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SUMARIO EDITORIAL Marcos Cezar de Freitas INTRODUCAO Marisa Lajolo O LEITOR EO LIVRO Regina Zilberman ..... LEITURA B LIBERDADE: ALUNOS QUE GOSTAVAM DE LER Ilka Maria de Oliveira 41 O ENSINO DE LEITURA E AS DISCUSSOES SOBRE A LEITURA DO TEXTO LITERARIO — AS EXIGENCIAS DO VESTIBULAR UNICAMP Carmen Cibele Ferreira s 49 CONTORNANDO A REPRESSAO: OS QUADRINHOS E A “LINGUAGEM ENQUADRADA” EM UM CONTO BRASILEIRO Sénia Yoshie Nakagawa.. 79 IMAGENS DE LEITURA NA LITERATURA DE CORDEL Luli Hata. PROJETO GRAFICO, ILUSTRAGAO E LEITURA DO TEXTO POETICO Luis Camargo ... HERCULANO E GARRETT NA QUESTAO DOS DIREITOS AUTORAIS Vanete Dutra Santana... 143 LENDO A HISTORIA EDITORIAL DE OS SERTOES DE EUCLYDES DA CUNHA: AS EDICOES LAEMMERT Antal Braganga ....... 155 DONA BENTA LE HANS STADEN Adriana Silene Vietra... O ROMANTISMO BRASILEIRO: LEITURA E TRANSFORMAGAO SOCIAL Valéria August... CONCEICAO: LEITORA DE CEM ROMANCES? Barbara Heller. LENDO A HISTORIA EDITORIAL DE OS SERTOES DE EUCLYDES DA CUNHA': AS EDICOES LAEMMERT Anibal Braganga Para Raquel O niimero de erros € equivocos em biografias, ensaios histéricos, em tudo que exige pesquisa ¢ erudicao, é verdadeiramente desconcertanie no Brasil. As daias, os nomes ndo sdo as vezes conferidos, porque © autor n&o tem secretério para fazé-lo e esse trabalho Grido ¢ penoso the airasaria de muitos meses 0 arremate do livro, E assim se vo perpetuando os maiores enganos em nossa historia literdria e cultural. Ora, este pequeno exdrdio é justamente para destacar 0 mérito de um livro como Histéria e Interpretacdo de Os Sertoes, de Olimpio de Souza [sic] Andrade, produto de longo e acurado labor de um homem que, alheio as rodas literdrias, ndo paga tributo ao sensacionalismo e & publicidade, Nao ha nesse livro wna pagina que nao tenha sido pensada e repensada, ¢ 56 ndo diremos que se trata de algo definitivo sobre o assunto, porque ensaios dessa natureza nunca séo definitivos, sempre sujeitos a retificagoes ¢ acréscimos resultantes de pesquisas posteriores. Mas, com relacao ao estado atual dos estudos euclidianos, podemos dizer que a obra diz a tiltima palavra. Brito Broca® Os historiadores mal comecaram a utilizar os documentos dos editores embora sejam as fontes mais ricas dentre todas para a historia dos livros. Robert Darnton* Estas notas iniciais para a hist6ria editorial’ de Os Sertdes, longe de pretenderem esgotar o tema, almejam chamar a atencio para as possibilidades que oferece a explotag%o de um campo de pesquisa pouco desenvolvido em nosso pais.’ O americano Robert Darnton, em O beijo de * Utilizamos a grafia original nos trechos citados. Preferimos a grafia do nome de Euclydes da Cunha conforme sua assinatura. ? A Gazeta, 21.8.1961. (ultimo artigo escrito pelo autor). In Escrita e vivéncia. Org. de Enid Yatsuda Frederico. Campinas: Editora da UNICAMP, 1993. p. 181-2. * Damion, 1990:123, * Entendemos “histéria editorial” como um campo de estudos integrado a hist6ria dos livros, conforme a proposta de Danton, referida a seguir. * © que nao escapou a observarao de Lajolo/Zilberman, 1996:117; “Num pais de tradiga0 escrita to recente e precdsia como 0 Brasil, e consequientemente com uma histéria de leitura HORIZONTES, Braganca Paulista, v. 15, p. 155-179, 1997 155 Lamourette, formula uma proposta teérico-metodoldgica para a Historia dos Livros,® entendida como spistoria social © cultural da comunicagao impressa”, que serviu de guia ¢ inspiracdo para este trabalho. Por se ter constitufdo num caso exemplar de sucesso editorial, jnusitado,” a historia das edigses de Os Sertoes (especialmente as primeiras) chamou a atengao de alguns pesquisadores. Francisco Venancio Filho, no livro A Gldria de Euclydes da Cunha, de 1940, apresenta no capitulo “As edigdes” um estudo da obra de EEC, incluindo Os Sertdes, até & edigdo a Venda na época da redacao, a décima quanta de abril de 1938. Em 1982, no suplemento do Didrio Oficial do Estado de Sio Paulo, de 18 de dezembre, Gedicado as comemoragdes dos 80 anos de langamento de Os Sertdes, aparece 0 trabalbo de Walnice Nogueira Galvao, “A hist6ria das Edigées” Esse mesmo estudo, com ligeitas ‘modificagdes ¢ atualizado até 1984, foi inclusdo, com o titulo “Histérico das edigdes”, na edigio critica de Os Sertaes, preparada pela autora e publicada pela Brasiliense, em 1985. ‘Além destes estudos, mais ou menos analiticos, podemos incluir outros trabalhos descritivos: no mémero da Revista “Leitores e Livros”, editada no Rio de Janeiro, onde se noticia & exposiggo comemorativa do cingiientendrio de Os Sertbes. promovida em dezerabro de 1952, pela Biblioteca Nacional, so listadas todas 28 edigdes das obras de EC em exposigao, Aparece até a vigesima segunda eaigae de Os Sete comemorativa, langada em 1952. O trabalho € antecedido de um pequeno cusaio de Dirce Cértes Riedel sobre a obra ge Buclydes. Na vigésima sétima edigdio de Os Sertdes, langada em 1968, esto listadas todas as edigoes anteriores, com as respectivas datas de Jangamento. ‘Em 1971 foi langada a Bibliografia de Euclides da Cunha, um trabalho de Irene Monteiro Reis, publicado pelo INL/MEC, incluindo a obra impressa, manuscritos, correspondéncia, iconografia, @ bibliografia sobre EC, etc. Apesar da adverténcia da autora de que nao é um “trabalho exaustivo”. trata-se de um volume de 417 paginas. A ‘obra comemorativa 80 anos de Os Servdes de Euclides da Cunha (1902-1982), coordenada por Célio Pinheiro. editada pelo Arquivo do Estado de Sae ‘Paulo, em 1982, inclui também 2 listagem das edicoes, atualizada, com as respectivas datas de langamento. ‘A obra de Francisco Venancio Filho, Euclydes da Cunha @ seus amigos, incksi notas e referéncias do autor as edigaes de Os Sertdes, além de oferecer fonte primdria fundamental na propria correspondéncia de BC. Em Historia e interpretacao de “OS Sertées”, Olimpio de Sousa Andrade faz indicagdes e dé referencias sobre as primeiras edigdes da obra. O mesmo deorre na biografia Buclides da Cunha, de Sylvio Rabello. caquanto prética social, to incipiente, nao debs de ser curioso que as historias Hiterérias $6 enavnaramente, e sempre em surdina, se ocupem 62s condigoes de producao e circulagao dos livros”. © Darnton, 1990: O que é a historia dos livros?, p. 109-31 7 Bm 1902 foram langados no Rio o ‘Canad, “urn romance muito falado”, de Graga Aranha, € G. Sertdes de Buclydes. Segundo Sodré, 1966: 334, mgpeesso igual s6 seria repetido em 191] quando 0 Alves langou A esfinge, de Afranio Peixoto”. 