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rrr pe be] Ss oo OL 02 03 04 os 06 07 08 og 10 ML 12 13 4 15 Sumario Apresentagao 6 Mac Auucion / Aone Agua Editorial 8 ‘Anoenson Prvisi20 Programa Arte/Educagdo, Cultura e Cidadania da OE! 10 Lucia Gouves Piwenre. Mediacién artistica y cultural 15 Quer Lucia Quin Prana Didlogos entre Arte e Piblico no Museu 19 Recina Barista Apontamentos sobre a minticia na mediagzo em museus 24 Nicoue Cosi Educagdo em Museus: termos que revelam preconceitos 30 Ana Maz Bargosa A corporificaggo da experiéncia: “para que serve isso que voce esta me dizendo?” 35 Equanoo Duamre (ewraevista) Seré que a influenciou de alguma forma? 41 ANDERSON PINHEIRO Construgao de sentidos e vivencias estéticas: algumas consideracdes sobre a ralacao entre jogo e arte-educacio 46 Nets Powres Desenhar materiais para educadores: uma experiéncia e desafio 52 eave Gauvko Courinwo Aleitura que forma 0 mediador, forma o alhar e ajuda a ler o mundo? 59 Suone Fearera Luizines A verdade para a obra ndo existe: © que existe sdo as relacdes construldas pelo observador 63, Nina Vewasco € Cruz [enrnevistal Entrecruzamentos do olhar 69 ‘Ana Canouina Caos Mediacao estética: O que temos? 0 que precisamos? 73 Maria HeLena Wacner Rossi Mulheres: ocidentais e orientais 78 ‘Taciawa Duto Lerie Catoas Goya ¢ os jogos: a imagem como andlise 84 Apewin Geeara (entREvISTA] 16 7 18 19 20 al 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 Didlogos Imaginérios no Museu Histérico e Antropolégico do Cearé: atravessando fronteiras pera dinamizar ou problematizar 2 vida? 88 Carouna Ruoso Projeto MUSISER: Uma abordagem psicodinamica sobre a importancia da musica no desenvolvimento do ser humano 93, Hetoisa Mararang © museu e seu piiblico no mundo “contaminado” 98 Avexannt Dis Ravos Os Cursos de Educacdo Continuada do Pélo UFPE como espaco de mediagéo em arte 100 ‘Seaastito Peorosa Formago continuada dos(as) educadorestas) como espago de didlogo cor a arte 104 Grisman? Sovnes, Gist. SénRo, Jalsa Fans © Mania AumAcORA Dé ALsEIOR Teatro perto dos olhos e perto do coraco 109 Winns Sao’ ANn A experiéncia em ensino de arte da Casa da Criatividade 111 Ein Prrmlous o& Freras CIRCO: Ainda é a maior diversio 116 Guperto Trinpane Arqueologias do presente 118 Bruna Raraeuta [Relatos de experiéncial Arte&Cidadania: Meninos do Campus da UFPE - um projeto de inclusdo social 122 Resa Vasconcettos [Relatos de experiéncial Arte&Cidadania: © Movimento Fré-Crianga e 0 Caleidoscépio possivel 127 ‘Awa Paraicia Santas, Viviane DA Fonte Neves, (Parzicyragao esrecia O& Crwita Nocucina) © impacto do ensino de arte nas ONGS 129 Livia Mauss camino Conexdes entre educacdo e arte: Paulo Freire, Francisco Brennand, Noemia Varela e Ana Mae Barbosa 134 Fernawoo Anronto Goncalves Dé AzevEDo Diglogos: tecendo conhecimentos, convivendo com as diferengas 139 Virén AuaRa 0 comeco como enderegamento, notas provisérias e indébitas 143 Caro Honora Perfil dos Colaboradores 147 30 Educagao em Museus: termos que revelam preconceitos’ Ana Mae Barbosa Para os alunos e professores da Especializagao em Arte/Educacao da UNICAP/Recife/2008, | O termo mais revelador do preconceito contra Educa¢o nos Museus & o de monitor para aquele profissional encarregado de visitas, recebendo escolas e professores. Geralmente sdo educadores formados em Universidades, nos cursos de Historia, de Arte, de Educacao e até mesmo de Comunicacdo. Eles sao educadores, pois tratam de ampliar a relagao entre o museu e o piiblico, ou melhor, sao mediadores entre a obra de arte e 0 publico. Monitor € quem ajuda um professor na sala de aula ou é 0 que veicula a imagem gerada no HD, no caso de computadores. Atrelada a Palavra, vai 2 significagao de veiculo e de falta de autonomia e de poder proprio. Mas, a paisagem social de “monitores de museu” esté mudando © 2 funcéo, atraindo jovens saidos das classes