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P rojeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos estar
preparados para dar a razáo da nossa
esperanga a todo aquele que no-la pedir
(1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos conta


da nossa esperanga e da nossa fé hoje é
mais premente do que outrora, visto que
somos bombardeados por numerosas
correntes filosóficas e religiosas contrarias á
— .-_.- fé católica. Somos assim incitados a procurar
consolidar nossa crenga católica mediante
um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


- Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questoes da atualidade
'] controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
: dissipem e a vivencia católica se fortalega no
— Brasil e no mundo. Queira Deus abencoar
.. ■- _ --._,- este traba|no ass¡m gQmQ a eqU¡pe ^e

Veritatis Splendor que se encarrega do


respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.


Pe. Estevao Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Estevao Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada
em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral
assim demonstrados.
Ano xli Julho 2000 458
"Sede Santos..." (Lv 11, 45)

Joáo Paulo II aos Andaos

A Acáo Caritativa do Papa em 1999

"Procuráis o Jesús Histórico?" por Rochus


Zuurmond

"Vida, Paixáo e Glorificagáo do Cordeiro de Deus"


(A. C. Emmerich)

Meditagáo Transcendental: Que é?

"Labirintos do Corpo e da Alma" por Eduardo


Aquino

Curso em Milagres

Dinastía: Que é? Lícita a um cristáo?


PERGUNTE E RESPONDEREMOS JULHO2000
Publica9áo Mensal N°458

Diretor Responsável SUMARIO


Estéváo Bettencourt OSB "Sede Santos..." (Lv 11,45) '. 289
Autor e Redator de toda a materia
Carta de
publicada neste periódico
Joáo Paulo II aos Andaos 290
Diretor-Administrador: "Amai-vos uns aos outros..."
D. Hildebrando P. Martins OSB A A9áo Caritativa do Papa em 1999 297

Administracáo e Distribuicáo: Crítica extremada:


"Procuráis o Jesús Histórico?" por
Edicóes "Lumen Christi"
Rochus Zuurmond 305
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5o andar-sala 501
Tel.: (021) 291-7122 Visóes e Revelacóes:
Fax (021) 263-5679 "Vida, Paixáo e Glorificacáo do Cordeiro
de Deus" (A. C. Emmerich) 313
Endereco para Correspondencia: Sim ou Nao?
Ed. "Lumen Christi" Meditacáo Transcendental? Que é? 322
Caixa Postal 2666
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"Labirintos do Corpo e da Alma" por
Visite o MOSTEIRO DE SAO BENTO Eduardo Aquino 326

e "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" Nova corrente Filosófico-religiosa:


na INTERNET: http://www.osb.org.br Curso em Milagres 329
e-mail: lumen.christi@osb.org.br Novidade:
Dinastía: Que é? Lícita a um cristáo? .. 339

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

NO PRÓXIMO NÚMERO:

Perdáo e pedido de perdáo. - A Igreja em estatística. - Sacerdotes e Bispos ordenados


clandestinamente na Tchecoslováquia. - O Papa Alexandre VI (1492-1503). -A origem
da Igreja e do Papado. - "A falta que o sexo faz" (O Globo). - Yoga: que é? - Firma
Procter e Gamble desmente.

(PARA RENOVACÁO OU NOVA ASSINATURA: R$ 35,00).


(NÚMERO AVULSO R$ 3,50).

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Obs.: Correspondencia para: Edicóes "Lumen Christi"


Caixa Postal 2666
. 20001-970 Rio de Janeiro - RJ t
"SEDE SANTOS..."
(Lv11,45)

O Antigo Testamento, já em suas primeiras páginas, recomenda ao povo


de Deus que seja santo, "pois Deus é santo" (Lv 11,45). Esta norma parece, á
primeira vista, utópica ou desmedida, pois santidade é, como se pensa, coisa
rara, reservada a privilegiados. Enganar-se-ia quem assim pensasse, pois o
Senhor Jesús, no Evangelho, repete a mesma norma: "Sede perfeitos como
vosso Pai celeste é perfeito" (Mt 5, 48). Mais aínda: a Tradicáo crista reiterou
fielmente este convite do Divino Mestre, de modo que o Concilio do Vaticano II
(1962-65) o reafirmou solenemente no cap. V da Constituicáo Lumen Gentium:
todo cristáo, desde o momento do seu Batismo e regularmente alimentado
pela S. Eucaristía, é chamado á santidade.
A boa lógica nos leva a dizer que Deus, sumamente sabio, nao pode ter
chamado suas criaturas para algo de impossível. Muito ao contrario, é de crer
que, por efeito desse chamado, Ele dá a cada um as gracas necessárias para
chegar á perfeicáo; Ele atende a cada qual em suas dificuldades e circunstan
cias próprias, de modo que solteiros e casados, sadios e ricos, jovens e andaos
possam atingirá meta almejada. Considerando um aspecto particular da voca-
cáo á santidade, afirma Sao Paulo que "Deus é fiel. Nao permitirá que sejais
tentados ácima das vossas forcas. Mas, com a tentacáo, Ele vos dará os meios
de sair déla e a forca para a suportar" (1 Cor 10,13). Nao resta dúvida, portanto,
de que todo e qualquer cristáo nao somente pode, mas também deve, aspirar
á santidade,... nao a urna santidade espalhafatosa e teatral, mas á verdadeira
santidade, que é sempre humilde e discreta. - Em suma: nao há vocacáo para
a mediocridade ou para o meio-termo. Nao há como distinguir entre "salvar a
alma" e "ser santo"; urna coisa implica a outra.
Perguntará alguém: e em que consiste a santidade? - Muitas respostas
se podem propor para tal pergunta. Resumamo-las numa só palavra: ser santo
é ser generoso, ter um coracáo dilatado, magnánimo; é dar com alegría, pois
"Deus ama a quem dá com alegría" (2Cor 9,7). Magnanimidade e generosída-
de, ao responder a Deus, eis o que faz os Santos.
Se o mundo precisa de economistas, sociólogos, educadores, psicólo
gos..., mais ainda necessita de Santos. Pois o Santo nao se aperfeícoa numa
dimensáo apenas de sua personalidade, mas se aperfeicoa como ser humano
em todas as dimensóes que integram urna personalidade realizada. Pode ha-
ver excelentes profissionais nos diversos ramos do saber e do agir, deficientes,
porém, como seres humanos (pois dados a vicios e paixóes desregradas). Ao
invés, o Santo ou a Santa se purifica de tudo o que possa poluir o ser humano
como tal, permitindo assim que mais resplandeca em seu pobre eu a imagem
e semelhanca de Deus.

Existem Santos? Sim,... discretos e modestos, como deve ser a santida


de. Tu, leitor(a) amigo(a), recebeste o chamado a ser um deles ou urna délas,
que dissemine alegría e ánimo neste mundo tao carente de gente heroica!
E.B.

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XLI - N9 458 - Julho de 2000

Carta de

JOAO PAULO II AOS ANCIAOS

Em síntese: O Papa Joáo Pauto II escreveu urna Carta aos Ido-


sos, em que expóe consideragóes sobre a idade anda. Esta, apesar de
estar sujeita a males devidos ao peso dos anos, é cheia de esperanga,
pois a fé proclama que, para quem vive na fidelidade a Deus, existe urna
vida postuma, resposta cabal as aspiragoes de todo ser humano. O Papa
exalta a fungió que aos andaos pode tocar na sociedade moderna, pois
sao portadores de experiencia benéfica para as novas geragóes. Concluí
com urna bela oragáo ao Senhor Jesús.

Tendo escrito as mulheres, as familias, as enancas, aos artistas...,


o Papa Joáo Paulo II quis dirigir-se também aos anciáos, tendo ele mes-
mo chegado á ancianidade. A Carta, datada de 1o de outubro de 1999, é
belo documento, que vai sintéticamente apresentado ñas páginas subse-
qüentes.

Prólogo

"A meus irmáos e irmás idosos!

1. Sendo eu idoso, sentí o desejo de estabelecer um diálogo


convosco. Faco-o, antes de mais nada, dando gracas a Deus pelos abun
dantes dons e oportunidades que Ele me concedeu até hoje. Percorro
novamente com a memoria as etapas de minha existencia, que se entre-
lacanrrcom a historia de grande parte deste século, e vejo aparecer a
figura de numerosas pessoas, algumas délas particularmente queridas...
Ácima de tudo, no entanto, vejo estender-se a mió providente e miseri
cordiosa de Deus Pai... A Ele digo com o Salmista: 'Desde a minha ju-
ventude, Vos me instruístes, Senhor; até o presente anuncio vossas
maravilhas. Agora na velhice e na decrepitude, nao me abandonéis, ó

290
JOÁO PAULO II AOS ANCIÁOS

Deus, para que narre ás geracóes a torga de vosso braco, vosso poder a
todos os que háo de vir' (SI 71 [70] 17-18).
2. Caríssimos irmáos e irmás, em nossa idade, é espontáneo voltar
ao passado para tentar uma especie de balango. Esta visáo retrospectiva
permite uma avaliacáo mais serena e objetiva de pessoas e situacóes
encontradas ao longo do caminho. O passar do tempo suaviza os contor
nos dos acontecimentos, amenizando os contratempos dolorosos. Infe
lizmente cruzes e tribulacoes estáo amplamente presentes na vida de
cada um. Ás vezes trata-se de problemas e sofrimentos, que p5em a
dura prova a resistencia psicofísica e podem fazer estremecer até mes-
mo a fé. Mas a experiencia ensina que até as próprias penas cotidianas,
com a graca do Senhor, contribuem freqüentemente para o amadureci-
mento das pessoas, abrandando-lhes o caráter.

Para além dos acontecimentos pessoais, a reflexáo que mais se


impóe é a que se refere ao tempo que passa inexoravelmente. 'O tempo
foge irremediavelmente', já sentenciava um antigo poeta latino1. O ho-
mem está imerso no tempo: nele nasce, vive e morre. Com o nascimento
fixa-se uma data, a primeira de sua vida, e com a morte a outra, a última:
o alfa e o ómega, o inicio e o fim de sua passagem pela térra, como a
tradicáo crista sublinha, esculpindo estas letras do alfabeto grego sobre
as lapides dos túmulos.

Mas, se a existencia de cada um de nos é táo limitada e frágil,


conforta-nos o pensamento de que, gracas á alma espiritual, sobrevive-
mos á morte. Alias, a fé oferece-nos uma 'esperanca que nao confunde'
(cf. Rm 5, 5), descerrando-nos a perspectiva da ressurreicáo final. Nao
sem motivo a Igreja, na solene Vigilia Pascal, usa estas mesmas letras
para se referir a Cristo vivo, ontem, hoje e sempre: 'Principio e fim, Alfa e
Ómega. A Ele pertencem o tempo e a eternidade'. A existencia humana,
apesar de sujeita ao tempo, é colocada por Cristo no horizonte da imorta-
lidade. Ele se fez homem entre os homens, para reunir o fim com o prin
cipio, isto é, o homem com Deus".

Um século complexo rumo a um futuro de esperanca

O Papa faz um balanco do século XX, apontando tanto os seus


aspectos negativos como as facetas positivas.

Assim a primeira metade do século foi marcada por duas guerras


mundiais, sendo a segunda ainda mais trágica do que a primeira. "O
tributo pago ñas varias frentes á loucura bélica foi incalculável, e igual
mente terrível foi a matanca consumada nos campos de exterminio, ver-
dadeiros Gólgotas da época contemporánea" (n° 3).

1 Virgilio, "Fugit irreparabile tempus": Geórgicas, III, 284.

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000

Na segunda nietade do século registrou-se o pesadelo da guerra fria,


isto é, da confrontacáo entre os dois grandes blocos ideológicos opostos.
Terminada esta pela queda do regime comunista no Leste Europeu, muitas
nacóes aínda estáo longe de conhecer os beneficios da paz e da liberdade.

Doutro lado, porém, verifica-se que "cresceu - mesmo entre tantas


contradicóes, especialmente quanto ao respeito pela vida de cada ser
humano - a consciéncia dos direitos humanos universais, proclamados
em solenes declaracóes que comprometem os povos" (n° 4).

"Deve ser considerado, da mesma forma, um grande dom de Deus


o fato de as religióes estarem tentando, sempre com maior determina-
cáo, um diálogo que as torne elemento fundamental de paz e de unidade
no mundo" (n° 4).

O outono da vida

"5. Que é a velhice? Ás vezes fala-se déla como do outono da vida


- assim fazia Cicero - seguindo a analogía sugerida pelas estacóes e
pelo andamento das fases da natureza... Há estreita semelhanca entre o
biorrítmo do homem e os ciclos da natureza á qual ele pertence.

Todavía o homem distingue-se de toda a realidade que o circunda,


porque é pessoa. Plasmado á imagem e semelhanca de Deus, ele é
sujeito consciente e responsável.... A velhice possui seus valores, por
que, como observa S. Jerónimo, atenuando o ímpeto das paixóes, ela
aumenta a sabedoria, dá conselhos mais amadurecidos. Em certo senti
do, é a época privilegiada daquela sabedoria que, em geral, é fruto da
experiencia, porque o tempo é um grande mestre" {n° 5).

Os Idosos na Sagrada Escritura

"6. 'A juventude e a adolescencia sao passageiras', observa o


Eclesiastes (11, 10). A Biblia nao deixa de chamar a atencáo, por vezes
com grande realismo, para a caducidade da vida e para o tempo que passa
¡nexoravelmente: 'Vaidade das vaídades, vaidade das vaidades! Tudo é vai-
dade' (Ecl.1. 2): quem nao conhece a severa advertencia do antigo Sabio?
Entendemo-lo especialmente nos, idosos, ensinados pela experiencia.

Apesar desse desencantado realismo, a Escritura conserva urna


visáo muito positiva do valor da vida. O homem permanece como criado
á imagem de Deus (cf. Gn 1, 26), e cada idade possui sua beleza e mis-
sao. Mais, a idade avancada encontra na palavra de Deus urna grande
consideracáo, a tal ponto que a longevidade é vista como sinal da bene
volencia divina (cf. Gn 11, 10-32)".

Segué-se a referencia a Abraáo, Sara, Moisés... Isabel, Zacarías,


Simeáo, Nicodemos ... E concluí o Papa:

292
JOÁO PAULO II AOS ANCIÁOS

"8. A velhice, portanto, á luz do ensinamento e no léxico próprio da


Biblia, apresenta-se como tempo favorável para levar a bom termo a aven
tura humana, e faz parte do designio divino.a respeito de cada homem
como tempo no qual tudo converge, para que ele possa compreender
melhor o sentido da vida e alcancar a sabedoria do coráceo. 'A honra da
velhice - observa o Livro da Sabedoria - nao consiste numa longa vida,
e nao se mede pelo número de anos. Mas a inteligencia é que faz os cábelos
brancos, e a verdadeira velhice é urna vida imaculada' (4,8-9). Ela constituí
a etapa definitiva da maturidade humana e é expressáo da béncáo divina.

Guardiies de memoria coletiva

9. No passado, nutria-se grande respeito pelos idosos. A este pro


pósito, escrevia o poeta latino Ovidio: 'Grande era outrora o respeito pela
cabeca encanecida1. Séculos antes, o poeta grego Focílides advertía:
'Respeita os cábelos brancos: presta ao velho sabio aquelas mesmas
homenagens que tributas a teu pai'.

E hoje? Se nos detivermos a analisar a situacáo atual, constatare


mos que em alguns povos a velhice é estimada e valorizada; em outros,
pelo contrario, o é muito menos devido a urna mentalidade que poe em
primeiro lugar a utilidade ¡mediata e a produtividade do homem. Por cau
sa dessa atitude, a assim chamada terceira ou quarta idade é freqüente-
mente desprezada, e os próprios idosos sao levados a perguntar-se se
sua vida aínda tem utilidade.

Chega-se até a propor, sempre com maior insistencia, a eutanasia,


como solucáo para as situacóes difíceis. Infelizmente, para muitas pes-
soas, o conceito de eutanasia nestes anos perdeu o trago de horror, na
turalmente suscitado nos espíritos sensíveis ao respeito pela vida...

10. Os idosos ajudam a contemplar os acontecimentos terrenos


com mais sabedoria, porque as vicissitudes os tornaram mais experi
mentados e amadurecidos. Eles sao guardiáes da memoria coletiva e,
por isso, intérpretes privilegiados do conjunto de ideáis e valores huma
nos que mantém e guiam a convivencia social. Excluí-los é rejeitar o pas
sado, onde penetram as raízes do presente, em nome de urna moderni-
dade sem memoria. Os idosos, gracas á sua experiencia amadurecida,
sao capazes de propor aos jovens conselhos e ensinamentos preciosos.

'Honra teu pai e tua máe'

11. Entáo por que nao continuar a tributar ao anciáo o respeito que
as sadias tradicdes de muitas culturas em cada continente consideram
como valor? Para os povos da área de influencia bíblica, a referencia foi,
ao longo dos séculos, o mandamento do Decálogo: 'Honra teu pai e tua
máe'; um dever, de resto, universalmente reconhecido. De sua plena e

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000

coerente aplicacáo, nao só surgiu o amor dos filhos pelos pais, mas foi
também destacado o forte laco que existe entre as geracóes. Onde o
preceito é acolhido e fielmente observado, os idosos sabem que nao cor-
rem o perigo de ser considerados um peso inútil e incómodo...

