmo, de referéncia objetiva a alguma entidade do mundo. Conotam e referem-sea qualquer coisa que venha a ser sujeito de predicagées. “S” é 0 sujeito-em-geral, como “P” é 0 predicado-em-geral: a contrapartida, em plano légico, do objeto-em- geral e da propriedade-em-geral. Entio, dizemos que a formula pura X 48 &P” éuma formula interpretada, i.é,,comum minimo de significagio para ser simbolo ¢ nio mero desenho grifico no papel. Interpretar é * atribuir valores aos simbolos, ou seja, adjudicar-thes significagdes ¢, por meio destas, referéncias a objetos. A logica, por isso, por mais geral ou formal que se apresense, repousa na teoria geral dos objeros. Se assim se passa na logica formal in genere, mais a dizer se tem quando se ingress na légica juridica formal. A ldgica ¢ juridica sem deixar de ser formal porque suas estruturas formais sao estruturas aptas para acolher o objeto juridico, que ¢ uma espécie do objeto dedntico. juridico ou, com mais generalidade, 0 dedntico (o normative) nio é0 79 Bsonrros Jonizicos x FmosGrie0s, Fok 2 objeto-em_geral, um objete qualquer, mas uma concrecio enriquecida, algm do mero ser objeto-em-geral. Como assevera Von Wright (Norm and action — 4 logical enquiry, p. 106), “The existence of a norm is 2 fact”, este sendo “the ontological problem of norms”. Subjacente 3 légica jurtdics juridica formal encontra-se 9 objeto juridico — um de cujos constituintes ¢ 0 normativo—, como seu states cutlgisi inconfundiyel> com os fatos puramente naturais ou fisic 8 a $ rados ae. Vos 5° odos sujeitos ¢ o das condutas. As varidveis em questo sho teks av Aa, um dominio, que representa a regide especifica, onde tém elas seu per- gh; sarse Garenurs, Verlauf). yak. Se no pressuposta de uma norma juridica variaveis ha que sey. ev Se no pressupost: aveis ha que se-~ ¥ "© podem substimuiz por fator namzais, coisas, pessoas_on condutas, na x g Consegiitncia todavia, somen conduras podem is {FS | ser-valores das varidveis. Exprimimo-nos de maneira abreviada, pois Ae ° objeto mesmo nio ingressa como substitutivo de variaveis, sem a mediagio do nome ou significado que a ele se refere, © simbolismo_ logico é linguagem que somente por outra linguagem pode ser inter pretado. Sao as significagées, depositadas na linguagem, que fazem referéncia aos objetos. O conceito ie -formal de varia ro do qual encontra seu lores. Si sizabolos suk cubsttulveis, is por significagdes que deno- tam objetos ou propriedades-de-objetos. © SuBsTRATO D4 FORMA DEVER-SER Arelacio sintatica prépria da regiao do normativo e, pois, do nort tivo- juridico éaque: se estabelece ce por interméc dio c io das expres esses verbais, “ter a faculdade (de fazer ou omitir)”, “estar obrigad lo (a fazer ou omitir)”, “estar proibide (de fazer ou omitir)” Sao rés modalidades dednticas do verbo dever-ser. Ha, é certo, uso nio~ dedntico da expres- sio verbal dever-ser, para indicar a necessidade ou possibilidade do acontecer regido por leis naturais (leis nio-normativas). Na vida coti- diana ¢ mesmo em léxico cientifico, emitimos senrengas em forma Diz-se: 0 liquido, como a 4gua, dedntica, mas sem sentido normativo. submetide a pressio normal, deve entrar em ebuligio a cem graus cen- tigrados; no inverno, deve chover. Inversamente, muitas proposigdes 180 Léotes jeaiorce normativas so emitidas em sentengas usando os modos verbais do indi- carivo edo imperativo. Assim: o credor poderd exigir do devedor,..; no entrar esquerda; no cortar o sinal luminoso etc. No uso normal, hd diferenca nas situagdes objetivas delineadas pelas sentengas: “a porta deve-ser fechada” (norma); “feche a porta” Cimperativo ou ordem); “a porta esté fechada” (proposico descritiva ou juizo-de-realidade), Tenha-se.em conta que tanto as proposicdes descritivas quanto as proposigées prescritivas slo atos objetivantes (no sentido husserliane), #2, delineiam uma situagio objeriva, fazem referéucia a um estado de-coisas que aelas se contrape. Hé.uma situacio dedntica, um esrado- de-coisas normativamente tecido. A forma légica de dever-ser refere- sea um dever-ser objetivo (no que Cossio vé uma relagio gnosiolégica: a forma deéntica é cognoscente daconduta, que é, sem poder deixar de ser, normativa. A forma de dever-ser repousaria, pois, nos fatos da realidade humana). Esse o minimo de objero especificado que a légica recolhe para ser Idgica juridica formal. E 0 subpositum, o que esti Sobposto as formas légicas, colocado como fundamento filosdfico seu, ® por isso, por fora do sistema Igico, como questio metatesrica ou metaldgica, Em rigor, extraldgica, pois no se ¢ chega a esse ponto pros- seguindo na liaha da formalicacio, Alcanca-se, sim, por via de desfor- malizacao, guiando-se pela regia material onde se encontra o direito, malaga, BUlando-se pela Teg onde se.gacentra ¢ a que é um fato de cultura. Importa saber qual o status ontolégico do dever- ser, que tipo de objeto é a norma, se a norma ¢ transcendente ao mero fato da conduta, ou se Ihe é imanente, para que esse fato seja condutae no simples fato da natureza, inserido na corrence da causalidade psi- quica e fisica, sem ouzra dimensio que a pura facticidade, had NO (oer TS O Drver-Sea como Forma pe SiNTESE dee oe ae vee le sintese oude rela- cionamenco de conceitos, que se refere a dados da experiéncig, Na lin- guagem légica, é uma forma de compor sintati estruturas. Uma forma de sintese de conceitos é a apofintica; outra, ¢ a deOntica. Na. apofantica, diz-se que um conceito convém ou no conven a outro, esta ou nfo incluso na extensio de outro conceito i i e extensional de conceitos); na forma dedntica, estarui. ‘seuma relacio, Nio hi predicados. Em “A . “B” no tem pape de predicado. “A” ¢ “B” sip pontos extremos, termos (termi 181 go ate ee pati gue. okt, TE ee ABI pri relagio de dever-ser. A relacio, que formalizando chamamos “R”, ¢ ‘uma expresso interponente) com funcio nio-predicativa do verbo ser. Quando dizemos que A é credor de B, descabe tomar “é credor de BY | como predicado de apofiaticada:'é"oculta se odeéntico do conceito cr r relacional doxerbo. Credor, ed P , so termos normativamente Escarres Jusinicos Frroséncos, ff 2 como devedor, comprador, vende construidos. S&o conceitas normativos e, com conceitos, formas ou fun- ghee proposicionais, quer dizer, expressdes com variavcis légicas, sem vinculagdo quantitativa Cuniversal, particular ou existencial — sin- gular). Reduzida & linguagem simbélica, diriamos A,B ou R(A, B). Ora, os termos credor/devedor, comprador/vendedor, sio termos correlatas, que se implicam reciprocamente. Sem comprador inexist ‘vendedor, e vice-versa. E o ser comprador gu 9 ser vendedor nao cons- isivos de fatos. Tais conccitos sio ¢los de uma tiquem, conceites de corrente normativa fechada; aqui, como pressuposta de uma norma, j4 ali ow antes, como conregiiéncia de outra norma. A elaboragio de um conceito normative requer a construgio da forma “se se verificam tais e tais pressupostos, o individu A deve-ser comprador, ou