Está en la página 1de 10
novando na literatura infantil: Ilse Losa e os temas emergentes Ana Margarida Ramos eaten Introducdo. A producdo literéria para ainfancia de lise Losa ‘Ao longo de varias décadas de atividade, sao intimeros os contributos de lise Losa no dominio da literatura para criancas ¢ jovens, quer através do desenvolvimento de atividade criativa, com a publicagao de ‘numerosos textos, em diferentes géneros, quer ainda através da traducao 1,jé que aela se devem relevantes trabalhos nestadrea, e da edicdo, esta ultima desenvolvida sobretudo a frente da colecao ASA juvenil, responsavel pela publicacao de alguns autores de referencia do panorama literdrio portugués, como aconteceu com Anténio Mota ou Alvaro Magalhdes, por exemplo, A sua obra inclui, ainda, a escrita de crdnicas ¢ a atividade assidua na imprensa, tendo colaborado, ao longo do tempo, com intimeros perisdicos, portugueses ¢ alemdes, Alvo de estudos significativos, merece destaque o ensaio académico de Ana Isabel Marques (2001) e a abordagem de cariz mais panoramico que Ihe dedicou Maria Elisa Sousa (2002). ‘A sua producao infantil foi distinguida com importantes prémios, nomeadamente 0 Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para Criancas, pelo conjunto da obra, em 1984, Dois anos antes, é 0 volume Na Quinta das Cerejeiras também tinha sido objeto de distincdo pela mesma instituigdo, através do Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Criancas - Melhor Texto de 1980-1981. 1 Solzeaatidde d trad d so Loo, er Marques, 200 Sy Sob céus. estranhos, uma artista Ise" ‘Temas emergentes, Uma literatura realista e civicamente empenhada sua atividade literdria,iniciada em 1949 com a publicacao de Faisea conta a sua historia e 0 Mundo em que vivi, obra entretanto anexada ao universo da literatura juvenil e hoje facilmente enquadravel no dominio "crossover", ficara marcada pela sensibilidade com que recria a realidade contemporanea, dando a conhecer os diferentes matizes sociais que a compdem e a existéncia infantil em diferentes contextos, com especial relevo para 0 universo dos mais desfavorecidos. As questdes sociais, determinantes para a construcao de uma sociedad mais justa e equilibrada, mesmo do ponto de vista ambiental e ecolégico, para além do econémico e do politico, constituem um dos eixos centrais da sua producao narrativa, sobretudo a ce cunho marcadamente mais realista, antecipando preocupacées que marcarao tendéncias posteriores. Guerra e Holocausto ‘O mesmo acontece em relacao 20 tema da guerra, em particular all Guerra Mundial e ao holocausto nazi, que a autora tematiza em, pelo menos, duas narrativas. Oscar Lopes sublinha que o contributo mais destacado da escritora i literatura portuguesa reside exatamente no tratamento da "amarga experiencia do terror da sua infancia na Alemanha eda sua juventude sob oregime nazi, do exiioe de um reajustamento penoso, quer a irreconhecivel patria de origem, quer a de adopcao" (Saraiva e Lopes, 1992: 1148) Este tema quase nao tem conhecido eco na literatura portuguesa para a infancia, para além dos volumes ‘Campos de Lagrimas (2000) ou Mouschi, o gato de Anne Frank (2002), ambos de José Jorge Letria. A ndio participacao portuguesa direta no conflito militar, a opco por uma neutralidade politica ambigua e o controle censério do Estado Novo ajudarao a explicar este silencio que, como sabemos, nao se verificaem ‘outros paises diretamente envolvidos no conflito, como a Franca ou a Inglaterra, por exemplo, em cujas literaturas estao presentes miltiplas reescritas destinadas ao universo infantojuvenil. ( percurso biografico da autora, marcado pela experiéncia direta do periodo entre os dois grandes conflitos mundiais, enquanto judia nascidana Alemanha, a que se seguiu a fuga € exlio, retomado no seuromance inaugural. 