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Unidade 3
CONTEÚDO E UNIDADE DA BÍBLIA
A unidade da Bíblia se deve ao seu autor divino. Ela é sem par entre os escritos da
antiguidade e tem importância fundamental para a interpretação da Bíblia.
Mesmo tendo sido escrita muito tempo antes do nascimento de Jesus, o AT aponta para a
morte e a ressurreição de Jesus como Salvador do mundo.
Redigido décadas depois da ascensão de Jesus, o NT registra a consumação das previsões
messiânicas do AT.
É nesse sentido que se pode afirmar que a unidade da Bíblia tem como âncora o próprio
Jesus, profetizado no AT e manifestado em carne no NT.
O eixo que confere unidade a Bíblia é o elemento divino, o fato de que o mesmo Deus falou
tanto com Israel quanto com a Igreja.
Bastante típico é o fato de que aquilo que se tem apenas uma sombra no AT revela-se de
forma mais completa no NT.
CONCÍLIO DE TRENTO
Em reação a esses reformadores, a contra reforma católica romana convocou o concílio de
Trento (1546).
O concílio admite a unidade da Bíblia mas exige que toda interpretação bíblica seja feita
conforme os ensinos da igreja romana.
Com isso a relação entre os dois testamentos não mais puderam ser estudados e não se
permitiram outras análises da questão.
Na realidade, o concílio apenas manifestou a tensão que havia entre os grupos ortodoxos e os
progressistas.
Grupos ortodoxos: fiéis e exatos ao cumprimento de uma doutrina religiosa, conformidade
com essa doutrina.
Pensadores progressistas: pensadores bíblicos que eram favoráveis ao progresso dos estudos
da Bíblia.
A reforma trouxe novos desafios para a interpretação da relação entre o AT e NT.
Embora o conceito Calvinista (de Calvino) de unidade fosse amplamente aceito, um número
cada vez maior de teólogos começa a desafiar os meios tradicionais de interpretação da
Bíblia.
HUMANISMO
No século 17 alguns racionalistas tentavam chegar a uma visão mais humana da Bíblia.
Essa humanização trouxe como conseqüência a disposição de rejeitar trechos menos
aceitáveis do AT.
Friedrich Schleiermacher (estudioso alemão 1768-1834) afirmou que as passagens do AT não
tem a inspiração do NT, essa afirmação chegou perto daquilo que Marcion defendia.
A medida que chegava o século 20 a relação básica entre os testamentos foi generalizada a
ponto de afirmar-se a natureza progressiva da revelação.
O AT interessava ou era indispensável apenas no que toca ao NT, ou seja, só tem valor
quando revela Cristo.
Resumindo: no início do século 20 os estudiosos passaram a julgar o uso do AT conforme sua
relação com o NT. Há três aspectos importantes:
1- O AT é a base histórica do NT.
2- Compreender a linguagem e a teologia do AT é indispensável para interpretar o NT.
3- O AT dá testemunho fiel de Cristo, e tem valor para constituir a preparação para a
revelação perfeita em Cristo.
O AT RETRATANDO O NT
Embora concentrado no passado o AT não deixa de ter um elemento prospectivo ( que faz ver
adiante ).
No AT um dos aspectos importantes da fé era a expectativa em relação as ações de Deus no
futuro, Gn 12: 1-3.
A percepção do futuro é essencialmente otimista e prevê bênçãos materiais, políticas, e
espirituais. Pressupõe-se que Deus estava atuante na história de Israel e irá agir no futuro, á
semelhança do que fez no passado.
Sobre esta expectativa desenvolveu-se uma esperança profética de que Deus interviria no
futuro de forma inteiramente inédita. Essa expectativa é algumas vezes chamada de
“escatologia profética”. O termo escatologia refere-se a uma mudança radical que Deus irá
ocasionar no futuro.
Os profetas de Israel introduziram tanto um novo pessimismo: “Deus irá julgar radicalmente
uma nação” quanto um novo otimismo: “Deus intervirá com uma nova criação e uma nova
salvação”.
