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FOME, RIQUEZA E MORALIDADE De Philosophy and Public Afr Enquanto escrevo isto, em Novembro de 1971, as pessoas esto a morrer no Bangladesh devido a falta de comid: abtigo cuidados médicos. O softimento ¢ as mortes que af se verificam agora nao sio inev lista do termo. A pobreza consta vcs em qualquer sentido faa- um lone e uma guerra civil eransformaram, pelo menos nove milhdes de pessoas em refiugiados sem recursos. Aina assim, as rages mais ricas tém capacidade para proporcionar um auxilio capar de reduzie qualquer sofrimenco futuro a proporgées muito Timitadas, As decis6 Us € a8 acgbes dos seres humanos podem impedir este ipo de sofrimento, Infelizmente, os seres bburanosiifo tomaram as decisbes necessirias. Ao nivel individual, as pessoas, com raras excepdes, nfo reagiram 3 situagao de uma maneira significativa. Em termos igetais, as pessoas niio donram grandes quantias a fundos de apoio, no escreveram ‘os seus representantes parlamentares exigindo um maior ausilio do desfilaram nas ruas, ni prepararam manifestagoes, nem fizeram alguma outra coisa com 0 objective de proporcionar aos refugiados os meios para satisfazerem as suas necessidades essenciais, Ao nivel governativo, nenhum governo deu o tipo de ajuda maciga que permitira os efugiados sobreviverem por mais do que alguns dias. A Inglaterra, por exemplo, contribuiu bastante mais do que a maior parte dos outros paises. Até ao momento, doou 14 750 000 de libras. Para efeitos compara contribuigio da Inglaterra para os custos de desenvolvimento rao recuperiveis do projecto anglo-francés do Concorde excede ja 275 000 000 440 000 000 de libras. Isto implica que 0 Governo britinico valoriza trinta vezes mais um meio de transporte supersénico do que as vidas de nove milhses de libras, e, segundo as actuais estimativas, ating dos. A Austrilia € outro pais Estvs sabre Uma Vids Bea que, 4 luz do rendimento per capita, esi bem pesicionado na tabela do «auxitio 20 Bangladesh». O auxilio da Austrélia, no entanto, corresponde a menos do que um duodécimo do custo da nova Sydney Opera House. A quantia roral doada por toxas as fontes perfa agora cerca de 65.000 000 de libras. O custo estimado de manter 1s refugiados vivos durante um ano é de 464 000 000 de libras. A maior parte dos refugiadas vive em campos hi mais de seis meses. © Banco Mundial disse que a India precisa de um apoio minimo de 300 000 000 de libras dos outros paises até 20 fim do ano. Parece ébvio que um apoio desta dimensio nunca ser facultado. A India seréforcada a escolher entre deixar os refugiados morrerem a fome ou desviar fundos do seu préprio programa de desenvolvimento, 0 que significaré que no facuro morrerio 3 fome mais dos seus abi Estes sio os fictos essenciais da situagio actual do Bangladesh. Para aquilo «que aqui nos interessa, esta situagao nada tem. 9» excepto a sua magnitude, ‘A-emergéncia do Bangladesh apenas tltima e mais aguda de varias emergéncias cm varias partes do mundo, provocadas tanto por caus seres humanos, Existem também muitas partes do mundo em que as pessoas rmorrem devido a earénicias nutrtivas e& falta de abrigo, sem que isso resulte de qualquer emergéncia especial. Fago do Bangladesh o meu exemplo apenas porque este constitui a preocupacio actual, ¢ porque a dimensio do problema assegu- rou-the uma publiciagio adequada, Nem os individuos nem os governos podem sabemd que Ii esti a acontecer. icages morais de uma situagao como esta? No quese segue, vou defender que o modo como as pessoas dos paises relativamente ricos reagem a uma situagio como ado Bangladesh ¢injustficive; vou defender, na verdade, que toda | formacomoclhamos paraas quest6emorals~ onosso.esquemaconceptual moral — | tei de seralterada , com cla, o modo de vida quc hoje ¢ aceite na nossa sociedad ‘Como ¢ ébvio, nao pretenderei ser moralmente neutro ao argumentar a favor desta conclusio, No entanto ite tentarjustificar a posigao moral que assumo, de modo a que quem aceitar certas suposig6es, que irei explicita, aceitara também, assim espero, a minha conelusio, arto do|pressuposto|de que o softime rentes da falta de comida, abrigo'e cuidados médicos sao maus. Penso qué a maior parte das pessoas concorda com isto, ainda que seja possvelchegar a esta perspectiva por caminhos diferentes. Nio vou argumentar a seu favor. As pessoas defendem as mais diversas posigées excéntricas, ¢ talver de algumas delas no se siga que morrer & fome & mau em simesmo. E dificil, calver imposstvel, refunar essas posites, e assim, por uma questio de brevidade, vou assumir que este pressuposto éaceite. Aqueles que discordam nao precisam de ler mais, ‘A minha segunda tese é esta: se temos o poder de impedir que algo de mau aconteca sem assim sacrificarmos nada que tenha uma importincia moral com- 122 parivel, entio me (que ‘enka uma in algo de comparaw deixar de promov poxlemos imped sige apenas quei Ebom, eexige-nor onto de vista me ‘eagio do meu arg aideia da seguinn acontega sem asst mente devemos fa tum pequeno lago dda dgua. Isso imp cante, a0 passo qu A aparéncia in Se 0 levssem nossa sociedade © primeiro lugar, 0 mente irelevante vive a cem metro: dex mil quilémen fs casos em que x sou apenas um en Nio penso qu 4 proximidade ea né, permitindo « provivel que a gia pessoa que por ac: lidade, universal discrinnioar dest (oude nds em melhores conc esteja pert de nés de proporcionae « dle nds. Noutros preocupadas com India. Infelizment -sabilidades morais aleraram asituacs toa das los. los. de de Rese Singer io «sem sacrificarmos nada parivel entdo moralmente devemos faxé-lo. A expres que tenkia uma importancia moral comparivele significa isto: sem fazer acontecer algo de comparavelmente mau, sem algo que sea errado em si mesmo ou sem deixar de promover um bem moral comparivel, na sua importincia, ao mal que podemos impedir. Este principio parece quase tio incontroverso como o anterior. Exige apenas que impesamos aqui que é mau, e no qe promovamos aquilo que bom, cexige-nosisto apenas quando podemos fazé-o sem sactficar nada que, do Ponto de vista moral, seja comparavelmente importante. o que respita 3 api casio do meu argumento a emerggncia do Bangladesh, poderia mesmo qualificar a ideia da seguinte maneira: se temos 0 poder de impedir que algo de muito mau acontega sem assim sacrifcarmos nada que tenha importincia moral, entio moral mente devemosfuzé-lo, Esta € ut plicagio deste principio: se estivera passar por tum pequeno lago e vir uma crianga a afogar-se, devo entrar nele e tiara crianca dda agua. Iso implicaré ficar com a roupa enlameada, mas este facto é insignif ‘ante, a0 passo que a morte da crianca seria presumivelmente algo de muito mau ‘A aparéncia incontroversa do principio qu Se o levéssemos a pritica, mesmo na sua fo abei de enunciar & enganadora na qualificada, as nossas vidas, @ nossa sociedade ¢ o nosso mundo ficariam profundamente diferentes. Afinal, em primeiro lugar, o principio no