0 Mundo em que vivi (1949) acompanha o crescimento de Rose, a narradora autodiegética, a0 ‘mesmo tempo que testemunha 0 contexto hist6rico em que esse crescimento ocorre, do ponto de vista social, politico, econdmico, rligioso, cultural e Familiar. No texto, repleto de alusées histéricas e onde surge destacadaa violencia e o antissemitismo do ponto de vista das vitimas, tém particular interesse as questdes levantadas pela protagonista, ainda crianca, sobre o porque da guerra, por permitiremquestionar (também no sentido de critica), através cle um olhar ingénuo e infantil, 0s comportamentos e as opgbes dos adultos 2:'Sim, acabou a guerra, disse mais tarde o avo, sem alegria, Mas perdemo la. Eu ndo sabia que se Contontar con enveredando its vere por una "ealits de aceotuada nvostela soll reso quand avor que nara éad um sximal setropomoeindo (Gomes, 207 5 Confrontar eam. Porque que moeretantagete na gue? Ef, por agama rsto se fazen as gereas (So as guerasé que os homens podem matarso uns 205 outros som Seon castigo. (,) Ender homene matamse porque stat? ‘Queeste para ta der Ross! go io ave ums so}ado quevd pars. gueca pore gosta Tem de. “erdeirgara que. ase? Paradefender a pt Tantacontadica Ent pelo faseromse gusta. 20h cae Q A MINHA MELHOR g eS HISTORIA ere PLATANO podia ganhar e perder na matanca de homens, tal como se perdia no jogo da "macaca’ ou das “damas'’ Portanto era um jogo, a guerra? Um jogo das pessoas crescidas?”(p.28). O absurdo da violéncia ¢ sublinhado pela critica que resulta da apreciac&o infantil, assim como da recusa da visao impessoal do inimigo. 0 facto de o avo Markus estabelecer uma relacdo de amizade com um dos prisioneiros russos, ce quem se despede com um abraco, guardando inctusivamente no album de Familia ‘uma fotografia sua, € revelador de uma visdo altemativa dos factos historicos, uma vez pessoalizados e concretizados, com implicagées coneretas nas vidas das pessoas e no seu universo de afetos. Ocrescimento do sentimento antissemita coincide com o amadurecimento da personagem, influenciando de forma decisiva a construgao da sua personalidade e provocando the profundas cisdes de carizidentitétio, 20 nivel pessoal, familiar, mas também religioso e até nacional. O processo gradual de exclusdo da sociedacle ‘alema, descrito como "tiraram-nos 0 chao debaixo dos pés'(p. 156), coincide igualmente com o abandono de que é alvo por parte do namorado, uma espécie de derradeira prova de sobrevivéncia num territério ‘duro e inéspito, cada ver mais oprimente e inseguro, aque se segue o interrogatério final em Alexanderplatz oY by) Sob céus estranhos, uma artista lise" ot e a constatacdo da necessidade de fuga que encerra o romance. Enquanto caminho que conduza sucessiva perda da inocéncia, o crescimento de Rose confronta-a com a realidade dura da Alemanha nazi, marcada pela injustica e pela perseguicao. O temada violencia antissemitavolta a ser alvo de tratamento no conto que encerra a coletanea A Minha Melhor Historia (1979). Fm "Apesar de tudo’,somos confrontados com um dilema inquietante e perturbador que resulta dos conflitos vividos durante a vigencia do regime hitleriano. A narrativa centra-se nas consequéncias privadas, quase intimas, das guerras e dos contfitos humanos que delas resultam. No conto em questao, coloca:se o problema do convivio e da amizade entre os filhos - ainda criangas - de familias pertencentes a fagdes inimigas dos conflitos. Assim, ¢ “apesar de tudo, como o titulo o anuncta, 0 peso negativo do passado parece inferior & esperanca de um futuro melhor, regenerado € dialogante, que é depositada nas geracées mais jovens. 