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Critica 2de Margo de 2004 Etica Menu Argumentos sobre o aborto Pedro Madeira Em cada uma das quatro primeiras secgdes menciono um mau argumento usado pelos defensores da legalizagao do aborto e um mau argumento usado pelos opositores da legaliza¢gao do aborto. Tento fornecer uma analise tanto quanto possivel imparcial de todos os argumentos, de modo a que nao seja possivel perceber-se qual é a minha posi¢ao acerca do assunto. Nas trés secgdes seguintes digo onde me situo no debate acerca da legalizagao do aborto e argumento a favor da minha posi¢ao. 1. Os argumentos da inevitabilidade e da dignidade Comecemos entao por analisar dois maus argumentos frequentemente apresentados em Portugal. O primeiro é a favor da legalizagao do aborto; o segundo é contra. Primeiro, temos o argumento de que continuarao a ser realizados abortos, quer o aborto seja descriminalizado ou nao, pelo que mais vale descriminalizar e, deste modo, fornecer melhores condigdes as mulheres que desejem abortar. A resposta ébvia ao argumento é: roubar é crime, mas ha roubos na mesma. Por isso, o melhor é descriminalizar 0 roubo e, hitpyerticanarede.comjabortot him! wan oayroj2016 Argumentos sobre oaborto deste modo, fornecer melhores condigées aos pobres ladrées, para que nao rasguem as calgas no arame farpado nem incorram no risco de tropegar e partir uma perna quando fogem da policia. A resposta sera, obviamente: “estas a ser tremendamente injusto — o aborto e 0 roubo sao coisas completamente diferentes”. Mas é claro que sao; ninguém esta a dizer o contrarit . O ponto é simplesmente o de que, se achamos que 0 argumento de que “as pessoas fa-lo-iam na mesma” nao é, por si so, justificagao suficiente para descriminalizar o roubo, entao também nao podera ser, por si sd, justificagao suficiente para descriminalizar 0 que quer que seja, aborto incluido. Aquilo que se passa é que, ao usar este argumento de que “as pessoas fa-lo-iam na mesma’, os defensores da legalizagao do aborto estao implicitamente a partir do principio de que o roubo é eticamente incorrecto, ao passo que o aborto, se nao eticamente correcto, sera, pelo menos, eticamente permissivel. Assim que nos apercebemos disto, vé-se claramente que, ao usar o argumento de que “as pessoas fa-lo-iam na mesma” para tentar justificar a legalizagao do aborto, os defensores da legalizagao estao, pura e simplesmente, a fugir 4 questao. E frequentemente dito que o aborto é errado “porque vai contra a dignidade da pessoa humana’, ou “por causa da santidade da vida humana”. Este é um daqueles argumentos que me deixam a cogar a cabeca, tentando descobrir 0 que é que alguém podera estar a querer dizer com isto. A interpretagao mais caridosa 6, talvez, a interpretagao religiosa, segundo a qual a Unica coisa que este “argumento” diz é que é atribuida uma alma ao feto no momento da concepg¢ao, pelo que é imoral mata-lo em qualquer momento da gravidez. Este argumento talvez seja suficiente para convencer uma pessoa religiosa de que o aborto é imoral. No entanto, dado o seu caracter religioso, nado é um argumento que possamos usar contra a legalizaco do aborto. (E de notar, de passagem, que a propria ideia de uma alma a ser “atribuida” (por assim dizer) no momento da concepgao é& problematica. Nao estou a falar no problema de saber o que é, hitpyerticanarede.comjabortot him! 2p oayroj2016 Argumentos sobre oaborto supostamente, uma alma, a sua composic¢ao — ja nem vou tao longe. O problema é 0 de que nao ha um momento preciso em que se daa concepgao. Essa é apenas uma ilusao. A fertilizagao é um processo gradual que leva cerca de vinte e duas horas. E dificil perceber em que altura é que a alma supostamente sera “atribuida”.) Uma interpretagao menos caridosa deste argumento diré que, das duas, uma: ou 0 argumento é simplesmente vacuo — 0 opositor da legalizagao consegue pouco mais ao avanga-lo do que aclarar a garganta; ou entao o argumento esta, pura e simplesmente, a fugir a questao e nao ha mais nada a dizer. Dizer que 0 aborto é imoral porque o feto tem dignidade intrinseca, ou coisa que o valha, é um “conversation-stopper”. Vi uma vez um episddio curioso num debate televisivo em que um dos convidados avancgou este argumento, mas vou deixar essa interessante histdria para depois — conta-la-ei na ultima secgao (a oitava). 