vendedor, credor ou devedor”. Nenhuma pessoa, nenhum ente individual ou coletiyo, é sujeito-de-direito como um mero fato da natureza, que_se recolha numa proposicio descritiva. Uma co 0 antropolégico deser homem, ou o de ser pessoa (em, sentido psicoldgico); outra, o ser sujeito-de-direigo. A construgio do conceito de sujeito-de-direito ¢: dado o fato da existéncia individual do homem ou de uma coletividade que preencha certos requisitos, deve-ser a personalidade de direito. B, dado o pressuposto de ser sujeito-de-direito (ente jé normativamente construido) que ingresse em contrato mediante o qual se obrigue 2 transferir o dominio de certa coisa a outrem que lhe pague certo preco em dinheiro (art. 1.122 do Codigo Civil brasileiro), deve-ser a qualifi- cage juridica de vendedor, do alienante (ou do promitente a alienar), como deve-ser a qualificagao juridica de comprador para a contraparte que paga 0 preco. Fora, pois, dalrelacds normativg que ¢ 0 negécio juridico de compra-e-venda, fora da relacgio, dedutica especificada, inexistem os conceitos correlatos de vendedor/comprador, como conceitos juridicos. 182 betes Jonioica © Dever-SeR como Termo RELACIONANTE ESPECIFICO Nio se trata de uma relacio qualquer: de uma relacio matematica entre entes mateméticos, de uma relacdo causal entre fatos fisicos, ou de uma relagio légico-geral, como a de premissas para a conclusio (relacio conseqiiencial ou inferencial-dedutiva). Trata-se de uma relacio deén- tica. O qne Kelsen denominou o dever-ser formal, como mero nexus no interior da proposico juridica, sem referéncia ao valioso ou desvalioso como devendo-ser, ou sem levar em conta a matéria sacada da expe- er, reduz-se a simples expressao operatoria a mero termo (verbal) que desempenha a funcio de relacionar deon- amente (ou normativamente). E um conectivo operatério, ou pari * {cula‘nio referente a objetos ou a propriedade-de-objetos. E um functor; Odever-seré é uma particula. operaréria vinculada a aum universo- sspecificado de objetos: o universo das normas ou da linguagem como i+ expresso de normas. E incontavel o numero dé normas juridicas que ’ seoferecem 4 experiéncia, variando no tempo ¢ no espago, por seu con- ~ tetido, pela fonte donde provém, pelo grau de validade, pela pertinén- cia aos sistemas positivos etc. E da linguagem do direito positive que se obrém a estrumra reduzida ao formal. Quando formulamos a propo- sigao “se A €B, enti C deve-ser D” (para tomar letras como varidveis referentes a fatos — pressupostos — de cuja verificagio depende a relagio dedntica “A deve-ser BY, a relagiointersubjetiva ou de sujeitos entre os quais se verificam agdes), esta proposicio nao é de nenhum dominio ou subdominio do direito positivo. Nem no direito privado, nem no direito piiblico encootramos semelhante proposi¢ao que nada diz. especificamente de nenhum fato, de nenhum sujeito-de-direito ¢ de nenbuma agio ou conduta concretas. E uma proposicd a ligica, no. uma regra de direito positivo; ¢ uma simples estrutura sintatica, nio_ lumi preceito ou norma para a acto. Com base nela, em nada podemos orientar normativamente nossa conduta. E vazia de contetido. E, todavia, quer dizer algo, tem significado. Se aada diz de uma situagio objetiva concreta, faz referénciaa um estado-de-coisas deonticamente estrucurado, mas em geral. Mas esse em geral niio é como o modulo comum na pluralidade de individuos (no caso, o denominador comum de normas), ou a mera generalidade que provém da repeténcia do sin- gular, como Husserl caracteriza a generalidade emptrica (Erfabrung und Urteil, p. 403-407). Se bd graus ou estratos na generalidade (Stufen der 183 Ab ¢ * Bscerros Juninicos = Freotérrcos, rol, 2 J Js dllgeneinbeit),convém,no catanto, distinguis agenendlidade material ea vy sores! Sachbaltige Algemsinheit — Formale Algemeinbcit) ; i ica representa uma generalidade Ie: : la se » chega mediante a formalizagaa, yes Generalizando, ascendemes de grau, mas sem sairmos do dominis gf |_ material para o dominio do fermal. Kleangamos 0 conceito superior do Y'ey dominio, aquele que demarca 6 dominio — 0 conceito do direito, pe. i Os processos simeétricos ou opostos, no interior desses dominios, sio (do, formalizacdo ¢ desformalizagao, como a generalizacdo ¢ determi : acertadamente ¢ seguindo a via husserlianamente indicada o faz Felix Kaufmann (Die Kriterien des Rechis, p. 12-14). Somente com a formali zagio e coma desformalizacio“, werden diese Gebietsgrenzen ueber- schritten”. Com elas trabalhamos com formas logicas. Aestrutura sin- duzidaavaridveis ferentes a fatos do mundo dos a cons tética da proposigio como ente lgieo, a proposics de sujeito, a varidveis de acdo, ¢y ainda, a operadores (funetores) especificamente desti trnir normas de direito (os norm-forming functors de Von Wright). A Logica juridica ¢ légica formal sem o impedir a regio material yy, dojurldico, porquanto representa a formalizagao da linguagem do direito 5, oo, positive, alinguagem em quese expressam norms. Mas 2logicayuridica *"¥’. § - ainda élingeagem, por isso que vinculada Cinterpretada) auum universo, ”) ee fe 9 universo dos objetos que so as normas do direito. Capizdo IV A Forma Léaica £ SEU UNIVERSO-OBJETO 4 juridiea serm deixar de ser formal porque esta iinio de ol objeios — as norms juridicas expressio ans significados que slo_a8 norms, Sendo uma formalizagdo dessa linguagem, a légica juridica, por sua vez, € uma finguagem, quer dizer, por mais simbolica Calgoritmnica) que se construa, sempre seus rEncla geralag dominiados abjesos puridicos. No Slmbolos fazem ; se reduz a um sistema de sinais grdficos feitos no papel, ou 4 pura notagio ideogramdcica sem qualquer conotagio significativa e, por isso, sem qualquer denotagio a entidades. Se fosse reduzida a puros algo- ritmos, bastariam as regras do cdlculo combinatério de sinais, ante- 184, Léares Joioica postas ao cdleulo mesmo (em nivel metaldgico), Seria simples sintaxe, sem semantic, edlcudo estritamente ¢ mio linguagem. Ou em Iéxico kan tiano: a légica converter-se-ia numa analitica formal, constituida de juizos analiticos apriori (“aéa?, “a nio énio-a"), sem qualquer ponte que a ligasse com a avalitica transcendental, sem a forma légica trans- cender sequer para o objeto em geral, sem o entendimento (Yerstaend- ‘tis ir além de si mesmo, como movendo-se no vécuo, recurvado sobre si mesmo, no exercicio vazio de uma autognose (Selbstverstaendnis), sem abertura para o mundo dos objetos. Basta, para comprové-lo, examinar a estrutura interna da pro- posigio normativa, quer dizer, da proposigio ezn sentido légico, redu- Zida a varidveis légicas ¢ constanses ldgicas. fi norma juridica, redueida | | proposigdo em sentido légico, vem wma formas Gramaticalmente, a las guagem do direito positive exprime a norma em mulsiforme variedade. mi sempre norma se encon-_ tra presente num dispositive da Constiruicio ou de umestatuto de ente puiblico on privado. Mas estamos com aqucles (Carlos Cossio, Garcia Maynez, com discrepancia de pontos de vista, entre os fenomendlagos) que pensam que a proposicio juridica ¢ composta de duas partes: 9 : pressuiposto (protase, hipdrese) € a conseqiiéncia (apddose, tese). O rimeiro membro da proposicio t wal Hes clas ossivel situacio factica (dentro da qual se incluem também situacBes jé juridicamente normaadas) 0 segundo sembreprescieey (prescrevelque relagio se constitui entre sujeitos-de-direite com a verificago ocorrencial da descrigio fixada nabipdcese, Essa bimembridade (Ziweigliederschfar) compée todaregra i forma ligica de propasigéo. Sio duas proposigoes * yalético, outra, com modo deén- modaimente divers ticg para émpregarmos a terminologia de Von Wright Cdn essayon modal 2. ‘i , logic, p. 1-140 36-41; Logical studies, p,58-T4).Comoa primeira propo- » - siglo apenas descreve uma possivel ocorréncia no mundo naturalou =.