0 convivio entre ‘inimigos" é, pois, simultaneamente, 0 luto do passado e a esperanca da mudanca no futuro, simbolicamente representada na dana de roda final que inclui Marta.o seu flho Rolfe todas as criangas, incluindo o filho do 'seu"inimigo. Também aqui a gravidacle dda guerra €um conceito que parece exceder a compreensao da crianca:"Hé poucos meses a guerra acabara. Rolf apesar de nao saber ainda avaliar o que significavam guerras parecera, no entanto, compreender que alguma coisa de calamitoso tinha chegado ao fim, Abracara a mae dissera: “kinda bem. Mas,em seguida, fora a rua brincar" (pp. 31 ¢ 32). O conto iniciase com uma breve contextualizacao «histérica do regime alemao que antecedeu o desenrolar dos acontecimentos que conduziram ao segundo contflito mundial. Se se fizer jus & epigrafe de Albert Einstein, tratase aqui de entender a literatura, nomeadamente a destinada ‘20s mais jovens, como umalerta das consciéncias para que a Humanidade aprenda com os erros do passado. Centradona perspetiva de Marta,a mae de Rolf, viva de guerra, refugiada e exilada,vitima de perseguicdo, o.conto constrdi-se em tomo dos tracos do seu cardter, posto a prova numa simples festa de aniversério. As fortes conviccdes, resultantes do softimento da perda do marido, torturado as maos de um regime despotico, das memérias da fuga dura, atravessando os Pirinéus com o filho ainda crianca ao colo, da chegada a um novo pais, da pobreza e das dificuldades de integracao numa nova comunidade, cultura e lingua, que a levam, num primeiro momento a recusar a entrada em sua casa ao filho do seu inimigo, do lugar & resignacdo e, finalmente, a esperanca. Os textos da autora produzidos em torno da questo da Il Guerra Mundial centram-se, como vimos, com particular incidencia em questdes ligadas ao holocausto ¢& perseguicao e exterminio do povo judeu, dando conta das dificeis condicdes de vida e da luta diaria pela sobrevivencia em tertit6rios e populacdes acentuadamente adversos e hosts, ce que lise Losa constitui um testemunhos raro em lingua portuguesa. 1 confiontar coe“ ano de 18. 19453 Alemanser dominos por um reine cruel artopant. 0s govemaates Ses depts tnham se como homens supesores;achava eno dito de torture até de maar todos esque nin portenessom aa germina raga supeioe” como & ‘lasiieavn, tame aquees qo, sno pertncendo ees raga, to concordavam coma pias cesumanas do regi einen corer fteodizeripp.2.e30, Leona Hisrao 200 refere a presonga de ungio catia nestesteto. As condigdes de vida em Portugal Mas a realidade contemporanea portuguesa que conheceu também nao Ihe fol indiferente e marcou de forma indelével a escritora, particularmente atenta ao que a rodeava, sobretudlo as assimetrias socials injustas. 0 contexto histérico e social seu contemporaneo inspicou-the alguns textos de referéncia no panorama literario portugues, para além do romance inaugural, onde percorre memdrias pessoais particularmente dolorosas. Esta atencao ao que a rocleia e a dentincia das injusticas ¢ das desigualdades ajucardo a explicar queFemando J. B. Martinho (1996), situe a autora de origem alem@ na"2* geracao neo. realista’ (Martinho,1996:315). 0s espacos de alguns dos seus contos, situados geograficamente nas ilhas* portuenses, nos bairros urbanos periféricos das grandes cidades ou em comunidactes pobres, como acontece com a dos sargaceiros, recriada no conto 0 Sr. Pechincha, séo reveladores da sua atencao ao meio e da as, sobretudo as das criancas, condenaclas a uma vida de trabalho, pobreza, fome e exploracdo.