A escatologia profética apresenta 4 aspectos:
1- A ocasião da intervenção de Deus na história humana será o “Dia do Senhor” (Is 13:6),
o “Dia da vingança” (Is 34:8), ou simplesmente “Naquele dia” (Ez 29:21).
2- A pessoa que Deus enviará para satisfazer as necessidades políticas e espirituais da
nação será o Messias, visto como Filho de Davi e como o Servo do Senhor (Is 42; 49; 50
e 53).
3- O lugar em que se dará essa renovação será a terra de Israel (Is 62:4, Jr 30:3), mais
especificamente a cidade santa (Is 60).
4- E por fim o povo em questão será a nação de Israel, no passado exilada, mas agora
restaurada, os participantes de uma nova aliança firmada por Deus (Jr 23:3).
Compreendemos que no período do AT criou-se uma expectativa de que Deus interviria na
história de Israel para concretizar uma renovação completa e radical.
Nos livros dos profetas o julgamento e a salvação são retratados com muita clareza. A dura
realidade da vida fez com que muitos olhassem além da era atual para uma nova era que
será instituída por Deus.
O NT RETRATANDO O AT
Os autores do NT criam piamente que o Messias já viera, que o dia do Senhor já chegara e
que o povo de Deus estava prestes ser renovado.
Essa certeza encontramos em Lucas 24:44 “... importava que se cumprisse tudo o que de
mim está escrito na Lei de Moisés, nos profetas e nos salmos”.
Por essa declaração de Jesus os escritos do AT passaram a constituir o alicerce histórico e
teológico do NT.
Os apóstolos, todos eles judeus, sabiam que o AT por si próprio era incompleto, ele próprio
dirigi sua atenção para o futuro, quando seria complementado por um ato de Deus que
ultrapassaria seus limites.
Esse novo ato seria semelhante aos primeiros atos de Deus descritos no AT, mas ao mesmo
tempo radicalmente distinto. Todavia que o realizaria seria o mesmo Deus que atuou na
história de Israel , cujos feitos foram registrados nas escrituras da nação.
Por isso Jesus viu a sua vida e o seu ministério anunciados na previsão do AT e nos tipos mais
comuns de sua pessoa e sua obra.
No NT os apóstolos seguindo o exemplo do Senhor pressupunham o AT como a base da fé por
eles abraçada. Assim a igreja do primeiro século reconheceu como escrituras cristãs tanto o
AT como o NT.
Os primeiros cristãos não negavam diferenças entre os dois testamentos, em vez disso
afirmavam que em termos de revelação, os dois eram vinculados um ao outro. Pela história e
pela teologia. A atenção de ambos se concentra, ainda, no povo de Deus. Mas acima de tudo,
a alegação distintiva do NT que Jesus é o Messias fundamenta-se na Lei e nos profetas.
Resumindo: o AT e o NT são igualmente escrituras á medida que ambos apontam para Cristo,
o centro da fé cristã.
JESUS CRISTO E A BÍBLIA
Em todos os seus livros a Bíblia fala da pessoa de Jesus. Não há como lermos algum dos livros
sem que se perceba a mensagem cristã da salvação em Jesus Cristo. Do inicio ao fim a Bíblia
declara os propósitos divinos da salvação. O pecado da humanidade é o ponto de partida para
essa ação de Deus. Israel rebelde não conseguiria derrotar os propósitos de Deus, mas em
contrapartida conduziria esse povo a um nível de plenitude cada vez mais garantida.
Esse plano de salvação é concluído e cumprido na pessoa de Jesus Cristo.
Em Gn 2, Deus providencia roupas para Adão e Eva, entendemos que houve um sacrifício,
sangue seria derramado pelo pecado. Neste capitulo vemos o primeiro sacrifício com um tipo
de Jesus, o Salvador.
E é assim por toda a Bíblia, vemos tipos e sombras do Messias esperado no AT, bem como
figura do Mestre nos evangelhos e do Rei Jesus no livro de Apocalipse.
A Bíblia sem Jesus seria incompleta e perderia seu significado. Deus providenciou o relato
escrito para que todos pudessem ter acesso ao conhecimento Dele através da leitura.