atende & proximidade ou a distancia. & moral: mente irtelevante que a pessoa que eu posso ajudar seja 6 Filho de wm vizinho que vive a cem metros de mim ou um bengali, cujo nome nunca saber dex mil quil6metros de distancia, Em se que vive a gundo lugar, o principio nao distingue 0 casos em que sou a tinica pessoa que pode fazer alguma coisa dos casos em qui sou apenas um entre milhées na mesma posigio. Nao penso que precise de dizer muito em defesa desta recusa a tet em conta 4 proximidade e a distancia. O facto de uma pessoa estar fisicamente préxima de 1nd, permitindo que tenhamos um contacto pessoal com ela, pode tora provavel que a ajudemos, mas nio mostra qué devames xjudé-l pessoa que por acaso est4 mais longe. Se acetals algum principio de imparci lidade, universalizabilidade, igualdade ow Oita coisa do género, nao podemos discriminar desfivoravélmente uma pessoa pela razio de ela estar long (ou de-nd&estarmos Tonge dela). Hi que admitic que ¢ possivel que estejamos ‘em melhores condigées de ver 0 que é preciso fazer para csteja perto de nés do que para a judar uma pessoa que dar alguém que esteja longe—c talvez cambém de proporcionar 0 auxilio que considerarmos necesito. isto se verificasse, constituiria uma razdo para ajudar primeiro os que estivessem mais préximos de ngs. Noutros tempos, isto poderia ser uma justficacéo para estarmos mais preocupados com os pobres da nossa cidade do que com as vitimas da fome na India. Infelizmente para aqueles que gostam de manter limitadas as suas respon sabilidades morais. a comunicago instantinea e os meios de transporte ripidos alteraram a situasa Do ponto de vista moral, a transformaggo do mundo numa 12 xcritos sabre Uma Vide Frcs ‘faldeia global» jntroduziu uma mudanga importante, mas ainda nao reconhecida, a Hossa sifkigao moral. Os observadores€ os supervisores especalizados, envia- {dos por organizagSes de combate a fome ou permanentemente estacionados em ‘reas ameagadas pela fome, podem canalizar a nossa ajuda para um refugiado no Bangladesh quase téoleficazmenté tomo nés poderfamos canalizé-la para alguém que viva no nosso quarteirio. Deste modo, parece nao existir qualquer justifica- io possivel para discriminar com critéris geogrfics. Pode haver uma necessidade maior de defender a segunda implicagio do meu princfpio: o facco de existirem miles de pessoas na mesma posigio do que eu relativamente aos refugiados do Bangladesh nfo toma a situacio significativa- _mente diferente de uma situagao em que eu sou. tinica pessoa que pode impedir a ocorténcia de algo muito mau, Uma vez mais, obviamente, admito que existe uma diferenga psicolbgica ene 6§ casos: sentimo-nos menos culpados por nada fazer se pudermos apontar outros, similarmentesituados, que também nada Fizeram. PPorém, isto nao pode afecar realmente as nossas obrigacBes morais. Deverei consi- “derar que estou menos obrigado a tiara crianga do lago se, ao olhar’a minha volta, vir outras pessoas que no estio mais longe do que eu, que também repararam na crianga, mas que nio esto a fazer nada? Basta colocar esta questio para ver aabsur- didade da perspectiva segundo a qual/o niimero de pessoas diminui a obrigacio.! Esta perspectiva constitui uma desculpa ideal para a inactividade;infelizmence, a maior parte dos grandes males —a pobreza, a superpopulacio ¢ a poluigio ~ con- siste em problemas nos quais toda a gente esté envalvida quase da mesma forma Pode-se rornar plausfvel a perspectiva de que o niimero de pessoas érelevante apresentando-a desta maneira: se toda a gente que esté em citcunstancias seme- Ihantes &s minhas doasse 5 libras ao Fundo de Apoio ao Bangladesh, isso seria suficiente para proporcionar comida, abrigo e cuidados médicos aos refugiados; iio ha qualquer raeio para eu dar mais do que os outros que estao nas mesmas circunstincias do que eu; logo, nfo tenho qualquer obrigacio de doar mais do que 5 libras. Cada uma das premissas deste argumento é verdadeira, ¢ 0 argumento parece s6lido. Pode convencer-nos, caso nfo reparemos, que se baseia numa ppremissa hiporéeica, apesar de a conclusio nio see avancada hipoteticamente ‘© argumento seria slido se a concluséo fosse a seguinte: se todos os que esto nas mesmas circunstincias do que eu doassem 5 libras, eu no teria qualquer obrigagio de doar mais do que 5 libras. No entanco, se a conclusio fosse formu- Jada desta forma, seria Sbvia a irrelevancia do argumento para uma situagio em ‘que nio é verdade que todas as outras pessoas doam 5 libras. Esta, obviamente, é a situacao real. Por isso, no haverd dinheiro suficiente para assegurar a comida, 10 abrigos'e os cuidados médicos necessirios. Logos do doar mais do que 5 libras cevitarei mais softimento do que a0 doar apenas 5 libras: Pode-se pensar que este argumento tem uma consequéncia absurda. Dado que, aparentemente, muito poucas pessoas esto inclinadas a doar quantias subs- 124 tanciais, segue-se« doar ano quante dovisiemos mais, pios e aos nossos da utilidade arg préprios ea0s nos ino Bangladesh. Se do que aquele que sactificio terd sido resultado nio seri do que deve fazer O paradoxo)s ~ fazer donativosj rneamente, € tamb vai contribuir con doar tanto como quanto di do que © necessiri de que as pessoas mas sublinhar qué doar & uma circur muitos outros esti ‘nas mesmas circun do principio que p acerea das circunst ‘outros nao estio, « ‘0 mesmocO result pode ser pior do g devia fazer, ainda « aquilo que julgs ra Seaté aqui om ral evitivel, nem ¢ rna mesma situagio esse-mial“Assim, vw Como disse, prect poder de impedi < que tenha imporea O resultado de ais estZo em apun tragada, ou pelo m: tanciais, segue-se que eu c todos os que esto em circunstincias similares devemos doar tanto quanto possivel, ou seja, pelo menos até a0 ponto a partir do qual, se dodssemos mais, comegariamos a infligir um sofrimento considerivel a nds pré- Ptios ¢ as nossos dependentes — ou talver, indo além deste ponto, até ao ponto a utlidade marginal, a partir do qual, se dodssemos mais, infligiriamos @ nds préprios eaos nossos dependentes tanto softimento como aquele que e no Bangladesh. Se toda a gente proceder assim, no entanto, haveri mais dinheito do que aquele que poderd ser utilizado para beneficio dos refugiados, e parte do sacrificio teré sido desnecessitio. Assim, se toda a gente fizer 0 que deve fazer, 0 resultado nao serd tao bom como no caso em que toda.a gente faz um pouco menos do que deve fazer — ou no caso em que s6 alguns fazem tudo 0 que devem fazer, O paradoxo surge aqui apenas se presumirmos que as acgdes em questo — fazer donativos para fundos de auxilio — séo realizadas mais ou menos simulta nneamente,¢ também imprevisiveis. final, se pudermos prever que toda a gente vai contribuir com alguma coisa, € ébvio que cada um nio teré a obrigagio de doar tanto como teria no caso de os outros nao-doarem nada. E, se as pessoas ‘fo agirem mais ou menos simultaneamente, aqueles que doarem mais tarde saberdo quanto dinheiro ainda preciso, ¢ nao terio a obtigagio de doar mais do que o necessétio para atingir essa quantia. Dizer isto nao é negar 0 principio de que as pessoas que esti em circunstancias iguaistém as mesmas obsigagBes, mas sublinhar que o facto de que os outros trem doado ou previsivelmenieirem doar é uma circunstincia relevante: aqueles que doam depois de se saber que muitos outros estio a doar e aqueles que doam antes de se saber isso nio estio nas mesmas circunstinciss. Deste modo, a consequeéncia aparentemente absurda do prinefpio que propus pode ocorter somente seas pessoas estiverem enganadas acerca das circunstancias reais ~ isto 6, se pensarem que estfo a doar quando os , mas na verdade estiverem a doar quando os outros esto a fazer ‘9 mesmoO resultado de toda a gemte fazer aquilo que realmente deve fazer no pode ser pior do que o resultado de toda a gente fazer menos do que aquilo que de aquilo que julga razoavelmente dever fazer Seaté aqui o meu argumento se mostrou sélido, entéo nem a distincia de um al, esto de mitigar ou impedie a fazer, nte fazer nda que isso possa acontecer com o resultado de toda a g al evitivel, nem o niimero de outras pessoas que, relativamente acs mesma situagio do que nés, atenuam a nossa obrigaga esse mal. ASim, vou assumir que o prinefpio atrés avangado esti estabelecido. Como disse, preciso apenas de afirmé-lo na sua forma qualificada: se temos 0 assim sacrificarmos nada mente devemos fxzé-lo poder de impedir que algo de muito mau acontesa sen que tenha imporcincia moral, entio mo O resultado deste argumento é 0 de que as nossas categorias moras tradicio. nas esto em apuros. A distingio tradicional entre devere catidade no pode se tragada, ou pelo menos no pode ser tagada no lugar ent que normalmente a tae scion sobre Una Vida Erica games. Na nossa sociedade, considera-se que fazer um donativo para o Fundo de Apoio a0 Bangladesh é realizar um acto de caridade. As organtzagoes que recebem o dinheito sto conhecidas por «charities», Estas organizagbes véem-se asi propria desta. maneira ~ se o leitorIhes enviar um cheque, receberé um agradecimento pela sua agenerosidaden. Como dar dinheiro ¢ visto como um acto de caridade, \ nao. se pensa que ha algo de errado em nao dar. O homem caridoso pode ser tuvado, mas 0 homem que nio é catidoso nio € condenado. As pessoas nao se * sentem de forma alguma envergonhadas ou culpadas por gastarem dinhciro em roupas novas ou num catro novo em vez de darem esse dinheiro para o combate Afome. (Na verdade, a alceroativa nem thes ocorte.) Esta maneira de olhar para a questiolnio pode se justificada. Quando compramos roupas novas para parecet- E39 PaFA nos mantermos quentes, nao estamos a satsfazer qualquer necessidade importante. Néo estarfamos a sacrificar nada de importante se continusissemos a Usat as nossas velhas roupas e fizéssemos um donativo para 0 combate fome. Ao proceder assim, estarlamos a evitar que outta pessoa passase fome. Segue-se daquilo que disse atris que Wevemos doar o-distheito em vez de lo em roupas que sio desnecessirias para nos manternios quences. Fazer isso nig ¢ realizar um acto catidoso ou generoso. Nem ¢ realizar 0 género de acto que 03 filésofos ¢ os teélogos designaram por «supererrogatério» ~ um acto que seria bom realizar, mas que nio temos a obrigagdo de realizar. Peo contriio, devemos doar 0 dinheito ¢ ¢ errado no o fazer. ‘Ni estou a defender que nio existem actos caridosos, nem que nao existem actos que seria bom realizar, mas que nio temos a obrigacio de realizar. Talvez seja possivel tragar a distingio entre dever ¢ caridade)noutro lugar. Aqui estou apenas a sustentar que a maneira actual'de teagar a distingao ¢ indefensival — a distingao actual implica que, se um homem que vive com o nivel de prosperidade de que a maior parte das pessoas desfruta nas «nagSes desenvolvidasy der dinheiro paraevitar que alguém passe fome, teri realizado um acto de caridade. Considerar se adistingZo deve ser tragada de outra maneira ou totalmente abolida é algo que ultrapassa 0 imbito do meu argumento, Existem muitas outras maneiras posstveis de tragara distingio ~ por exemplo, podemos decidir que é bom tornar as ourras pessoas tio felizes quanto possivel, mas que nio é errado nig o fazer. “Apesar de a fevisio do nosso esquema conceprual morabque estou a propor ter uma natureza limitada, essa revisio, dada a dimensio da riqueza e da fome hho mundo de hoje, tem implicagées radicais. Essas implicagées podem conduzir a outras objeccbes, dstintas daquelas que ja considerei. Vou discutir duas dela. ‘Uma objecgo & posigio que assumi pode ser simplesmente a de que esta cons- titui uma revisio demasiado dristica do nosso esquema moral. As pessoas geral- _mente nio avaliam as coisas como eu sugeri que deviam fazer. A maior parte das pessoas reserva a sua condenagio moral para aqueles que violam alguma norma moral, como a norma de nao privar uma pessoa daquilo que the pertence, e nao 126 condena aqueles ¢ A fome. Mas, dade da maneira como tivamente avaliar ‘Arminha conclust pio sejarejeitado a conclusio tem d ‘Ainda assim, 5 dade ea maior p que deviam fazé-l imperativos do de Fazermos, apesar proibir comporta sociedade.' Isto px ‘ite actos de des nnecessidades da so observem as gra uuma sociedade pa rmatar, roubar € as fora da nossa soci Ainda que iste 0, nfo jusific: poderia ter sido | moral, impedir € algo que tem di nnormas relaivas 3 Alguns autore mos de um (cédig homem comity cédigo moral. Ex pessoas que deven tudo aquilo de qu coisas, a0 passo 4 bom, mas no ob abster-se-o de as -o melhor resultac obrigaréria ea co “empitica, ainda ¢ ‘Sidgwick e Urms que os padres m Pete Sings condena aqueles que s ntregam a luxos em vez de contribuitem para o combate 8 fome. Mas, dado que nio pretendi apresentar uma descrigio moralmente neutra dda mancira como as pessoas fazein jukios mofais, © modo como as pessoas efec- tivamente avaliam as coisas nada tem a ver com a validade da minha conclusto. A minha conclusio segue-se do principio atrés avangado c, a nao ser que o pric pio seja rejetado ou que se mostre que os argumentos no sio sélidos, penso que a conclusio tem de se manter, por muito estranha que parega, Ainda assim, pode ser interessante considerat a razio pela qual a nossa socie dade © a maior parte das outras sociedades nao avaliam as coisas como sugeti «que deviam fazé-lo, Num artigo muito conhecido, J. ©. Urmson sugere que os iperativos do dever, que nos dizem o que devemos fazer (¢ nio 0 que setia bom Fazermos, apesar de“hio ser errado nio 0 fazermos), funcionam de maneira a proibir comportamentos que so intolerdvels caso os homens queitam viver em sociedad,’ Isto pode explicar 2 origem ea existénci ntinuada da actual divisio Gite actos de dever e actos de caridade, As atitudes morais sio moldadas pelas necessidades da sociedade, e nfo hé duivida qui sociedad precise de pessoas que dobservem as regras que tornam a existéncia social tolerivel. Do ponto de vista de uma sociedade