156 HORIZONTES, Braganga Paulista, ¥- 15, P- 155-179, 1997 Embora toda a bibliografia, quase sempre, se refira a um ou outro dado da histéria das edigdes de Os Sertées, tais referéncias repetem 0 que aparece nos estudos acima citados. O presente artigo desenvolve-se a partir da revisao destes estudos, confrontando-os, em especial, com a documentagao, inédita por mais de noventa anos, a que tivemos acesso nos arquivos da editora Francisco Alves, e que, em parte, esta reproduzida em anexo. ‘A historia dos quase cem anos de publicacao de Os Sertdes se imbrica com a das condig6es politicas, intelectuais, econdmicas e sociais do pais, Sem ignorar os condicionamentos maiores, que inclusive atuam sobre as editoras e o mercado editorial, admitimos, entretanto, que a historia editorial de Os Sertées expressa mais as vicissitudes ¢ potencialidades apresentadas pelas empresas editoriais Laemmert ¢ Francisco Alves ao longo desses anos. Delimitamos nosso estudo as edigdes Laemmert’, as trés primeiras, feitas em vida do Autor, que as corrigiu © modificou. Este perfodo vai de 1901, quando é assinado 0 contrato para a primeira edigdo, até 1909, quando falece Euclydes. Restringimos estas notas, ainda, a apenas alguns aspectos da hist6ria editorial de Os Sertdes: andlise dos contratos de cessio de direitos autorais, datas de langamento, pregos, tiragens ¢ © tempo que as edigses demoraram a se esgotar. Ao final abordaremos a questo do “lucro de ordem moral” a que se referiu EC ao comentar as bases financeiras dos contratos editoriais de Os Sertoes. Da PRIMEIRA EDICAO A DATA DO LANCAMENTO Venancio Filho, 1940:62, afirma: “‘Os Sertdes’ apareceu nos primeiros dias de dezembro de 1902. Cartas do editor, que se salvaram, situam o acontecimento, dos mais memordveis da literatura brasileira, antes do dia 6 de dezembro’. O que, embora correto, como veremos, é extremamente impreciso e insuficiente, além de indicar de forma muito vaga afonte. Pinheiro, 1982:66, indica em cronologia biogrdfica de Euclydes que “é langado no Rio, Os Sertes no dia 2 de dezembro de 1902”; as indicagdes de Olimpio de Sousa Andrade para a questiio sio de que Os Sertdes “deve ter sido langado entre esses meses [agosto e outubro] e nao em dezembro, como tem sido afirmado..."(Andrade, 1960:262.). Galvao, 1985:18, afirma apenas: “... dada a luz em 1902...” * 0 estudo das edigdes Francisco Alves sera publicado posteriormente, HORIZONTES, Braganga Paulista, v. 15, p. 155-179, 1997 157 Sabemos, pelo contrato assinado entre Euclydes da Cunha e a Laemmert, (ver anexo I) que a previsio para o langamento era 30 de abril de 1902 (cldusula terceira), Pelas cartas de EC (jé) publicadas podemos constatar: em 10/04/1902, a (Francisco) Escobar: “O meu livro vai muito regularmente. Ainda hoje tespondi a carta do Laemmert - sobre 0 papel a empregar.’ Tenho ja revisto algumas provas. Nao estard pronto no fim deste [més] conforme o contrato”. (Venancio Filho, 1938:71-2). Em 14/05/1902, ao mesmo Escobar: “pretendo levar-te as primeiras paginas, j4 definitivamente impressas, do meu livro”. (Idem, ibidem, p.72), Em 10 de agosto: “Wenho do Rio, onde fui - celeremente, de um noturno a outro, - para conversar com o Laemmert e saber o dia que, afinal, ficard pronto o meu encaiporado livro”. (Idem, ibidem, 74). Bm 03/10/1902, ao mesmo Escobar: “... parti logo para o Rio; 14 conversei com os Laemmert sobre © livro que estaré pronto ao fim deste’(Idem, ibidem, 76). Em 19/10/1902: “Chamaste-me a ateng3o para varios descuidos dos meus “Sertdes”: fui 16-lo com mais cuidado - e fiquei apavorado! J4 nao tenho corajem de o abrir mais.”(...). Vou escrever ao Laemmert para reduzir quanto possivel, a 1* edicdo, si houver tempo” (Idem, ibidem, 78-9)."° © contrato e a leitura atenta da correspondéncia de Euclydes, portanto, permitem-nos afirmar, que Os Sertées foi publicado apés o dia 3 € antes do dia 19 de outubro de 1902. Jé em 03/12/1902, em carta a José Veris no ‘Correio’ de hontem a noticia do seu juizo critico sobre os ‘Sertdes’, (Venancio Filho, ibidem, 79). imo, afirma EC: “Ao ler O FINANCIAMENTO E OS LUCROS DA PRIMEIRA EDICAO Venaincio Filho, 1940: 63-4, afirma: “Depois do entendimento resolve Euclydes custear a ediga0, dando 1:500$000 pela sua impressiio”. E a seguir na p. 65: “surgido em dezembro de 1902, em fevereiro de 1903 recebe Euclydes 0 saldo de 2:198$750 (...)” Andrade, 1960:262, afirma: “Buclides acabou por financiar, cle préprio, com um conto e quinhentos, mais ou menos © dobro de seu ordenado, 0 langamento da primeira edigio” e que, “j4 em fevereiro de 1903, [a Laemmert] pagava a Fuclides o saldo de dois contos e duzentos daquela edigao (...)” Galvao, 1985:22, afirma que “Olimpio de Sousa Andrade, escrupuloso pesquisador, junta as informacdes que conseguiu reunir e fornece o seguinte quadro. A primeira edigao foi financiada pelo Autor, com a quantia de um conto € quinhentos (...). Recebeu como saldo da primeira edigdo dois contos ¢ duzentos. (...) Nao esquegamos que, mesmo com 0 autofinanciamento, Euclides precisou de empenhos pessoais para editar seu livro”. ° & cldusula segunda do contrato estabelecia: “Os editores Laemmert & Cia. obrigam-se a fazer uma edigo nitida em papel igual ao livro ‘Sonhos'(...)”, ‘ Certamente, EC sabia que tal pedido s6 poderia valer para 0 acabamento dos volumes impressos, isto 6, a encademagio: brochura ou cartonagem. 158 HORIZONTES, Braganga Paulista, v. 15, p. 155-179, 1997 Lajolo e Zilberman, 1996:322, no quadro sobre a “Remuneragiio do trabalho intelectual no Brasil (1820-1930)”, afirmam que a remuneragaio recebida em 1902 por Buclydes da Cunha, pelo Os Sertées, foi de 7008000, certamente valendo-se da afirmag&o de Monteiro Lobato contida em carta (citada no livro, p. 109) a Waldomiro Silveira: “o comum € darem eles - Alves ¢ outros - 10% sobre o prego do livro proporgao da venda, caso nao adquiram a propriedade por uns mil réis, que raro chegam a conto (0 Euclydes receben 700$000 pelos Sertoes”). Ao contrario do que afirmam os autores acima, fiando-se da equivocada interpretacdo de Venancio Filho, Euclydes nao financiou a primeira edigdo de Os Sertées. Financiar a edicao, quer dizer, na linguagem do mundo editorial e livreiro, que o Autor paga ao editor (ou A grdfica) a impressio de sua obra. No primeiro caso, em geral, recebendo 0 selo da editora no livro. Através de um contrato com o editor, Euclydes obrigou-se a “contribu[ir] com a quantia de um conto e quinhentos mil réis (R 1:500$00) para as despezas da impressdo sendo a metade no acto da assignatura d’este contracto e 0 resto até 30 de abril de 1902 prazo em que deveré ficar prompta a obra”, conforme a cldusula terceira (ver anexo I). A contribuigao do Autor em nenhum momento se caracteriza como contratagao dos servicos graficos, n&o s6 porque no se estabelece o prego desses servigos, ao contrario, afirma-se que 0 Autor contribui com um valor “para as despezas da impressao” ¢ © prdprio verbo