=! social, um possivel state of affairs (nao prescreve que se deve nascer, 7am Pi 7 (ndo prescreve 3 mt te A ~ morrer, ou qué 6 fruto deve cair da arvore em terreno vizinho,ougue 4, 24> 9 curso dé rio tem a igo de se desviar de seu lela), podemos chamar essa proposicao de descritar descriptor), A segunda, que estarui arelagio deéntica, essa sim, de prescritor (pracseriptor). Ora, essa estrutura dual da proposicao normativa representa a correspondéncia, em plano formal, da constituigéo do objero, termo BX Te Hinand 185 Aa perpen abt ee Esenrros Jurioicos « Fr.esoricos, Yok 2 de referéncia da forma légica. A proposigio consta de um desctitor — a hipétese que descreve um possivel fato do mundo, uma ocorréncia fac tual possivel, euma relacio dedntica entre sujeitos de agdes ou omissies, como prescritor, para refletir, em linguagem Idgica, 0 que se passa no tuniverso dos objetos. Para a economia interna do sistema Idgico, legi- tima-se por fora de consideragio encerrar entre parénteses tal uni- verso, Mas retomamos o problema quando saimos da érbita do formal ¢ fazemos metaldgica, a titulo de filosofia da légica. O ponto de partida & sempre, a experiéncia da linguagem do direito positivo Ce a expe- Finca da linguagera com que 2 Ciéncia-do-Direito procede para conhecer 0 direito). Que o descritor (a prétese ou hipdtese) carega de valor veritative, como © carece 0 prescritor (a conseqiiéncia ou tese), reside na narureza das coisas. A hipétese, que tem a fungao de deseritor, € serificada ou néo-verificada, Norma cuja hipétese nao se dé.ainda.ou entiio nko miais se d8, por se ter verificado jé e ser insusceptivel derepe- tigdo — »g., disposigdes transitérias de uma Constituicio, lei feira para um fato tinico que jd se consumiu —, como normas cuja hipétese jamais se tenha dado, dela nio se dird que é falsa. Assim, também norma cuja tese com funcio de prescritor deixe de ser cumprida pelos sujcitos des- Tnarkrios, ou decaplicada pelos sujeitos-orgios aplicadores de normas Srgios de entes privados ou piblicos —, dela nd se dirh que é falsa- Averificagio ea nio-verificagio, o cumprimento ¢ o descumprimento a aplicacao ¢ a inaplicacho, sip valéncias diferentes das valéncias veri- tarivar (verdade/falsidade) ¢ correspondem 4 textura especifica do universo-objeto das proposicdes do direito positivo, de que as propo- sigdes ldgicas representam as contrapartidas formalizadas. Estruturs DEONTICA E SITUAGAO OBJETIVA Onde se vé patentemente a tradugio em forma Iégiea da situacio obje- tiva, correlato da norma, é no prescritor (observe se, quando se fala cin descritor ¢ presoritor alude-se 2 fungio denotativa on semantica; quando se fala em hipdtese e consegiitncia, alude-se 8 fungi sintdtica das partes constituintes da proposicio juridica). Formalizada a proposiglo normativa, temos, como jé dissemos, uma relagio entre variaveis. Sim- bolicamente, x,y, ou RG, y). A formula kelsenigna + ” (Kelsen, General theory of law and state, p. 46) é cliptica. Qualude ape- nas ao vinculo interproposicional, sendo “A” ¢ “BY proposigaes. “A é 186 Lécten Jordnrea uma proposigio descrit do mundo natural ou social da conduta humana, e “B” é uma propo- sigio relacional dedntica, que estatui como devendo-ser relagdo entre 08 sujeitos 8? e 8”. Que 0 estado-de-coisas ja se tenha dado, ou nfo se tena dado ainda, ou jamais se dé, é problema de relagiia eutre o pres~ suposte e a redlidade, © direito, feito com diregio a0 real, no desenha hipétese de impossivel verificacio (“se alguém for ao planeta Marte, entio ganhard o prémio X": essa declaracio unilateral de vontade ¢ ilicita pela impossibilidade factual de seu pressuposto. Mas o ser ilicito ou nulo sho qualidades extralégicas, metaformais). Para 0 exame intraproposicional, temos: “se M é P, entio A deve ser B". (Valermo-nos de letras para simbolizar variaveis um tanto arbitrariamente, oucomo letras iniciais das palavras que funcionam como constantes facticas. “P?, p. ex., para “fato™.) A formula“A deve-ser BY como expressio das ought-propositions,, distintas das is-propositions, sé inclui um opgrador (functor).eduas varldveis. Falta o conective implicacional “se. ento”, Agora, visto que a regra de direito positivo é regra sancionada, para refletir for- malmente essa situacio objetiva, faz falta outra proposigio composta que teaha por hipétese o nio-cumprimento (em sentido geral) de estatuido na tese da primeira proposigio normatiya. Explicitando: se 8” deixa de fazer ou faz o que era um dever ou uma proibicio, entio, S? tem a faculdade ou o dever (e odireito-dever em dircito publico) de exigir a prestagio (para as normas juridicas permissivas, hd o dever correlato de nao impedir, diante do sujeito titular do direito, o facul- tamento de fazer os omitir). Se obtemos a gencralidade formal “deve-ser” e sua expressio simbélica “R", essa generalidade formal, no sentido husserliano, é uma varidvel relacional deéntica. HA necessariamente, para se fazer ldgica +y das proposigées normativas ¢ nao Kegica das proposigdes teoréticas ou | descritivas, uma interpretagio da varidvel “R”: uma interpretagdo deéntica, vinculada ao universo das normas, como ha uma interpretagao teorética ou descritiva na Iégica das proposicdes com valores de verdade ¢falsidade, A variavel RY tem como substituintes as expressOes “estar facultado a”, “ter a obrigacio de" ¢ “estar proibido de”. “R” €0 dever- ser como forma aberta, receptaculo das constants logicas referidas, E uma varidvel cujos valores integram 9 universo ou.g conjunto dosxalo- res modais-deénticos. Onde se apuser,/em senside proprio em uso ( ten ae: ¢, 904 187 "OO 8 pene aed Candee YU ne dene 9 come chan wale h. rd Gh a 1a de possivel situagio objetiva, selecionada Escusros oxiosces pPoséricos, fl. 2 normal, um desses trés functores dednticos, a se tem uma proposicio normativa. Sao particulas operatérias para construir r proposigdes normativas, postas em evidéncia pela andlise forn 0uco importa {" que gramaticalmente a linguagem do dircico positivo use expressdes nao-dednticas. H linguagem nao univoca, e, ainda, uma