particular, é essencial impedir violagies de normas que profbem ‘matar, roubar € assim por diante, mas nfo é essencial'ajudar a8 pessoas que esto fora da nossa sociedade. Ainda qu sto explique a nossa distincio comum entre dever ¢ supeterroga- ¢40, nio 3 justfca. O ponto de vista moral exige que olhemos além dos inceresses dla nossa prdpria sociedade. Como jd observei, noutros tempos isto dificilmente podetia cer sido praticivel, mas hoje é bastante praticével. Do ponto de vista moral, impedir que milhies de pessoas passem fome fora da nossa sociedade € algo que tem de ser considerado pelo menos tio imperioso como observar as normas relaivas @ propriedade dentro da nossa sociedade Alg mos de um|c8digo moral bésico que néo esteja muito além das capacidades do homem comin pois de outro modo havers um colapso g ns autores, entre os quais Sidgwick e Urmson, sustentaram que precisa- na observincia do cédigo moral. Em termos simples, o seu ar se dissermos is pessoas que deve tudo aquilo de que realmente no precisam, entéo clas n econtribuir para o combate a fome com » fario nenhuma destas coisas, a0 passo que se lhes dissermos que devem abster-se de assassinar e que & bom, mas nao obrigatério, contribuir para o combate & fome, clas pelo menos abster-se-do de assassinar. A questio que surge aqui é a seguinte: de modo a obter © melhor resultado possivel, onde devemos tragar a fronteira entre a conduca obrigatéria ea conduta boa, ago obrigardria’ Esta parece ser un ques empirica, ainda que muito dificil. Uma objeccio a linha de argumentagio de Sidgwick ¢ Urmson é a de que esta nio tem suficientemente em conta 0 efeito que 0s padroes morais podem ter nas decisoes que fazemos. Numa sociedade em 12 Evcitossbte Uma Vida Erica que um homem rico que doa 5% dos seus rendimentos para o combate a fome E considerado muito generoso, néo é surpreendente que a proposta de que todos devemos doar metade dos nossos rendimentos seja considerada absurcamente inrealista. Numa sociedade que defendesse que ninguém deve ter mais do que suficiente enquanto outros tiverem menos do que precisam, essa proposta poderia parecer tacanha. Julgo que aquilo que um homem pode fazer, bem como aquilo ‘que € provaivel que ele faca, & profundamente influenciado pelo que as pessoas & Sua volea estioa fazer esperam que ele faga. Seja como for, mesmo que a difusi0 da ideia de que devemos fxzer muito mais para combater a fome possa dar origem um colapso geral do comportamento moral, esta possibilidade parece remota, Se aquilo que esti em jogo é a fome a uma escala abrangente, vale a pena correr © isco. Por fim, importa sublinhar que estas consiceragdes sao relevances apenas para a questio de saber o que devemos exigir dos outros, ¢ nao para determinar 0 que nés proprios devemos fazer ‘A segunda objecso a0 meu ataque a distingio actual entre déver € caridadeé avangada de tempos a tempos conta o utiltarismo. De algumas formas da teoria usilitarsta, segue-se que, moralmente, todos devemos trabalhar a tempo intciro para fazer afelicidade prevalecer sobre a miséria. A posigao que assumi aqui no condutiria a esta conclusio em todas as circunstincias, jé que, se nao cxistissem ris ocorréneias que pudéssemos evitar sem sacrificarmos nada que tivesse uma importincia moral comparivel, o meu argumento nao teria qualquer aplicagio. Dadas as actuais condigdes em muitas partes do mundo, no entanto, segue-se do meu argumento que, moralmente, devemos rabalhar a tempo inteiro pars aliviar 1 tipo de grande softimenco que se verfica devido & fome ou a outras calamida- des. Obviamenté, € possvel aduzir circunstincias atenuantes — por exemplo, se nos exgotarmos com trabalho excessive, seremos menos eficientes do que seria- mos de outra forma, Ainda assim, quando todas as consideragoes deste género io levadas em conta, a conclusio permanece: devemos impedir tanto sofrimento quanto pudcrmos sc 20 faé-lo no sacrificarmos Rada que tenha uma importin- cia moral comparivel. Podemos ter relutincia em enfrentar esta conclusio. No entanto, nao Vejo por que F22%0 isso hi-de ser visto como uma critica & posigo que defendi, e nao como uma critica aos nossos padres de comportamento comuns. Dado que a maior parte das pessoas & movida até certo ponto pelo interesse pessoal, é improvivel que muitos de nds facam tudo aquilo que devem fazer. Porém, dificilmente seria honesto tomar isto como uma prova de que nao é verdade que tenhamos essas obrigagdes. Pode-se ainda pensar que as minhas conclus6es estio tio desfasadas daquilo {que todas as outras pessoas pensam, ¢ sempre pensaram, que tem de haver algo de errado no meu argumento. Para mostrar que as minhas conclusbes, apesar de seguramente serem contririas 20s padres morais ocidentais contemporaincos, no teriam parccido tio extraordindrias noutras Epocas e noutros higates, gostaria 128 de citar ua pass: extravagance: Ton Ora, de acord, + bens materiais isso, a divisio deve impedir « mesmo modo, direico natural, cencontra no D roupa que esce ea liberdade d Gostaria agon, que sio relevance questGes poem ex para evitar a fom para esse fim. Dir-se por ve governamental ¢ beneficéncia geri permite que 0 g0) as suas responsab Este argumen para fundos de © que 0 governo as: € infundado ¢ n3 de que, se ningut seus cidadios nae dos a prestar aux tuma probabilida a contribuir pars a fazer contribuig de sofrimento set sivel da Sua recu mostrar que a su: Obviamente, devem multiplica concordo que faz Ges piiblicase pr 2. No rsigao aento pelo iquilo algo sar de dle citar uma passagem de um autor que geralmente nao é considerado um radical Ora, de acordo com a ordem natural instituida pela divina providéncia, os bens materiais sio fornecidos para a satisfacao das necessidades humanas, Por isso, a divisio e apropriagio da propriedade, que resulta da lei humana, nao deve impedir a satisfasio da necessidade que o homem tem desses bens, Do mesmo modo, tudo aquilo que um homem possui em excesso pertence, por direiro nasural, ao pobre para seu sustento [sta afiema Ambrdsio,e também se ‘no Decretum Gi iardais pertence aos famintos; a iis O pio qu que escondeis, aos nus; €0 dinheito que enterras no solo é a redencio cde dos que no tém tm tostio, Gostaria agora de considerar viriag questOes, mais p que sio relevantes para a aplicagio da concluséo moral a que chegimos. Estas quests pdm em causa, néo a ideia de que devemos fazer tudo 0 que pudermos para evita a fome, mas a idcia de que doar grandes quantias é 0 melhor meio para esse fim tical’ do que filoséi Dia-se por vezes que o auxilio internacional deve ser uma responsabilidade di beneficéincia geridas privadamente. Fazer donativos a entidades privadas, diz-se, permite que o governo e as membros da sociedade que no contribuem se furtem &s suas responsabilidad. governamental e que, por isso, niio devemos fizer donativos a organizagies de Ese argumento parece presumir que, quanto mais pessoas fizerem donativos. para fundos de combate & fome de organizagées