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SOBRE O DEBATE ENTRE SILAS


MALAFAIA E ÍRIS BERNARDI NO
“PROGRAMA DO RATINHO”

Por Eliel Vieira

No último dia 24 de Fevereiro (2010), foi transmitido em rede nacional um debate sobre o
polêmico projeto de lei sobre o crime de homofobia, no Programa do Ratinho, na SBT. O debate foi
travado entre duas personalidades na questão: defendendo o projeto de lei, a ex-deputada Iara
Bernardi, a própria autora do projeto; criticando o projeto de lei, o pastor Silas Malafaia, um dos mais
famosos pastores do Brasil, e declaradamente crítico desta lei.

Pretendo neste texto apresentar alguns comentários sobre o debate, bem como alguns
vislumbres sobre o projeto de lei. Entenda este texto, se quiser, como uma resenha crítica ao debate
apresentado. Caso você não tenha o visto ainda, os vídeos podem ser assistidos no Youtube1.

A verdade é que o debate em si foi horroroso. Programa do Ratinho é um lugar de baderna, de


baixaria, de “quebra pau”. A platéia e o público deste programa desejam ver não debates de idéias, mas
discussões, gritaria, humilhação alheia, etc. É inegável a importância de trazer este debate para mais
próximo da população, como em um programa de TV aberta, mas isto deve ser feito em um lugar
propício para debates sérios e com moderadores que saibam, efetivamente, conduzir um debate.

Sobre a participação dos debatedores, e sobre “quem venceu” o debate, está se dizendo por aí
(especialmente entre os evangélicos) que Silas Malafaia venceu o debate com sobras, o que é mentira.
Silas Malafaia gritou mais, esbravejou mais, bem como foi mais rude e sem educação. Mas isto de
forma alguma implica vitória.

1
<http://www.youtube.com/watch?v=n8srofHw_2E>.

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Para ilustrar meu ponto imagine um jogo de xadrez entre você e um galo. O objetivo de um
jogo de xadrez é e sempre será derrubar o Rei do adversário, até mesmo se você jogar contra um galo.
O que vai acontecer é que, apesar de você ter mais inteligência que o galo, o animal vai bater as asas,
subir em cima do tabuleiro, derrubar todas as suas peças (inclusive o rei) e depois sair “cantando de
galo”, como se tivesse vencido o jogo.

Foi exatamente o mesmo neste debate: Silas Malafaia gritou mais; veio com duas dúzias de
frases de efeito decoradas; interrompeu a ex-deputada sempre que pôde; levou a discussão para um
campo que lhe proporcionaria vantagem; demonstrou sua total falta de decoro; debateu gritando, como
se tivesse em um bar; e, obviamente, como o Programa do Ratinho é um programa de baixarias e
gritarias, o pastor Silas levou a melhor. O próprio Ratinho “elogiou” Silas ao final do debate, dizendo,
“Estou torcendo pra você continuar só neste negócio de pastor senão você toma meu lugar”.

Se o debate tivesse ocorrido em uma arena mais propícia, com tempos estipulados para ambos
debatedores, com regras de decoro e conduta, com possibilidades de pergunta e resposta, com punições
a ataques pessoais, com uma boa moderação, enfim, se o debate tivesse sido um debate de fato, o
resultado seria provavelmente outro. É possível que até mesmo o Silas venceria (já que vários pontos
levantados por ele são pertinentes), mas não seria certamente a vergonha que vimos na TV semana
passada.

Quanto à controvérsia que gerou o debate em questão, eu ainda não cheguei a uma conclusão
definitiva sobre este projeto de lei. Ora tendo a aceitá-lo, ora tenho resistência a ele. O pr. Silas
Malafaia foi muito inteligente ao expor a agenda por trás deste projeto, mostrando que se deseja
aprová-lo de qualquer forma, por quaisquer meios, deixando a controvérsia longe da opinião pública.

Dizer que este projeto se faz necessário porque “a cada três dias um homossexual morre por
homofobia” é uma piada. Isto significa que temos 121 mortes de homossexuais por ano, por causa de
preconceito. Vamos a alguns casos por ano no Brasil: o tabagismo mata 200 mil fumantes por ano
(juntamente 2 mil e 600 não fumantes); acidentes de trânsito matam 40 mil por ano; doenças
cardiovasculares matam 300 mil por ano; acidentes de trabalho causam 3 mil mortes por ano. A se
julgar pelos números, até mesmo a gripe é mais perigosa que o preconceito, pois ela matou em 2008
763 pessoas2.

Os homossexuais afirmam representar algo em torno de 10% da população. Se este for o caso,
temos cerca de 18 milhões de homossexuais no país, e deste grupo 121 são assassinatos por ano. Isto
2
<http://www.ecodebate.com.br/2009/05/18/gripe-comum-causou-753-mortes-no-pais-em-2008/>.

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significa 0,000007% de mortes por ano. Nada mais insignificante. Talvez unha encravada mate mais
que homofobia.

Mas isto não quer dizer que nada deve ser feito. O Estado brasileiro é laico, portanto não pode
pressupor nenhuma crença religiosa. Isto não significa que o Estado deve ser ateu, mas um Estado
neutro, que legisla buscando atender o maior número possível de pessoas. Aos olhos do Estado, um
homossexual é tão cidadão quanto qualquer hetero, e a priori deve lhe ser garantido os mesmos
direitos que os heteros possuem.

A verdade é que apesar do número de assassinatos/ano serem pequenos, no dia a dia os


homossexuais são alvos, sim, de preconceitos. E não apenas os homossexuais, os índios e os ciganos
são outra parcela pequena da população que sofrem por causa do preconceito dos “normais”. E se estes
grupos sofrem por preconceito, deve-se criar mecanismo que inibam esta prática ao máximo. Portanto,
mesmo que a PL 122 não seja o mecanismo a ser usado, alguma coisa deve ser feita.

E mais importante, o debate deve estar ao alcance da população, pois o Estado nada mais é do
que uma representação dela. Mas, convenhamos, nada de Programa do Ratinho...

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