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O documento discute como as relações sociais mudaram da intimidade para a "extimidade", onde expomos nossos segredos publicamente. O Facebook tornou-se extremamente popular, com mais de 500 milhões de usuários ativos diariamente. No entanto, pesquisas mostram que a mente humana só pode manter relacionamentos significativos com cerca de 150 pessoas. Assim, a maioria dos "amigos" no Facebook são apenas observadores e não relacionamentos significativos.
O documento discute como as relações sociais mudaram da intimidade para a "extimidade", onde expomos nossos segredos publicamente. O Facebook tornou-se extremamente popular, com mais de 500 milhões de usuários ativos diariamente. No entanto, pesquisas mostram que a mente humana só pode manter relacionamentos significativos com cerca de 150 pessoas. Assim, a maioria dos "amigos" no Facebook são apenas observadores e não relacionamentos significativos.
O documento discute como as relações sociais mudaram da intimidade para a "extimidade", onde expomos nossos segredos publicamente. O Facebook tornou-se extremamente popular, com mais de 500 milhões de usuários ativos diariamente. No entanto, pesquisas mostram que a mente humana só pode manter relacionamentos significativos com cerca de 150 pessoas. Assim, a maioria dos "amigos" no Facebook são apenas observadores e não relacionamentos significativos.
Publicado em abril 10, 2011 por outrapoliticaemsampa
As relaes significativas hoje passaram da intimidade quilo que Tisseron chama de extimidade: expomos em pblico os nossos segredos. Eis, assim, o triunfo do exibicionismo na era das redes sociais. Zygmunt Bauman, La Repubblica, 9 de abril de 2011. A traduo de Moiss Sbardelotto. Reproduzido de IHU On-line. O Facebook afastou-se em muito de qualquer outra novidade e moda passageira ligada Internet e bateu todos os recordes de crescimento do nmero de usurios regulares. Diga-se o mesmo sobre o seu valor comercial, que, segundo o Le Monde do dia 24 de fevereiro passado, j alcanou a cifra inaudita de 50 bilhes de dlares. Enquanto escrevo, o nmero dos usurios ativos do Facebook duplicou a marca do meio bilho: alguns deles, naturalmente, so mais ativos do que outros, mas a cada dia pelo menos a metade de todos os seus usurios ativos acessa o Facebook. A propriedade informa que o usurio mdio do Facebook tem 130 amigos (amigos no Facebook), e os usurios passam ali, no total, mais de 700 bilhes de minutos por ms. Se esse nmero astronmico muito grande para ser digerido e assimilado, ser bom notar que, se dividido em partes iguais entre todos os usurios ativos do Facebook, corresponderia a cerca de 48 minutos por dia cada um. Por outro lado, poderia corresponder a um total de 16 milhes de pessoas que passam 7 dias por semana, 24 horas por dia, no Facebook. Trata-se de um sucesso verdadeiramente impressionante de acordo com qualquer parmetro. Quando idealizou o Facebook (mas h quem diga que ele roubou a ideia) e depois o lanou na Internet em fevereiro de 2004 para uso exclusivo dos estudantes de Harvard, Mark Zuckerberg, ento com 20 anos, deve ter se deparado com uma espcie de mina de ouro: isso bastante evidente. Mas o que era aquele mineral semelhante ao ouro que o afortunado Mark descobriu e continua extraindo com lucros fabulosos que no deixam de aumentar? () Comunidade e rede O que ele adquiriu no uma rede, no uma comunidade. E as duas coisas, como se descobrir antes ou depois (sob a condio, naturalmente, de no esquecer, ou no deixar de aprender, o que a comunidade, ocupados como estamos a criar redes para depois desfaz-las), se assemelham como o gesso e o queijo. Pertencer a uma comunidade constitui uma condio muito mais segura e confivel, embora indubitavelmente mais limitadora e mais vinculante, do que ter uma rede. A comunidade algo que nos observa de perto e nos deixa pouca margem de manobra: pode nos pr de lado e nos mandar ao exlio, mas no admite demisses voluntrias. Ao contrrio, a rede pode estar pouco ou nada interessada em nossa observncia s suas normas (sempre que uma rede tenha normas s quais observar, o que frequentemente no existe) e, portanto, nos deixa muito mais comodidade e principalmente no nos penaliza se dela samos. Mas podemos contar com a