privadas, mais improvivel seri que 0 governo assuma inteira responsabilidad por esse auxilio. Bste pressuposto € infndado ¢ nao me parece minimamente plausivel. A perspectiva oposta ~ a de que, se ninguém fizer donativos voluncariamer o governo assumirg que os seus cidadios nao esto interessados no combate & fome e no desejam ser Korsa- dos a prestar auxitio ~ parece mais plausivel, Seja como for, a ndo ser que exista uma probabilidade definida de, a0 recusirmo-nos a fazer donativos, estarmos a contribuir para um apoio govern: nental macigo, as pessoas que se recusam a fizer contribuigies voluncéria estio a recusar-se a evitar uma certa quantidade cde softimento sem serem capazes de indicar qualquer consequéncia benéfica tan- givel da sua recusa, Assim, compete Aiqueles que se recusam a Fazer donativos riostfar que a sua recusa conduzira a acco do governo. Obviamente, no qucto contestar a idcia de que os governos das nagies ricas ddevem mulkiplicar 6 ausilio genuno cincondicional que prestain agora. Tarnbém fazer donativos privados nao é suficiente, ¢ que devemos participar activamente em campanhas por padroes completamente novos para as contribu Bes piblicasc privadas destinadas 20 combate fore. Na verdade, concorde qui simpatizaria 129 rts sobre Una Vi Fea ‘com alguém que pensasse que a participagio em campanhas é mais importance do ‘que doar a titulo pessoal, mas duvide que pregar o que ndo praticamos pudesse ser muito eficiente. Infelizmente, para muitas pessoas a ideia de o ausio ser «uma — responsibilidade do goveriid» constitui uma razo para nio fazer donativos que também parece nao implicar qualquer acs%0 politica ‘Outra razdo, mais forte, para néo contribuir para fandos de combate & forme éa de que, enquanto nao houver um controlo populacional eficaz, esse com- bate limitar-se-é a adiar a fome. Sc salvarmos hoje 0s refugiados do Bangladesh, outros, talvez os filhos destesrefugiados, enfrentario a fome daqui a alguns anos, Para apoiar esta idea, podemos apontar os factos, hoje do conhecimento geral, sobre a explosio demogrifica e a capacidade relativamente limitada para o cres- cimento populacional.. Esta questio, cal como a anterior, gera um argumento contra aliviar 0 softi- mento que existe agora,jdada uma erenca sobre aquilo que poder acontecer no futuro: difere da questao anterior em virtude de se poderem aduzir dados muito bons a favor desta erenga sobre © futuro, Nao vou examinar aqui esses dados. _Acito que a Terra nio pode suportar indefinidamente uma populagio que con- tinue crescct ao ritmo actual. Isto coloca seguramente um problema para quem pensa que é importante evitara fome. Uma vez:mais, no enanto, podemosaceitar © argumento sem infer a conclusto que nos rerra qualquer obrigigio de fazer alguma coist para evitar a fome. A conclusto que devemos extrair éa de'que 0 ‘melhor mio para evitar a fome, a longo prszo, é 0 controle populacional, Da osigio ji estabelecidla, seguir-se-i encio, quee deveriamos fazer do que pudés- semos para promover 0 controlo populacional (a nfo ser que sustentissemos que todas as formas de controlo populacional sio erradas em si mesmas ou teriam consequéncias significativamente mds). Dado que existe organizagdes que tri- balham especificamente para o controlo populacional, canalizariamos 0 nosso apoio para elas, € nfo para os métodos mais ortodoxos de evitar a fore. ‘Uma terccira questio colocada pela conclusio jé atingida diz respcito ao pro- bblema de saber exactamente que quantias todos devemos doar. Uma possbili- dade, que jd foi mencionada, é a de que dévemos fazer donativos até atingirmos © nivel da utilidade marginal ~ isto é, 0 nivel a partir do qual, se dodssemos mais, iligiriamos @ Gs proprios e aos nossos dependentes canto softimento como aquele que aliviarfamos com o nosso donativo. Isto implicaria, obviamente, ficarmos quase reduzidos is condigdes de vida materiais de um refugiado bengal Recorde-se que avancel uma versio forte e uma versio modetada do principio, da prevensio de mis ocorréncias. A versio forte, que nos exige que impegamos a ‘ocorténcia de coisas més a néo Ser que faz2-Lo implique sacrificar algo que tenha uma importincia moral comparivel, parece exigir que nos reduzamos ao nivel da utilidade marginal. Devo também dizer que a versio forte me parece a correcta Propus a versio mais moderada~ a de que devemos impedit mis ocorréncias 130 a no ser que, pe tante— apenas py cexige uma grand rado, pode nao se jiique poderemo: esse nivel é fizer isto €verdade, po moderada do prt © principio apen: o suficiente para dinheiro que as © combate 2 fom ranBes para isto se econdmico esti0 bbém pelos econo tem um efeito det vendo a questio uum limie para o ser verdade que, abrandarfamos & do que se déssem nhossas contribuig Menciono ist levarem conta na sideram geralmer internacional, est dade em que mui problema de sabe Diz-se por ve que of filésofos's interesse publico, de uma avaliacio suem qualquer aj piblico importa social como de ¢ preciso fazer um tomar posigbes © (Os factos sobre 2 contesta que pod Par Singer ano ser que, para fizé-lo, renhamos de sacrifiar algo de moralmente impor tante— apenas para mostrar que mesmo este princfpio seguramente irrecusivel cxige uma grande mudanga no nos modo de vida. Do principio mais mode- rado, pode nio se seguir que devamos redurir-nos o nivel da uilidade marginal, jf que poderemos sustentar que reduziemo-nos a nés préprios ed nossa familia a esse nivel ¢ fazer acontecer algo de significativamente mau. Nao vou discutir se isto é verdade, pois, como disse, no vejo qualquer boa razlo para accitar a versio moderada do principio em vez da versio forte. Contudo, mesmo que aceiternos © principio apen o suficiente ps dinheito que as © combate & fome, na sua forma moderada,cleve ser claro que terfamos de doar Sociedade de consumo, estando dependente do tam em trivialidades em vez de o canalizarem para brandasse ¢ talvez desaparecesse completamente, Ha varias raz6es para isto ser desejavel em si mesmo. O valor €a necessidade do crescimento econémico estio agora a ser questionados nao s6 pelos ambientalistas, mas tam. bém pelos economistas.’ Também nao ha duvida que a sociedade de consumo tem um eftito deformante nos objectives ¢ propésitas dos scus membros. Porém, vendo a questio apenas do ponto de vista da ajuda internacional, tem de ha tum limite para © abrandamento que devemos impor 3 nossa economia, pois pode ser verdade que, se dosssemos, por exemplo, 40 do produto nacional bruto, abrandariamos tanto a economia que, em termos absolutos, dariamos menos do que se déssemos % do PNB muito maior que teriamos se limitéssemos as fe a esta percentagem inferior, Menciono isto apenas para dar uma ideia do tipo de factores que temos de levar em conta na concep¢io de um ideal. Dado que as sociedades ocidentais con- sideram geralmente que 1% do PNB constitui um nivel aceitavel para o auxilio internacional, esta questio & completamente académica, Além disso, numa socic- dade em que muito pouces fazem donativos substanciais, a questo nao afecta o problema de saber quanto deve doar um individuo, Diz-se por vezes, ainda que com menos frequéncia do que nouttos tempos, ue 0s fildsofos nao ém qualquer papel especial a desempenhar nas questies de Interesse pablico, jf que a maior parte destas questées depend primariamente se, 0s fildsofos no pos losofia de uma avaliagio dos factos. Em questies de faeto, di suem qualquer aptido &pecal e, por esta raaéo, tem sido possivel fazer sem assumir compromissos com quaisquer posigdes sobre quest publico importantes. Nao hé diivida que existem que social como de politica internacional, das quais se pode realmente dizer que ¢ preciso f de inceresse s, tanto de politica uma avaliagio verdadeiramente especializada dos factos antes de da fome nfo ¢ seguramente uma delas, cis, Além disso, nio se tomar posigdes ou agir, mas a questa Os facto’ sobre a existéncia do softimento sio indisputa contesta que podemos fazer algo a este respeito, seja através dos métodes orto. 131 cto sobre Uma Vide Erica doxos de combate a fome, do controlo populacional ou de ambas as coisas. Esta & portanto, uma questio relativamente & qual os flésofos si0 competentes pata tomar uma posigfo. A questio coloca-se a todos os que tém mais dinheiro do que ‘o necessério para se sustentarem a si prdprios € aos seus dependenites oirque esto «cm posigao de ter alguma actividade politica. Estas categorias nfo podem deixar de incluir praticamente todos os professores e estudantes de flosofia das universi- dades do mundo ocidental. Se queremos que a flosofia s€ octipe de questécs que fo relevantes tanto para professores como para estudantes, esta é uma questi que os filésofos devem discutr. Porém, 2 discussio.nao ¢ suficiente. Qual seré o interesse de relacionar a filosofia com as questdes de interesse pablico (e privado) se nko levarmos a sécio as nossas conclusbes? Neste caso, levar a sério a nossa conclusio significa agit em conformidade com ela, © filésofo nao ter mais facilidade do que as outras pessoas em alterar as suas atitudes e o seu modo de vida no grat que, se tenho rario, seria necessirio para fazermos tudo aquilo que deveriamos estar a fazer. Mas, pelo menos, pode mudar nesse sentido, O filésofo que o fizer teri de sacri- ficar alguns dos beneficis da sociesade de consumo, mas poderi encontrar mia ‘compensagao na satisfacio proporcionada por um modo de vida no qual a teoria ¢4 pratica, se ndo estiverem ja em harmonia, pelo menos estario mais proximas tuma da outra ASOLUG No filme b hhuma estagzo analfabetas. D precisa de pers que the indica Ela entrega or a desfrutar da dizendo-the qi disto desde 0 i explicta, passa Suponha-se pessoas cambét luma passava p- ‘olhos do publi porque se disp: Apés © film “teriam conde ‘easas muito m média dos Esta 1e nio precis, férias em praia A SOLUGAO DE SINGER PARA A POBREZA NO MUNDO. De The New York Times Magazine No filme brasileiro Central do Brasil, Dora & uma professora reformada que, analfibetas, De repente surge-the a oportunidade de ganhar 1000 dlares. S6 0 de nove anos a segui-la até & morada precisa de persuadir um rapaz sem-aloig rem-lhe que ele serd adoprado por estrangeiros ricos.) aque Ihe indicaram. ( a encrega © rapaz, recebe o dinheito, gasta algum dele numa televisio © poe-se a desfrucar da sua nova aquisicéo, Contudo, o seu vizinho estraga-the o prazer, dizendo-lhe que o rapar é jd demasiado velho para ser adoprado ~ ee vai s morto ¢ os seus drgios vo set vendidos para transplante, Talvez Dora soubesse disto desde o inicio, mas, depois de o vizinho lhe ter falado de uma forma tio cexplicita, passa uma noite agitada, De manha Dora decide ir buscar 0 rapaz, Suponha-se que Dora dizia ao set vizinho que a vida & dura, que as outras pessoas também tém boas televisdes, ¢ que, se a tinica maneira de ela conseguir sma passava por vender o rapaz, bem, ele nao passava de um rapaz da rua. Aos olhos do piblico, Dora tornar-se-ia, entio, um monstro, Ela redime-se apenas porque se dispde a correr tiscos considerdveis para salvar o rapaz Apés o filme, nas salas de cinema das nagdes ricas do mundo, as pessoas’ que feria ‘condenadoi prontamente Dora se ela nao tivesse salvo o rapaz vio para casas muito mais confortiveis do que o seu apartamento. Na verdade, a familia media dos Estados Unidos gasta/quase um tergoido seu rendimento’em coisas de que nio'precisx mais do que Dora precisava da nova tclevisio. Ir comer a bons restaurantes, comprar roupas novas porque as velhas estio fora de moda, passar ferias em praias de sonho ~ muito do nosso dinheiro ¢ gasto em coisas que nao sertossobe Una Vida Brea so essenciais para a-preservacio da nossa vida e satide. Se fosse doado a certas) ‘organizagbes de beneficéncia, esse dinheiro poderia significar a diferenca entre a) vida ea morte para criangas carenciadas. “Tudo isto coloca uma questio:afinal, qual é a diferenca ética entre uma brax silcira que vende uma crianga da rua a traicantes de érgios ¢ um americano que jd tem televisio e compra uma melhor, sabendo que 0 dinheiro poderia ter sido doado a uma organizagio que o utlizaria para salvar as criangas necesitadas? Obviamente, existem varias diferengas imporcantes entre as duassieuagies, € «essas diferengas podem apoiar juizos diferentes acerca das mesmas. Para comesat centregar uma crianga 3 morte quando ela esté& nossa frente exige uma desuma- nidade arrepiante; € muito mais cil ignorarquem nos pede dinheiro para ajudar ‘ctiangas que'nunca-iremos conhecer. Porém, para um filésofo utilitarsta como cu — isto é para alguém que julga-a. moralidade dos actos pelas suas conseqiéni=) {eias~-, seo facto de um americano nao fazer o donativo resultar na morte de mais ‘uma crianga nas ruas de uma cidade brasileira, isso serd, de cerca forma, tio mau como vender a crianga a waficantes de 61 jos. Mas nio é preciso aceitar a minha éiica ucltarsta para ver que, pelo menos, existe uma ineongaéncia preocupante entre, por um lado, condenar Dora tio prontamente por ela conduzir a crianga a0s traficantes de drgios c, por outro lado, considerar que o(¢emportamento dos ‘eoiisuinidores americanos nao coloca uma séria questio moral No seu livro de 1996, Living High and Letting Die, Pecer Unger, um fldsofo ‘da Universidade de Nova Torque sprescnta uma série de exemplos imaginrios ‘engenhosos, concebidos para avaliar as nossas ineuigdes acerca da moralidade de viver bem sem doar quantias avultadas’para ajudar pessoas que passam fomey cstio desnutridas ou estio a morrer de doengas ficilimente tativeis, como a diar- reia. Fis a minha pardfrase de um dos seus exemplos: Bernardo esté quase a reformar-se. Invest a maior parte das suas poupangas hum automével antigo muito raro e valioso, um Bugatti, mas no conseguiu seguri-lo. O Bugatti é sua alegria eo su motivo de orgulho. Além de ter prazer a conduzr e cuidar do seu carro, Bernardo sabe que o seu crescente valor comer- cial