2. O argumento feminista e 0 apelo ilegitimo as emogées Um mau argumento usado pelos defensores da legalizagao do aborto é o argumento feminista de que o corpo é das mulheres, pelo que as mulheres € que sabem 0 que hao-de fazer com ele. Este argumento limita-se a fugir a questdo porque as feministas nunca chegam a dizer nada acerca do estatuto moral do feto — nunca dizem se 0 feto tem, ou nao, o direito a vida. Esta é uma falha grave pela seguinte razao: Se o argumento das feministas fosse, simplesmente, 0 de que “o corpo é da mulher, a mulher é que sabe o que ha-de fazer com ele”, entdo isso implicaria que seria moralmente permissivel abortar até no nono més. Afinal, no nono més a crianga ainda esta no ventre da mae. As feministas podem agora aceitar esta conclusao, ou rejeita-la. Imaginemos que a aceitam. Nesse caso, ficam com a dificuldade de explicar porque é que nao podemos matar uma hitp:/erticanarede.com/abortot htm! gat oayroj2016 Argumentos sobre oaborto crianca recém-nascida. Afinal, podiamos mata-la dois minutos antes, mas agora ja nao? Isso parece extremamente arbitrario. Imaginemos agora que as feministas rejeitam a conclusao de que é moralmente permissivel abortar no nono més. Nesse caso, terao de nos dizer a partir de que altura é que 0 feto, ainda na barriga da mae, comega a ter o direito a vida. Independentemente de como escolham responder a este problema, uma coisa é certa: ao admitir que nao é moralmente permissivel abortar no nono més, uma feminista tera acabado de abandonar o argumento de que “o corpo é da mulher, a mulher é que sabe o que ha-de fazer com ele”. O maximo que uma feminista podera dizer é que, até determinado estadio da gravidez, é moralmente permissivel abortar. A partir dessa altura, o feto adquire o direito a vida. De qualquer maneira, se o argumento feminista de que “o corpo é da mulher, a mulher é que sabe o que ha-de fazer com ele” fosse mesmo levado a sério, entao isso teria a implicagao de que a prostituigao devia ser legalizada. Afinal, o corpo é da mulher. Todavia, é quase certo que qualquer feminista que se preze se opora a legalizacao da prostituigao, com o argumento habitual de que a prostituigdo degrada a mulher a condigao de mero objecto sexual. Ha um mau argumento usado pelos opositores da legalizagao do aborto que nao é, em bom rigor, um argumento: é apenas o chamado apelo as emocgées. Aquando do periodo imediamente precedente ao referendo, assisti, com algum desconforto, a uma campanha chamada “Nao matem o Zézinho”, a qual, se nado estou em erro, distribuiu videos em que eram mostrados abortos veridicos. Também constatei que houve pelo menos um partido que pés fotografias de bébés sorridentes em outdoors. E, de um modo geral, em vez de se falar em zigoto, embriao, ou feto, falava-se na “crianga ainda por nascer’. E certo que os defensores da legalizagao também recorriam, aqui ou ali, a linguagem envenada, como por exemplo quando se referiam ao feto como “um amontoado de células”. Mas 0 apelo as emogées por parte dos defensores da legalizagao nao foi, ainda assim, hitpyerticanarede.comjabortot him! a oayroj2016 Argumentos sobre oaborto tao descarado como o apelo as emogées por parte dos opositores da legalizag4o. Suspeito que um niimero consideravel de votantes tenham sido influenciados por essas imagens e mudado, consequentemente, as suas intengdes de voto. Esta é uma maneira deploravel de conduzir uma campanha. Os outros maus argumentos a favor e contra a legalizagao do aborto que tive a oportunidade de analisar na seccao anterior e nesta (e que continuarei a analisar na préxima secgao) sao apenas isso: maus. Mas 0 apelo as emogées nao é apenas um mau argumento: é um argumento. perigoso. E a prdpria historia do século XX que no-lo ensina. 3. O argumento social e o argumento do direito a vida Um dos argumentos mais frequentemente avangados pelos defensores da legalizagao é o de que, enquanto o aborto continuar a ser ilegal, as mulheres pobres fa-lo-40 na mesma, sempre em condigées precarias, e as “madames” bastara apenas ir a Espanha ou apanhar um aviao para Londres para se desembaragarem. Moral da historia: os pobres é que se lixam. Na melhor das hipoteses, os opositores da legalizagao sao ingénuos; na pior das hipoteses, sao hipocritas. Nao é dificil ver porque é que este é um mau argumento. Pense no seguinte: devido a recente mediatizagao do fenémeno da pedofilia em Portugal, é de crer que as redes pedofilas em Portugal venham a reduzir substancialmente as suas actividades, pelo menos nos préximos tempos. Contudo, quem tenha dinheiro pode facilmente apanhar um aviao para paises onde a pedofilia seja quase impune ou pode, até, importar criangas desses paises. Moral da historia: quem nao tiver dinheiro para ir fazer turismo sexual ao estrangeiro ou para mandar vir criangas de fora é que fica privado de poder manter relag6es pedofilas; os pedofilos pobres é que se lixam. Sera este um bom argumento. a favor da legalizagao da pedofilia? E dbvio que nao. O mesmo argumento, hitp:/erticanarede.com/abortot htm! 521 ooyo016 [Argumentos sobre o aborto quando empregue a favor da legalizagao do aborto, sé parece mais convincente porque se limita a fugir a questao. Acho que a maior parte dos opositores da legalizagao defende apenas a tese moderada de que o aborto deve apenas ser permitido em caso de violagao. Mas ha que olhar com atengao para a argumentagao geralmente aduzida. Os opositores da legalizagao dizem