12. 'Levanta-te perante urna cabeca branca e honra a pessoa do


anciáo1 (Lv 19,32). Honrar os idosos exige a seu respeito um triplo dever:
o acolhimento, a assisténcia, a valorizacáo de suas qualidades. Em mui-
tos ambientes isto acontece quase espontáneamente, como por antigo
costume. Em outros, porém, especialmente ñas nacóes económicamen
te mais desenvolvidas, impóe-se urna necessária ¡nversáo de tendenci
as, para que os que avancam em anos possam envelhecer com dignida-
de, sem temor de ficarem reduzidos a nao contar para mais nada. É pre
ciso convencer-se de que é próprio de urna civilizacao plenamente hu
mana respeitar e amar os idosos, para que estes se sintam, apesar da
diminuicáo das torcas, parte viva da sociedade. Já dizia Cicero que 'o peso
da idade é mais leve para quem se senté respeitado e amado pelos jovens'.

O espirito humano, por outro lado, mesmo ressentindo-se do enve-


Ihecimento do corpo, permanece de certa forma sempre jovem, se viver
orientado para o eterno; e experimenta mais vivamente esta perene ju-
ventude, quando, ao testemunho interior da boa consciéncia, se une o
afeto diligente e grato dos entes queridos. Entáo o homem, como escre-
ve S. Gregorio de Nazianzo, 'nao envelhecerá no espirito: aceitará a dis-
solucáo como o momento estabelecido para a necessária liberdade. Su
avemente emigrará para o além, onde ninguém é imaturo ou velho, mas
todos sao perfeitos na idade espiritual'.

Todos conhecemos exemplos eloqüentes de idosos com urna sur-


preendente juventude e forca de espirito. A quem deles se aproxima,
suas palavras servem de estímulo, e o exemplo, de conforto. Possa a
sociedade valorizar plenamente os idosos, que em algumas regióes do
mundo - pensó de modo particular na África - sao estimados justamente
como bibliotecas vivas de sabedoria, guardiáes de um patrimonio inesti-
mável de testemunhos humanos e espirituais. Se é verdade que, do pon
to de vista físico, em geral necessitam de ajuda, é igualmente certo que,
na sua idade avancada, podem oferecer apoio á caminhada dos jovens
que se debrucam sobre o horizonte da existencia para provar os rumos.

13. Na medida em que, com o aumento da vida media, cresce a


faixa dos idosos, será sempre mais urgente promover a cultura de urna
terceira idade acolhida e valorizada, nao marginalizada. O ideal é que o
idoso fique na familia, com a garantía de ajudas sociais eficazes, relati
vamente as necessidades crescentes que a idade ou a doenca supóem.
Existem, porém, situacóes em que as próprias circunstancias aconse-
Iham ou exigem o ingresso em asilos para a terceira idade, a fim de que

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JOÁO PAULO II AOS ANCIÁOS

o idoso possa gozar da companhia de outras pessoas e usufruir de urna


assisténcia especializada...

Caríssimos idosos, que vos encontráis em situacáo precaria por


motivos de saúde ou outros, eu vos acompanho com afeto. Quando Deus
permite nosso sofrimento por causa da enfermidade, da solidáo ou por
outras razdes ligadas á idade avancada, dá-nos sempre a graca e a forca
para que nos unamos com mais amor ao sacrificio de seu Filho e partici
pemos com mais intensidade de seu projeto salvífico. Podemos estar
certos: Ele é Pai, um Pai rico de amor e de misericordia!

De modo especial, pensó em vos, viúvos e viúvas, que ficastes sos


a percorrer o último trecho da estrada da vida; em vos, religiosos e religi
osas idosos, que durante longos anos servistes fielmente á causa do
Reino dos céus; em vos, caríssimos irmáos no Sacerdocio e no Episco
pado que, tendo alcancado o limite da idade, deixastes a responsabilida-
de direta pelo ministerio pastoral. A Igreja necessita aínda de vos. Ela
aprecia os servicos que ainda podéis prestar nos varios campos de apos
tolado, conta com o apoio de vossa assídua oracáo, espera vosso expe
rimentado conselho e enriquece-se com o testemunho evangélico por
vos prestado dia após dia.

'Ensinar-me-eis o caminho da vida; em Vossa presenca a


plenitude da alegría' (S116 [15], 11)

14. É natural que, com o passar dos anos, se tome familiar o pen-
samento do crepúsculo. Isso nos vem á lembranca, entre outros motivos,
pelo fato mesmo de que a lista dos nossos parentes, amigos e conheci-
dos vai-se reduzindo: percebemo-lo em diversas circunstancias, por exem-
plo quando nos encontramos em reunióes de familia, nos encontros com
nossos amigos de infancia, de escola, de universidade, de sen/ico militar,
com nossos companheiros de seminario... A fronteira entre a vida e a
morte atravessa nossas comunidades e aproxima-se de cada um de nos
inexoravelmente. Se a vida é urna peregrinacáo em direcáo á patria
celestial, a velhice é o tempo no qual se olha mais naturalmente para o
limiar da eternidade.

E contudo a nos, idosos, também custa resignar-nos com a pers


pectiva dessa passagem. Esta, de fato, apresenta, na condicáo humana
marcada pelo pecado, urna dimensáo tenebrosa que necessariamente
nos entristece e amedranta. Poderia ser de outro modo? O homem foi
criado para viver, enquanto a morte - como a Sagrada Escritura nos ex
plica desde as primeiras páginas (cf. Gn 2-3) - nao estava no projeto
original de Deus, mas apareceu após o pecado, fruto da inveja do demo
nio (Sb 2, 24). Compreende-se assim por que, diante dessa realidade
tenebrosa, o homem reaja e se revolte...

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000

15. Cristo, tendo ultrapassado as fronteiras da morte, revelou a


vida que está para além deste limite, no territorio inexplorado pelo ho-
mem que é a etemidade. Ele é a primeira Testemunha da vida ¡mortal;
n'Ele a esperanca humana revela-se cheia de imortalidade.

16. Assim, a fé ilumina o misterio da morte e infunde serenidade á


velhice, nao mais considerada e vivida como espera passiva de um evento
destruidor, mas como promissora aproximacáo á meta da plena maturida-
de. Sao anos que háo de ser vividos com um sentido de abandono confiado
ñas mios de Deus, Pai providente e misericordioso; um período a ser utiliza
do de modo criativo- para um aprofundamento da vida espiritual, com a in-
tensificacáo da oracáo e do empenho de servir aos irmáos na caridade.

Devem ser louvadas, portante todas as iniciativas sociais que per-


mitem aos idosos quer continuar a cultivarem-se física, intelectual e soci-
almente, quer fazerem-se úteis, pondo á disposicao dos demais o pró-
prio tempo, as próprias capacidades e experiencias. Deste modo, con-
serva-se e aumenta o gosto pela vida, dom fundamental de Deus. Por
outro lado, tal apreco pela vida nao contradiz o anseio de eternidade, que
amadurece nos que experimentam um crescimento espiritual profundo,
como bem o testemunha a vida dos Santos...

O apostólo Paulo sentia-se, de certa forma, em confuto entre o de-


sejo de continuar a viver, para anunciar o Evangelho, e o de 'partir para
estar com Cristo' (Fl 1, 23). Sto. Inácio de Antioquia, enquanto caminha-
va feliz para padecer o martirio, testemunhava sentir a voz do Espirito
Santo na sua alma como agua viva que brotava dentro dele, e Ihe sussur-
rava o convite: 'Vem para o Pai1. Os exemplos poderiam continuar. Eles
nao lancam qualquer sombra sobre o valor da vida terrena, que é bela,
apesar dos limites e sofrimentos, devendo ser vivida até o fim; lembram-
nos, porém, que ela nao é o valor último, de tal forma que o ocaso da
vida, do ponto de vista cristáo, assume os contornos de urna passagem,
de urna ponte lancada da vida á vida, entre a alegría frágil e insegura
desta térra e o gozo total que o Senhor reserva a seus servos fiéis: 'Entra
no gozo do Teu Senhor' (Mt 25, 21).

Um auspicio de vida

17. Com este espirito, caros irmáos e irmás idosos, enquanto fago
votos de viverdes serenamente os anos que o Senhor estabeleceu para
cada um, quero manifestar-vos em toda a sua profundidade os sentimen-
tos que me animam neste derradeiro período de minha vida, depois de
mais de vinte anos de ministerio na sé de Pedro, e já na ¡mediata expec
tativa do terceiro milenio. Apesar das limitacóes devidas á idade, conser
vo o gosto pela vida. Agradeco ao Senhor. É bonito poder gastar-se até o
fim pela causa do Reino de Deus!"

296
"Amai-vos como Eu vos amei..."

A AQÁO CARITATIVA DO PAPA EM 1999

Em síntese: O S. Padre Joáo Paulo II se interessa muito solicita-


mente pelas necessidades dos povos da térra, cristáos e nao cristáos.
Atua em favor deles mediante o Pontificio Conselho Cor Unum, que tem,
anexos a si, a Fundagáo Joáo Paulo II para ó Sáhel e a Fundagáo
Populorum Progressio. O presente artigo dá a ver como atuaram esses
Organismos durante o ano de 1999, especialmente enriquecidos pelo
desejo, dos católicos, de preparar fervorosamente o ano jubilar 2000.
* * *

O Pontificio Conselho Cor Unum, sob a presidencia de Mons. Paulo


Josef Cordes, tem por funcáo principal executar os projetos caritativos
do Santo Padre diante de catástrofes ocorrentes ou frente á necessidade
de prover á promocáo integral da pessoa humana. O.periódico
L'OSSERVATORE ROMANO, ed. francesa de 21/03/00, pp. 6-8, publi-
cou o relatório das intervencóes do Papa em 1999 visando a atender a
necessidades dos mais diversos povos da térra. Eis os dados fornecidos
pelo mencionado Conselho: .

1. Pontificio Conselho Cor Unum

Distinguem-se dois tipos de intervencáo:

1.1. Catástrofes naturais ou provocadas pelo homem

Em 1999 foram numerosos os países afetados por catástrofes ou


por conflitos étnicos.

Por indicacáo do Santo Padre, Mons. Paúl Josef Cordes esteve


ñas dioceses de Armenia e Pereira (Colombia) maltratadas por grave
terremoto (12 e 13/02). Esteve também na Albania (de 31/03 a 2/04) para
atender aos refugiados de Kosovo; ... na Macedónia (22/04), também
para socorrer aos refugiados de Kosovo;... em Kosovo mesmo (2 e 3/10)
para levar ajuda material e moral as populacóes abatidas.

Eis o quadro da ajuda efetuada por Cor Unum em'nome do Santo


Padre:
País Calamidade Quantia entregue
ANGOLA Refugiados US$ 10.000
BENIN Inundacóes ; US$ 10.000

297 .
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000

CAMARÓES Erupcáo vulcánica US$ 20.000


CONGO Repatriamento de refugiados US$ 20.000
ERITRÉIA Refugiados US$ 20.000
ETIOPIA Seca US$ 20.000
LESOTO Guerra e seca US$ 10.000
RUANDA Seca US$ 15.000
TOTAL ÁFRICA uss 125.000

País Calamidades Quantia entregue


COLOMBIA Inundacóes uss 10.000
COLOMBIA Terremoto us$ 20.000
GUATEMALA Furacáo uss 102.000
MÉXICO Terremoto uss 80.000
VENEZUELA Inundacóes uss 20.000
TOTAL AMÉRICA
LATINA uss 232.000

CHINA CONTI
NENTAL Deficientes físicos uss 30.000
TAIWAN Terremoto uss 50.000
FILIPINAS Tufáo uss 20.000
INDONESIA Refugiados uss 10.000
IRAQUE Crise alimentar uss 15.000
SÍRIA Refugiados uss 10.000
TIMOR ORIENTAL Refugiados uss 30.000
VIETNAM Inundacóes uss 197.600
TOTAL ASIA uss 362.600

ALBANIA Refugiados do Kosovo uss 180.000


ALBANIA Reconstrucoes uss 50.000
GRECIA Refugiados uss 10.000
GRECIA Terremoto uss 20.000
IUGOSLÁVIA Refugiados do Kosovo uss 15.000
IUGOSLÁVIA-
KOSOVO Repatriamento de refugiados uss 30.000
MACEDÓNIA Refugiados do Kosovo uss 50.000
RUMÉNIA Refugiados do Sudáo uss 10.000
TURQUÍA Refugiados do Kosovo uss 10.000
TURQUÍA Terremoto uss 50.000
TOTAL EUROPA uss 425.000

KIRIBATI Seca e inundacóes uss 17.000


TOTAL OCEANIA uss 17.000

TOTALAJUDA USS 1 .161.600

298
A AQÁO CARITATIVA DO PAPA EM 1999 11

Estas contribuicóes foram possíveis gracas á generosidade de al-


gumas dioceses, mesmo pobres, que entregaram á "Caridade do Papa"
os frutos da respectiva coleta de Quaresma, assim como á benevolencia
de instituicóes religiosas e de fiéis que, frente ás necessidades dos ir-
máos indigentes, quiseram confiar ao Papa a tarefa da partilha fraternal.

1.2. Promovió Humana e Crista

O Pontificio Conselho Cor Unum está atento aos programas de


promocáo humana e crista que ocorrem em diversos países por iniciativa
de instituicóes religiosas e associacóes de fiéis. - Eis o quadro dos sub
sidios concedidos pelo Santo Padre a tais programas mediante o Conse
lho Cor Unum.

País Programa Quantia entregue

ARGENTINA Formacáo da Juventude US$ 20.000

CHILE Obras sócio-caritativas us$ 8.000

CHINA Promocáo do trabalho de pessoas


deficientes us$ 30.000
COLOMBIA Centro de promocáo e integragáo social us$ 12.000

COLOMBIA Igrejas paroquiais e Cápelas us$ 10.000

CONGO R.D. Promocáo das mulheres e das oficinas


de costura us$ 22.100

CONGO R.D. Apoio ás populacóes rurais us$ 20.000

CONGO R.D. Centros de reabastecimento us$ 10.000

EQUADOR Centro de formacáo de jovens us$ 20.000

GEORGIA Assisténcia aos órfáos us$ 20.000

GHANA Atividades sócio-pastorais us$ 5.000

GUINÉ-BISSAU Centro missionário us$ 10.000

GUIÑÉ EQUATO-
RIAL Saneamento das aguas us$ 10.000

HAITÍ InstalagSes para captar energía solar us$ 17.500

HONDURAS Centro Social us$ 25.000

ÍNDIA Fundos para sustento de familias endi-


vidadas us$ 5.000

ISRAEL Formacáo dos jovens us$ 5.000

MADAGASCAR Centro polivalente de formacáo de mu


lheres us$ 10.000

MADAGASCAR Cápelas na floresta us$ 20.000

MÉXICO Centro Social us$ 10.000

MÉXICO Acolhida e assisténcia a aidéticos us$ 7.000

NICARAGUA Reconstrucáo de um Centro polivalentei US$ 50.000

PORTO RICO Centro para estudantes e Casa Religi


osa US$ 5.000

299
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000

REP. CENTRO- Escolarizacáo das criancas ruandenses


AFRICANA refugiadas US$ 10 000
REP. CENTRO-
AFRICANA Assisténcia social US$ 5.000
RÚSSIA Centro de assisténcia ás familias e
Cursos de Formacáo US$ 15.000
RÚSSjA Apoio ás obras socio-caritativas US$ 20.000
TANZANIA Dispensario para mulheres grávidas US$ 30.000
UGANDA Formacáo espiritual e religiosa US$ 8.500
VIETNAM Escolas e formacáo dos jovens US$ 33.000
VIETNAM Assisténcia ás criancas US$ 25.000
VIETNAM Dispensario e formacáo médica dos
docentes e das enfermeiras US$ 55.400
VIETNAM Máquinas US$ 1.600
T°TAL US$ 555.100

1.3. Projetos Especiáis

Aproximando-se o grande jubileu do ano 2000, quatro iniciativas


especiáis caracterizaran de modo particular a vida e a acáo de Cor Unum:

1.3.1. Cem Projetos do Santo Padre

1.3.2. Pañis Caritatis (O Pao da Caridade)

1.3.3. Congresso Mundial sobre a Caridade

1.3.4. Encontró das Testemunhas da Caridade com o Papa

1.3.1. Cem Projetos do Santo Padre

A finalidade desta iniciativa era promover entre os fiéis um apro-


fundamento da prática das sete obras de misericordia corporal e espiritu
al. Para tanto, o Conselho Cor Unum convidou dioceses de países po
bres a formular projetos concretos. Ao recebé-los, Cor Unum os levou
ao conhecimento de dioceses de países industrializados, para que os
financiassem. Além de tais dioceses, algumas Organizacoes católicas
tiveram por bem colaborar no financiamento respectivo.