comunidade como com um amigo verdadeiro, aquele que se reconhece no momento da necessidade. () 150 amigos Pois bem: aqueles nomes e aquelas fotos que os usurios do Facebook chamam de amigos nos so prximos ou distantes? Em ltima anlise, um entusiasta usurio ativo do Facebook se orgulha de conseguir fazer 500 novos amigos por dia, mais do que eu adquiri nos meus 85 anos de vida. Mas, como observa Robin Dunbar, que leciona antropologia evolucionista em Oxford, a nossa mente no foi predisposta (pela evoluo) para nos permitir ter, no nosso mundo social, mais do que um nmero muito limitado de pessoas. Esse nmero foi at calculado por Dunbar, descobrindo que um ser humano no consegue manter de p mais do que cerca de 150 relacionamentos significativos. As redes de amizades mantidas eletronicamente prometiam despedaas as recalcitrantes limitaes sociabilidade fixadas pelo nosso patrimnio gentico. Pois bem, diz Dunbar, elas no despedaaram e no as despedaaro: a promessa pode apenas ser descumprida. verdade, escreveu o estudioso no ltimo dia 25 de dezembro na sua coluna do New York Times, com a sua prpria pgina do Facebook, pode-se fazer amizade com 500, 1.000, at 5.000 pessoas. Mas todas, exceto aquele ncleo de 150, nada mais so do que simples voyeurs que metem o nariz em sua vida cotidiana. Entre aqueles mil amigos no Facebook, os relacionamentos significativos mantidos por meio de um servio eletrnico ou vividos offline so contidos, como antes, pelos limites insuperveis pelo nmero de Dunbar. O verdadeiro servio prestado pelo Facebook e por outros sites sociais semelhantes , portanto, a manuteno do ncleo de amigos nas condies do mundo atual, um mundo de elevada mobilidade, que se move com pressa e muda rapidamente () Dunbar tem razo quando defende que os sucedneos eletrnicos da relao face a face atualizaram a herana da idade da pedra, isto , adaptaram os modos e os meios das relaes humanas aos requisitos da nossa nouvel ge. Parece-me, porm, que ele ignora um fato, ou seja, que, ao longo de tal adaptao, esses modos e esses meios foram tambm modificados em uma notvel medida e, por consequncia, tambm os relacionamentos significativos mudaram de significado. Extimidade A mesma coisa deve ter acontecido com o contedo do conceito de nmero de Dunbar. A menos que tal contedo se esgote precisa e unicamente no nmero. O ponto que, independentemente do fato de o nmero de pessoas com os quais se pode estabelecer um relacionamento significativo no ter variado ao longo dos milnios, o contedo exigido para tornar significativos os relacionamentos humanos deve ter mudado em notvel medida e de modo particularmente drstico nestes ltimos 30-40 anos Ele se modificou a tal ponto que, como hipotetiza o psiquiatra e psicanalista Serge Tisseron, as relaes consideradas como significativos passaram da intimit extimit, isto , da intimidade ao que ele chama de extimidade. () O advento da sociedade-confessionrio marcou o triunfo definitivo daquela inveno esquisitamente moderna que a privacidade mas tambm marcou o incio das suas vertiginosas quedas do apogeu da sua glria. Triunfo que se revelou ser uma vitria de Pirro, naturalmente, visto que a privacidade invadiu, conquistou e colonizou a esfera pblica, mas ao preo de perder o seu direito ao segredo, seu trao distintivo e privilgio mais caro e mais ciumentamente defendido. Analogamente a outras categorias de bens pessoais, de fato, o segredo , por definio, aquela parte do conhecimento cujo compartilhamento com outros rejeitado ou proibido e/ou estritamente controlado. O segredo, por assim dizer, caracteriza e contradistingue os limites da privacidade, sendo esta ltima a esfera destinada a ser prpria, o territrio da prpria soberania indivisa, dentro do qual tem-se o poder total e indivisvel de decidir o que sou e quem sou e partir da qual podem ser lanadas e relanadas as campanhas para fazer com que sejam reconhecidas e respeitadas as prprias decises e mant-las como tais. Em uma surpreendente inverso com relao aos hbitos dos nossos antepassados, porm, perdemos a coragem, a energia e principalmente a vontade de persistir na defesa desses direitos, daqueles insubstituveis elementos constitutivos da autonomia individual. Aquilo que nos assusta hoje no tanto a possibilidade da traio ou da