que o aborto é errado porque 0 feto tem o direito a vida. Mas o problema € 0 de que, se isso é assim, entao um feto gerado por violagdo tem tanto direito 4 vida como um feto gerado voluntariamente. O estatuto moral do feto nao varia de acordo com 0 modo como foi gerado. De modo a completarmos a explicagao, devemos acrescentar qualquer coisa como: é imoral abortar apenas nos casos em que feto foi gerado voluntariamente, porque so nessa situagao é que a mulher tera tido responsabilidade directa pela gravidez. Mas isso seria como se eu dissesse a uma pessoa metida em apuros: eu nao tenho qualquer responsabilidade pelo facto de teres acabado nessa situagao; logo, nao tenho qualquer dever de te ajudar. Isto é claramente falso. Se nos vamos a passar na estrada e vemos uma pessoa atropelada no chao, temos o dever de a ir ajudar. Logo, o simples facto de a mulher nao ter gerado o feto voluntariamente em caso de violagdo nao chega para justificar a permissibilidade moral do aborto em caso de violagdo. Temos de fornecer mais algum argumento para explicar porque é que, no caso da mulher ter sido violada, continuar a gravidez é apenas um dever supererogatério, um dever cujo cumprimento nao nos é estritamente exigido. A conclusao de tudo isto é a seguinte: Se o feto tem o direito a vida, entao tem-no independentemente de a gravidez ter tido origem num acto voluntario da mulher ou em violacdo. Sobre quem acredita que o feto tem 0 direito a vida recai 0 fardo de explicar porque é que é permissivel recorrer ao aborto em caso de violagao. As pessoas nem sempre se apercebem disto. hitpyerticanarede.comjabortot him! ean 08/10/2016 Argumentos sobre o aborto 4. O argumento da potencialidade e da cultura de morte Quando os defensores da legalizagdo pretendem ridicularizar os opositores, aquilo que fazem é geralmente dizer que, se os opositores da legalizagao estivessem certos, entao os espermatozdides e os 6vulos também teriam o direito a vida, pelo que os homens nao deviam masturbar-se, de modo a nao desperdi¢ar esperma. E nem os homens nem as mulheres deveriam poder usar métodos contraceptivos, porque isso também implicaria um desperdicio de esperma. Isto nado passa de retdrica. Esta objecgao nao atende ao facto de que, embora tanto o feto como o espermatozdide e o 6vulo sejam potencialmente seres humanos adultos, sao-no em sentidos diferentes. (Aristoteles foi, tanto quanto eu saiba, o primeiro a notar que ha varias acepcoées do termo “potencialidade”. Embora o argumento que vou apresentar seja inspirado pela disting¢ao estabelecida por Aristoteles, nao a segue a letra. Para os curiosos, a posi¢ao de Aristételes em relagao aos diferentes tipos de potencialidade esta em De anima, 417a-20.) Podemos dizer que ha, basicamente, dois tipos de potencialidade: “potencialidade no sentido forte” e “potencialidade no sentido fraco”. Tomemos o caso de uma crianga de dez anos que esta a aprender a tocar violino. Ha um sentido claro em que essa crianga é, potencialmente, um violinista. Tomemos agora 0 caso de uma crianga de dez anos que tem grande talento musical, embora nao esteja a receber aulas de musica nem nunca tenha tocado num violino. Ha também um sentido em que podemos dizer que esta crianga é, potencialmente, um violinista. No entanto, a primeira crianga nao é potencialmente um violinista no mesmo sentido em que a segunda é potencialmente um violinista. A primeira crianga é hitpyerticanarede.comjabortot him! 721 oayroj2016 Argumentos sobre oaborto potencialmente um violinista no sentido forte; a segunda crianga é potencialmente um violinista no sentido fraco. A mesma coisa se passa no caso do feto, por um lado, e do espermatozoide e do évulo, por outro. O feto é potencialmente um ser humano adulto no sentido forte. Se deixarmos as coisas decorrer normalmente, daqui a uns meses vamos ter um bébé humano. O espermatozdide e o 6vulo sao potencialmente seres humanos adultos no sentido fraco. Se a segunda crianga comecar a receber ligdes de violino, as coisas alteram-se; do mesmo modo, se um espermatozéide fecundar o ovulo, as coisas também se alteram. A maior parte das pessoas que sAo contra o aborto referem-se (presumivelmente) apenas a potencialidade forte, nado a potencialidade fraca. Por isso, a Unica coisa que os defensores da legalizagao poderdo fazer é tentar mostrar que é inconsistente proteger o feto, com base na sua potencialidade forte, e nao proteger os évulos e os espermatozdides, com base na sua potencialidade fraca. Infelizmente, a acusagao de inconsisténcia nao costuma vir acompanhada de argumentos, pelo que nao passa de retdrica vazia. Além do mais, a Unica maneira de impedir que os espermatozdides e os évulos morressem seria congela-los. Um homem produz diariamente milhées de espermatozdides. Cada espermatozdide tem uma duragao de vida bastante limitada, mesmo nao sendo ejaculado. E os évulos sao expelidos naturalmente durante o