£ também por isso que a existéncia destas criangas, como Estrelinhas, Mosquito ou mesmo Luis é compensada com alguns valores positivos, como 0 Tristao, o balxote alemao, ou Faisca, as memérias, ¢ a relacao afetiva com elementos da familia. Os afetos e a construgao de lagos entre as pessoas (¢ entre estas e os animais e os prdprios espacos, por exemplo) sao ideias recorrentes em varios textos da autora, parecendo surgir como forma de compensacao das desigualdades existentes. Enquanto pequenos apontamentos magicos, destinados a preencher 0 universo afetivo e simbélico das personagens, os sonhos desempenham um papel crucial nas narrativas, sublinhando, apesar de tudo, uma sugestao de esperanca e de redencao que a autora nao descura. Em Faisca contaa sua histéria (1949) ¢ particularmente visivel adivisdo da sociedacle em diferentes estratos, claramente diferenciados em termos de habitos, formas de vida, rotinas e até comportamentos. A perspetivacao da diferenca através do olhar do cao nao dilui a dentincia da pobreza, a fome, da escassez de bens materiais, mesmo os de primeira necessidade ¢ das duras condigdes de vida das classes mais desfavorecidas, conduzindo quer emigracdo. quer a venda de bens preciasos, como o cdo Faisca, o melhor amigo de Manuel. Ainsisténcia de Luisa na compra do cio, mesmo contra a vontade do amigo, éreveladora de um pensamento segundo o qual o dinheiro parece tudo pode comprar, sobrepondo se aos valores, a0 afetos ¢ a prépria moral, Lisa ¢ 0 pai aproveitam se da pobreza da familia de Manuel e das suas necessidades prementes para levar por diante a sua vontade, mesmo se egoistae injusta,ilustrando, desta forma, aforca cega do dinheiro, Oconto Um Fidalgo de pernas curtas (1958) é, também, particularmente eloquente na recriaco das diferencas sociais, delimitadas mesmo em termos de espacos fisicos da cidade do Porto, masrevela, através do recurso 2 ironia, um posicionamento mais critico das classes privilegiadas.A"ilha’ surge rectiada por oposicao aos bairros finos, com casas apalacadas, servidas por criados com libré. A passagem do c&o pelos diferentes on a Sob céus estranhos, uma artista sé" contextos ¢ ambientes permite recriar diferentes realidades, as econémica e socialmente mais e menos avorecidas, bem como.as suas consequéncias diretas nas vidas das personagens enos gestos do quotidiano, ‘mesmo os mais simples, como os ligados a alimentago, ao vestuério, ao trabalho ou a falta dele. Curiosamente, a alta burguesia portuense é alvo de uma perspetivacao irénica, sublinhada pelo artficialismo, pelo culto das aparéncias e pela frieza afetiva para com 0 animal que s6 acentua as saudades do amigo que deixou na “Iha’. Nem a abundancia de comida ou 0 aconchego parecem, pois, substituir a atenc&o dedicada que conheceu junto de Estretinhas, filho de uma cauteleira e de um engraxador. 0 menino ilustra, ainda, o trabalho infantil, participando ativamente nos ganhos da famila:"desde os quatros anos de idade ‘que i, de tabuleiro ao pescogo, vender pentes e pentinhos de pléstico, esticadores para golas, de pléstico, © ainda corddes de sapatos e sabonetinhos’(p. 30). O contexto suburbano, marcado pela desorganizacao urbanistica esultante de um crescimento desregrado, € muitas vezes palco de narrativas que procuram dar conta de realidades escondidas, marginalizadas ou ausentes da propria literatura. Em Na quinta das cerejeiras, uma narrativa a todos os titulos atualissima, assistimos as consequéncias sociais do desemprego. Como fecho da fabrica, a mae do narrador, a bragos com a pobreza iminente, vé-se forcada a abandonar a casa, o campo ¢ as suas raizes. Esta forma de éxodo rural resultard num processo gradual de depressao infantil do filho, em consequénciada incapacidade de ‘adaptacao ao novo espaco, um pequeno apartamento num bairro cinzento da periferia urbana degradada, a quem a arte compensaré de algumas das perdas softidas. E também num universo social e economicamente deprimido que se desenrola a narrativa de Miguel o Expositor (1993, 2* edicao 0). Os arredores da grande cidade sao marcados pelo transito intenso, mas tambem pela pobreza do baitro, formado por prédios altos, e das