linguagem- de-objetos, i¢., referente a universes de entidades n3o-légicas, uma linguagem-instrumento, comprometida existencialmente com as coisas que se articulam em cireunstincias do homem. Diremos: “R” é uma variavel deonticamente interpretada ¢ cujos valores sio as constantes, também deonticamente interpretadas, BY, R” eR”. Tais constantes so exaustivas do universo da conduta humana juridicamente regulada. De acordo com esses trés modos dednticos Cobrigatério, permitido ¢ proibide) esto Bobbio e Kalinowski, entre outros. Tudo isto arrima-se no pressuposto de que odos debnticos oor apost sio irredutiveis aos modos alétecos na terminologia de ¥ on Weight. Que anecessidade ea possibilids sde ficticas diferem da necessidade de Cobsi- gatoricdade) ¢ da possibilidade (permissibilidade) normativas ¢ pro- blema requerendo, todavia, ingresso ne campo da ontologia. A andlise puramente formal da questio nio dispde de meios para a decisho inte- gral do tema, O temstico em légica é0 formal, muito embora subjacente ao formal se encontre regitio material (o juridico, p. ex.) ou a regitio pertinente 4 ontologia formal, ocupada com a questio do objeto em geral (objet quelconque). ‘Trrartigio po Untverso pa CoNDUTA © concctivo deve-ser triparte-se em obrigarério (fuzer/nio-fazer), permitido (fazer /nao-fazer) ¢ proibide (fazer/na do universo da conduta humana juridicamente regulada. A relagio’. intersubjetiva — entre sujeitos da ago ou omissio — divide-se exaus- tivamente nessas trés possibilidades, Uma lei oncoldgica de quarta pos: sibilidade excluida diz:a conduta¢ i a sem mais outra possibilidade. Assim, a varidvel relacional deéntica. “RY tem trés ¢ somente trés valores, justamente as constantes operativas obrigatério, permitide e proibido, ou seja, B”, RR". O.madelo, pois, para interpretar a vatidvel R est no plano da “natureza das coisas” Nilo ¢objeto-em-geral de que se fala na logics tout court, mas.o geral do objeto dedntico-juridico, aquele minime eidético especifico do EESQ. 188, Léerca Joniosea do direito. Em outros termos:alingvagem da dgien deGnticado dreito. 3 advém por formalizagio da linguagem do dreito, que se dA na expe- riéncia, Sem 2 experitneia da linguagem do direito positivo, le se tema base Fenomenoligica para se alcangar a generalidade formal cor- ingwagem do direito positive dirige-sea situa sas, na moda. lidade de referéncia que é a dedntica, E um fato a existéncis dodecer, Ser, que podemos identificar em face de outros tipos de existéncia. O. direito é (existe) na modalidade do dever-ser. respondente a essa linguagem, Ea experiéncia posi itwagSes objetivas ou estados-di BrvaLéncis Da Provosi¢io Normativa A partigao do universo da conduta humana juridicamente regulada em trés modos no colide com a tese da bivaléncia da logica deéntica. Quer norma permissiva, quer proibitiva ou obrigatéria, slo pdlidasou dlidas. A lei dorerceiro excluido élei légica;a do quarto exeluido, légica. Uma norma de direita é valida ounio-valida (deacordo com 0 critérios do sistema juridico positive): io propriedades andlogas aos valores veritatives das proposiges descritivas, Em conexio com case fato estd a lei de ndo-contradicio. E « lei légicaa mesma proposigio normativa ndo pode ser simultaneamente valida ¢ nio-vilida: duas Proposicées normativas contraditérias nao podem ser simultaneamen. te validast impede-se a lei de no-contradi¢io; nem simultaneamente ndo-vilidas (impede-se a lei de terceiro exclufdo: nio hd terceiro valor, thas somente dois). Agora, tomar posicio segunda 2 qual na Iépica dedntica no entram os valores vericativos (v Afalsidade) pré- prios das proposigses descritiv: as de situagdes objctivas, mas os valores deSaticos (validade/ndo-validade), importa vi cular as formas légicas, do deéntico com o substrate da realidade da conduta humana juidi camente regulada, realidade da qual fax parte a lingnagem preseritiea em que se expres E certo, podemos formalizar a linguagem das propesiges obri- gatérias, permissivas ¢ proibitivas e operar com os trés valores, dando emt resultado uma légica trivalente, que éa formalizacao das trés possi- bilidades normativas da conduta inserida no interior do universe do dircito. Ainda assim, seré uma Idgica fandada na ¢ rutura dedntica do objeto juridico, a ibgica onrologicamente construida, ou fundada 8a ontologia da conduta humana juridicamente ordenada. 189 at Escarros Junipieos x Frrosémtcos, tof 2 Vatores Lécicos £ Mopos-DE-REFERENCIA ORJETIVA “Tomamos as proposigdes normativas como subclasse dos ates objert- yantes, na concepsio husserliana. A proposigao normativa prescreve sma relacdo abjetiva, sem inclusio do ato subjerivo em que cla ¢ apreendida ou consiruida. Desnecessario enunciar: “eu quero que A deva ser BY. Essa proposi¢io compesta pode ser encarada quanto 20 critério da ver- dade. Sera verdadeira se efetivamente hi o ato subjacente de um sujeito que quer a proposigio “A deve-ser BY. A existéucia do ato confirma ou verifica 0 valor veritativo do enunciado total, Mag a proposigio em si mesma, como proposigdo deéntica, é, objetivamente, ponente de um contetido objetivo — a relacio dedntica —, tio objetivante como uma proposicéo descritiva de objetos. A diferenga reside no modo.de-refe- réncia ao objeto, no tipo de ponéncia de contetido objetivo. Mas ambas sio formas objetivas de sintese, Vertidas em linguagem. Tanto posso considerar o enunciado “eu penso, quero, desejo que S seja P”, inclu @ ato subjetivo, quando tomar a proposicio “S ¢ P’por si mesma. A diferenga reside no modo-de-referéncia ¢ no fato de que a propasicio deseritiva pode ser verdadeira e falsa, ela mesma, a proposigio descri- tiva, também depreende-se dos atos de pensar, querer desejar. Dizendo-o em termos desemistica, adiferengacatreemunciados 3 prescritivos e enunciados descritivos reside nos functores constituintes de normas Gintaxe), presentes na estrutura formal da proposigio prescritiva, narelaga o objeto (semantica) ¢ no uso.ou fimaatin= gir entre os utentes (pragmavica) da linguagem. Mas uma. outra classe de proposigdes tom palores, positives ou negativor. Validade/udo-validade, verdade/falsidade, sao tais valores simetricamente opostos. ainda que diversos os modos-de-referéncia, as proposigbes prescritivas e descritivas sio susceptiveis de ser tomadas em seus valor como meros valores, independence: te de sua relagao denotacional com 6s fatos ¢ situacées objetivas. Quer inda que fenomeno- logicamente seja irredutivel a modalidade deéntica do proibir, obrigar e permitir A modalidade alérica do verdadeiro ¢ do falso, ou amoda- < lidade epistemolégica do verificado au nig-verificado, as proposigdes, quando formalizadas logicamente, ingressam como entidades portadoras, de valores positives ou negativos (para ficarmos numa légica bivalente) ¢ eujos simbolos podem ser “4"/“0?