periodo de menstruagao, e nao ha muito que possamos fazer para os salvar. E tudo uma questao de tempo. Um argumento repetido com certa reptdia pelos opositores da legalizacao € o de que, se legalizamos o aborto, entao qualquer dia ainda andamos por ai a matar deficientes mentais e idosos com Alzheimmer. Novamente, isto nao passa de retorica. Quem avang¢a este tipo de objecgao tem a incumbéncia de explicar porque é que isso se segue — mas tal nunca acontece. Por vezes, fala-se vagamente na emergéncia de uma “cultura da morte”, mas nunca ninguém explica o que isso seja. Estamos perante um conjunto de consideragdes que sao demasiado vagas para poderem ser hitpyerticanarede.comjabortot him! 921 oayroj2016 Argumentos sobre oaborto adequadamente analisadas. E importante frisar que o facto de sermos a favor do aborto nao implica, de modo algum, que sejamos a favor da eutanasia ou da pena de morte. Imagine que o leitor é a favor do aborto. Podera, ainda assim, ser contra a eutanasia porque acredita que nao é verdade que as pessoas estejam sempre em condigées de decidir o que € 0 melhor para elas. E podera ser contra a pena de morte porque nao acredita em justiga retributiva — acha que 0 ponto da justi¢a nao é castigar as pessoas pelos seus crimes, mas sim reeduca-las (quando possivel). Ha outro aspecto que vale a pena clarificar. Os defensores das touradas costumam acusar os defensores dos direitos dos animais de serem inconsistentes, dado que parece que a maior parte dos defensores dos direitos dos animais sao a favor do aborto. Este é um mau argumento porque pressupée que matar um feto é a mesma coisa que matar cruelmente um touro na arena para gaudio dos espectadores. E possivel que haja algum argumento que mostre que é inconsistente ser contra as touradas e ser a favor da legalizag&o — mas eu nunca ouvi nenhum. A partida, nada impede um defensor dos direitos dos animais de ser a favor do aborto. Um defensor dos direitos dos animais podera até, em principio, ser contra a realizagao de abortos em animais, dado que é impossivel perguntar ao animal se quer abortar ou nao. 5. Em defesa da permissibilidade do aborto Como prometido, digo agora qual é a minha posi¢ao em relagao a legalizagao do aborto. Por razées que passarei a explicar, sou a favor. De um modo geral, podemos dizer que ha basicamente dois tipos de argumentos na bibliografia de bioética que procuram mostrar que o feto tem o direito a vida, pelo que o aborto é imoral: o argumento da potencialidade, e aquilo a que podemos chamar “o argumento dos dois minutos”. A parte negativa da minha argumentagao sera a de tentar mostrar que ambos os hitp:/erticanarede.com/abortot htm! 921 osjrop2016 Argumentos sobre oaborto argumentos sdo maus — é 0 que farei nesta secgao. Na proxima, direi qual é a altura a partir da qual penso que devemos considerar que 0 feto tem o direito 4 vida e explicarei porque é que acho que todos os outros critérios estdo errados. Essa sera a parte positiva da minha argumentagao. Os argumentos que fazem uso da potencialidade geralmente tém a seguinte estrutura: o feto é, em poténcia, um ser humano; todos os seres humanos, quer sejam apenas seres humanos em poténcia ou nao, temo direito a vida; logo, o feto tem o direito a vida. Este € um mau argumento porque foge a questao. Aquilo que esta em disputa é a segunda premissa: nao é, por isso, permissivel inclui-la num argumento. E é, de qualquer modo, falso que, se um ser tem potencialmente um direito, entao tem, efectivamente, esse direito. Enquanto cidadao portugués, sou potencialmente presidente da Republica; o presidente da Republica é o Comandante Supremo das For¢as Armadas; no entanto, dai nado se segue que eu seja agora o Comandante Supremo das Forgas Armadas. Podera ser objectado que estou simplesmente a fugir 4 questao: a analogia nado funciona — 0 feto tem o direito a vida desde a concep¢ao, mas eu sd adquirirei o estatuto de Comandante Supremo das Forgas Armadas caso venha a ser eleito Presidente da Republica. O problema com esta objeccao é que foge, ela propria, a questao! Se estivéssemos desde logo a partir do principio de que o feto tem o direito a vida desde a concepgao, entao para que é que precisariamos de invocar 0 estatuto de potencialidade do feto? Aquele a que podemos chamar “o argumento dos dois minutos” faz 0 percurso inverso. Primeiro, nota-se que a crianga, quando nasce, tem o direito a vida. Depois, acrescenta-se que nao ha grande diferenga entre a crianga dois minutos antes de nascer e agora, que acabou de nascer. Isso significa, certamente, que tinha o mesmo direito a vida dois minutos antes de nascer. E, se a coisa é assim, entéo certamente também teria o direito a vida quatro minutos antes de nascer. E por ai fora até ao momento da hitpyerticanarede.comjabortot him! ro oayroj2016 Argumentos sobre oaborto concepgao. (A concepgao nao é um processo instantaneo, como alguns parecem