suas gentes. A sotidao de Miguel, no meio de muitos habitantes, resulta da condico de filho nico, mas também das longas horas de trabalho da ‘mae, a quem nao sobra tempo nem paciéncia para o flo. Amae, als, deixar-se-a influenciar pelo homem que a visita, transformando o gosto do filho pela pintura numa atividade que a todo custo quer tornar lucrativa, explorando e corompendo 0 seu talento. Apesar de tudo, no final do conto, bastard um olhar para se arrepender da sugestao feita, superando o"abismo escuro”(p. 36] que se preparava para o engolir, abandonando a postura de negligencia adotada (O mesmo universo desfavorecido sustenta a narrativa 0 Sr. Pechincha (1979), onde é possivel ver recriacla ‘a pobreza e a fome, mas também o engano da inocéncia ea credulidade infantis, Apesar de tudo, e mais ‘uma vez, a narrativa termina com uma sugestao de esperanca, associando a crianca a idela da confianga inabalavel e do perdao. [April ego, ce 198, tm por tial O Expositor ote Arontameat seabed tino Modesto Sob céus estranhos, uma artista sé" on ‘Accologia ¢ a defesa do meio ambiente Beatrize 0 Platano (1976) distingue-se pelo facto de ser um dos primeiros textos sobre a questo ecolégica publicacios imediatamente a seguir a0 25 de Abril Situado numa tradigao de textos que defende uma ligacao proxima entre os Homens e a Natureza, este distingue-se dos anteriores pela tematiza¢ao da intervenco civica da personagem principal, capaz de fazer frente aos poderes instituidos e as decis6es cegas que nao tem em conta o seu impacto na vida direta das pessoas. Anarrativa, desta forma, ilustra ndo sé a luta ative © empenhada para proteger o ambiente, mas também recria um exemplo de participacdo social, onde os ‘idadaos intervem de forma implicada na resolucao dos problemas da sua comunidade, uma espécie de democracia popular e participada, também porque realizada em proximidade e com responsabilidad, cujas decisdes tém em vista o bem comum. A oposicao entre a autoridade das decisdes instituicdes ¢ a irreveréncia da convicedo infantil sublinha a forca da iniciativa popular, uma espécie de pequena “revolucao" pacifica a favor de valores conotados positivamente, como a natureza ¢ o ambiente. Neste caso, a modernidade e o progresso, associados a construgao do novo edificio dos correios, parecem contrariados pelo platano que empresta nome a rua habitada por Beatriz, que pela sua largura e ramagem frondosa ensombravaa fachada pintada a duas cores, caixilhos de aluminio ¢, ainda, um painel de azulejos por cima da entrada” (pp. 9-10) Para 0s promotores do projeto, o platano, apresentado por “velha arvore’, integra a categoria das "velharias intiteis” e ainda que 0 narrador admita que possam tratarse de "boas pessoas’, nao deixa de referir que ‘quando passaram de cidadaos vulgares para postos de comand, murcharam se thes as raizes que tinham criado com as coisas simples ¢ bonitas da cidade” (p. 10). A critica a acao transformadora-no sentido de corruptiva do poder é clara, afastando os individuos nao s6 dos espacos a que pertencem, mas das pessoas e dos valores mais importantes que ¢ necessério preservar. Em contrapartida, a crianca simboliza aqui nao s6 a inocéncia, mas os ideais fundamentais da lealdade e da Justica, incorruptiveis e contagiaveis, através do exemplo, para os outros cidadaos. A enumeracao de ‘quest6es por parte de Beatriz revelaa incoeréncia da medida adotada, mas também a dificuldade da crianga em fazer se ouvir, alterando a decisao, Os adultos & sua volta revelam-se nao s6 conformados como impotentes perante a decisdo tomada pelas autoridades, mas Beatriz tomard uma série de medidas concretas que ilustram a sua determinacao em favor do salvamento do platano: a carta que escreve e a vigilia que enceta até que a decisfo seja