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A CIÊNCIA E O MUNDO ATUAL

PONTOS PARA A REFLEXÃO

Abaixo, apresentamos textos, partes de textos, artigos de jornal, etc., com o


propósito de levar o aluno a uma reflexão. O objetivo deste módulo é colocar o
aluno diante de perspectivas e questões significativas para a atividade
científica hoje.

BRAGA, M. Breve história da ciência moderna, vol.1: convergência de


saberes / Marco Braga, Andréia Guerra, José Claudio Reis. RJ: Jorge Zahar,
2003.

Apresentação

(...) O primeiro contato que um jovem tem com a ciência – em alguns casos, o
único – ocorre invariavelmente por meio dos livros didáticos. Esses manuais
apresentam apenas uma dimensão do trabalho científico, seu aspecto técnico
de solução de problemas. Nada se discute sobre as grandes indagações
acerca do Universo ou os debates que possibilitaram a construção das teorias.
Ao término de alguns anos de estudo, o que resta é uma visão muito limitada
da ciência. Pretendíamos, portanto, resgatar uma dimensão esquecida, ao
desenvolver um trabalho que nos permitisse apresentar um novo olhar sobre a
ciência – em que ela pudesse ser percebida como parte de um processo maior
de reflexão do homem sobre o mundo e a natureza.
Nesse sentido, percebíamos que seria necessário avançar para além das
fronteiras do conhecimento que comumente se chama científico. Os homens de
ciência, ao construírem teoria e modelos explicativos para os fenômenos da
natureza, dialogam com outros homens que exercem atividades aparentemente
distantes da científica, como teólogos, artistas plásticos, músicos ou poetas.
(...)

O cientista é responsável pelas conseqüências do seu conhecimento?

Fábio de Castro - Agência FAPESP - 12/12/2007


http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=Responsabil
idade-social-dos-cientistas

Ao gerar avanços tecnológicos, o desenvolvimento científico tem contribuído


para o bem-estar da humanidade ao longo da história. Mas, ao mesmo tempo,
possibilitou desastres humanitários e ambientais de proporções incalculáveis.
Até que ponto o cientista é responsável pelas conseqüências positivas ou
negativas de seu conhecimento?

Responsabilidade social dos cientistas


Esse foi o mote do seminário "A responsabilidade social dos cientistas",
realizado nesta segunda-feira pela Cátedra Unesco de Educação para a Paz,
Direitos Humanos, Democracia e Tolerância, na sede do Instituto de Estudos
Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP).
"O conhecimento não é neutro. Ele é construído no interior de um universo
ético e cultural que precisa ser debatido de um ponto de vista crítico. Por isso
resolvemos lançar essa discussão", disse o sociólogo Sérgio Adorno,
coordenador da Cátedra, à Agência FAPESP.

Impactos dos avanços científicos


Segundo Adorno, o seminário, que contou com a participação apenas de
pesquisadores da área de física, é o primeiro de uma série que debaterá
tópicos como a aplicação da ciência para fins militares, o impacto do avanço
tecnocientífico no meio ambiente, a distribuição dos benefícios resultantes do
progresso da ciência e a difusão científica como problema da educação para a
paz.
"Hoje, a discussão sobre a responsabilidade social do cientista gira em torno de
questões bioéticas em áreas como organismos transgênicos, bioterrorismo e
uso de células-tronco embrionárias para fins terapêuticos. Mas optamos por
começar os debates com os físicos, que, com o desenvolvimento das armas
nucleares em meados do século 20, acumulam longa experiência com os
dilemas do conhecimento", explicou.

Dilemas insolúveis
Para o professor do Instituto de Eletrotécnica e Engenharia da USP José
Goldemberg, tais dilemas são praticamente insolúveis, uma vez que o cientista
não tem controle das repercussões sociais de seu trabalho. O físico conta ter
sentido isso na pele quando trabalhou em Stanford, nos Estados Unidos, em
1962, em plena Guerra Fria.
"Trabalhava com aceleradores lineares, usando radiação eletromagnética para
investigar o núcleo dos átomos. Tinha o foco no meu trabalho, mas também
tinha consciência de que ele poderia ser usado mais tarde para a fabricação de
uma bomba portátil, o que felizmente acabou não acontecendo", disse.