Os resultados foram muito positivos. Principalmente as dioceses


dos Estados Unidos, do Canadá, da Bélgica, da Italia e da Australia fi-
nanciaram micro-projetos num total de cerca de US$ 3.000.000. As Or-
ganizacoes católicas financiaram grandes projetos num total de aproxi
madamente US$ 18.000.000. Mais de duzentos projetos foram assim fi
nanciados. As dioceses beneficiadas e as benfeitoras ficaram em conta
to mutuo, freqüentemente como dioceses gémeas. Assim vivenciaram o
ano de 1999, que foi o ano do Pai e da virtude da caridade.

300
A ACÁO CARITATIVA DO PAPA EM 1999 13

1.3.2. Pañis Caritatís

Este projeto visava especialmente os países mais afetados pelo


flagelo da fome. Cor Unum incentivou as familias da Italia a sustentar tal
iniciativa. Entre outras coisas, tais familias foram convidadas a consumir
certo tipo de pao cuja forma lembrava a comunháo cdesial e a partilha.
Com efeito, doze espigas cercavam um núcleo central, simbolizando o
Cristo com os Apostólos e a irradiacáo do amor de Cristo em prol de
todos os homens. O pao confeccionado segundo tal formato recordavá
constantemente á familia o dever da solidariedade com os irmáos caren
tes. O primeiro resultado dessa iniciativa foi a coleta de setecentos mi-
Ihóes de liras italianas, que favoreceram importantes projetos da Repú
blica Democrática do Congo (fabricacáo de fornos para a confecgáo do
pao), de Ruanda (reconstrucáo de casas) e do Sudáo (socorro as popu-
lacoes flageladas pela fome).

Tal iniciativa, que se prolonga através do ano 2000, deve ser ado
tada por outros países como a Polonia, Espanha, Portugal, México.

1.3.3. Congresso Mundial sobre a Caridade

Já em 1995 o Conselho Cor Unum convidou as Conferencias Epis-


copais a aprofundar entre os fiéis a virtude da caridade e a lancar progra
mas concretos para a efetivar. Diversas dioceses corresponderán) a esse
apelo, promovendo Seminarios e atividades especiáis relacionadas com
o assunto.

Todavía para o ano de 1999 foi convocado um Congresso Mundial


sobre a Caridade, que se realizou de 12 a 15 de maio em Roma, tendo
por tema "Para além de tudo, existe a caridade. Numerosas formas de
pobreza, urna so Mensagem". Reuniram-se cerca de 200 pessoas, entre
as quais teólogos, peritos, representantes de 70 Organizacóes católicas
e Instituicóes religiosas, provenientes dos cinco continentes. Ouviram-se
entáo palestras de caráter teológico sobre a virtude da caridade e suas
motivacóes, assim como relatónos sobre a atividade caritativa ocorrente
em países diversos. As Atas desse Congresso se encontram publicadas
em inglés e em espanhol á venda na sede de Cor Unum, Piazza San
Calisto 16, 00153 Roma, Italia.

1.3.4. Encontró das Testemunhas da Caridade com o Papa

O Congresso Mundial sobre a Caridade encerrou-se com um sole-


ne encontró das Testemunhas da Caridade com o Sar'o Padre na Praca
de Sao Pedro aos 16 de maio (domingo). Cerca de 40.000 pessoas esta-
vam presentes, pertencentes a mais de 200 Associacoes e Organiza-
coes de Voluntarios, leigos e Religiosos. Antes do inicio da celebragáo,
foram ouvidos certos testemunhos concretos de caridade por parte de

301
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000

dois ruandenses (um Hutu e um Tutsi), dois irlandeses (um católico e um


protestante), uma mulher palestina e uma judia. Foi muito comovedora a
palavra da Irma Nirmala, que sucede a Madre Teresa de Calcuttá á frente
da Congregado das Filhas da Caridade.

O Papa enfatizou o fato de que a acáo caritativa deve ser, antes do


mais, um testemunho de amor do Cristo e exortou: "Mostrai ao homem
de nosso tempo o Cristo nascido, morto e ressuscitado para a salvacáo
de todo ser humano! É Ele a esperanca que brilha no horizonte da huma-
nidade".

2. A Fundacáo Joáo Paulo II para o Sahel1

Fundada pelo Santo Padre em 1984, essa Fundacáo se interessa


pela luta contra a seca e a desertificacáo, assim como por melhores con-
dicóes de vida e saúde das populacóes da regiáo da África dita Sahel.
Nove países sao membros dessa sociedade, regida por um Conselho de
Administracáo. Tal Conselho reuniu-se em Banjul (Gámbia) de 1S a 7 de
fevereiro de 1999 e examinou 60 grandes projetos de formacáo de pes-
soal e 149 grandes projetos de obras beneficentes no plano material. O
valor dos projetos aprovados foi de US$ 3.600.000. Para projetos peque-
nos foi posta á disposicáo a quantia de cerca de US$ 1.900.000. As Con
ferencias Episcopais da Alemanha e da Italia sao os principáis sustentá
culos da Fundacáo para o Sahel. A Conferencia alema constituiu o capi
tal inicial da Fundacáo, ao passo que a italiana financia a maioria dos
projetos. O capital da Fundacáo é alimentado por doacóes de benfeito-
res particulares.

3. A Fundacáo "Populorum Progressio"

Fundada pelo Papa Joáo Paulo II em 1992, dedica-se aos projetos


comunitarios em favor das populacóes autóctones, mesticas e afro-ame
ricanas agrícolas pobres da América Latina e do Caribe. O Presidente de
Cor Unum preside também a essa Fundacáo.

O respectivo Conselho Administrativo reuniu-se em Manizales (Co


lombia) de 12 a 14 de julho de 1999, estando presente uma delegacáo da
Conferencia Episcopal Italiana, que é um dos principáis benfeitores da

1 O Sahel ou Sael é a regiáo semi-árída ao Sul do deserto do Saara, zona de transi


gió entre o clima desértico e o tropical. Abrange uma estreita faixa continental que
se estende no sentido Oeste-Leste desde Dakar (Senegal), passando pelo Sul do
Lago Tchade, até o Mar Vermelho. Consta de savanas e vegetacáo arbustiva. Possi-
bilita a cultura do arroz, do amendoim, do milhete e do algodáo. Foi atingida em
1970/74 por uma tonga seca, que provocou a perda praticamente total das colheitas
e de mais da metade do gado, a morte de cerca de 100.000pessoas e, em algumas
áreas, o avango do deserto do Saara por até 100 km para o Sul.

302
A ACÁO CARITATIVA DO PAPA EM 1999

Fundacáo; ajudam-na outrossim os donativos de ¡nstituicóes religiosas e


de pessoas particulares. Eis os projetos aprovados em 1999:

pais Número de Projetos Aprovados Quantia entregue

BOLÍVIA 22 US$ 179.600

BRASIL 14 us$ 107.600

COLOMBIA 34 us$ 245.500

COSTA RICA 5 us$ 47.600

CUBA 2 us$ 25.000

CHILE 12 us$ 88.100

EQUADOR 21 us$ 160.790

EL SALVADOR 11 us$ 95.500

GUATEMALA 3 us$ 26.000

HAITÍ 4 us$ 35.000

MÉXICO 24 us$ 169.600

NICARAGUA 17 us$ 146.300

PANAMÁ 7 us$ 60.000

PARAGUAI 9 us$ 55.000

PERÚ 15 us$ 134.300

SAO DOMINGOS 12 us$ 104.000

VENEZUELA 3 us$ 26.000

TOTAL: 17 países 215 projetos uss 1.705.890

Trata-se de micro-projetos tragados pelas pequeñas comunidades


autóctones e agrícolas pobres. Em sua maioria dizem respeito ao melho-
ramento das culturas agrícolas, á piscicultura, á criacáo de aves e de
porcos, á formacáo profissionalizante de mulheres e jovens, á formacáo
de animadores de comunidades, á reconstrucáo de casas agrícolas e de
Centros comunitarios prejudicados por catástrofes (furacóes, terremo
tos, inundacóes), á comercializacáo de produtos agrícolas e ao aperfei-
coamento das condicóes sanitarias.

4. O Catálogo das Obras Caritativas

Em dezembro de 1999 o Pontificio Conselho Cor Unum, após re-


colher dados necessários fomecidos pelas Conferencias Episcopais,
publicou, sob forma de livro e de CD-Rom, a quinta edicáo do Catholic
Aid Directory (CAD). Trata-se de um catálogo que récensela mais de
1.100 organizacóes, associagóes e instituicóes internacionais e nacio-
nais que operam no setor sócio-caritativo. Cada qual é apresentada com
sua estrutura (coordenacáo, financiamento, prestacáo de servicos...), seu
setor de atividade, a regiáo geográfica em que atua e o tipo de projetos
que sustenta.

303
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000

Tal catálogo pretende ser um instrumento que favoreca a colabora-


cao mutua das iniciativas de caridade na Igreja, possibilitando maior efi
cacia no trabalho de atendimento as populacóes carentes. Pode ser soli
citado ao Pontificio Conselho Cor Unum (endereco atrás indicado) medi
ante pagamento de US$ 25,00 pelo livro e US$ 15 pelo CD Rom.

É importante que o grande público conheca essa atividade huma


nitaria do Santo Padre e dos órgáos administrativos da Santa Sé,... ativi
dade que se estende nao somente aos países católicos, mas também
aqueles em que a Igreja é perseguida: China Continental, Vietnam, Cuba...
Diz o Senhor no Evangelho:

"Brithe a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas
boas obras, eles glorifiquem vosso Pai, que está nos céus" (Mt 5, 16).

Jesús, o Deus Surpreendente, por Gérard Bessiére. Tradugáo de


Lidia da Mota Amaral. - Ed. Objetiva, Rio de Janeiro 2000, 125 x 180mm
192 pp.

Este livro consta de duas partes: na primeira, o autor acompanha e


comenta os episodios da vida pública de Jesús; na segunda apresenta
Textos e Documentos relativos a Jesús; assim trata das fontes do co-
nhecimento de Jesús, aborda questóes como Jesús e a política, Jesús
um homem Deus, Jesús e a Igreja... A primeira parte nem sempre usa
linguagem adequada, como seria a afirmagáo da p. 125: "E Jesús torna
se Deus", afirmagáo com a qual o autor quer dizer que o Concilio de
Calcedonia em 451 pos termo final aos debates cristológicos, definindo
haver em Jesús urna só Pessoa (divina) e duas naturezas (a divina e a
humana). Mais graves sao os dizeres das pp. 164-167: o autor transcre-
ve um artigo de Daniel Marguerat, que nega tenha Jesús fundado a Igre
ja; "Jesús terá anunciado o Reino, mas foi a Igreja que apareceu, como
prova a ausencia do termo 'Igreja' nos Evangelhos"; ausencia, porém,
que nao é total, pois o próprío D. Marguerat reconhece que ocorre em Mt
16, 18 e 18, 17-o que é contraditório. Além do mais, está dito ai que a
promessa do primado a Pedro em Mt 16, 17-19 nao é dos labios de Je
sús, quando na verdade tais dizeres estáo perpassados de aramaísmos
ou de locugóes aramaicas, que podem ser tidas como ¡psissima verba
Christi ou as mesmíssimas palavras de Cristo. Mais: a parábola dojoio e
do trigo é tida como sinal de que "Jesús esperava para breve o jufzo
final", quando na verdade a parábola póe em relevo a impaciencia dos
servidores dopatráo, que deveráo esperar o distante dia da colheita para
separar do trigo o indesejado joio... Em suma, o livro de Gérard Bessiére
é doutrinariamente falho em mais de urna de suas passagens - o que vem a
ser lamentável, pois se apresenta muito atraente pela quantidade de ilustra-
goes que o embelezam e que podem impressionar o leitor desprevenido.

304
Crítica extremada:

"PROCURÁIS O JESÚS HISTÓRICO?"


Por Rochus Zuurmond

Em síntese: O livro em foco é um tanto cético em relagáo a


credibilidade dos Evangelhos; o autor julga que é difícil haver objetivida-
de em relatos ditos "históricos", pois cada narrador escreve a partir de
seus pontos de vista pessoais. O autor esquece os recursos que a crítica
imparcial aplica para chegar a realidade histórica. A arqueología, a
papirologia e a historiografía tém contribuido grandemente para corrobo
rar a credibilidade dos Evangelhos. Alias, esta, além de ter seu
embasamento científico, é artigo de fé reafirmado pelo Concilio do Vati
cano II (cf. Constituigáo Dei Verbum n° 19). A fé crista está fundamenta
da sobre fatos históricos.
* * *

O Prof. Rochus Zuurmond leciona Teología Bíblica na Universida-


de Livre de Amsterdam (Holanda). Escreveu um livro que, traduzido para
o portugués, tem por título "Procuráis o Jesús Histórico?"1. Concluí afir
mando que a reconstituyo do Jesús Histórico é subjetiva, de modo que
se torna ¡mpossível chegar á imagem de Jesús tal como Ele realmente
foi nos anos de sua vida mortal. A obra é tendenciosa e pouco condizen-
te com os artigos da fé católica, que professa a historicidade dos Evan
gelhos.

Ñas páginas subseqüentes será proposta urna visáo de conjunto


da obra, á qual se acrescentará urna reflexao serena e objetiva.
1. O conteúdo da obra

O autor comega citando as diversas teorías de críticos do século


XIX que tentaram explicar a figura de Jesús a partir de premissas
racionalistas; sao aposentadas diversas imagens de Jesús, como a do
Jesús Ético, a do Jesús Apocalíptico, a do Jesús Mitológico, a do Jesús
Eclético . Esta catalogacáo visa a mostrar quáo diversamente pode ser
entendida a figura de Jesús, sem que se chegue a um consenso sobre a
realidade histórica de Jesús.

O capítulo 2 pondera o conceito de historia, afirmando que, para os


antigos, a historia nao era necessariamente o relato fiel dos aconteci-
' Tradugáo de Fredericus Stein.-Ed. Loyola, Sao Paulo 1998, 160x230pp.

305
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000

mentos passados, mas urna descricáo pessoal e subjetiva de fatos pre


téritos. Nem Jesús terá sido transmitido á posteridade em termos objeti
vamente fidedignos, mas segundo o modo de ver subjetivo dos primeiros
intérpretes.

O cap. 3 descreve o contexto histórico em que Jesús terá vivido,


concluindo sempre pela relativizacáo do valor dos relatos referentes ao
passado.

O cap. 4 estuda as fontes cristas e nao cristas da vida de Jesús.


Concluí com palavras de ceticismo:

"A pesquisa em torno do Jesús histórico tem toda razio de ser, mas
com urna conclusáo: nao deve tera pretensao de trazerá luz a verdade a
respeito de Jesús" (p. 88).

O cap. 5 aborda dois exemplos que, segundo o autor, devem mos


trar quáo pouco fidedignos sao os relatos evangélicos. Sao eles as narra
tivas sobre o nascimento de Jesús e os episodios referentes á morte e á
ressurreicáo de Jesús. Com relacáo as primeiras escreve:

"Será difícil tirar outra conclusáo senáo esta: a credibilidade histó


rica dessas narrativas é nula... Sao narrativas com teor querigmático,
nao relatos históricos" (p. 108).

A respeito da Páscoa de Jesús observa Zuurmond:

"As fontes sao contraditórias; os pressupostos físicos sao antiqua-


dos, a finalidade das narrativas domina totalmente os textos. Para o his
toriador que desejasse reconstruir os acontecimentos da Páscoa, os tex
tos sao inúteis; serviriam táo somente para investigar até que ponto as
idéias empregadas se encaixam na historia das idéias da época... A res-
posta ásperguntas 'históricas'será necessariamente vaga e incerta. Ou,
na pior hipótese, oferecerá urna falsa seguranga" (p. 112).

O cap. 6 formula a conclusáo do livro, que soa simplesmente: "Um


mínimo de historicidade, um máximo de querigma" (p. 118). Isto quer
dizer: nos Evangelhos há um fundo histórico, que mal conhecemos, pois
o que eles nos transmitem é o modo de pensar e de anunciar ou aprego-
ar utilizado pelos Apostólos e pelos primeiros discípulos. Quem lé os
Evangelhos ou mesmo o Novo Testamento, fica cíente do que pensavam
os primeiros cristáos, mas ignora quase por completo quem foi realmen
te Jesús de Nazaré e o que ele ensinou. Haveria, portanto, urna cortina
opaca entre Jesús e nos, cortina que seriam as primeiras comunidades
cristas; em nosso retrocesso histórico chegaríamos até essas comunida
des da segunda metade do século I, mas nao atingiríamos o próprio Jesús.

306
"PROCURÁIS O JESÚS HISTÓRICO?" 19

O cap. 7 ou Epílogo confirma tal conclusáo, pois assim se abre:

"A pesquisa em torno do 'Jesús histórico' nos levou á conclusáo de


que sabemos pouquíssimo sobre ele. Mas, entáo, qual é o Jesús com
quem nos defrontamos ao tomar o texto a serio? Vimos que é o Jesús
querigmático, o Jesús anunciado. Ai, poríanto, já nao talamos sobre Je
sús como 'pessoa histórica' (o que ele naturalmente também é), mas, o
que é muito mais importante, como aquele de quem o Novo Testamento
testemunha" (p. 121).