/“¥"/4E". Esse simbolismo, aparentemente desticuido de vinculo com 0 objeto (0 tipo éntico do 190 LiSotea Joamecs objeto, swbppositum da proposicio), enche-se de um minimo de sig- nificado, quando o interpreta, estabelecendo-se a relagao entre o simbolismo ¢ 0 universo-de-objetos. Tais signos nao sio meros sinais— indices, ou sinais-icdnicos: sio simbolos (Charles Sander Peirce, Ele- ments of logic, v.11, p. 143). Sem correlacionar “1” € “0” com os concei- tos de verdade/falsidade, validade/nao-validade, o manejo operatério de varidveis proposicionais em matrizes bivalentes nfo passa de um cAlculo puro, 4 espera da interpretagio que converta os signos do calcul em simbolos de uma finguagem Cuma linguagem, mesmo formal, diz algo de algo). COMPORTAMENTO SINTATICO DOS VALORES Valores de proposicées normativas, como a validade ¢ a ndo-validade, ingressam no ambito sintatico Clogi -formal) como meros sinais positives ou_negativos das proy 08 ‘Ges. Estes conceitos contrapostos rém conotacio axis 16, conotacio especifica no dominio do direito positivo, objeto do conhecimento. dogmiatico. Nao se reduzem a simples valéncias positivas e negativas que afetem enunciados. Mas, sob o ponto de vista analftico-formal (sintdrico), importa que as normas sejam as significagées das proposigées ¢ as proposigées tenham valores susceptiveis de serem formalizados no interior de um calculo (com. minimo de interpretacio). Satisfaz essa exigincia de formalizagio e de combinatoria formal se ha valores mutuamente excludentes ¢ exaustivos: uma proposicdo normativa tem dois ¢ somente dois valores; nao pode ter simultaneamente os dois valores, que sio opostos sime- tricamente; nem pode deixar de ter um dos valores. Se ha dois ¢ somente dois valores, rege-se pela lei légica do terceiro excluido; se ni pode ter ao mesmo terapo os dois valores, rege-se também pela Lei ldgica de nio-contradigio. S¢ partirmos do pressuposto de : que ha dois ¢ s fe somente dois valores (légica dedntica bivalente), entio nenhuma proposicio normativa éadiafora, indiferenre a um dos valores, qua ambos. Salvo a expresso com functores normativos ¢ constantes interpretados nor- mativamente, que se encontrem na drea do sem-sentido, ow a expressio construida somente com sincategoremas (com quantificadores functores dednticos, sem variaveis-de-sujeito ¢ variaveis-de-fatos ¢ condutas), ou construidas infringindo as categorias sinréticas ¢ em- prego nos seus lugares (tépicos) adequados, estas sio indiferentes 4 191 Au Jets bee Eeensvos Josioicos x Fr.oxO7t008, Fal? validade e & néo-validade. Seri o campo de gramatica ldgica-pura (ou logico-deéntica-pura) equivalente ao dominio da proposicao teorética. Assim, como no campo da gramatica légica-pura proposigao teorética ou descritiva nem é verdadeira nem falsa, mas carece de sentido, ¢ um sem -sentide, ou outem tem sentid assim, paralelamente, no }o campo gramatica ilida, nema 1: dominio das well-formed formulas, ou ou das zudaessigen Formeln. Nao assim, é éde advertir, com H a Husserl, © contra-sentido Canalitico ou mate- valida; é um sem-sentido ou um sentido, Nao pertence o sem-sentido ao ficador "ido" posto no interior da eatrururs, ou prefitcando-a. Perma- nece ium sein” sentido apesar da negagio. Q que ocorre diferentemente verte-seem verdadeira ou-em vélida, conforme a proposicio percenga a0 campo apofantico ou a0 campo deéntice. O contra-sentido ¢ uma 7, crutura sintatica , por isso mutavel sua valéncia coma poh i presenga da negacio proportional © contra-sentido é o necessaria- rea . mente falso, ow o necessariamente invatido em virtude de mera relagdo 7 formal, Ora, a expressao que tem valéncia “F” ou n3o-V converte-se_-# ‘no oposte contraditério com o ingresso do negador: niio-F equivale A 4 verdade, nio — (nio-V) —a ndo-validade deéntica — converte-seemV¥ ag?” — validade deéntica. Falta-nos explicitamente osimbolismocorrespon- dente aos dois dominios, 0 do apofintico e 0 do deéntico. Mas nao ha * ambigitidade com a explicitagio que oferecemos. Uma Lécica DeOnrica TRIVALENTE Talvez pudéssemos tomar em conta que as proposi¢ées normativas dividem o universo da conduta humana, juridicamente regulada, na triplice modalidade do proibido, do obrigatério e do permitido. Esses so o: trés possiveis modos-de-referéncia da proposicio dedntica 20 seu objetor é sua dimensio semAntica, a relacao da proposigio, como * simbolo, com 0 objeto denotado. Poderamos abstrair desta relagio denoracional (triadica, porque envolve simbolo — significagio — objeto ou situagio objetiva), Jd dissemos que,as valéncias validade/ndo- validade sio propriedades iereduelveis aos trés modos-de-referéncia ¢ conto: uma proposigao normativa proibitiva obrigatoria ou permissiva va pode ser vélida. A validade ou 192 a nio-validade nio di i jodo-de-referéncia, mas ao prd~ ito Hatus ontolégics, a existéncia mesma da propos como observa Von Wright, Todavia, cortando-se o aspecto semAntico referencial da pro- posigao juridica, nada impede o tratamento sintatico dos valores mo- dais, Daria lugar a um céleulo Cnormativamente interpretado) formal trivalente, no pressuposto de que os trés modos sejam irredutiveis ou mutuamente excludentes e exaustivos das possibilidades modais~ dednticas de ordenar a conduta humana."Para o tratamento sintatico) 4- — posto em paréntese o aspecto semAntico — os modos sio meros valores de propesicée vas, aptos a entrarem na combinatéria formal Toalecendo alewUgieas Assim, p. ex., verificar-se-iam que relagdes formais advém do functor nominal “nfo” prefixado aos valores O Cobrigatorio), P (proibide) e F (facultado ou permitido). Von Wright, entre outros, ven explorando tais investigacdes. Capitulo ¥ Funcrones APorANTicos & FUNCTORES DEONTICOS No nos referimos aos jd mencionados do proibido, obrigatério ¢ pes mitido, fanctores especificados da forma genérica “dever-ser”, mas 3s particulas que na légica apofantica tém o papel de functores veritativos . GG, ou se = envio). Emprega-os a légica das proposigées normativas X. para obter proposigdes compostas (moleculares). Mas sem se obter com clas fungdes-de-verdade: as proposigéies normativas carecem de valores veritativos (que Von Wright admitiuem 4n essay in modal logice recusou posteriormente). Mas 0 comportamento desses sincategoremas verita- tivos, na combinagio de proposigdes normativas, é paralelo ou equiva- lente quando eles sio aplicados as proposigdes dotadas de truth-values. Parece-nos que o comportamento formal (sintitico) dessas particulas operatérias éum 56, A interpretacio das estruturas sinsdticas, em fungio dos universos-de-objetos, € que introduz modelos diferentes: no caso do direito, a linguagem com que o direito se apresenta e a linguagem com que a ciéncia do direito busca o conhecimento do direito, uma de cujas capas integrantes ¢ a linguagem. Por isso, /inguagem do direito” objeto, Hinguagem do conhecimento dodireito-objeto ¢ lingnagem formalizada a légica, ainda que em planos diversos, sio trés aspecros de uma relagio 193 ‘Bsenrros Joninicos ® Frosiricos, ol, 2 fundamental: a relagao da linguagem com os objetos, ov com