usado “contribuir” indica que as despesas deverao ser maiores. Tal contrato caracteriza, isto sim, que o editor nao quis assumir totalmente 0 risco do’ empreendimento e propés ao Autor um contrato, nao incomum a época, em que Autor e editor dividiriam, igualmente, encargos e resultados. Esté mais proximo da realidade, Citelli, 1996: 36-37, quando afirma que a 1° edigao foi “(...) financiada pelo proprio Euclides da Cunha, que teria investido (grifo nosso) um conto e quinhentos - aproximadamente metade [sic] do seu saldrio de engenheiro da Secretaria de Obras do Estado de S40 Paulo - e recebido como saldo dois contos e duzentos”. O contrato, apesar de em seu cabecalho afirmar que trata da “{mpressio do livro Os Sertées (Canudos)”, € um contrato editorial tipico, estabelecido entre Autor e editor, para cessio de direitos autorais de uma obra a ser editada e comercializada pelo editor. A exigéncia de participagéo do Autor no investimento financeiro valia apenas para a primeira edigao. O mesmo contrato j4 estabelece na ultima clausula (a sétima), que “No caso de proceder-se a uma segunda edigao, regularo as mesmas condicbes do presente contracto, excepto a contribuico pecunidria do Autor”. O que nao deixa dtividas, no s6 que o contrato nfo era para a “impressao do livro” e, menos ainda, para o “autofinanciamento” da edicao. Era, isto sim, um contrato de cessao de direitos autorais, O que, de fato, aparece claro na primeira cliusula: “O autor Dr. Euclides da Cunha entrega aos editores Laemmert & Cia. o manuscripto do seu livro Os Serides para ser por elles HORIZONTES, Braganga Paulista, v. 15, p. 155-179, 1997 459 editado”. E, caracterizando as bases econémico-financeiras, estabelece-se claramente na cldusula 6a.: “Do produto liquide da venda se pagard em primeiro lugar as despesas da impressao ¢ brochura [isto é, vale dizer, 0 esto industrial da producao], ¢ 0 lucro liquido que resultar ser dividido em partes iguais entre 0 Autor € os editores”. ‘A certeza do tipo de contrato que tinha estabelecido se confirma, indiretamente, nas cartas ao pai de Euclydes. Em 25/02/93 afirma 0 Autor “Estive no Rio e modifico um pouco o que disse sobre os editores dos Sertoes. Pelas contas que vi, as despesas foram, de fato, grandes - de sorte que, dividido 0 liquido, terei um ou dois contos de réis*(Venancio Filho, 1938: 84-85). Antes, em outra carta, de 19/02/93, afirma: “Agora € que cu vejo como fui tolo em celebrar 0 contrato (grifo nosso) que fiz! Payvavelmente terei uma ninharia pela primeira edigio, j4 esgotada. (Venancio Filho, 1938: 83). Feitas as contas, coube ao Autor 0 saldo de 2:1988750, que lhe foi pago em 25/04/1903"! (conforme documentagio da editora: o original do recibo foi doado, como outros documentos relacionados com Euclydes, 3 ‘Academia Brasileira de Letras). Assim, © lucro liquido do Autor foi de 698$750, bem préximo do que afirma Monteiro Lobato na carta citada, sé que nao se refere & compra da “propriedade da obra”. O que s6 viria a ocorrer depois da segunda edicao O PREGO DE CAPAE 0 SUCESSO DE VENDAS © livro Os Sertoes teve sucesso imediato, esgotando-se a sua primeira edigio rapidamente. Pela carta de Euclydes a seu amigo Francisco Escobar, de 19/10/1902, jé citada (Vendncio Filho, 1938:78) em que afirma, dante dos “descuidos” de revisio que o deixavam “passivel da férula brutal dos terrfveis gramatiqueiros que passam por af os dias a remascar preposigdes e a disciplinar pronomes!”, que jé nao tinha “corajem de 0 abrir Paais”, sabemos que 0 livro estava pronto. Dai até & outra carta dirigida a0 pai, de 19/02/1903, (Vendncio Filho, 1938:83) onde afirma ter recebido emma carta do Laemmert declarando-me que ¢ obrigado a apressar a segunda edigdo (..)” para atender aos pedidos que “no péde satisfazer por estar exgotada a 1°", embora o Autor acrescente: “Isto em dois mezes!”. na tealidade, feitas as contas, pode afirmar-se que a obra esgotou-se em brevissimos quatro meses Ge so We gS 0 A data do pagamento retifica 0 que afirmam: Venfincio Filho, 1940:64: “fevereiro de 1903 ‘Andrade, 1960:262: "em fevereico de 1903", Tal data sem indicagko da fonte. pode ter-se baceads ha leitura apressada de uma carta de Euclydes 20 pai. datada de 25/02/1903, (Venancio Filho, 1938:84), citada. 160 HORIZONTES, Braganca Paulista, v. 15, p. 155-179, 1997 aan Viriato Corréa, em matéria publicada na revista A Illustragao Brazileira [pp.99-100], de 15/08/1909", portanto, quase sete anos apds 0 lancamento do livro, aparece como fonte para uma hist6ria inveross{mil!* gue Euclydes, apés o lancamento do livro (e com medo das provaveis Griticas) teria empreendido uma “viagem pelas ‘cidades ¢ vilas do interior de Sao Paulo’ sem itinerdrio certo, a ésmo”, e que teria, ao voltar, “encontrado duas cartas remetidas pelo editor, apds 0 langamento do livro. Na primeira (que Euclydes teria lido depois) o editor declarava que “se arrependera de ter editado o livro. Nenhum exemplar conseguira vender pelo prego estipulado: dez mil réis. Oferecera-o j4 aos sebos da Rua Sao José, a cinco mil réis, para salvar 0 prejuizo e nenhum deles aceitara”; ¢ uma outra, com data posterior, ém que o editor “comunicava que Os Serides tinham feito um grande sucesso. Em oito dias, a metade da edigdo se esgotara. Nunca na vida do livreiro vira acontecimento igual” (© que podemos aproveitar, parece-nos, € a indicagio do prego de venda. E ver o restante da historia, que foi bastante esticada em Rabello, 1966:166-170, como “ficgdo”, pelo menos, até aparecerem as fontes documentais. Chega a surpreender que tal histéria tenha tido curso.. especialmente a de que 0 editor tentou “liquidar” o livro por nao encontrar compradores no langamento € que na primeira semana tenha yendido mais da metade da edigao! Apesar disso, a Historia & citada em Venancio Filho, 1940:63-64, dentre outros" Embora possamos duvidar da fonte, a indicago do prego de capa de Os Sertées, 1° edicfo, em dez mil réis, parece-nos confidvel. Isto porque podemos confronté-la com os precos indicados no folheto Juizos Criticos vobre Os Sertdes de Euclydes da Cunha, publicado pela Laemmert em 1904, que nos informa, em sua capa, terem sido de 108000 ¢ 85000, respectivamente, os pregos dos exemplares encadernados e brochados da segunda ediciio. Isto coloca por terra, desde j4, a afirmagdo intempestiva da pesquisadora Walnice Galvao na edicfo critica de Os Sertdes (Galvao, 1985:21): “Os dados a respeito de tiragens e pregos das primeiras edigdes de Os Sertdes so inexistentes, entrando no quadro geral das calamidades que assolam o conhecimento possfvel das condigdes materiais de publicagao de livros em nosso pa(s”. Até porque existe também a informacao documental sobre a tiragem da I* edigZo e provas “indiciérias” sobre as da 2° e da 3° como se vera a seguir. ° esbensptet el el 2 Note-se: dia da morte de EC 13 4 hist6ria esta contada no texto como tendo sido informacao do proprio EC. Viriato Coréa a classifica como “a histdria ingénua [sic} da obra méxima da nossa literatura” 1 Lutterbach, 1988:31, chega a afirmar, citando a mesma fonte, € referindo-se a essas (supostas) cartas que: “na segunda, Massow declara-se assombrado com a venda; em oito dias desaparecera um milheiro”. 