pensar; ja expliquei isto na segunda secgao, e aprofundarei na proxima secgao.) Este argumento é falacioso. Para ver que é, basta pensar no seguinte argumento analogo, que é claramente falacioso: O Jorge nao é careca; o Zé tem menos um cabelo na cabeca do que o Jorge; logo, o Zé também nao é careca. O Eduardo tem menos um cabelo na cabega do que o Zé; logo, o Eduardo também nao é careca. E, como a diferenga de um cabelo nao parece ser suficente para delimitar a fronteira entre os carecas e os nao carecas, chegamos ao caso do Manuel, que nao tem qualquer cabelo na cabega. Para sermos consistentes, devemos dizer que o Manuel também nao é careca, o que é claramente falso. Em ambos os casos, a falacia 6 a mesma. O facto de haver casos de fronteira nao significa que nado haja casos em que seja facil dar uma solugao. O facto de haver pessoas acerca das quais nao saberiamos bem dizer se sao ou nao carecas nao significa que nao haja pessoas que sao decididamente carecas ou decididamente nao carecas. Do mesmo modo, do facto de que um recém-nascido tem o direito a vida nado se segue que um feto de dois meses tem o direito a vida. Na préxima secgao passarei em revista os principais critérios propostos na bibliografia para explicar a partir de que altura é que o feto tem o direito a vida e direi qual me parece o mais adequado. 6. Direito a vida a partir de quando? Sobre o defensor da legalizagao do aborto recai o fardo de explicar em que altura o feto passa a ter o direito a vida, dado que temos de aceitar que tanto um ser humano adulto como uma crianca recém-nascida tém o direito a vida. Ha varios critérios propostos na bibliografia, sendo que os seguintes hitpyerticanarede.comjabortot him! wet oayroj2016 Argumentos sobre oaborto sao os mais comuns: concepgao; implantagao; forma humana; aceleragao; actividade cerebral inicial; actividade organizada do cortex cerebral; viabilidade. Sou a favor do critério da actividade organizada do cortex cerebral. Vou rapidamente passar em revista todas as posigées e explicar porque é que esta posigdo parece a correcta. Ha ainda outra posi¢ao: o gradualismo. De acordo com o gradualismo, o feto vai progressivamente adquirindo direitos ao longo do tempo. Tanto quanto pude perceber, o gradualismo nao recebe grande atengao na bibliografia de bioética. Direi por que penso que isto sucede mais abaixo. Olhemos, entao, para os varios critérios que tém sido propostos na bibliografia de bioética para decidir a partir de que altura é que o feto comega a ter o direito a vida. Concepgao Como ja tive oportunidade de mencionar, muitas pessoas parecem pensar que ha um momento concreto em que se da a concepg¢ao; mas isto é falso. A fertilizagao é um processo gradual que demora cerca de 22 horas. Primeiro, o espermatozdide penetra no dvulo, deixando a cauda do lado de fora. Nas horas seguintes, 0 espermatozdide e o évulo sao, ainda, duas coisas distintas, embora 0 espermatozdide ja esteja dentro do 6vulo. Sé6 ao fim das ditas 22 horas é que ja temos um Unico objecto: 0 zigoto. Mas vamos fingir que nao ha esta dificuldade: vamos fingir que ha um momento concreto em que se da a concepgao. Ainda assim, a concepgao nao poderia marcar o momento em que o feto adquire o direito a vida. Presumivelmente, um bebé recém-nascido e um ser humano adulto tem algo em comum que lhes garamte a ambos 0 direito a vida. O que 6 queo zigoto teria em comum com um bébé recém-nascido e com um ser humano adulto que bastaria para lhe atribuirmos, igualmente, 0 direito a vida? Nao conheco qualquer resposta convincente. O opositor do aborto que favorece o critério da concepgao geralmente tenta usar o argumento da hitpyerticanarede.comjabortot him! 12 ooyo016 [Argumentos sobre o aborto potencialidade para mostrar que o zigoto tem o direito a vida. E esse argumento, como ja vimos, é muito fraco. Implantagao Aimplantacao € a altura em que aquilo que vira a ser 0 feto se “agarra” a parede do Utero. Isto geralmente acontece seis a oito dias apds a fertilizagdo. E facil ver que a implantac&o nao pode ser 0 critério correcto. O que é que nao existe, no quinto dia, que passa a existir no sexto? Aparentemente, nada. Ocorrem alteragdes hormonais no corpo da mulher, mas nao é claro que relevancia moral isto possa ter. Forma humana O feto comeca adquirir forma humana por volta das seis a oito semanas. Até essa altura, podia parecer apenas “um amontoado de células”, como os defensores da legalizagao costumam dizer, agressivamente. Podera ser o facto de que o feto adquire forma humana que lhe garante o direito a vida? Nao. Se uma avestruz passasse pelas maos de um cirurgido talentoso e adquirisse forma humana, acha mesmo que adauiriria, s6 por isso, o direito a vida? Nao — se ja nao o tinha antes, nao era agora que ia passar a té-lo. Aceleracao (“quickening”) Normalmente, a mae comeg¢a a aperceber-se dos movimentos do feto por volta das 16/17 semanas