o.unic.. verso, dentro do qual a propria relagio sujeito/objeto é integrante desse universo. UNIDADE E PLURALIDADE DO Locos Se é um dado da experiéncia que eu me encontre com lingnagens dif rentes, vinculadas com modos-de-referéncia diversas 4s distins regides-de-objetos, cada linguagem com sua estrutura sintética ¢ sua relacgdo semintica irredutivel, entio ha s légica do apofintico e a ldgica do dedntico. Mas, comotespécist do) Ginerd gist) tem de haver um nécleo ein minimo comum, 9 ponto de intersecgao de onde partem os sistemas. ‘para serem sistemas ligicos. Algo assim como a mathesis universalis husserliana, pono de origem de duas linhas fundamentais: a légica formal e a ontologia formal (teoria fomal-apriorea doh) gia formal antoaligssapaosen quanioa ligica debucica..Amibas aprésentam.1¢ como formalizagio de iiscurso ou Tiiguapens }formalizagio porenciadis pelo emprege do algoritme [ogico (simbdlica). Mas ambas sio légicas porque, com base +, numa linguagem-de-objetos, alcangam mettre en forme as estruturas » sintdvicas reduzidas a varidvels e a constantes (os functores veritativos, 0s functores-de-validade — no dominio do normative — ¢ os ope- radores quantificacionais). Se se toma por assente que existe tanto 2 logica das proposicdes teoréricas quanto a ldgica das proposigées nor- jativas ¢ porque ambas sho formalizacies do discurso ou da linguagem ¢-cmambas se encontram as leis que dizem respeito tio-so as estruturas formais, ou leis que diretamente nada dizem sobre objetos de uma especifica repido ou dominio. Dizem como se fala (formalmente) sobre objetos, inclusive — em nivel sobreproposicional ou de metalinguagem — sobre os objetos ldgicos. © ponte de comum convergéncia reside na sintaxe (¢, em nivel. de metalinguagem, oa metassintaxc). Podemos * considerar a sintaxe pondo entre parénteses merddicas_a_dimensio semintica da linguagem, que ¢ responsavel pela diferenca entr tura sintatica apofantica ¢ estrutura sintatica dedatica. Ora, ainda que. semintica no se confunda com ontolggia, hi um minimo da estrucura ‘na extrytura formalizada, ou um mainimo da onte- ‘da Iégica formal, Aquele “objeto qualquer”, 0 “objeto em geral”, a “siruacdo objetiva’, estd contido no desigarum da forma div eS Nee Beee. als Le ae 8 AR fe ak gyba deine ak PDD. fe SHA ae Oe “ ' Pinal Loses Jonfouca logica (¢ impossivel operar com classes — ou conjuntos — sem aludir a elementos, partes, entidades , £4, objeros-elementos da classe; dis- tinguir as variéveis “p” “q” sem aludir a siruagdes objetivas: algo é age, algo esti em relacio com algo; a varidvel “X" de uma fungio Proposicional alude a objetos de um domfnio dentro do qual a variével tira valores para satisfazer a fungio e converté-la cm proposicio com valor veritativo definido). Pois bem. Se as duas referidas légicas sio teorias formais da lin- guagem dos enunciados descritivos e dos enunciados prescritives e se diferem pelo modo-de-referéncia (dimensie semintica) aos objetos ¢ situagées objetivas, ha que procurar se o micleo conmum reduzido se encontra na sintaxe. Podemos tomar por modelo de interpretagio a sintaxe husserliana, como hipétese de trabalho. Podem-se reduzir todas as sintaxes a uma 96 [a sintaxe apoffntica (alética) das proposigdes sescritivas], on manter duas sintaxes Fundamenrais, a aléticae a modal- dedntica. Ou mais ainda. Opremos pela via temética da fenomenclogi Maior desenvolvimento ultrapassa o limite deste trabalho. OENCONTRO Na GRAMATICA PURA E certo que a andlise fenomenoldgica opera tendo por modelo as pro-* posighes deseritivas de objetividades (objetividades reais e ideais). Por 'ss0, quando coloca fora de tema a conseqiiéneia — (9 ser-implicado) cos valores-de-verdade — para isolar somente o gramatical puro, 0.4 ss de significado — tem em vista as pro- posigSes teoréticas ou as nio-dednticas. $6 provisoriamente deixam de ser fim temdtico a verdade e a falsidade das proposices, mas para elas se encaminhaa investigacio, detida no estgio do mero ter sentido ou do carecer de sentido. A proposigio teorérica é 0 indice temdtico, ° sentido (Sinn) ¢ 0 sem-sentido (Unsinn) 86 s¢ encontram no campo das proposigges. E desde que a fenomenologia advertindo a estrutura formal das proposigées normativas regride as proposigées descritivas de valor, se nao reduz aquelas a estas, as toma como fandantes, As Proposicdes com predicado axioldgico (“x é um bom guerreiro”) sio susceptiveis de verdade ow niio-verdade. O critério de verdade reside nos valores: sio verdadeiras as proposigdes que concordam com os valores positivos (o bem, o bom, a justo); falsas as que se desviam desses pardmetros, Isto € 0 que implicitamente se deduz da tese fenome- nolégica, cremos. 195 Eeenttos jonipicor = Furoséricus, Fok 2 Ora, no nivel meramence sinrdtico ou gramatical puro de Husserl, ha sentido € =sentido onde houxer linguagem. Em rigor, onde as significagdes so depositadas, Como a linguagem ¢ 0 tapos dos significades, 93 valores sintdticossentide/seu-sentidesd acorrem num universo de linguagem. A linguagem normativa é uma das espécies de linguagem, uma de cujas subespécies ¢ a do divcito positive. Enedo. é possivel, unicamente tendo em conta as regras de construgao sintatico- formal, incorrer numa formasio.com sentido ou numa sem-sentido. Unicamente tendo em conta as categorias sintaticas de significagio, nio podem colocar ema qualquer Ingar ou em qualquer ordem as cate~ gorss sintdticas de sujeito, atributo, predicado, relaglo, operador. Hd A, estrururas que exigem certas categorias.como minimo necessario_¢ suficiente para serom estrururas.de proposicio, estrururas de descrigio ou estruturas de significagdes complexas nio-judicativas (no- proposicionais). E vudo isto antes de se decidir sobre a verdade ou no- verdade, e sobre a validade da conseqiténcia, i¢, do ser conseqiiéncia ou contra-conseqiiéncia (Husserl, Logigue formelle et logique trans- cendantale, p. 71-79). Diremos: com. um sincategorema apenas (estar obrigado a", “ter direito a”, “ndo poder fazer”; modalizagies. cional déontico “dever-ser™) nio see sinthtico-nor- matiya. :Também, como 0 sincategore! Um ExempLo pe Repugio Escolhemosa tese de que as proposicde encontram as normas do direito positivo) diferem das descritivas neds. clarativas ou teoréti¢as) pelo modo-de-refer semAntico) ¢ pela estrurura sinsética, muito embora na sim ar ponto de encontro de todas as logicas, seja possivel sratar as proposicées como entidades doradas de valores positivos ¢ valores nega antes de interpretar tais valores especificadamente como lores. yeritatives ¢ valores-de-normas. O fundamento dessa sintaxe é a existéncia de linguagens que sio formalizadas na linguagem de nivel superior, a metalinguagem dessaslinguagens-objeto, justamente a sintaxe ldgica. Ora, dizer qu fio descriti riva ou ums proposi ‘do prescritiva tém valores “I” ou “O” importa sum. imo de interpretacgaa: so 196 Léerea eninica Himboles com algum significado, © significada minimo de valer posi- tivamente ¢ valer negativamente, conferido convencionalmente por uma linguagem que fala acerca deentidader (os objetos sintaticos), par sana linguagem ndo-formalizada, Por essa via, terminariam os ingres~ sando no campo da filesofia da logica (como o fez Husserl), ultra- passando a sintaxe légica em sentido estrito, # possivel, todavia, escolher outra tese, tal como o fez Schreiber, Argumenta Schreiber: tanto na proposicio descritiva (indicativa) quanto na normativa h4 um niicleo homogénco, que é a descrigio de situagio objetiva do mundo. A diferenga reside nos prefixos. Num caso, diz-se “éverdadeiro que A paga a B”; no outro, “é juridicamente devi- do que A paga a B”. Formalizando, o micleo dé a estrutura relacional “RG, b, p)”. Os simbolos, no interior dos parénteses, interpretam-se, respectivamente, sujeito-credor, sujeito-deveder e prestaco. Tem-s¢ ‘uma relagio triddica. Se simbolizamos os prefixos ‘“é verdadeiro que” por “¥” e “é juridicamente devido” por “N”, teremos as formas sin- taticas “W/R(a, b, p)”/ ¢ “N/R(a, b, p)”. Esse nucleo on conteado comum leva 4 “tese da descrigio” que reza: as proposigdes normativas podem ser reduzidas a proposicées indicativas. Unicamente 0 modus Crechtens, nicht rechtens), ou seja, os functores antefixes mostram diferenga. Agora, ainda seguindo Schreiber, o comportamento dos valores numa e noutra classe de proposigdes ¢ isomérfico, o que facil- mente se comprova mediante as matrizes. Matrizer veritativas e matri- zer-de-valores (permita-se denominar assim) mostram que as fungdes logicas, ocorrentes no cdlculo combinatério (mediante os conectivos ou sincategoremas), num e no outro campo de proposigées, apresen- tam-se com a mesma estrutura formal. Mas, acrescentamos, o isomor- fismo existe porque se faz a redugio sinthtica, pondo-se entre parénteses as diferengas seminticas, ou, em léxico fenomenoldgico, as diferengas provenientes do modo-de-ser dos objetos (de suas ontologias regio- nais). A teoria de Schreiber repousa sobre a climinagio dessa dimensi0 semidtica que é a relagdo da linguagem com a realidade (Schreiber, Logik des Rechts, p. 14-29 ¢ 63-66). CoMENTARIO sopRE A TEsE DA RepugiO Essa teoria de Schreiber apresenta pontos comuns com a de Ross, AS cliusulas “é de direito” (es ist rechtens) € “assim deve sex” Cro it must 197 Escarros Jonioicos Froséricos, £42 be), “6 verdadeiro” (es ist wabr) ¢ “assim & (so it if) antepostas ow posposras a um enunciado descritivo sio equivalentes nos dois grandes Idgicos mencionados (Schreiber, Logit des Rechts, p. 24-32; A. Ross, Logica de las normas, p. #1-44 ¢ 98-100). S40 modificadores ou ope- radores diferentes, incidindo sobre um conteude de significagio comum., Esquematicamente, formulamos assim: “(VW e“(_ JD”, No interior dos parénteses, esto alojadas estruturas formais idénti- cas, os enunciados descritivos. Parece-nos que essa estrutura sintatica nio ¢ 0 correspondente formalizado da linguagem das proposigdes normativas do direito posi- tivo. Nesras, hd parte on membro que descreve possivel ocorréncia no mundo, uma possivel modificagio ou aparigao de situagio objetiva. Esse membro da norma que descreve é a hipétese (antecedente, pres— suposto, procase, como se denomine). A possibilidade, inserida na hipétese, é a modalidade factica, o ontologicamente possivel. Nioéa possibilidade normativa — o poder fazer ou o poder omitir, juri- dicamente estaruido. Se o fosse, faltaria sentido quando na hipotese se fizesse referéncia a fates naturais, casualmente inter-relacionados. Inexiste possibilidade xormativa de um instrumento cair sobre tran- seunte diante de edificio em construgio. O descritor, que éa hipdtese, enuncia “se ocorrer o fato F (evento natural ou conduta humana, ou siruagio juridicamente j4 qualificada que foi tida relevante para a composigio do fata juridica) ..”. © modo deéntico da possibilidade equivale & permissio licita de ago ou de omissio, 4 autorizagio para fazer ou deixar de fazer. Isso, evidentemente, nio se predica de faro fisico ou, melhor, de fato natural, Por outro lado, quando no plano do real se-verifica a situagio objetiva deserita na hipdtese, a hipotese no adquire o valor-de-verdade. Também se nenbum fatodarealidade vier a corresponder a0 esquema di ado na na hipétese, esta nfo se carac- , véiiza come falsa. No deseritor da norma inexise juiso-de-realidade oH iris er subsistente. A proposicio normativa em seu todo — constiuinte de hipdtese e d posigio ou conseginela -{ ¢ vdlida antes de sitmagio objetiva con- firmar oque est delineado na hipétese. Assim, vale a norma cuja inci~ yi déncia ficou protraida: vale, i¢,, existe no sistema normative, mas “entra em vigor” posteriormente. E continua a valer se ocorrendo a situagio fictica deixou de se verificar o preceituado na consequéncia, quer dizer, na ordem existencial 0 sujeito concreto do dever deixou de 198 Logica funioics waz portador do direiro deixou de exercé-lo, A nio-ocor- te 4 hipdrese ou a 2 inobservincia do que do que a eamepromuerer o valer da hipatese c 0 valer da conseqiiéncia, Q-valer de ou outra corta-se com outra norma valida (que pode tomar a inefetividade como fato juridico desconstitutivo de norma aré ento valida: assim no desuso, no uso contra lei). Fencio Descrrtiva Da HirOTESE Quando dizemos ques hipétese da proposicio normativa descreye uma siruagio objeriva de possivel realizacio, tipificande o factico existencial de‘ocorréncia possivel — e, por isso, diferentemente da conseqiiéncia queé prescritiva, €odescritor—, a confirmacio na ordem do real. parece convalidar veritativamente esse membro da proposicgio normativa. Veja-se, porem n, que nao temas nela a descrigio do fato de ocorréncia possivel, cor na proposiclo empirica ou numa proposicao cientifica. A proposicao cientifica nao transporta, é certo, para o plano do conhe- cimento a totalidade das propriedades dos fatos, objetos ou situagées objecivas. Quer nas ciéncias reais-naturais, quer nas ciéncias reais-cul- turais, como demonstrou Rickert. O conceito é seletor de propriedades, segundo 0 critério que preside a investigagio, No campo do dircito, a hipétese é a éa qualificacio normativa da factico. Com maior liberdade de selesio que nas proposigdes empiricas que ficam regidas pelo objeto, tendo em vista 0 conhecimento do objeto. O conhecimento cientifico do mundo fisico e do mundo social-cultural nao é reproducio de fatos, mas construcae racional com apoic nos dados-de-fato. A qualificaco normativa do factico, que ahipotesed da 2 proposigae < do direito imprime, é alguma coisa que o fato, como fato, nio teria sem essa sa qualificagio. #0 fato se torna faro juridico porque ingressa no univ: do-direito por meio da abertura que esta na, hipotese. E Eo que presided selegao das notas relevantes, que entram nesse universo, eo que deter- mina a construgio do fato como juridico é feito mediante ato-de- valoragio, Valora-se, como mostra Kail Hagisch (Einfuebrang in die juristische Denken, p. 27 ¢ ss.), 