5 J4 a partir da 4? edicao ha dados documentais sobre as Uragens de quase todas as edigdes. Ver a 2a. parte deste trabalho, a ser publicada HORIZONTES, Braganca Paulista, v- 15, p. 155-179, 1997 161 ATIRAGEM Venancio Filho, 1938:79, em nota a uma carta de EC ao seu amigo Escobar, de 19/10/1902, afirma: “Buclydes, apavorado com a critica eramatiqueira que the poderiam fazer por alguns descuidos de revisio. corrigiu, depois de impressos Os Sertdes, varios erros tipogréficos (os mais graves), a nanquim e ponta de canivete em cerca de mil exemplares a edic&o), J4 em 1940:63, citando Viriato Corréa, afirma que “fez Euclydes cerca de 80 emendas em 2.000 exemplares, (...)” ‘Andrade, 1960:264, citando Venancio Filho, 1940:63, afirma que “ele (Buclydes] se disp6s a fazer em cada um dos exemplares da edigao de mil {sic], ainda em poder do editor, cerca de oitenta emendas a bico de pena e ponta de canivete...”. Galvao, 1982:29, afirma: “Os dados a respeito de tiragens e precos das primeiras edigbes de Os Sertées sao inexistentes (...)”. O mesmo se repete quando da publicagdo atualizada desse texto que aparece na edigao critica de Os Sertées (1985:18-39) ‘A pesquisa nos arquivos da editora Francisco Alves permitiu-nos localizar 0 contrato de cessio de direitos para a 1* edigio'® feito entre o ‘Autor e¢ a Laemmert, onde € possivel saber-se que edigao foi de 1.200 exemplares, conforme est estabelecido na cldusula segunda Este documento, de importncia inegavel, nao havia sido consultado pelos pesquisadores da obra euclydeana, dando origem aos equivocos apontados. DA SEGUNDA EDICAO O CONTRATO COM 0 EDITOR E OS DIREITOS AUTORAIS ‘As condig6es financeiras da cessiio dos direitos autorais para uma segunda edigo estavam acordadas na clausula sétima do contrato inicial: cingienta por cento do lucto liquido, para o Autor. Os editores, entretanto, jé ai confiantes nas perspectivas de bons resultados, propuseram ima nova formala: nfo mais dividir os lucros e sim pagar direitos autorais, antecipados (sem esperar a venda dos exemplares) ¢ pela edicao total, num jontante de R 1:600S000."" Euclydes, talvez premido pela situagio financeira, aceitou esta alteragao nas regras estabelecidas, desvantajosa para ele. Sua carta de aceitagio, inédita, esta datada de 6 de junho de 1903 (ver anexo Tl), e nela nfo se faz referéncia @ tiragem. Nem existem indicagées especificas na bibliografia. Podemos, entretanto, super com a a ee ee 15 Ver anexo 1. O original foi doado pela editora Francisco Alves & Academia Brasileira de Letras. 17 & mais vinte ou vinte e cinco exemplares. 18 Em carta 20 pai, de 12/06/1903, (Vendncio Filho, 1938:100), diria: “Aceitei porque precize fazer uma entrada do seguro de vida que fiz, (.)” 162 HORIZONTES, Braganca Paulista, v. 15, p- 155-179, 1997 Eee grande margem de seguranca, o total de exemplares dessa edicio. Considerando que o usual j4 naquela época era a utilizagio do percentual de 10% sobre o preco de capa (conforme inclusive a ja citada carta de Monteiro Lobato) e sabendo-se agora que 0 prego de venda da segunda edicao, R 88000, a brochura, ¢ R 10S000, o volume encadernado, pode garantir-se, a partir desses indicios” que a tiragem da segunda edigfo foi de 2.000 exemplares. O que é coerente diante do sucesso de vendas da primeira.” A DATA DO LANCAMENTO Venancio Filho, 1940:64, afirma ter sido em setembro de 1903; Andrade, 1960:262, afirma, também ter sido em setembro de 1903; ja Rabello, 1966:215, afirma “Os Serides sairam em segunda edigdo em 9 de julho de 1903, pouco mais de seis meses [sic] da primeira. Era um caso ainda niio verificado no mercado de livros do pais”. © mesmo indica Lutterbach, 1988:32. A nota editorial “O Autor e sua obra”, aposta A edigdo de Os Sertées do Circulo do Livro (Sao Paulo, 1975:488), indica que “a segunda edic&io saiu em 12 de julho de 1903” Euclydes fornece em carta a seu pai, de 12/06/1903, a data com preciso, (Venancio Filho, 1938:100): “O Laemmert propéz comprat-me desde jé por 1:600$000 a segunda edig&o dos ‘Sertes’ que saiu ha 3 dias” Isto &, saiu a 9 de junho de 1903. As “Notas da segunda edigao”, do Autor, estao datadas de 17/04/1903. DA TERCEIRA EDICAO. A DATA DE LANCAMENTO E A TIRAGEM Nao localizamos até aqui documentagao que nos indique o dia e 0 més de langamento da terceira edicdo. Sabe-se no entanto que a edicio ¢ de 1905, pela data constante na folha de rosto do livro. Os pesquisadores entretanto tem apresentado indicacdes, sem apresentar as fontes, que sio claramente equivocadas. A mesma imprecisdo ocorre com relagao a tiragem. Venancio Filho, 1940:65, afirma: “Em abril de 1904 surge a 3* [edigdo] (...). Eram 6000 exemplares no prazo de dois anos”. Andrade, 1960:262, afirma: ... depois pela terceira [edigfo], de abril de 1904, pondo no mercado, no espaco reduzido de ano e meio, seis mil exemplares, que traduziram o grande e legitimo sucesso editorial daquele tempo”. ” Sobre a utilizagio do “paradigma indicidrio” em historia, ver: Ginzburg, 1989:143-179. ™ Deve descartar-se a hipGtese de que a tiragem possa ter sido de mil exemplares com 0 percentual de direitos autorais na base de 20%, incomum, mas nfo taro, na época, considerando-se, também que o pagamento foi feito antecipadamente. HORIZONTES, Braganga Paulista, v. 15, p. 155-179, 1997 163 Galvio, 1982:29, afirma: “No total, as trés edigdes somaram seis mil exemplares”. J4 na segunda versio do trabalho “Histérico das edicées”, na edigo critica, € mais cautelosa: “... teriam sido seis mil exemplares ‘A indicagao da data de langamento por Venancio Filho, repetido por Andrade, é claramente equivocada, considerando-se a data da edigao na folha de rosto do livro. Deve ter-se originado 0 engano no fato de Buclydes ter negociado os direitos autorais em 22 de abril de 1904, (veja anexo If). Quanto a tiragem os autores consultados, como vimos, nao fazem indicagdes especfficas para a terceira edi¢o. Como nao localizamos até aqui documentagdo que nos oferega, com preciso, esse mimero, voltamos a utilizar o método “indicidrio”. Levamos em conta que o Autor vendeu os direitos (definitivos, como veremos a seguir, pormenorizadamente) por R 1:800S000 Considerando que os editores nao proporiam um valor inferior para a compra definitiva do que teriam