Eis alguns outros tópicos do livro que bem retratam a mentalidade


do autor:

"Há indicios claros de Jesús tersido casado? Nao, nao há, a nao
ser talvez o de que a maioria dos homens, inclusive entre os judeus do
mundo antigo, estavam casados muito antes de completar trinta anos de
idade. Há indicios claros de nao ter sido casado? Tampouco, a nao ser,
talvez, o fato de que pregadores ambulantes as vezes nao eram casa
dos. Conforme as fontes, Jesús era um pregador ambulante. A questáo,
portanto, continua duvidosa. Nao sabemos a resposta, e provavelmente
nunca saberemos" (pp. 18s).

É negada a ressurreicáo em nome de urna hermenéutica ou arte


interpretativa preconceituosa:

"Os autores concordam em que o sentido da 'ressurreigáo' certa-


mente nao é que o corpo morto de Jesús depois de tres dias (ou melhor:
'no terceiro dia') tenha comegado a funcionar novamente como antes. O
problema é hermenéutico. No sáculo I d. C. as idéias acerca de 'ressur
reigáo' e 'revivificagáo', 'corpo' e 'espirito' eram diferentes das nossas. Por
isso nao podemos nos expressarsem mais nem menos nos mesmos termos
sem causar mal-entendidos acerca da mensagem transmitida" (p. 26).

Exposta a tese de Rochus Zuurmond, pergunta-se:

2. Que dizer?

Sao tres as observacoes que nos ocorrem:

2.1. Hermenéutica

A arte de interpretar tem sempre algo de subjetivo, pois depende


dos parámetros ou referenciais que o intérprete adota. Daí compreender-
se a observacáo, feita por Zuurmond, de que a historiografía há de ser
considerada com olhar crítico e cauteloso. Isto, porém, nao quer dizer
que nao se possa chegar a ter urna imagem objetiva e fiel do passado. A
crítica imparcial tem meios para reconhecer os traeos tendenciosos que

307
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000

tal ou tal relato apresenta e faz o respectivo descontó, de modo a chegar


a conceber, de personagens e fatos passados, uma imagem táo fiel quanto
possível. - No tocante a Jesús em particular, sabe-se que nos primeiros
séculos houve serias controversias a respeito do Senhor por parte de
pagaos intelectuais ou filósofos, que queriam depreciar ou esvaziar a
figura de Jesús; o assunto fo¡ muito debatido, mas prevaleceu a concep-
cáo de que os Evangelhos sao relatos fidedignos, que dao a conhecer a
figura do Jesús histórico. Até fins do século XVIII esta tese foi sendo
tranquilamente professada. O racionalismo (lluminismo) do século XVIII
comecou a lancar a suspeita sobre os Evangelhos, suscitando as inter-
pretacóes propostas pela crítica liberal do século XIX e recenseadas por
Zuurmond. Pode-se dizer que se trata de uma hermenéutica tardía, que
tem os antigos na conta de simplórios e crédulos - o que é tendencioso.
Aceitar o transcendental e o metafísico nao é simploriedade, mas autén
tica atitude da inteligencia humana: esta sabe que a Verdade nao acaba
quando acaba o alcance da inteligencia; por conseguinte é inteligente
dar crédito a verdades transcendentais desde que devidamente
credenciadas. A ciencia contemporánea, em vez de destruir a veracida-
de dos Evangelhos, tem-na confirmado, como se dirá a seguir.

2.2. A ciencia contemporánea

1. Zuurmond julga que os Evangelhos "surgiram bastante tempo


depois da morte de Jesús" (p. 51). Esta tese tem sido contestada pela
papirologia contemporánea. Com efeito,

a) Na década de 1930 o pesquisador inglés C. H. Roberts desco-


briu o mais antigo dos manuscritos até entáo conhecidos1: era um peque-
no fragmento e 8,9 cm por 5,8 cm; de aparéncia insignificante, foi com
prado com outros papiros no Egito em 1920; numa das faces desse frag
mento se encontra o texto de Jo 18, 31-33, e na outra face o de Jo 18,
37s. Está guardado na John Rylands Library de Manchester. Os
papirologos atribuíram as letras desse fragmento aos primeiros decenios
do século II, mais precisamente ao ano de 125. As conseqüéncias deste
achado foram de vasto alcance: o papiro fora encontrado no Egito, a
mais de 1.000 km da regiáo onde fora escrito o autógrafo de Joáo; vé-se
entáo que no Egito se lia o Evangelho de Joáo poucos decenios após a
morte do Apostólo. Conseqüentemente os Evangelhos de Mt, Me e Le,
anteriores ao de Joáo, foram reconhecidos, com novo vigor, como obras
da segunda metade do século I.

b) Em 1972 os estudos bíblicos foram sacudidos por nova desco-


berta: na Gruta 7 de Qumran, a N. O. do Mar Morto, foram encontrados

1 C. H. Roberts. An Unpublished Fragment of the Fourth Gospel in the John Rylands


Library, Manchester 1935.

308
"PROCURÁIS O JESÚS HISTÓRICO?"

pelo Pe. O'Callaghan S. J. papiros do Novo Testamento, entre os quais


um fragmento de Marcos (6,52-53) dito 7Q 5; este foi atribuido ao ano de
50, conforme cuidadosos estudos do descobridor. Todavía esta conclu-
sáo foi tida como precipitada e inaceitável por outros especialistas.

c) O caso parecía encerrado pela crítica contestataria, quando em


1984 o professor C. P. Thiede, de Berlim, retomou os estudos debrucan-
do-se sobre os papiros origináis em Jerusalém, em conclusao, confirmou
a sentenca de O'Callaghan: os resultados de suas pesquisas estao ex-
postos no livro Die álteste Evangelien-Handschrift? Das Markus-
Fragment von Qumran und die Anfánge der schriftlichen
Ueberlieferung des Neuen Testaments (Wuppertal 1986); na traducáo
italiana dessa obra, p. 42, lé-se:

"Assim resumindo, foram aduzidas todas as provas positivas em


favor da exatidao da datagáo; além disto, foram eliminadas todas aspos-
síveis objegdes. Na base das regras do trabalho paleográfico e da crítica
do texto, é ceño que 7Q5éMc 6, 52-53, o mais antigo fragmento conser
vado de um texto do Novo Testamento, escrito por volta de 50, e certa-
mente antes de 68".

d) Vém ao caso aínda tres pequeños fragmentos, do tamanho de


selos do correio cada qual; apresentam dez línhas fragmentadas do ca
pítulo 26 do Evangeiho segundo Sao Mateus, de acordó com recentes
pesquisas.

Com efeito; tais fragmentos foram descobertos pela primeira vez


em Luxor (Egito) no ano de 1901 pelo capeláo inglés que lá vivia, o Rev.
Charles Huleatt. Foram doados á Biblioteca do Magdalen College de
Oxford (Inglaterra). O Rev. Hulleatt morreu por ocasiáo do grande terre
moto da Sicilia em 1908, sem ter deixado informacóes sobre o paño de
fundo de suas descobertas, que ele também parece nao ter divulgado.

Os fragmentos do Magdalen College foram inicialmente tídos como


oriundos do ano 200 aproximadamente, como alias 37 outros papiros do
Novo Testamento, existentes no comeco deste século, eram datados dos
sáculos II e III. Esta hipótese foi posta em xeque quando em 1994 o Prof.
Carsten Peter Thiede, Díretor do Instituto de Pesquisas Básicas
Epistemológicas de Paderborn (Alemanha), visitou Oxford e examinou
minuciosamente os manuscritos da Biblioteca do Magdalen College.

As conclusóes do Prof. Thiede datavam esses fragmentos do sé-


culo I ou, mais precisamente, do ano 70 ou até mesmo de anos anterio
res a 70. O seu argumento principal era deduzido do tipo de letra utiliza
da pelo escritor; trata-se de caracteres verticais, comuns aos manuscri
tos gregos da primeira metade do século I; após os tempos de Cristo (27-

309
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000

30) tal tipo de letra comecou a cair em desuso. Thiede valeu-se da


paleografía comparativa, segundo a qual um manuscrito sem data pode
ser datado pelo confronto com outros manuscritos de data segura (ou
relativamente segura); no caso o Prof. Thiede tomou como referenciais
alguns manuscritos gregos descobertos em Qumran junto ao Mar Morto,
em Pompei e Herculano (Italia) e que foram reconhecidos recentemente
como textos do sáculo I.

Segundo os principios de sua teoría, o Prof. Thiede poderia datar o


Evangelho segundo Mateus de poucos anos após o governo de Póncio
Pilatos, que terminou em 36. Preferiu, porém, urna data um pouco mais
tardía.

A historia da descoberta e as ponderacóes do Prof. Carsten Peter


Thiede encontram-se delineadas na obra Testemunha Ocular de Jesús.
Novas Provas em Manuscrito sobre a Origem dos Evangelhos", da auto
ría de Carsten Peter Thiede e Matthew D'Ancona, edicáo brasileira da
Imago Editora, Rio de Janeiro 1996.

2. Além da papirologia, a lingüística tem contribuido para corrobo


rar a fidelidade histórica dos Evangelhos. Está, por exemplo, averiguado
que em alguns casos só se pode entender bem o texto do Evangelho
quando traduzido para o aramaico, que era a língua utilizada por Jesús e
pelos primeiros pregadores. Com efeito; vinte ou mais passagens obscu
ras ou controvertidas dos Evangelhos se tornam claras ou mais inteligí-
veis caso se suponha um arquetipo aramaico subjacente ao atual texto
grego. Isto quer dizer que o texto escrito dos Evangelhos é a ressonáncia
grega da pregacáo aramaica de Jesús e dos primeiros discípulos. Há,
pois, continuidade entre Jesús e o texto escrito dos Evangelhos: este nao
refere as idéias imaginosas da antiga pregacáo crista, mas sim o conteú-
do da mensagem apregoada pelo próprio Senhor Jesús. - A propósito
ver o artigo de PR 427/1997, pp. 530-547 intitulado "A Historicidade dos
Evangelhos".

3. As pesquisas arqueológicas, geográficas e históricas relativas


aos tempos de Jesús também tém esclarecido favoravelmente varios tó
picos do Evangelho. Muito importante a propósito é o livro de Giovanni
Magnani intitulado "Jesús Construtor e Mestre. Novas Perspectivas so
bre seu Ambiente de Vida"1.0 autor consultou a bibliografía mais recente
relativa as circunstancias em que viveu Jesús e concluí afirmando a
historicidade da figura de Cristo apresentada pelos evangelistas. Eís como
o Prof. Ugo Vanni introduz o livro em foco:

1 Ed. Santuario, Aparecida (SP), 1998, 140 x 210mm, 272 pp. VerPR 454/2000, pp.
137-142.

310
"PROCURÁIS O JESÚS HISTÓRICO?" 23

"O rigor documental do historiador (G. Magnani), sempre em busca


de maior aprofundamento, a implacável reflexáo crítica e o conhecimento
direto dos lugares fazem dele (o livro) urna convincente apresentagáo da
nova geografía humana de Jesús.

As escavagoes e os estudos continuam. Haverá novas descober- '


tas - sempre benvindas. Mas o quadro que emerge, em suas grandes
linhas, ¡á apresenta urna outra imagem mais recente, de Jesús que viveu
em Nazaré, permitindo-nos assim valorizar mais profundamente aquilo
que Paulo VI, referindo-se ao ambiente, denominava 'a geografía da sal-
vagáo'" (pp. 6s).

2.3. Fé e Historia

A fé católica está estritamente ligada á historia. Deus se revelou


aos homens de maneira pública mediante fatos que confirmam palavras
e mediante palavras que ilustram fatos. Veja-se a respeito a Constituicáo
Dei Verbum n° 2:

«Aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria, revelar-Se a Si


mesmo e tornar conhecido o misterio de Sua vontade (cf. Ef 1, 9), pelo
qual os homens, por intermedio do Cristo, Verbo feito carne, e no Espirito
Santo, tém acesso ao Pai e se tornam participantes da natureza divina
(cf. Ef2, 18; 2 Pd 1, 4). Mediante esta revelagáo, portanto, o Deus invisf-
vel (cf. Cl 1, 15; 1Tm 1, 17), levado por Seu grande amor, fala aos ho
mens como a amigos (cf. Éx 33, 11; Jo 15,14-15), e com eles se entretém
(cf. Br 3, 38) para os convidar á comunháo consigo e nela os receben
Este plano de revelagáo se concretiza através de acontecimentos e pala
vras intimamente conexos entre si, de forma que as obras realizadas por
Deus na Historia da Salvagáo manifestam e corroboram os ensinamentos
e as realidades significadas pelas palavras. Estas, por sua vez, procla-
mam as obras e elucidam o misterio nelas contido. No entanto, o conteú-
do profundo da verdade seja a respeito de Deus, seja da salvagáo do
homem se nos manifesta por meio dessa revelagáo em Cristo que é ao
mesmo tempo mediador e plenitude de toda a revelagáo».
Em particular no tocante aos Evangelhos afirma o documento con
ciliar:

«19. A Santa Máe Igreja com firmeza e máxima constancia susten-


tou e sustenta que os quatro mencionados Evangelhos, cuja historícidade
afirma sem hesitagáo, transmitem fielmente aquilo que Jesús, Filho de
Deus, ao viver entre os homens, realmente fez e ensinou para a eterna
salvagáo deles, até o dia em que foi elevado (cf. At 1, 1-2). Os Apostólos,
após a ascensáo do Senhor, transmitiram aos ouvintes aquilo que Ele
dissera e fizera, com aqueta mais plena compreensáo de que gozavam,

311
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000

instruidos que foram pelos gloriosos acontecimentos de Cristo e esclare


cidos pela luz do Espirito da verdade. Os autores sagrados escreveram
os quatro Evangeihos, escolhendo certas coisas das muitas transmitidas
ou oralmente oujá por escrito, fazendo sfntese de outras ou explanando-
as com vistas a situagao das igrejas, conservando enfim a forma de pro-
clamagáo, sempre de maneira a referir-nos a respeito de Jesús com ver
dade e sinceridade. Pois os escreveram, seja com fundamento na pro-
pria memoria e recordagóes, seja baseados no testemunho daqueies que
desde o comego foram testemunhas oculares e ministros da palavra: com
a intengáo de que conhegamos a verdade daquelas palavras com que
fomos instruidos (cf. Le 1, 2-4)».

Estes dizeres significam que a fé católica tem necessariamente


base histórica. Quando Sao Paulo escreve que, "se Cristo nao ressusci-
tou, vazia é a pregacáo do Evangelho, vazia é a fé dos corintios" (1Cor
15, 14), tem em vista a ressurreicáo corporal ou física, pois era esta que
os corintios impugnavam, impregnados do dualismo grego que rejeitava
a materia como algo de mau. Para o Apostólo, nao se tratava de assina-
lar apenas a presenca espiritual de Cristo entre os seus, mas impunha-
se enfatizar a realidade da restauragáo do corpo material de Jesús frente
ao pensamento platonizante dos seus leitores.

Em conseqüéncia, esvaziara historia é esvaziara fé crista. O discí


pulo de Cristo nao eré apenas em verdades abstraías, mas em fatos
reveladores da verdade. - Nao há dúvida, os antigos tinham seu modo
de escrever a historia, que o bom exegeta deve saber reconhecer e iden
tificar. Isto nao impede, porém, de crer que eram transmisores de notici
as fidedignas. Tenha-se em vista a profissáo de historiador feita por Sao
Lucas no prólogo do seu Evangelho: "A mim também pareceu conveni
ente, após acurada investigacáo de tudo desde o principio, escrever-te
de modo ordenado, ilustre Teófilo, para que verifiques a solidez dos
ensinamentos que recebeste" (Le 1, 3s). Sao Joáo, por sua vez, assim
comeca sua primeira carta:

"O que era desde o principio, o que ouvimos, o que vimos com
nossos olhos, o que contemplamos e o que nossas maos apalparam do
Verbo da vida... nos vo-lo anunciamos" (Uo 1, 1-3).

Sejam estas ponderacoes suficientes para evidenciar que a tese


de Rochus Zuurmond depende de urna opcao pessoal do autor (como
ele mesmo professa á p. 15 do seu livro), opcio pessoal que nao leva em
conta precisamente as pesquisas mais recentes da exegese bíblica, cer-
tamente favoráveis á historicidade dos Evangeihos.

312
Visóes e Revelacóes:

"VIDA, PAIXÁO E GLORIFICAQÁO


DO CORDEIRO DE DEUS"
Anna Catharina Emmerich

Em síntese: Anna Catharina Emmerich foi urna Religiosa


agostiniana alema do século passado, que deixou o relato de visdes e
revelagóes minuciosas ainda hoje citadas com certa freqüéncia. Nada do
que ela narra de peculiar é artigo de fé. A crítica sadia levanta interroga-
góes a respeito. A seguir, vaiproposto um esbogo biográfico de Catharina
acompanhado de alguns espécimens de suas revelagóes.

