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avisasse, dona Bruna, meu filho est doente mas no nada de grave.
Est com muita saudade, ir vela assim que melhorar. Meus
cumprimentos. Rafael abriu o palet. Riu em meio ao bocejo.
Cumprimentos ou respeitos? Pois sim. A terra se abriria ao meio no dia
em que sasse tal frase sob a vasta bigodeira branca. "Sua mesada j
acabou?", estranhara o velho no ms passado. "Curioso, antes durava
mais." A me, timidazinha, limitava-se s insinuaes: "Elizabeth esteve
aqui. Que jia de menina! Feliz de quem se casar com uma jia dessas."
Jia. E se lhe desse umas argolas de ouro. Bruna gostava de
argolas. Mas quanto custaria isso? Se ao menos me deixassem trabalhar.
Um homem da minha idade e vivendo de mesadas. Fechou as mos
enfurecidas. Ridculo. Estava farto de ouvir os argumentos do velho.
"Sua sade frgil, filho. E voc extravagante demais. Trabalhando e
estudando como estuda, quando que vai poder descansar, quando?" A
me concordava, constante no seu alvo: "Voc tem voltado to tarde,
filho! Eu gostaria tanto que se firmasse com alguma moa, tanta moa
boa em redor... Voc no pode continuar assim".
"Posso!" E Rafael parou como se os pais tiverem rompido em sua
frente. Chegou a gesticular: "Posso me casar com Elizabeth, posso mo
casai com as 11 mil virgens e no abandonarei Bruna, fcil entender
isso?" Perturbou-se. Olhou em redor. Ningum. Bafejou nas mos.
Presso baixa, pensou estendendo as mos para o sol. Teve uma
expresso enternecida ao abrir e fechar os dedos. O pai tinha esse mesmo
formato de dedos. As unhas de estatua, em Roma todas as esttuas
tinham esses dedos. Esforando-se por parecer furioso mas sem
conseguir disfarar a doura dos olhinhos castanhos. Pensou na me,
ciumenta Amorosssima, vigiando pela noite adentro. " voc Rafael?
Quer um copo de leite quente, filho?" Apressou o passo. "Est bem.
adoro vocs dois. Mas no vou deixar a minha romana nunca".
Vagou pelo parque o olhar comovido. Sentiu-se observado pelas
rvores, a folhagem atenta inclinando-se sua passagem, elas esto me
vendo como eu as vejo. Nos entendemos to bem. Fez um movimento
para colher uma folha e no completou o gesto. Enfiou as mos nos
bolsos. Como se a rvore tivesse perguntado, respondeu que no, hoje
ainda no estava muito brilhante. Fraco. Dolorido. Seria bom esquecer
tudo que fosse desagradvel: a doena, a marcao dos velhos, as
argolas impossveis... Vamos, s coisas positivas, repetiu para si mesmo.