apos a fertilizagao. Ha pessoas que defendem que é aqui que o feto comeca a ter o direito a vida porque é precisamente na altura em que a mae sente o feto “a dar pontapés” que se cria uma empatia especial entre ela e o feto. Este também é um mau argumento. O facto de um ser ter ou nao o direito a vida nao pode estar dependente de hitpyerticanarede.comjabortot him! 1921 oayroj2016 Argumentos sobre oaborto termos ou nao empatia para com ele (ou ela). Se nao podemos dizer que 0 feto comega a ter o direito a vida quando comega a mexer-se, entao também nao podemos dizer que comeca a ter o direito a vida quando a mae se apercebe, pela primeira vez, desse movimento. Actividade cerebral inicial Na maior parte dos casos, o feto comeca a revelar indicios de actividade cerebral entre as 6 e as 10 semanas. E importante especificar o que queremos dizer quando falamos em actividade cerebral. Entre as 6 e as 10 semanas, 0 que comeca a haver é actividade eléctrica naquilo que vira a ser 0 cérebro. Mas isto, por si s6, 6 um dado desinteressante. Ha actividade eléctrica em todas as células do corpo humano. O facto de haver actividade eléctrica naquilo que vira a ser o cérebro nao significa que ali se esteja a passar algo de moralmente relevante. Nao tenho divida de que o desenvolvimento do cérebro esta relacionado com a aquisigao do direito a vida por parte do feto — mas 0 tipo de actividade cerebral registada a partir das 6/10 semanas nao é suficiente para que tal suceda. Nessa altura, a Unica parte do cérebro que esta mais ou menos desenvolvida é a que se ocupa de fungées basicas, como o ritmo cardiaco e a respiragao. Actividade organizada do cortex cerebral De acordo com uma estimativa conservadora, o feto comeca a ter actividade organizada do cortex cerebral algures entre as 25 semanas e as 32 semanas. (Uma estimativa menos conservadora diria que so as 30 semanas essa actividade tem inicio.) E a partir desta altura que as ligagdes sinapticas entre células cerebrais individuais comegam a estabelecer-se — até esta altura, essas células eram pequenas ilhas, por assim dizer. Comega a ser possivel captar as ondas cerebrais do feto através de electro- hitpyerticanarede.comjabortot him! 1421 oayroj2016 Argumentos sobre oaborto encefalogramas. Argumentavelmente, é sensivelmente a partir desta altura que o feto comega a pensar e a ter consciéncia, algo que tanto um ser humano adulto como um bébé recém-nascido tém (embora em graus. diferentes, obviamente). E por isso que penso ser nesta altura que 0 feto adquire o direito a vida. Uma objecgao perspicaz a este critério é a de que adopta-lo parece implicar que as pessoas em coma nao tém o direito a vida. Uma resposta curta a esta objecgao seria a seguinte: Quem tiver lido a quarta seccao lembrar-se-a de que estabeleci uma distingao util entre potencialidade no sentido forte, e potencialidade no sentido fraco. Essa mesma distingdo volta a ser pertinente agora. Tanto o feto antes das 25 semanas como o comatoso sao potencialmente seres conscientes. No entanto, sao-no em sentidos diferentes. O comatoso é potencialmente um ser consciente num sentido mais forte do que aquele em que o feto é potencialmente um ser consciente. O comatoso é como uma pessoa que sabe francés, embora nao esteja a falar francés neste momento, e o feto € como uma pessoa que ainda nao aprendeu a falar francés. Como a situagao do feto antes das 25 semanas e a do comatoso diferem num aspecto relevante (sdo ambos potencialmente conscientes, mas em sentidos diferentes), o argumento por analogia nao colhe. Viabilidade Diz-se que um feto se torna viavel quando pode sobreviver fora da barriga da mae (ainda que com recurso a cuidados médicos), 0 que acontecera algures entre as 20 e as 23 semanas. Argumenta-se por vezes que a viabilidade do feto marca a altura em que o feto adquire o direito a vida, dado que a partir desta altura o feto ja nado necessita da mae. Este critério sofre de um problema obvio: a altura da viabilidade do feto é determinada pelo estado da tecnologia existente. Isso torna arbitraria a adopgao do hitpyerticanarede.comjabortot him! 1972 oeys0p2016 Argumentos sobre o aborto critério da viabilidade. No futuro, a viabilidade pode passar a ser mais cedo — mas isso no significa que o feto adquira o direito a vida mais cedo. Uma perspectiva diferente: o gradualismo Ha ainda uma Ultima posi¢ao que, tanto quanto me pude aperceber, nado é muito discutida na bibliografia de bioética, mas que aparece, de vez em quando, em debates publicos: o gradualismo. O gradualismo é a posigao de que o direito a vida é uma questao de grau, e que o feto vai progressivamente adquirindo maior direito 4 vida 4 medida que a gravidez avanga no tempo. Ha um sentido trivial em que concordo com o gradualismo: a partir da vigésima quinta semana, o feto vai adquirindo progressivamente maior direito a vida, e, em termos morais, matar um feto com 30 