revogada, Perante a firmeza -mas também a justica- do seu ponto de vista, toda a comunidade se junta na defesa da arvore, transformada em simbolo de resistencia e de coragem, ‘um ‘monumento" vivo. ‘As questdes ambientais nao andam, aids, longe das preocupaces da autora que, de forma diferente, mals indireta, regressa ao tema com o volume Na Quinta das Cerejelras (1981), uma vez.que dicotomia cidade / ‘campo, a desordem urbanistica ea falta de espacos verdes na cidade, a falta de respeito pela naturezae ~anecessidade de contacto com o meio ambiente sao assiduamente referidas. Conelusées Associada ao movimento renovador da literatura infantil portuguesa (Gomes, 2013) ocorrido a partir da década de 70 do século XX, "de acentuada envolvéncia social” (Gomes, 2013: 27),a obra de lise Losa em revela-se particularmente atenta a realidade circundante, sobretudo a mais desprotegida, desempenhando um papel ativo na dentincia das condiicdes de vida das pessoas social e economicamente mais desfavorecidas. Esta atividade literariamente empenhada valetthe, inclusivamente, por parte de Ant6nio Quadros, a mengdo de "nao aceitavel’ para um dos seus melhores titulos, Fafsca conta asta histéria, lido enquanto "conto de intencao nitidamente social marcando bem a diferenca de classes e a injustica social’, como, allés, analisou Ana Cristina Vasconcelos recentemente (2013) em artigo publicado na revista Blimunda, Os temas “menos cémodos" (Gomes, 2013: 27}, ot fraturantes, na altura ainda emergentes, como a guerra, a tortura e a violencia, mas também a pobreza, o trabalho infantil, a exploracao dos mais pobres € as desigualdades encontraram, sob maltiplas formas, eco nos seus textos e nas suas preocupagées. O ‘mesmo acontece coma recusa do facilitismo e da infantlizacao da crianga, mas também da suamoralizagaio ‘ou doutrinagao, através da inculcacao do idedrio vigente. Ora personificados por animais, ora encarnados por criancas, os percursos de vida mais dolorosos e sofridos resultam quase sempre em vias que conduzem A valorizacao dos afetos, sobretudo no universo familiar, como elementos determinantes da existéncia humana, Tse Lose 167, spasende Sob céus estranhos, uma artista Ise" Tse Losa 17, Fo-Esposeade [REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS GOMES, José Anténio 2007. "ise Losa: breve perfil de uma autora a lere reer’ in http, /desivadaspalavras blogspot. pt/2007/01/se losa breve perf de uma-autora html COMES, José Anténio (2013). "se Losa, uma voz inovadora’,in Blimunda 10, pp.25-29.disponivel em Inttp//saramagod0anos les wordpress.com/20tS/C8/olimunda 10_marco_1Spd) -MARQUES, na Isabel Mendes Rosa (2009) As tradugdes de se Losa no Perixio do Estas Novo: mediacao culturale rojeccio dentiéra. Coimbra: FLUC [ese de doutoramento emletras apresentada Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra] -MARQUES, Ana Isabel (2001). Paisagens da Memoria Kentidade e alterdade na obra delIse Losa, Coimbra: Minera/CIEG, -MARTINHO, Fernando]. B.(1996)."A 2* geracdo neo-realisa In Tendéncias dominantes da poesia portuguesa da década {de 50, Lisbos: Colibri, pp. 313381. RISCADO, Leonor (2002). lise Losa Histérias com Meméria'in Malasarts (Cademes de Literatura pare alnfincia ea Juventude). 8, abril de 2002, pp. 3-7. SARAIVA, Ant6nio José & LOPES, Oscar (1992), Historia da Literatura Portuguesa, 16% edicao, Porto: Porto Fditora ‘SOUSA, Maria lisa (2002). 'lse Losa.Realidade e Esperanca‘in REGO, Manvela e SA, Luis (coord. e org). Histérias para gente de palmo e meio. Lisboa: Camara Municipal de Lisboa, pp 12-136. ‘VASCONCELOS, Ana Cristina (2013). Era uma vez dois ces num pats agaimado -FalscaeFidalgo'n Bimunda 10, pp. 30.35. disponivel em http//saramagoSanos.iles wordpress.con/2013/03/blimuida_10_marco_13,pal)

También podría gustarte