significa que conseguird sempre vendé-lo e viver confortavelmente depois de se ter reformado, Um dia, durante um passeio de automével, Bernardo estaciona © Bugatti perto do fim de um desvio ferrovi © comega a passeat subindo pela linha, V@ imediatamente que um comboio, sem ninguém a conduzilo, es a descer pela linha, Ao olhar para baixo, vé a pequena silhueta de uma criansa que ‘muito provavelmente seré morta pelo comboio, Ele nao pode travar o comboio a crianga escé demasiado longe para ser alertada, nas pode mudat a agulha que conduzité o comboio ao desvio onde o seu Bugatti csté estacionado, Se 0 fizer ninguém ser morto, mas o comboio destruiri o seu Bugatti. Ao pensar no prazer de possuir carro e na seguranga financeira que este representa, Bernardo decide 134 rndo mudara da posse do se ‘A condut ‘mente errada. * oporeunidade como a Unia estas organiz ccuja vida esté ‘mais a pena s queas criangs simplifica as ¢ so que cles I custos de ang ajuda onde es ajudaria a erat anos saudével da infincia. B diz mesmo a0 seu cartio di para a Unicef, Agora am Bemardo em nos olhos da A ctianga era- cionar consigy nao iludiu 2 ¢ risco. Em tod ‘que esto em e difere da sit Se, ainda menteerrada Con a crianga, ent cerrado.ndo de eu tenha igno Seri que precisa fazer pode duvidar * 0 letor 5 Portugal: 21 31 Pee Sings mudar a agulha. A crianga é morta. Durance muitos anos, Bernardo desfruta la posse do seu Bugatti e da s nea financeira qui ‘A conduca de Bernardo, dirio prontamente muitos de nés, foi profunds- mente errada. Unger concorda. Mas depois recorda-nos que também n6s temos coportunidade de salvara vida acriancas» Pocemos fazer donacivos a organizacbes como a Unicef ou a Oxfam America. Quanto dinheiro ceriamos de dar @ uma destas nizagfes para exist uma forte probabilidade de salvarmos uma crianga cuja vida esté ameagada por doengas facilmente evitiveis? (Nao penso que valha mais a pena salvar criangas do que adultos, mas, como ninguém pode sustentar «queas criangas sio responsdveis pela sua propria pobreza, concentrarmo-nos nekas simplifica as questées.) Unger consultou alguns especialistase utiizou a informa: ‘io que eles Ihe deram p: a fazer algumas estimativas plaustveis, que incluem os ccustos de angariarfundos, as despesas administrativas e o custo de proporcionar ajuda onde esta é mais necesséria. Plas suas contas, um donativo de 200 délares ajudaria a transformar uma crianga de dois anos debilitada numa crianga de seis anos saulivel, proporcionando uma passagem segura pelos anos mais perigosos dla infincia, Para mostrar quo prtica pode sera‘argumentagio filoséfica, Unger diz, mesmo aos seus leitores que eles podem fazer facilmente um donativo, usando co scu cartao de crédito ligando para uma destas linhas gracuitas: (800) 367-5437 para a Unicef; (800) 693-2687 para a Oxfam America gora também 0 leitor tem a informagiio necessiria para salvar a vida'de uma ctianga.* Como deveré avaliar a sua conduta se nio o fizer? Pense novamente em Bernardo e no seu Bugatti. Ao contririo de Dora, Bernardo nio teve de olhar nos olhos da crianga que estava a sacrificar para proteger 0 seu conforto material A crianga era-lhe completamente estranha'e estava demasiado longe\para se rel- cionar consigo de uma forma intima e pessoal. Também a0 contririo de Dora, cle rio iludiu a erianga nem iniciou a eadeia de acontecimentos que a colocou em risco. Em todos estes aspectos, a situagio de Bernardo assemelha-se & das pessoas queestao em condigses de doar dinheiro &ajuda internacional, mas nio o fazem, difere da situagao de Dora. Se, ainda assis © Ieitor pensa que Bernardo agiu de uma forma profunda- ter mudado a agulha que teria desviado comboio, salvando ‘anga, entio ¢ dificil ver como podera negar que também é profundamente: cerrado nio doar dinheiro a uma das organizagoesacima indicadas a nao ser que cu tenha ignorado uma diferenga moralmente importante entre as duassituagbes. que as incertezas priticas sobre se alajuda chegarsitealmente a quem dela precisa fizem a diferenca? Ninguém que conheca o mundo da ajuda internacional pode duvidar da existéncia destasiincerteras, mas Unger chegou a estimativa de > 0 kei els ugués pode ligar para o Depareamenta da Recolha de Fundos da Dit 10. (N.des 7) 135 ek porranto, a cites sre Ua Vide Frca 200 clas para salvar uma criana depois de tr feito presuposios catclosos sew destino! Unaidiferenga.genuina entre Bernardo ¢ aquecles que podem fazer, mas nio | fizem, donativos a organizagées de ajuda inttnacional €a seguinte: Bernardo jue pode salvar a crianca que esté na linha, mas existem centenas de rilhdes de pessoas que podem doar 200 délares a organizagics de ajuda inter- nacional, © problema é que aimaiot parte delas nio\o esto fazeg Seri que isto significa que nfo é errado © leitor nio o fazer? 0a hBenames au sie mais propia decor de lei com um valor incalcubivel (Carla, David, Ema, Frederico e assim por diante, até Zulmira), todos na mesma situagio de Bernardo, com o seu préprio desvi ferrovidrio € 4 sua propria agulha — e que todos sacrficam a eriansa de modo a preservar 0 aucomével que tanto estimam. Seri que isto implicaria que Bernardo nao agitia mal se fizesse o mesmo? Responder afirmacivamente a esta questio € subsctever umasética de:tebanho — 0 tipo de ética que levou muitos alemaes a olhar para 0 lado quando as atrocidades nazis estavam a ser cometidas. O factode outros nto rece QUE Ti m fundamento sélido para tragar uma linha moral clara entre a situagao de Bernardo e a de qualquer leitor deste artigo que tenha 200 délares a mais e no os doe a uma agéncia de ajuda internacional. Estes lito- res parecem esta a agin pelo menos t20 mal como Bernardo agiu quando escdlhew deixar 0 comboio atropelar a crianga desprevenida. A luz desta conclusio, estou certo de que muitos leicores dirigir-se-do ao telefone e doario os 200 délares ‘Talver o leitor deva fazer isto antes de continuar a let Agora que o leitor jd se demarcou moralmente das pessoas que pdem o seu carro de colecgéo acima da vida de uma erianga, que tal um jantar a dois no seu igimansefivoiot Mas pte: o dinero que vai gusar no restaurant am- poderia ajudar a salvar a vida de eriangas de outros paises! E verdade que no estava a planear esbanjar 200 délares esta noice, mas, se deixar de jantar fora durante apenas um més, poupard facilmente essa quantia. E © que representa janear fora num certo més ao pé da vida de uma criang? Reside ag Dado que existem imensas criangas desesperadamente necessitadas no mundo, ~~ esi sempre outraeranca cua vida poders ser salva com 200 diane, Ter, earlingye oe podem facilmente tomnar-se burlescos. Consideremos Bernardo. Além de perder o Bugacti, até que pono deveria ele fazer sacificios? Imaginemos que Bernardo tem o pé preso na linha do desvio e que, se desviar 0 comboio, este amputar-Ihe-é 0 dedo grande do pé antes de esmagar o automdvel Deveri cle mudar a agulha? £ se 0 comboio the ampurasse pé?A sua perna inter? 