médias que nao que- rem se sujeitar ao sistema, ensinando em escolas. Para eles é muito mais prazeroso e significativo trabalhar em museus, além de que podem agientar 2 incerteza econémica da profisséo. Alguns museus, os mais intelectualizados, em respeito 4 nova classe social que neles trabalha, estdo conferindo mais dignidade designativa a profissdo e chamando-os de EDUCADORES, titulo ao qual fazem jus. Mas, em mega exposigdes como a Bienal de Sao Paulo eles continu- am a ser chamados de monitores. O trabalho na Bienal é duro demais, ‘$40 muitas horas e paga-se pouco. Como resultado, atrai estudantes uni- versitarios de classes sociais mais baixas, por isso a elite se da bem ao desqualificd-los come meros monitores ou ao fazé-los vestir uma cami- seta que traz nas costas designag&o mais desqualificante ainda - “tira duvidas”, como foi feito na Bienal de 1998. Em outra Bienal, resolveram reservar a “monitoria" para os alunos da Fundag&o Armando Alvares Penteado, Os alunos desta escola, uma das mais caras do Brasil, pou~ co se interessaram. A Bienal foi obrigada a aceitar alunos de Escolas de Arte da periferia e das universidades pUblicas como USP e UNESP, injustamente consideradas escolas de ricos. Essa 6 uma propaganda da direita contra a universidade ptiblica. Eu ensinei 34 anos na USP e nun- ca tive um(a) aluno(a) rico(a). I! - Visita guiada é outro termo preconceituoso. Pressupée a cegueira do pliblico e a ignorancia total. Uso ha vinte anos o termo visita comen- tada e, por algum tempo, chamei visita dialogada. Preferi comentada, porque 0 visitante pensa que nao vai se comprometer, vai s6 ouvir e, no processo, engaja-se sem ter tido chance de se recusar ao engajamento. 0 didlogo significa participagao do visitante também e, declarado de pronto, pode amedrontar. Ninguém quer se confrontar com sua prépria ignorancia. Contudo, 0 sentido epistemoldgico de uma visita do educador de museu com qualquer ptiblico tem sempre que ser o didlogo. Ao ptiblico resta escolher: se vocé quer visitar 0 Museu sozinho e calado, como muitas vezes tenho necessidade, tudo bem. Quando meu marido estava no hospital eu saia de la desesperada por consolo e corria para o museu mais préximo, ansiando por nao encontrar ninguém e ficar sozinha com as obras. Nessa ocasiao, uma exposigao de Livio Abramo no Centro Cultural Tomie Ohtake me agasalhou muitas vezes. Mas, se alguém quiser dialogar, chama-se um educador para, juntos, verem a exposigao, comentarem, trocarem idéias e sensagdes sobre a obra e informagdes sobre a exposigao. Em Sao Paulo, os Cinicos lugares em que me sinto a vontade para fazer isto séo o Centro Cultural Banco do Brasil e o Itau Cultural. Outro dia pedi um educador no Itad, fiquei feliz, pois achei que ele nao me reconheceu e, no final, até dei meu car- t&o ou meu nome a ele, achando que ele nunca ouvire falar em mim. Foi uma 6tima visita, falei de curadorias que fiz, comentamos sobre aquilo de que mais gostavamos na exposigao, foi um didlogo mais que agrada- vel, foi recompensador e tive conhecimento de detalhes do processo de af 32 criagao de algumas obras, fato que melhorou minha recepgao a elas. Saf pensando que bom, nao enganei 0 educador, porque demonstrei ser do ramo, mas nao disse que era arte/educadora, o que podia té-lo inibido. Dias depois, recebi um e-mail de Renata Bittencourt, diretora do Edu- cativo do Itad. Entre outras coisas, ela me dizia que o educador tinha gostado muito de nossa conversa. Fomos bons atores, fingimos bem. Ill- Curadoria Educativa nao é propriamente preconceituoso, mas € usa- do para dissimular o preconceito. £ sé um meio artificial de tentar con- ferir a mesma importancia da educagdo curadoria de obras de arte. Para mim, a importancia é a mesma, mas nao é assim que 2 elite que comanda os museus pensa. Dai 0 artificio “curadoria educativa”, muito usado por quem organiza cursos, seminarios