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Antonio Carlos Gil fodos e Técnicas Social Sexta Edigao 6todos e Técnicas de Pesquisa Social ‘mentos constituem a modalidade de pesquisa mais ditundida no campo das ‘ociais @ correspondem & maioria das pesquisas desenvolvidas por alunos de graduagao em Ciéncias Sociais, Psicologia, Pedagogia, Servico Social ¢ bos. ‘onstitul um manual de procedimentos basicos para o desenvolvimento de pes- fais, sobretudo daquolas que so definidas como levantamentos. Diferente- textos convencionais que tém como objetivo tratar exaustivamente dos mais \étodos @ téenicas de pesquisa social, ou dos que objetivam constituir-se em dutérias & metodologia cientiica, ou dos que sintetizam 08 procedimentos ne- {elaboragao de trabalhos universitarios @ relatérios de pesquisa, este livro apro- ‘nas pacuiiaridades que fazom dele uma obra significaliva: trata dos problemas ais das Ciéncias Sociais ¢ de sous métodos, proporcionando os elementos ne- ara a sua caracterizago no quadro geral das ci8ncias. A ope por prvlegiar los procedimentos necesstiios 8 realizagdo de levantamentos basela-se em ariéncia do autor no ensino de Métodos @ Técnicas de Pesquisa. «@, a obra trata da natureza da Ciéncia Social, dos métodos das Cigncias 1 pesquisa social, da formulag&o do problema, da construgdo de hipéteses, mento da pesquisa, da operacionalizagdo das variaveis, da amostragem 18 social, da entrevista, do questiondri, das escalas sociais, dos testes, da 4e documentos, da analise @ interpretagto, do relatbrio de pesquisa. BRE © AUTOR CARLOS GIL. 6 graduado om Cioncias Polticas o Soviais © Pedagogia. Mestre 1 Oincias Sociais pola Fundagdo Escola de Sociologia e Politica de Sdo Paulo ‘7 Sale Pabiica pela Universidade de Sao Paulo. Professor da Universidade $e Sdo Caetano do Sul. Autor também dos livros Como elaborar projetos de ‘Metodologia do ensino superior, publicados pela Atlas. to para a discipiina METODOS E TECNICAS DE PESQUISA dos cursos de Ecu- siologia, Psicologia, Comunicagéo Social e Economia. Leitura complementar sigadores e profissionais da érea de Pesquisa de Mercado e para estudantes: ‘duapao envolvidos na preparagao de teses e dissertagdes académicas. Irae lI icagoo otlor 1 HS [e1Pog esinbsag ap seaud9 1 2 SOpoWRW ENTREVISTA i. _ 11 11.1 Conceituago Pode-se definir entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e the formula perguntas, com 0 objetivo de obtengéo dos dados que interessam a investigago. A entrevista é, portanto, uma forma de interagio social. Mais especificamente, ¢ uma forma de didiogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresente como fonte de informagao, ‘A entrevista 6 uma das téenicas de coleta de dados mais utilizada no Ambito das ciéncias sociais. Psicdlogos, socidlogos, pedagogas, assistentes sociais e prati- camente todos 0s outros profissionais que tratam de problemas humanos valem- se dessa técnica, ndo apenas para coleta de dados, mas também com objetivos vvoltados para diagnéstico e orientagéo. Enquanto técnica de coleta de dados, a entrevista é bastante adequada para a obtengao de informagies acerca do que as pessoas sabem, créem, esperam, sentem ‘ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como acerca das suas explica- ‘es ou razdes a respeito das coisas precedentes (Selltz et al., 1967, p. 273). ‘Muitos autores consideram a entrevista como a técnica por exceléncia na in- vvestigacao social, atribuindo-Ihe valor semelhante ao tubo de ensaio na Quimica «20 microseépio na Microbiologia. Por sua flexibilidade € adotada como técnica fundamental de investigagao nos mais diversos campos ¢ pode-se afirmar que parte importante do desenvolvimento das ciéneias sociais nas dltimas décadas foi ‘obtida gracas sua aplicagao. 