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Tributos pouco transparentes

Nos Estados Unidos e na União Europeia, os tributos que incidem


sobre o consumo estão discriminados nas notas de venda, para que o
cliente saiba o que pagou à loja e o que pagou ao Fisco. Mas no
Brasil, que tem uma das maiores cargas tributárias do mundo, quem
compra não sabe quanto vai para o vendedor e quanto para o governo,
como mostrou pesquisa feita pelo Instituto Ipsos, encomendada pela
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Das mil pessoas ouvidas na pesquisa, 84% sabiam que pagam tributos
ao fazer a compra (mas não quanto), 12% acreditavam não pagar
tributos e 4% não sabiam responder ou não responderam.

Não está em discussão, é claro, a necessidade de pagar tributos. Não


há outra maneira de o Estado oferecer aos cidadãos serviços essenciais
como justiça, segurança pública, saúde, educação, transportes públicos
e previdência. Mas saber que a tributação sobre a cesta básica é da
ordem de 15%, que as contas de luz e de telefone não subsidiadas são
oneradas, respectivamente, com 39,25% e 28,66% de tributos
indiretos, o açúcar, com 16,23%, o sabão em pó, com 32,25%, e uma
máquina de lavar roupa, com 55%, deveria ser direito básico do
consumidor.

Num país onde a carga tributária é da ordem de 36% do Produto


Interno Bruto (PIB), conhecer a parcela do preço que o vendedor
aufere e a que segue para o caixa dos governos permitiria avaliar
melhor a relação custo-benefício dos serviços públicos. "O
contribuinte brasileiro não recebe a contrapartida em serviços públicos
de qualidade, em educação, saúde e segurança", afirma o especialista
em contas públicas Amir Khair, ex-secretário de Finanças da
Prefeitura de São Paulo na gestão Luiza Erundina.

No Brasil, o principal tributo indireto é o Imposto sobre Circulação de


Mercadorias e Serviços (ICMS), cujas alíquotas oscilam entre 17% e
30%, e que se destina a financiar os Estados e, subsidiariamente, os
municípios, que recebem a cota-parte do tributo. Mas há outros
tributos indiretos, aplicados pela União, como a Contribuição para a
Seguridade Social (Cofins), cuja alíquota nominal é de 7,6% sobre o
faturamento das empresas.

As alíquotas do ICMS são as mais altas e, ainda assim, os Estados


descobriram como aumentá-las. É o caso do ICMS que incide sobre o
consumo de energia elétrica: a alíquota nominal é de 25%, mas os
Estados aplicam uma alíquota real de 33,3% sobre as contas. Um
consumidor que gaste R$ 100,00 em eletricidade deveria pagar R$
25,00 a título de ICMS. Mas os Estados argumentam que como o
ICMS é cobrado "por dentro" e não "por fora", disso resulta uma
tributação maior. É uma forma de engodo, nota o matemático José
Dutra Vieira Sobrinho, explicando que dizer que o valor do imposto
integra a sua própria base de cálculo é o mesmo que dizer que a
alíquota do ICMS incide sobre o próprio ICMS - "um absurdo sem
paralelo no mundo civilizado".
Não havendo distinção entre preço e tributo, a carga tributária é pouco
visível para o consumidor. "Não podemos culpar o cidadão de
ignorância nem de falta de atenção", notou o diretor de pesquisas e
estudos econômicos da Fiesp, Paulo Francini. Um dos maiores
especialistas em tributação no País, o consultor Clóvis Panzarini
observa que "o controle dos gastos e desperdícios do governo, pela
sociedade, fica mais difícil quando os contribuintes não têm a
percepção de que são eles que pagam cada centavo das despesas
públicas".

Tanto a Receita Federal do Brasil como as Secretarias Estaduais da


Fazenda têm aperfeiçoado as estruturas de cobrança de tributos e
conseguido reduzir a evasão fiscal. Nada há de errado nisso e, em
alguns Estados e municípios, o aumento da arrecadação se traduz em
melhores serviços públicos. Mas para aqueles que administram mal o
dinheiro dos contribuintes, a explicitação da carga tributária pode ser
muito inconveniente num ano eleitoral.

Não há dificuldades técnicas para explicitar a tributação do consumo,


mas cabe ao Congresso transformar essa exigência da cidadania em
lei.

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