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CAPITULO IIL O PENSAMENTO DE LAS CASAS Os antecedentes ‘A conquista americana suscitou uma ampla polémica entre os partidérios da evangeliza¢ao como tinico instrumento colonizador e ‘98 que consideravam Iicito o uso de outros recursos. Nos dois casos, surgiram trés problemas que permearam todo o proceso de assenta- mento dos colonos no continente: arelaco com os infiéis, o poder do papa e do rei e a guerra justa contra os indios. (O debate americano sobre estas questdes esteve irremediavelmen- te vinculado ao objetivo mercantil da conquista, tanto ou mais importante que o evangelizador, a tal ponto que o préprio Las Casas teve de ceder espago ao primeiro, como foi demonstrado em seus projetos de colonizacao pacifica. Mercantilismo e evangelizagio foram as duas caras da mesma ‘moeda, ¢ seria impossivel entender o processo da conquista, elimi- nando ou negando a importancia de um deles. Contraditérios em principio, ambos se complementaram na pratica, sem que 0s coloni- zadores tivessem a pretensio de esconder um atrés do oatro. Porisso que 6 inttil qualificar 0 soldado ou oeclesidstico de hipScritas, pois praticaram essa dupla finalidade &luz.do diae sem constrangimento nenhum, Cortés foi um bom exemplo de soldado que acreditava que indispensdvel e a evangelizacio dos indios necesséria. E ele nfo s6 acreditou como também praticou isso. Sacerdotes, corregedores, visitadores e outras autoridades, segundo Poma de Ayala, fizeram umae outra coisa’ vista e paciéncia de todo o mundo, ‘A complementagao entre o objetivo mercantil e 0 evangelizador foi um fato caracterfstico da época moderna, e a finalidade Gltima da conquista foi a dominago politica ndo s6 dos indios, mas dos 89 Propriosespanh6is que vieram para a América Las Casas, eampedo da evangelizacio, compreendeu com © processohist6rico que viveu com tanta paixio e nfo se deixouiludit ‘nem por suas idéias que parecem ut6picas e até ingénuas, "Todas as coisas obedecem ao dinheiro € 0s indios evangelizados sfo instru ‘mento paraaleangar 0 ouro", escreveu ele no Tratado comprobatorio del imperiosoberano. Os és problemas renovados pela conquista eram de antiga data Foram discutidos na baixa Idade Média por Graciano, Bemardo de Clairaux, Sao Tomas, Enrique de Susa, Guilherme de Occam, ete 05 eseritos e opinides destes pensadores foram retomados pelos te6logosejuristas espanhdis do século XVI, para elucidar os proble- thas teéricos e priticos suscitados pela conquista Sem divida alguma, o pensador medieval mais influente nos \©étios do século XVI foi Sdo Tomés de Aquino, especialmente no {Ue Se relaciona ao direito naturale de gentes,e as relagdes entre 0 Poder temporal eespiritual. Ebem sabido que o pensamento tomista teve uma dupla origem: 8 teologia cristd dos primeiros tempos, contida nas Sagradas Escritu- 125, ea filosofia arstoté dogmas do cristianismo. Foi, justamente, a correntefilos6fica que Vai d& Aristteles_a Sio Tomas a que mais influéncia exerceu nos Pensadores do séculoXVI. Tantoum como goutroeram citados como utoidades quase indiscutiveis em questBes como a escravidlo, os tos dos infiis, a guerra, a autoridade ‘omo se sabe, o pensamento aristoélico foi introduzido na Europa pelos érabes por meio do califado de Cérdova no século XT E difundiu-se amplamente no século seguinte em versbes latinas. No inicio, foi visto como ameaca & concepgio agost Comefeito, enquanto para Si i considerava a sociedade ‘inha outra finalidade a ndo ser o homem,o cidadao. iador dos estudos da filosofia aristotélica, desde 1240, no ccidente cristo, foi Alberto Magno, que ensinou na Universidade de Paris, tentando 90 A teoria aristotélica de que todas