Regulação do uso do conhecimento


Para Goldemberg, no entanto, cabe à sociedade, e não ao cientista, regular o
uso do conhecimento. "A sociedade é que tem que resolver. Seria muita
pretensão do cientista querer ter domínio sobre todos os desdobramentos da
ciência."
Por outro lado, segundo Goldemberg, muitas vezes o cientista, absorvido pelo
conteúdo de seu trabalho, perde de vista eventuais conseqüências. E quando
as percebe, pode ser tarde demais, como ocorreu em uma das páginas mais
sombrias da história: o lançamento de bombas atômicas sobre Hiroshima e
Nagasaki, no Japão, em 1945.

Cientistas e Políticos
De acordo com Goldemberg, o mentor da bomba atômica, Robert
Oppenheimer, chegou a procurar o presidente norte-americano Harry Truman
para solicitar que a bomba atômica fosse usada apenas em demonstrações
sobre o Pacífico, mas não sobre populações.
"Consta que, assim que Oppenheimer virou as costas, Truman ordenou: 'nunca
mais me tragam esse tolo aqui'. Hoje vemos que Oppenheimer foi incrivelmente
ingênuo. Mas é o que faria qualquer cientista que eu conheço", disse.
A física Amélia Hamburger, professora do Instituto de Física da USP, também
citou um caso histórico: em 1944 o físico Niels Bohr conseguiu uma entrevista
com Winston Churchill e sugeriu que, para impedir uma corrida armamentista
no pós-guerra, as pesquisas sobre energia atômica fossem internacionalizadas.
Os estudos seriam feitos em consórcio com a União Soviética.
"O único resultado da petição foi que Churchill ordenou imediatamente que
Bohr fosse vigiado de perto pelo serviço secreto", disse Amélia. "Mas, como
Bohr, vários cientistas se manifestaram espontaneamente contra o uso bélico
dos avanços científicos."

Engajamento dos cientistas


Segundo Amélia, o engajamento do cientista não é suficiente. Os produtos da
ciência podem tomar rumos indesejados ao sabor dos interesses políticos.
"Minha proposta é que essas questões devem ser discutidas profundamente no
interior dos partidos políticos, já que são eles os representantes legítimos da
sociedade", disse.
Para a professora, a responsabilidade social do cientista não se distingue da
responsabilidade social de qualquer cidadão. "O cientista é um cidadão que
tem um conhecimento diferenciado sobre um assunto. Nada mais",
argumentou.

Fragmentação do saber
A física e conselheira da Cátedra Unesco Dina Lida Kinoshita ressaltou que a
fragmentação da ciência limita as chances de o cientista prever as aplicações
de seu trabalho. "A fragmentação é muito grave. Um pesquisador pode estudar
os estados eletrônicos de uma molécula hipotética de urânio sem se dar conta
de que esse conhecimento pode fazer parte do desenvolvimento de
armamentos", disse.
Para ela, mesmo com o fim da guerra fria, o cientista da área nuclear vive
próximo dos dilemas éticos. "O problema é que os programas nucleares nunca
vêm desacompanhados de projetos militares. E, mesmo hoje, diversos países
continuam construindo artefatos bélicos desse tipo", afirmou.