Ainda em nossos dias ouve-se citar Anna Catharina Emmerich, vi


dente alema e Religiosa agostiniana do século passado, que deixou o
relato de suas visóes ao poeta Clemente Brentano. Tais visóes e revela
góes abarcam vasto temario relativo ao Senhor Jesús, á sua Máe SSma.,
aos Apostólos e outros Santos; apresentam minucias que podem impres-
sionar o leitor, mas nao sao de fé. Foram recentemente publicadas de
novo em portugués num volume intitulado "Vida, Paixáo e Glorificacáo
do Cordeiro de Deus"1, volume que tem chamado a atencáo para a figura
de Anna Catharina. - Eis por que, ñas páginas subseqüentes, apresen-
taremos breve esbogo biográfico de Anna Catharina assim como alguns
espécimens de seus relatos.

1. Anna Catharina Emmerich: quem foi?

Anna Catharina nasceu aos 8 de setembro de 1774 em Flamske


(Vestfália), em familia de modestos camponeses. Diz-se que, desde cri-
anca, foi agraciada com dons extraordinarios: via freqüentemente o anjo
da guarda e brincava com o Menino Jesús; María SSma. e outros Santos
Ihe apareciam muitas vezes. Os pais a censuravam freqüentemente e
nunca a elogiavam. Em sua adolescencia trabalhou nos campos,
pastoreando rebanhos. Aos dezessete anos, concebeu a vocagáo religi
osa, que ela só conseguiu realizar aos vinte e nove anos de idade. Fez-
se agostiniana em Duelmen (Vestfália).

1 Mir Editora, Sao Paulo 1999, 140 x 210, 508 pp. O texto do livro apresenta a reda-
gao das revelagóes tal como foi confeccionada por Clemente Brentano. Desse texto
transcreveremos as passagens que nos interessam neste artigo.

313
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000

Em 1812 teve uma visáo importante, á qual se sucederam varios


acontecimentos assim descritos pelo livro em foco:

«Apareceu-lhe o Divino Salvador, como um jovem resplandecente


e entregou-lhe um crucifixo, que ela apertou com fervor de encontró ao
coracáo. Desde entáo Ihe ficou gravado no peito um sinal da cruz, do
tamanho de cerca de tres polegadas, o qual sangrava muito, a principio
todas as quartas-feiras, depois ñas sextas-feiras, mais tarde menos fre-
qüentemente. A estigmatizacáo deu-se-lhe poucos dias depois, a 29 de
Dezembro. Nesse dia, ás 3 horas da tarde, estava deitada, com os bra
cos estendidos, em éxtase, meditando na Sagrada Paixao de Jesús. Viu
entáo, numa luz brilhante, o Salvador crucificado e sentiu um veemente
desejo de sofrer com Ele. Satisfez-se-lhe esse desejo, pois saíram logo
das máos, dos pés e do lado do Senhor raios luzidios cor de sangue, que
penetraram ñas máos, nos pés e no lado da Serva de Deus, surgindo
logo gotas de sangue nos lugares das chagas. Abbé Lambert e o confes-
sor da vidente, Pe. Limberg, viram-nas sangrar dois dias depois, mas
com sabio propósito fingiram nao dar importancia ao fato, na presenca
da Serva de Deus. Ela mesma procurava esconder os sinais das chagas,
o que Ihe era fácil, porque desde o dia 2 de Novembro de 1812 estava de
cama, adoentada. Desde entáo nao pode mais tomar alimento, a nao ser
agua, misturada com um pouco de vinho, mais tarde só agua ou, raras
vezes, o suco de uma cereja ou ameixa. Assim vivia só da sagrada Co-
munháo. Esse estado e a estigmatizacáo tornaram-se públicos na cida-
de, em Marco de 1813. O Vigário de Duelmen, Pe. Rensing, encarregou
dois médicos, os Drs. Wesener e Krauthausen, como também o confes-
sor, de fazerem um exame das chagas, que freqüentemente sangravam.
Os autos foram mandados á autoridade diocesana de Muenster, a qual
enviou o Rev. Pe. Clemente Augusto de Droste Vischering, mais tarde
Arcebispo de Colonia, o deáo Overberg e o conselheiro medicinal Dr.
Von Drueffel a Duelmen, para fazerem outra investigacáo, que durou tres
meses. O resultado foi a confirmacáo da verdade das chagas, da virtude
e também o reconhecimento do caráter sobrenatural do estado da jovem
religiosa.

Também a autoridade secular, querendo examinar e "desmascarar


a embusteira", mandou, em 1819, uma comissáo de médicos e naturalis
tas; isolaram-na por isso em outra casa, rigorosamente observada, do
dia 7 a 29 de Agosto, o que Ihe causou muita humilhacáo e sofrimento;
também o resultado desse exame Ihe foi favorável.

No ano anterior, viera visitá-la pela primeira vez o poeta Clemente


Brentano, recomendado pelo deáo Overberg; a 17 de Setembro ele a viu
pela primeira vez. Ela, porém, já o tinha visto muito antes, ñas visoes e
recebido ordem do Céu para comunicar-lhe tudo. "O Peregrino", como o

314
"VIDA, PAIXÁO E GLORIFICAQÁO DO CORDEIRO DE DEUS" 27

chamava ficou até Janeiro de 1819, mas voltou de novo, para ficar com
ela no mes de Maio. Fo¡ para Catharina um amigo fiel até a morte, mas
fé-la sofrer também ás vezes, com seu genio veemente. Reconheceu a
tarefa que Ihe fora dada por Deus, de escrever as visoes desta mártir
privilegiada e dedicou-se a isso com cuidado consciencioso. "O Peregri
no" escrevia durante as narracóes, em tiras de papel, os pontos princi
páis que ¡mediatamente depois copiava, completando-os de memoria. A
copia a limpo, lia á Serva de Deus, corrigindo, acrescentando, nscando
sob adirecáo de Catharina, nao deixando nada que nao tivesse recebido
confirmacáo expressa...

Anna Catharina viu no éxtase toda a vida e paixáo do Divino Salva


dor e de sua Santíssima Máe; viu os trabalhos dos Apostólos e a propa-
gacáo da Santa Igreja, muitos fatos do Velho Testamento, como também
eventos futuros. Tocando em reliquias, geralmente via a vida, as obras e
os sofrimentos dos respectivos Santos. Com certeza reconhecia e deter-
minava as reliquias dos Santos, distinguindo em geral fácilmente objetos
sagrados de profanos...
Depois de muitos e indizíveis sofrimentos, chegou o dia de sua
morte a 9 de Fevereiro de 1824...
A 27 de Janeiro recebeu a Extrema-Uncáo. Aumentaram-lhe as
dores; mas repetía de vez em quando: 'Ai, meu Jesús, mil vezes vos
agradeco toda a minha vida; nao a minha vontade, mas a Vossa seja
feita1 Na véspera da morte rezou: 'Jesús, para Vos morro; Senhor, dou-
Vos gracas nao ougo nem enxergo mais'. Quiseram mudar-lhe a posi-
cáo para aliviá-la, mas Anna Catharina disse: 'Estou deitada na cruz;
deixem-me em pouco acabarei". Recebeu mais urna vez a sagrada Co-
munháo, a 9 de Fevereiro. Suspirando pelo Divino Esposo, rezou diver
sas vezés- 'Oh! Senhor, socorrei-me; vinde, meu Jesús1. O confessor as-
sistiu á moribunda, dando-lhe muitas vezes o crucifixo para beijar e re
zando preces pelos moribundos. Ela ainda Ihe disse: "Agora estou tao
sossegada; tenho tanta confianca, como se nunca tivesse cometido pe
cado'. Deram justamente 8 horas da noite, quando exclamou tres vezes,
gemendo- 'Oh! Senhor, socorrei-me, vinde, oh! meu Senhor!' E a alma
pura voou-lhe ao encontró do Esposo Celeste, para permanecer, como
esperamos confiadamente, eternamente unida com Ele, na infinita felici-
dade do Céu>> (pp. 17-21).
Eis como Anna Catharina descreve urna das cenas da Paixao do
Senhor:
2. Verónica e o Véu Sagrado

«A rúa em que se movia o séquito de Jesús com a cruz, era longa,


com urna leve curva para a esquerda e nela desembocavam varias rúas

315
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000

laterais. De todos os lados vinha gente bem vestida, que se dirigía ao


Templo; ao ver o séquito, uns se afastavam, com o receio farisaico de se
contaminar, outros manifestavam certa compaixáo. Havia cerca de du-
zentos passos que Simáo ajudava Jesús a carregar a cruz, quando uma
mulher de figura alta e imponente, segurando uma menina pela máo,
saiu de uma casa bonita, ao lado esquerdo da rúa... Era Seráfia, mulher
de Sirac, membro do Conselho do Templo, a qual, pela boa acáo pratica-
da nesse día, recebeu o nome de Verónica (de 'vera ¡con': verdadeira
imagem).

Seráfia tinha preparado em casa um delicioso vinho aromático, com


o piedoso desejo de oferecé-lo como refresco a Jesús, no caminho dolo
roso para o suplicio. Já tinha ido uma vez ao encontró do séquito, em
expectativa dolorosa; vi-a velada, segurando pela máo uma mocinha que
adotara, passar ao lado do séquito, quando Jesús se encontrou com a
Santíssima Virgem. Mas, com o tumulto, nao achou ocasiáo de aproxi-
mar-se e voltou as pressas para casa, para lá esperar o Senhor.

Saiu, pois, velada de casa para a rúa; um paño pendia-lhe do om-


bro; a menina, que podia ter nove anos, estava-lhe ao lado, ocultando
sob o manto o cántaro com o vinho, quando o séquito se aproximou. Os
que o precediam, tentaram em váo reté-la; ela estava fora de si de amor
e compaixáo. Com a menina, que se Ihe segurava, pegando-lhe o vesti
do, atravessou a gentalha, que ia dos lados e por entre soldados e car
rascos, avancou para a frente de Jesús e, caindo de joelhos, levantou
para Ele o paño, estendido de um lado, suplicando: 'Permiti-me enxugar
o rosto de meu Senhor'. Jesús tomou o paño com a máo esquerda e
apertou-o, com a palma da máo de encontró ao rosto ensangüentado;
movendo depois a máo esquerda, com o paño, para junto da máo direita!
que segurava a cruz; apertou-o entre as duas máos e restituiu-lho, agra-
decendo; ela o beijou, escondendo-o sobre o coracáo, debaixo do manto
e levantou-se.

Entao a menina ofereceu tímidamente o cántaro com o vinho; mas


os soldados e carrascos, praguejando, ¡mpediram-na de confortar Jesús.
A audacia e rapidez dessa acáo provocou um ajuntamento curioso do
povo e causou assim uma pausa de dois minutos apenas na marcha, o
que permitiu a Seráfia oferecer o véu a Jesús. Os fariseus a cávalo e os
carrascos irritaram-se com essa demora e mais aínda com a veneracáo
pública manifestada ao Senhor e comecaram a maltratá-Lo e empurrá-
Lo. Verónica, porém, fugiu com a menina para dentro de casa.
Apenas entrara no aposento, estendeu o véu sobre a mesa e caiu
por térra desmaiada; a menina, com o cántaro de vinho, ajoelhou-se-lhe
ao lado, chorando. Assim as encontrou um amigo da casa, que entrara
316
"VIDA, PAIXÁO E GLORIFICAQÁO DO CORDEIRO DE DEUS" 29

para visitar e a viu como morta, sem sentidos, ao lado do sudario esten
dido, no qual o rosto ensangüentado do Senhor estava ¡mpresso de um
modo maravilhosamente distinto, mas também horrível. Muito assusta-
do, fé-la voltar a si e mostrou-lhe o rosto do Senhor. Cheia de dor, mas
também de consolacáo, Seráfia ajoelhou-se diante do véu exclamando:
'Agora vou abandonar tudo, o Senhor deu-me urna lembranca'.
Esse véu era de la fina, cerca de tres vezes mais longo do que
largo. Costumava-se usar em volta do pescoco; as vezes usavam ainda
outro em torno dos ombros. Era uso ir ao encontró de pessoas aflitas,
cansadas, tristes ou doentes e enxugar-lhes o rosto; era sinal de luto e
compaixáo; ñas regióes quentes também usavam dá-lo de presente.
Verónica guardava esse véu sempre á cabeceira da cama. Depois de
sua morte veio ter, por intermedio das santas mulheres, as máos da San-
tíssima Máe de Deus e dos Apostólos e depois á Igreja» (pp. 256-258).
Eis outro episodio muito vivaz:

3. Jesús entre os dois ladrees

«Depois de crucificar os ladroes e de repartir as vestes do Senhor,


juntaram os carrascos todos os instrumentos e ferramentas e insultando
e, escarnecendo mais urna vez a Jesús, foram-se embora. Também os
fáriseus, que ainda estavam, montaram nos cávalos e, passando diante
de Jesús, dirigiram-lhe muitas palavras insultuosas e seguiram para a
cidade. Os cem soldados romanos, com os respectivos comandantes,
puseram-se também em marcha, pois veio outro destacamento, de cin-
qüenta soldados romanos, ocupar-lhes o lugar. Esse destacamento era
comandado por Abenadar, árabe de nascimento, que mais tarde, no ba-
tismo, recebeu o nome de Ctesifon. O oficial subalterno que estava com
essa tropa, chamava-se Cassius; era também muitas vezes encarregado
por Pilatos de levar mensagens; recebeu depois o nome de Longinus.
Vieram também a cávalo doze escribas e alguns anciáos do povo, entre
os quais os que foram pedir mais urna vez outra inscricáo para o título da
cruz; Pilatos nem os tinha deixado entrar. Cheios de raiva, andaram a
cávalo em redor do lugar do suplicio e expulsaram dali a Santíssima Vir-
gem, chamando-a de mulher perdida. Joao levou-a para junto das outras
mulheres, que estavam mais afastadas; Madalena e Marta ampararam-
na nos bracos.

Quando, fazendo a volta da cruz, chegaram diante de Jesús, ba-


lancaram a cabeca, dizendo: 'Arre! Impostor! Como é que destróis o Tem
plo e o reedificas em tres dias? Queria sempre socorrer os outros e agora
nao se pode salvar a si mesmo. - Se és o Filho de Deus, desee da cruz.
Se é o rei de Israel, entáo desea da cruz e creremos nEle. Sempre confia-
317
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000

va em Deus, que Ele venha salvá-Lo agora'. Os soldados também zom-


bavam, dizendo: 'Se és o rei dos judeus, salva-te agora'.
Quando Jesús aínda pendía desmaiado, disse Gesmas, o ladráo á
esquerda: 'O demonio abandonou-O'. Um soldado fincou entáo urna es
ponja embebida em vinagre sobre a ponta de urna vara e chegou-a nos
labios de Jesús, que pareceu chupar um pouco. As zombarias continua-
vam. O soldado disse: 'Se és o rei dos judeus, salva-te'. Tudo isso se deu
enquanto o destacamento anterior era substituido pelo de Abenadar.

Jesús levantou um pouco a cabeca e disse: 'Meu Pai, perdoa-lhes,


porque nao sabem o que fazem'; depois continuou a rezar em silencio!
Entáo gritou Gesmas: 'Se és o Cristo, salva-te a ti e a nos'. Escarneciam-
nO sem cessar; mas Dimas, o ladráo da direita, ficou muito comovido,
ouvindo Jesús rezar pelos inimigos. Quando Maria ouviu a voz de seu Filho,'
ninguém mais pode reté-la; penetrou no círculo do suplicio; Joáo, Salomé
e Maria, filha de Cleofas, seguiram-na. O centuriáo nao as expulsou.

Dimas, o bom ladráo, obteve pela oracáo de Jesús urna llumina-


cáo interior, no momento em que a Santíssima Virgem se aproximou.
Reconheceu em Jesús e em Maria as pessoas que o tinham curado,
quando era crianca e exclamou em voz forte e distinta: 'O qué? É possí-
vel que insultéis Áquele que reza por vos? Ele se cala, sofre com pacien
cia, reza por vos e vos o cobris de escarnio? Ele é um profeta, é nosso
rei, é o Filho de Deus1. A essa inesperada repreensáo da boca de um
miserável assassino, suspenso na cruz, deu-se um tumulto entre os
escarnecedores; apanhando pedras, quiseram apedrejá-lo ali mesmo.
mas o centuriáo Abenadar nao o permitiu; mandou dispersá-los e resta-
beleceu a ordem.

Durante esse tempo a Santíssima Virgem se sentía confortada pela


oracáo de Jesús. Dimas, porém, disse a Gesmas, que gritava a Jesús:
'Se és o Cristo, salva-te a ti e a nos', Também tu nao temes a Deus,
apesar de sofreres o mesmo suplicio que Ele? Quanto a nos, é muito
justo, pois recebemos o castigo de nossos crimes; este, porém, nao fez
mal algum. Pensa nisto, nesta última hora e converte-te de coracáo*. Es-
sas palavras e outras mais disse a Gesmas, pois estava todo comovido e
iluminado pela graca; confessou suas faltas a Jesús e disse: 'Senhor, se
me condenardes, será muito justo; mas tende misericordia de mim'. Res-
pondeu Jesús: 'Experimentarás a minha misericordia'. Dimas recebeu,
por um quarto de hora, a graca de um profundo arrependimento» (dd
280s).

Como se vé, Gesmas era o nome do mau ladráo.


Continua a narracáo da Paixáo.