as coisas obedecem ao desenvol- vimento danatureza, que por sua veztem uma propriedade teleol6gica, isto é, encaminhada para um fim, que € a perfeigdo ontoldgica, e de felicidade, depende do curso geral da natureza, serviram de fun samentolascasiano. Em contrapartida, aidéiaaristotélica ens, por natureza, si ‘que divide ahumanidade em homens livres e superiores e servos por natura, serviu de fandamento a teGlogos e juristas, como Ginés de Sepilveda, para justificar a conquista e servidio dos ind(genas. das coisas, é uma propriedade que nfo se altera nem a0 menos pelo ‘comum atodos os homens econfere no, Nes s funda- mentou o principio da igualdade entre todos os homens, independen- temente do grau civilizat6rio. O pecado da idolatria, dos sacrificios nanos nio tiram nem alteram a esséncia humana dos nativos. imo, que éaperfeico da vida i estabeleceu uma hierarquia das leis: lei eterna, na qual atua 0 préprio Deus; lei divina, que Deus revela nos homens mediante as escrituras e sobre a qual se funda a Igreja; lei natural, que Deus implanta nos homens para que possam compreen- der seus desfgnios; iva, que os homens ordenam ¢ poem em ‘gor para govemnar-se. A lei natural esté conectada com a lei eterna a por duas razdes: primeira, porque é essencialmente justa e racional; segunda, porque exprime a vontade de Deus. Para os dominicanos do século XVI, especialmente D Soto—e€ mais que seguro que Las Casaso seguisse —% impressa nos espititos por Deus, era um produto do intelecto, um ditame da razio justa. Veremos mais adiante que Las Casas usou essa {dia para legitimar a sociedade politica dos ind/genas, nfo apenas como algo nas, por ser produto da vontade deles, como um resultado genuinamente humano, pois assim nascem todas as socie- dades politicas, mascarando a perigosa tese de Francisco Vitoria de que a sociedade era criagdo da vontade divina, o que dava marge para que se considerasse a sociedade dos indios como pré-politica devido a seu desconhecimento de Deus. Um outro aspecto muito debatido no século XVI, em que Toms para Tom: al ao género hi ingo de 91 formulou os balizamentos gerais, foi o relativo as ligagdes entre © poder temporal e 0 eclesidstico. Para o tedlogo, no existia oposicao entre onaturaleo sobrenatural, mas uma relacdo de aperfeigoamento. De fato, os homens tinham uma dupla finalidade a ser atingida: socialmente, a justiga e a felicidade; espiritualmente, Deus. O fim terreno est encaminhado a realizar o fim espiritual Essa dupla finalidade se traduz numa dupla potestade: a civil e a religiosa. Admitindo que esses poderes sio independentes, Tomas considerou que ambos tinham origem em Deus, de tal forma que, por principio, o poder espiritual estava acima do poder temporal ‘A concep tomista da sociedade, um misto de cristianismo ¢ aristotelismo, mais conhecida como escolasticismo, difundiu-se muito répido por toda a Europa Ocidental da baixa dade Média, especialmen- te, por meio dos pensadores italianos, alguns dos quais estudaram em Paris com Tomés. Mencionamos aqui aqueles que foram lidos por Las Casas, para poder explicar, mais adiante, a origem de algumas teses que parecem surpreendentes no dominicano. Entre esses pensadores, temnos rolami, dominicano que escreveu um tratado intitulado O jlomeu de Lucca, que escreveu a maior parte da obra pes. Bartolo de Sassoferrato mais brilhante da Itélia do periodo Profundo conhecedor de Arist6teles, foi um dos primei- ros pensadores a levantar a questio da soberania popular. Nicolés de ‘Tideschis (1386-1445), considerado por muitos autores como o maior canonista da época. Enfim, outro filésofo politico que levou e ensinow ‘Arist6teles na Italia foi Marcilio de Padua (1275-1342), que