Sociedade de risco
Fernando de Souza Barros, professor aposentado do Instituto de Física da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concordou que a questão
nuclear ainda gera dilemas éticos.
"Vivemos em uma sociedade de risco com base na economia. Vários países
possuem bombas atômicas, que poderão ter um papel importante na luta pelas
reservas do planeta, cada vez mais escassas", afirmou.
Para Barros, no entanto, a responsabilidade social da ciência não é mais um
assunto interno dos cientistas. "Atualmente, milhões de técnicos no mundo todo
conhecem o método científico e o usam a serviço de estados e grandes
corporações. O cientista formula as questões, mas o pesquisador pode estar
em qualquer setor da sociedade. A responsabilidade está diluída na sociedade.
Ela extravasou o âmbito da ciência no sentido estrito", afirmou.
A ordem política da Guerra Fria, que permitiu montar um tratado de não-
proliferação, está completamente falida, segundo Barros. Com isso, a pesquisa
nuclear deverá fazer parte de uma nova ordem.
"Devíamos dar mais atenção à proposta do diretor-geral da Agência
Internacional de Energia Atômica, Mohamed ElBaradei, que defende que
países como Brasil e Argentina façam pesquisa nuclear em consórcio",
destacou.

O Progresso e o Progresso da Ciência


Simon Schwartzman
Publicado em O Estado de São Paulo, 13 de julho de 1979, página 2.

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que inicia esta semana


sua reunião anual em Fortaleza, desempenha duas funções importantes e
simultâneas. A primeira, mais clássica e menos espetacular, é a de servir de
ponto de encontro e unidade dos cientistas do País, tratando tanto de temas
estritamente acadêmicos como dos problemas mais gerais que afetam a
atividade científica. Além do "progresso da ciência", no entanto, a SBPC se
preocupa, e cada vez mais, com o "progresso" em geral - ou seja, com as
grandes questões sociais, econômicas, políticas e tecnológicas que afetam o
País como um todo. É esta função que ganhará certamente maior destaque na
imprensa. Mas isto não significa que a primeira não seja também muito
importante. Na realidade, existe uma espécie de pressuposto implícito na
SBPC que as duas coisas, o progresso e o progresso da ciência, vem
necessariamente juntos.

Este suposto exige, no entanto, um exame mais profundo. Ao contrário do que


se pensava antigamente, hoje é bastante claro que a relação entre a vida
científica e o bem-estar social não é automática, mas problemática, e depende
de uma política científica bem orientada. A adoção de políticas científicas, por
sua vez, representa sempre uma ameaça à independência e à autonomia da
atividade científica e de sua comunidade, autonomia que é geralmente
considerada condição essencial para o próprio progresso da ciência.
Para entender melhor o relacionamento entre estes dois tipos de ciência, nada
melhor do que alguns exemplos da história. A primeira sociedade para o
progresso da ciência foi criada na Alemanha, como uma associação de
cientistas de língua germânica. Estabelecida em 1822 por iniciativa de Lorenz
Oken, a Deutscher Naturforscher Versammlung identificava o progresso da
ciência alemã com o progresso da própria nacionalidade germânica, e ela de
fato antecede por várias décadas a unificação dos diversos Estados que
formaram a Alemanha moderna. No princípio, as duas causas pareciam unidas,
mas o predomínio da aristocracia prussiana sobre o novo Estado alemão
dividiu profundamente a comunidade científica, em um debate onde o tema era
o darwinismo, para os liberais "uma lei natural à qual nenhum poder humano,
nem as armas dos tiranos nem a maldição dos podres, pode suprimir".

Para os nacionalistas, no entanto, o darwinismo era uma doutrina socializante,


e perdeu terreno nos meios acadêmicos alemães na medida em que o
nacionalismo germânico avançava. O progresso da ciência alemã tenderia, dai
por diante, a se vincular cada vez mais ao nacionalismo, levando aqueles que
não souberam ou puderam separar a tempo as duas coisas a um envolvimento
trágico e irreparável com o nazismo triunfante.

Do outro lado do conflito europeu, um processo semelhante de vinculação da


atividade científica à causa nacional se processava. Na França, nos anos do
Front Popular, Jean Perrin liderou a criação do Centre Nationale de la
Recherche Scientifique, que deveria armar seus pais para a luta contra o
fascismo; na Inglaterra, trabalho semelhante de uso da ciência no esforço de
guerra foi liderado por J. Bernal. O mais importante neste período, no entanto,
foi a mobilização feita pelos cientistas atômicos e físicos proeminentes - Niels
Bohr, Albert Einstein, Arthur Compton, Fermi - para convencer o governo norte-
americano a empreender a construção da bomba atômica. Na luta contra o
nazi-fascismo, não havia dúvida de que o progresso e o progresso da ciência
marchavam juntos.