0 fato bioldgico de ser humane concebi- do, de nascer, dealcangar certa idade e, por isso, o fato natural se torna substrato de qualificagio juridica, O fato natural da contanguitnidade 199 * ea Lowes Janine cumpri-lo, ou 0 portador do direito deixou de exercé-lo. A ndo-ocor- réncia do fato correspondente hipétete ou a inobservincia do que a Preceitua no membro dispositive da norma juridica completa acon- cece no plano da concregio existencial, no.nivel da efetividade, sem comprometer o valer da hipdtese ¢ 0 valer da conseqiiéncia. Qvaler de ‘om outra norma valida (que pode tomar a inefetividade como fato juridico desconstitutive de norma até entio valida: assim no desuso, no uso contra lei). Fungio Dzscritiva Da HiIpOTESE Quando dizemos quea hipétese da proposigéo normativa descr situagio objetiva de possivel realizagho, tipificando 0 factico existencial de ocorréncia possivel — ¢, por isso, diferencemente da conseqiténcia que ¢ prescritiva, ¢ 0 descritor —, a confirmacio na ordem do real parece convalidar veritativamente esse membro da proposi¢o normati Veja-se, porém, que nao temos nela a descricio do fato de ocorrénci possivel, como uma proposicio empirica ou numa proposicio cientifica, Kproposicio cientifica nio transporta, é certo, para o plano do conhe- cimento a totalidade das propriedades dos fatos, objetos ou siruagdes objetivas. Quer nas ciducias reais-narurais, quer nas ciéncias reais-cul- turais, como demonstrou Rickert. O conceito éseletor de propriedades, segundo o critério que preside a investigacio. No campo do direito, a hipétese é a qualificagio normativa do fSctico. Com maior liberdade de selegio que nas proposigles emupiricas que ficam regidas pelo objeto, tendo em vista o conbecimento do objeto. O conhecimento cientifico do mundo fisico e do mundo social-cultural nao é reprodugio de fatos, mas construcio racional com apoio nos dados-de-fato. A qualificagio normativa do fictico, que a hipétese da proposigio do dreito imprime, é algama coisa que o fato, como fato, nao teria sem essa qualificagao. Dizemos: 0 fato se torna fato juridi porque ingressa no unive do-direito por meis da abertura que esté na hipdtese. H o que preside 3 selegio das notas relevantes, que entram nesse universo, ¢ 0 que deter- mina a construgio do fato como juridico é feito mediante ato-de- valoragio. Valora-se, como mostra Kail Engisch (Einfuebrung in die juristische Denken, p. 27 €8s.), 0 fato biologico de ser humano concebi- do, de nascer, de alcangar certa idade ¢, por isso, o fato narural se corna substrato de qualificagio juridica. © fato natural da consangitinidade 199 * Esonrras Juaioieas s Frosémteos, Fo? niio entra todo, em sua inteireza bioldgica, como hipétese para se converter em parentesco, que é relacio normativa. Observa Pontes de Miranda que do suporte factual, do fato que esti:no mundo, “ao entra, sempre, todo ele. As mais das vezes, despe-se de aparéncias, de cir- cunstincias, de que o direito abstraiu; ¢ outras vezes se veste de apa~ réncias, de formalismo, ou se reveste de certas circunstancias, fisica~ mente estranhas a ele, para poder entrar no mundo juridico. A prépria morte nio é fato que entre nu, em sua rudeza, em sua definitividade no mundo juridico ,,.” (Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, 1.1, p. 20). i Arealidade subjacente As hipéteses normativas entra, pois, den- : quadros tipificados que isolam de fato.taral o axiologicamente ante para o sistema juridico. E por mais que o direite procure se adequar i realidade, nunca o consegue, observa ainda Engisch. Entio, a hipbtese, que ¢ propasicde descritiva de situacde objetiva posstvel) é cont “trucdo valorarivamente recidg(com dados-de-fato em grande porcio), \ incident, na realidade, ¢ nao coincidente com a realidade /Falca- Ihe, por conseguinte, o status, semantico de eaunciade veritativo (verdadeiro ou falso). Tem ela, digamos, valéncia. Vale ¢ seus valores siio ligados idente, Valer e ndo-valer so propriedades da hips- tese ¢ da conseqiiéncia, ¢ da proposigio normativa em sua bimembri- dade constituti aos valores do conse: INGRESSO EM DoMiNio Nio-FORMAL ‘Toda andlise logica é, necessariamente, formal] A légica juridica, como teoria formal dalinguagem juridica (do dircito positive), nig se iden- tifica, é evidente, coma teoria do direito oucom ateoria geral do direito ‘ou com a ontologia do E analitica do formal, que se obrém por suspensio da atitude natural que toma a linguagem (¢ o logos na linguagem inserido) como instrumento de atuagio no mundo circundante. E suficiente entrar em pouco mais além do formal que estanaprétere — membro sintatico da proposicio juridica para despontarem valores metaldgicosi.os atas- de-valoragio que selecionamobjetos ¢ propriedade-de-~objetas do 9 meramente factual em fato juridicamente releyante, trazendo esse substrata para o universo-do-direito. Ainda encontrariamos valores metaldgicos no interior da proposigao-pres- mundo, convs 200 . of Léatea Juaforen critiva, na apédose, o outro membro sintatico da proposi¢io juridica, O modal-deéntico, que formalmente é um relacional indiferente a valores extralégicos, ¢ forma aberta para se encher da concrecao que as “rela- ges da vida” CE. Berti, Teoria del negocio juridico, p. 3), oferta em sua incomparivel riqueza. Por isso, o direito em sua kstrutiifalintegral 6 apenas forma, O formalisma, além do campo légico, élogicismo. Quer na feitura das proposicSes juridicas, quer em sua aplicagdo i concrecio da vida, hd intencionalidade objetiva e referencia a valores (nao meras valéncias légicas que entrama nas formas sintdcicas). Deve-ser o que € Positive para um ato-de-valoracio endo deve-ser o queé negativo para outro ato-de-valoragio. © vinculo entre hipdrese e consequéncia, que x. 20 plano analitico-formal é meza relagéo implicacional,, na proposigio do direito positive ¢ nexe axiologicamente estaruido. Tudo isso explica por que na construcao do dircito ¢ na aplicagio do direito a ldgica seja i t a légica oque é extraldgico: oconcetido Se — a referéncia a fatos do mundo e a valores que procur: realizar~ / “A Togica material que exige Siches (Filosofia del derecho, p. 642) ¥ vai além da analitica das formas: é a \égica-instrumento com que trabalha 0 jurista tedrico ou prético, cujo objetive no ¢ fazer ldgica, mas relacionar o logos coma oncrecac para onde se dirige o direito, como insirimento cultural destinado estabelecer um tipo de ordenacio na vida humana coleriva, Essa atitude recrovertida (a reflescio husserliana) para ologos, pondo entre parén- teses metédicos a existéncia mesma dos fatos e dos valores (axiolégi- cos, digamos), niio foi nem pode ser a atitude dos juristas com senso da realidade. Foi teorizagio, excesso racionalista, cujo fundo subjacente © socidlogo sabe descobrir. E descobrir como ideologia que quer sc confundir com ciéncia, falsa cousciéncia que Kelsen implacavelmente sempre denunciou. 201

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