136 pe a Mi ye K caer nao deixa de sus: tie coal tesolver questdes de doar de modo quase de certeza americanos da cls Nio seri cont o tixco devar m ceavendiday€ boay que vejamos, aca americanos ricos peita a louvar ou< desir um padra ticanos abastados ages de ajuda in abastados que eu) Ainda assim, cles Bernardo por cle1 Neste ponto ps todas os cidadios esse sactificio drat recursos para salve comida ou de cusic minha quora-part sgoverno deve aur cencargo ficaria dit id que, num fururo tanciaisa organiza no préximo ano, ¢ inuito modesta, re nacional 0,7% do ‘© que nem sequet Dinamarca. Deste redrica «quota-par Embora o¢enario do Bugatti se tome io absurdo quando élevado ao extremo, a importante: s6.quando 0s sacrificios se tomam realmente muito importantes € quea maior parte das pessoas esté disposta a dizet que Bernardo nada faz de errado. quando decide'no mudar a agulha. Obvie- mente, é possivel que a maior parte das pessoas esteja enganada; néo podemos s. Mas considete por si mesmo 0 nfo deixa de suscitar uma idei resolver questdes morais através de sond fhivel de sacrficio que « de doar de modo a fizer um sactficio aproximadamence igual, Essa quantia serd giria a Bernardo, ¢ pense depois na quantia que teria quase de certeza muito, muito superior a 200 délares. Para a maior parte dos americanos da classe média, estaré mais perto dos 200 000 délares Nao ser4 contraproducente pedir 3s pessoas quedéemitanita? Nao correremos elasa encolher os ombros ea dizer que lmoraidadey assim asi préprias? Aceito que ¢ improvavel ‘que vejamos, a curto ou mesmo a médio prazo, um mundo em que & normal os co tisco de levar muitas eentendidas¢ boa para os santos: mas nao p americanos ricos doarem a maior parte da sua riqueza a estranhos. No que pcita a louvar ou censuraras pessoas por aquilo que elas fazem, temos.a vendéncia de usar um padsao relativo a uma concepsio de comportamento normal, Os ame ricanos abastados que doam, por exemplo, 10% dos seus rendimentos a organi zagoes de ajuda internacional estio tio a frente dos seus compatriotas igualmente abastados que cu nome daria ao trabalho de 68 GEnsurar porinso fazerem fais, ‘Ainda assim, cles deviam fazer muito mais, eno estio em condigoes de exticar Bernardo por ele nao ter feito 0 sactificio muito maior de abdicar do seu Bugatti Neste ponto podem surgir vias objecgoes: Algumas pessoas poderiio dizer: «Se todos 0s cidadiios das nagdes ricas izessem a sua quota-parte, cu nao teri de fazer esse sacrificio dristico, pois, muito antes de se atingirem esses niveis, cxistiiam recursos para salvar a vida de todas as criangas que esto a morter devido & falta de comida ou de cuidados médicos. Assim, por que raaio hei-de fazer mais do que a minha quota-parte?» Uma segunda objecclo, relacionada com esta, éa de que 0 governo deve aumentar as suas verbas para a ajuda internacional, jé que assim 0 Ficaria distribu Contuclojo problemaidessber quanto devemos doar € uma questio que temide sertesolvidalnno mundo teal c este, infelizmente, é um mundo em que sabemos que, num futuro préximo, a maior parte das pessoas nao iri doar quantias subs tanciais a organiaagees de ajuda internacional. Também sabemos que, pelo menos 1no préximo ano, o Governo dos Estados Unidos nem sequer vai cumprie a meta muito modesta, recomendada pelas NagGes Unidas, de destinar 20 ausilio inter- nacional 0, ica-se pelos 0,09%, ‘© que nem sequer é metade dos 0,22% do Japio ou um décimo dos 0.97% da Jo de forma mais equitativa por todos os contribuintes do produto nacional bruto. Hoje esse aux Dinamarca. Deste modo, sabemos que o inheira que doemos em acréscimo a essa re6rica «qjuota-partewina salvar vidas que de outra forma se perderio: Ainda que a 137 sertos sabre Uma Vigo Price ideia de que ninguém precisa de fizer mais do que sua quota-parteseja poderose, deverd prevalecer se soubermos que os @utros nao estio a fazer a sua quota-parte» qui, se nio fizermos mais do que a nossa quota-parte, morrerio crianas por causa de doengas evtavcis? Isto seria levar demasiado longe aideia de quota-parte Assim, esta justficagio para limitar a quantia que devemos doar também fracassa. No'mundo acta: no vejoimancira de fugir 2iconclusto de que:caday uum de nés,se tiver mais do que aquilo de que precisa para essenciais, deve doa a riqueza excedentria de modo a ajudar as pessoas ‘numa pobreza tio extrema que coloca a sua vida em riscoEiss0 | ‘miestio: estou a dizer-he que no deve comprat 6 carro novo, fazer 0 cruzeiro, redecorar a casa ou comprar o dispendioso fato novo. Afinal, um faro de 1000 délares poderia salvar a vida de cinco criancas ‘Mas como se traduz'a'minha filosofia em délares'e ctntimos? Segundo o Conference Board, uma organizacio de investigacio econdmica sem fins lucrati- +05, uma familia americana com tum rendimento anual de 50 000 dares gasta certa de 30 000 délares em bens de primeira necessidade, Logo, numa familia que ganha 50 000 délares por ano, os donativos destinados a ajudar os pobres do mundo devem aproximar-seranto quanto possvel de 20 000 délares. Os 30 000 dlares cm bens de primeira necessidade também se aplicam a rendimentos supe- tiores. Assim, uma familia que ganke 100 000 délares pode passar um cheque de 70 000 délares por ano, Ursa vex mais, aféemula é simples: fodorodinheiro que» ‘oleitor gasta em luxos, endo em/bens de primeira necessdade, deve ser doado.’ ‘Ora, os psicdlogos cvolucionistas dizem-nos que a humana purse simplesmente no €alteufstaaoiponto dleserplaistvel que muitas pessoas venham a sacrificarsé tanto por estranhos. Podem ter razio acerca dos factos da natureca hhumana, mas cometeriam um etto se extraissem uma conclusio moral desses factos. Se & verdade que devemos fazer coisas que, previsivelmente, a maior parte de nds nio fard, enfrentemos este facto. Entio, se valorizamos maisa vida de wma? crianga'do que jantanjem restaurantes caros, quando formos jantar fora da pro= ‘ima vezsaberemos que poderiamos ter Feito algo melhor como nosso dinhir. ‘Seis faz com que ter uma vida moralmente decente se extremamente dificil, bbem; €/asim que 2 coisas so} Se ndo.o fizetmos, entiojpelo; menos deveremos » saber que no estamosater uma vida moralmente decente= nao porque sea bom nos na culpa, mas porque saber onde devemos ir. primeiro passo para + ‘caminharmos nessa direcga0. Quando Bernardo, junto ao desvio ferrovisio, se apereebeu do dilema que enfrentava, deve ter pensado que era extraordinariamente infortunado por estar ‘numa situagio em que cinha de escolher entre a vida de uma crianga inocente 0 sactificio da maior parte das suas poupangas. Mas ele no foi minimamente infortunado, Estamos todos nesta situasio, me ae Avida human AAs pessoas querem dizer « palavras parece marar um pot tum valor espet Ao discutir ssantidade> nu origem religios rica bastante tica secular. T tirar uma vida muitos defens apenas como w valor bastante A perspecti cenraizada na ne onde pode i Baby Andrew

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