Os cientistas não opinaram, no entanto, quando as bombas foram lançadas


sobre o Japão, e deste então a questão do uso social do conhecimento
científico passou a ser cada vez mais importante para os próprios cientistas.
Nos Estados Unidos, esta preocupação levou à tentativa de colocar, no após-
guerra, a energia atômica sob o controle de uma agencia civil, e fora da área
de segurança e controle militar, mas com pouco sucesso. Evidenciado o seu
poder de uso para o mal, a ciência moderna passou a ser, para muitos,
sinônimo de autocracia, militarismo e destruição. Nesta visão extremada, o
progresso e o progresso da ciência pareciam ser coisas antagônicas.

Talvez porque tenhamos pouca ciência, nossa experiência deste tipo de


dilemas é mais limitada. No Brasil, o próprio subdesenvolvimento faz com que
a idéia de que a ciência e a tecnologia modernas possam ser prejudiciais
pareça absurda. No entanto, já estamos sentindo as conseqüências de que a
adoção indiscriminada de técnicas produtivas altamente tecnificadas e de
meios de comunicação avançados tem trazido para o País: a destruição de
sistemas produtivos intensivos de mão-de-obra, a concentração progressiva de
recursos humanos e financeiros nos grandes centros, a homogeneização e
padronização da cultura, a dependência cada vez maior de tecnologias cujo
ciclo completo não entendemos nem dominamos. No futuro, o quadro parece
ainda mais ameaçador.

A difusão da tecnologia de micro-processamento parece anunciar uma


revolução industrial ainda mais profunda do que a invenção da linha de
montagem, com conseqüências incalculáveis sobre o emprego e as
possibilidades de controle da tecnologia; e a energia atômica, além de
eventuais problemas de segurança, implica necessariamente a criação de
grandes complexos tecnológicos, industriais e militares, cujas consequências
políticas precisam ser ainda avaliadas.

O que estes e outros exemplos possíveis indicam é que a noção de que o


progresso da ciência, o progresso da tecnologia, o progresso da nação e o
progresso das pessoas marcham sempre unidos é um equivoco que precisa
ser desfeito. A maior função que o progresso da ciência pode desempenhar em
um país como o Brasil é não se atrelar com facilidade a projetos tecnológicos
ou de política nacional, e manter a comunidade científica como uma fonte
continua de entendimento, critica, avaliação e acompanhamento do uso da
tecnologia no País. Para isto é necessário manter a atividade científica com
fortes raízes no sistema universitário e educacional, muito mais do que no
sistema produtivo ou em projetos tecnológicos governamentais.

Cientistas são, em geral, pessoas preocupadas e comprometidas com os


grandes problemas sociais, e sofrem continuamente a tentação de deixar a
relativa esterilidade e isolamento da vida acadêmica e colocar sua inteligência
e seu conhecimento a serviço da sociedade. Esta é uma opção que cabe a
cada um. No entanto, a Historia nos mostra que seria um grave erro
comprometer a atividade científica como um todo com determinados projetos,
por mais grandiosos e bem intencionados que sejam, perdendo assim sua
independência e distanciamento.

Já se observou que no Brasil existe muito mais "ciência pura" do que "ciência
aplicada", ao contrário dos países tecnologicamente mais maduros. Se isto
significa que nossos cientistas são "alienados," significa também que são,
potencialmente, mais livres, por não estarem desde o início atrelados a um
processo tecnológico que não controlam. Talvez, fazendo força da fraqueza,
seja esta uma oportunidade para impedir que colidam, no futuro próximo, o
progresso e o progresso da ciência. A condição essencial para isto é o
fortalecimento da comunidade científica, cujo principal instrumento tem sido, e
deverá continuar a ser, a SBPC.

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