110 Wécods« Thenics de Pesguls Socal + Gi 11.2 Vantagens ¢ limitagées da entrevista A intensa utilizagio da entrevista na pesquisa social deve-se a uma série de razbes, entre as quais cabe considerar: 4) a entrevista possibilita a obtengio de dados referentes aos mais diver- 808 aspectos da vida social; 1b) aentrevista é uma técnica muito eficiente para a obtengio de dados em profundidade acerca do comportamento humano; ©) 0s dados obtidos so suscetiveis de classificagdo ¢ de quantificagio. Se comparada com o questionério, que outra técnica de largo emprego nas ciéncias sociais (¢ serd explicado no préximo capitulo), apresenta outras vantagens: a) no exige que a pessoa entrevistada saiba ler e escrever; b) possibilita a obtengio de maior niimero de respostas, posto que é mais fécil deixar de responder a um questiondrio do que negar-se a ser en- trevistado; ©) oferece flexibilidade muito maior, posto que o entrevistador pode es- dlarecer 0 significado das perguntas e adaptar-se mais facilmente as pessoas e as circunstdncias em que se desenvolve a entrevista; 4) possibilita captar a expressio corporal do entrevistado, bem como a tonalidade de voz e énfase nas respostas. Aentrevista apresenta, no entanto, uma série de desvantagens,o que a torna, em certas circunstancias, menos recomendavel que outras téenicas. AS principais, limitagbes da entrevista sao: a) a falta de motivagio do entrevistado para responder as perguntas que ihe sao feitas; b) a inadequada compreensio do significado das perguntas; ©) 0 fornecimento de respostas falsas, determinadas por raz6es conscien- tes ou inconscientes; 4) inabilidade ou mesmo incapacidade do entrevistado para responder adequadamente, em decorréncia de insuficiéncia vocabular ou de pro- blemas psicoldgicos; ©) a influéncia exercida pelo aspecto pessoal do entrevistador Sobre o en- trevistado; 1) a influéncia das opinides pessoais do entrevistador sobre as respostas do entrevistado; #) 05 custos com o treinamento de pessoal e a aplicacio das entrevista. evi 111 ‘Todas essas limitagGes, de alguma forma, intervém na qualidade das entrevi tas, Todavia, em funcéo da flexibilidade propria da entrevista, muitas dessas dif ‘culdades podem ser contornadas. Para tanto, o responsdvel pelo planejamento da pesquisa deverd dedicar atenglo especial ao processo de selecio e treinamento dos entrevistadores, jé que o sucesso desta técnica depende fundamentalmente do nivel da relagdo pessoal estabelecido entre entrevistador e entrevistado. 11.3 Niveis de estruturacio das entrevistas Acentrevista é seguramente a mais flexivel de todas as técnicas de coleta de dados de que dispdem as ciéncias sociais. Daf porque podem ser definidos dife- rentes tipos de entrevista, em fungao de seu nivel de estruturagdo. As entrevistas mais estruturadas so aquelas que predeterminam em maior grat as respostas a serem obtidas, a0 passo que as menos estruturadas sio desenvolvidas de forma ‘mais espontanea, sem que estejam sujeitas a um modelo preestabelecido de in- terrogasio. A partir desse princfpio, as entrevistas podem ser classificadas em: informais, focalizadas, por pautas e formalizadas. 11.3.1 Entrevista informal Este tipo de entrevista é o menos estruturado possivel ¢ s6 se distingue da simples conversacio porque tem como objetivo basico a coleta de dados. © que se pretende com entrevistas deste tipo ¢ a obtengdo de uma visio geral do problema pesquisado, bem como a identificagao de alguns aspectos da personalidade do entrevistado. ‘Acentrevista informal é recomendada nos estudos exploratérios, que visam abordar realidades pouco conhecidas pelo pesquisador, ou entio oferecer visio aproximativa do problema pesquisado. Nos estudos desse tipo, com freqiién- cia, recorre-se a entrevistas informais com informantes-chaves, que podem ser especialistas no tema em estudo, lideres formais ou informais, personalidades destacadas ete. ‘Também se recorre a entrevistas informais na investigagio de certos proble- mas psicolégicos, onde & importante que o pesquisado expresse livre e comple- tamente suas opinides e atitudes em relagdo ao objeto de pesquisa, bem como 0s fatos e motivagdes que constituem o seu contexto, Nestes casos, a entrevista informal é denominada entrevista clinica ou profunda e, em algumas circunstan- ias, nio dirigida. ‘A entrevista clinica exige grande habilidade do pesquisador. Piaget (s/d., . 11), que a utilizou exaustivamente no estudo das criangas, lembra que: TR Mdeodare Tene de agus Seat» Gi “O bom entrevistador deve, efetivamente, reunir duas qualidades mu tas vezes incompativeis: saber observar, ou seja, deixar a crianga falar, 0 desviar nada, ndo esgotar nada e, a0 mesmo tempo, saber buscar algo de preciso, ter @ cada instante uma hipétese de trabalho, uma teoria, verda- deira ou falsa, para controlas.” 