que pagar por aquela tinica edigdo, descartamos tiragem superior a dois mil exemplares. Assim, mantido 0 prego de capa da segunda edigao, e 0 mesmo percentual de 10%, os direitos seriam igualmente de 1:600$000, Ou 1:800$000 se o cdlculo fosse feito levando-se em conta o prego médio dos exemplares brochados ¢ cartonados. Ou que os editores tenham oferecido esse pequeno acréscimo como compensago & cessio definitiva dos direitos Por outro lado, considerando o sucesso de vendas da segunda edigao nada indica tiragem menor que a dessa edicfo. Assim sendo, chegamos & conclusio que, de novo, a tiragem foi de 2000 exemplares. O que nos permite afirmar que a tiragem total das edicdes Laemmert atingiu 5.200 exemplares. Niimero que deve retificar as indicagses da bibliografia euclydeana, que ignora, seguramente, a0 menos, a tiragem da primeira edicao. O mimero de edigées ¢ 0 total de 5200 exemplares langados pela Laemmert expressam, sem dtivida, um dos maiores sucessos de vendas no restrito mercado livreiro do inicio do século no Brasil. Hé que considerar, entretanto, alguns registros da bibliografia sobre 0 ritmo de vendas de Os Sertées. Venancio Filho, 1940:65, afirma: “Eram 6000 exemplares, no prazo de 2 anos. Que obra, entre nds, daquela natureza, daquele tomo, daquele preco, apresenta sucesso semelhante?”. Andrade, 1960:262, afirma: “[A Laemmert] pondo no mercado, no espaco reduzido de ano e meio, seis mil exemplares, que traduziam o grande ¢ legitimo sucesso editorial daquele tempo”. Hallewell, 1985:175, afirma: “Os Sertdes, de Euclides da Cunha, Laemmert 0 publicara em 1902 e vendera trés edigdes, num total de 10.000 exemplares, em sete anos; pelos padrées da época, foi, sem duivida, um grande éxito de vendas”. Conforme vimos, as trés edigdes foram lancadas de outubro de 1902 a 1905, portanto num espago superior a dois anos, podendo chegar a, aproximadamente, trés anos. 164 HORIZONTES, Braganga Paulista, v. 15, p. 155-179, 1997 Quanto ao ritmo das vendas, levando-se em conta que a terceira edigao foi para as livrarias em 1905 ¢ certamente (pelo que vimos acontecer antes e depois) poderd ter levado até dois anos a se esgotar, pode-se afirmar, com pequena margem de erro, que as trés edigdes foram vendidas em aproximadamente cinco anos: O que nos leva a conjecturar sobre o que teria impedido a Laemmert de fazer nova edigdo antes de 1909, quando o incndio encerrou as atividades da livraria. Dos DIREITOS AUTORAIS, DA PROFISSIONALIZACAO DO BSCRITOR EO “LUCRO DE ORDEM MORAL” Euclydes da Cunha, em 22 de abril de 1904, cedeu a “propriedade plenae inteira” de Os Serides a Laemmert & Cia., por 1:8008000, pagos em suas vezes, sendo 1:000S000 no ato e 800$000 em “letra aceita para 22 de julho p. futuro”. Além desse valor, Euclydes garantiu que “de cada edigao que se fizer” Ihe seriam “reservados” cingitenta volumes, gratuitamente, Esta cesséo definitiva incluiu os direitos de_tradugao, “exceptuando-se apenas a que se fizer para a lingua italiana”.”' ficando os editores com 0 direito de “imprimir ¢ vender a (...) obra em terceira ou mas edigdes como melhor convier aos seus interesses” (ver anexo mm). Causa espécie o valor da transagao. Nao por sabermos agora que a obra teve depois mais de trinta edigdes. E que com a cessio definitiva 0 Autor ficou exclufdo das vantagens a que teria direito regularmente. Ou, no caso, os seus herdeiros. Esse estranhamento se deve a que, menos de umn ano antes, 0 autor havia recebido pela cessao dos direitos, apenas para a segunda edigfo, 1:6008000, vista. E 0 livro continuava a ser o mesmo sucesso de vendas. Diferentemente do que ocorreu nas vezes anteriores, Euclydes nao fez nas cartas,2 qualquer referéncia a essa transacHio, que nao chegou a chamar a atengdo dos pesquisadores, até aqui.” Entendemos que € necessario conhecer as circunstdncias pessoais de Euclydes, na oportunidade, e, mais ainda, as condigdes socials vigentes no campo intelectual no Brasil do inicio do século, para compreendermos a transagao e a posigdo do Autor diante das possibilidades de rendimentos que sua obra Ihe poderia trazer. E talvez consigamos esclarecer a questao sempre referida do “lucro de ordem moral” pretendido por Euclydes. ‘A. venda dos direitos definitivos foi feita sob o impacto do abandono do emptego” que, com empenho, Euclydes havia conseguido trés inion S epee a 21 Equivocadamente, Venincio Filho, 1966:65, indica a lingua inglesa. A traducio italiana foi langada em 1953 (ver Pinheiro, 1982:68). Desconhecemos se 8 herdeiros receberam os devidos direitos autorais. 2 Aguarda-se a publicagdo, pela Edusp. de um volume da correspondéncia de Euclydes, contendo cartas inéditas. 3 Venancio Filho, 1940:64, fala com entusiasmo do “sucesso financeiro” do Autor com a venda dos direitos autorais. HORIZONTES, Bragana Paulista, v. 15, p. 185-179, 1997 165 meses antes na Companhia de Saneamento de Santos, e que o tinha levado a morar com a familia em Guarujé. Euclydes j4 havia tido a consagragao de ser recebido no Instituto Histérico e Geogrifico Brasileiro ¢ na A ademia Brasileira de Letras. A conselho de Coelho Neto, deslocou-se ao Rio de Janeiro para procurar novo emprego, uma “coloca¢io no funcionalismo”, junto a seu ex- colega da Escola Militar, Lauro Miller, a época Ministro dos Transportes. Euclydes escreveu duas cartas onde, sem aludir & negociagao dos direitos, refere-se a essa estada no Rio de Janeiro, que certamente facilitou 0 seu encontro com os editores e a concretizacaio do negécio. Uma, enviada ainda da capital, no mesmo dia em que fez a transacio com a Laemmert, a seu amigo Coelho Neto: (Venancio Filho, 1938:120-2): .. rompendo com um propozito que me parecia inflextvel, procurei o Lauro Miiller e pedi wm emprego. (...) Em rezumo, volto amanha para Guarujé, jd repleto de esperancas; € conto que dentro de 2 ou 3 mezes estarei restituido @ enjenharia. (..) Mas como ndo poderei_ficar inativo (repito: a minha demissdo foi uma cartada no vacuo; precizo trabalhar ja e jé), aceitei o convite que me fez o Lage para escrever n’"O Paiz”. Escreverei também n'“O Estado”. Mas tudo isto é provizorio. A outta, escrita em 27/04/1904, (cinco dias apés), de Guarujé, dirigida ao amigo Vicente [de Carvalho], traz um desabafo (Venancio Filho, 1938:123-5): “Estive no Rio. Fui cativantemente recebido pelo Lauro Miiller; e voltei cheio de esperancas Considerando, porém, 0 dolorozo estado em que encontrei ali a pobre enjenharia - torpemenie jogada na calagaria estéril da rua do Ouvidor ou entupindo as escadas das Secretarias - creio bem que todas as esperangas sao vas. Que poderdo arranjar-me? Imajina, portanto, quanta vacilagao € quanto ajitar o ser e o nao ser, me lavraram devastadoramente 0 espirito... - Espero muita coiza; alimento projetos varios, todos mais ou 34 Rabello, 1966:216-7, afirma ter sido no mesmo 22 de abril que Euclydes ficara “novamente sem emprego”, abandonando o cargo de engenheiro fiscal que havia assumido a 15 de janeiro do mesmo ano; CP, 1902:87, afirma que a data € 24 de abril de 1904; j4 Vendncio Filho, 1940:40-1, indica simplesmente: “entretanto, desinteligéncias com 0 chefe forgam-no a demitir-se em abril de 1904”, ¢ continua: “Fica a0 desamparo, em situagtio angustiosa”. 