violao da privacidade, mas sim o seu oposto, isto , a perspectiva de que todas as vias de sada possam ser bloqueadas. A rea de privacidade se transforma assim em um lugar de aprisionamento, e o proprietrio do espao privado condenado a cozinhar em seu prprio caldo, constrangido em uma condio marcada pela ausncia de vidos ouvidores, ansiosos por extrair e arrancar os nossos segredos dos basties da privacidade, de jog-los como alimento ao pblico, de fazer deles uma propriedade compartilhada por todos e que todos desejam compartilhar. Pelo que parece, no sentimos mais alegria ao ter segredos, a menos que se trate daquele gnero de segredos capaz de exaltar o nosso ego, atraindo a ateno dos pesquisadores e dos autores dos talk- shows televisivos, das primeiras pginas dos tabloides e das capas das revistas de papel envernizado. (). Liberdade de escolha Na Gr-Bretanha, pas atrasado em ciberanos com relao ao Extremo Oriente em termos de difuso e utilizao de aparelhos eletrnicos de vanguarda, os usurios talvez confiem ainda no social networking para manifestar a sua liberdade de escolha e at o considerem um instrumento de rebelio e de autoafirmao juvenil. Mas, na Coreia do Sul, por exemplo, onde a maior parte da vida social j habitualmente mediada por aparelhos eletrnicos (ou, ao contrrio, onde a vida social j se transformou em vida eletrnica ou em cibervida, e onde a vida social, em boa parte, transcorre principalmente na companhia de um computador, de um iPod ou de um celular e s secundariamente na companhia de outros seres de carne e osso), totalmente evidente aos jovens que eles no tm nem uma migalha de escolha: l onde vivem, viver a vida social pela via eletrnica no mais uma escolha, mas sim uma necessidade, um pegar ou largar. A morte social espera aqueles poucos que ainda no se conectaram ao Cyworld, lder do mercado sul-coreano no quesito de cultura show-and-tell. () Os adolescentes equipados com confessionrios eletrnicos portteis nada mais so do que aprendizes em formao e formados na arte de viver em uma sociedade-confessionrio, uma sociedade notria por ter apagado o limite que tempos atrs separava pblico e privado, por ter feito da exposio pblica do privado uma virtude pblica e um dever, e por ter retirado da comunicao pblica qualquer coisa que resista a se deixar reduzir a confidncias privadas, junto com aqueles que se recusam a fazer isso. () Ser membro da sociedade dos consumidores uma rdua tarefa, um percurso de subida que no termina nunca. O temor de no conseguir se conformar foi suplantado pelo temor da inadequao, mas nem por isso se tornou menos atormentado. Os mercados dos consumidores esto vidos por capitalizar esse temor, e as indstrias que desenfornam bens de consumo disputam o status de guias/ajudantes mais confiveis para os seus clientes, submetidos ao esforo incessante de estarem altura da tarefa. So os mercados que fornecem os adereos, isto , os instrumentos indispensveis para se autofabricar: um trabalho que cada um executa por si mesmo. E, na realidade, as mercadorias que os mercados representam como adereos destinados a serem usados pelos indivduos para tomar decises nada mais so do que decises j tomadas. Essas mercadorias foram preparadas bem antes que o indivduo se encontrasse diante do dever (representado como oportunidade) de decidir. , portanto, absurdo pensar que esses instrumentos tornem possvel uma escolha individual das finalidades. Ao contrrio, eles nada mais so do que cristalizaes de uma irresistvel necessidade que os seres humanos, hoje como tempos atrs, so levados a aprender, qual devem obedecer e qual devem aprender a obedecer para serem livres Mas, ento, o surpreendente sucesso do Facebook no se deve ao fato de ter criado o mercado no qual, todos os dias, necessidade e liberdade de escolha se encontram?
http://outrapolitica.wordpress.com/2011/04/10/extimidade-o-fim-da-intimidade/ Acessado em 01/05/2011 s 15:57
Midias Sociais para Jornalistas Um Guia para Fazer e Divulgar Jornalismo Nas Novas Mídias by Lafloufa, Jacqueline Ishida, Gabriel Singulano, Marcos (Illustrator)
STRATHERN, Marilyn. O Efeito Etnográfico e Outros Ensaios - Coordenação Editorial: Florencia Ferrari. Tradução: Iracema Dullei, Jamille Pinheiro e Luísa Valentini. São Paulo: Cosac Naify, 2014. 576 P.