11.3.2 Entrevista focalizada Acentrevista focalizada & tio livre quanto a anterior; todavia, enfoca um tema bem especifico. O entrevistador permite ao entrevistado falar livremente sobre 6 assunto, mas, quando este se desvia do tema original, esforga-se para a stia retomada. Este tipo de entrevista € bastante empregado em situagbes experimentais, com o objetivo de explorar a fundo alguma experiéncia vivida em condigées pre- cisas. Também é bastante utilizada com grupos de pessoas que passaram pot ‘uma experiéncia especifica, como assistir a um filme, presenciar um acidente ete, Nestes casos, o entrevistador confere ao entrevistado ampla liberdade para cexpressar-se sobre o assunto. A entrevista focalizada requer grande habilidade do pesquisador, que deve respeitar 0 foco de interesse temético sem que isso implique confer. estruturagéo. 11.3.3 Entrevista por pautas A entrevista por pautas apresenta certo grau de estruturagio, jé que se guia por uma relagio de pontos de interesse que o entrevistador vai explorando a0 longo de seu curso. As pautas devem ser ordenadas e guardar certa relagio entre si, O entrevistador faz. poucas perguntas diretas ¢ deixa o entrevistado falar livre- mente & medida que refere as pautas assinaladas. Quando este se afasta delas, 0 centrevistador intervém, embora de maneira suficientemente suti, para preservar 4 espontaneidade do processo. ‘As entrevistas por pautas so recomendadas sobretudo nas situagdes em que ‘0s respondentes niio se sintam a vontade para responder a indagagées formula- das com maior rigidez. Esta preferencia por um desenvolvimento mais flexivel da entrevista pode ser determinada pelas atitudes culturais dos respondentes ou pela propria natureza do tema investigado ou por outras razées. A medida que o pesquisador conduza com habilidade a entrevista por pautas ¢ seja dotado de boa meméria, poderd, apés seu término, reconstru‘-la de forma mais estruturada, tornando possivel a sua andlise objetiva. Pouevita 113 11.3.4 Entrevista estruturada A entrevista estruturada desenvolve-se a partir de uma relagéo fixa de per- sguntas, cuja ordem e redaco permanece invariével para todos 0s entrevistados, {que geralmente so em grande mimero. Por possibilitar o tratamento quantitat- vo dos dados, este tipo de entrevista torna-se o mais adequado para o desenvol- ‘vimento de levantamentos sociais. Entre as principais vantagens das entrevistas estruturadas estilo a sua rapide € 0 fato de néo exigirem exaustiva preparagio dos pesquisadores, o que implica custos relativamente baixos. Outra vantagem € possibilitar a andlise estatistica dos dados, j4 que as respostas obtidas sfo padronizadas. Em contrapartida, estas entrevistas no possibilitam a andlise dos fatos com maior profundidade, posto que as informagbes sio obtidas a partir de uma lista prefixada de perguntas. Esta lista de perguntas ¢ freqientemente chamada de questiondrio ou de for mulétio, Este tiltimo titulo é preferivel, visto que questiondrio expressa melhor 0 procedimento atito-administrado, em que o pesquisado responce por escrito as perguntas que Ihe sio feitas. ‘Quando a entrevista ¢ totalmente estruturada, com altemnativas de resposta previamente estabelecidas, aproxima-se do questionério. Alguns autores prefe- rem designar este procedimento como questiondrio por contato direto. Outros autores (Goode e Hatt, 1969; Nogueira, 1968; Trujillo Ferrari, 1970), por sua ‘vez, véem neste procedimento uma técnica distinta do questiondrio e da entre- vista, € 0 designam como formulério. 