etc. e quer ser importante. Em primeiro lugar, seria interessante analisar por que no Brasil as instituigdes procuram dar “nomes - fantasia”, como dizem os farma- céuticos, a Educacao. Poucas s&o as instituiges como museus e centros cufturais que tém a coragem de designar seus departamentos voltades para ensino, di- vulgacao ou extensdo simplesmente de Departamento, Setor ou Divisaio de Educacao. Isso nao ocorre no Primeiro Mundo. Houve um tempe em que a Fran- ¢a escondia 0 trabalho educacional de suas instituigdes sob o nome de Aco Cultural. Era a sindrome pés 68 de rejeicao a Educacaa. Hoje assumem 0 papel educacional e 2 designacae educacZo com orgulho e com a consciéncia de que a principal fungae de cultura 6 edu- Car, como vem apregoando Jack Lang, que ja ocupeu com muito sucesso 0 Ministério da Cultura e o Ministério da Educaraa. Porque sera que temos tanta vergonha de nus aliarmes & educacdo e adotamos expressées desviantes, maquiadoras, coma apo educativa, acao cultural, curadoria educativa (quando se trata simplesmente de organizaco de cursos, congressos, seminaries) © ouiras mais limitantes e burocratizadas, como servico educativo, quando © que fazemos é es- pecificamente Educacao? O desprezo pela educacdo que caracteriza as entidades culturais de elite é ainda maior quando essa entidade se dedica a arte, especialmen- te as artes plasticas, Parece que, em se tratando de arte, quanto mais protegé-la da contami- nado com Educagao, mais valiosa sera. O pior € que o nojo por educagao ataca com uma freqiiéncia enorme os proprios professores de arte de faculdades e universidades. Nao é raro, no Brasil, que artistas professores(as) universitarios(as), em dis- cussdes sobre ensino universitério ou em congressos de arte/educacao, em geral, comecem ou terminem por afirmar enfaticamente que nao entendem de Educagao. Como ensinam, por que ensinam, a quem ensinam nao os interessa. Deveriam se interessar por essas questées, ou ao artista basta sua obra para ensinar? Além disso, disseminam o slogan modernista de que arte no se ensina. Sejamos radicais: nada se ensina e tudo se aprende, depende do dia- logo, da interlocucao, da intermediacao, da necessidade e do interesse. A realidade € que a maioria dos artistas, quando ensinam arte, fazem-no para complementar orgamento. Ao desprezo pela educacao, caracteristico daqueles que se dedicam as atividades de elite e nado so ricos, acrescenta-se uma certa vergonha por nao ser campedo de vendas, 0 que Ihe permitiria viver exclusivamente da mercantilizagao de seus trabalhos. Na cultura artistica brasileira, educacao é considerada sinénimo de mediocridade. Sera pela ma qualidade de nosso ensino? Talvez nao, porque os que tém horror @ educagao “nao entendem de educagao”, nao sabem julgar o que é qualidade em educacao, nem em relacao ao ensino que praticam. Acredito que foi a acao repressora da ditadura e os baixos salarios que criminalizaram a educacao no Brasil. Na sociedade neoliberal s6 merece respeito quem tem dinheiro para consumir. No mundo das Artes Plasticas, os que importam vestem-se bem, vao aos cabeleireiros de luxo, podem comprar obras de arte, po- dem influir ou aspiram a influir em conselhos de galerias e museus e, principalmente, nas decisdes das instituigSes que financiam projetos e dao bolsas. Qualquer defesa da educacao levanta a suspeita de pobreza no bolso e, por raciocinio primario, no espirito. E a légica capitalista. Para nao parecer injusta, quero lembrar que nos Ultimos anos empre- sas € fundagées ligadas a empresas ou ao capital “desnacionalizado”, alertadas pelas nagées centrais sobre os perigos endémicos da miséria na sociedade que os circunda, tém criado programas de apoio financeiro a projetos de educacdo para os pobres. Entretanto, as razées neoliberais se impdern e limitam a ajuda a projetos que possam em curto prazo se autofinanciar. A verdade é que aqueles que sao mesmo necessarios nunca poderao se autofinanciar, porque nao sao comerciais, enquanto muitos projetos equivocados que colonizam mais ainda a pobreza ser- ven de marketing para pessoas e empresas financiadoras. 