2 Rabello, 1966:215: [Sobre Fuclydes]: “A sua situago econémica ia piorar consideravelmente no tempo da consagraco como escritor”. 166 HORIZONTES, Braganga Paulista, y. 15, p. 155-179, 1997 menos viaveis, faliveis todos; acenam-me com varias colocagées; imajino outras, que se esvaem logo; e nesse tumulto, vou-me ajitando no estonteamento de quem segue tateando entre mirajens. - Dolorozo & isto: tenho doze anos de carreira fatigante, abnegada, _ honesttssima, elojiada, tracada retilineamente; passei-os como um asceta, com a mdxima parcimonia, sem uma hora de festa dispendioza, e chego ao fim desta reta tdo firme, inteiramente desaparethado! - (...) Porque agora, de repente, ndo ha béa vontade nem influencias que me consigam béa colocagéo no funcionalismo. (...) Pois, meu Vicente, estende-me de ld a tua mao amiga, para que este sudeste rijo da desgraca ndo arrebate inteiramente o teu - Euclydes”. Numa carta longa, também nenhuma referéncia ao negécio editorial. Mas, isto sim, referéncias a “colocagao no funcionalismo”, dificil, apesar da “boa vontade” e das “influéncias”. Nao é desprezfvel, entretanto, 0 nao dito e o dito nas cartas em que EC se refere a sua estada no Rio de Janeiro. No disse do negécio editorial. Talvez por saber-se, no caso, vulnervel a admoestagGes. Mas nao sé. Podemos verificar que Euclydes, desde a primeira negociagao dos direitos da obra, esta mais interessado no que ele chama de “lucro de ordem moral” que poderia alcancar com a publicagao de Os Sertdes. Na carta que envia ao pai, em 25/02/1903 (Venancio Filho, 1938:85), apés saber quanto Ihe caberia de lucros da primeira edi¢ao, afirma: “Q que sobretudo me satisfaz ¢ 0 lucro de ordem moral obtido: a opiniéo nacional inteira que, pelo seus melhores filhos, est4 inteiramente ao meu lado”, Quando da venda dos direitos da segunda edicio, escreve novamente ao pai, em 12/07/1903 (Venancio Filho, 1938:100), para comunicar ter aceito a proposta (de pagamento antecipado de 1:600$000, deve lembrar-se) e justifica: “Aceitei porque precizo fazer uma entrada do seguro de vida que fiz, e com o que anteriormente recebi paguei as dividas que tinha”. E completa: “Além disto, nada perco porque num primeiro livro 56 se aspira a um lucro de ordem moral, ¢ este eu tive de sobra” Este “lucro de ordem moral” que é, para Euclydes, como vimos, ter “a opinido nacional inteira (...), pelos seus melhores filhos, (...) inteiramente ao [seu] lado”, é, de certa forma, 0 mesmo que deseja Humberto de Campos (in Machado Neto, 1973:184): “Admiragio literria dos seus pares, € que poucos desfrutam. E esta que um homem de letras deve cobigar”. EC voltaria a referir-se aos “lucros de ordem moral”, quando, em carta a seu amigo Escobar, de 24/07/1903 (Venancio Filho, 1938:105) comenta suas chances na eleig¢ao para a Academia Brasileira de Letras. Apés HORIZONTES, Braganga Paulista, v. 15, p. 155-179, 1997 167 relacionar os “votos certos” de académicos como Rio Branco, Machado de Assis, Arthur Azevedo, Coelho Neto, dentre outros, afirma “Como vés - si nao triunfar tenho em compensagao a élite dos nossos homens de talento a meu lado. Nem quero outro vitsria”. Machado Neto que, em seu rigoroso estudo Estrurura social da Repiiblica das Letras (ver bibliogratia) analisou a vida intelectual brasileira de 1870 a 1930, fala sobre as possibilidades, na época de Euclydes, que se ofereciam aos escritores (Machado Neto, 1973:187): A remuneracdo, niio tanio pecunidria, mas sobretudo psicoldgica que, na época - falta de outros recursos mais materiais e oportunidades profissionais mais efetivas -, correspondia @ uma posi¢do de destaque no mundo das letras, era, de fato, compensadora e atrativa. Ser considerado um literato, um homem de letras ou, mesmo, um jovem poeta de talento promissor era uma condigao invejdvel, que rendia oportunidades de boas colocagées diplomdticas ou magisteriais, por vezes até altos postos politicos nos trés poderes da Repiblica. Euclydes que chegara ao topo da hierarquia no mundo das letras em carreira meteorica (desconhecido em 1902, eleito membro da Academia em 1903) foi aprendendo os limites ¢ possibilidades que o prestigio da literatura na Belle Epoque oferecia aos integrantes da Republica das Letras (ver Sevcenko, 1983:226 e segs.). Em carta, jé citada, a Coelho Neto (Venancio Filho, 1938: 121-122) relata a vivéncia pessoal do prestigio do escritor, na ocasifio em que procurou Lauro Miller para tentar conseguir um emprego no servigo publico: Ha em cada caracol das escadas que levam aos gabinetes dos ministros uma espiral de Dante. Considera agora isto: eu entrei por uma delas; ninguem me conhecia; esquecera-me a preliminar de um cartéo, de um empenho; de sorte que, a breve trecho, no apertao dos candidatos afoitos, capazes de pagarem com dois anos de vida cada degrau da subida, me vi frechado de olhares rancorozos... Estaquei, arfando, espetado, em pleno peito, por um cotovelo, rifido e duro, de concurrente indomavel; ndo ouvi 0 trajico ranjer de dentes; ouvi grunhidos. Quiz voltar; impossivel: néo havia romper-se a falanje que se unia, em baixo, inteiriga, hombros colados como os dos suissos medievais na hora da batalha. 168 HORIZONTES, Braganga Paulista, v. 15, p. 155-179, 1997 Tirei desesperadamente 0 lenco e amaldigoei-te, 6 homem, que, a cem leguas de distancia, com um movimento da pena e wm bater do coragao, me atiravas naquela ciscalhajem de almas, de musculos e de nervos! Mas naquele instante alvorogou um rosto amigo ¢ desconhecido e, logo apoz, sacudida por uin gesto, que rogou um impertinente cavaignac vizinho, como a aza de um passaro num capdo de mato, uma pergunta: - E 0 sr. ..? O cavaignac contemplou-me curioso, um sujeito gordo e tressuante por sua vez recuow, e na face cheia espalmou-se-the um sorrizo; um outro, tambem gordo (...) fez 0 milagre de afastar-se um pouco... € num minuto, nem sei como isso foi, estava Id em cima. E ld em cima empolgou-me a vaidade, porque, em verdade, quem me levara até la, com tania felicidade, fora o Euclydes da Cunha! Mesmo sem conseguir 0 éxito que almejava (e até se sentia no direito de obter), Euclydes procurou usar o “lucro de ordem moral” para entrar na politica, ao aceitar as articulagdes de seu amigo Francisco Escobar