11.4 Entrevistas face a face e por telefone As entrevistas tradicionalmente tém sido realizadas face a face. Essa tem sido 1 caracteristica mais considerada para distingui-la do questionério, cujos itens ‘fo apresentatos por escrito aos respondentes. Boa parte das consideragbes feitas ‘nos mantiais de pesquisa acetca da elaboragio da entrevista referem-se a situa ‘io face a face. No entanto, nas ultimas décadas vem sendo desenvolvida outra ‘modalidade: a entrevista por telefone. Até meados da década de 60, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, ‘essa modalidade de entrevista foi encarada com ceticismo e mesmo desaconse- hada pelos estudiosos de metodologia de pesquisa. A principal razo para essa teluténcia era a alta probabilidade de vieses na amostragem, posto que parcela significativa da populagio no tinha acesso ao telefone. Mais recentemente, po- rém, as entrevistas por telefone passaram a ser mais aceitas como procedimento adequado para pesquisa em ciéncias sociais. Sobretudo nos Estados Unidos, onde para cada grupo de 100 pessoas hé mais de 60 telefones. 14 aod Teele de Pagus Sat + Gil Dentre as principais vantagens da entrevista por telefone, em relagfo &t en- trevista pessoal, estdo: 8) custos muito mais baixos; ) facilidade na selecio da amostra; ©) rapidez; 4) maior aceitagéo dos moradores das grandes cidades, que temem abrir suas portas para estranhos; ©) possibilidade de agendar o momento mais apropriado para a realizagao da entrevista; 0) facilidade de supervisio do trabalho dos entrevistadores. A despeito, porém, dessas vantagens, a entrevista por telefone apresenta li- mitagbes: a) interrupgdo da entrevista pelo enrrevistado; b) menor quantidade de informages; ©) impossibilidade de descrever as caracteristicas do entrevistado ou as circunstancias em que se realizou a entrevista; 4) parcela significativa da populagdo que nio dispée de telefone ou néo tem seu nome na lista, 115 Entrevistas individuais e em grupo ‘As recomendagées para preparacdo ¢ condugio de entrevistas referem-se ge- ralmente a entrevistas realizadas individualmente. Mas entrevistas também podem ser realizadas em grupo, caracterizando a técnica conhecida como focus group. Sua origem encontra-se nos trabalhos desenvolvidos pelo sociélogo Robert K. Merton durante a Segunda Guerra Mundial com a finalidade de estudar o moral dos militares (Merton; Kendall, 1946). Sew uso 56 se disseminou, no entan- to, a partir da década de 1980, quando passou a ser utilizado em pesquisas mercadolégicas passou a afirmar-se como procedimento dos mais adequados para fundamentar pesquisas qualitativas em diversos campos das ciéncias sociais (Morgan, 1988). Essas entrevistas so muito utilizadas em estudos exploratérios, com 0 pro- pésito de proporcionar melhor compreensio do problema, gerar hipéteses ¢ fornecer elementos para a construgdo de instrumentos de coleta de dados. Mas também podem ser utilizadas para investigar um tema em profundidade, como corre nas pesquisas designadas como qualitativas. ene 115: 0 focus group é conduzido pelo pesquisador, que atua como moderador, ou por uma equipe, que inclui, além do pesquisador, um ou mais moderadores e um assistente de pesquisa. O mimero de participantes varia entre 6 ¢ 12 pessoas. A duragdo das reunides, por sua ver, varia entre 2 ¢ 3 horas. De modo geral, 0 moderador inicia a reunio com a apresentacéo dos obje- tivos da pesquisa ¢ das regras para participagéo. O assunto € introduzido com uma questéo genérica, que vai sendo detalhada até que moderador perceba que 05 dados necessérios foram obtidos. Pode ocorrer também que o moderador decida encerrar a reunifo ao perceber que esté se tornando cansativa para os participantes, 11.6 Condugao da entrevista Como jé foi demonstrado, a entrevista pode assumir diferentes formas. Cada uma delas exige, naturalmente, do entrevistador, habilidade e cuidados diversos em sua condugio. Do responsdvel pela aplicacio de entrevistas estruturadas exi- ‘ge-Se apenas mediano nivel de inteligéncia e de cultura, bem como treinamento operacional. J daquele que vai proceder & condugio de uma entrevista profun- da, de cardter absolutamente nio diretivo, exigem-se profundos conhecimentos da personalidade humana e, pelo menos, um ou dois anos de treinamento. ‘Toma-se dificil, portanto, determinar a maneira correta de se conduzir uma entrevista, Isto dependerd sempre de seus objetivos, bem como das circunstén- cias que a envolvem. Entretanto, torna-se possivel considerar alguns aspectos {importantes que séo comuns a maforia das modalidades de entrevista. 