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Antropologia e Cinema
Novembro/Dezembro de 2012
"Pensai rebocar com cores vistosas a misria do mundo?" Com estas palavras,
Thomas Mann questionava, no incio do sculo XX, a monumentalidade, os
excessos e a hipocrisia da Belle poque europeia. Em um momento em que as
relaes polticas levavam exausto a ordem, os valores, a estabilidade do Velho
Continente, Mann denuncia a ilusria tentativa de artistas, arquitetos, pensadores de
se ver uma sociedade no auge de sua glria e desenvolvimento. E, acompanhando
sua postura antagnica daqueles, o romancista germnico lega uma obra que
retrata uma Europa em catastrfica ebulio, tendo se tornado um cone de uma
gerao que busca expor as agruras escondidas por debaixo dos rebocos europeus.
Algumas dcadas mais tarde, o cineasta sueco Ingmar Bergman retomaria e
expandiria questionamentos semelhantes. O cinema de Bergman, no entanto, no
se situa em um meio social ou politicamente conturbado ao menos se comparado
ao contexto vivenciado por Mann. A Sucia da segunda metade do sculo XX vista
por olhos estrangeiros como um pas de plenos desenvolvimento social, estabilidade
poltica e econmica e qualidade de vida. Esperar-se-ia, em uma leitura ingnua,
que sua populao experimentasse a sensao do que se costuma chamar
felicidade. Contudo, Ingmar Bergman cria um cinema que retrata um homem sueco
spero, socialmente invlido, reduzido. A denncia que Bergman traz ao pblico,
apesar de abranger igualmente toda uma ideia de sociedade, se transfigura para um
plano muito mais ntimo, pessoal.
Todos na casa mostram suas frustraes quanto busca pela felicidade, o pai que
fundamentou sua vida na busca pela fortuna, o filho mais velho nas relaes
familiares e morais e o mais novo na carreira esportiva. O sonho americano da vida
perfeita mostra-se trgico e suscetvel a fraqueza da alma humana.