para que fosse candidato a deputado por Minas Gerais, vislambrando a “possibilidade de vir a erguer a voz na Camara, liberto de injungdes partidarias, j4 que seria o escritor 0 homem de pensamento, 0 estudioso dos nossos problemas que se elegeria” (Brito Broca, 1975:86). Também como “adido ao Itamarati”, sob a chefia de Rio Branco, “nutria a esperanga de ser aproveitado numa missao diplomatica no exterior” (/dem, ibidem). Finalmente conseguiu um lugar no magistério, como professor de légica do Gindsio Nacional (hoje Colégio Pedro 11) para o que nao péde prescindir da ajuda do seu poderoso amigo Baro do Rio Branco (Rabello, 1966:345). Sem conseguir ultrapassar os limites impostos pelo seu tempo, apesar do sucesso editorial de Os Sertées e da publicagao de Peru versus Bolivia (1907), Contrastes e confrontos (1907) e A marjem da histéria, (1909), por editoras prestigiosas e com éxito. (Contrastes e confrontos chegou a ser publicado em segunda edigdo no mesmo ano de langamento), ainda assim, jamais conseguiu ver em sua atividade de “escritor-cidadao” (Sevcenko, 1983:78 e segs.), uma atividade profissional rentavel, diretamente bem remunerada. Como outros de sua gerag4o, aspirava s6 (ou principalmente) aos “Iucros de ordem moral” Teré sido por nfo considerar, jd agora, importante a negociagio dos direitos que nada escreveu nas cartas a Coelho Neto e Vicente de Carvalho em que relatou sua viagem ao Rio de Janeiro, quando, além de procurar nova colocagao, vendeu os direitos definitivos de sua obra maior? Mas disse da sua aceitagio dos convites para colaborar nos jornais, porque “precizo trabalhar ja e ja”, como forma de atenuar a sua diffcil situagfo financeira. A HORIZONTES, Braganga Paulista, v. 15, p. 155-179, 1997 169 colaboragao na imprensa nesse perfodo dos “dias dificeis de 1704, que viria a formar quase todo 0 livro Contrastes e conjrontos, de 1907, (Rabello, 1966:222-3), no se constituiu, em Euclydes, uma prdtica constante de “financiar a literatura”, como ocorreu “durante certo tempo e€ em certos casos” (Lajolo & Zilberman, 1996:87) com varios escritores nesta fase de nossa histéria cultural. Com Euclydes, a financiadora mais constante foi a engenharia. Os Sertdes, se teve a atividade jornalistica na sua origem, deve sua existéncia ao labor empenhado e solitério do engenheiro construtor de pontes. ‘Além de ser, desde a campanha abolicionista o lugar onde se iam criando os fundamentos para a construgao de uma sociedade letrada, que nunca chegou a constituir-se plenamente no Brasil (Braganga, 1995:57-8), era também na imprensa periédica que se comecava a consolidar a profissao de escritor. Olavo Bilac, na introdugdo ao seu livro Ironia e piedade, publicado inicialmente em 1916, refere-se assim & sua geragdo, na qual se inclui Euclydes: A minha geracao, se niio teve outro merito, teve este, que nao foi pequeno: desbravou o caminho, fez da imprensa literéria uma profissdo remunerada, impoz 0 trabalho. (Bilac, 1926:9). A. profissionalizagao do escritor comegou no Brasil pela colaboragao efetiva ¢ constante na imprensa, que se ia desenvolvendo, apesar das limitagdes impostas por uma sociedade onde os alfabetizados constituiam uma pequena minoria. Segundo Sevcenko, 1983:101, “o analfabetismo quase total da populacao brasileira (...) impedia o desenvolvimento de um amplo mercado editorial. Os intelectuais viram-se assim compulsoriamente arrastados para o jornalismo, o funcionalismo ou a politica”. O escritor comeca a firmar-se profissionalmente, a par da imprensa, na producio de obras para o mercado escolar (Lajolo & Zilberman, 1996:91). ‘As condigées sociais, econdmicas ¢ culturais do Brasil da Primeira Republica restringiam as possibilidades de expansiio e modemizagao de nossa indtistria editorial. A partir da década de vinte se acentua 0 processo de industrializagao e expansdo urbana, com ampliaciio do sistema escolar ¢ do aparelho estatal, que se vai consolidar com as reformas trazidas pela Revolugao de 30. Estas transformacdes vao permitir o sucesso ja na década de vinte, de um editor revolucionario, Monteiro Lobato, que ird contribuir de forma efetiva para a construcao da moderna indiistria editorial brasileira. Desde o final do século passado até a década de trinta, quando se criam as condigdes para a “génese de um grupo de romancistas profissionais”, ”” verificaram-se embates que visavam transformar as relagdes 2 Rabello, 1966:223: “Quem 1é os artigos escritos por Euclides em 1904, (...) no semte por trfs deles o homem que necessitava ganhar dinheiro ¢ que, por isso, 05 alinhravasse” 27 Ver: Miceli, 1979:69 e segs. 170 HORIZONTES, Braganga Paulista, v. 15, p. 155-179, 1997 entre autores ¢ editores. Tais relages, A época de Euclydes, se desenvolviam em bases que contribufam para 0 retardamento da profissionalizaciio do escritor, para que niio se deixasse de pensar apenas nos “lucros de ordem moral” Jé em 1897 a relagio com os editores € denunciada pelo escritor Adolfo Caminha de forma percuciente (in Machado Neto, 1973:107): “José de Alencar, Macedo, Bernardo Guimaraes, os escriiores que mais produziram em nosso pais, morreram lastimavelmente pobres, numa quase indigéncia, ndo que a obra deles ficasse encathada, por falta de leitores, no fundo poeirento das livrarias. O autor do Guarani ainda é lido com entusiasmo por muita gente. Morreu pobre, com clementos de fortuna, com conseqiiéncia da usurdria especulagdo de seus editores. Esta é que é a verdade” Machado de Assis, j4 autor consagradfssimo, em 16/01/1899, vende-ao editor Garnier a “propriedade inteira e perfeita” de quinze volumes de sua obra literaria por oito contos de réis. O maximo que Machado conseguiu auferir depois com a venda definitiva de uma obra sua foi 1:5008000, quantia paga por Esati e Jacé e Reliquias da casa velha (Lajolo & Zilberman, 1996:94-5), menos, nominalmente, que recebeu Euclydes pela venda dos direitos apenas da segunda edigo de Os Sertées. Em 1914 ainda permanece a insatisfago com os editores, 0 que leva A criacio da Sociedade dos Homens de Letras, cujo objetivo principal era lutar “contra a constante exploragio dos intelectuais pelos editores” (Brito Broca, 1975:50-3). Oscar Lopes, a quem se atribui a idéia da fundagaio da Sociedade escreve em artigo: Ninguém lé no Brasil - dizem os editores e os livreiros. O comércio do livro é precdrio - afirmam os negociantes ¢ todo mundo acredita nisso. No entanto, hd cingiienta anos o piblico paga carissimo pelo livro e os autores 0 vendem por meia pataca. De onde a concluséo: ndo hd troca de direitos e deveres no comércio editorial, o que ha é uma soma de direitos do lado do editor e uma soma de deveres do lado do autor. Brito Broca cita outro artigo sobre a criagdo da Sociedade, de Abner Mourfo, onde se afirma que esta “constituiria uma agremiag’o de resist@ncia, visando por todos os meios os direitos autorais. Era preciso que profissional das letras fosse mais brandamente explorado pelo editor; era preciso que escrever para o ptiblico se tornasse, no Brasil, uma profissio como outra qualquer, ‘honestamente remunerada’ !”