318
"VIDA, PAIXÁO E GLORIFICAgÁO DO CORDEIRO DE DEUS" 31

4. Jesús e sua Máe Santíssima

«Até pelas 10 horas, quando Pilatos pronunciou a sentenca, caira


varias vezes chuva de pedra; depois, até as 12 horas, o céu estava claro
e havia sol; mas depois do meio dia, apareceu urna neblina vermelha,
sombría, diante do sol. Pela sexta hora, porém, ou como vi pelo sol, mais
ou menos as doze e meia, houve um eclipse milagroso do sol. Vi como
isso se deu, mas infelizmente nao pude guardá-lo na memoria e nao
tenho palavras para o exprimir. A principio fui transportada como para
fora da térra; vi muitas divisóes no firmamento e os caminhos dos astros,
que se cruzavam de modo maravilhoso. Vi a lúa do outro lado da térra; vi-
a voar rápidamente ou dar um salto, como um globo de fogo; depois me
achei novamente em Jerusalém e vi a luz aparecer sobre o monte das
Oliveiras, cheia e pálida, - o sol estava velado pelo nevoeiro, - e ela se
moveu rápidamente do oriente, para se colocar diante do sol. No comeco
vi, no lado oriental do sol, urna lista escura, que tomou em pouco tempo
a forma de urna montanha, cobrindo-o depois inteiramente. O disco do
sol parecía cinzento escuro, rodeado de um círculo vermelho, como urna
argola de ferro em brasa. O céu tornou-se escuro; as estrelas tinham um
brilho vermelho. Um pavor geral apoderou-se dos homens e dos ani
máis, o gado fugiu mugíndo, as aves procuravam um esconderijo e caí-
am em bandos sobre as colinas em redor do Calvario; podiam ser apa-
nhadas com as máos. Os zombadores comecaram a calar-se; os fariseus
tentavam explicar tudo como fenómeno natural, mas nao conseguiram
acalmar o povo e eles mesmos ficaram interiormente apavorados. Todo
o mundo olhava para o céu; muitos batiam no peito e, torcendo as máos,
exclamavam: 'Que o seu sangue caia sobre os seus assassinos!'. Muí-
tos, de perto e de longe, caíram de joelhos, pedindo perdáo a Jesús, que
no meio das dores volvía os olhos para eles.

A escuridáo aumentava, todos olhavam para o céu e o Calvario


estava deserto; ali permanecíam apenas a Máe de Jesús e os mais ínti
mos amigos; Dimas, que estívera mergulhado em profundo arrependi-
mento, levantou com humilde esperanca o rosto para o Salvador e disse:
'Senhor, fazei-me entrar num lugar onde me possais salvar; lembrai-vos
de mim, quando estiverdes no vosso reino'. Jesús respondeu-lhe: 'Em
verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso'.
A Máe de Jesús, Madalena, Maria de Cléofas, María Helí e Joáo
estavam entre as cruzes dos ladrees, em redor da cruz de Jesús, olhan-
do para Nosso Senhor. A Santíssima Virgem, em seu amor de máe, su-
plicava interiormente a Jesús que a deixasse morrer com Ele. Entáo olhou
o Senhor com inefável ternura para a Máe querida e, volvendo os olhos
para Joáo, disse a Maria: 'Mulher, eis ai o teu filho; será mais teu filho do
que se tivesse nascido de ti'. Elogiou ainda Joáo, dizendo: 'Ele teve sem-

319
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000

pre urna fé sincera e nunca se escandalizou, a nao ser quando a máe


quis que fosse elevado ácima dos outros". A Joio, porém, disse: 'Eis ai
tua Máe!' Joáo abracou com muito respeito, como um filho piedoso, a
Máe de Jesús, que se tinha tornado também sua Máe, sob a cruz do
Redentor moribundo. A SS. Virgem ficou táo abalada de dor, após essas
solenes disposicoes do Filho moribundo, que, caindo nos bracos das
santas mulheres, perdeu os sentidos exteriormente; levaram-na para o
aterro em frente á cruz, onde a sentaram por algum tempo e depois a
conduziram para fora do círculo, para junto das outras amigas.

Nao sei se Jesús pronunciou alto todas essas palavras; percebi-as


interiormente, quando, antes de morrer, entregou María Santíssima, como
Máe, ao Apostólo querido e este, como filho, a sua Máe. Em tais contem-
placoes se percebem muitas coisas, que nao foram escritas; é pouco
apenas o que pode exprimir a língua humana. O que lá é táo claro, que
se julga compreender por si mesmo, nao se sabe explicar com palavras.
Assim nao é de admirar que Jesús, dirigindo-se á Santíssima Virgem,
nao disse: 'Máe', mas 'mulher'; pois que ela ali estava na sua dignidade
de mulher que devia esmagar a cabeca da serpente, naquela hora em
que aquela promessa se realizava, pelo sacrificio do Filho do Homem,
seu próprio filho. Nao era de admirar lá que Jesús desse Joáo por filho
áquela a quem o Anjo saudara: 'Ave Maria, cheia de graca1, porque o
nome de Joáo significa 'graca1; pois todos sao o que os respectivos no-
mes significam e Joáo tornara-se filho de Deus e Jesús Cristo vivia nele.
Percebia-se que Jesús, naquele momento, dava com aquelas palavras
urna máe, Maria, a todos que, como Joáo, O recebem e, crendo nEle, se
tornam filhos de Deus, que nao foram nascidos do sangue, nem da vontade
da carne, nem da vontade do homem, mas do próprio Deus» {pp. 282s).
Eis, por fim, algo que muito pode surpreender.

5. O nome do Calvario

«Pensando no nome do rochedo da crucifixáo, Gólgota, Calvario,


que significa lugar da caveira, entrei numa contemplacáo muito completa
sobre esse lugar, desde Adáo até Jesús Cristo.
Vi Adáo na gruta do Monteadas Oliveiras, onde Jesús suou sangue;
foi depois da expulsáo do Paraíso; vi que Set foi prometido a Eva na
gruta de Belém, onde também nasceu; Eva viveu também ñas grutas
perto de Hebron, onde depois havia o convento Masfa dos Essenos.

Após o diluvio, vi a regiáo de Jerusalém muito mudada. Tornara-se


rochosa, sinuosa e sinistra; sob o rochedo do Calvario, muito profunda
mente, me foi mostrado o sepulcro de Adáo e Eva. Faltava urna caveira e
o lado de um esqueleto. A outra caveira jazia muito profundamente, den
tro do esqueleto ao qual nao pertencia.

320
"VIDA, PAIXÁO E GLORIFICAQÁO DO CORDEIRO DE DEUS" 33

Já tenho visto muitas vezes que as ossadas de Adáo e Eva nao


ficaram todas no sepulcro. Noé guardou alguns ossos na arca e esses
passavam de urna geracáo de patriarcas a outra. Noé e Abraáo coloca-
vam sempre alguns ossos no altar, ao oferecerem um sacrificio, recor
dando deste modo a Deus a promissáo. Quando Jaco deu a José a túni
ca de diversas cores, vi que também Ihe deu, como coisa sagrada, uns
ossos de Adao. José trazia-os sempre sobre o peito; com os seus própri-
os ossos, foram também colocados na Arca Santa, que os israelitas leva-
ram consigo do Egito...

A respeito do nome de Calvario ou lugar da caveira, vi o seguinte:


Vi o monte Calvario nos tempos do profeta Eliseu. Nao tinha a mesma
forma que no tempo de Jesús. Era urna colina cheia de muros e sepul
cros semelhantes a grutas. Vi o profeta Eliseu descer ao fundo, nao sei
se foi corporal ou espiritualmente, e tirar urna caveira de urna tina de
pedra, na qual havia muitos ossos. Vi ao lado urna pessoa, creio que era
a aparicáo de um Anjo, que Ihe disse: 'Esta é a caveira de Adao'. O pro
feta quis levá-la consigo, mas a pessoa nao Iho permitiu. Nessa caveira
havia em diversas partes ainda cábelos finos, amarelos. Soube também
que, pela narracao do profeta, o lugar recebeu o nome de Calvario, lugar
da caveira. Vi que a Cruz de Jesús estava perpendicularmente sobre a
caveira de Adao e foi-me revelado que esse ponto era o centro da térra»
(pp. 500s).

Este trecho nada diz que, a rigor, nao seja possível, mas apresenta
traeos muito pouco fidedignos. O historiador que deseje aquilatar a obra
de Catarina á luz de quanto aqui é dito, terá dificuldade em prestar crédi
to as revelacóes de Anna Catarina Emmerich.

(Continuagáo da pág. 334):


ter certeza de sua salvacáo eterna (assegurada, no caso, pela manifes-
tacáo do lugar a ser ocupado pelo vidente).

A fé nao consiste em dar crédito a tudo o que seja maravilhoso,


mas em professar tudo o que tenha suas credenciais condizentes com os
artigos do Credo ensinado pela Santa Mié Igreja.
QUEM CONHECE AS VERDADES DA FÉ, NAO SE IMPRESSIO-
NA COM REVELACÓES FANTASIOSAS; TEM CRITERIOS PARA
DISCERNIR O AUTENTICO DO ESPURIO. DAÍ O CONVITE A TODOS
OS AMIGOS A QUE FACAM OS CURSOS POR CORRESPONDENCIA
DA ESCOLA "MATER ECCLESIAE"; PERCORREM TODOS OS TRA
TADOS DA TEOLOGÍA EM TERMOS ACESSÍVEIS E CLAROS; INFOR-
MACÓES SEJAM SOLICITADAS Á CAIXA POSTAL 1362, 20001-970
RIO (RJ) OU PELO TELEFAX 00XX21-242-4552.

321
Sim ou Nao?

MEDITAQÁO TRANSCENDENTAL: QUE É?

Em síntese: A Meditagáo Transcendental é urna prática indiana


que consiste em que a pessoa se esvazie de qualquer reminiscencia e
afeto, para se tornar consciente da sua natureza divina; assim libertar-
se-á da carne e da corporeidade, a fim de poder entrar no nirvana, onde
há a plena identificagáo com a Divindade. Caso esta condigno de absolu
ta liberdade interior nao se realize numa só encarnagáo, é proposta a
reencarnagao em vista de pleno éxito. - Tal concepgáo, panteísta como
é, nao se concilla com a fé católica. Geralmente os mestres de Meditagáo
Transcendental transmitem aos seus discípulos nao somente técnicas de
distensáo e relax, mas também a filosofía panteísta.

As correntes de pensamento e vivencia orientáis tém penetrado o


Ocidente, conseguindo atrair muitos adeptos. Entre outras está a Escola
da Meditacáo Transcendental, que promete plena identificacáo do ser
humano com a Divindade. Mas também tem causado decepcóes e frus-
tracoes, como se dirá a seguir.

1. Meditacáo Transcendental: em que consiste?

A Meditacáo Transcendental (MT) é um dos exercícios que os indi


anos praticam desde remotas épocas a fim de conseguir paz e felicidade
interior. Consiste numa técnica mental que leva a pessoa, primeiramen-
te, a procurar colocar-se em estado de "relax" ou de distensáo interior;
nessas condicóes o individuo tenta esquecer todas as realidades sensí-
veis e esvaziar a mente de todas as imagens materiais que habitualmen-
te a distraem; cria-se assim um estado de "percepcáo vazia"; esta acar-
reta a cessacáo de emocóes, sentimentos e afetos. Em conseqüéncia, a
pessoa aprofunda-se em sua consciéncia, o que Ihe permite descobrir a
realidade mais íntima do seu próprio ser. Nos sucessivos níveis de pro-
fundidade da mente, dizem os indianos, o individuo se torna sempre mais
consciente da sua natureza divina. Este estado final é denominado "pura
percepcáo".

Tal técnica é habitualmente realizada em casa, sem ritual prepara


torio e sem posturas próprias, bastando um lugar em que o interessado
se possa sentir confortavelmente sentado. Há quem pratique a MT duas
vezes por dia, ou seja, de manha, antes do café, e á noite, antes do

322
MEDITACÁO TRANSCENDENTAL: QUE É? 35

jantar. Todavía mesmo em viagem ou fora de casa as pessoas podem


realizar a sua MT, valendo-se do ambiente de urna sala de espera, de um
ónibus, de um trem, de um aviáo etc.
Os adeptos da MT elogiam os beneficios que este exercício traz a
quem o pratica, principalmente em nossos agitados dias, nos quais as
pessoas estáo sujeitas a esgotamento físico e nervoso. Afirmam que nao
se trata de exercício religioso nem de aprendizagem filosófica, mas tao-
somente de higiene mental e aprimoramento das faculdades perceptivas.
Nos Estados Unidos a MT foi introduzida em 1959 pelo mestre indiano
Maharishi Mahesh Yogi, cujos livros estáo difundidos também no Brasil.
Para aprender a MT, deve o candidato dirigir-se a um mestre com-
provado; ela nao pode ser aprendida através de livros ou de praticantes
amadores. Cada candidato é solicitado a levar ao seu mestre algumas
flores frescas, frutas frescas e um lenco novo; estes sao usados pelo
professor numa cerimónia tradicional que antecede a primeira sessáo de
aprendizagem. O som é muito importante para provocar e facilitar a MT,
contribuindo para desligar a mente das suas preocupacoes cotidianas e
suscitar a paz. A MT dá o nome de mantras aos sons aptos a produzir tais
efeitos. Cada pessoa, dizem os indianos, vibra especialmente com deter
minados sons ou mantras; daí requerer-se a particular habilidade de um
mestre para que descubra qual o mantra mais adequado para cada indi
viduo e o faga funcionar.

2. A filosofía subjacente

Embora adeptos da MT afirmem que esta nada tem a ver com reli-
giáo ou filosofía, na verdade a MT está associada á filosofía religiosa dos
mestres indianos, isto é, ao panteísmo, lsto quer dizer: a Divinidade se
identifica com o íntimo do homem e com o ámago de todos os seres
visíveis (a palavra grega pan significa tudo e théos designa Deus;
panteísmo, portanto, é o sistema que identifica Deus com tudo e com o
próprio homem; este traz no seu íntimo urna centelha da Divindade). Tal
concepcáo é tradicional no hinduísmo; mas nem sempre os discípulos das
escolas orientáis tomam consciéncia de que estas professam o panteísmo.
Mais: para a MT, o mundo visível nao é propriamente real, mas
também nao é irreal; é um fenómeno ou aparéncia. Consta de um con
junto de realidades que estáo sempre em mudanga e caminham para a
sua destruicáo. Essas realidades visíveis sao facetas imperfeitas da Di
vindade; devem ser ultrapassadas para que o homem possa fazer a ex
periencia pura e direta da Divindade, libertando-se de tudo o que aínda o
prende á materia. É porque o homem deve ultrapassar ou transcenderás
coisas sensíveis para se identificar plenamente com a Divindade, que tal
método é dito transcendental.

323
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000

É por causa destas premissas filosóficas que os mestres hinduístas


ensinam a MT. Mediante esta técnica, pretendem abstrair dos fenóme
nos ou das coisas sensíveis que enchem a mente, e proporcionar aos
seus discípulos a consciéncia da sua identidade com o Infinito ou o Ab
soluto ou com a Divindade.

Caso o homem nao consiga esta plena ¡dentificacáo numa só exis


tencia terrestre ou encarnacáo, é-lhe oferecida, segundo a lei do Karma,
nova chance em outra(s) encamacáo(coes); é preciso que, aos poucos e
finalmente, o homem se liberte de todos os vínculos que o prendam as
coisas sensíveis... Esta é a doutrina da reencarnacáo, da qual falam dis
cretamente os textos da MT, mas que é tese capital do hinduísmo e do
panteísmo (segundo este, é o próprio homem quem se salva; se nao o
consegue numa só passagem sobre a térra, deve dispor de outras pas-
sagens ou encarnacóes para consegui-lo).

Urna vez obtida a plena emancípacáo em relacao aos valores sen


síveis, o ser humano se torna livre da cadeia das encarnacóes e está
apto a entramo nirvana ou estado de absoluta identíficacáo com a Divin
dade, no qual nao há mais nem o eu humano nem o Tu divino. A palavra
nirvana vem do sánscrito nirvana, que significa extingáo (da chamada
vital); designa ausencia total de qualquer desejo e, por isto, também... de
qualquer sofrimento.

3. Que dizer?

A Medítacáo Transcendental nao se concilia com a mensagem cris


ta, como nao se concilia o panteísmo com o monoteísmo. Na verdade,
para os cristáos, Deus é essencialmente distinto do mundo e das realida
des visíveis; sim, Ele é absoluto e eterno, ao passo que as criaturas sen
síveis sao relativas, transitorias e temporarias; ora o Infinito nao resulta
das realidades finitas postas em evolucáo, nem se deve imaginar que o
Eterno seja a soma de numerosíssimas parcelas de tempo. Por conse-
guinte, nao é lógico identificar o homem -transitorio e volúvel como ele é
- com a própria Divindade, que por defínicáo é o contrario do transitorio e
volúvel. Esta afirmacáo, porém, nao impede os cristáos de dizer que Deus
quis tornar os homens seus filhos, fazendo-os participar da sua vida me
diante o dom da graca comunicada pelos sacramentos (principalmente
pelo Batismo e a Eucaristía). Deus nao é um ser frió e amedrontador,
mas, ao contrario, é o Pai que chama os homens ao consorcio da sua
vida (sem que haja fusáo ou ¡dentificacáo). Santo Agostinho exprimía
muito bem esta verdade ao exclamar: "Deus é mais elevado do que o que
tenho de mais elevado, e mais íntimo do que o que tenho que mais íntimo".
Quanto á reencarnacáo, é doutrina para a qual nao existem pro-
vas. Vera respeito PR 360/1992, pp.215s e 361/1992, pp. 278s.

