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Consonancia e dissonancia _Aarte 6, em seu estigio mais elementar, uma simples imitacio da natu- _reza, Mas logo torna-se imitaco num sentido mais amplo do conceito, isto 6, ‘no mera imitagdo da natureza exterior, mas também da interior. Em outras eee ee ae produzem a sens: tudo, a propria sensacao, eventual- ‘mente sem consideraglo ao “qué”, “quando” e “como”. E a posterior conclu ‘io acerca do objeto externo, provocador da impressio, reduz-se & causa de sua insignificante presenca imediata. Em seu nivel mais alto, aarte ocupa-se, uunicamente, em reproduzir a natureza interior. Nesse caso, seu objetivo é a imitacio das impresses que, através da associacio miitua ¢ com outrs presses sensoriais, conduzem a novos complexos, novos movimentos. Nes- se nivel, a concluso quanto ao motivo exterior & quase de uma insuficiéncia indubitével. E, em todos os niveis, aimitagSo do modelo, da sensacZo ou do conjunto de sensagSes, é apenas de uma precisio relativa: por um lado, pelas| limitagées de nossa capacidade, e, por outro ~ consciente ou inconsciente- ‘mente -, porque o material da reprodugdo 6 diferente do material ou materiais dda causa. Assim que, por exemplo, pode ocorrer a reproducio de sensagbes visuais ou titeis com o material proprio das sensacdes auditivas. Se ja mais elementar imitagdo da natureza se baseia, talvez, num com~ plexo méltiplo e sintético, ese jé é dificil, para o entendimento, responder & ppergunta pelos objetos exteriores que so o modelo, entio surgem dificulda- des insuperdveis i andlise quando se toma a impressdo no sujeito observador 55 —_$_$_$_$$_$$$—_—_—_—_—_—_—_—_—_—_—$—_—$—$——_— rll Schieber ‘como ponto de partida das investigacbes. Mas, como demonstra Schopenhauer em sua teotia das cores, te deveria partir do _sujlto. E, do mesmo modo que ele considera as cores como feniémenosfisio- liégicos, como “estados, modificacbes do olho”, dever-se-a fundamentar ex- clusivamente no sujelto, ou seja, no ouvido, uma teoria real dos sons. Nao € ‘minha intengio oferecer tal teoria, ou mesmo uma teoria da harmonia, ainda que possuisse a capacidade e os conhecimentos necessérios a isso. Almejo, to-somente, dar uma exposigo dos meios artisticos da harmonia que sirva de uso imediato na pritica. Talvez suceda alcancar, nesse caminho, mais do {que pretendo: apenas consegulr claridade e riqueza de relagbes na exposicio. orem, tampouco devo aborrecer-me caso isto ndo ocotra, uma vez que nao & este © meu objetivo. E, quando teorizo, mais do que preocupar-me se as teorias so exatas,interessa-me que sejam adequadas a compara¢io,suficien- tes aesclarecer 0 objeto e dar um maior panorama as consideragies, sso, portanto, alegar duas razBes para prescindir do sujeitocomo funda- ‘mento de minha observacio. Primeiramente, por niio desejar oferecer uma ‘woria dos sons, ou das harmonias, mas sim, e apenas isso, uma exposigao de ‘certos procedimentos artistcos. E, em segundo lugar, porque semelhante ex- posi¢o nfo tem a pretensto de ser tomada por teoria. Logo, posso fundamen- {ara observagio no objeto, a matéria da mésica, se consigo que aquilo que pretendo mostrar estea de acordo com o que desse objeto se sabe ou se sup6e. ‘Ormaterial da misica 60 som, o qual atua diretamente sobre o ouvido. A percepcia sensivel provaca associagSes e relaciona o som, 0 ouvido e o mun- do sensorial. Da ago conjunta destes trés fatores depende tudo © que em miisica existe de arte. Embora a impressio artista, semelhante a um com- posto quimico que possua qualidades diferentes das dos elementos que 0 ‘compéem, tenha peculiaridades diversas das que possuem os componentes, 6 legicimo, na anilise do conjunto, examinar, para determinados fins, certas ‘qualidades dos elementos integrantes. Afinal, também © peso atémico ¢ a valéncia dos elementos simples permitem uma conclusio sobre 0 peso ‘molecular e a valencia do composto, Talvez seja insustentvel querer derivar cde um 56 dos componentes, por exemplo, do-som, tudo 0 que constitui a fisica da harmonia. Algumas peculiaridades, todavia, poderiam ser deduzidas assim, dado que 0 ouvido possui uma disposicio especifica para a recepgio ddo som que se corresponde com a disposi¢ao mesma do som, como uma parte cOncava se corresponde com uma convexa. Porém, um dos trés fatores indicados, o mundo de nossas sensaedes, subtrai-se, de tal forma, a um con- tole mais rigoroso, que seria leviano basear-se nas poucas suposigies possi- 56 Harmonia veis esse terreno da observago com a mesma seguranga com que nos