33 34 Mas, voltemos as instituigbes culturais. No Brasil, em museus & centros culturais, a educac&o, embora glamourizada por outro nome, & sempre 2 tiltima na escala de prioridades e valores hierarquicos. Curadoria Educativa 6 mais um artificio para nominaimente es- conder que devemos tratar em museus de EDUCAGAO. Considers o terme curadoria educativa pedante, revelando falta de coragem de se enfrentar o que importa: EDUCACAO. E patética a tentativa de se aliar a um termo de prestigio nos museus para fazer a EDUCACAO ser engolida goela abaixo pelos capitalistas. E tentativa de engana- 80 da EDUCACAO. Estudar curadoria, sim, os cursos universitarios deviam ter esta matéria no curriculo, para que os jovens nao confiassem tanto nos de- signios dos curadores. Aprenderiam que muito curador € apenas um politico da arte. Privilegia uns para ser privilegiado por outros. Defendo até que se deveria fazer experiéncias de curadoria em sala de aula do ensino fundamental. Sobre curadoria na sala de aula, houve um trabalho muito inte- ressante na Escola da Vila feito por Rosa lavelberg, mas nao sei se ela escreveu acerca. Esse processo foi muito bom e levou os alunos a prepa- rar suas préprias exposicées e assumir papéis de curador, assistente de curador, designer de espaco etc. Ana Amalia Barbosa também fez um excelente trabalho com os alunos adultos (na maioria professores) do NACE/ECA/USP. Era um curso com ¢r8s componentes: fazer arte, leituras de obras e do cam- po de sentido da arte e contextualizacéo (metodologias). Os alunos do componente fazer arte, ao fim do ano, tinham que organizar uma exposigao de seus trabalhos em galeria de arte comercial ou museu. Tinham que conseguir a galeria, escolher os trabalhos e organizar 0 discurso da exposicao, fazer os convites e folder (design grafico), fa- zer divulgacao e montagem, projetar as atividades para educagao etc. A exposicao aconteceu e 0 texto que a explica foi impresso no folder. A tese de doutorado de Fabio Rodrigues, na Universidade de Sevilha, fala desse processo e da exposi¢ao. Mais um outro exemplo é a excelente dissertacao de Fabiola Burigo, que trata de uma galeria de arte dentro da escola para trabalhos de ar- tistas e dos alunos também. Essas aproximagdes com curadoria so valiosas, pois promovem o pensamento critico. Curadoria Educativa para substituir Educagao em museus ou organi- zago de cursos é pedantismo. 4 146 Referéncias bibliogréficas explicitas ou submersas BLANCHOT, Maurice. A conversa infinita: a palavra plural; tradugdo de Aurélio Guerra Neto. So Paulo: Escuta, 2001. DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. O que é um conceito? In: _. O que é a filo- sofia? traducao de Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Mufioz. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992, p. 25-48. FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas juridicas; tradugao de Roberto Cabral de Melo Machado e Eduardo Jardim Morais, superviséo final de Léa Porto de Abreu No- vaes. Rio de Janeiro: NAU, 2005. HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte; tradugo de Maria da Conceicao Costa. Lisboa: Edicées 70, s.d.. QUINTANA, Mario. Prosa & verso — 6* ed. — So Paulo: Globo, 1989. LANCRI, Jean. Coléquio sobre a metodologia da pesquisa em artes plésticas na uni- versidade. In: BRITES, Blanca & TESSLER, Elida (orgs.). 0 meio como ponto zero: metodologia da pesquisa em artes plasticas. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2002, p. 15- 34. (Coleco Visualidades, 4) LARROSA, Jorge. Linguagem e educacao depois de Babel; traduco de Cynthia Farina. 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