semanas nao é, certamente, a mesma coisa que matar um feto com 40 semanas. No entanto, nao é possivel usar o gradualismo para argumentar a favor da posi¢ao de que o zigoto tem o direito a vida. Ao usar esta linha de argumentagao, uma pessoa estaria a cair, subtilmente, no erro de usar 0 chamado “argumento dos dois minutos”, que, como ja vimos, é€ falacioso. A minha posigao nao é facilmente rotulavel. Dado que acho que ha uma altura a partir da qual é imoral abortar, ndo me considero “pré-escolha”. E, dado que acho que é moralmente permissivel abortar até certa altura, também nao me considero “pré-vida”. Se pensarmos que temos de ser ou pr6-vida ou pré-escolha, entao ficamos perante um grande dilema. Se somos pr6é-escolha, ficamos com a dificuldade de explicar porque é que o infanticidio nado é permissivel, dado que seria permissivel abortar no nono més. Se somos pré-vida, ficamos sem nenhuma historia para contar para explicar porque € que o zigoto tem o direito a vida — so podemos bater na mesa e repetir que o aborto vai contra a dignidade da pessoa humana. Ao apoiar um critério que me parece convincente, escapo ao dilema. hitpyerticanarede.comjabortot him! 162 oayroj2016 Argumentos sobre oaborto Dado que ha inumeros critérios possiveis para definir a partir de que altura 0 feto tem o direito a vida, os opositores da legalizagao costumam reclamar que, se nem os defensores da legalizagao estao de acordo acerca do critério a usar, segue-se que devemos ser cautelosos e tratar o feto como se tivesse o direito a vida desde a concepgao. Esta objeccao falha o alvo. E verdade, sim, que ha desacordo entre os defensores da legalizagao acerca de qual o critério a usar. Mas a Unica coisa que daqui se segue é que nao se pode recorrer a argumentos de autoridade para defender um dado critério. E uma regra elementar da argumentacao que nao é permissivel usar um argumento de autoridade para tentar estabelecer uma dada conclusao quando as autoridades nao estado de acordo entre si. No entanto, daqui nao se segue, de modo algum, que um critério particular seja tao bom como qualquer outro. E, de facto, acabei de falar dos critérios mais debatidos na bibliografia e, como se péde ver, s6 um deles parece defensavel. Seja como for, na proxima secgao olharei para este argumento da cautela em maior pormenor e explicarei por que acho que nao colhe. 7. Sera melhor nao legalizar por uma questao de cautela? Tenho vindo a discutir varios argumentos a favor e contra o aborto. Agora, porém, vou analisar um argumento especial que os opositores da legalizagao costumam usar em desespero de causa. Este argumento nao procura estabelecer que o aborto é imoral, mas apenas que o aborto nao deve ser legalizado porque 0 debate acerca da moralidade ou imoralidade do aborto é inconclusivo. Aestratégia argumentativa é a seguinte: Se o aborto é moralmente permissivel, entao ao tomar a atitude de nao legalizar o aborto estaremos apenas a dificultar desnecessariamente a vida As mulheres que pretendiam hitpyerticanarede.comjabortot him! W721 oayroj2016 Argumentos sobre oaborto abortar (“dificultar a vida” € um eufemismo, obviamente). Por outro lado, caso 0 aborto seja imoral, estaremos a autorizar um assassinio em larga escala. O problema com este argumento é 0 de que toma a seguinte forma: “podemos achar que os argumentos contra a permissibilidade moral da pratica X ndo sao convincentes; no entanto, como as consequéncias morais de X ser imoral seriam terriveis, mais vale abstermo-nos de realizar X”. Este é um principio de decisao a que é comum chamar “principio de eliminagao do risco”. A ideia é simples: imagine que o leitor tem varias opgdes disponiveis. Uma delas tem a possibilidade infima de causar um desastre. Por isso, 0 leitor deve abster-se de escolher esta opgao. Nao é dificil perceber porque é que nado devemos empregar este principio. Imagine que o leitor é presidente de uma empresa que vende champés ao domicilio. Um dos seus vendedores vem ter consigo, com ar solene, mas cauteloso, e diz- Ihe que acha que a empresa devia deixar de vender o champ6 “Charmoso”. Perplexo com este comentario, dado que o champé Charmoso é, precisamente, o champé mais popular junto dos consumidores, pergunta- Ihe, inquieto, quais as suas raz6es. O vendedor diz-Ihe que duas pessoas foram atropeladas, no mesmo dia, logo apés usar 0 dito champé, pelo que a empresa corre 0 risco de ser processada por vender um champé que da azar aos utilizadores. Como é dbvio, este é um argumento nada convincente. A coisa certa a fazer 6, sem duvida, continuar a vender o champé Charmoso. E extremamente escassa a probabilidade de que seja um dia aprovada uma lei (com efeitos retroactivos, ainda por cima) que permita processar uma empresa por vender produtos azarentos. E a probabilidade de que o champo Charmoso seja mesmo azarento é mais escassa ainda. O problema com o principio de eliminagao do risco