Las Casas no cita em seus escritos, mas devia conhecer por intermédio de Bartolo éia de queo poderresidia aporte ideol6gico dos esc« cenga italiana, em particular, no que diz respeito as lutas pelas liberdades republicanas dos séculos XV e XVI na Lombardia € Toscana.! com os infigis, guerra ¢ paz, os pensadores medievais estiveram divididos em dois grandes grupos: 0s teocréticos os jusnaturalistas iguns seguiram de perto Tomés, outros se separaram dele. ‘Ospensadores teocrticos, como Enrique de Susa, mais conhecido como Hostiense, Egidio Romano, Hugo de Sio Victor, Bernardo de Clairvaux, foram partidios do principio de que o papa tinha os dois poderese queosrcis ¢imperadores, como vigérios dagreja, recebiam desta poder que exerciam. Em outras palavras, seguindo 0 pensa- mento de Santo Agostinho, os reis ¢ 0 Estado em geral eram instru- ‘mentos da Tereja pata realizar a salvacGo das almas. 0 papa tinha poder sobre cristios e ingiéis, era senhor do orbe. Podia reclamar as propriedades e dominio dos infiéis, declarar-Ihes guerra, pois tudo 0 que possufam o receberam de Deus e, no sendo cristios, o dominio que exerciam era injusto. Os pensadores jusnaturalistas, como o teélogo francés Jean Ger- son (1363-1429), oinglés Guilherme de Occam (1290-1350), jutista italiano Marcitio de Padua e outros, defenderam o pi separagio dos poderes. Os trés representaram a: que entendia que o Conettio estava acima do poder do papa Gerson, considerado pelos estudiosos modernos como um te6rico {que adiantou alguns prineipios basicos do que seria futuramente 0 Estado modemo, formulou a teoria que permitia fazer uma clara distingo entre a sociedade secular e a eclesidstica, considerando que amada via conci cada uma, pata ser perfeita, devia ser auténoma e independente. Em suaobra principal, Sobre poder eclesidstico, Gerson preferiu omitir- espirituais, disse Tomés — a Igreja podia intervir em assuntos temporais. Todavia, se na sociedade eclesistica o poder residia no Conetlio, tativa da Gomunidade. Neste sentido, nenhum soberano: podia ter mais poder que a comunidade que governava. O poder permanecer em todo o tempo dentro do corpo da comunidade". O de soberano absoluto. Todo governante digno deste nome deve governar sempre para ‘bem da Republica e em conformidade com a lei. Nao esté acima 93 ‘da comunidade: forma parte dela, est atado por suas leis limitado por uma obrigagto absoluta de promover 0 bem comum em seu governo.” Otedlogo inglés Guitherme de Occam, franciscano excomungado pelo papa Joo XXII, foi ainda mais radical, nao admitindo, em hip6tese alguma, qualquer intervencao do pi rais. Comentando o rigor da lei mosei no impée a servidao aos ina edos santos 0 impo tanta Destas¢ de outrasintimeras afirmagbes d padres, conclui-se com evidéncia que a serviddo como a mosaica. Contudo, a lei de Cristo sr de todo horrorosa, e muit fosse perm excegio, tu n Fosse, toxk seus stiitos, se termo..? Cabe destacar, seguit ner, que no século XVI, as idéias de Gerson, Oceam ¢ Marcilio de Padua foram ressuscitadas por John Maior ¢ Almain, professores na Sorbonne, que desenvolveram a tese sobre a soberania popular como tnica fonte do poder dos rei. Alids, Maior é fregiientemente citado por Las Casas. ‘Também € necessério assinalar que a baixa Idade Média viu florescer pensadores que limitaram 0 poder do imperador em relagio as comunidades. Talvez 0 mais destacado tenha sido 0 it Bartolode Sassoferrato, jurisconsultoe analista dafilosofiaaristot Foi o te6rico que deu fundamentos & independénciae & cidadesit iianas da Lombardia e Toscana em relago as pr Sacro Império Romano. Intéprete do direito romano, forneceu uma

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