11.6.1 Preparagao do roteiro da entrevista ‘A preparagio do roteiro depende da definigfo do tipo de entrevista a ser adotado, Numa entrevista informal, basta definir os topicos de interesse, ficando © seu desenvolvimento por conta das habilidades do entrevistador. J4 nas entre- vistas estruturadas, esse processo assemelha-se bastante a redacéo do questiond- rio, Nesse caso, um questiondrio pode ser convertido num roteiro de entrevista e vice-versa. Apesar disso, algumas regras gerais referentes & elaboragio do roteiro devem ser observadas (Baker, 1988, p. 182): a) As instrugdes para o entrevistador devem ser elaboradas com clare- za, Dentre as principais informagdes que devem ser fornecidas, esto: como iniciar a entrevista, quanto tempo poderd ser despendido, em que locais e circunst&ncias poderd ser realizada, como proceder em ‘caso de recusa etc. 116 sted «Then de Pag Socil * i D) As questdes devem ser elaboradas de forma a possibilitar que sua lei- tura pelo entrevistador e entendimento pelo entrevistado ocorram sem maiores dificuldades. Nas entrevistas estruturadas, o enunciado da questéo deve ser redigido de forma a dispensar qualquer tipo de informagdo adicional ao entrevistado. Devem, portanto, ser inclufdas expresses que indicam a transigdo entre as questées, como, por exem- plo: “For favor, diga-me...”, “Estamos interessados em saber...” ou “Agora ‘gostaria que vocé me dissesse” etc, ©) Questées potencialmente ameagadoras devem ser elaboradas de forma 1 permitir que o entrevistado responda sem constrangimentos. & pre- ciso considerar que a entrevista face a face nao garante o anonimato. Por isso, questdes relacionadas a comportamento criminoso, conduta sextal ou hébitos reconhecidos socialmente como negativos devem ser elaboradas de forma a torné-las 0 menos ameacador posstvel. ) Questées abertas devem ser evitadas. Quando so elaboradas questdes desse tipo, o entrevistador precisa anotar as respostas. Como 0 tempo disponivel geralmente é restrito, torna-se elevado 0 grau de probabi- lidade de mudanga tanto de significado quanto énfase entre o que 0 respondente diz e 0 que o entrevistador registra. ©) As questdes devem ser ordenadas de maneira a favorecer 0 répido en- ‘gajamento do respondente na entrevista, bem como a manutengéo do seu interesse, 11.6.2 Estabelecimento do contato inicial Para que a entrevista seja adequadamente desenvolvida, é necessério, antes de mais nada, que o entrevistador seja bem recebido, Algumas vezes o grupo de pessoas a ser entrevistado é preparado antecipadamente, mediante comunicagao escrita ou contato pessoal prévio. Outras vezes, todavia, os informantes sio to- ‘mados de surpresa, o que passa a exigir do pesquisador muito mais hebilidade na condugio da entrevista, Para iniciar a conversago, 0 mais aconselhavel ¢ falar amistosamente sobre qualquer tema do momento que possa interessar ao entrevistado. A seguir, 0 entrevistador deve explicar a finalidade de sua visita, 0 objetivo da pesquisa, nome da entidade ou das pessoas que a patrocinam, sua importéncia para a co- ‘munidade ou grupo pesquisado e, particularmente, a importancia da colaboraao pessoal do entrevistado. Convém, ainda, neste primeiro contato, deixar claro que a entrevista terd cardter estritamente confidencial e que as informagées prestadas permanecerao no anonimato. £ de fundamental importancia que desde o primeiro momento se erie uma at- mosfera de cordialidade e simpatia. O entrevistado deve sentir-se absolutamente fees 117 livre de qualquer coergéo, intimidacio ou pressfo. Desta forma, torna-se possivel cestabelecer o rapport (quebra de gelo) entre entrevistacor e entrevistado. A medida que estas questdes preliminares tenham sido suficientes para a cria- ‘glo de uma atmosfera favordvel, o entrevistador passard a abordar o tema central da entrevista. Como esta atmosfera deve ser mantida até o fim, convém que 0 entrevistador considere que na situagio de pesquisa 0s tinicos elementos motiva- dores do informante séo 0 contetido da entrevista e o préprio entrevistador. 