. HORIZONTES, Braganga Paulista, v. 15, p. 155-179, 1997 171 Apesar de conhecer profundamente as condicoes qlis ieEl relagdes emtre autores ¢ editores, Brito Broca afirma que “Na verdade. reivindicar direitos autorais numa época em que o grande, o maior problema dos escritores se resumia simplesmente em encontrar quem os editasse @ qualquer prego, era uma espécie de demagogia literdria indcua, soando falso”. Entendia 0 critico que seria mais eficaz uma agao da Sociedade para “promover uma alianga entre os editores ¢ os escritores, a fim de obter do governo medidas que, favorecendo a difusdo do Tivro, tormassem possiveis as reivindicag&es desejadas”. Isto nfo impede que, comentando a afirmagto de Euclydes ao saber de seu lucro na primeira edigfo de Os Sertdes, exclame “Ah! O que seria da literatura neste pais se nfio fosse isso que Buclides chama de ‘lucro de ordem moral'?” (Brito Broca, 1975:146).”° Voltando, para fechar esta j4 longa digress, & venda definitiva dos direitos de Os Sertoes feita por Euclydes @ Laemmert por prego quase idéntico ao valor negociado para uma s6 edigao, pode-se, de forma pertinente, questionar se nao houve da parte do editor, diante de um escritor consagrado ¢ autor de um best-seller, mas fragilizado pelas circunstancias de sua vida pessoal, que se encontrava numa encruzilhada entre © ser © 0 "do ser um homem de letras, ansioso por poder dedicar-se inteiramente & profissdo de escritor e “as voltas com 0 (...) triste offcio de enjenheiro” (Venancio Filho, 1938:119), uma “ugurdria especulagao” dos editores? Pode-se imaginar que o Autor, um engenheiro habituado a calculos. niio acreditasse que as possibilidades do livro fossem muito mais adiante que uma terceira edigao ou, depois desta, uma quarta, definitiva, com as emend: que deixou indicadas em seu exemplar. O mesmo parece no ter ocorrido: com os editores. Estes, antecipando uma pratica hoje comum entre os agentes literdrios e mesmo os departamentos de divulgacdo das melhores editoras, prepararam um apanhado das ctiticas recebidas pelo livro e fizeram um inusitado livreto de 102 paginas, com os Juizos criticos de Os Sertoes de Euclydes da Cunha, para promogio da segunda edicfio que haviam lego colocado no mercado. Este livreto, que em sua capa continha nfo s6 prego dos exemplares da segunda edi¢go, como um assumido reclame: “Um volume nitidamente impresso, contendo numerosas estampas © mappas da regio”. Os editores, ao fazerem a compra “plena e definitiva” dos direitos autorais, pelo prego de uma so edigao, estavam plenamente conscientes que faziam um grande negocio, excluindo o Autor dos direitos aos rendimentos que a obra ainda iria trazer A editora. Hsse Autor que, afinal, jé ficara feliz com os “lucros de ordem moral”. ‘A Laemmert, cujas otigens no Brasil podem ser situadas em 1827 (Hallewell, 1985:160), apés a morte dos fundadores, os itmaos Eduardo e Henrique Laemmert, se reorganizou sob a diregao de Gustave Massow, em pe 2 questa da remuneracao no mercado editorial brasileiro continuow trazendo insatisfayao para os autores. Veja-se: Lins, 1974:90: “Reconhecem. a5 novas geragées de escritores, nto poder aceitar, como tantos que 0s precederam, 0 confinamento numa espécic de appariheia ‘onde nao tém voto nem direitos e onde s6 prevalecem as leis do editor” 172 HORIZONTES, Braganca Paulista, v. 15, p- 155-179, 1997 _—eEeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee 1891. Em 1903 houve nova mudanga quando Gustave se afastou, sendo sucedido por seu irmio Hilério, e o sécio Edgon Laemmert é sucedido pelo filho, Hugo. Tais mudangas podem ter levado a um declinio da solidez da empresa. De todo modo a nao reabertura da livraria aps 0 incéndio de 1909, ea conseqiiente faléncia, apontam para uma crise anterior ao sinistro. Talvez isto possa explicar porque nao houve reedigao de Os Sertoes no periodo de 1905 a 1909. Com a liguidacdo da empresa (que continuou a existir como gréfica), a Francisco Alves adquiriu o seu fundo editorial, em 6 de margo de 1910, que incluia os direitos definitivos de Os Sertdes (menos, como vimos, para a lingua italiana). J4 em 1911 era langada pela nova editora a quarta edicdo da obra, conforme se verd na segunda parte deste trabalho. ANEXOS I -Contrato de cessio dos direitos autorais para a la. edigio de Os Sertées; Il- Carta de Euclydes da Cunha aceitando a proposta de cessdo dos direitos da 2a. edigdio de Os Serides; I- Documento firmado por Euclydes da Cunha cedendo a propriedade “plena e inteira” de Os Sertoes. HORIZONTES, Braganga Paulista, v. 15, p. 155-179, 1997 173 I - Contrato de cessio dos direitos autorais para a 1a. edicfo de Os Sertoes | gi: he. nega Leen tore cae agate Ate! cows” Cipatteareye : Perv! eb ncccgnasite cara a “a Cxecille: a thearbcitee ctl terme atts hae Secor GEE PRCT: egos { 4 Cen shedia, recreated, r6Oit LEE Cette a “yer LE cactbitttece, terra PAE Ete ee et jiepat” eovrae didieie ee amy Local std ieathie « “a are ee? (ral sger ELD EE « oe eautllliie carratatlnne yar wayge data nied terre a E expaccn tonite miedetaid DOGS sand a. ei tt OE Lreretndl ineaie a ae ete ee oO 0d gable ae Ca sa ee ae Gin? 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CPDIEREE, eae 174 HORIZONTES, Braganca Paulista, v. 15, p. 155-179, 199) Ye tediaced@ HidactaO LEE PE, sctigneetee” apn Orredee fee: ee Eiancteetie 210 reves dehcaieriggtt LADLE ween ativattitie crit p guecdic” ee, event ai OOo ce a Ai pl Ct ole te Ue DP tt BO A OffllPTETE™ latde? eal IPP ELIFRE EH tt T 5 ca cer Aiwdisiie” iovteapec taal AP LLL LIE al ELLE EE a dette ot orp tne OO E orn teeta Ce Oe PCIE CPP GE HORIZONTES, Braganga Paulista, v. 15, p. 155-179, 1997 175 I-Carta de Euclydes da Cunha aceitando a proposta de cessao dos direitos da 2a. edig&o de Os Sertées Ba. 2» GE ae weaned Cer Com, a io 9¢ sawene = 8. savL0 Stk 6b Orn Aree Govan HAL oy Siok, Yah Teeter) eae lia in Gnne "aera 2 Bananten = ote ate A Fmt PMS bron ore om per Sancta at ‘ Se eee Pe eterno fae ta Fn mae EO deems ten Ps tm i LP Aarnntton loon Fo Emmeteaty om Pecgeecrnaeatn Fo omettite Hater go So Dowde lear Tcbmene Pritts Arend nm catnl tan Cosine grb e Bares re 176 HORIZONTES, Braganga Paulista, v. 15, p. 155-179, 1997 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ANDRADE, Olimpio de Sousa. 1960 Hist6ria e interpretagao de ‘Os Sertées”. 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