base- amos naquelas suposies que denominamos ciéncia. Sob este enfoque, se- sia questi de pouca importncia proceder desde hipSteses verdadeiras ou falas, Pos, mais cedo ou mas tarde, tanto umas quanto outras serio, por certo, refutadas, O realmente importante ¢ basear-e em pressupostos que sem pretenderem ser leis naturas, satsfaam nossa necessidade formal de sentido ede coerénca. Se fsse possivel derivar todos os fendmenos a partir da fisica do som, explicando e resolrendo dal todos os problemas, pouco importaria que nosso conhecimento fisico da esséncia [Wesen] do som fosse cexato ou nfo. Pois€ muito posivel que partndo de uma observaio errada possamos chegar, por dedusfo ou intugGo, a resultados cores, ao passo «que nfo se pode afirmar que de uma observacio melhor ou mais exata resul- tem, necessaiamente,conclusSes mais coretas ou melhores Os aiquimis- tas, por exemplo, apesr dos instrumentosrudes de que dispunham, reco- neceram a possibilidade de transmutar entre si os elementos, enquanto a muito bem apetechada quimica do século XIX sustentava aida, hoje supe- rac, da indestrutibilidade eimutabildade dos elementos. O fato de haver- se superado semelhante concepsf0 nao o devernos a observages mais pro- fondas, a conhecimentos mais perfeitos ou a melhores deduces, mas a uma descoberta casual. O progress, por consegunte, nfo fo cosa que necesara- mente surgsse como conseqdéncia de algo; nao foi um fendmeno que se ppudessepreizer com base em alguma realizgo particular; senio, algo que scbrevei a deapeito de tcos os eafonos inmepersdemnent,imerecidaen- te, , talvez, sem ser desejado. & verdade que a explicagdo exata deve ser a meta de toda investigagi, ainda que, quase sempre, © que se obtenhaseja 1uma interpretagio equivocada. Mas nem por isso devese permitr que se ddesvanega oprazer pela procura da interpretario comet; ao contri, €pre- cso contentar-se com essa saisago, essa alegria, que talvez seja 0 ino resultado posiivo de todos esses esforgs. Sob esse enfoque, pouco importa, para a explicagio dos problemas da Dpamuonia, que afungio dos barmBnicos toperiores tena sido recherada on posta em divia pela cgnca, Se conseguissemos explicar os problemas de Ianeira a obter tm sentido e assim expé-ls com careza, ainda qu seja falsa esta teoria dos harmenicossuperiores, seria ento possvel alcangar um, resultado portivo mesmo se, passado cerco tempo, fosse demonstrado ~ 0 «que no necessiriamente deve ocorer~ que tanto a teoia dos harm@nicos como a interpreta que dela se dew estavam erradas.Posso, pos, intentat trangiilamente esta expicaio, visto que, pelo que si, no se logrou até Ea Arid Scaebeg agora refutar com certeza tal teoria, Ademais, dado nfo ser possivel anin- jguém examinar tudo por si mesmo, estou obrigado a contentar-me com 0 conhecimento existente, enquanto puder acreditar nele. Portanto, patirei, em minhas observac6es, da teoria, qui insegura, dos harménicos superio- res, pois o que dela se pode dedusir parece corresponder ao desenvolvimento dos meios da harmonia. Repito:a mavéria da misica &0 som. Este deverd, portanto, ser conside- rado em todas suas peculiaridades e efeitos capazes de gerar arte. Todas as sensagSes que provoca, ou seja, os efeitos que produzem suas peculiarida- des, tém, em algum sentido, uma influéncia sobre a forma (da qual o som & elemento consticutivo). Em tia andlise, sobre a obra musical. Na suces- ‘io dos harménicos superiores,* que € uma de suas propriedades mais noté- veis, surge, depois de alguns sons mais facilmente perceptiveis, um certo nnimero de harménicos mais débeis. Os primeiros sio, sem divida, mais familiares 20 ouvido, enquanto os Gltimos,difcilmente audiveis, soam mais imusitados. Com outras palavras: os mais proximos parecem contribuir mais, ‘ou de maneira mais perceptivel, ao fenémeno total do som, ao som como ‘uma eufonia, capaz de arte; ao passo que os mais distantes parecem contri- bir menos, ou de forma menos perceptivel. Porém, que todos contribuem, ‘mais ou menos, que na emanagdo actstica do som nada se perde, isso é seguro. Também & certo que o mundo sensorial est em relagio com o com- plexo total, logo, também com os harménicos mais distances. Se esses sons ‘mais longinquos nfo podem ser analisados pelo ouvido. sio, em troca, perce- bidos como timbre. Iss0 significa que_o ouvido musical desiste, aqui, das ‘entativas de uma andlise precisa, mas aimpresso como um todo é pereita: ‘mente captada. Os harménicos mais distantes slo registrados pelo subcons-

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