11.6.3 Formulagdo das perguntas Nas entrevistas estruturadas, 2 formulacéo das perguntas assume um caréter metédico, Jé nas entrevistas ndo estruturadas 0 desenvolvimento das perguntas depende do contexto da conversacao. Em ambos os casos, todavia, as perguntas devem ser padronizadas na medida do possivel a fim de que as informagSes obtidas possam ser comparadas entre si Nao existem, naturalmente, regras fixas a serem observadas para a formula- «fo das perguntas na entrevista. Todavia, a experitncia de muitos pesquisadores possibilita a formulasdo de algumas recomendagées que so vélidas para a maio- ra das entrevistas, As mais importantes séo: a) 56 devem ser feitas perguntas diretamente quando 0 entrevistado esti- ver pronto para dar a informagao desejada e na forma precisa; b) devem ser feitas em primeiro lugar perguntas que nfo conduzam & recusa em responder, ou que possam provocar algum negativismo; ©) deve ser feita uma pergunta de cada ver; 4) as perguntas ndo devern deixar implicitas as respostas; ©) convém manter na mente as questdes mais importantes até que se te- nha a informagio adequada sobre elas; assim que uma questao tenha sido respondida, deve ser abandonada em favor da seguinte. Nas entrevistas estruturadas, as perguntas devem ser formuladas de manei- ra tal que correspondam a um estimulo idéntico para todos os informantes. Daf porque nesse tipo de entrevista as questdes devem ser feitas exatamente como estdo redigidas no formulério € na mesma ordem. tinico momento em que se pode modificar esse procedimento ¢ quando o informante ndo entende a per- gunta. Mesmo nestes casos, o entrevistador deve repeti-a textualmente antes da explicagdo, porque muitas vezes a aparente falta de entendimento corresponde ‘mais a um problema de desatengao do que a incapacidade de compreender seu significado. 18 lieder « Teenie de Penge Socal» Gi 11.6.4 Estimulo a respostas completas Freqtientemente, a pergunta provoca uma resposta incompleta ou obscura. © entrevistador precisa, entdo, valer-se de alguma técnica para estimular 0 en- trevistado a fornecer uma resposta mais precisa. Isto, porém, deve ser feito de maneira a ndo prejudicar a padronizagio. Uma pergunta do tipo: “Vocé ndo acha que...” pode sugerir a resposta, nao sendo, portanto, recomendada numa en- trevista. Ha algumas formas de indagagéo que apresentam maior neutralidade, como as seguintes: “Poderia contar um pouco mais a respeito?” “Qual a causa, no seu entender?” “Qual a sua idéia com relagdo a este ponto?” “Qual o dado que Ihe parece mais exato?” Outro problema que aparece freqientemente & quando o entrevistado res- ponde “no sei", mas fica claro que, na verdade, nao se dispe a pensar. Neste caso, o entrevistador deve estimular 0 entrevistado a responder, mas com o devi- do cuidado para néo sugerir a resposta. Pode, para tanto, valer-se de expressbes deste tipo: “Entendo que este ¢ um problema que geralmente no preocupa mui- {0 as pessoas, mas gostaria que me falasse um pouco mais a esse respeito”. 11.6.5 Manutengdo do foco Convém evitar discutir com 0 entrevistado acerca de politica, religido ou qualquer outro assunto estranho aos objetivos da entrevista. Mas se porventura 0 entrevistado se manifestar a respeito de assuntos como esses, o mais interessante serd demonstrar respeito e um polido interesse, mas concluir o t6pico ou passar para a préxima questo. O principal fluxo de informagao deve ser do entrevistado para o entrevistador. Um bom entrevistador fala pouco, mas estimula a conversa~ séo relevante do entrevistado, 11.6.6 Atitude perante questées delicadas Alguns tépicos, como comportamento sexual, desemprego, uso de drogas, problemas financeiros, a morte de parentes e amigos ou comportamento crimi- noso podem ser constrangedores para muitos respondentes. Devem, portanto, set introduzidos somente apés o entrevistado mostrar-se adaptado ao estilo € ‘aos modos do entrevistador. Convém, nestes casos, que o entrevistador se mostre ‘empaticamente interessado e compreensivo, j4 que essas posturas contribuern para que o entrevistado se sinta mais confortado para falar sobre assuntos trau- méticos. Mas 0 entrevistador deve evitar qualquer postura que possa dar a idéia de que pode solucionar os problemas do entrevistado. Neste momento o entrevis- tador nao pode atuar como conselheiro ou terapeuta, mas exclusivamente como pesquisador. nevi 119 11.6.7 Registro das