324
MEDITAQÁO TRANSCENDENTAL: QUE É? _37

4. A desilusáo

Via Internet a Redacáo de PR recebeu a seguinte noticia:


"Durante anos o tema da Meditacáo Transcendental mereceu muí-
ta atencáo; os seguidores das diversas técnicas da MT obtiveram bas
tante éxito. Todavía Michael Durham, num artigo publicado em The Ti
mes (10/3/00), refere que nao vé com bons olhos a transformacáo ocor-
rida nessa Escola. Com efeito, Durham menciona que em 1972 recebeu
sua iniciacáo na MT pelo custo de apenas oito libras esterlinas. Em nos-
sos dias, tendo voltado ao Centro de Aprendizagem para ser instruido
ñas técnicas de meditacáo, teve que pagar 490 libras.
Durham esclarece que aprendeu a MT há tempos e, praticando-a,
conseguiu viver em maiór tranqüilidade. Com o tempo, porém, deixou de
a praticar. Quando retornou ao Centro últimamente, descobriu que
Maharishi Mahesh Yogi continua a ensinar tal método de concentracáo,
mas num clima muito mudado. O centro de Londres está cheio de folhe-
tos que propagam as atividades e os produtos de Maharishi Mahesh Yogi:
por exemplo, um impresso devido ao Mestre anunciava urna conjugacáo
especial de planetas para maio deste ano 2000, da qual poderiam resul
tar problemas para a humanidade; o texto acrescentava que, em troca de
um donativo de mil dólares, Maharishi poderia afastar os perigos; ape
nas, dizia-se ainda, faltam muitos donativos de tal quantia para que o
processo planejado pelo Mestre possa funcionar!
Além do mais, existe urna colecáo dé 17 CDs gravados com cantos
de Maharishi, fitas com dizeres do Mestre, tudo obviamente disponível
por precos assaz elevados. Ao averiguar isso tudo, refere Durham, ele
(Durham) tomou consciéncia de que toda essa montagem da Meditagáo
Transcendental era urna fraude.
Após tal experiencia, Durham descreve como colheu informacóes
sobre as conseqüéncias nocivas da MT para a saúde psicológica. O re
pórter Duncan Campbetl, colega de Durham especializado em pesqui
sas, Ihe disse que a MT deveria ser considerada como culto de persona-
lidade e que, se alguém quer aprender a meditar, o melhor alvitre será
comprar um livro que ensine as respectivas técnicas.
Outra personalidade consultada por Durham, a Dra. Susan
Blackmore, do Departamento de Psicología da Universidade do Oeste da
Inglaterra, comentou os fatos afirmando que, por tras da MT, existe urna
enorme hierarquia que consegue angariar grandes quantias de dinheiro.

325
Psicología e Filosofía:

"LABIRINTOS DO CORPO E DA ALMA"


por Eduardo Aquino

Em sintese: O Dr. Eduardo Aquino desenvolve suas considera-


góes psicológicas na base de urna filosofía panteísta, segundo a qual "a
alma é partícula da luz de Deus em cada um de nos" (p. 21), o cerebro é
"um órgáo divino" (p. 16), "a mente é a centelha de Deus que habita o
corpo ... a luz divina, ofimeo comego de tudo, a eterna transmutagáo
matéria-energia" (p. 17). - Ora o panteísmo nao se concilla com a fé cris
ta, que admite um só Deus distinto do mundo e do homem, Criador de
todas as coisas.

O Dr. Eduardo Aquino, psiquiatra de renome, dito "católico


ecuménico" (p. 22), escreveu um livro intitulado "Labirintos do corpo e da
alma"1, em que expoe seu pensamento. Visto que tem causado surpresa,
será, a seguir, analisada a filosofía do autor, ao que se acrescentarao
breves tragos de antropología crista.

1. "Labirintos..."

O autor admite quatro dimensoes (partes componentes?) do ser


humano: corpo, cerebro, mente e alma. Ao apresentar cada um desses
elementos, usa linguagem panteísta, como se o ser humano fosse par
cela da Divindade. Eis as suas expressoes mais características:

P. 21: "alma, partícula da luz de Deus em cada um de nos, nosso


'CPF' espiritual, é de natureza transcendente, alimentada o tempo todo
por urna fonte de energía divina: a Fé";

P. 16: "O cerebro, esse órgáo divino...";

P. 17: "A mente... é a centelha de Deus que habita o corpo,... ou


seja, a luz divina, o fim e o comego de tudo, a eterna transmutagáo maté
ria-energia".

Estas expressoes, além de ser confusas, refletem um modo de


pensar panteísta, que é ¡ncompatível com a fé crista. Esta admite um só
Deus, distinto do mundo e do homem, Criador de todas as coisas.

1 Ed. Modus Vivendi, Belo Horizonte 1999, 155x210mm, 71 pp.

326
"LABIRINTOS DO CORPO E DA ALMA" 39
Nao vem ao caso discutir as considerares psicoterapéuticas do
Dr. Eduardo Aquino, mas parece importante alertar para o seu pensa-
mento filosófico.
Em coeréncia com a sua premissa fundamental, o autor afirma que
"somos eternos... A física quántica provou matemáticamente que existe
eternidade e todas as religióes dizem o mesmo através da fé" (p. 20). -
Ora a eternidade é a duracáo que nao tem comeco nem fim; por isto e
privativa de Deus; so Deus é eterno. O ser humano tem comeco, mas
possui urna alma ¡mortal, cujo corpo ressuscitará no último dia. Em con-
seqüéncia deve-se dizer que o homem nao é eterno, mas, sim, imortal.
Após a tnorte, a alma humana nao entra na eternidade (que é exclusiva
de Deus) mas na imortalidade definitiva ou no evo. A eternidade nao
pode ser provada matemáticamente pela física quántica, pois, sendo ex
clusiva de Deus (que nao é corpóreo), nao está sujeita as leis da quanti-
dade ou da matemática.

Nao se pode negar a realidade da morte enquanto é decomposi-


cao do composto humano; verdade é que ela nao afeta a alma humana,
que é espiritual.
Á p 21 a fé é tida como "energía divina"; tem-se a impressáo, no
caso de que a fé emana de Deus e fortalece o homem. - A concepcao
católica de fé diz, ao contrario, que a fé procede do homem (sustentado
pela graca de Deus) como urna atitude de resposta da criatura a Deus
que fala aos homens. Em linguagem precisa, a fé é um hábito existente
na alma humana.

A expressáo "católico ecuménico", quando bem entendida, nao


implica relativismo. O ecumenismo é o movimento que procura desfazer
preconceitos e obstáculos á re-uniáo dos cristáos separados. Respetan
do a verdade revelada por Deus, empenha-se por remover barreiras co
locadas ao longo da historia para romper a unidade do povo de Deus.
Passemos a breve nocáo de Antropología crista.

2. Quem é o homem?

O ser humano é um composto de corpo material e alma espiritual.


Quem diz corpo, já diz cerebro, pois o cerebro é um órgáo do corpo
humano o principal, "a central telefónica" do organismo. E quem diz alma,
diz mente, entendida como a faculdade de conhecer intelectualmente.
Corpo e alma sao dois principios distintos um do outro; unem-se,
porém para formar um todo substancial, de modo que tudo o que o ho
mem realiza é psicossomático ou corpóreo e espiritual ao mesmo tempo.

327
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000

Espirito é um ser incorpóreo (sem tamanho, sem peso, sem cor )


dotado de inteligencia e vontade. Distinguimos:
nao criado e Criador de tudo: Deus
Espirito -í
í para existir sem corpo: anjo
criado <
[ para se desenvolver no corpo: alma humana

A alma humana é o principio vital do homem. Ela depende do cor


po (cerebro, sentidos) para exercer as suas funcóes, mas ela é ¡mortal
por si mesma, de modo que, quando homem morre, a sua alma continua
a existir mesmo sem corpo. A fé nos diz que, no último dia, o Senhor
restaurará o composto "corpo e alma" (ver Jo 6, 44.54; 1 Cor 15 22- 1Ts
4, 14-17; 2Cor 5, 1-3). ' '

O PAPA PIÓ II

A "Igreja Católica Apostólica Carismática" tenta plagiar a Igreja


Católica usurpando nomes e instituicoes do Catolicismo: apresenta-se
com seus "padres" - o que levou a Curia da Diocese de Limeira (SP) a
fazer uma declaracáo pública elencando os nomes dos sacerdotes cató
licos daquela Diocese. - De modo especial tem atacado os Papas nem
sempre na base da verdade histórica. Eis, por exemplo, o que diz á res-
peito de Pío II (1458-64): "O papa Pío XII, 1458 (erro gráfico), além de
sedutor, foi corrupto, ensinava os jovens a praticar atos obscenos".
- Na verdade, Pío II, como leigo, foi o humanista Enéias Silvio
Piccolomim, bnlhante orador e escritor. Antes de abracar o estado eclesi
ástico, levou conduta de vida frivola; comprazia-se em aventuras galantes
e em cartas de amor; teve mesmo alguns filhos ¡legítimos (o que naquela
época renascentista nao chamava muito a atencáo, pois até os nobres
das cortes reais tinham seus filhos ilegítimos, que se tornavam herdeiros
dos genitores). Todavía feito sacerdote e, posteriormente, Papa Pió II
evou vida impoluta; deixou treze livros, ditos Commentarü, escritos em
latim culto, que vém a ser um Diario e uma autobiografía; nessa obra Pío
M mostra-se arrependído do seu passado e diz que, para apagar a recor-
dacao de quanto outrora fizera de indigno, daría todos os seus tesouros
Em 1463 renovou sua Retratacáo e, imitando Sao Paulo e S. Agostinho
escrevia: "Rechacai Enéias e acolhei Pió". De entao por diante nao que
na ser senáo o Pius Aeneas de memoria virgiliana.

Vé-se, pois, como é falha e tendenciosa a acusacáo levantada con


tra tal Papa pelos irmáos "católicos apostólicos carismáticos" O cristáo
ama a verdade e sabe que o diabo é o pai da mentira (Jo 8 44)

328
Nova corrente filosófico-religiosa:

CURSO EM MILAGRES

Em súrtese: Curso em Milagres é urna terapia que utiliza principi


os de psicología, ética e religiáo, sendo que o aspecto religioso ai tem
caráter panteísta. Serve-se de nomes crístáos, como Deus, Jesús, o Es
pirito Santo..., mas entende-os diversamente da maneta comum de os
entender. É o que torna a apresentagáo do Curso algo de ambiguo. Na
verdade, as proposigóes do Curso sao fantasiosas e inconsistentes, nao
resistindo a urna crítica serena.
* * *

Em 1975 o Dr. Jerry Jampolsky fundou na California (EUA) o Center


for Attitudinal Healing, destinado a transformar as atitudes dos seus
discípulos em paz e amor. Para tanto, serviu-se dos principios de um
determinado "Curso em Milagres". A premissa básica dessa corrente é a
afirmacáo de que a esséncia do ser humano é o amor, amor que nos
podemos provocar mediante escolhas conscientes. Nao sao as pessoas
ou as circunstancias que causam nossos conflitos ou tensóes, mas nos-
sos próprios pensamentos, nossas emocóes e atitudes para com as pes
soas e os eventos. Quem sabe disto, pode curar-se de conflitos, de seus
medos e suas dores, dando lugar a atitudes de paz e amor.

Estas ponderacóes iniciáis, que norteiam o Centro para a Cura de


atitudes, sao, á primeira vista, muito válidas. Todavía nao levam em con-
ta o tato de que dentro do ser humano existe também o amor desregra-
do; o egoísmo está presente em todos os homens, de modo que nao se
pode sustentar que a esséncia do nosso ser é o amor (entendido no
sentido de altruismo).

Examinemos agora os principios do Curso em Milagres, servindo-


nos de páginas fornecidas pela Internet.

Curso em Milagres: origem e principios


Na década de 1960 urna psicóloga norte-americana chamada Helen
Schucman se relacionava mal com seu chefe de trabalho, o Sr. William
Thetford, no Departamento de Psicología do Columbia Presbyterian
Medical Center de Nova York. Trabalhando muito perto um do outro, cul-
pavam-se mutuamente pela infelicidade que experimentavam.

A psicóloga e educadora Helen era atéia..., quando repentinamen


te aconteceu algo que nao previa... Comecou a ouvir mensagens e ter

329
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000
sonhos que ela registrava em taquigrafía. O ato de escrever nao era au
tomático; podia ser interrompido a qualquer momento, de tal modo po
rém, que continuaría tranquilamente a partir das palavras fináis da frase
interrompida. Após alguns anos, o manuscrito principal estava pronto
dando assim origem ao "Curso em Miiagres".
Este Curso retoma palavras e conceitos do Cristianismo, conferin-
do-lhes, porém, novo sentido, que implica novo modo de viver e agir.
Mais precisamente, Helen dizia ouvir urna Voz (com V maiúsculo).
Essa Voz tinha autoridade para ela e Ihe comunicava as mensagens por
um ditado muito suave e paciente. Helen nao tinha dúvidas sobre a iden-
tidade dessa Voz: era o próprio Jesús, autor do Curso, aínda que ela nao
o quisesse reconhecer. Por conseguinte, quem faz o Curso em Miiagres
está ouvindo Jesús a falar; fala, porém, de maneira diversa da clássica
maneira que o Cristianismo Ihe atribuí. O discípulo que executa as licóes
diarias do Curso está dando um presente aos homens e ao próprio Je
sús; Jesús declara que Ele precisa de nos, como nos precisamos dele
para salvar o mundo:

"É só disso que preciso:... que ougas as palavras que digo e as


des ao mundo. Tu és a minha voz, os meus oihos, os meus pés, as mi-
nhas máos, através das quais eu salvo o mundo" (Revisáo V. 9:2-3).
Nota o texto oficial propagado pelo "Curso...":
"Se temos dificuldade de acreditar que Jesús é quem fala no Cur
so, pode ser útil para nos saber que o Curso considera Jesús como um
símbolo do Amor. O que importa nao é acreditar que este é o Jesús histó
rico, mas muito mais importante é aceitar a mensagem de Amor e de
Perdáo, que transcende todos os símbolos".

A seguir, o programa do Curso professa o relativismo:


"O Curso deixa bastante claro que Jesús nao possui o monopolio
da verdade. Jesús é a manifestagáo do Cristo, como muitos outros pro-
fessores o sao, e continuarlo sendo. Nos perceberemos estes professo-
res como seres humanos únicos e separados, até que nos avancemos o
suficiente para perceber que eles sao todos um e que nos estamos pron
tos para nosjuntarmos a eles na tarefa de salvacáo do mundo".
Ainda adiante está dito que o Curso apresenta diferencas funda
mentáis em relacáo ao Cristianismo tradicional, de modo que é incompa-
tível com este. - Essa incompatibilídade se depreende bem do fato de
que a filosofía religiosa do Curso é o panteísmo:

"Tu és santo, porque a tua mente é parte da Mente de Deus. E,


porque és santo, a tua vista também tem que ser santa... Se a tua menté
330
CURSO EM MILAGREES £3

ó parte da Mente de Deus, tens que ser ¡mpecável ou, caso contrario,
urna parte da Sua Mente seria pecaminosa. A tua vista esta relacionada
com a Sua Santidade, nao com o teu ego e, portanto, nao com o teu
corpo" (Ligio 36).
O concertó de ego é explicado sob o subtítulo seguinte, no qual
váo explanados alguns vocábulos-chaves do Curso.
2. Vocábulos-chave

MILAGRE

Milagre é mudanca de percepcáo, urna nova forma de pensar e de


agir No original grego do Novo Testamento, a palavra para isto era
metanóia, que foi traduzida como arrependimento para o portugués. Mi-
laqres sao naturais e acontecem a todo momento, desde que nao esteja
mos conectados com o nosso ego. Milagres fazem parte da vida. Multas
pessoas sentem um preconceito quando ouvem esta palavra, o quee
normal por causa de nossa formacáo tradicional católica. Milagres nao
sao realizados por "alguém" que está "lá em cima" velando por nos; ao
contrario, eles sao obra de cada um de nos, Filhos de Deus. Assim, Um
Curso em Milagres é um curso voltado á mudanca de percepcáo a mu
danca da forma como vemos o mundo e ao eterno desabrochar do Ser
Divino que existe dentro de cada um de nos, em contraste ao ego, a parte
ilusoria que acredita na dor, no sofrimento e na morte.

ESPIRITO SANTO
O Espirito Santo é o veículo dos milagres. Deus o colocou ñas
nossas vidas para que fosse possível acordar do nosso sonho hipnótico,
para nos curarmos do senso de separacáo. Ele traz todas as respostas e
é a única possibilidade que temos para escapar das artimanhas do ego,
pois ele conhece tanto um lado como o outro. O Espirito Santo ve os
nossos sonhos, reinterpretando-os para nos levar de volta a Verdade,
lembrando-nos sempre da nossa verdadeira Identidade.