esta agora a vista: 0 principio pede-nos que negligenciemos a qualidade dos argumentos apresentados. Se houver um argumento qualquer a defender que X é uma consequéncia possivel de fazer Y e que X é uma coisa terrivel, entao, por hitpyerticanarede.comjabortot him! r92 oayroj2016 Argumentos sobre oaborto pior que esse argumento seja, o melhor é mesmo nao fazer Y. Este é um principio que nao parece la grande ideia adoptar. O principio sé entra em cena se houver um empate entre os argumentos a favor da posi¢ao de que X € uma coisa terrivel e os argumentos a favor da posi¢ao de que X nao é uma coisa terrivel. Quando nao se mostrou que ha esse empate, é falacioso invocar o principio de eliminagao do risco. O leitor podera achar, contudo, que usei o exemplo de uma decisao comercial, ao passo que o principio se aplica, fundamentalmente, a questées éticas. Esta nao é uma critica justa, dado que a objeccao que apresentei contra o argumento é igualmente pertinente quer tentemos aplica-lo na vida de uma empresa, quer na nossa vida ética quotidiana. Um principio de decisao aplica-se, supostamente, a todas as decisdes que temos de tomar no dia-a-dia, quer estejam relacionadas com a nossa vida moral ou nao. Mas vou, ainda assim, tomar esta preocupagao em linha de conta e apresentar um exemplo de uma questao ética em que o principio poderia ser empregue. Imagine, entao, que aparecia alguém a dizer que as arvores tém direitos. Nesse caso, ele poderia apelar ao principio de eliminagao do risco e dizer: “vocés podem achar que os meus argumentos nao sao muito convincentes; no entanto, pensem nas terriveis consequéncias morais de eu estar certo. Estariamos a autorizar anualmente 0 assassinio de milhdes de arvores inocentes pelo mundo inteiro.” Se aceitassemos 0 principio de eliminagao do risco, entao seriamos forgados a deixar de deitar abaixo arvores. Mas nao ha qualquer razdo para fazermos isso, dado que os argumentos a favor da posigao de que as arvores tem direitos nao sao convincentes. As pessoas podem reclamar que 0 caso das arvores nao é semelhante ao do feto, pelo que a analogia nao funciona. Nao é semelhante? Se o leitor pensa isso, € porque esta implicitamente a partir do principio de que o aborto é imoral. No entanto, como ja tive oportunidade de mostrar, ndo ha hitpyerticanarede.comjabortot him! 192 oayroj2016 Argumentos sobre oaborto um empate entre os argumentos a favor da posi¢ao de que o aborto é uma tragédia moral e os argumentos a favor da posig¢ao de que o aborto nao é uma tragédia moral. Pelo contrario — tanto os argumentos frequentemente usados em debates publicos como os principais argumentos usados na bibliografia de bioética parecem maus. E, embora alguns argumentos apresentados a favor da legalizagao do aborto sejam maus, ha outros que parecem decisivos. Os argumentos néo sao como magas num cabaz: a “podridao” — passe a expresso — de uns nao afecta a qualidade (boa ou ma) dos outros. (O facto de muitos dos argumentos a favor de uma dada posigao serem nitidamente maus pode provocar um preconceito espontaneo contra uma posi¢ao, mas essa é outra histéria.) Concluindo: é falacioso estar a usar o principio da eliminagao do risco para argumentar que, por uma questao de precaugao, o aborto nao deve ser legalizado, dado que nao ha um empate entre os argumentos contra e a favor. A quem queira ter uma posigao informada acerca do assunto, aconselho dois livros. Em primeiro lugar, Ethics in practice: an anthology, organizado por Hugh LaFollette, tem uma secgao acerca do aborto que contém quatro artigos, sendo que dois deles so ja classicos: “A Defense of Abortion”, de J.J. Thomson, e “An Argument that Abortion is Wrong”, de Don Marquis. E um escandalo que um livro destes ainda nao esteja publicado em Portugal. (Ambos os artigos, e outros, foram entretanto publicados no livro A Etica do Aborto, org. de Pedro Galvao (Dinalivro, 2005).) Em segundo lugar, A Defense of Abortion, de David Boonin, é a defesa mais convincente (e exaustiva) do aborto que ja alguma vez |i, e a minha discussdo do aborto foi muito influenciada pelo livro. Como foi publicado recentemente (2003), achei por bem retirar daqui todos os dados cientificos de que necessitei. Alguns dos argumentos que discuti aqui nado aparecem no livro porque sao demasiados maus. Achei por bem discuti-los, ainda assim, porque vem muito a baila em debates publicos. hitpyerticanarede.comjabortot him! 20721 08/10/2016 Pedro Madeira Inicio Epistemologia Estética Etica Filosofia Filosofia da ciéncia Filosofia da linguagem Argumentos sobre o aborto Procurar Filosofia da religidio Newsletter Filosofia da mente Facebook Filosofia politica Blog Guia das falacias Historia da filosofia Logica Metafisica Sobre nés Contacte-nos Termos de utilizagao ISSN 1749-8457 Copyright © 2016 criticanarede.com httpyerticanarede.comjabortot him! yet

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