respostas © modo mais confidvel de reproduzir com precisio as respostas ¢ registré-las durante a entrevista, mediante anotagSes ou com 0 uso do gravador. A anotagdo, posterior & entrevista apresenta dois inconvenientes: os limites da meméria huma- znos que no possibilitam a retencao da totalidade da informagio e a distorcdo de- corrente dos elementos subjetivos que se projetam na reprodugio da entrevista, A gravacio eletrOnica é 0 melhor modo de preservar o contetido da entrevis- ta, Mas ¢ importante considerar que o uso do gravador sé poderd ser feito com 0 consentimento do entrevistado, O uso disfargado do gravador constitui infragéo Gtica injustificdvel. Se a pessoa, por qualquer razao, néo autorizer a gravagéo, cabe, entdo, solicitar autorizagio para a tomada de anotagGes. Muitas pessoas no fazem objegdo & tomada de notas. Mas o registro das informagies s6 deve ocorrer apés 0s entrevistados terem tido oportunidade de responder completamente as indagagSes e de eventualmente corrigirem alguma informagéo que tenha sido dada durante a resposta. Mesmo autorizando a toma- da de notas, algumas pessoas demonstram irritago quando o entrevistador deixa de prestar atencio no relato para tomar notas, Outras ficam relutantes em falar quando sabem ou percebem que esto sendo tomadas notas. Quando isto ocorrer, o melhor é deixar para tomar notas logo apés a conclusio da entrevista 11.6.8 Conclusdo da entrevista ‘Tanto por razées de ordem ética quanto téenica, a entrevista deve encerrar- se num clima de cordialidade. Como, de modo geral, nas entrevistas de pesquisa ‘© entrevistado fornece as informagées sem receber qualquer tipo de vantagem, convém que seja tratado de maneira respeitosa pelo entrevistador, sobretudo no encerramento da entrevista, quando sua misséo jé esta cumpride, Por outro lado, como ¢ freqiiente a necessidade de entrevistas posteriores, convém que 0 pesquisador deixe “a porta aberta” para os préximos encontros. Nestes casos, 0 encerramento da entrevista posterior depende muito da primeira. O entrevis- tador pode utilizar o efeito de ruptura, chamado “efeito Zeigarnik”, segundo o qual a intensidade do interesse & aumentada pela interrupgio. Assim, ele deve terminar a entrevista quando o interrogado mantém ainda interesse em conver- sar sobre 0 assunto. Leituras recomendadas GUBRIUM, Jaber F, HOLSTEIN, James A. (Org.). Handbook of interview research: context & method. Thousand Oaks: Sage Publications, 2002. 120 sttdare Tenia de equa Soctl > lt ‘Trata-se de obra exaustiva, com capitulos escritos por diferentes especialistas, abrangen- do milkiplos tépices referentes & entrevista de pesquisa, ais como: modalidades de entre- vista, pablicos entrevistados, aspectos técnicos das entrevistas e estratégias de andlise, ROSA, Maria Virginia de Figueiredo Pereira do Couto, ARNOLDI, Marlene Aparecida Gonzalez Colombo. Entrevista na pesquisa qualitativa: mecanismo para validacEo dos re- sultados, Belo Horizonte: Auténtica, 2006. Discute miiltiplos espectos referentes & entrevista na pesquisa, tais como: o planejamento dda entrevista, a selegio dos entrevistados, da elaboragio do protocolo, as exigtacias dt ‘cas ea andlise dos resultados. Exercicios e trabalhos praticos 1. Formule problemas de pesquisa que requeiram a entrevista como técnica de coleta de dados. ‘Analise as vantagens e desvantagens do uso do gravador na entrevista. 3. Que cuidados vocé tomaria para estabelecer o rapport numa entrevista que tenha por objetivo a obtencio de dados acerca de hébitos alimentares? 4, Elabore um roteiro de entrevista para obtengao de dados acerca da ideologia politica de um grupo de universitatios. 5. Identifique habilidades requeridas para que uma pessoa possa conduzir en- ‘tevistas adequadamente. 6. labore um roteiro de entrevista que tenha como objetivo verificar em que ‘medida a influéncia dos pais interfere na escolha do curso universitario. 7. Imagine que vocé esteja elaborando uma pesquisa que tem como objetivo verificar a opiniio da populago acerca de seus governantes. Redija elgumas questdes de maneira que possam, de alguma forma, prejudicar a qualidade das respostas.

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