EGO
O ego é parte "fabricada" de nos mesmos, que funciona de acordó
com as leis do mundo, acreditando apenas na culpa, na dor, na mágoa e
no medo Com o surgimento do ego surgiu o pecado e a crenca na sepa
racáo, a crenca de que somos um corpo e o conseqüente medo de mor-
rer O ego é a parte da mente que acredita que está separada de Deus e
usa de muitos artificios para nos manter presos na culpa e no medo.
como forma de proteger-se e tornar-se especial. O ego é urna ilusao
urna teimosa ilusao que insistimos em negar e prosseguimos tornando-a
real em nossas vidas. Como diz o Curso: "Nao podemos realmente cons-
331
44 "PERGUNTEE. RESPONDEREMOS" 458/2000
fruir urna definigáo do que é o ego, mas podemos dizero que ele nao é E
'tudo Tque 7eS?d° ^ ^^ *"***• É * ?añk daí que deduzim°s
3. Espécimens de Mensagem
Licio 36

Quatro períodos de prática, de tres a cinco minutos, sao requeridos


para hoje. Tenta distribuí-los uniformemente e faze as aplicacoes mais
curtas com freqüéncia para proteger a tua protegáo durante o dia Os
periodos de prática mais longos devem tomar esta forma:
Pnmeiro, fecha os olhos e repete lentamente a idéia de hoje varias
vezes. Em seguida, abre os olhos e olha bem vagarosamente ao teu
redor, aplicando a idéia de modo específico a qualquer coisa que notares
durante o teu exame casual. Dize, por exemplo:
A minha santidade envolve aquele tapete.
A minha santidade envolve aquela parede.
A minha santidade envolve esses dedos.
A minha santidade envolve aquele cadeira.
A minha santidade envolve aquele corpo.
A minha santidade envolve essa cañeta.
Durante estes períodos de prática, fecha os olhos e repete a idéia
para ti mesmo varias vezes. Em seguida, abre os olhos e continua como
antes.

Para os períodos mais curtos de exercícios, fecha os olhos e repe


te a idéia, olha ao teu redor repetindo-a mais urna vez; concluí com mais
urna repeticao com os olhos fechados. Todas as aplicacoes devem ser
feítas bem lentamente, é claro, e, tanto quanto possível, sem esforco e
sem pressa.

Licio 1

Nada do que eu vejo nesse quarto (nessa rúa, dessa janela, nesse
lugar) significa coisa alguma.
Licáo 5

Eu nunca estou transtornado pela razao que imagino.


Licáo 9

Eu nao vejo nada tal como é agora.

332
CURSO EM MtLAGRES 45

Licáo 11
Os meus pensamentos sem significado estáo me mostrando um
mundo sem significado.

Outras passagens:

So as criangas santas de Deus sao cañáis dignos da Sua bela ale


gría porque só elas sao suficientemente betas para manté-la por
com'partilhá-la. Éimpossívelpara urna crianga de Deus amara seupróxi
mo a nao ser como a si mesma. Por isso a oragáo daquele que cura e:
"Que eu conhega esse irmáo como conhego a mim mesmo". (Livro Texto,
5, Intro, 3.5 - 3.8)
O propósito real deste mundo é ser usado para corrígir a tua des-
crenga. (Livro Texto, I, VI, 4.1 - 4.2)
Crianga de Deus, tu foste criada para criar o que é bom, o que é
belo e oque é santo. Nao esquegas disso. Porpouco tempo, o Amor de
Deus aínda tem que ser expresso através de um corpo para outro porque
a visáo aínda é tenue. A melhor forma de utilizar o teu corpo é usá-lo para
te ajudar a ampliar a tua percepgáo de modo que possas conseguir a
visáo real, da qual o olho físico é incapaz. Aprenderá fazer isso é a única
utilidade verdadeira do corpo. (Livro Texto, I, Vil, 2.1 - 2.5)
A paz de Deus está brilhando em mim agora. Que todas as coisas
brilhem sobre mim nesta paz, e que eu as abengoe com a luz que há em
mim. (Livro Exercícios, 188, 10.6-10.7)
4. Refletindo...

O Curso em Milagres, já por seu nome estranho, é mais urna ex-


pressáo do senso religioso moderno entregue á fantasía e á emocáo,
destituido da luz da razao. Redunda numa serie de afirmacóes (que re-
produzimos largamente para evidenciar a índole da mensagem) de pou-
ca lógica e pouco significado.
Nao se pode esquecer que o senso místico (inato em todo homem)
nao pode dispensar a orientacáo do intelecto humano. A fé precisa de
apresentar credenciais ou motivos de credibilidade, para que possa ser
aceita maduramente por seres inteligentes sem as características infan-
tis ou simplonas que a podem ridicularizar ou transformar em crendices.
A variedade de novas correntes religiosas de nossos dias sofre desse
desligamento da razáo e se entrega á imaginacáo fecunda, alegando
visóes e revelacóes, que a psicología chama "alucinacóes".
Dirá alguém: A sra. Helen Schucman era atéia; por isto nao estava
em condicóes de se julgar agraciada por locucoes interiores (á Voz) prove
nientes de Jesús. - Respondemos: o patrimonio religioso cristáo paira

333
TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000

sobre as populacóes do Ocidente, até mesmo sobre as pessoas que se


dizem atéias. O inconsciente dos ateus capta e guarda muitos traeos da
mensagem crista, que podem imprevistamente subir ao consciente e ex-
primir-se de maneira surpreendente. Tal pode ter sido o caso da sra Helen
Schucman.

É de notar ainda que a religiosidade subjetiva, ñas pessoas de cul


tura, tende a se manifestar em termos relativistas e panteístas pois es
tes constituem urna religiáo que nao "escandaliza" nem obriga com incó
modos.

É isto que, em poucas palavras, se pode dizer sobre um movimen-


to cujas propostas carecem de lógica estrita e se ressentem de forte
subjetivismo.

REVELACÓES E PROFECÍAS
Continuam a circular diversas revelacoes e profecías sinistras,
embora o passar do tempo já tenha desmentido varias délas; descrevem
minuciosamente acontecimentos tidos como futuros, lamentam a atual
sítuacáo do mundo e da Igreja, julgam haver infiltracáo macónica na Igre-
ja..., assustando muitos leitores. Entre outros, assinala-se o livro "MHa-
gre Eucarístico em Porto Alegre", vol. I, publicado em 1999 pelo Movi-
mento de Adoracáo e Reparo á Sagrada Eucaristía, Caixa postal 310,
Colatina (ES). O vidente se chama Paulo Roberto, ex-candidato a Religi
oso da Ordem Capuchinha. A obra é altamente fantasiosa, podendo-se
perceber isto com facilidade pela leitura sumaria de algumas de suas
páginas. Tenha-se em vista, por exemplo, o relato das pp. 114-117
concernente ao dia 4 de fevereiro de 1999:

Jesús terá entáo mandado o arcanjo Sao Miguel á presenca de


Paulo Roberto, a fim de lévá-lo ao céu, onde seria recebido por María
SSma. "Vestida de branco esverdeado todo brílhoso" (p. 114) ... Narra
entáo Paulo Roberto: "Quando me aproximei daqueles jardins belíssimos
(do céu), avístei minha mae perto de urna Cápela debaixo de um
caramancháo de flores" (p. 116). A seguir, pergunta P.R.: "Onde vou fícar
quando víer repousaro meu espirito?". Responde a Vírgem SSma • "Bem
aqui, neste lugarzínho. Gostaste?". Resposta: "Sím, Senhora". Logo de-
pois María SSma. mostra onde (o lugar) em que deverá repousar o espi
rito de Joáo Paulo II, cuja morte estaría muito próxima... Por último, Sao
Miguel Arcanjo reconduz o vidente á térra. A víagem ao céu terá durado
de OOh 30 até 05h 00.

Nao se pode dar crédito a tais visóes, dado que o céu nao é um
parque com sua cápela e seu caramancháo, comotambém ninguém pode

334
Novidade:

DINASTÍA: QUE É? LÍCITA A UM CRISTÁO?

Há quem interrogue a respeito da honestidade da empresa DINAS


TÍA que propóe sistemas aptos a proporcionar seguranca financeira ime-
diata, independencia financeira e fonte de renda extra.
Estas propostas sao táo belas que talvez suscitem suspeitas da
parte do leitor. O fato, porém, é que DINASTÍA professa a ma.s es nta
legalidade e a isencáo de qualquer vínculo com sociedade esotérica
"mística" ou de algum modo, religiosa. E administrada por cnstaos. Como
em toda empresa humana, pode nela haver falhas. Estas porém se ocor-
rem, nao sao inspiradas pelos principios que norteiam DINASTÍA.
Entre as folhas informativas propagadas pela empresa, encontra
se a seguinte:
APRESENTAMOS A DINASTÍA

A Dinastía nao funciona como esquema ou sistema de enriqueci-


mento rápido e sem esforco. Também está totalmente dissoc.ada dos
pTcessos ilegais de pirámides e/ou correntes. A Dinastía e seus Assoc,-
ados fazem uso inteligente, legal e absolutamente et.co do ma.s podero
so conceito de marketing deste e do próximo seculo - A Associacao
Interativa na Industria dos Servicos Financeiros!
Inteligente, pois fez-se uso, em sua organizacáo e estruturacáo,
daquilo que existia de mais moderno, sofisticado e profissional na aplica-
cáo deste conceito.
Leal- A Dinastía, através da Delta Red Marketing, Associacáo
Interativa e Treinamento Ltda, cumpre o papel de orientar seus Assoc.a-
dos e/ou clientes sobre como fazer planejamento f.nanceiro para a con
quista de seguranca e independencia financeira, direc.onando-lhe para
as melhores alternativas existentes no mercado em termos de servicos
financeiros que respondam a demanda de seguranga fmanceira imed.ata
e independencia financeira a longo prazo.
Absolutamente ético, pois levou-se em considerado recompen
sar cada mínima parcela do esfor5o de seus Associados no desenvolvi-
mento de suas redes. Seus ganhos nao dependem apenas do quanto
vocé esteja disposto a trabalhar e investir para aprender e sim do quanto
vocé esteja disposto a ser PAGO PARA ENSINAR!
A Dinastía foi criada e é administrada por Cristáos, nao possuindo
335
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 458/2000

qualquer vínculo, associacáo ou compromisso com nenhum movimento


gnóstico, metafisico, esotérico, místico ou new age [nova era] A Dinas
tía defende a tolerancia e o pleno respeito pelas preferencias e práticas
religiosas, espirituais, filosóficas, ideológicas ou políticas de seus Asso-
ciados, nao admitindo discriminacáo de qualquer natureza a esse respeito.
DINASTÍA - CONSIDERACÓES FINÁIS
A Sul América Aetna Seguros e Previdencia S/A dá plena e total
garantía do cumprimento de todos os compromissos e beneficios previs
tos para os participantes do Clube de Seguros Dinastía Legacy Regis
trado no Ministerio da Fazenda sob o CNPJ n9 03.411.250/0001-02.
D -i ».A Dínastia é um Processo de Marketing desenvolvido pela Delta
Red Marketing, Associacáo Interativa e Treinamento Ltda registrada no
Ministerio da Fa2enda sob o C.G.C. n9 02.700.642/0001-29.
Delta Red Marketing, Associacáo Interativa e Treinamento Ltda
Rúa Tibagi, 576 - Edificio Work Station, 99 andar
Centro - Curitiba - Paraná - CEP 80060-110
Fone [041] 223-7822 / 320-2044 Fax: 222-8531
www.dinastiarede.com.br; e-mail: dinastia@dinastiarede.com.br
Estas informacóes sao publicadas táo somente para atender á per-
gunta de um leitor, sem ulterior interesse da parte de PR.
Estéváo Bettencourt O.S.B.


RISCOS
Rir é correr o risco de parecer tolo.
Chorar é correr o risco de parecer sentimental.
Estender a máo é correr o risco de se envolver.
Expor seus sentimentos é correr o risco de mostrar seu verdadeiro eu
Defender seus sonhos e idéias diante da multidao é correr o risco de
perder as pessoas.
Amar é correr o risco de nao ser correspondido.
Viver é correr o risco de morrer.
Confiar é correr o risco de se decepcionar.
Tentar é correr o risco de fracassar.
Mas os riscos devem ser corridos, porque o maior perigo é nao arriscar
nada. A pessoa que nao corre algum risco, nada faz, nada tem, nada é
Elas podem até evitar sofrimentos e desilusoes, mas elas nada conse-
guem, nao sentem, nao mudam, nao crescem, nao amam, nao vivem
Acorrentadas por suas atitudes, elas viram escravos, privam-se de sua
noerdade. Somente a pessoa que corre riscos é livre!

336
LIVROS A VENDA NA LUMEN CHRISTI:

. JESÚS CRISTO IDEAL DO MONGE - Dom Columba Marmion, OSB. Versáo portu
guesa dos Mongas de Singeverga. 682 págs RS 35,00.
JESÚS CRISTO NOS SEUS MISTERIOS, Dom Columba Marmion, OSB. - Confe
rencias Espirituais. 3a- edi9áo portuguesa pelos monges de Singeverga. ^^ ^
540 págs

- JESÚS CRISTO VIDA DA ALMA, Dom Columba Marmion, OSB. Cuarta edicác.por
tuguesa pelos Monges de Singeverga, Portugal. 1961, 544 pags RS 35,00.

- LECTIO DIVINA, ontem e hoje. 2* edicáo revista e aumentada. Guigo II, Cartuxo,
Enzo Bianchi, Giorgio Giurisato, Albert Vinnel. Edi9áo do Mosteiro da Santa Cruz_de
Juiz de Fora, MG. 1999. 160 páginas M3> 1á|'° '
- VIVENDO COM A CONTRADIQÁO, reflexóes sobre a Regra de S. Bento. Esther de
Waal 1998 165 páginas. Edi9áo do Mosteiro da Santa Cruz de Juiz de Fora, MG.
(Sumario: Explicacáo. Prólogo da Regra de S. Bento. Um caminho de cura. O poder
do Paradoxo. Vivendo com as contradices. Vivendo com.go mesma^ Vivando com
os outros. Vivendo com o mundo. Juntos e separados. Dom e Graca. Deserto e fe.ra.
Morte e vida. Rezando os conflitos. Sim. Notas e comentarios) RS 16,00.
- A VIDA MONÁSTICA E O TERCEIRO MILENIO, desafios e promessas^ Ediles da
CIMBRA 1998.137 páginas. APresenta5áo de Dom Ernesto ünka, OSB., Abade de
Sao Geraldo, Presidente da CIMBRA. Trecho da Apresentacao:
Dada a proximidade do Jubileu do ano 2000, as Comun.dades Monast.cas da
Ordem de Sao Bento (OSB). Ordem Cisterciense (O. Cist.) e Ordem Cisterciense da
Ertma Observancia (Trapista, OCSO) reuniram-se para refletir sobre vanos aspectos
A Vida Monástica e o Terceiro Milenio: Desafios e Promessas'. O resultado do que
foi esse belo e rico mosaico da heterogénea Vida Monástica em sua dimensao lati
no-americana. Deseja que todos os nossos leitores possam tirar multo P™^ **•-
Concep?áo: Dom Gregorio Paixao, OSB * '

- MARTIROLOGIO ROMANO-MONÁSTICO. Adaptado para o Brasil. Abadías de S.


Pierde de ¿¡asmes. Traduzido e adaptado para o Brasil pelos monges do Moae.ro
da Ressurreicáo Mosteiro da Ressurreieáo, Edicóes. Prefacio da ed.cao brasileira
por Dom Joaquim de Arruda Zamith, OSB, Abade-Presidente da Congregado
Beneditinado Brasil. 1997.423 páginas n»¿o,w •

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revista O Mensageiro de Santo Antonio". 1997. 165 págs R$ 7,00.
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esclarecer as dúvidas mais freqüentes que se levantam ao leitor de boa vontade trazen-
do-nos entonos claros e levando-nos a compreender que todas as palavras de Cristo sao
de aplicapáo perene e universal), 2a edipáo. 1993, 47 págs r$ 7,00.
~ C.OI:ETÁNEA - Tomo I - Obra organizada por Dom Emanuel de Almeida OSB e Dom
Matías de Medeiros, OSB. Publicapáo da Escola Teológica da Congregapáo Beneditina
°° Bras.'!; Esta obra foi fe'ta em homenagem a Dom Estéváo. Além do esboco bio-
bibliografico de Dom Estéváo, encontram-se artigos de amigos e admiradores de Dom
Estevao. Sao professores da Escola Teológica, do Pontificio Ateneu de Santo Anselmo
em Roma, que ministraram varios cursos nesta e outros que o estimam Sumario- His
toria, Bíblica, Histónco-Dogmática,
g, Dogmática, Canónica, Litúrgica,
ga, Canónica, Litúrgica, Pedagógica
Pedagógica Litera
ria e
ria e Noticias
Noticias Biográficas
Biográficas. 1990
1990. 315
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